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11/02/2022 1 Prof. Dr. Alex Augusto Gonçalves – alaugo@ufersa.edu.br - (61) 99173-8910 ANI0342 – TECNOLOGIA DO PESCADO I Prof. Dr. Alex Augusto Gonçalves Chefe Laboratório de Tecnologia e Controle de Qualidade do Pescado - LAPESC Universidade Federal Rural do Semi Árido – UFERSA alaugo@ufersa.edu.br | (61) 99173-8910 PARASITAS NO PESCADO Prof. Dr. Alex Augusto Gonçalves Chefe Laboratório de Tecnologia e Controle de Qualidade do Pescado - LAPESC Universidade Federal Rural do Semi Árido - UFERSA 1 2 11/02/2022 2 São Clemente, S.C. Parasitos em Pescado (Parte 1. Ciência do Pescado, Cap. 2, p. 90-98) In: Gonçalves, A.A. (Editor). Tecnologia do pescado: ciência, tecnologia, inovação e legislação. [2. ed.]. Rio de Janeiro, RJ: Atheneu, 673 p., 2021. PARASITAS NO PESCADO VS. PROBLEMAS DE SAÚDE PÚBLICA 3 4 11/02/2022 3 Parasitos em pescado De acordo com o maior especialista em parasitologia de pescado, Dr. Sérgio Carmona de São Clemente (in memoriam), o pescado marinho e de água doce possui uma vasta fauna parasitológica . Entre os importantes grupos de formas parasitárias, destacam-se os cestoides (Ordem Pseudophyllidea e Trypanorhyncha), e os nematoides (Ordem Ascaridoidea, família Anisakidae) e algumas famílias de trematódeos digenéticos. Apesar de ter sido descrita uma diversidade de parasitos que afetam os peixes, são poucas as espécies capazes de infectar o ser humano. Frequentemente, os moluscos e crustáceos servem como hospedeiros primários, e os peixes como hospedeiros intermediários, enquanto o parasito sexualmente maduro encontra-se em aves e mamíferos marinhos como baleias, golfinhos e lobos marinhos. Sociedade Brasileira de Parasitologia Infecção: (interna – endoparasita) ---- penetração e desenvolvimento ou multiplicação de um agente etiológico no organismo humano ou animal, podendo ser vírus, bactéria, protozoário, helminto, etc. Endoparasitos: organismos parasitos que vivem dentro dos seus hospedeiros Infestação: (externa – ectoparasita) --- é o alojamento, desenvolvimento e reprodução de artrópodes na superfície do corpo, nas vestes ou na moradia de humanos ou de animais. 5 6 11/02/2022 4 Sociedade Brasileira de Parasitologia Ectoparasitos: parasitos que se alojam na superfície de seus hospedeiros. Podem ser vistos ou não a olho nu: Crustáceos e Protozoários. Podem causar lesões por ação mecânica dos aparelhos de fixação; pela perfuração do tecido (pele, brânquias), e que pode ser uma porta de entrada para infecções secundárias. Maciça ou massiva: cobre boa parte do corpo – nesse caso, torna-se subjetivo ao olhar de quem está avaliando a amostra infectada. O ideal seria seguir alguma padronização de número de parasitas por cm2 para considerá-la maciça. Sociedade Brasileira de Parasitologia Repugnante: que repugna. que provoca mal-estar, repulsa, asco; nauseabundo, nojento, asqueroso. Também é subjetivo, conforme já mencionado anteriormente, uma vez que essa percepção certamente difere entre as pessoas. Na prática, a infestação é mais importante nas boas práticas de manejo do que no processamento, pois nas etapas de processamento, lavagem, descamação, esses ectoparasitas são removidos. 7 8 11/02/2022 5 Os cestoides da ordem Pseudophyllidae, em especial as espécies do gênero Diphyllobothrium, são importantes por causarem a zoonose conhecida como difilobotriose humana. Larvas plerocercoide de Diphyllobothrium sp em Genipterus brasiliensis O ciclo de vida do Diphyllobothrium envolve dois hospedeiros intermediários, um crustáceo e um peixe teleósteo, e o hospedeiro definitivo, o homem ou outro mamífero. CLASSE CESTODA ORDEM TRYPANORHYNCHA A ordem Trypanorhyncha é composta por grande diversidade de famílias, todas parasitando peixes e invertebrados marinhos. Os vermes adultos habitam o intestino de peixes elasmobrânquios (tubarões e raias), enquanto as formas larvais são encontradas em microcrustáceos (1o hospedeiro intermediário – HI) e na cavidade celomática e na musculatura de peixes teleósteos, crustáceos e moluscos cefalópodes (2o HI). Ressaltando a importância destes cestoides para a inspeção e higiene do