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1 2 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 4 1. SAÚDE INTEGRAL .................................................................................................. 6 2. SAÚDE EMOCIONAL .............................................................................................. 8 3. QUALIDADE DE VIDA ........................................................................................... 10 4. IMPACTOS DA PANDEMIA NA SAÚDE E BEM ESTAR DA COMUNIDADE ESCOLAR .................................................................................................................. 14 4.1. Consequências psicossociais e possíveis transtornos decorrentes do cenário vivido .................................................................................................................... 14 4.2. Estratégias de enfrentamento ........................................................................ 16 5. RECOMENDAÇÕES GERAIS PARA BUSCA DA SAÚDE EMOCIONAL INTEGRAL ................................................................................................................. 19 6. ESTRATÉGIAS DE ATENÇÃO E CUIDADO AOS PROFESSORES E ESTUDANTES ........................................................................................................... 20 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 22 REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 23 3 OBJETIVO: Desenvolver competências e habilidades relativas à Dimensão Socioemocional, a partir do conhecimento das bases conceituais da saúde, com foco na saúde emocional para produzir novos sentidos no cuidado integral dos sujeitos, garantindo o desenvolvimento das ações pedagógicas, com vistas ao aperfeiçoamento do ensino e garantia da aprendizagem. 4 ⮚ INTRODUÇÃO O surgimento da pandemia da Covid, no ano de 2019, colocou o mundo em alerta acerca dos desafios multissetoriais que o momento requer, seja em termos de pesquisa, desenvolvimentos socioeconômico, cultural e emocional. Além das questões que envolvem política de estado, em cenários como a pandemia, todos os sujeitos são afetados emocionalmente, independente do espaço que ocupe. “Durante uma pandemia é esperado que estejamos frequentemente em estado de alerta, preocupados, confusos, estressados e com sensação de falta de controle frente às incertezas do momento.” (Fiocruz1) Do ponto de vista dos impactos para a saúde emocional da população, em contexto vivenciado atualmente, de acordo com os dados da Fiocruz, “estima-se que, entre um terço e metade da população exposta a uma epidemia pode vir a sofrer alguma manifestação psicopatológica, caso não seja feita nenhuma intervenção de cuidado específico para as reações e sintomas manifestados.” Neste sentido, A necessidade de atenção especial à saúde mental de alunos, professores, gestores e demais profissionais da escola têm sido elemento central de preocupação para especialistas e organizações na discussão sobre as respostas educacionais à pandemia da Covid-19. A inédita situação que a atual crise traz demandará ações muito além de respostas puramente pedagógicas e educacionais para resolver essas questões que afetarão o dia a dia escolar, representando um desafio intersetorial significativo aos diversos níveis de governo e exigindo uma agenda coordenada entre o atendimento assistencial, de Saúde e de Educação. (Nota técnica O RETORNO ÀS AULAS PRESENCIAIS NO CONTEXTO DA PANDEMIA DA COVID-19. Todos pela Educação. 20202) A formação da sociedade brasileira e seus aspectos desiguais, assim como a precariedade de diversos serviços, entre os quais os de saúde, já afetam cotidianamente as populações, com maior peso para as comunidades 1 https://efg.brasilia.fiocruz.br/ava/pluginfile.php/73427/mod_resource/content/3/cartilha_recomenda%C3 %A7%C3%B5es_gerais.pdf 2 Disponível em: file:///C:/Users/renat/OneDrive/Documentos/seduc%20tudo/todos-pela- educacao%20(1).pdf 5 empobrecidas. Em cenário de pandemia, tais aflições emergem com maior ênfase, interferindo no bem-estar psicológico de todos. O papel dos professores e dos gestores escolares será essencial para o sucesso de tais ações, necessitando que estejam em boas condições pessoais e profissionais para exercê-las. Em primeiro lugar, ressalta-se a importância de contarem com significativo suporte psicológico durante e após a crise, uma vez que, além de serem diretamente impactados, precisarão atuar na minimização dos efeitos sentidos pelos alunos. (Nota técnica O RETORNO ÀS AULAS PRESENCIAIS NO CONTEXTO DA PANDEMIA DA COVID-19. Todos pela Educação. 