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Contestação - Estágio II

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Douto Juízo de Direito da ... Vara do Trabalho da Comarca da Capital do Estado do Rio de Janeiro
Processo nº ...
Mévia Silva, nacionalidade, estado civil ..., profissão ..., inscrita no CPF sob o nº ..., endereço eletrônico ..., portadora da CTPS nº ..., série nº ..., residente e domiciliada na Travessa João Figueiredo, nº 115, Bairro Porto Velho – São Gonçalo/RJ, Centro, Rio de Janeiro, CEP.: 24.426-750, vem, por intermédio de seu advogado, com fulcro no artigo 847 CLT, apresentar 
CONTESTAÇÃO 
Em face da reclamação trabalhista proposta por Tícia Neves, devidamente qualificada nos autos, pelos fatos e fundamentos abaixo aduzidos:
I. Dos fatos:
A reclamante alega ter sido admitida pela reclamada em 07/01/2020 para exercer a função de cuidadora de idosos no Hospital da Aeronáutica dos Afonsos. Informa que o contrato de trabalho foi estabelecido de forma tácita, sendo acordado que a reclamante receberia um salário mensal de R$ 900,00, acrescido de R$ 50,00 de auxílio transporte, totalizando R$ 950,00.
No entanto, conforme alega, a reclamante foi dispensada imotivadamente em 27/12/2020, sem o devido pagamento das verbas rescisórias. Sustenta que sua jornada de trabalho era estabelecida em regime de escala 24x24, fixamente às terças, quintas e sábados, das 7 horas às 7 horas do dia seguinte, sem intervalo fixo ou determinado para alimentação ou descanso, fazendo-os apenas conforme as necessidades da idosa que acompanhava.
É o breve resumo dos fatos.
II. Do direito:
Do vínculo empregatício:
O pedido de anotação do vínculo empregatício feito na inicial não merece prosperar, vez que, durante o período apresentado, a reclamante não figurava como empregada da empresa e sim como prestadora de serviços autônoma, sem qualquer subordinação jurídica. O artigo 3 da CLT dispõe sobre o conceito de empregado, de modo que pode-se concluir que a reclamante não se enquadra nos moldes do dispositivo, visto que não existiu qualquer tipo de subordinação entre as partes.
Da anotação na CTPS:
Sob o prisma do artigo 29 da CLT, que trata da anotação da CTPS, é possível afirmar que a reclamante não preenchia os requisitos legais que caracterizam uma relação de emprego, vez que laborava como prestadora de serviços, de forma autônoma, dispensando qualquer vínculo empregatício.
Das verbas rescisórias:
A reclamante foi dispensada em 27/12/2020, tendo sido efetuado o pagamento das verbas rescisórias devidas, na forma do artigo 477 da CLT.
No que se refere ao saldo de salário exigido pela reclamante, resta comprovado que o pagamento se deu de forma correta, correspondente aos dias efetivamente trabalhados, inexistindo qualquer valor em aberto. 
Na forma do artigo 487 da CLT, não há que se falar em aviso prévio indenizado, como pleiteado pela parte contrária, visto que a prestação de serviço foi encerrada de comum acordo. Portanto, não há obrigatoriedade de pagamento desta verba.
As parcelas referentes ao 13º salário proporcional ao tempo de serviço foram pagas de forma integral, dentro do prazo legal estipulado no artigo 1º da Lei nº 4.090/1962, não havendo qualquer valor em aberto. 
A reclamada afirma que as férias vencidas, presentes no texto do artigo 134 da CLT, foram regularmente concedidas e pagas à reclamante de acordo com a legislação vigente, não havendo qualquer valor a ser quitado.
Contesta-se o pagamento do 1/3 constitucional sobre férias, estabelecido no artigo 7º, inciso XVII, da Constituição Federal, vez que a reclamada assegura que a quantia correspondente ao terço constitucional foi devidamente pago à reclamante no momento da concessão das férias. 
Quanto ao auxílio transporte, a reclamada não faz jus ao pagamento da suposta diferença mencionada, visto que foi corretamente pago conforme combinado no momento da contratação, nos termos da Lei nº 7.418/1985, não havendo qualquer valor em aberto.
Portanto, resta comprovado que a reclamante não tem direito às verbas rescisórias pleiteadas.