pescado, em muitas espécies de teleósteos é comum observar altas taxas de infecção na musculatura. Na inspeção e higiene do pescado, os cestoides da Ordem Trypanorhyncha adquirem importância pelo aspecto repugnante que transferem aos consumidores e são descartados pelos mesmos ou condenados pelo Serviço de Inspeção na indústria de beneficiamento, ocasionando prejuízo econômico 9 10 11/02/2022 6 CLASSE CESTODA ORDEM TRYPANORHYNCHA Blastocistos de cestoides da ordem Trypanorhyncha aderidos à serosa da cavidade abdominal de Cynoscion striatus. Quanto ao seu ciclo de vida, os estágios do adulto do Anisakis simplex e Pseudoterranova decipiens, por exemplo, residem no estômago e intestino de mamíferos marinhos. Ovos não embrionados produzidos pela fêmea adulta são eliminados pelas fezes. Esses ovos tornam-se embrionados na água, e larvas de primeiro estágio (L1) são formadas nesses ovos. As larvas mudam tornando-se larvas de segundo estágio (L2), e depois que saem dos ovos tornam-se nadantes livres. Larvas libertas do ovo são ingeridas por crustáceos (1o HI), onde se transformam em larvas de terceiro estágio (L3), que é a forma infectante aos peixes e lulas. As larvas migram do intestino para os tecidos na cavidade peritonial. Após a morte do hospedeiro intermediário, elas migram para os tecidos musculares e, através de predação, são transferidas de peixe para peixe. Quando peixes e lulas (2o HI) contendo as larvas em terceiro estágio (L3) são ingeridos por mamíferos marinhos, inicia-se a evolução das larvas para a forma adulta. As fêmeas adultas produzem ovos que são eliminados pelos mamíferos marinhos A Família Anisakidae possui três gêneros principais: Anisakis sp, Pseudoterranova sp e Contracaecum sp, os quais parasitam mamíferos marinhos, tendo como hospedeiros intermediários peixes teleósteos, moluscos cefalópodes e pequenos crustáceos. 11 12 11/02/2022 7 O ser humano é um hospedeiro acidental adquirindo a anisaquiose através da ingestão de pescado cru, ligeiramente curado e/ou condimentado. Anisaquídeos na musculatura e serosa das vísceras de Pagrus pagrus. Espécie (nome comum) Referência Pagrus pagrus (pargo) São Clemente et al. (1994) Pagrus pagrus (pargo) Paraguassú et al. (2000) Cynoscion guatucupa (pescada olhuda) Macrodon ancylodon (pescada foguete) Sabas & Luque (2003) Genypterus brasiliensis (congro rosa) Knoff et al. (2003; 2004; 2007) Cynoscion sp. (pescada), Caranx latus (xerelete), P. saltator (anchova), P. pagrus (pargo), Priacanthus arenatos (olho de cão) Ferreira et al (2006) Paralichthys isosceles (linguado) Felizardo et al. (2009) Pagrus pagrus (pargo) Saad & Luque (2009) Aluterus monocerus (peixe porco) Dias et al. (2010) Scomberomorus cavala (cavala) Dias et al. (2011) Trichiurus lepturus (peixe espada) Borges et al. (2012) Paralichthys patagonicos (linguado) Fonseca (2012) Lophius gastrophysus (peixe sapo) Saad et al. (2012) Scomberomorus brasiliensis (peixe serra), T. lepturus (peixe espada) Cavalcanti et al. (2012) Cynoscion guatucupa (pescada olhuda) Fontenelle et al. (2013) Selene setapinnis (peixe galo) Fontenelle et al. (2015) Coryphaena hippurus (dourado) Silva et al. (2017) Cynoscion leiarchus (pescada branca) Guimarães et al. (2017) Trabalhos relatam a presença de nematoides da família Anisakidae em peixes do litoral brasileiro 13 14 11/02/2022 8 Anisaquiose O primeiro caso de infestação por larvas de Anisakis simplex foi diagnosticado na cidade de Straub, em 1955 na Holanda. No Japão, foram relatados 1.000 casos de A. simplex no ano de 1990. A anisaquiose é um problema de saúde pública especialmente importante nos países com alto consumo de peixes. É no Japão, por motivos óbvios (consumo de peixe cru), que se contabilizam mais de 95%do total de casos notificados no mundo. Como um todo, o número de casos descritos nos EUA e na Europa podem ser considerados discretos (cerca de 50 casos nos EUA e cerca de 600 na Europa) embora no velho continente a casuística se concentre em alguns países específicos, como Holanda, Alemanha, França ou Espanha com uma tendência que se considera crescente, entre outros motivos, devido ao melhor conhecimento da doença