Prévia do material em texto
Educação Infantil e famílias: uma parceria fundamental Apresentação A busca pelo aprofundamento do conhecimento requer um exercício dialético, ou seja, reflexão- ação-reflexão. Considera-se que é pela problematização da realidade e pelo diálogo que o ser humano vai, dia após dia, tornando-se singular. E ser um educador requer um espírito investigativo e criativo. Refletir sobre os fatores relacionados à educação e à relação entre família e escola é elemento indispensável no processo educativo. A criança, ao ser inserida no espaço escolar, passa a conviver em um ambiente que dará continuidade à educação iniciada no lar. Porém, a família não pode ausentar-se desse processo, tendo em vista sua significativa importância no desenvolvimento da criança. A relação de colaboração entre essas duas instâncias atua como potencializadora do trabalho realizado em ambos os contextos. Nesta Unidade de Aprendizagem, você estudará sobre as responsabilidades da família e da escola na educação da criança de 0 a 5 anos de idade. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Definir quais as responsabilidades da família e da escola na educação das crianças.• Reconhecer a importância de uma parceria entre escolas e famílias para uma educação infantil de qualidade. • Apontar ações que possam ser realizadas para a efetivação da parceria entre escolas de educação infantil e famílias. • Desafio A colaboração mútua que deve existir entre escola e família é um elemento indispensável quando se busca promover o desenvolvimento integral da criança. Para que isso ocorra, os objetivos e as metas de ambas devem estar alinhados, ou seja, as ações de uma instância devem favorecer o trabalho de outra. Imagine que você é professor no Centro Municipal de Educação Infantil Girassol e conduzirá a reunião bimestral das três turmas do grupo II (crianças com 3 anos de idade), no mês de abril, na própria instituição. Essa é a primeira reunião anual da instituição e tem como objetivo apresentar o trabalho pedagógico desenvolvido com as crianças, os informes gerais da escola e o calendário escolar. A escola espera a presença de 45 pais. 1- Cite algumas informações que o Centro Municipal de Educação Infantil Girassol pode compartilhar com os pais durante a reunião, além do trabalho pedagógico, dos informes gerais da escola e do calendário escolar. 2- Esse é um excelente momento para trabalhar a relação entre família e escola. De que forma você faria isso? O vídeo 360o abaixo apresenta o cotidiano de uma escola de Educação Infantil, a rotina, a forma de interação e acolhimento das professoras e demais profissionais. Ao planejar um encontro pedagógico ou reunião com as famílias, você irá apresentar seu trabalho e explicar sobre o andamento da rotina. Esse vídeo 360o poderá te ajudar a pensar de que forma você poderia contextualizar sua prática pedagógica de maneira dinâmica e reflexiva. Aproveite! Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://www.imeplayer.com/embed/363637827 Infográfico Em uma experiência educacional verdadeiramente compartilhada, as escolhas e decisões precisam ser feitas com o maior consenso possível e com um profundo respeito pela pluralidade de ideias e perspectivas. Ser parceiro da instituição educacional significa acompanhar, compartilhar, questionar e auxiliar a instituição educacional no efetivo desenvolvimento da criança. Tendo ciência disso, acompanhe, neste Infográfico, algumas ações necessárias para fortalecer essa parceria. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Conteúdo do Livro Os principais espaços nos quais as crianças de 0 a 5 anos convivem são, geralmente, a instituição de educação infantil e a família. Esta é o primeiro espaço de construção de conhecimento, mas a instituição educacional apresenta também um rico contexto socializador, espaço onde a criança ascende a novos saberes, relações e emoções. Embora os contextos (famílias e instituição de educação infantil) sejam distintos, a criança é a mesma, e é necessário conduzir ações para favorecer o seu desenvolvimento integral. Por isso, há a necessidade de uma relação de troca de experiência, ideias e critérios educativos. Leia o capítulo Educação infantil e famílias: uma parceria fundamental, da obra A educação infantil e a garantia dos direitos fundamentais da infância, base teórica desta Unidade de Aprendizagem, e compreenda mais sobre a importância de uma parceria eficaz entre a família e a escola para o processo de ensino-aprendizagem. Boa leitura. A EDUCAÇÃO INFANTIL E A GARANTIA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS DA INFÂNCIA Ana Keli Moletta Educação infantil e famílias: uma parceria