Da indenização prevista no artigo 467 da CLT:
Com relação ao pedido de indenização de 50% sobre as verbas rescisórias incontroversas que não forem pagas na primeira audiência, não há que se falar no artigo 467 da CLT, visto que trata especificamente das verbas rescisórias devidas ao empregado, não sendo aplicável ao presente caso em que a reclamante é uma prestadora de serviços autônoma. A reclamante não possui vínculo empregatício com a reclamada, mas sim uma relação contratual autônoma, regida por outras normas e princípios jurídicos.
Com efeito, a relação entre as partes foi estabelecida de forma autônoma, por meio de um contrato livremente pactuado, no qual as obrigações e formas de encerramento são estipuladas de acordo com a autonomia da vontade das partes. Não há respaldo legal para aplicar uma indenização de 50% sobre verbas rescisórias incontroversas, uma vez que não existe uma relação de emprego subjacente.
Do adicional noturno:
Nos termos do artigo 73 da CLT, a reclamante não faz jus ao adicional noturno, vez que inexistem documentos nos autos que comprovem que ela trabalhou no período da noite. Conforme acordado entre as partes, a reclamante sempre realizou suas atividades em horário diurno, portanto não há que se falar em pagamento de adicional noturno.
Do adicional de insalubridade:
A reclamante também não tem direito ao adicional de insalubridade, pois não comprovou que trabalhou em ambiente insalubre. Além disso, mesmo que a reclamante tenha trabalhado em ambiente hospitalar, não foi apresentado laudo técnico comprovando a insalubridade do ambiente de trabalho. Logo, não há direito ao adicional de insalubridade.
Do recolhimento do FGTS e da multa do artigo 477 da CLT:
Não existe previsão legal para o recolhimento do FGTS de prestadores de serviços autônomos, uma vez que esse benefício é destinado aos trabalhadores com vínculo empregatício regido pela CLT, deste modo, não há cabimento para o pedido formulado pela reclamante. 
No que tange a multa do artigo 477 da CLT, não há qualquer valor a ser pago, posto que, como já demonstrado acima, a reclamante não possuía vínculos com a reclamada, apenas prestava serviços de forma autônoma. Sendo assim, deve-se afastar a relação de emprego, de modo que não há responsabilidade direta e as obrigações decorrentes desta, como o recolhimento do FGTS e, consequentemente, a aplicação da multa legal. 
Do seguro-desemprego:
A reclamada alega que a reclamante não preenche os requisitos para receber o benefício do seguro-desemprego, uma vez que o encerramento da relação de trabalho ocorreu de comum acordo entre as partes. Além de não existir vínculo empregatício, como já exposto anteriormente, não existe obrigação legal para empregadores entregarem as guias do seguro-desemprego aos prestadores de serviços autônomos. Essa obrigação é direcionada a empregadores que possuem vínculo empregatício com seus funcionários, regidos pela CLT. Como prestador de serviços autônomo, cabe ao próprio profissional buscar as informações e providenciar as guias do seguro desemprego, caso preencha os requisitos para receber o benefício.
Ante todo o exposto, a reclamada requer a improcedência de todos os pedidos feitos na reclamação trabalhista, com a condenação da reclamante ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios. Alternativamente, caso Vossa Excelência entenda pela procedência de algum dos pedidos, requer a fixação dos valores devidos de forma justa e proporcional. Vejamos uma jurisprudência a respeito do tema:
AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA. PROCESSO ANTERIOR À LEI 13.467/2017. 1. NULIDADE. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. NÃO CONFIGURAÇÃO. 2. NULIDADE. CERCEAMENTO DE DEFESA. NÃO CONFIGURAÇÃO. JUNTADA DE DOCUMENTOS. MOMENTO OPORTUNO. 3. ADVOGADO. INEXISTÊNCIA DE VÍNCULO DE EMPREGO. AUSÊNCIA DE SUBORDINAÇÃO (CLÁSSICA OU ESTRUTURAL), CONSTATADA PELO TRIBUNAL REGIONAL APÓS ANÁLISE DO CONJUNTO FÁTICO-PROBATÓRIO DOS AUTOS. MATÉRIA QUE SE ESGOTA NAS INSTÂNCIAS ORDINÁRIAS. SÚMULA 126/TST. O fenômeno sociojurídico da relação empregatícia emerge quando reunidos os seuscinco elementos fático-jurídicos constitutivos: prestação de trabalho por pessoa física a outrem, com pessoalidade, não eventualidade, onerosidade e sob subordinação. Verificada a reunião de tais elementos, a relação de emprego existe. Não se desconhece, outrossim, que o princípio constitucional da valorização do trabalho e do emprego, ao lado de outros princípios constitucionais convergentes (dignidade da pessoa humana e justiça