2020) Esta Unidade busca, a partir dos conhecimentos históricos produzidos na área da saúde mental em adesão ao contexto epidemiológico vivido, fornecer subsídios para a comunidade escolar lidar com os impactos causados por ela. Por certo, vivemos um paradigma que coloca em evidência a fragilidade da vida frente ao desconhecido e impõe atitudes planejadas, as quais irão nos requerer mudança de postura e compreensão sobre as potencialidades aliadas na superação de tais desígnios. 6 1. SAÚDE INTEGRAL Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a saúde é definida como: “Um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doença ou enfermidade”. A Organização Pan-Americana da Saúde3 alerta para o fato de que é preciso pensar no caráter multidimensional e integral do conceito de saúde e levar em consideração aspectos culturais, sociais e históricos do contexto em questão. A saúde expressa a vida em todas as suas manifestações individuais e coletivas, do unicelular ao vegetal, dos peixes e aves ao ser humano. Demonstra capacidade do organismo/pessoa de realizar seu potencial evolutivo (...) nas diversas situações ambientais e sociais em que vive, seja uma árvore, um pássaro ou um indivíduo. No ser humano essas potencialidades e manifestações encontram-se nas esferas ecológica, social, orgânica, psicológica e espiritual. (Góis, 2008). Na dualidade saúde e doença, Bakes4 sinaliza para a necessidade de verificar os limites da ciência ao tentar definir e/ou conceituar tais estados, pois saúde e doença envolvem dimensões subjetivas e não apenas biológicas, científicas e objetivas. Da mesma forma que a educação integral, movimento que há décadas vem sendo fomentado no Brasil nos campos teóricos e práticos, a saúde também se insere nesta perspectiva. “O conceito de saúde integral toca a dimensão social e, portanto, inscreve-se no paradigma da promoção da saúde, de modo que o cuidado não se dá somente a partes do sujeito (modelo biomédico), mas ao sujeito em sua completude. ” (Saúde Integral: a busca da autonomia5) Tendo esses elementos no horizonte, além da compreensão de que saúde se elabora de maneira intersetorial e interdisciplinar, é imprescindível enxergar a 3 Organização Pan-Americana da Saúde. Saúde nas Américas+, Edição de 2017. Resumo do panorama regional e perfil do Brasil. Washington, D.C.: OPAS; 2017 4 BAKES, Marli Terezinha Stein et al. Conceito de saúde e doença ao longo da história sob o olhar epidemiológico e antropológico. Revista Enfermagem UERJ. Rio de Janeiro: UERJ, v. 17, n. 1, p. 111-117, 2009. 5 Mídia disponível em: http://aberta.senad.gov.br/medias/original/201702/20170215-134618- 002/pagina-02-extra-04.html, acessado em junho de 2020) 7 vida como integral, o ser em sua integralidade, em sua complexidade. Esta perspectiva requer uma visão que considere a complexidade de fatores que afetam os sujeitos no cotidiano, em sua formação, em seu ser e estar no mundo. Discutir a integralidade na saúde significa percebê-lapara além da doença em si. Significa reconhecer as suas articulações sociais, seus determinantes históricos e repensar aspectos importantes da organização do processo de trabalho, gestão e planejamento, construindo novos saberes e adotando inovações nas práticas em saúde. (Saúde Integral: a busca da autonomia) 8 2. SAÚDE EMOCIONAL De acordo com a OMS, a saúde emocional ou mental “trata-se de um estado de bem-estar no qual um indivíduo realiza suas próprias habilidades, pode lidar com as tensões normais da vida, pode trabalhar de forma produtiva e é capaz de fazer contribuições à sua comunidade”. Reconhece ainda que a “saúde mental e bem-estar são fundamentais para nossa capacidade coletiva e individual, como seres humanos, para pensar, nos emocionar e interagir