fundamental Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Definir as responsabilidades da família e da escola para com a edu- cação das crianças. Reconhecer a importância de uma parceria entre escolas e famílias para uma educação infantil de qualidade. Apontar ações que possam ser realizadas para a efetivação da parceria entre escolas de educação infantil e famílias. Introdução A educação das crianças menores de cinco anos envolve duas instituições de extrema importância: a família e a escola. O elo entre elas é fundamental para o desenvolvimento físico, social, afetivo e intelectual das crianças. Contudo, essa rede de interação na qual a criança está inserida leva ao questionamento sobre o que é comum e o que é específico no trabalho da família e no da escola. Embora ambas guardem particularidades, elas comungam de um mesmo objetivo: o desenvolvimento integral da criança. Neste capítulo, você vai aprender a respeito da parceria entre família e escola. Como você vai ver, esse é um assunto muito interessante re- lacionado ao cotidiano das instituições que se dedicam ao cuidado e à educação das crianças menores de cinco anos. Educação da criança: de quem é a responsabilidade? A defi nição e o reconhecimento da educação infantil como direito da criança, opção da família e dever do Estado têm seu marco na Constituição Federal de 1988. Além de estar contida nesse dispositivo legal, tal obrigatoriedade de atendimento é também estabelecida no Estatuto da Criança e do Adoles- cente (BRASIL, 1990) e na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (BRASIL, 1996). Esses documentos afirmam que a educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem por finalidade o desenvolvimento integral da criança de até cinco anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade. De acordo com o dicionário Aurélio, o termo “complementar” pode ser compreendido enquanto complemento, como algo que completa, que se junta. Ou seja, ele dá a ideia de algo que pode ser acrescido, alimentado, ampliado (FERREIRA, 2010). As três instâncias: criança, família e escola O que signifi ca cada uma dessas instâncias? A seguir, você pode conhecer melhor cada uma delas a partir do que estabelecem a Constituição Federal (BRASIL, 1988), o Estatuto da Criança e do Adolescente (BRASIL, 1990), a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (BRASIL, 1996), as Dire- trizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (BRASIL, 2009) e a Base Nacional Comum Curricular para a Educação Infantil (BRASIL, 2017). Criança É um sujeito histórico e social que faz parte de uma organização familiar, inserida em determinada sociedade, cultura e momento histórico. O conceito de criança tem passado, ao longo dos anos, por modifi cações, fato perceptível na literatura da área, bem como nos documentos elaborados pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC). Ao longo deste texto, você vai ver alguns documentos oficiais que trazem a concepção de criança em diferentes momentos históricos. Considere, pri- meiro, o Parecer 022/1998, que trata das Diretrizes CurricularesNacionais para a Educação Infantil (DCNEI) (BRASIL, 1998a). De acordo com esse Educação infantil e famílias: uma parceria fundamental2 documento, crianças são seres humanos portadores de todas as melhores potencialidades da espécie: — inteligentes, curiosas, animadas, brincalhonas, em busca de relacionamentos gratificantes, pois descobertas, entendimento, afeto, amor, brincadeira, bom humor e segurança trazem bem-estar e felicidade; — tagarelas, desvendando todos os sentidos e significados das múltiplas linguagens de comunicação, por onde a vida se explica; — inquietas, pois tudo deve ser descoberto e compreendido, num mundo que é sempre novo a cada manhã; — encantadas, fascinadas, solidárias e cooperativas desde que o contexto a seu redor e, principalmente, nós adultos/educadores, saibamos responder, provocar e apoiar o encantamento, a fascinação, que levam ao conhecimento, à generosidade e à participação (BRASIL, 1998a, documento on-line). Nessa mesma vertente, o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI) destaca que a criança, como todo ser humano, é um sujeito social e histórico. Ela faz parte de uma organização familiar que está inserida em uma sociedade, com determinada cultura, em determinado momento histórico. Veja: [...] As crianças possuem uma natureza singular, que as caracteriza como seres que sentem e pensam o mundo de um jeito muito próprio. Nas interações que estabelecem desde cedo com as pessoas que lhe são próximas e com o meio que as circunda, as crianças revelam seu esforço para compreender o mundo em que vivem, as relações contraditórias que presenciam e, por meio das brincadeiras, explicitam