pelos médicos e à disponibilidade de melhores instrumentos para realizar o diagnóstico (por exemplo, colheita de amostras por endoscopia), bem como o desenvolvimento crescente de uma metodologia laboratorial cada vez mais sensível e específica, sem esquecer a globalização da oferta alimentar. Classe Nematoda Ordem: Ascaridoidea Família: Dioctophymatidae Gênero: Eustrongylides As larvas do gênero Eustrongylides podem ser encontradas no proventrículo, intestinos, fígado, rim, peritônio, bexiga ou músculos de aves piscívoras. As larvas L1 liberadas são ingeridas por oligoquetas aquáticas, onde se desenvolvem até L3. O peixe suscetível ingere a oligoqueta, que permanecerá encistada até ser consumida pelo hospedeiro definitivo. A infecção por larvas de Eustrongylides sp em pacientes humanos foi descrita nos EUA, com relato de sintomatologia de dor abdominal e recuperação das larvas infectantes por meio de laparotomia exploratória. No Brasil, larvas de Eustrongylides foram encontradas em peixes teleósteos de água doce em 2009, o que chama a atenção para os cuidados no consumo destes peixes. Larva de Eustrogylides sp na musculatura de Hoplias malabaricus 15 16 11/02/2022 9 Classe Nematoda Ordem: Ascaridoidea Família: Dioctophymatidae Gênero: Eustrongylides A espécie Opisthorchis viverrini é encontrada principalmente no nordeste da Tailândia, Laos e Camboja; e a espécie O. felineus é encontrada principalmente na Europa e Ásia, incluindo a antiga União Soviética. A maioria das infecções provocadas pelas espécies de Opisthorchis é assintomática. Nos casos leves, as manifestações incluem dispepsia, dor abdominal, diarreia ou constipação. Com infecções de maior duração, os sintomas podem ser mais graves, e hepatomegalia e desnutrição podem estar presentes. Em casos raros, podem desenvolver colangite, colecistite, e colangiocarcinoma. Além disso, as infecções devido a Opisthorchis felineus podem apresentar uma fase aguda, assemelhando-se a “Katayama fever” (esquistossomose), com febre, edema facial, linfadenopatia, artralgia, erupção cutânea e eosinofilia. Nas formas de infecção crônica, O. felineus apresenta as mesmas manifestações de O. viverrini. 17 18 11/02/2022 10 Classe Trematoda Ordem: Ascaridoidea Família Heterophyidae Gênero: Heterophyes O gênero Heterophyes apresenta distribuição cosmopolita, com registro em várias espécies de peixes principalmente aquelas pertencentes ao gênero Mugil. A espécie mais comum é H. heterophyes. No Brasil, o primeiro caso de heterofiose em humanos foi descrito no Estado de Pernambuco. É considerado o menor trematódeo parasita de peixe (2mm) que vive no intestino delgado de humanos. Outros mamíferos podem se infectar ingerindo peixes crus ou mal cozidos contaminados. Os principais sintomas da infecção por Heterophyes em humanos são diarreia e dor abdominal. O revestimento do intestino delgado pode romper, permitindo que os ovos do parasita penetrem na corrente sanguínea e sejam levados a outros órgãos, especialmente para coração, fígado e cérebro, onde podem causar doença grave. Classe Trematoda Ordem: Ascaridoidea Família: Paragonimidae Gênero: Paragonimus A paragonimiose é uma doença parasitária de animais carnívoros causada por trematódeos do gênero Paragonimus. Os sintomas clínicos são frequentemente causa de um diagnóstico errôneo de tuberculose em muitos pacientes com paragonimiose. No ciclo biológico, os ovos do parasito são expelidos pelo hospedeiro definitivo através das fezes e tornam-se embrionados. Ao eclodirem, os ovos liberam os miracídios que penetram em um caramujo (1ºHI), se fixando em seus tecidos moles, onde irão se transformar em vários estágios de desenvolvimento: esporocistos, rediae e cercárias. As cercárias liberadas penetram em um caranguejo ou lagosta (2ºHI), onde evoluem até o estágio de metacercária, que é a forma infectante para os mamíferos. Ciclo biológico de Paragonimus sp . 