uns com os outros”, podendo assim, contribuir e participar na sua comunidade. Levando em consideração que estar sempre saudável é uma tarefa quase impossível, torna-se necessário conhecer, desenvolver e aprimorar constantemente algumas habilidades pessoais. O “Manual De Salud Mental Para Profesionales Del Ámbito Educativo”6 cita algumas dessas habilidades como: aceitar desafios e objetivos realistas; utilizar a capacidade de esforço e luta pessoal; ser flexível para valorizar alternativas e ideias diferentes das suas, de respeito consigo e com o outro; diferenciar desejos de necessidades; tolerar erros assumindo responsabilidade; sentir e expressar sentimentos e emoções; assumir capacidades e limites pessoais. Saúde emocional diz respeito a um estado de bem-estar interno. Significa que a pessoa possui qualidade nas relações interpessoais, autocontrole das emoções e consegue enfrentar de maneira assertiva as dificuldades do cotidiano, e claro, é também ter uma boa relação consigo mesmo. Uma pessoa emocionalmente saudável possui mais facilidade de lidar com as adversidades do dia a dia, do stress, dos traumas etc. A pessoa que está doente, muitas vezes não necessita de um diagnóstico para perceber-se doente. Para Gamba7 “quem estabelece o estado da doença é o sofrimento, a dor (...), enfim, os valores e sentimentos expressos pelo corpo subjetivo que adoece”. Saúde e doença são construtos criados para nos guiar no 6 Manual de salud mental para profesionales del ámbito educativo. Programa Espacio Joven. Barcelona: Centre d’Higiene Mental Les Corts; 2012. 7 9 fluxo da Vida. As ações preventivas na comunidade escolar podem ajudar a formar cidadãos responsáveis e fortalecidos também nas questões emocionais. 3. QUALIDADE DE VIDA A perspectiva capitalista da economia associa fortemente a qualidade de vida a quantidade de bens, mercadorias e serviços que são produzidos e consumidos pelas comunidades e pelos indivíduos, considerando os diferentes níveis aquisitivos; nesta lógica, aqueles que mais consomem são os mais felizes. Por outro lado, os cientistas sociais trazem indicadores importantes para percepção de tal estado, vinculado ao bem estar, como índices de criminalidade, acesso a bens culturais e ambientais e expectativa de vida. A filosofia e a psicologia “consideraram a felicidade como o bem maior e a principal motivação para a ação humana, mas deram pouca atenção para o estudo do bem-estar subjetivo, preferindo investigar a infelicidade e o sofrimento humano.” (Giacomoni8, 2004). Percebendo a qualidade de vida em associação às múltiplas circunstâncias que afetam o cotidiano dos sujeitos, alguns questionamentos pessoais podem ser importantes no processo do autoconhecimento, bem como projeções e ações para uma vida mais harmônica e saudável: De que forma avalio minha vida? Como eu me percebo? Como me coloco diante das situações cotidianas da comunidade e do mundo? Com que frequência me sinto feliz ou triste? Como é minha relação com amigos e familiares? Como o momento atual de pandemia tem me afetado? O esforço atual dos pesquisadores está orientado pela busca de compreensão do processo que sustenta a felicidade um conceito que requer auto-avaliação, ou seja, ele só pode ser observado e relatado pelo próprio indivíduo e não por indicadores externos escolhidos e definidos por terceiros. (Giacomoni) Para se auto avaliar, cada pessoa, em sua existência individual, terá sua própria maneira de enxergar o mundo em que vive. Suas expectativas e sonhos são questões íntimas, assim como seus valores, emoções e experiências vividas. Tudo isso influencia na maneira que cada uma enxerga a vida e os outros. 8 10 Estudos recentes têm avaliado a influência de bem-estar subjetivo sobre qualidade de vida. Tomando como referência diversas concepções teóricas, Siqueira e Rossi9 abstraíram dados e elaboraram uma proposta integradora e composta por seis componentes que podem estar presentes no bem estar subjetivo (psicológico): 1. Autoaceitação: Definida como o aspecto central da saúde mental, trata-se de uma característica que revela elevado nível de autoconhecimento, ótimo funcionamento e maturidade. Atitudes positivas sobre si mesmo emergem como uma das principais características do funcionamento psicológico positivo. 