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AGRADECIMENTOS Aprendi nestes anos de luta e labuta que é muito difícil fazer algo sozinho, que o trabalho de equipe rende dividendos para todos. Basta pôr a mão na massa e arregaçar as mangas e lá vamos nós conquistando nosso espaço e construindo nossa história. A equipe de Patologia da Universidade de Uberaba a cada ano se renova com a saída e chegada de um novo residente. Aproveito neste momento para agradecer a colega Laryssa Rezende que está se despedindo. Sua colaboração durante dois anos foi fundamental no aprimoramento das aulas práticas de necropsias. Felicito ao colega Marcelo Coelho que está incorporando nossa equipe. Agradeço ao professor Raul Morais Nolasco pela colaboração competente e suas observações embasadas na prática da Medicina Veterinária. Ao colaborador Arthur Queiroz técnico em Anatomia que divide seus esforços integrando nossa equipe. Ao farmacêutico industrial Hélio Alberto que depois de dezessete anos de empenho e desempenho constante em uma sala de necropsia, tornou-se um exímio técnico, com perfil de professor de patologia. Aproveito a oportunidade para agradecê-lo. Registro aqui a participação incansável de Cláudio Henrique Barbosa professor de patologia das aves, um belo exemplo de dedicação e esmero no ofício da Medicina Veterinária. Expresso meus sinceros agradecimentos. Agradeço ao colega Médico Veterinário e R2 em patologia: Cayque Emmanuel de Oliveira editor deste livro. Penso que sem a participação, incentivo e entusiasmo deste jovem prodígio e estudioso, este livro não sairia das entranhas do meu encéfalo. Sua dedicação me fez crescer e buscar alternativas que tornaram possível a publicação deste, uma vez que as editoras convencionais estão em recesso. Meus agradecimentos a Universidade de Uberaba local onde nasceram as melhores ideias e observações das lesões que aqui relato. Agradeço e dedico aos meus alunos e ex-alunos razão pelos quais e para os quais me tornei escritor. PREFÁCIO Escrever um livro tem sempre um mistério envolvido. Cada autor tem sua motivação particular. No meu caso estou cumprindo meu dever de professor de patologia das aves, depois de ter convivido e ser orientado pelo professor José Maria Lamas da Silva, cujo conhecimento nesta área atravessou as fronteiras do Brasil. Mas para chegar até este ponto foi preciso à intervenção do professor Wilson Ferreira Lúcio a quem rendo todas as homenagens como educador e patologista sem comparação. Ainda há a figura inusitada do professor Nelson Ferreira Lúcio que além de ensinar me motivou. Expresso aqui minha gratidão. Esta estória não teria acontecido se, lá atrás o meu colega de trabalho no departamento municipal de água e esgoto de Uberlândia MG, Luiz Carlos de Araújo Carvalho, não tivesse dado um ultimato: vá fazer veterinária, combina com você que é da roça. E assim não me deu descanso até que fiz vestibular e passei. Toda vez que eu encontro com ele é sempre uma emoção. Aproveito este espaço para expressar meus sinceros agradecimentos. Foi a partir daí que tudo começou. Agradeço ao colega Divino Zandonaidi que se graduou comigo. Ele me cedeu seu emprego de professor de biologia para que pudesse seguir pagando o curso e não o interromper no meio do caminho. Que Deus lhe pague. Certa ocasião o representante financeiro da faculdade chegou à sala de aula e disse: quem não pagou não faz prova. Eu era um que devia umas cinco mensalidades. Desta vez, quem me salvou foi outro colega de turma, Hélcio Pereira de Queiroz. Quem tem Deus no coração nunca está sozinho. Há sempre um anjo para nos socorrer. Mas a maior motivação vem da vontade de levar até meus alunos a forma mais simples de se encarar o conhecimento. Entendi que conhecimento não tem dono, ele pertence ao universo, quem chega primeiro abarca a fatia que puder, e quem angariar a fatia maior fica no dever de colaborar com o seu próximo, e meu próximo é o aluno. Nunca trabalhei em nenhuma empresa avícola. Minha experiência reside em salas de patologia e dezenas de visitas em criatórios de aves. Este livro tem toda a didática do autor que se emociona ao ver o crescimento de seu ex-aluno que se destaca no senário Médico Veterinário. Não tenho nenhuma pretensão financeira com esta obra, minha proposta é ser útil depois de quatro décadas de dedicação á patologia animal. Não quero passar minha vida em branco, por isso, escrevo as coisas que vivi. E o que mais vivi, além do convívio com a minha família foi a Medicina Veterinária. Sou muito grato à oportunidade que a vida me concedeu, por isso é que presto homenagens a alguns benfeitores na minha vida. Aprendi que a gratidão é mãe de todas as virtudes, então sou grato a todos que contribuíram nestes anos de aventuras e desventuras. Penso até que sou um perdedor que venceu, quando olho para traz e vejo as barreiras que me foram impostas e mesmo assim cheguei com disposição, alegria e amor à vida. 1 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 2 TÉCNICA DE NECROPSIA ........................................................................................... 3 ALTERAÇÕES POST MORTEM ................................................................................... 6 SITEMA TEGUMENTAR ............................................................................................. 10 APARELHO LOCOMOTOR DAS AVES .................................................................... 25 SISTEMA CARDIOVASCULAR ................................................................................. 52 SISTEMA RESPIRATÓRIO ......................................................................................... 62 PERITÔNIO ................................................................................................................... 87 APARELHO DIGESTÓRIO .......................................................................................... 92 FÍGADO ......................................................................................................................... 11 SISTEMA HEMOCITOPOIÉTICO ............................................................................... 19 SISTEMA URINÁRIO .................................................................................................. 37 SISTEMA GENITAL MASCULINO ............................................................................ 44 SISTEMA GENITAL FEMININO ................................................................................ 48 SISTEMA NERVOSO ................................................................................................... 56 2 INTRODUÇÃO Patologia é a ciência que estuda as lesões macro e microscopicamente, sua origem e mecanismo de formação. Por questões lógicas, essa ciência foi dividida em Patologia Humana, Animal e Fitopatologia. Dentro da patologia animal encontra-se a ornitopatologia: uma parte dedicada exclusivamente às alterações anatomopatológicas das aves. Didaticamente a ornitopatologia é denominada patologia das aves. Coloca todas as alterações em seus respectivos sistemas, obedecendo as seguintes sequencias: alterações post mortem; do desenvolvimento (congênitas); degenerativas; circulatórias; inflamatórias; granulomatosas e neoplásicas. Neste contexto, as mais importantes enfermidades das aves serão aqui estudadas em seus respectivos sistemas e aparelhos, enfatizando os aspectos macro e microscópicos, visando a caracterizar e a identificar as lesões, para depois reuni-las em um ou mais diagnósticos. Estudar os sintomas e outras manifestações clínicas da maioria das enfermidades aviária parece muitodifícil e até mesmo confuso, uma vez que raramente chegaremos a um diagnóstico seguro. Ave doente é sinônima de asas caídas, espirros, torcicolos, apatia e sonolência. Este conjunto de sintomas pode fazer parte da maioria das doenças que afetam as aves. Por isso encorajamos nossos alunos a fazerem necropsia sempre que puderem. Isso porque por meio do reconhecimento as lesões, se pode oferecer um diagnóstico seguro e ainda, se for o caso, remeter material para exames laboratoriais, como o histopatológico, realizado a luz da microscopia ótica. Assim elucidar a maioria dos casos em que os olhos não conseguem enxergar. 3 TÉCNICA DE NECROPSIA Necropsia ao pé da letra quer dizer: ver o morto. A necropsia das aves segue um ritual diferente daqueles realizados em mamíferos. Para cortar a ave, emprega-se apenas uma tesoura. O uso de luvas é essencial para proteção e higiene. A prática eficiente da técnica de necropsia requer uma sequencia de ações. Deve-se inspecionar a ectopia da ave, analisando as condições gerais de saúde, nutricionais e desenvolvimento. Em seguida, molha-se a ave para evitar que as penas se espalhem favorecendo a manipulação da técnica. Coloca-se a cabeça da ave voltada para o necropsiador. Inicia-se o procedimento examinando a cabeça, as narinas, o bico, fazendo um corte entre os dois bicos seguindo pelo esôfago, passando pelo ingluvio e interrompendo-se no peito da ave. Com a ave na mesma posição, examina-se traqueia, laringe, faringe, timo, tireoide, enfim, todas as estruturas que estão próximas ao pescoço. Em seguia, vira-se a ave voltando-a com os membros pélvicos para si. Promove a divulsão e retirada do tegumento e a desarticulação da cabeça do fêmur com o acetábulo. Examina-se o nervo ciático presente entre os músculos femorais. Faz-se uma incisão nos músculos abdominais e inspecionam-se os sacos aéreos ali presentes desarticulando-se os ossos do peito, assim facilita a retirada das vísceras: coração, proventrículo, moela, intestinos, fígado e baço. Os pulmões, ovário, testículo, rins, bolsa cloaca, oviduto e cloaca permanecem na carcaça da ave e devem ser examinados somente fazendo cortes, sem a necessidade de serem retirados. O exame geral dos músculos deve ser criterioso por meio de pequenos cortes na musculatura dos peitos e da coxa. Os ossos devem ser testados pela medição de sua resistência e depois pelo seu corte. O diagnóstico poderá ser emitido no ato da necropsia, porém algumas vezes será necessária a coleta de material para exames complementares: histopatológico, bacteriológico, hematológico, fezes e outros. Para o exame histopatológico, recomenda-se colher fragmentos de espessura entre 0,5 a 1 cm de diâmetro, colocá-los em formal a 10%, podendo ali permanecer por vários dias. 1. Imobilização de membros da ave para promoção da eutanásia. 