as condições de vida a que estão submetidas e seus anseios e desejos (BRASIL, 1998b, p. 21). Como você pode notar, a forma de se compreender a criança vai se alte- rando e se complementando a cada nova reflexão. De acordo com o Parecer 020/2009, que trata da revisão das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, a criança é um: [...] sujeito histórico e de direitos que se desenvolve nas interações, relações e práticas cotidianas a ela disponibilizadas e por ela estabelecidas com adultos e crianças de diferentes idades nos grupos e contextos culturais nos quais se insere. Nessas condições ela faz amizades, brinca com água ou terra, faz de conta, deseja, aprende, conversa, experimenta, questiona, constrói sentidos sobre o mundo e suas identidades pessoal e coletiva, produzindo cultura (BRASIL, 2009, p. 7). 3Educação infantil e famílias: uma parceria fundamental Já a Resolução nº 5 de 2009, que fixa as atuais Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (BRASIL, 2009), considera a criança “[...] um sujeito histórico e de direitos que, nas interações, relações e práticas cotidianas que vivencia, constrói sua identidade pessoal e coletiva, brinca, imagina, fantasia, deseja, aprende, observa, experimenta, narra, questiona e constrói sentimentos sobre a natureza e a sociedade, produzindo cultura [...]” (BRASIL, 2009, p. 14). Resumidamente, você pode conceber a criança como um ser humano único, completo e, ao mesmo tempo, em crescimento e em desenvolvimento constantes. Ela é completa porque tem características necessárias para ser considerada como tal: constituição física, formas de agir, pensar e sentir. Por outro lado, está em desenvolvimento porque seu corpo está continuamente sofrendo transformações, seja no plano físico ou psicológico, pois um depende do outro. A criança possui uma natureza singular que a caracteriza como um ser que sente e pensa o mundo e no mundo. É um sujeito que, nas interações que estabelece com as pessoas e com o meio que o circunda, experimenta cultura, significa tal cultura e interpreta o mundo. Família É o primeiro grupo de pessoas com quem a criança se relaciona no início da sua vida. Nesse grupo, cada integrante ocupa uma posição, possui caracterís- ticas próprias e desempenha papéis específi cos. As diferentes situações nas quais a criança interage oferecem a ela um repertório de valores, crenças e conhecimentos inscritos e considerados naquele determinado espaço social. Nesse sentido, qual é o papel da família no espaço educacional? Veja o que diz o art. 53 do Estatuto da Criança e do Adolescente (BRASIL, 1990, documento on-line): “É direito dos pais ou responsáveis ter ciência do processo pedagógico, bem como participar da definição das propostas educacionais [...]”. Já a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (BRASIL, 1996, documento on-line) esclarece: Art. 12. Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a incumbência de: VI – Articular-se com as famílias e a comunidade, criando processos de integração da sociedade com a escola; Educação infantil e famílias: uma parceria fundamental4 VII – Informar pai e mãe, conviventes ou não com seus filhos, e, se for o caso, os responsáveis legais, sobre a frequência e rendimento dos alunos, bem como sobre a execução da proposta pedagógica da escola. Em síntese, o papel da família na escola é o de facilitar, complementar e ampliar as experiências educacionais da criança. Escola O termo “escola” é derivado do grego skholé, que signifi ca descanso, ócio dedicado ao estudo, à meditação e à contemplação do saber (episteme). Schola, do latim, remete a uma ocupação literária, lição, curso, lugar onde se ensina. A escola é o espaço de excelência em que se cumprem as funções de educação e aprendizagem dos conhecimentos historicamente construídos. Ela é um espaço repleto de interações, que trabalha de maneira formal, intencional e planejada. Porém, você deve notar que a escola nem sempre foi como é hoje. Ao longo dos anos, ela foi se transformando e se adequando às necessidades de cada sociedade. Atualmente, ela tem se inserido cada vez mais cedo na rotina das crianças como um dos lugares de complemento das aprendizagens familiares. No centro do processo está a criança, sujeito que participa dos outros dois espaços, objeto de atenção e cuidado de ambas, ponto comum entre elas. Para que haja fluidez no esquema, é imprescindível o caráter de complementaridade entre os envolvidos nesse processo. Duas questões são primordiais: o respeito e o diálogo. Eles possibilitam às famílias uma participação mais ativa na proposta educativa da escola. Essa relação pode influenciar positivamente uma educação de qualidade. No link a seguir, você pode