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MEDCLUB © 2022 Todos os direitos reservados www.med.club RESUMO CONSTIPAÇÃO file:///C:/Users/tmnet/Downloads/www.med.club http://www.med.club CONSTIPAÇÃO Página 2 CONSTIPAÇÃO 1 INTRODUÇÃO 1.1 OBJETIVOS • Definir constipação e apresentar seus dados epidemiológicos e fatores de risco • Dominar a avaliação diagnóstica de pacientes constipados • Manejar a constipação de maneira farmacológica ou não • Identificar pacientes candidatos à condução com especialista 1.2 CONCEITOS BÁSICOS 1.2.1 DEFINIÇÃO E SINTOMAS • Não há definição universal para constipação − Isso pode subestimar a real prevalência da constipação, já que não há uma definição oficial. • Definições: − Quantitativa: frequência de evacuação <3x na semana − Qualitativa: fezes endurecidas ou esforço excessivo para evacuar, manipulação digital para facilitar a evacuação, sensação de esvaziamento incompleto ou de obstrução 1.2.2 FATORES DE RISCO • Envelhecimento − À medida em que o indivíduo envelhece, o funcionamento do trato gastrointestinal (TGI) vai ficando mais lento, o plexo mioentérico gradativamente perde força. • Baixa ingesta hídrica • Sedentarismo • Baixo consumo de fibras 1.3 EPIDEMIOLOGIA • Até 30% de toda a população, em toda vida, vai apresentar constipação em qualquer faixa etária. • De maneira geral, mulheres são mais acometidas. A proporção é de 3:1. Essa proporção vai se equilibrando à medida em que a idade aumenta. • A depender do cenário clínico, a prevalência de constipação pode mudar: pacientes institucionalizados, multimórbidos, hospitalizados, polimedicados, têm risco maior de constipação. 2 AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA 2.1 PARÂMETROS • O diagnóstico de constipação é eminentemente clínico. • Parâmetros: − Doenças associadas − Sinais de alarme − Drogas associadas − Exame físico 2.1.1 DOENÇAS ASSOCIADAS • A constipação pode ser primária, devido a questões do envelhecimento, baixa ingesta hídrica, sedentarismo e baixo consumo de fibras. Porém, não é incomum que o paciente tenha constipação secundária a uma doença de base. • As doenças associadas à constipação podem ser divididas em três vertentes: − Mecânicas ✓ Câncer colorretal: principalmente quando é uma constipação de início recente, com mudança súbita no padrão habitual de evacuações. ✓ Estenose de cólon, reto ou ânus: principalmente nas doenças inflamatórias intestinais. ✓ Doença hemorroidária, retocele ✓ Alterações uroginecológicas: por exemplo, distopias genitais. − Neurológicas ✓ Doença de Parkinson ✓ Esclerose múltipla ✓ AVC ✓ Lesão medular − Metabólicas ✓ DHE: hipercalcemia, hipocalemia e hipomagnesemia ✓ Hipotireoidismo ✓ Uremia ✓ Neuropatia diabética http://www.med.club CONSTIPAÇÃO Página 3 2.1.2 DROGAS ASSOCIADAS • Há quatro grupos de drogas principais que podem estar envolvidas na constipação: − Anticolinérgicos ✓ Anti-histamínicos: principalmente os de primeira geração ✓ Tricíclicos: como a amitriptilina ✓ Antiespasmódicos: como o butilbrometo de escopolamina ✓ Antipsicóticos: principalmente os de primeira geração, como a levomepromazina e a clorpromazina Obs.: a acetilcolina é um facilitador do esvaziamento gastrointestinal. Nesse sentido, um efeito anticolinérgico favorece a constipação, sendo esse efeito envolvido também com outras manifestações como retenção vesical, boca seca, delirium, desorientação. − Suplementos e antiácidos ✓ Cálcio: hipercalcemia está envolvida na constipação ✓ Ferro: suplementação com sulfato ferroso, por exemplo, pode estar envolvida com constipação ✓ Hidróxido de alumínio (antiácido): o uso hidróxido de alumínio está relacionado com constipação, porém é importante