2. Forma correta para realizar a eutanásia. 4. Abertura do esôfago e ingluvio a partir da comissura. 5. Inspeção do esôfago e ingluvio. 3. Imersão da ave em água com sabão para. 6. Abertura e inspeção da traqueia 7. Inspeção dos seios nasais 8. Abertura do crânio para inspeção. 9. Retirada do couro com penas da região do peito e desarticulação da cabeça do fêmur. 10. Abertura da cavidade celomática 11. Inspeção das vísceras da cavidade celomática 12. Inspeção do nervo isquiádico. 5 EM OUTRAS PALAVRAS... Necropsiar é examinar um corpo sem vida. É fazer a leitura nas entrelinhas entre uma lesão e outa buscando sempre um diagnóstico. Toda ave ao ser necropsiada serve a saúde daquelas que permanecem vivas. Cabe ao necropsiador expandir sua capacidade de enxergar os sinais deixados pelas enfermidades. Cada vez que é encarada uma necropsia, amplia-se um conhecimento, mesmo que aquelas lesões já tenham sido vistas. A repetição é também uma forma de aprendizado. Ler e procurar informações são atualizar o conhecimento, algo imprescindível para o saber. O aprendizado só é seguro quando o indivíduo vê o que estuda e estuda o que vê. CONSULTA RÁPIDA 1 - Conceito de necropsia Necropsia significa examinar o morto, o que implica na abertura do cadáver, averiguando criteriosamente cada órgão ou estrutura lesada. 2 - Indicar a finalidade de se fazer uma necropsia A necropsia serve para alcançar o diagnóstico, confirmar a suspeita clinica e corrigir alguns equívocos, entre outros. 3 - Indicar a espessura do material coletado Os fragmentos coletados podem ser de vários comprimentos e medir de 05 a 1 cm de espessura. 4- Indicar o fixador ideal para rotina histopatológica O fixador ideal para fragmentos coletados de órgão s lesados para exame histopatológico é o formol a 10%. 5 - Como conservar material par exame toxicológico e bacteriológico Os fragmentos devem ser colocados no gelo BIBLIOGRAFIA FURLAN, R.L. Anatomia – Fisiologia. Campinas. Facta. 2000 SANTOS, C.H.C.; SILVA, E.N. Métodos de Diagnósticos laboratoriais microbiológicos e sorológicos. Campinas: Facta. 2000. 6 ALTERAÇÕES POST MORTEM O conhecimento das alterações post mortem é importante para que se possa chegar a conclusões corretas e esclarecedoras, sem confundi-las com as que são produzidas no decurso de uma enfermidade. As principais alterações post mortem são: RIGIDEZ CADAVÉRICA É o resultado do estiramento das fibras musculares, provocando um enrijecimento das massas musculares. A rigidez ocorre nas primeiras horas após a morte e se inicia pelos músculos da cabeça, pescoço, peito, asas e membros pélvicos. Ela atinge toda a musculatura a partir de três horas após a morte e decorrido aproximadamente oito horas, ela é máxima, e se inicia o relaxamento muscular. O relaxamento das fibras musculares ocorre no mesmo sentido que a rigidez: começa na cabeça e vai em direção da cauda. No plano crânio caudal. O musculo cardíaco sofre rigidez muito rapidamente, permitindo, a expulsão de todo o sangue que se encontra em todo ventrículo esquerdo, onde a parede é mais espessa. Por isso é normal que se encontre o ventrículo esquerdo sempre vazio; caso contrário, se observa a presença de coágulos, isso representa insuficiência do musculo cardíaco. Qualquer lesão no miocárdio prejudica o desdobramento da rigidez das fibras musculares. LIVIDEZ CADAVÉRICA Resulta da ação da força da gravidade exercida sobre o sangue, conduzindo-o para partes mais baixas do corpo, ou seja, as que estão voltadas para o piso, provocando palidez (lividez cadavérica) de um lado, e vermelhidão (hipóstase cadavérica) do outro. HIPÓSTASE CADAVÉRICA É o acúmulo do sangue nas partes inferiores do corpo devido à ação da força da gravidade, fazendo com que o sangue desça para as partes baixas e ali exibindo uma coloração vermelho escuro. Estas áreas de muita concentração de sangue permitindo a invasão das bactérias saprófitas. Instala-se então a pseudomelanose: uma coloração azulada. 7 COAGULAÇÃO DO SANGUE A coagulação ocorre poucos minutos após a morte da ave. Formam-se inicialmente coágulos de coloração avermelhada denominados cruórico. Posteriormente, as hemácias sofrem lise e desaparece a coloração avermelhada, formando então coágulo lardáceo, que se apresenta com coloração amarelada e sujeito a aderência nas paredes das cavidades cardíacas. A aderência do coágulo lardáceo se dá pela grande quantidade de fibrina contida nele. Há que se ter o máximo de cuidado para não o confundir com alguma patologia: como por exemplo, pensar que seja algum crescimento neoplásico. A presençade coágulo é comum nos grandes vasos, nos átrios e no ventrículo direito. EMBEBIÇÃO SANGUÍNEA É a capacidade de tingir que a hemoglobina apresenta ao ser liberada das hemácias lizadas. Cora em vermelho brilhante a parede dos vasos e todos os tecidos vizinhos. Você pode denomina-la de embebição hemoglobínica. EMBEBIÇÃO BILIAR Semelhante a embebição sanguínea, a embebição biliar é a capacidade de tingir que a bile e seus componentes (bilirrubina) apresentam. O resultado é a coloração esverdeada observada em todas as estruturas próximas a vesícula biliar. A bile das aves semelhante ao que acontece em bovino, possui coloração esverdeada. Enquanto na maioria das espécies animais a coloração é amarelada. AUTÓLISE É o processo de autodigestão celular promovido por enzimas autolíticas que estão contidas nos lisossomos, disponíveis para cumprir o papel de lise celular, logo após a morte da ave, colaborando com a desintegração do corpo da mesma. Algumas estruturas entram em autólise mais rapidamente. A vesícula biliar, o fígado, os intestinos e outras glândulas sofrem autólise antes dos músculos. PUTREFAÇÃO É o resultado da invasão de bactérias saprófitas nos tecidos autolisados. As bactérias saprófitas produzem enzimas proteolíticas que decompõem as proteínas. Com 8 a invasão ocorre uma severa fermentação, com alta produção de gases, que produzem odores desagradáveis e imprimem uma coloração típica, podendo ser esverdeada, azulada ou até mesmo parda, denominada pseudomelanose. (Bactérias saprófitas são aquelas que se alimentam de matéria orgânica inanimada). A origem desses gases encontra-se nas as enzimas cadavéricas, principalmente o sulfureto ferroso, resultante da reação entre sulfureto de hidrogênio, produzido pelas bactérias e, o ferro, liberado pela degradação da hemoglobina. O acúmulo de gases em um tecido devido ao efeito da putrefação é denominado enfisema post-mortem. Os órgãos que sofrem putrefação mais precoce são aqueles nos quais se acumula grande quantidade de sangue. Eles possuem um parênquima rico em nutrientes, como é o caso do fígado. Os músculos, os tendões e s cartilagens são bastante resistentes. Quando resfriados, permanecem por muito tempo sem grandes alterações. Os ossos são sem dúvida, as mais resistentes estruturas do corpo, devido à grande quantidade de minerais, ali presente, tornando-se verdadeiras rochas e servindo para contar a história do universo, e dos seres que nele habitaram. Se não fosse a resistência e durabilidade dos ossos, não saberiam contar a história da existência dos dinossauros. FATORES PREDISPONENTES AO PROCESSO POST MORTEM As alterações post mortem representam uma sequência de eventos que ocorrem logo após a morte da ave. Dois grupos de fatores interferem diretamente no aparecimento dessas alterações: Fatores inerentes à ave: presença de penas, quantidade de gordura, estado corporal, doenças toxêmicas, septicêmicas e traumáticas. Fatores inerentes ao meio ambiente: altas e baixas temperaturas, condições de higiene e superpopulação. EM OUTRAS PALAVRAS... Conhecer as alterações post mortem é evitar que se confunda, como aquelas produzidas no decurso de uma enfermidade. As aves devem ser examinadas logo após a morte ou, se for o caso, eliminar àquelas doentes, para um exame criterioso e sem nenhuma interferência indesejável. 9 As alterações post-mortem aparecem precocemente devido ao empenamento. Assim, a observação detalhada dessas alterações é indispensável para que no ato da necropsia possa dar um diagnóstico com margem de segurança. CONSULTA RÁPIDA 1 - Conceito de autólise Autólise é o processo de autodigestão celular promovido pelas enzimas autolíticas. 2 - Conceitue putrefação A putrefação resulta da invasão de bactérias saprófitas nos tecidos autolisados. 