conferir um vídeo sobre a relação entre a escola e a família na educação infantil. https://goo.gl/nuwTvg 5Educação infantil e famílias: uma parceria fundamental Parceria com as famílias O contato entre a família e a escola é primordial quando se busca uma educação de qualidade para as crianças. Essa relação, que deve ser zelada, permite que ambas compartilhem informações sobre a criança, seu desenvolvimento físico e intelectual, suas necessidades, preferências, expectativas e anseios. Bassedas, Huguet e Solé (1999) esclarecem que a relação entre família e escola deve concretizar o objetivo de compartilhar a ação educativa em alguns âmbitos. Entre esses âmbitos, as autoras mencionam os listados a seguir. Conhecimento sobre a criança: os professores precisam conhecer a criança, seus ritmos, a relação que estabelece com outras pessoas, o que lhe agrada e o que não lhe agrada, etc. Para as autoras, essas informações são frequentemente obtidas na entrevista inicial da escola. Porém, se por algum motivo isso não ocorreu, cabe ao professor organizar momentos para que a troca de informações se efetive. Critérios educativos comuns: de acordo com Bassedas, Huguet e Solé (1999, p. 287), “Uma condição prévia para combinar estratégias de intervenção em relação à criança consiste, precisamente, em entrar em acordo na interpretação que fazemos da conduta que nos preocupa [...]”. Isso significa que estabelecer determinados acordos favorece a transição da criança de umcontexto ao outro, ou seja, da família para a escola e vice-versa. A coerência entre o que as duas instituições pedem ou não à criança favorece o seu desenvolvimento. Modelos de intervenção e relação com as crianças: muitas relações que a criança estabelece na escola são distintas das que ocorrem na família. Essas novas aquisições permitem a ela desenvolver novas maneiras de ser, de fazer e de relacionar-se. Abrir as portas da escola para que a família observe a construção desses saberes permite que os pais percebam novos modos de se relacionar com seus filhos. Conhecimento da função educativa da escola: infelizmente, ainda persiste a ideia de que as crianças de 0 a 5 anos vão para a educação infantil apenas para brincar ou passar o tempo. Nessa concepção, o Educação infantil e famílias: uma parceria fundamental6 professor não parece ter muita relevância, não é? Por isso, é imprescin- dível que as famílias conheçam e valorizem o trabalho que se realiza no espaço escolar. A parceria entre a família e a escola demanda cuidados. Cada família tem suas particularidades e possui determinada estrutura, com normas e maneiras que dirigem o modo como seus membros se relacionam entre si e com os outros. É essa diversidade que deve ser acolhida e valorizada no espaço escolar. É por meio dela que se podem desenvolver ações incríveis, no sentido de fazer com que os alunos e toda a comunidade percebam a grandeza das distintas maneiras de conhecer, significar e interpretar o mundo. Cabe, portanto, à escola estabelecer um diálogo aberto com as famílias, considerando-as parceiras e interlocutoras no processo educativo. A promoção do diálogo e da escuta cotidiana das famílias, o respeito e a valorização de suas formas de organização, assim como o estabelecimento de uma relação efetiva com a comunidade local, garantem uma gestão democrática e a consideração dos saberes da comunidade. Escola e família devem perceber que ambas comungam do mesmo ob- jetivo: fazer a criança se desenvolver em todos os aspectos e ter sucesso na aprendizagem. Nessa parceria, a escola tem como tarefa criar situações que levem a família a participar assiduamente da vida estudantil dos seus filhos, de forma que as práticas e culturas familiares estejam adaptadas às práticas escolares. Nessa dinâmica de interação, a comunicação entre família e escola deve virar rotina. O primeiro passo para que essa parceria ocorra é a compreensão de que os muros que cercam a instituição educacional não são barreiras. A escola é um espaço de participação e de promoção da cidadania. A criança, objeto de atenção das duas instâncias, é uma só. Para o seu desenvolvimento e o seu bem-estar, é preciso comunicação e troca de informação. No Quadro 1, você pode ver elementos para refletir sobre a importância da cooperação entre família e escola. As relações devem ser aprofundadas, permanentes e articuladas, favorecendo a comunicação. Esse é um fator im- prescindível, embora ainda seja um desafio aos sistemas de ensino. 