2. Relacionamento positivo com outras pessoas: Descrito como fortes sentimentos de empatia e afeição por todos os seres humanos, capacidade de amar fortemente, manter amizade e identificação com o outro. 3. Autonomia: São seus indicadores o locus interno de avaliação e o uso de padrões internos de autoavaliação, resistência à aculturação e independência acerca de aprovações externas. 4. Domínio do ambiente: Capacidade do indivíduo para escolher ou criar ambientes adequados às suas características psíquicas, de participação acentuada em seu meio e manipulação e controle de ambientes complexos. 5. Propósito de vida: Manutenção de objetivos, intenções e de senso de direção perante a vida, mantendo o sentimento de que a vida tem um significado. 6. Crescimento pessoal: Necessidade de constante crescimento e aprimoramento pessoais, abertura a novas experiências, vencendo desafios que se apresentam em diferentes fases da vida. Nos últimos anos a Organização das Nações Unidas (ONU) tem criado metodologias para o levantamento de indicadores interessados em mapear a felicidade mundial. Criado como uma forma de complementar as medidas já tradicionais, o FIB (Felicidade Interna Bruta) busca medir o índice de felicidade nos países. Felicidade Interna Bruta (FIB) é um indicador sistêmico desenvolvido no Butão, um pequeno país do himalaia. O conceito nasceu em 1972, elaborado pelo 9 Siqueira, Mirlene Maria Matias, & Padovam, Valquiria Aparecida Rossi. (2008). Bases teóricas de bem- estar subjetivo, bem-estar psicológico e bem-estar no trabalho. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 24(2), 201- 209. https://doi.org/10.1590/S0102-37722008000200010 11 rei butanês Jigme Singya Wangchuck. Desde então, o reino de Butão, com o apoio do Pnud (programa das nações unidas para o desenvolvimento), começou a colocar esse conceito em prática, e atraiu a atenção do resto do mundo com sua nova fórmula para medir o progresso de uma comunidade ou nação. Assim, o cálculo da “riqueza” deve considerar outros aspectos além do desenvolvimento econômico, como a conservação do meio ambiente e a qualidade da vida das pessoas. (Jornal Folha de São Paulo) De acordo com o Relatório Anual da Felicidade de 2019, o Brasil ocupa o 32º lugar no ranking de países mais felizes. A Finlândia é, pelo segundo ano consecutivo, o país mais feliz do mundo dentro desta metodologia de análise10. A Felicidade Interna Bruta foi dividida em nove categorias, que facilitam metodologicamente a geração dos indicadores. 1. Bem-estar psicológico: Mede o otimismo que cada cidadão tem em relação a sua vida. É feita uma análise da autoestima, nível de stress e espiritualidade. 2. Saúde: Analisa as medidas de saúde implantadaspelo governo, exercícios físicos, nutrição e autoavaliação da saúde. 3. Uso do tempo: Inclui questões como o tempo que o cidadão perde no trânsito, divisão das horas entre o trabalho, atividades de lazer e educacionais. 4. Vitalidade comunitária: Entra na questão do relacionamento e das interações entre as comunidades. Analisa a segurança dentro da comunidade, assim como a sensação de pertencimento e ações de voluntariado. 5. Educação: Sonda itens como participação na educação informal e formal, valores educacionais, educação no que se refere ao meio ambiente e competências. 10 https://www.infoescola.com/psicologia/autoestima/ 12 6. Cultura: Faz uma análise de tradições culturais locais, festejos tradicionais, ações culturais, desenvolvimento de capacidades artísticas e discriminação de raça, cor, ou gênero. 7. Meio ambiente: Relação entre os cidadãos e os meios naturais como solo, ar e água. Estuda a acessibilidade para áreas verdes, sistemas para coletar o lixo e biodiversidades da comunidade. 8. Governança: Estuda a maneira da relação entre a população e a mídia, poder judiciário, sistemas de eleições e segurança. 9. Padrão de vida: Análise da renda familiar e individual, seguridade nas finanças, dívidas e qualidade habitacional. 