3 - Conceitue hipóstase cadavérica Hipostase cadavérica é o acúmulo de sangue nas partes inferiores do cadáver. 4 - Conceitue embebição sanguínea Embebição sanguínea é a capacidade de tingir que a hemoglobina liberada apresenta durante autólise 5 - Três alterações post-mortem Alterações post-mortem: rigidez, lividez coagulação do sangue. BIBLIOGRAFIA BERCHIERI Jr, A; MACARI, M. Doença das aves. Campinas: Facta, 2000. 490p BORDIN, E.L. diagnóstico histopatológico. In: BERCHIERI Jr, A; MACARI, M. Doença das aves. Campinas: Facta, 2000. COELHO, H.E. Patologia geral veterinária. 2ª ed. Uberlândia: Gráfica Impresso; 2000. VASCONCELOS, A.C. Necropsia e remessa de material para laboratório em Medicina Veterinária. 2ª ed. Teresina: Universidade Federal do Piauí. 1997. 10 SITEMA TEGUMENTAR O sistema tegumentar compreende: pele e seus anexos A PELE A pele é um conjunto de tecidos que desempenha importantes funções. Por isso, é considerada órgão, o maior que a ave possui. Além de exercer a função protetora, a pele é um excelente órgão termorregulador. A pele é o espelho da saúde. ANEXOS DA PELE São todas aquelas estruturas que estão incorporadas, dependentes e subordinadas à pele: penas, glândulas, bico e unhas. A única glândula presente como anexo da pele nas aves é a uropigiana (Figura 1). Figura 1 – Glândula uropigiana em ave. A glândula uropigiana é também conhecida como uropígio. Trata-se de uma glândula alveolar composta, dividida em dois lobos localizados sobre o músculo tensor do pigóstilo. Sua função é lubrificar e impermeabilizar as penas contra a umidade excessiva. Nas aves aquáticas, essa função é essencial para manter as penas sempre limpas e brilhantes, protegendo o corpo com muita eficiência. De modo geral, os numerosos tubos excretores da glândula uropigiana convergem para dois tubos coletores principais, que se abrem na papila uropigial. Se lavar uma ave aquática com detergente e coloca-la na água, ela terá grandes problemas pra não afogar. A secreção da glândula uropigiana é oleosa e impermeabilizante. ALTERAÇÕES POST MORTEM 11 As alterações post-mortem da pele ocorrem mais tardiamente, devido à sua própria constituição física. São elas: Pseudomelanose Presença de manchas azuladas, que ocorrem nas partes em que houve acúmulo de sangue pela ação da gravidade (hipóstase cadavérica) e invasão de bactérias saprófitas (putrefação). Enfisema post-mortem Acúmulo de gases na região subcutânea, devido à fermentação das bactérias saprófitas. ALTERAÇÕES DO DESENVOLVIMENTO São as alterações congênitas. Àquelas formadas dentro do ovo, durante o período de incubação. Empenamento imperfeito Alteração típica na qual as penas se apresentam com a face ventral voltada para cima – ou seja, ficam arrepiadas, como apresenta a Figura 2. Os criadores empolgados com a novidade selecionam-nas, criando uma linhagem de galinhas arrepiadas. Figura 2 – Ave apresentando empenamento imperfeito Empenamento incompleto Ausência de penas em áreas da pele que normalmente seriam cobertas como a região cervical. Algumas linhagens de galinha apresentam o chamado “pescoço pelado”, como mostra a Figura 3 que é a falta de penas naquela região do pescoço. 12 Figura 3 – ave apresentando empenamento incompleto na região cervical (“pescoço pelado”) As aves que apresentam má formação no empenamento devem ser descartadas, para não transmitir essa caraterística aos seus descendentes. ALTERAÇÕES ADQUIRIDAS Queda De Penas Manifestação clinica comum em todas as aves, caracterizada por perda de parte das penas e de etiologia variada. Essa alteração frequentemente se relaciona com certas agressões à pele e ao folículo da pena, tais como: ectoparasitas, botulismoe dermatites. Ectoparasitas Os ectoparasitas são os principais agentes promotores das quedas das penas. Os mais conhecidos são: Percevejos (Cinmex lectus) Parasitas sugadores de sangue comum nos climas temperados subtropicais. Atacam aves domésticas, homens e demais mamíferos. Provocam edema e prurido na região da pele picada. Piolhos (Menacanthus stramineus) Alimentam-se da pele, subprodutos da pele e sangue. Os piolhos geralmente são introduzidos em uma granja por equipamentos e maquinário. A Figura 4 mostra o piolho presente na pena de uma ave. 13 Figura 4 - Menacanthus stramineus presente em pena de ave Pulgas (Echidnophaga galinácea) Espécie exclusiva entre as pulgas aviárias, porque seus adultos tornam-se parasitas sésseis e geralmente permanecem presos na pele da cabeça por dias ou semanas. Borrachudos (Simulium spp) Sugadores de sangue transmitem leucocitozoonose para patos, perus e outras aves. Mosca dos pombos (Pseudolychia canarienses) Parasita presente nos pombos das regiões quentes e tropicais. Carrapatos (Argas persicus) Encontrados nos países tropicais e subtropicais. Vetores da Borrelia anserina, provocam anemia, perda de peso, depressão, toxemia e paralisia das aves infectadas. O carrapato é visto na Figura 5. Figura 5 - Argas persicus, o carrapato das aves. Ácaros (Dermanyssidae – das galinhas; Trombiculidae – dos perus) 14 Aparecem nas aves e provocam danos à saúde e perdas econômicas. A espécie Dermanyssus gallinae infesta galinhas, perus, pombos, canários e várias espécies de aves silvestres. Ácaro das pernas (Knemidocoptes mutans) Ácaro sarcóptico, esférico e pequeno. Geralmente escava tuneis nos tecidos sob as escamas das pernas. O controle é feito descartando-se as aves infectadas. O tratamento pode ser feito com ivermectina. A Figura 6 mostra ave acometida por esse ácaro. Figura 6 – membro de ave acometido pelo ácaro Knemidocoptes mutans. Ácaro subcutâneo (Laminosioptes cysticola) Parasita pequeno que forma nódulos caseocalcários de coloração amarelada, medindo de um a três centímetros de diâmetro, localizado no tecido subcutâneo. Ácaro desemplumante (Neoknemidocoptes gallinae) Escava o interior da epiderme, na base das hastes das penas, e causam irritação intensa e queda de penas. O ácaro das penas pertence à família Analgidae. Eles causam grandes desconfortos para as aves, além de dermatites e perda de penas. Mosquitos (principais: Culex, Aedes e Psorophora): transmissores de doenças e responsável pela diminuição da produção de ovos ou até pela morte das aves. BOTULISMO NAS AVES Nas aves é conhecido como doença do pescoço mole. O que chama atenção é exatamente o fato das aves afetadas não conseguirem erguer o pescoço, tem-se a impressão que está morta, tamanha é a paralisia do pescoço. A enfermidade é 15 caracterizada pela paralisia flácida, formando o tripé: pescoço mole, asas caídas e queda de penas como mostra a Figura 7. Figura 7 - Anas platyrhynchos apresentando botulismo Trata-se de uma intoxicação alimentar, geralmente de curso agudo, causada pela ingestão da exotoxina produzida pelo Clostridium botulinum, uma bactéria anaeróbica, formadora de esporos, que vive em matéria orgânica em decomposição, seja de origem animal ou vegetal. São várias as toxinas produzidas pelo Clostridium botulinum, mas as aves são sensíveis ao do tipo C, podendo ter problemas com as do tipo A e E. A transmissão da doença no plantel se da pela ingestão de carcaças contaminadas, água contaminada, e até mesmo cama de ave. A toxina ingerida atua na placa motora dos músculos impedindo a ação da acetilcolina não permitindo a contração muscular. O resultado é uma paralisia flácida, principalmente dos músculos que sustentam o pescoço e asas, além do músculo retrator das penas. A morte deve a parada cardiorrespiratória. É comum ocorrerem casos de aves intoxicadas por comerem larvas que se alimentaram de carcaças contaminadas. As larvas de moscas ingerem os tecidos podres onde está concentrada a maior parte das toxinas. Clinicamente as aves apresentam paralisia flácida das pernas, asas, pescoço, pálpebras e queda das penas. Macroscopicamente o botulismo não produz nenhuma lesão digna de nota. É uma doença sem lesões. O diagnóstico requer demonstração da toxina nas aves doentes. O teste de inoculação em camundongos tem sido o mais eficiente. O material colhido deve ser o conteúdo gastrointestinal, fragmento do fígado e lavado ingluvial. 