7Educação infantil e famílias: uma parceria fundamental Quanto mais... a família for chamada a participar do cotidiano educacional... ... melhor será sua relação com a escola. Quanto mais... coerente for a mensagem passada à criança... ... melhor será a sua aprendizagem. Quanto mais... a escola e a família trabalharem de forma cooperativa... ... melhor será o desenvolvimento da criança, objeto de atenção das duas instituições. Quadro 1. Importância da cooperação entre família e escola Família e instituição de educação infantil: uma aliança necessária De acordo com o dicionário Aurélio, “aliança” signifi ca: união, acordo, relação entre indivíduos (FERREIRA, 2010). Essa aliança tão almejada entre família e escola resulta de uma postura democrática e participativa por parte das duas instituições. Para que essa relação de cumplicidade ocorra, a escola deve dispor de diferentes canais de comunicação, e a família deve estar aberta a essa possibilidade. A integração, termo que em sua acepção significa “tornar inteiro, comple- tar”, pode contribuir para o bom andamento do trabalho realizado na escola. Braga (2003) apresenta o relato de uma professora a respeito do assunto. Veja: [...] no momento que elas tavam falando (as mães), como é que eu vou dizer, vamos supor, o assunto dos puxões, que elas vieram comentar, a gente, em cima disso, tentava trabalhar em sala (com as crianças) a questão da agressi- vidade. Através da angústia delas (das mães), ou dúvidas sobre determinados assuntos, através disso a gente tentava trabalhar em sala essas questões, pra tentar melhorar nosso trabalho... então existia uma relação de respeito, de confiança e, por isso, acho, existe um complemento, porque tá se buscando, tá se trocando, existe uma ajuda mútua (Nívea — professora entrevistada em 16/10/02). Educação infantil e famílias: uma parceria fundamental8 Desenvolver ações de acolhimento para que a família participe ativamente do processo educacional do seu filho é uma necessidade quando se deseja a formação integral da criança. Porém, essa participação não deve ficar na superficialidade, mas se efetivar de forma consciente, ativa e responsável. Quando a família e a instituição estão em sintonia, a aprendizagem da criança ocorre com fluidez e naturalidade. No Quadro 2, você pode ver alguns aspectos importantes sobre a parceria entre a família e a instituição educacional. Fonte: Adaptado de Bassodas, Huguet e Solé (1999). Respeitar a individualidade: não existem duas famílias iguais e convém não ter esquemas rígidos sobre o “modelo” familiar. Estabelecer critérios educativos: ajustes entre as duas instâncias (família e escola) promovem o bem-estar de ambas. Agregar experiências e saberes: a relação entre a família e a escola pode ser enriquecida pela interação com diferentes profissionais. Aproximar contextos: o contato entre a escola e a família pode transcender o nível de exigência administrativa para converter-se em um instrumento que melhore e facilite a tarefa educativa de ambas. Compartilhar visões: é interessante intercambiar representações entre família e instituição educacional, propor hipóteses e esclarecer dúvidas. Oportunizar a comunicação entre as duas instâncias: é possível proporcionar situações para que a família compreenda a função educativa da instituição. Quadro 2. Parceria entre a família e a instituição educacional. Família e instituição educacional devem aproveitar ao máximo as pos- sibilidades de estreitamento de relações. O ajuste entre elas é um elemento facilitador de aprendizagens e de formação da cidadania. A concretiza- ção positiva de experiências cria, nas duas instituições, uma cultura de participação. 9Educação infantil e famílias: uma parceria fundamental De acordo com Bassedas, Huguet e Solé (1999), algumas questões devem ser considera- das ao se convocar os pais ou responsáveis para uma entrevista ou reunião. Veja a seguir. Essa reunião é realmente necessária? — Precisa haver clareza no motivo. Quem se convoca? Vai ser convocado um ou mais membros da família? O que será feito? Quanto tempo deve durar? — Deve haver planejamento. Onde será realizada a entrevista/conversa? — O local deve ser adequado ao assunto. Qual será a ambientação e o clima da entrevista? — Alguns itens devem ser ob- servados. Os aspectos sutis podem ter grande peso nesse momento, tais como: disposição das cadeiras e mesas, atitude tranquila e aberta do professor, respeito à fala dos interlocutores, entre outros. BASSEDAS, E.; HUGUET, T.; SOLÉ, I. Aprender e ensinar na educação infantil. Porto Alegre: Artmed, 1999. BRAGA, A. B. Creche e família: uma relação possível? 2003. 110 f. Dissertação (Mes- trado em Educação) – Programa de Pós-Graduação em Educação, Centro de Ciências da Educação, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2003. Dispo- nível em: <https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/85007/192323.pdf?sequence=1&isAllowed=y>. Acesso em: 14 out. 2018. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: <http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm>. Acesso em: 12 nov. 2018. BRASIL. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ CCivil_03/Leis/L8069.htm>. Acesso em: 12 nov. 2018. BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394. htm>. Acesso em: 12 nov. 2018. BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Conselho Nacional de Educação. Pa- recer nº CEB 20/2009. 2009. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/ pceb020_09.pdf>. Acesso em: 12 nov. 2018. Educação infantil e famílias: uma parceria fundamental10 BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. 2017. Disponível em: <http://por tal .mec.gov.br/ index.php?option=com_ docman&view=download&alias=79601-anexo-texto-bncc-reexportado-pdf- -2&category_slug=dezembro-2017-pdf&Itemid=30192>. Acesso em: 12 nov. 2018. BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Básica. Resolução nº 5, de 17 de dezembro de 2009. Fixa as diretrizes curriculares nacionais para a educação infantil. Disponível em: <http://www.seduc.ro.gov.br/portal/legislacao/ RESCNE005_2009.pdf>. Acesso em: 12 nov. 2018. BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Parecer nº CEB 022/98. 1998a. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/1998/pceb022_98. pdf>. Acesso em: 12 nov. 2018. BRASIL. Ministério da Educação. Referencial curricular nacional para educação infantil. Brasília: MEC, 1998b. FERREIRA, A. B. H. Dicionário Aurélio da língua portuguesa. 5. ed. Curitiba: Positivo, 2010. Leituras recomendadas ALMEIDA, L. C.; FERRAROTTO, L.; MALAVASI, M. M. S. Escola vista de fora: o que di- zem as famílias? Educação & Realidade, Porto Alegre, v. 42, n. 2, p. 649-671, jun. 2017. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2175- -62362017000200649&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 12 nov. 2018. EDWARDS, C.; GANDINI, L.; FORMAN, G. As cem linguagens da criança: a abordagem de Reggio Emilia na educação da primeira infância. Porto Alegre: Artmed, 1999. GARCIA, H. H. G. O.; MACEDO, L. Reuniões de pais na educação infantil: modos de ges- tão. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, v. 41, n. 142, p. 208-227, abr. 2011. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-15742011000100011&ln g=pt&nrm=iso>. Acesso em: 12 nov. 2018. MONCAO, M. A. G. O compartilhamento da educação das crianças pequenas nas insti- tuições de educação infantil. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, v. 45, n. 157, p. 652-679, set. 2015. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100- -15742015000300652&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 12 nov. 2018. 11Educação infantil e famílias: uma parceria fundamental Conteúdo: Dica do Professor Cada vez mais as crianças vivem e convivem com uma grande variedade de arranjos familiares, fato que impulsiona os educadores a criar condições, ambientes e atividades favoráveis para o desenvolvimento integral da criança, objetivo (e desejo) comum de ambas as instituições. Assista ao vídeo desta Dica do Professor, para compreender a importância em considerar essa diversidade (diferentes arranjos familiares) no dia a dia das instituições de educação infantil. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/cee29914fad5b594d8f5918df1e801fd/3b6247b5e97781b86af06e2441220748 Exercícios 1) Um pai chega até a escola para verificar o desempenho escolar do seu filho. A pedagoga informa da impossibilidade de passar informações sobre a criança e alerta que, se necessário, a escola entra em contato com a família do aluno. Diante da situação apresentada, assinale a alternativa correta. A) A escola é livre para passar ou não informações sobre os alunos. B) É direito de pais ou responsáveis participar das decisões educacionais que envolvem seus filhos. C) A escola está respeitando o art. 53, parágrafo único, do Estatuto da Criança e do Adolescente. D) O desempenho escolar dos alunos é assunto exclusivo da escola. E) Permitir que pais ou responsáveis participem da definição das propostas educacionais é uma ação benevolente da escola. 