social) tornam presumido o vínculo empregatício nos casos em que desponta incontroversa a prestação se serviços (Súmula 212, TST). Tal presunção, contudo, é relativa, podendo ser elidida por prova em contrário. A averiguação se dá em cada caso, em respeito ao princípio da primazia da realidade, segundo o qual se deve analisar a prática concreta efetivada ao longo da prestação de serviços, independentemente da vontade eventualmente manifestada pelas partes ou ao previsto em instrumento escrito que, porventura, não correspondam à realidade. Na hipótese, a Corte de origem, a partir da detida análise do conjunto fático-probatório produzido nos autos e em atenção ao princípio da primazia da realidade, manteve a sentença que indeferiu o pleito de reconhecimento do vínculo de emprego postulado na petição inicial, por concluir que não restaram demonstrados os requisitos legais da relação de emprego, nos moldes do art. 3º da CLT, em especial a subordinação jurídica (clássica ou estrutural). Nesse sentido, consignou a Corte de origem que o Reclamado, ao contestar o pleito de reconhecimento do vínculo de emprego, admitiu a prestação de serviços pela Reclamante, negando, contudo, a natureza empregatícia da relação. Ora, ao fazê-lo, atraiu para si o ônus de comprovar o alegado fato impeditivo do direito postulado, encargo do qual se desincumbiu a contento, segundo o TRT. A esse respeito, explicitou a Corte de origem que "o depoimento pessoal da reclamante permite concluir que houve ajuste consensual de prestação de trabalho na condição de autônoma - e como tal se desenvolveu -, tanto que manteve parcerias com outros escritórios de advocacia até 2008 (03 anos após o início de suas atividades na reclamada - 2005), sem que entenda ela ter nelas havido relação de emprego", tendo admitido, inclusive, ter realizado audiências pelo outro escritório. Constatou o Tribunal Regional, através dos depoimentos das testemunhas apresentadas por ambas as partes, restar "nítida a ausência de subordinação na relação jurídica mantida entre as partes", ao passo que ficou evidenciado que o Reclamado "não exercia o poder de comando inerente à relação de emprego, dirigindo e fiscalizando a prestação de serviços, limitando-se a coordenar as atividades para que fosse esta organizada, até por possuir outros advogados atuando na mesma forma, além de estagiários". O contexto fático delineado pelo TRT, de fato, não autoriza o reconhecimento do poder diretivo e do poder disciplinar do Reclamado sobre a Autora, que efetivamente desenvolvia a prestação de serviços de forma autônoma, restando incontroversa a ausência de subordinação (clássica ou estrutural). Acresça-se que a diferenciação central entre o trabalhador autônomo e o empregado situa-se na subordinação. Fundamentalmente, trabalho autônomo é aquele que se realiza sem subordinação do trabalhador ao tomador de serviços. Autonomia é conceito antitético ao de subordinação. Enquanto esta traduz a circunstância juridicamente assentada de que o trabalhador acolhe a direção empresarial no tocante ao modo de concretização cotidiana de seus serviços, a autonomia traduz a noção de que o próprio prestador é que estabelece e concretiza, cotidianamente, a forma de realização dos serviços que pactuou prestar. Na subordinação, a direção central do modo cotidiano de prestação de serviços transfere-se ao tomador; na autonomia, a direção central do modo cotidiano de prestação de serviços preserva-se com o prestador de trabalho. Não se vislumbra, portanto, qualquer equívoco no enquadramento jurídico dos fatos realizado pelo Juízo de origem e mantido pelo TRT, que se apoiou em análise detida e pormenorizada dos documentos e depoimentos testemunhais (art. 131 do CPC/1973 - art. 371 do CPC/2015). De todo modo, afirmando a Instância Ordinária, quer pela sentença, quer pelo acórdão, a ausência dos elementos da relação de emprego e, por conseguinte, que a Autora, na condição de advogada, efetivamente desenvolvia a prestação de serviços de forma autônoma, torna-se inviável, em recurso de revista, reexaminar o conjunto probatório dos autos, por não se tratar o TST de suposta terceira instância, mas de Juízo rigorosamente extraordinário - limites da Súmula 126/TST. Agravo de instrumento desprovido. (TST, AIRR - 552-04.2011.5.04.0305, Relator Ministro: Mauricio Godinho Delgado, Data de Julgamento: 19/09/2018, 3ª Turma, Data de Publicação: DEJT 28/09/2018)
Nestes termos, 
Pede deferimento.
Local ..., data ...
Advogado ..., OAB ...

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