16 Controle: o controle deve ser feito com rigorosa limpeza e desinfecção. As aves não podem ter contato com nenhum tipo de matéria orgânica em decomposição, pode usar vacina antitoxina tipo C. Têm ocorrido grandes perdas econômicas devido à mortalidade das aves com botulismo. A falta de um bom manejo sanitário tem promovido à enfermidade que mata milhares de aves em um surto, pelo fato delas estarem aglomeradas e tendo acesso ao mesmo conteúdo de matéria orgânica em decomposição, local onde o Clostridium botulinum prolifera e produz a toxina mais potente do universo. Esta toxina pode ser desnaturada a oitenta graus de calor. Este é seu ponto vulnerável. Não há restrição entre as aves domésticas, porem as aves de rapina são resistentes. Os urubus são os mais resistentes e contam com o auxilio da camada de ozônio como elemento esterilizador, capaz de conferir a estas aves uma proteção todas as vezes que fazem seus voos a grandes alturas. ALTERAÇÕES INFLAMATORIAS Dermatite É a inflamação da pele. Pode ser provocada por agentes físicos, químicos e biológicos, incluindo irritantes externos, queimaduras, alérgenos, traumatismos e infecções bacterianas, virais, micóticas e parasitárias. Pode estar associada a uma doença interna ou sistema intercorrente e hereditária. Clinicamente, a coceira é um sinal de alerta. A intensidade desta pode piorar ou complicar mais ainda a lesão da pele. “A coceira é o prelúdio da dor”. Macroscopicamente, na dermatite vesicular as lesões progridem a partir de um edema, depois hiperemia, em seguida pápula, vesícula, pústula, formação de crostas e escamas. Nas aves não há exsudato purulento liquefeito como nos mamíferos. O heterofilo não tem enzimas proteolíticas capazes de liquefazer o pus. Portanto, nessa érea pode haver a presença de massa caseosa ressecada. Microscopicamente, na dermatite sempre há intenso infiltrado leucocitário que se acumula no tecido conjuntivo da derme. Dermatite Gangrenosa Enfermidade aguda septicêmica caracterizada por necrose seguida de gangrena, edema e celulite dos tecidos vizinhos. É causada por Clostridium septicum, Clostridium perfringens tipo A e Staphylococcus aureus, isoladamente ou associados. Essa doença 17 pode ocorrer ainda como sequela de outras enfermidades como hepatite por inclusão e bursite infecciosa. Clinicamente as aves acometidas aprestam-se letárgicas, prostradas e morrem entre 8 e 24 horas. A mortalidade varia entre 10 e 60%. Macroscopicamente, ocorre perda de penas e deslocamento epidérmico, necrose, gangrena; acumulo de exsudato sero-sanguinolento e presença de bolhas na região subcutânea. A coloração da pele se torna negra, purpura ou verde escura. O fígado e o baço aumentados de volume e os rins hiperêmicos. Microscopicamente, as áreas de necrose e gangrena da pele apresentam grande quantidade de bactérias cocoides ou bastonetes gram positivos. Edema, enfisema e hemorragia também estão presentes no musculo esquelético. Dermatite Traumática Inflamação da pele por traumatismos de diversas naturezas. Geralmente naregião da articulação coxofemoral, na coxa, cristas e barbelas. As principais causas são os arranhões, resultando na invasão de germes secundários. A redução do espaço populacional e do galpão contribui para maior contato entre as aves e comedouros, o que favorece todo o processo. Os músculos da perna são frequentemente afetados, resultando na condenação da carcaça. Macroscopicamente, as lesões na pele são representadas por cristas secas. A pele afetada apresenta-se espessa, com a coloração amarelo acastanhada. Microscopicamente há necrose da epiderme e inflamação grave dos tecidos vizinhos, podendo-se observar a presença de esporos e hifas na camada de queratina. O diagnóstico pode ser feito pela observação das lesões macro e microscópica Inflamação Do Folículo Das Penas Foliculite é a inflamação do folículo da pena caracterizado por aumento de volume e espessamento da derme. É causada pelo Staphylococcus aureus, que compromete vastas regiões da pele. Mesmo que, na maioria dos casos, não atinja somente os folículos das penas e provoque dermatites, essa lesão não altera a qualidade da carne, limitando-se apenas à pele e seus anexos. A predominância da doença é baixa em aves criadas em piso. Macroscopicamente, há aumento de volume dos folículos e presença de exsudato caseoso de coloração acinzentada. Microscopicamente, há necrose caseosa e infiltrado heterofilo. O diagnóstico se baseia nas lesões macro e microscópicas. 18 Insuficiência De Biotina A deficiência de biotina provoca lesões do tipo: crostas nos cantos do bico e nas pálpebras, além de fissuras na pele da superfície plantar das patas. Microscopicamente, ocorre acantose (espessamento da camada escamosa da pele) e hiperqueratose (espessamento da camada de ceratina), com hipercelularidade da camada germinativa da pele, aumento aparente na vascularização da derme, erosão, ulceração e reação inflamatória (é comum haver dermatite secundária na maioria dos casos). Paraqueratose A paraqueratose é um espessamento da camada de ceratina da pele, formando placas irregulares, diferentes da hiperqueratose pela aparência microscópica e pela presença de núcleos persistentes na camada de queratina. Tem sido observada em avestruzes, especialmente no canto da boca, nas pálpebras e nos pés. Celulite Nas Aves Processo inflamatório supurado difuso e agudo localizado no tecido subcutâneo. Trata-se de uma alteração que pode afetar a pele de qualquer parte do corpo, sendo mais comum na cabeça e abdome. É comum estar associada à infecção secundária por Staphylococcus aureus, acometendo em especial as reprodutoras pesadas. Nos casos mais complicados as aves apresentam um quadro de septicemia. Macroscopicamente, ocorre espessamento da pele nas áreas atingidas. Ao corte, deixa fluir um exsudato seroso, que algumas vezes pode estar associado com exsudato sanguinolento. Um exemplo prático desta alteração verifica na síndrome da cabeça inchada, uma enfermidade comum em poedeiras. Dependendo da localização das lesões, condenam-se durante inspeção as carcaças quando afeta a pele das coxas e o peito das aves. Motivo de preocupação para a indústria avícola em todo o mundo. Na etiologia desta infecção, incriminam-se vários agentes microbiológicos: Staphylococcus aureus, Streptococcus dysgalactiae, Protheus spp, Aeromonas spp, Citobacter freundii, Clostridium colinum, Clostridium septicum e C. perfringens. Vale a pena destacar que a E. coli está presente na maioria dos casos. Sua presença no processo infeccioso confere a lesão uma maior intensidade e transtorno para ave. O diagnóstico se baseia nos achados macro e microscópicos das lesões de pele. Síndrome Da Cabeça Inchada 19 Enfermidade infecciosa que afeta a cabeça das aves: matrizes e frango de corte, promovendo edema subcutâneo em toda cabeça. Nas matrizes poedeiras observa-se pneumonia e alterações neurológicas e queda na produção de ovos. Em frango de corte observa-se secreção nasal e depressão. A invasão de E coli agrava a infeção. As perdas econômicas variam entre 1 a 3%. A etiologia desta enfermidade inicialmente aponta para problemas ambientais como pouca ventilação, excesso de calor e poeiras. Já foi isolado coronavírus (vírus da doença de Newcastle), depois pneumovírus aviário (responsável pela Rinotraquite infeciosa dos perus), paramixovírus aviário (vírus da gripe aviaria), vírus da bronquite infeciosa, algumas bactérias como: Haemophilus paragallinarum (agente da coriza infecciosa) e Escherichia coli (responsável pela colibacilose). A transmissão se da de forma horizontal por via aérea, quando aves sadias entram em contato com aves doentes. Clinicamente, observa-se edema e hiperemia ativa dos tecidos Peri orbital, que se estende pela cabeça e desce até as barbelas. Há intenso prurido facial e espirros constantes. O curso da doença varia de cinco a dez dias. Macroscopicamente, as aves apresentam com a cabeça inchada, como mostra a Figura 8, resultado de um edema inflamatório na derme e tecido subcutâneo. O exsudato pode ser seroso ou serohemorrágico. Figura 8 – Ave apresentando síndrome da cabeça inchada. Gentileza: Marcelo Coelho. Microscopicamente, ocorre uma dermatite caracterizada pela invasão de linfócitos e heterofilos. O controle vai depender das condições observadas no ambiente: promover higienização, climatização, vacinação e nutrição adequada. Bouba Aviária (Viruela) 20 Enfermidade hiperplásica da pele, caracterizada pelo aparecimento de caroços, como mostra a Figura 9, que são lesões cutâneas nodulares nas áreas desprovidas de penas: cristas, barbelas, pálpebras, orelhas, narinas e pés. É conhecida como viruela e doença do caroço. Figura 9 – Pintainho apresentando bouba aviária Há duas formas desta enfermidade: forma cutânea e diftérica A forma cutânea é a mais comum e que chama mais atenção pelas lesões nodulares nas partes sem penas. A forma diftérica atinge a laringe provocando uma laringite fibrinonecrótica aguda que de expande pela cavidade bucal e esôfago. A doença afeta galinhas, perus, pombo, canário, codorna e papagaio. Sua etiologia é viral. Trata-se de um poxvirus avícola do gênero Avipoxvirus, da família Poxviridae. O poxvirus é um DNA altamente resistente, sobrevive por muito tempo nas crostas ressecadas. Não é uma doença de interesse na saúde pública. Não afeta mamíferos. Sua transmissão ocorre por vetores como moscas que podem levar o vírus para os olhos e feridas preexistes na pele. Mosquitos hematófagos permanecem infectados por mais de uma semana e pode neste período transferir o vírus. O contato de aves sadias com aves doentes. Piolhos (Dermanys gallinae) têm sido incriminados na transmissão do vírus. A descamação da pele e das penas dissemina o vírus para o ambiente e por aerossol as aves se infectam via respiratória. Inseminação artificial também pode ser um meio de transmissão. Do ponto de vista epidemiológico sua grande importância é que as aves que contraem a enfermidade e não morrem se tornam portadoras. O período de incubação varia entre quatro a dez dias. 21 Os sinais clínicos começam com ligeira depressão, redução do apetite e a presença de nódulos milimétricos na pele glabra. Quando na forma diftérica, as aves apresentam espirros, dispneia, descarga nasal e inapetência. Aves jovens são as mais sensíveis e apresentam maior índice de mortalidade, podendo chegar a 100%. Macroscopicamente, as lesões são nódulos hiperplásicos, que se iniciam de coloração esbranquiçada tornando amarelada que evoluem para formação de crostas espessas de coloração cinzenta. Microscopicamente,ocorre espessamento da camada escamosa da pele, caracterizando uma hiperplasia