13 4. IMPACTOS DA PANDEMIA NA SAÚDE E BEM ESTAR DA COMUNIDADE ESCOLAR Diversos são os impactos que podem surgir durante e após uma pandemia. Medidas de proteção como o isolamento e o distanciamento social afetam o cotidiano de grande parte da população. De acordo com os relatórios da ONU, sintomas como depressão e ansiedade tiveram um aumento significativo em vários países, tendo a Etiópia registrado um aumento três vezes maior do que em estimativas antes da pandemia. Na China os profissionais registram altas taxas de depressão (50%), ansiedade (45%) e insônia (34%) e, no Canadá, 47% relatam a necessidade de suporte psicológico. Entre 20 de março e 20 de abril de 2020, a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) realizou pesquisa online, contando com a resposta de 1.460 pessoas em 23 estados brasileiros. O levantamento aponta, neste período de pandemia, que casos de depressão quase dobraram e os de ansiedade e estresse tiveram aumento de 80% (www.em.com.br). Além disso, crianças, idosos e mulheres, em nível mundial, têm sofrido mais violência doméstica. O aumento no consumo de álcool também preocupa especialistas em saúde mental. O distanciamento social “consiste em um esforço consciente para reduzir o contato e aumentar a distância física entre pessoas, a fim de diminuir a velocidade de contágio de uma pandemia”. Se por um lado tal medida tem sua importância comprovada cientificamente, por outro, pode impactar na saúde mental daqueles que as vivenciam. 4.1. Consequências psicossociais e possíveis transtornos decorrentes do cenário vivido A sociedade em isolamento tem definido novas formas de se relacionar com o mundo. A mudança brusca que temos vivenciado no cenário da pandemia tem alterado modos de vida habituais, rotinas laborais e familiares. Tal panorama pode contribuir para a qualificação das relações, ressignificação de valores, mas, 14 por outro lado, pode afetar o bem estar emocional, desencadeando uma série de transtornos psicológicos como estresse, ansiedade e depressão. A respeito dos medos, reações e consequências da pandemia, A Escola de Governo Fiocruz11 em parceria com o Centro de Estudos e Pesquisas em Emergências e Desastres (Cepedes/Fiocruz) realizou o curso “Saúde Mental e Atenção Psicossocial na COVID-19”, e desenvolveu diversas cartilhas e documentos atualizados, destinado a profissionais de várias áreas do conhecimento. Entre os temas trabalhados, são elencados os medos mais comuns, as reações comportamentais frente a pandemia, assim como recomendações de vida e bem estar. Medos mais frequentes na pandemia: ⮚ Medo de Adoecer e morrer; ⮚ Medo de perder as pessoas que amamos; ⮚ Medo e perder os meios de subsistência ou não poder trabalhar durante o isolamento e ser demitido; ⮚ Medo de ser excluído socialmente por estar associado à doença; ⮚ Medo de ser separado de entes queridos e de cuidadores devido ao regime de quarentena; ⮚ Medo de não receber suporte financeiro; ⮚ Medo de transmitir o vírus a outras pessoas; ⮚ Sensação de Impotência perante os acontecimentos; ⮚ Irritabilidade; ⮚ Angústia; ⮚ Sentimento de desemparo, tédio, solidão e tristeza. Reações comportamentais mais comuns: 11 Saúde Mental e Atenção Psicossocial em situações de pandemia COVID-19. Coordenação-Geral de Maria Fabiana Damásio Passos. Brasília: [Curso na modalidade a distância]. Escola de Governo Fiocruz Brasília - 2020. 15 ⮚ Alterações ou distúrbios de apetite (falta de apetite ou apetite em excesso); ⮚ Alterações ou distúrbios do sono (insônia, dificuldade para dormir ou sono em excesso, pesadelos recorrentes); ⮚ Conflitos interpessoais (com familiares, equipes de trabalho...); Violência. ⮚ Pensamentos recorrentes sobre a epidemia; Pensamentos recorrentes sobre a saúde da nossa família; Importante salientar que: mesmo antes da pandemia, a saúde mental dos professores já era preocupante. Dos cinco mil docentes que participaram de uma pesquisa realizada pela Nova Escola em 2019, 60% se queixam de sintomas de ansiedade, estresse e dores de cabeça, e 66% já sofreram com fraqueza, incapacidade ou medo de ir trabalhar. Dos entrevistados, 87% acreditam que os problemas de saúde são decorrentes ou intensificados pela profissão. (https://educacaointegral.org.br/reportagens/importancia-de-acolher- os-professores-na-volta-as-aulas-presenciais) Considerando