2) De acordo com o art. 12 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, os estabelecimentos de ensino têm a incumbência de articular com as famílias e a comunidade, criando processos de integração da sociedade com a escola. Sabendo disso, marque a alternativa correta. A) A participação das famílias na escola e a postura aberta ao diálogo é uma opção da escola. B) A participação dos pais na escola deve ficar na superficialidade, pois, quanto mais aberta for a proposta, mais ações contraditórias a escola terá que enfrentar. C) A parceria entre família e escola não agrega valor à educação da criança. D) O cotidiano educacional não admite interferências, tampouco parcerias. E) Desenvolver ações de acolhimento para que a família participe ativamente do processo educacional é uma ação necessária. O cenário das famílias tem se modificado ao longo de nossa história. A constituição do modelo ideal de família, entendida como mãe, pai e filhos, já não é vista como a única forma 3) válida. Sabendo que as escolas compreendem um público heterogêneo de alunos e pais que convivem em um mesmo espaço físico diariamente, assinale a alternativa correta. A) Tentar considerar as diferentes formas de organização familiar na proposta pedagógica da escola é uma insensatez. B) Embora existam distintas maneiras de ser e constituir uma família, a escola deve preservar o modelo hegemônico, ou seja, o ideal. C) Família é da ordem da natureza, não devemos compreendê-la como de ordem social construída. D) Estar aberto à diversidade é uma opção da escola, sendo que essa não interfere no aprendizado do aluno. E) A escola, enquanto uma instituição educativa, deve estar aberta e romper com os padrões estereotipados das distintas maneiras de ser e de viver em família. 4) Com relação à responsabilidade da família e da escola na educação das crianças menores de cinco anos, assinale a alternativa correta. A) Família e escola exercem ação complementar entre si. B) O papel da escola limita-se à transmissão do conhecimento formal. C) Família e escola não precisam trabalhar em conjunto, pois são instituições distintas. D) O apoio dos pais na educação formal da criança é uma ação a ser evitada. E) Os hábitos, valores e comportamentos são responsabilidades unicamente da família. 5) A clareza nas informações prestadas é essencial em qualquer comunicação. Na escola, os diferentes canais de comunicação são aliados na parceria com a família. Sabendo disso, assinale a alternativa correta. A) A comunicação entre escola e família deve ser realizada apenas na chegada e saída dos alunos, pois comunicação em excesso pode provocar ruídos e um manejo ineficiente. B) A comunicação entre família e escola deve estar baseada na igualdade, no respeito, na tolerância e na maneira simples, porém eficiente, de conduzir essa relação. C) A linguagem escrita (bilhetes) é uma forma de comunicação ultrapassada e que deve ser evitada, pois é sabido que, em geral, os pais não se atêm aos bilhetes enviados pela escola. D) Nas reuniões realizadas pela escola, os pais devem assumir unicamente o papel de espectadores, pois eles têm papel secundário no processo de aprendizagem da criança. E) É necessário preservar certo distanciamento entre professores e pais para que a família não confunda os papéis. Na prática O envolvimento entre família e escola é essencial. A família deve acompanhar o desenvolvimentodo seu filho em todo o processo de aprendizagem, participando ativamente das ações promovidas pela escola, e garantindo, dessa forma, uma boa integração entre ambas. Acompanhe, na prática, como essa parceria pode atuar enquanto um suplemento nas ações desenvolvidas no interior das instituições de educação infantil. Saiba mais Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: O compartilhamento da educação das crianças pequenas nas instituições de educação infantil O artigo se fundamenta em um estudo de caso, realizado no período de 2010 a 2011, em um centro de educação infantil municipal de São Paulo, sobre o compartilhamento da educação. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. Relação família-escola: peculiaridades, divergências e concordâncias no processo ensino-aprendizagem O artigo discutiu características que permeiam a relação cotidiana entre família e escola, compreendendo que a construção do processo de ensino-aprendizagem é perpassada não apenas pela escola, mas principalmente pela relação dela com a família. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. Reuniões de pais na educação infantil: modos de gestão O artigo se fundamenta em um estudo de caso sobre 11 reuniões, realizadas em duas escolas municipais de educação infantil de São Paulo. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-15742015000300652&lng=pt&nrm=iso http://educacaopublica.cederj.edu.br/revista/artigos/relacao-familia-escola-peculiaridades-divergencias-e-concordancias-no-processo-ensino-aprendizagem Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. Aprender e ensinar na educação infantil No capítulo Família e escola, Bassedas, Huguet e Solé trazem considerações de ordem psicológica, psicopedagógica e sociológica que conferem importância à relação família/escola no desenvolvimento das crianças. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-15742011000100011&lng=pt&nrm=iso