destas células. A presença de corpúsculos de Bollinger é observada nas células epiteliais. O diagnóstico se baseia nas alterações macroscópicas. Não havendo necessidade de exame microscópico. As referidas lesões macroscópicas são clássicas da doença. O controle é feito por meio de vacinação. Existe uma vacina disponível no mercado. A vacinação é feita no incubatório no primeiro dia de vida ou aos quinze dias. NEOPLASIAS Marek cutânea e queratoacantoma Marek Cutânea Uma das formas que compõe o quadro da doença de Marek como mostra a Figura 10. Trata-se de uma enfermidade viral que acomete os linfócitos no folículo da pena. É um linfoma altamente infeccioso alojado na polpa das penas. Figura 10 – Pele de ave manifestando Marek Cutânea Acomete todas as idades das aves e provoca grandes perdas econômicas especialmente quando ocorre em aves jovens. Tem transmissão vertical e horizontal. Do 22 ponto de vista epidemiológico a transmissão horizontal é muito importante pela disseminação das penas no ambiente, em especial durante o transporte de aves doentes. Macroscopicamente, observa-se nos folículos da pena a presença de nódulos milimétricos de coloração branca, que podem estar cobertos por crostas ou ulcerados. Geralmente as penas inseridas nestes nódulos se desprendem deixando os nódulos mais evidentes. Microscopicamente, ocorre multiplicação de linfócitos na região perifolicular da pena, com agregados de células proliferantes como plasmócitos e histiócitos. Os macrófagos (células reticulares) apresentam pleomorfismo nuclear e basofilia com vacuolização do citoplasma caracterizando as denominadas “células de Marek”. Os linfócitos apresentam pleomorfismo e atipia celular. O diagnostico se baseia no exame macro e microscópicos dos nódulos nos folículos da pena. O controle se faz com vacinação realizada no primeiro dia de vida da ave. Queratoacantoma Trata-se de neoplasia benigna que afeta as células escamosas da pele das aves. É semelhante ao carcinoma que ocorre nas células escamosas dos mamíferos. A origem desta neoplasia parece ser multicêntrica semelhante a que ocorre na pele de humanos. Nos frangos pode ter cura espontânea no período médio de quatorze dias. Nestes a neoplasia também conhecida como carcinoma dérmico das células escamosas. Macroscopicamente, há presença de nódulos ulcerados e repletos de queratina localizados próximos ao folicular das penas. Microscopicamente, ocorre proliferação da camada escamosa da pele, com displasia clássica e a presença de cistos epiteliais. As células epiteliais dos folículos são acompanhadas de inflamação e fibroplasia. O uso repetido por varias vezes de substancias cancerígenas (metilcolantreno) tem sido incriminado como causa da neoplasia. O diagnostico se baseia no exame macro e microscópico das lesões dérmicas. Outras neoplasias de ocorrência na pele das aves são: fibroma, fibrossarcoma, mixoma, mixossarcoma, sarcoma-histiocítico, e hemangioma. EM OUTRAS PALAVRAS... 23 A pele é o maior órgão do corpo. Nas aves, a pele apresenta um aspecto especial com a inserção das penas. Estas conferem maior proteção, termorregulação, e promove leve durante o voo. Há momentos em que as aves merecem maior atenção: nos primeiros dias de vida e no final próximo ao abate. Estes cuidados se referem à temperatura do ambiente. No inicio há que aquecer o ambiente e no final resfria-lo. As dermatites merecem nossa atenção pelo desconforto e predisposição a outras enfermidades. O estresse representa o maior desconforto que se pode submeter às aves que estão confinadas. Todos os cuidados com manejo sanitário e de alimentação se faz necessários no dia a dia. O controle dos ectoparasitas é imprescindível e se faz necessário seu controle regularmente. Algumas doenças importantes têm como vetores os ectoparasitas com os carrapatos, mosquitos e pulgas. As neoplasias são raras, com exceção da doença de Marek: uma enfermidade viral com alto grau de malignidade e transmissão. As penas de aves doentes representam importante disseminador da enfermidade no ambiente e entre as aves. CONSULTA RÁPIDA 1- Conceito de pele A pele é o maior órgão do corpo e funciona como proteção e termorregulação. 2- Conceito de dermatite Dermatite é um processo inflamatório da pele. Suas causas mais comuns são os ectoparasitas e o traumatismo. A celulite é uma inflamação purulenta da pele das aves. 3- Principal neoplasia da pele A forma cutânea da doença de Marek representa a neoplasia mais importante da pele. 4- Conceito de bouba aviaria Bouba também chamada de viruela é uma enfermidade viral caracterizada por hiperplasia da pele. Conhecida como doença do caroço. Há duas formas: cutânea e diftérica. 5- Cite um acaro da pele Knemidocoptes mutans. 24 LEITURA RECOMENDADA BENEZ, S. M. AVES: Criação-Teoria-Prática. Silvestres-ornamentais-avinhados. 4ª Ed, Tecmedd, Ribeirão Preto SP, 2014. 600p. BERCHIERI Jr, A; MACARI, M. Doença das aves. Campinas: Facta, 2000. 490p. 25 APARELHO LOCOMOTOR DAS AVES Constituído de vários sistemas: ósseo, articular, muscular e tendões. SISTEMA ÓSSEO Os ossos são órgãos que compõe o esqueleto com enumeras funções. Sevem para sustentar os músculos e suportar todo peso do corpo. Os ossos são alavancas que permitem os movimentos em sincronia com os músculos. São depósitos de minerais imprescindíveis na manutenção da homeostasia como o cálcio e o fosforo. 99% do cálcio e 80% do fosforo de todo organismo da ave concentra-se nos ossos. São 150 ossos que compõe o esqueleto da ave. A ave tem menos ossos que os mamíferos. Existem muitas adaptações e fusões destes. No ano de 1774, foram descobertos por paleontólogos que alguns ossos das aves comunicam com os sacos aéreos e por tanto são pneumatizados. São os chamados ossos pneumáticos das aves. Para a maioria das aves, o úmero, esterno, fêmur e a coluna vertebral são os principais ossos pneumáticos. As grandes aves voadoras possuem maior número destes ossos. Os pelicanos são as mais adaptadas para o voo, portanto possuem o maior numero de ossos pneumáticos. O úmero é considerado o mais importante osso pneumático, podendo ventilar uma ave através do osso fraturado. Na galinha e demais aves domésticas, o úmero se destaca, enquanto para algumas espécies de aves selvagens o fêmur é o mais pneumatizado. Na galinha os ossos pneumáticos são: vertebras cervicais (exceto atlas e áxis), primeiras cinco vertebras torácicas, primeiras duas costelas vertebrais, osso esterno, osso sinsacro e cintura pélvica ( íleo, ísquio, e púbis) e o úmero. A coluna vertebral apresenta fusão das 14 vertebras lombo-sacrais, incluindo a primeira coccígea e a última torácica, para formar o osso sinsacro. As últimas vertebras coccígeas se fundem para formar o osso pigóstilo, que serve para sustentação para as penas da cauda. O osso esterno apresenta-se bastante modificado nas aves, com uma crista ventral para inserção do músculo peitoral. Esta crista é denominada quilha. Ela representa o espelho da saúde dos ossos, seu desvio indica deficiência de minerais. 26 O esqueleto da cabeça possui 31 ossos, sendo os ossos fugais, quadrados-fugais, com nomenclatura própria para as aves. O alongamento da pré-maxila e da mandíbula forma a base do bico e o anel esclerótico (ossificação da esclera do bulbo ocular). A cintura escapular é formada pela escapula, pelo coracóide e pelas clavículas (a união ventral das clavículas forma o que popularmente denomina-se “jogo”).Os membros torácicos formam as asas que estão adaptadas para o voo, com algumas reduções e fusões de dedos (os dedos presentes nas aves são o segundo, terceiro e quarto). Nos membros pélvicos, a tíbia se funde distalmente com o tarso, formando o osso tibiotarso: o maior osso das aves, escolhido pelos pesquisadores e estudiosos do esqueleto, como o osso representativo na saúde e na desordem. Os ossos da fileira distal do tarso se fundem com o segundo, terceiro e quarto metatarsos, formando o osso tarsometatarso, de onde emerge, de sua face medial, uma proeminência óssea denominada espora. O osso pode ser encarado como órgão, estrutura ou simplesmente tecido, representado por três componentes: substancia fundamental amorfa, substancia fundamental organizada e células. A substância fundamental amorfa apresenta dois componentes: a osteína os minerais. Os minerais representam dois terços da massa óssea: carbonatos, fosfatos de cálcio, magnésio, potássio, sódio, citrato e cristais de hidroxiapatita. A permanência da maioria destes minerais no tecido ósseo, dura cerca de uma semana, o que explica a grande mobilização óssea nas aves. Isso difere dos mamíferos, o que confirma a grande sensibilidade das aves com relação à insuficiência de minerais na dieta. A substância fundamental organizada está representada pelas fibras colágenas. As células ósseas são: osteoblastos responsáveis pela produção da matriz orgânica ou simplesmente matriz osteoide. O principal substrato é a proteína, sendo o estímulo trófico indispensável para seu desenvolvimento, qualquer falha no processo de produção da matriz osteoide resulta em uma desordem osteodistróficas denominada osteoporose. O mais importante estimulo trófico é o hormônio sexual. Galinhas poedeiras podem apresentar índices elevados e subclínicos de osteoporose. Osteócitos encarregam da reabsorção óssea: osteólise osteocítica. Trata-se do mais importante modelo de reabsorção óssea, devido a riqueza de minerais nas estruturas onde se localizam estas células (osteócitos). 