lembrar que o hidróxido de magnésio tem efeito oposto. − Anti-hipertensivos ✓ Diuréticos: favorecem a perda de volume, e consequentemente a constipação. ✓ Bloqueadores do canal de cálcio: por diminuírem o tônus muscular do cólon, podem gerar constipação − Analgésicos ✓ Opioides: possuem associação importante com constipação, frequentemente sendo necessário associar um laxante para amenizar esse efeito. Isso acontece, principalmente, em quem precisa usar opioide por tempo prolongado. ✓ AINES 2.1.3 SINAIS DE ALARME • Observar presença de sinais de alarme! • A presença de sinais de alarme pode corroborar com a hipótese de câncer • Sinal de alarme = colonoscopia • Principais sinais de alarme: − Perda de peso significativa − Anemia, hematoquezia ou pesquisa de sangue oculto positiva − Constipação refratária ou mudança recente de hábito intestinal − Histórico familiar de câncer de cólon: principalmente parentes de 1º grau 2.1.4 EXAME FÍSICO • No exame físico, é importante levar em consideração doenças associadas. Por exemplo, buscar alterações relacionadas à doença de Parkinson, como tremores nas mãos, ou, pelo exame abdominal, detectar alteração que corrobore para a suspeita de um tumor. • Na anamnese, é importante estar atento para a escala de Bristol: Figura 1 – Escala de Bristol. Fonte: https://www.jaba- recordati.pt/pt/areas- terapeuticas/gastroenterologia/obstipacao-prisao-de- ventre − A escala de Bristol é uma classificação que tem como objetivo avaliar a forma e a consistência das fezes − O paciente deve observar a aparência das fezes, pois isso ajuda a classificá-las na escala de Bristol − Quanto menor a Escala de Bristol, maior a tendência à constipação. − A maior parte dos indivíduos constipados apresenta Bristol Tipo 1 ou 2. http://www.med.club https://www.jaba-recordati.pt/pt/areas-terapeuticas/gastroenterologia/obstipacao-prisao-de-ventre https://www.jaba-recordati.pt/pt/areas-terapeuticas/gastroenterologia/obstipacao-prisao-de-ventre https://www.jaba-recordati.pt/pt/areas-terapeuticas/gastroenterologia/obstipacao-prisao-de-ventre https://www.jaba-recordati.pt/pt/areas-terapeuticas/gastroenterologia/obstipacao-prisao-de-ventre CONSTIPAÇÃO Página 4 • Exame retal − Não se omitir de fazer − Conversar com o paciente sobre a importância do exame − Exame simples, sendo necessários: ✓ Luva de procedimento ✓ Lubrificante ✓ Anestésico local, caso paciente tenha alguma dor na região ✓ Papel toalha ✓ Fonte de luz • Toque retal − Há várias posições que o paciente pode assumir, mas uma comumente usada é o decúbito lateral esquerdo, com flexão da perna e da coxa − Explicar para o paciente tudo o que vai fazer durante o exame − Passos a serem seguidos: ✓ Colocar luvas ✓ Ter bom foco de luz disponível ✓ Começar com inspeção, para avaliar se há alguma lesão externa como fissuras, hematomas, condilomas, trombose hemorroidária, que podem inviabilizar o toque retal em razão de dor ✓ Pedir que o paciente faça a manobra de valsava para identificar a existência de algum prolapso ✓ Caso não haja nenhuma alteração que inviabilize o toque, deve-se prosseguir com o exame ✓ Sempre comunicar ao paciente o que está fazendo ✓ Afastar os glúteos do paciente e usar lubrificante ✓ Pedir que o paciente faça “força para baixo”, porque isso facilita a introdução do dedo no ânus com menos desconforto ✓ Inicialmente, o dedo passa pelo canal anal, onde será sentida uma certa resistência ✓ Após isso, chega-se ao reto ✓ Deve-se palpar toda a parede do reto (360°) buscando endurecimento, nodulações, flutuações e outras alterações ✓ Afastando um pouco o dedo, pode-se também pedir que, durante o toque, o paciente realize novamente a manobra de