19 20 11/02/2022 11 Classe Trematoda Ordem: Ascaridoidea Família: Clinostomatidae Gênero: Clinostomum Os trematódeos do gênero Clinostomum são os principais causadores do parasitismo em peixes, doença conhecida mundialmente como dos pontos amarelos. A presença de cistos do parasita na musculatura faz com que o peixe seja descartado pelo consumidor ou condenado na linha de inspeção de filés em indústrias de beneficiamento de pescado. A infecção de peixes por Clinostomum complanatum pode desencadear, por um lado, mudanças de comportamento, doenças e até mesmo óbito: por outro, ocasionam perdas econômicas. Além disso, as espécies do gênero Clinostomum apresentam potencial zoonótico, podendo infectar a cavidade oral de seres humanos que consomem peixe cru parasitado. Este parasita pode causar laringofaringite e até a morte por asfixia em seres humanos. No Brasil, a presença de Clinostomum em peixes de água doce foi relatada por vários autores, no entanto, não há relatos em humanos. Classe Trematoda Ordem: Ascaridoidea Família: Clinostomatidae Gênero: Clinostomum No ciclo biológico do Clinostomum, os ovos férteis são liberados pelos vermes adultos que parasitam o hospedeiro definitivo (ave piscívora). Os ovos são liberados na água e eclodem eliminando o miracídio que penetra no molusco (1o HI). Dentro do molusco, o miracídio evolui até a forma de cercária, liberada na água, penetra no peixe de água doce (2o HI), onde evolui até a forma de metacercária dentro de cistos. Quando o peixe parasitado é consumido pela ave (HD), a metacercária é liberada do cisto e evolui até a forma adulta na boca da ave, completando o ciclo. As infecções humanas causadas por estes parasitos estão associadas ao consumo de pescado cru ou submetido a processos que não alteram a viabilidade das larvas. 21 22 11/02/2022 12 Controle e prevenção A presença de larvas na musculatura dos peixes é própria de algumas espécies de anisaquídeos, como Anisakis simplex e Pseudoterranova decipiens, de reconhecida importância zoonótica. Mas, a presença de outras espécies de larvas de anisaquídeos na musculatura somática, pode ser consequência de migração post-mortem ou durante o processo de congelamento. A utilização do congelamento a -20°C por 7 dias ou a -35°C por, no mínimo, 15 horas, são suficientes para inviabilizar as larvas de anisaquídeos e larvas plerocercoides de Diphyllobothrium e outros parasitos. Pode-se prevenir a infecção humana pela não ingestão da carne crua de peixes, salientando que os peixes parasitados pelas espécies de anisaquídeos com potencial zoonótico devem ser submetidos ao cozimento a temperatura mínima de 70°C por 7 a 10 minutos. Controle e prevenção Vários autores relatam que a defumação a quente e a salga na concentração mínima de 20° Bé (Baumé) são suficientes para inviabilizar larvas de parasitos no pescado. O tempo de inviabilização das larvas, através dos processos de temperatura de congelamento, cocção e salga são variáveis entre as espécies de parasitos provenientes de hospedeiros variados. Outro procedimento para prevenção e controle dos parasitos em filés de peixe é a observação física da carne no processo de filetagem na indústria, com o uso da mesa de inspeção, ou candling table, permitindo a visualização de larvas na musculatura. 23 24 11/02/2022 13 "CONGELAR E ARMAZENAR A TEMPERATURA ATÉ -20°C (OU MENOS) POR NO MÍNIMO 7 DIAS OU CONGELAR A TEMPERATURA ATÉ -35°C (OU MENOS) ATÉ O ESTADO SÓLIDO E ARMAZENAR ATÉ -35°C POR 15 HORAS OU CONGELAR A TEMPERATURA ATÉ -35°C (OU MENOS)ATÉ O ESTADO SÓLIDO E ARMAZENAR ATÉ -20°C POR 24 HORAS 25 26 11/02/2022 14 Foram analisados 03 (três) amostras de BACALHAU, as mesmas continham 05 (cinco) larvas de nematóides do gênero Anisakis, todas mortas. Estes parasitos neste tipo de produto sempre são encontrados mortos, por não resistirem à salga seca, portanto sem condições de produzir qualquer malefício à saúde do consumidor. SERVIÇO DE CONTROLE DE QUALIDADE DO GOVERNO NORUEGUÊS EM REFERÊNCIA A PEIXES E PRODUTOS PESQUEIROS Mediante o processamento para fazer o peixe integralmente salgado ou mediante processo de congelamento profundo, fica garantido que os parasitas morrem, tornando-se inofensivos para consumo humano. 27 28 11/02/2022 15 29 30 11/02/2022 16 OBRIGADO Prof. Dr. Alex Augusto Gonçalves – alaugo@ufersa.edu.br - (61) 99173-8910 31
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