27 Osteoblastos são células gigantes multinucleadas que tem a função de remodelagem da superfície do osso. É também um tipo de reabsorção óssea de superfície óssea. Menos importante, pois estas células estão em uma área pobre em minerais. Osteogênese É o processo de formação de um osso. Ocorre por meio de um modelo cartilaginoso que quando invadido pelos vasos sanguíneos, permite aos condrócitos receberem maior nutrição e secretam a matriz condroide, a qual nutrirá as células osteoprogenitoras recém-chegadas ao modelo cartilaginoso. Juntamente com os vasos, produzem a matriz osteoide, dando inicio à formação do tecido ósseo com o surgimento do centro de ossificação primário, localizado na metáfise do osso longo. O centro de ossificação secundário localizado na epífise do osso longo aparece na terceira semana nas aves do sexo masculino e na quarta semana nas do sexo feminino. O crescimento ósseo se dá por dois mecanismos: crescimento intramembranoso e crescimento endocondral. O crescimento intramembranoso Tem como origem as células mesenquimais encontradas no tecido conjuntivo do periósteo e as células adventícias que acompanham os vasos sanguíneos. É observado nos ossos planos, curtos, irregulares e na diáfise dos ossos longos. É desta forma que os ossos longos crescem em espessura. Crescimento endocondral Tem sua origem nas cartilagens das epífises dos ossos longos, denominadas cartilagem de crescimento, cartilagem epifisária, disco epifisário, cartilagem de conjugação, placa epifisária ou simplesmente fise. A fise é constituída por duas zonas de células distintas: zona proliferativa e zona hipertrófica. Diferente do que ocorre nos mamíferos, as zonas proliferativas e hipertróficas são organizadas em colunas e possuem 50% a mais por colunas. As células proliferativas estão mais próximas umas das outras, sendo cerca de 60% mais numerosas, motivo pelo qual as colunas têm maior espessura. O comando que ativa o crescimento é hormonal. Ele vem por meio da irrigação procedente de três origens diferentes: artéria nutrícia, epífiso-metafisário e periosteais. 28 A artéria nutrícia penetra na região da diáfise óssea, formando um sulco denominado canal nutrício. O comando hormonal é feito por três tipos de hormônios: hormônio da tireoide (T3 e T4): promovem a maturação das células de reserva da zona proliferativa, imprescindível para o bom desempenho do crescimento. Na insuficiência deste hormônio, o crescimento é retardado. A presença de iodo na formulação do sal mineral é indispensável para dar suporte à glândula tireoide na produção do T3 e T4. Há casos de aves com atraso do crescimento por insuficiência de iodo. Hormônio de crescimento (GH): promove a multiplicação das células da zona proliferativa. Na insuficiência deste, haverá um crescimento retardado e incompleto. Hormônios sexuais: estrogênio e testosterona. Atuam promovendo a sexualidade da ave e sessando o crescimento. As principais células que participam do crescimento ósseo endocondral são: os condrócitos que quando alimentados adequadamente, crescem e secretam a matriz condroide que servira de alimento para posteriormente nutrir os osteoblastos. Os osteoblastos células jovens que irão produzir a matriz osteoide. Os osteócitos células maduras que constituem as trabeciulas ósseas mineralizadas. Farão a reabsorção óssea por meio do mecanismo de osteólise. Os osteoclastos são células multinucleares que se localizam na periferia das trabéculas ósseas e estão alojadas nas lacunas superficiais dos ossos. São células responsáveis pela reabsorção óssea de superfície denominada de osteoclasia. Serve para remodelação do osso. Em um estudo do crescimento ósseo endocondral em frango de corte, pode se observar que o desenvolvimento do osso é primordial na primeira semana, onde a fise, a metáfise e a diáfise apresentam bem estruturadas. As maiores transformações na estrutura cartilaginosa da fise ocorrem na primeira semana. Os ossos das fêmeas desenvolvem primeiro que dos machos. As três primeiras semanas de vida da ave são as mais importantes do ponto de vida do crescimento ósseo endocondral em frango de corte. A Dinâmica Óssea Os minerais dos ossos estão em constante movimento. Uma ave consegue mobilizar seus minerais no prazo de uma semana. Há constante reabsorção e deposição ósseas, comandadas pela ação do hormônio produzido na paratireoide: o paratormônio. Tudo isto ocorre em função da homeostasia: manutenção dos níveis de cálcio no 29 sangue. O cálcio precisa sempre estar saturado na corrente sanguínea. Se a ave não se nutre com níveis adequados de minerais, o seu organismo retira o cálcio dos ossos. Assim mantem o cálcio em saturação máxima no sangue. Sua diminuição na corrente sanguínea compromete processos vitais como manutenção da estabilização das membranas celulares. Sua insuficiência grave gera transtornos musculares, como tremores musculares e falta de coordenação motora. Quem comanda a retirada de cálcio dos ossos é o paratormônio produzido pela paratireoide, localizada na região cervical, próximas à tireoide e ao timo. O paratormônio na baixa do cálcio no sangue libera a fosfatase alcalina que irá atuar nas profundezas das trabéculas ósseas, local onde se encontra abundancia de minerais. Assim a reposição do cálcio ocorre com rapidez necessária. Reabsorção é a retirada de cálcio dos ossos. Há dois tipos de reabsorção: osteólise osteocítica e osteoclasia. Por outro lado a deposição de minerais nos ossos é comandada pelo hormônio chamado calcitonina. Este hormônio é produzidopela glândula denominada ultimo branquial. O hipercalcitonismo leva ao excesso de deposição de minerais nos ossos determinando uma enfermidade chamada osteopetrose. Uma enfermidade caracterizada pelo endurecimento dos ossos, como se fossem pedras. Doenças Osteodistróficas São as chamadas doenças do metabolismo ósseo, também conhecidas como doenças carências dos ossos. Deficiência de algum mineral ou mesmo de proteínas ou até mesmo de hormônios com é o caso da osteoporose. As principais doenças osteodistróficas são: Osteoporose Raquitismo Osteodistrofia fibrosa Osteopetrose Condrodisplasia tibial Osteoporose É uma doença carencial dos ossos caracterizada por osteopenia, ossos finos, trabéculas delgadas e pouca massa óssea. Sua etiologia esta ligada a pouca atividade do osteoblasto. Este fato ocorre na queda do hormônio sexual. Este é responsável pelo estimulo trófico, o que significa estimulo nutricional. 30 Os movimentos, os exercícios são estímulos para manutenção dos ossos sadios. A deficiência de proteínas na ração, e a incapacidade da ave absorver os aminoácidos essenciais são causas predisponentes da osteoporose. A osteoporose não é deficiência de cálcio. Não falta cálcio na matriz, o que falta é tecido osteoide, e quem produz este tecido são os osteoblastos. A manutenção destes em plena atividade se faz por meio de estímulos tróficos. Macroscopicamente, os osteoblastos apresentam-se com a cortical delgada e a resistência diminuída, embora todas as trabéculas ósseas estejam bem mineralizadas. Microscopicamente, os osteoblastos apresentam-se alongados, diminuídos de tamanho e numero, as trabéculas estão finas e mineralizadas. O diagnostico da osteoporose é feito por meio da observação dos aspectos macro e microscópicos e pelo exame radiológico do osso. Nele se observa menor densidade óssea e maior radio transparência. Toda vez que se faz um bom manejo, previne-se a osteoporose. Ela é mais comum nas aves adultas em franca produção, porque toda síntese exige aminoácidos. A alimentação é o principio, meio e fim do processo. Raquitismo É uma doença carencial osteodistrofica caracterizada por osteopenia, devido à deficiência de minerais, em especial cálcio e fosforo. Trata-se de uma enfermidade comum nas aves jovens, ocorrendo nos momentos de pico do crescimento, o que coincide com as três primeiras semanas de vida. Em uma pesquisa realizada com setecentos e sessenta e seis frangos de corte de ambos os sexos, observou-se que a maior frequência de raquitismo ocorreu na 3ª semana, quando as aves cresciam mais rapidamente. Cerca de onze por cento das aves examinadas, o raquitismo ocorreu por meio do estudo histológico do osso tibiotarso, embora as aves tivessem um comportamento clinicamente normal. A carência de vitamina D também provoca raquitismo, uma vez que se trata de uma vitamina indispensável para a absorção do cálcio intestinal. Na síndrome de má absorção intestinal das aves, ocorrem desordens nas vilosidades, de natureza variável, ou até mesmo sua destruição por completo, o que impede a absorção do cálcio intestinal. Trata-se também de uma importante causa de raquitismo nas aves. Macroscopicamente, observa-se desenvolvimento retardado dos ossos longos, em especial dos ossos das pernas e das costelas. Ocorre um aumento de volume das extremidades ósseas, formando na região costocondral o chamado “rosário raquítico”. 