o contexto atual que vivemos, gestores públicos de educação, aliados às comunidades escolares, deverão repensar e ressignificar processos pedagógicos, tendo por horizonte o bem estar individual e coletivo. A gravidade de consequências psicológicas emergentes, colocam a necessidade em se propor estratégias de promoção da saúde mental e de atenção psicossocial especialmente na escola, espaço que podemos perceber como um reflexo da sociedade, lócus em que se constrói cultura, pensamento e identidade. Ações planejadas que envolvam o ser humano em sua integralidade, dando ênfase para as questões emocionais que estruturam o seu ser e estar no mundo, podem contribuir significativamente para a qualificação das relações e da construção de um novo paradigma educacional, pautado na empatia e no respeito às diferenças. Neste contexto, estratégias de acolhimento dos professores e estudantes na volta às aulas presenciais são estruturais para a geração de cenários positivos de retorno. 4.2. Estratégias de enfrentamento 16 Enfrentar significa encarar de frente, face a face cada obstáculo, estado que pode ser desenvolvido de maneira individual, mas que ganha força ao se tornar coletivo, comunitário. Em tempos de normalidade vivencial, os debates sobre intersetorialidade já figuravam no meandro das políticas públicas, especialmente nas áreas de saúde, educação e assistência social. Refletindo acerca de um mundo pós pandemia, tal abordagem faz-se imprescindível para a superação de novas dificuldades postas, em termos pedagógicos e relacionais, na escola e na comunidade. Diante desse cenário, é esperado que as escolas se depararem com novos e complexos desafios, que só poderão ser devidamente enfrentados se houver apoio de outras áreas. Ou seja, uma resposta adequada do poder público na Educação só virá com um esforço amplamente intersetorial, envolvendo, especialmente, as áreas da Saúde e da Assistência Social. Em especial, destacam-se como desafios a serem trabalhados de forma articulada e intersetorial o forte impacto emocional que a situação atual deve trazer aos alunos e educadores, além da elevação dos riscos de abandonoe evasão escolar. (Nota técnica O RETORNO ÀS AULAS PRESENCIAIS NO CONTEXTO DA PANDEMIA DA COVID-19. Todos pela Educação. 202012) Estratégias de enfrentamento exigem uma melhor compreensão da realidade vivida e de tomada de atitudes para a superação de dificuldades emergentes. Tais processos podem potencializar o bem estar subjetivo na busca pela estabilização emocional de forma autônoma, evitando, em muitos casos, a necessidade de cuidados especializados. Sobre ações que visam o autocuidado físico e emocional, o documento promovido pela FIOCRUZ, “A Quarentena na COVID-19: Orientações e Estratégias de Cuidado”13 nos traz algumas estratégias para lidar com o momento atual: 12 Disponível em: file:///C:/Users/renat/OneDrive/Documentos/seduc%20tudo/todos-pela-educacao%20(1).pdf 13 Disponível em: https://efg.brasilia.fiocruz.br/ava/pluginfile.php/73441/mod_resource/content/7/cartilha_quarent ena.pdf 17 ● Realizar exercícios físicos; ● Realizar exercícios de relaxamento; ● Buscar conteúdos e práticas que restabeleçam a confiança em si mesmo, seja de ordem intelectual, terapêutica, religiosa, espiritual, entre outras, que auxiliem na identificação de recursos internos para o enfrentamento saudável das demandas do momento. ● Manter uma alimentação saudável, sempre que possível. ● Limitar o tempo gasto buscando informações. O excesso de informações aumenta a sensação de ansiedade e angústia. Idealmente, deve-se buscar informações por tempo preestabelecido, por exemplo, uma a duas vezes por dia, durante 30 minutos. ● Estar atento ao consumo de bebidas alcoólicas. ● Prestar atenção nos próprios sentimentos e necessidades. A percepção dos sentimentos permite reavaliar as medidas protetivas e buscar auxílio, caso necessário ● Reconhecer e acolher seus receios e medos, procurando pessoas de confiança para conversar; ● Retomar estratégias e ferramentas de cuidado que tenha usado em momentos de crise ou sofrimento e ações que trouxeram sensação de maior estabilidade emocional; ● Investir em exercícios e ações que auxiliem na redução do nível de estresse agudo. Meditação, leitura, exercícios de respiração, entre outros. ● Evite o isolamento junto a sua rede socioafetiva, mantendo contato, mesmo que virtual; ● Caso seja estigmatizado por medo de contágio, compreenda que não é pessoal, mas fruto do medo e do estresse causado pela pandemia. 