valsava para que o tônus do esfíncter anal seja avaliado ✓ Nos pacientes homens, ao afastar o dedo, deve-se girar anteriormente o dedo para palpar a próstata, buscando informações sobre consistência, tamanho, se tem irregularidade ou nodulação 3 EXAMES LABORATORIAIS E DE IMAGEM • Laboratoriais− Hemograma, ureia, creatinina, cálcio, potássio, magnésio, glicemia, hemoglobina glicada, função tireoidiana • Colonoscopia − Sinais de alarme presentes • Imagem abdominal − Pode ser útil na suspeita de obstrução − Fecalomas como achados incidentais Figura 2: Fecaloma, imagem em “miolo de pão”. 4 TRATAMENTO • O tratamento da constipação se subdivide em: − Não farmacológico − Farmacológico − Cirúrgico/outros 4.1 TRATAMENTO NÃO FARMACOLÓGICO • Hidratação e exercícios físicos − Não possuem evidência robusta para tratar constipação http://www.med.club CONSTIPAÇÃO Página 5 − Prescreva mesmo assim, por causa de outros benefícios que hidratação e exercício trarão para o paciente • Hábito intestinal − Horários regulares: horários regulares de evacuação podem ajudar na constipação. É importante ir ao banheiro quando os movimentos do intestino são mais frequentes, como no momento pós-prandial, em que o reflexo gastrocólico está mais exacerbado. • Postura: − A postura adequada para evacuação se dá quando o ângulo formado pelo corpo gira em torno de 35°, como o ideal e o natural na figura abaixo. − Geralmente, consegue-se esse ângulo quando o indivíduo, sentado no vaso, utiliza um banquinho sob os pés ou quando está de cócoras. Figura 3: Postura adequada para evacuação. Disponível em: https://fisioglobal.pt/posicao-correta-para-evacuar-o-que- deve-saber/ − Isso acontece porque, quando sentado em um ângulo de 90° graus, o músculo pubo-retal do indivíduo exerce uma constrição no na via de saída (canal anal e reto), dificultando a evacuação. − Quando indivíduo está sentado de cócoras ou no vaso com auxílio de um banquinho, com ângulo mais agudo (35°), o músculo anorretal não faz essa constrição, então o indivíduo evacua com mais facilidade. − Orientar os pacientes que estão lidando com constipação sobre a postura adequada na hora de evacuar é muito importante. • Dieta rica em fibras − O objetivo da ingesta de fibras é aumentar o volume das fezes e o esvaziamento colônico. − Lembrando que o aporte hídrico deve ser adequado, visto que muita fibra sem líquido pode favorecer formação de fecaloma. − Devem ser ingeridos em torno de 20-25g de fibra alimentar por dia. − Onde as fibras são encontradas: ✓ Leguminosas: feijão, ervilha, lentilha, grão de bico, soja em grão ✓ Grãos, farelos e farinhas integrais: arroz, linhaça, aveia, cevada, milho, trigo ✓ Frutas frescas e vegetais − Orientar paciente a se consultar com nutricionista para acompanhamento individualizado. − Lembrar que fibra=flatulência! Orientar paciente sobre possível aumento da flatulência, porém com o benefício de melhora na constipação. 4.2 FARMACOLÓGICO 4.2.1 LAXANTES ORAIS − Podem ser classificados quanto ao mecanismo de ação: ✓ Formadores de bolo fecal (fibra sintética) ✓ Osmóticos: utilizam mecanismos osmótico para tornar as fezes mais líquidas ✓ Estimulantes (irritativos): irritam o plexo mioentérico e aumentam a peristalse ✓ Emolientes: lubrificam as fezes, tendo como principal representante o óleo mineral. Nos idosos, principalmente os disfágicos, não é boa opção, pois, se o óleo mineral for broncoaspirado, pode levar à pneumonia lipídica. ATENÇÃO Probióticos podem até ser eficientes em caso de diarreia, mas não são opção terapêutica nos casos de constipação 4.2.1.1 LAXANTES ORAIS FORMADORES DE MASSA • Início de ação: 12-72h • Principais drogas, nomes comerciais e prescrição: − Psyllium: ✓ Metamucil: uso oral (interno) – 1 sachê + 240ml de água 1vez/dia ✓ Plantaben: uso oral (interno) – 1 sachê + 150ml de água 1-3 vezes/dia − Policarbofila cálcica: ✓ Benestare 625mg – 1-2 comprimidos/dia 4.2.1.2 LAXANTES ORAIS OSMÓTICOS • Início de ação: 48h • Podem ser considerados os laxantes orais mais efetivos e com menos efeito colateral http://www.med.club CONSTIPAÇÃO Página 6 • Principais drogas, nomes comerciais e prescrição: − Lactulose: ✓ Lactulona: uso oral (interno) – iniciar com 10- 30ml/dia (2-3 tomadas) − PEG (polietilenoglicol): ✓ Muvinlax sachês: iniciar com 1 sachê em dias alternados, diluído em 125ml de água, chá ou suco • Observação: a lactulose e o PEG possuem eficácia semelhante. No entanto, aparentemente, o PEG produz menos cólica, distensão abdominal e flatulência quando comparado à lactulose. • O objetivo é utilizar o laxante pelo menor tempo possível, sempre buscando otimizar as medidas não farmacológicas. 4.2.1.3 LAXANTES ORAIS ESTIMULANTES (IRRITATIVOS) • Início de ação: 6-12h • Possuem tempo de ação mais rápido e menor preço quando comparados a outros laxantes. • Devem ser usados com cautela, pois podem danificar o plexo mioentérico a longo prazo. • Utilizar só em caso de refratariedade a outras medicações. • Principais drogas, nomes comerciais e prescrição − Bisacodil: ✓ Lactopurga e Ducolax: 1-2 comprimidos ao deitar (dose máxima: 4 comprimidos/dia) − Senne ✓ Tamarine: 1-2 cápsulas à noite/ Geleia - 1 colher (5g) 1 vez ✓ Almeida Prado 46: 1-2 comprimidos à noite • O uso é feito à noite porque, como o tempo de início de ação é de 6-12h, se feito de dia poderia acordar o paciente à noite para evacuar e atrapalharia o sono 4.2.2 LAXANTES VIA RETAL • Há três mais frequentemente usados: − Supositório de glicerina ✓ Glicerin (nome comercial): há para adultos e para crianças, mas a versão infantil pode ser utilizada em pacientes idosos mais frágeis − Fleet enema ✓ Menor volume ✓ Para aplicar, utilizar luvas e lubrificante ✓ Fleet com introdutor conectado a ele ✓ O local deve estar lubrificado e o introdutor do fleet também ✓ Introduzir o fleet no ânus − Solução glicerinada 12% ✓ Maior volume ✓ Para aplicar, usar luvas, lubrificante e equipo ✓ Solução de glicerina deve ser injetada com auxílio de sonda anal ✓ Afastar as nádegas e lubrificar o local ✓ Inserir a sonda no ânus e a aplicação pode ser feita gota a gota com auxílio de equipo para diminuir chance de lesão na mucosa • Todos eles têm em comum: − Início de ação rápido (15-60 min) − Risco de lesão de mucosas anal e colônica, principalmente em uso repetido. 4.3 FECALOMA • Como proceder: − Desimpactação manual − Laxantes via retal • Essa combinação costuma funcionar para desobstrução • Se o fecaloma for alto, a desimpactação manual não funcionará, então o que pode ser feito é: − Associar 2L da solução de PEG por 1-2 dias • Às vezes, o paciente pode cursar com complicações: obstrução, perfuração, ruptura de parede, pneumoperitônio, sepse − Nesses casos, o TRATAMENTO É CIRÚRGICO. 5 QUANDO ACIONAR O ESPECIALISTA • Paciente aumentou ingesta hídrica e ingesta de fibras alimentares ou sintéticas, mas não houve resposta • Laxativo osmótico ou estimulante que, ainda assim, não induziram resposta • Associação com classe medicamentosa não usada também não gerou resposta • Se, mesmo assim, não houve melhora, acionar coloproctologista, pois pode ser um caso cirúrgico http://www.med.club CONSTIPAÇÃO REDES SOCIAIS instagram.com/medclub.oficial/ youtube/medcluboficial contato@med.club www.med.club INSTITUCIONAL EMR – Eu Médico Residente Ensino Ltda © 2022 Todos os direitos reservados. 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