31 A fise se apresenta espessa e irregular. Os ossos são fracos e dobram como vara verde, como mostra a Figura 11 (há muita matriz e poucos minerais). Observa-se ainda aumento de volume das articulações tibiotársica metatársica. O bico torna-se mole e com consistência de borracha, podendo ser dobrado com certa facilidade. Figura 11 – Osso de animal com raquitismo. Observe que os osos dobram por deficiência de minerais. Microscopicamente, há grande quantidade de matriz osteoide não mineralizada ou parcialmente mineralizada e espessamento irregular das cartilagens da fise. As trabéculas ósseas são moles e deformadas e, na correlação clínica patológica, as aves não apresentam bom aspecto, demonstrando um crescimento lento, observando-se um enfraquecimento dos ossos das pernas. Osteodistrofia Fibrosa É uma doença carencial osteodistrofica caracterizada por osteopenia devido à reabsorção óssea promovida pelo hiperparatireoidismo secundário nutricional, raramente pelo hiperparatireoidismo primário. No hiperparatireoidismo primário, há um aumento da atividade da glândula paratireoide devido a uma neoplasia. Isso faz com que haja grande produção de paratormônio capaz de incrementar a reabsorção óssea, levando a uma osteodistrofia fibrosa generalizada. (Isso não é comum, podendo ocorrer casos isolados). O hiperparatireoidismo secundário tem origem nutricional, pela insuficiência de cálcio e fósforo, não sendo de ocorrência rotineira nas as primeiras manifestações são ovos de casca fina, seguidas de queda na postura e de baixa eclodibilidade. O osso esterno é o mais afetado, tornando-se mole, semelhante à borracha (osteomalácia), e tortuoso. Os ossos das pernas e asas tornam-se frágeis, com a resistência diminuída, sujeitos a fraturas espontâneas. As aves perdem a mobilidade das articulações das pernas e caminham com os pinguins. 32 Macroscopicamente, há intensa reabsorção óssea (osteólise osteocítica) e invasão discreta de tecido conjuntivo fibroso. A glândula paratireoide apresenta-se com maior volume no hiperparatireoidismo. No primário, devido a uma neoplasia, que pode ser benigna ou maligna, em geral hormonalmente ativa, no secundário, devido a uma hiperplasia da glândula, estimulada pela insuficiência de cálcio e fósforo, promovendo maior produção de paratormônio. Osteopetrose É uma doença metabólica óssea caracterizada por osteomegalia, (muita formação de osso) causada pela sobreposição óssea, ultrapassando os limites normais da configuração anatômica do osso. Pode ocorrer durante o restabelecimento do raquitismo e do hiperparatireoidismo (o tecido osteoide é produzido em grande escala, resultando em uma excessiva formação de osso bem mineralizado). Nos casos de hipercalcitonismo (aumento de produção do hormônio calcitonina elaborado pela glândula ultimobranquial), na intoxicação por flúor, zinco e esteroides, há uma osteopetrose que se deve á inibição de reabsorção e constante deposição ósseas. A osteopetrose pode ainda ser causada, provavelmente, pelo vírus da leucose aviária, atingindo aves de 4 a 6 semanas de idade. Os ossos mais afetados são os dos pés, comprometendo a locomoção. Macroscopicamente, a osteopetrose é caracterizada por: 1) aumento de volume do osso cortical; 2) restrição do canal medular; 3) excesso de formação óssea (osteomegalia); 4) superfície óssea irregular e áspera; 5) resistência óssea aumentada. A Figura 12 ilustra a enfermidade. Figura 12 – Membro de peru (Meleagris gallopavo) apresentando osteopetrose. 33 Microscopicamente, observa-se basofilia do tecido osteoide bem mineralizado e pouca atividade dos osteócitos, demonstrando inatividade, ou seja, ausência de osteólise osteocítica (principal processo de reabsorção óssea). Condrodistrofia Tibial Também chamada de condrodisplasia e discondroplasia tibial. Trata-se de uma alteração observada nos ossos longos das aves (tibiotarso, tarsometatarso, fêmur e úmero), caracterizada pela retenção das cartilagens da fise, devido à falta de irrigação na parte afetada da mesma. A frequência dessa alteração pode ser reduzida pela seleção genética e pela composição mineral da dieta. Existe uma correlação proporcionalentre a velocidade da taxa de crescimento e o desenvolvimento da condrodistrofia. A intoxicação por tetrametiltiuram foi relacionada entre as causas da enfermidade, bem como o manejo inadequado. Em um estudo sobre a ocorrência da condrodistrofia tibial em 656 aves de ambos os sexos, para produção de frango de corte, encontramos, durante as seis primeiras semanas de vida, 13,11% de aves do sexo masculino e 10,67% do sexo feminino acometidas pela enfermidade. O tibiotarso, objeto do estudo, a partir da quarta semana de vida das aves, mostrou uma alteração macroscópica na fise, representada pelo seq6uestro da cartilagem, de aspecto homogêneo, consistência firme e coloração quase branca, tornando a fise totalmente irregular e disforme, como mostra a Figura 13. Figura 13 – Tibiotarso de ave apresentando condrodistrofia. Microscopicamente, a condrodistrofia esta representada pela retenção da cartilagem hipertrófica da fise, falta de penetração dos túneis vasculares que levam os elementos de escavação, ausência de formação do tecido osteoide e de mineralização. Os dados da pesquisa permitiram concluir que a frequência da condrodistrofia tibial em 34 frango de corte nas seis primeiras semanas de vida é relativamente alta e compromete em maior escala os indivíduos do sexo masculino. Fraqueza Das Pernas Genericamente, esse é o termo empregado para designar uma série de problemas locomotores, em especial quando afeta os membros pélvicos. Em frangos de corte, a elevada frequência de distúrbios dessa natureza tem sido atribuída a fatores nutricionais, genéticos e ambientais. Estas deformidades ósseas têm sido descritas em aves jovens nas primeiras semanas de vida, permitindo dizer que a nutrição adequada das matrizes possa contribuir para minimizar estas alterações. A suplementação de piridoxina (vitamina B6) nos primeiros dias, reduz a ocorrência destas desordens ósseas. O crescimento rápido da ave é fator que a predispõe para o aparecimento de várias alterações nas pernas, com destaque para o osso tibiotarso. Recentes pesquisas apontam que todas as linhagens criadas no Brasil são suscetíveis a diversos problemas nas pernas, embora a frequência seja relativamente baixa, dependendo mais do manejo empregado. Macroscopicamente, a fraqueza das pernas manifesta-se por encurvamento do osso tibiotarso, podendo ser observado ao corte da extremidade proximal um sequestro da cartilagem de crescimento, o que denominamos condrodisplasia (condrodistrofia). Outras vezes o osso esta mole no raquitismo, poroso na osteoporose, e até o bico apresenta-se amolecido na osteodistrofia fibrosa. Microscopicamente é a forma mais viável de se identificar todas estas alterações. Onde se observa modificações nas cartilagens, no tecido osteoide, mineralização deficiente e intensificação da reabsorção óssea. Perna Torta Trata-se de uma deformidade angular do osso, caracterizada por um desvio lateral ou medial de uma ou das duas pernas. O tibiotarso é o osso mais envolvido, podendo ser afetados o fêmur e o metatarso. A torção do tibiotarso determina a pressão direta do tendão de Aquiles sobre os côndilos da articulação intertarsal, resultando na deformação da mesma e, consequentemente, no deslizamento parcial ou total do tendão de seus côndilos. A etiologia pode estar relacionada com fatores nutricionais. Acredita-se que matrizes alimentadas adequadamente e recebendo suplementação vitamínica na agua 35 ingerida durante os períodos de baixo consumo de ração, provocado pelo calor, podem produzir pintinhos mais saudáveis. A suplementação de vitamina B6 na dieta de pintinhos reduz a frequência de pernas torcidas e dedos curvos. A etiologia também pode estar relacionada ao manejo da iluminação. Aves submetidas à luz intermitente (uma hora de luz e três no escuro) mostraram maior atividade por hora durante o período de luz do que aquelas que receberam iluminação contínua por 24 horas. Essa maior atividade das aves durante o período de luz seria responsável por melhor estruturação dos ossos e, consequentemente, por menor ocorrência de pernas torcidas. A presença de micotoxinas (Fusariose e Aspergilose) e elevado teor de tanino do sorgo nas rações constituem fatores importantes como agentes predisponentes na etiologia das alterações angulares das pernas. Perose É o termo empregado para descrever aves com pernas encurvadas e engrossadas. As articulações intertarsais estão em tamanho maior, com desenvolvimento de variados graus de deformidades angulares, frequentemente associados ao deslizamento do tendão do musculo gastrocnêmico (tendão de Aquiles), devido ao nivelamento dos côndilos. Em aves que apresentam perose, a perna desvia-se lateralmente, dificultando a locomoção e, consequentemente, o acesso ao alimento e à água. A perose geralmente ocorre em aves mais desenvolvidas e com melhor conformação. Matrizes submetidas a dietas deficientes em manganês podem dar origem a pintinhos que apresentam pernas curtas e engrossadas, encurvamento da asa e da coluna vertebral e ataxia com a cabeça voltada para trás. A perose esta intimamente ligada à velocidade do crescimento e a fatores ambientais e nutricionais. Rações deficientes em manganês, colina, niacina, ácido fólico, piridoxina e zinco podem induzir o aparecimento dessas tão pronunciada alteração. ALTERAÇÕES POST- MORTEM Os ossos são recobertos por tecidos moles: cartilagens, tendões, músculos e tecido conjuntivo que entram em autólise e putrefação e desaparecem. Porém, os ossos, por serem mineralizados, tornam-se objeto de preservação, servindo para contar a história das diferentes espécies do planeta. 