18 5. RECOMENDAÇÕES GERAIS PARA BUSCA DA SAÚDE EMOCIONAL INTEGRAL Sobre as recomendações para busca da saúde emocional e integral de professores, gestores e alunos ressalta-se a necessidade de uma melhor compreensão da realidade vivida na busca pela estabilização emocional de forma autônoma, evitando, em muitos casos, a necessidade de cuidados especializados, para tanto recomenda-se: ● Reconhecer e dialogar com colegas de trabalho e supervisores que possam compartilhar das mesmas dificuldades pessoais e/ou comunitárias, buscando soluções coletivas; ● Investir e estimular ações compartilhadas de cuidado, evocando a sensação de pertença social (como as ações solidárias e de cuidado familiar e comunitário); ● Reenquadrar os planos e estratégias de vida, de forma a seguir produzindo planos de forma adaptada às condições associadas a pandemia; ● Manter ativa a rede socioafetiva, estabelecendo contato, mesmo que virtual, com familiares, amigos e colegas; ● Evitar o uso do tabaco, álcool ou outras drogas para lidar com as emoções; ● Buscar um profissional de saúde quando as estratégias utilizadas não estiverem sendo suficientes para sua estabilização emocional; ● Buscar fontes confiáveis de informação como o site da Organização Mundial da Saúde; ● Reduzir o tempo que passa assistindo ou ouvindo coberturas midiáticas; ● Compartilhar as ações e estratégias de cuidado e solidariedade, a fim de aumentar a sensação de pertença e conforto social; ● Estimular o espírito solidário e incentivar a participação da comunidade. 19 6. ESTRATÉGIAS DE ATENÇÃO E CUIDADO AOS PROFESSORES E ESTUDANTES Por meio de estudos recentes é possível pautar algumas estratégias de atenção e cuidado aos docentes14: ● formação de grupos de discussão entre os professores sobre os desafios encontrados e formas de resolvê-los; ● constituição de grupos de apoio comunitários que de fato escutem os professores em suas dificuldades, processos e planejamentos; ● elaboração de protocolos que guiem as intervenções de acolhimento emocional dos estudantes, a serem feitas com o apoio de outras áreas; ● realização de oficinas e formações frequentes com psicólogos; ● suporte contínuo da gestão escolar para a compreensão/ação sobre as condições emocionais de vida do docente; ● criação de espaços para atividades e reflexões agradáveis, como grupos de WhatsApp entre os professores para conversar e realizar algo juntos, como atividades físicas, debates, encontros culturais. O acolhimento aos estudantes é outra estratégia importante para apoiar os professores e a comunidade escolar no retorno das atividades presenciais, sendo elementos importantes nesta incursão: ● Criar espaços de conversas, para que os jovens trabalhem a esperança em relação ao retorno às aulas presenciais; ● Garantir que tenham espaço para compartilhar como foi o período de isolamento social, e que possam ter essas conversas tanto em grandes grupos quanto em rodas menores ou até individuais; ● Promover atividades culturais e artísticas de acolhimento e vivência; ● Fomentar a prática física como essencial para uma juventude saudável; 14 Entre os estudos utilizados para a geração dos conteúdos da Unidade, destaca-se o texto “A importância de acolher os professores na volta às aulas presenciais”, disponível em: https://educacaointegral.org.br/reportagens/importancia-de-acolher-os-professores-na-volta-as-aulas- presenciais/ 20 ● Ressignificar ambientes da escola e comunidade, tendo como protagonistas os estudantes; ● Priorizar o acolhimento em lugar da recuperação dos conteúdos escolares; ● Desenvolver processos pedagógicos em formatos de projetos de aprendizagem, garantindo uma experiência mais integral dos conhecimentos adquiridos e, consequentemente, tornando as atividades escolares mais criativas e atrativas. 21 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS O ser humano está em processo permanente de transformação e crescimento, ou conforme nos ensinou Paulo Freire, a educação se dá por toda vida; estar consciente disso ajuda a nos percebermos e estarmos no mundo, e agirmos nele de modo pleno e integral. Libertar as emoções e situações não resolvidas, dando espaço para cada momento novo, aqui e agora, fazem parte deste processo de autoconhecimento. O ineditismo do cenário que vivemos demandará esforço individual e coletivo, o reconhecimento do território e suas potencialidades, para a construção de novas relações interpessoais e pedagogias escolares. Parte das ações já adotadas por países e regiões que começam (ou já começaram) a retornar as atividades presenciais estão relacionadas à manutenção do distanciamento social nas escolas, práticas de higiene e uso de máscaras protetoras individuais. Se anteriormente ao cenário de pandemia o número de profissionais de educação que sofriam de depressão, ansiedade ou estresse já era bastante elevado, hoje vemos esses índices serem multiplicados, em face ao contexto vivenciado e um futuro de incertezas. O paradigma da construção dos direitos constitucionais requer neste momento novas investidas e fortalecimento de ações e estratégias. O direito ao bem viver digno, em termos de moradia, saúde, educação, segurança e liberdade, afetam diretamente na promoção da saúde mental. Garantir condições de vida e ambientes que apoiem a saúde mental e permitam às pessoas adotar e manter estilos de vida saudáveis, sãoimprescindíveis neste momento, requerendo estratégias planejadas e intersetoriais, na construção de políticas públicas que garantam direitos dignos de viver. 22 ⮚ REFERÊNCIAS BRASÍLIA, F. Cartilhas reúnem recomendações em saúde mental na pandemia – Fiocruz Brasília. Disponível em: <https://www.fiocruzbrasilia.fiocruz.br/cartilhas-reunem-informacoes-e- recomendacoes-em-saude-mental-na-pandemia-de-covid-19/>. Acesso em: 10 jul. 2023. Organização Pan-Americana da Saúde. Saúde nas Américas+, Edição de 2017. Resumo do panorama regional e perfil do Brasil. Washington, D.C.: OPAS; 2017. BAKES, Marli Terezinha Stein et al. Conceito de saúde e doença ao longo da história sob o olhar epidemiológico e antropológico. Revista Enfermagem UERJ. Rio de Janeiro: UERJ, v. 17, n. 1, p. 111-117, 2009. Manual de salud mental para profesionales del ámbito educativo. Programa Espacio Joven. Barcelona: Centre d’Higiene Mental Les Corts; 2012. GAMBA, M. A.; TADINI, A. C. Processo Saúde-Doença, 2010. (mimiografado). Fala da Professora Disponível em: http://www.academia.org.br/academicos/ariano-suassuna/textos-escolhidos Giacomoni Claudia Hofheinz. Bem-estar subjetivo: em busca da qualidade de vida. Temas psicol. [Internet]. 2004 Jun [citado 2020 Jun 23] ; 12( 1 ): 43-50. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413- 389X2004000100005&lng=pt. Siqueira, Mirlene Maria Matias, & Padovam, Valquiria Aparecida Rossi. (2008). Bases teóricas de bem-estar subjetivo, bem-estar psicológico e bem-estar no trabalho. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 24(2), 201- 209. https://doi.org/10.1590/S0102-37722008000200010 Jornal El Pais. Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2019/03/20/actualidad/1553082330_410487.html Saúde Mental e Atenção Psicossocial em situações de pandemia COVID-19. Coordenação-Geral de Maria Fabiana Damásio Passos. Brasília: [Curso na modalidade a distância]. Escola de Governo Fiocruz Brasília - 2020. A importância de acolher os professores na volta às aulas presenciais. Disponível em: <https://educacaointegral.org.br/reportagens/importancia-de- acolher-os-professores-na-volta-as-aulas-presenciais/>. Acesso em: 10 jul. 2023. http://www.academia.org.br/academicos/ariano-suassuna/textos-escolhidos http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-389X2004000100005&lng=pt http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-389X2004000100005&lng=pt https://doi.org/10.1590/S0102-37722008000200010 https://brasil.elpais.com/brasil/2019/03/20/actualidad/1553082330_410487.html 23
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