36 ALTERAÇÕES DO DESENVOLVIMENTO São alterações congênitas aquelas que aparecem durante a incubação do ovo. Braquidactilia Aves que apresentam dedos curtos Sindactilia Fusão dos dedos Polidactilia Dedos supranumerários Perocornia Encurtamento da coluna por falta de uma ou mais vértebras Amelia Ausência de formação de membros Polimelia Presença de membros supranumerários Micromelia Redução do tamanho dos ossos Nanossomia Hipoplasia generalizada do esqueleto Gigantismo Crescimento descontrolado das cartilagens epifisárias Bifurcação da crista do osso esterno ALTERAÇÕES DEGENERATIVAS Osteose e osteocondrose Osteose A todo processo degenerativo do osso denominamos osteose: partindo de uma simples degeneração das células do tecido ósseo até necrose. O osso é muito resistente. As células ósseas estão protegidas pelos minerais depositados na matriz orgânica, mas nas fraturas é comum observar extensas áreas de necrose óssea, que também podem acompanhar os processos inflamatórios e infecciosos. As fraturas de membros, quando imobilizados adequadamente, apresentam grande capacidade de recuperação, podendo uma ave, em condições normais, restabelecer-se em apenas 10 dias. 37 Macroscopicamente, o osso necrótico adquire um aspecto macerado, com perda da arquitetura, brilho e resistência. Microscopicamente, ocorre intensa reabsorção óssea e acidófila das células, além de picnose, cariorrexe e cariólise do núcleo. Osteocondrose Consiste em necrose fortemente acidófila, proliferação de tecido conjuntivo fibroso e fendas na cartilagem circunvizinha ao centro de ossificação secundário epifisário. Nas aves, a osteocondrose tem se manifestado com maior frequência no osso tibiotarso. Esses tipos de lesões também já foram descritos na extremidade proximal do fêmur de frangos, sendo consideradas similares às da osteocondrose dos mamíferos. ALTERAÇÕES PIGMENTARESMelanose Presença de manchas pardas ou pretas, que coram os tecidos. No caso específico dos ossos das aves, pode ocorrer melanose em diversos ossos, destacando os membros, onde o periósteo apresenta-se corado com o pigmento melânico. Osteohemocromatose Coloração parda dos ossos por meio de pigmentos derivados da hemoglobina. Constitui-se em um achado de abatedor. ALTERAÇÕES CIRCULATÓRIAS Hiperemia ativa e passiva Observadas somente no periósteo. Hemorragias Importantes pelo fato de os ossos serem muito irrigados. Durante as fraturas, as aves podem perder muito sangue (cerca de 10% de todo sangue que sai do coração vão para os ossos). As hemorragias por diérese são: 1. Rexe (ocorre nos traumatismos: fraturas) 2. Diabrose (ocorre nos casos de neoplasias ósseas: osteossarcoma, leucose mielóide e outras) ALTERAÇÕES INFLAMATÓRIAS Osteítes 38 A inflamação do tecido ósseo é denominada osteíte. Quando atinge a medula óssea, osteomielite; quando atinge o periósteo, periosteíte. As osteítes são provocadas por vírus, bactérias e outros microrganismos. O vírus da leucose pode provocar osteopetrose nas aves, nas quais, concomitantemente, observam-se osteomielite primaria e ate mesmo secundaria (invasão de bactérias). Nos casos de artrite viral, podem ocorrer complicações ósseas instalando-se osteítes ou até mesmo osteomielite e periosteíte. Toda vez que uma ave apresentar uma inflamação óssea, haverá uma degeneração de suas células (osteoblastos e osteócitos), pois elas são nobres e, portanto, não inflamam, mas degeneram. Osteítes crônicas tipo granulomatosa (que formam nodulações) podem se instalar em algumas aves devido ao contato com o fungo Aspergillus spp. A tuberculose óssea apresenta-se no tecido ósseo de forma semelhante aos outros tecidos: um processo inflamatório crônico, nodular e especifico cujas células reagentes pertencem ao sistema monocítico fagocitário. A principal via de acesso é a hematógena; por essa razão, a enfermidade se aloja inicialmente na medula óssea, instalando uma osteomielite granulomatosa. Os ossos mais acometidos são os esponjosos, principalmente as vertebras. Macroscopicamente, apresentam nodulações, rarefação óssea e necrose. Microscopicamente, apresentam necrose caseosa com presença de células gigantes tipo Langhans e intensa reação inflamatória (linfócitos, plasmócitos e histiócitos). A ocorrência de tuberculose nas aves é rara, principalmente na criação moderna. Todavia, aves caipiras apresentam grande potencial para enfermidade, pois normalmente são subalimentadas, e a queda de resistência das mesmas é fator primordial para promover o desequilíbrio entre a força do germe (Mycobacterium tuberculosis variedade avium, bovis e hominis) e a resistência natural ou adquirida da ave. A tuberculose não respeita órgãos nem estruturas. Ao contrário da espécie humana, na qual ela incide principalmente no pulmão; nas aves, ela pode ocorrer até nos folículos das penas ou simplesmente nos ossos. ALTERAÇÕES NEOPLÁSICAS 39 As neoplasias tradicionais do tecido ósseo – como osteoma, condroma, osteossarcoma e condrossarcoma – são raras. Porém, aquelas causadas por vírus podem ser comuns, como na leucose mielóide, leucose linfoide e enfermidade de Marek. AS ARTICULAÇÕES As articulações representam o encontro de duas estruturas ósseas, permitindo o perfeito movimento do esqueleto. De acordo com sua constituição orgânica e a que se destinam, as articulações podem ser classificadas em: 1. Articulações fibrosas (unindo os ossos do crânio) 2. Articulações cartilaginosas (unindo os ossos longos) 3. Articulações sinoviais (possuem cavidade articular, contendo o líquido sinovial) As aves desidratadas apresentam suas articulações sinoviais com certa redução do conteúdo líquido sinovial. Os casos em que há aumento de volume do líquido sinovial sugerem artroses (alterações degenerativas) e artrites (alterações inflamatórias). ALTERAÇÕES POST-MORTEM A embebição sanguínea, ou simplesmente embebição hemoglobínica, ocorre geralmente depois de 12 horas post-mortem e cora o líquido sinovial de vermelho ou pardo. ALTERAÇÕES DO DESENVOLVIMENTO Durante o desenvolvimento, podem ocorrer alterações ósseas como artrogripose e contratura congênita de membros. Artrogripose Contratura dos membros torácicos e pélvicos, bem como das vértebras cervicais, associada a uma hipotrofia muscular. Nas aves, a maior ocorrência é observada nas vértebras cervicais. Contratura congênita de membros Fixação da articulação de um determinado membro em posição de flexão ou distensão. Observa-se com relativa frequência em pintos de um dia de vida. ALTERAÇÕES ADQUIRIDAS As principais alterações adquiridas são: luxação e anquilose. 40 Luxação Torção entre duas extremidades ósseas devido a movimentos inadequados. Isso resulta no rompimento de cápsulas e ligamentos, podendo comprometer músculos e pele. As aves estão sujeitas a certos movimentos repentinos, quando algum barulho se dá nas proximidades do galpão. Isso deve ser evitado exatamente para prevenir contusões e demais transtornos estressantes. A luxação mais comum observada em aves é aquela que ocorre na bandeja de incubação, na qual o pintinho torce o membro pélvico e o deforma a ponto de se locomover com dificuldade, atrapalhando sua aproximação ao comedouro e bebedouro, o que torna a ave inviável para a criação. Anquilose Fixação de uma articulação. As articulações perdem seus movimentos, o que representa sua maior função. As fraturas, artroses e artrites predispõem à ancilose. ALTERAÇÕES DEGENERATIVAS Artroses Processo degenerativo da articulação caracterizado por degeneração e necrose das cartilagens e das cápsulas articulares. A artrose não tem sido descrita com frequência nas aves, mas nem por isso ela não é importante, já que está presente em todos os casos de artrite, o que é comum. ALTERAÇÕES CIRCULATÓRIAS Como alterações circulatórias, podemos observar hiperemia ativa, hemorragia. Hiperemia ativa Prelúdio da inflamação aguda (vermelhidão no local). A hiperemia passiva é o acumulo de sangue venoso devido geralmente a um bloqueio local (obstrução, compressão e outros). A principal causa de hiperemia passiva é insuficiência cardíaca. Hemorragia Possui duas causas: diérese e diapedese. A hemorragia por diérese pode ser por rexe (traumatismo, muito comum durante a pega das aves) e por diabrose (nos casos de neoplasias e ulcerações). As hemorragias por diapedese são do tipo petequial e sufusão (intersticial, à prova d’água) e ocorrem nas toxemias, septicemias, viremias e deficiência das vitaminas K e E. 41 Deficiência De Vitamina K Por ser a vitamina K um fator de coagulação do sangue, sua deficiência causa hemorragias espontâneas por injurias banais. Sua deficiência aumenta o tempo de coagulação do sangue, seguido dos níveis de protrombina e hemorragia. Elas podem ocorrer nas regiões subcutânea, intramuscular, intrapeitoral e podem ser disseminadas pelas articulações. Tratamentos prolongados com sulfas (sulfaquinoxalina) resultam na deficiência de vitamina k. Aves alimentadas com grãos contaminados com pesticidas com derivados dicumarínicos, estão sujeitas a quadro de hemorragias espontâneas. A Deficiência De Vitamina E A deficiência de vitamina E resulta pelo menos em três condições patológicas: diátese exsudativas, encefalomalacia e distrofia muscular. Diátese Exsudativas Em Aves Trata-se de uma enfermidade nutricional caracterizada pelo aparecimento de edema subcutâneo espalhado pelo corpo
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