Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
A COMPLEXIDADE DOS ESTUDOS CULTURAIS FRENTE ÀS EXIGÊNCIAS CRÍTICAS METODOLÓGICAS EM CURSO 1 Danielle Balieiro dos Santos 2 Resumo Permeado por revisões teórico-metodológicas, os estudos culturais se inscrevem em meio às demarcações temporais que incidem em tentativas de classificação para além de uma modernidade, entre pós e contemporâneo. Pautado nessas discussões, este artigo tem como objetivo discutir a dimensão complexa dos estudos culturais na contemporaneidade em torno dos processos teóricos metodológicos, bem como refletir acerca da necessidade de se abarcar interpretações dos signos socioculturais impressos a partir das transformações do contexto histórico-cultural e das constantes insurgências de narrativas representativas. Como processo metodológico, foram utilizadas as técnicas de pesquisa bibliográfica e anotações realizadas no decorrer da aula. O estudo aponta que os eixos cultura, identidade e relações de poder convocam ampliações discursivas, tendo em vista a mutabilidade dos conceitos pelo próprio caráter relativo das sociedades em processos de embates das diferenças e nos intermitentes contatos fronteiriços. Palavras-chaves: Estudos culturais. Complexidade. Hibridação cultural. Abstract Permeated by theoretical-methodological reviews, cultural studies are part of the temporal demarcations that focus on attempts to classify beyond a modernity, between post and contemporary. Based on these discussions, this article aims to discuss the complex dimension of contemporary cultural studies around theoretical methodological processes, as well as to reflect on the need to embrace interpretations of the sociocultural signs printed from the transformations of the historical and cultural context and constant insurgencies of representative narratives. As a methodological process, bibliographic research techniques and annotations were used throughout the class. The study points out that the axes of culture, identity, and power relations call for discursive expansions, in view of the mutability of concepts by the relative character of societies in processes of conflict of differences and intermittent border contacts. Keywords: Cultural studies. Complexity. Cultural hybridization. 1 Artigo apresentado à Disciplina Cultura, Política e Identidade, do curso de Especialização em Estudos Culturais e Políticas Públicas, da Universidade Federal do Amapá – UNIFAP, sob a orientação e avaliação da professora Dra. Gláucia Maria Tinoco Barbosa. 2 Pós graduanda no curso de Especialização em Estudos Culturais e Políticas Públicas, da Universidade Federal do Amapá – UNIFAP, Brasil. Bacharel e Licenciada em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Amapá – UNIFAP, Brasil. E-mail: daniellesantos1518@gmail.com. mailto:daniellesantos1518@gmail.com 2 1. Introdução Baseado nas leituras referentes à disciplina Cultura, Política e Identidade, e mais especificamente ao módulo que se refere aos estudos culturais em torno das críticas teórico- metodológicas, este artigo se propõe a destacar a importância da complexidade dimensionada aos estudos culturais na contemporaneidade diante de insurgências criticas em dialogo com as disparidades socioculturais, tendo por objetivos discutir a dimensão complexa dos estudos culturais na contemporaneidade em torno dos processos teóricos metodológicos, bem como refletir acerca da necessidade de se abarcar interpretações dos signos socioculturais impressos a partir das transformações do contexto histórico-cultural e das constantes insurgências de narrativas representativas. Para alcançar os objetivos estabelecidos, utilizou-se como processo metodológico para o estudo o uso de técnica de pesquisa bibliográfica, composta em especial pelas obras disponíveis na plataforma do curso e algumas que dialogam com as discussões, tais como as Homi Bhabha (O local da cultura, de 1998), Néstor Canclini (Culturas Híbridas: estratégias para entrar e sair da modernidade, de 1998), Stuart Hall (A centralidade da cultura: notas sobre as revoluções culturais do nosso tempo, de 1997) dentre outras acessíveis para a construção da reflexão. Para Além disto, o estudo apresenta entendimentos articulados às anotações resultantes de discussões ocorridas em sala de aula, consciente que o decurso dos estudos possibilitará ampliações dos anseios de se compreender esse campo de reflexão em constante resignificação. A divisão pincela os entendimentos articulados às discussões em sala de aula, consciente que o decurso dos estudos possibilitará ampliações dos anseios de se compreender esse campo de reflexão em constante resignificação. Dessa forma, a primeira parte se direciona a uma breve observação das transformações dos estudos culturais com base nas discordâncias e revisões teóricas metodológicas muito latentes no fluxo temporal da contemporaneidade onde as anunciações das diversidades culturais, identitárias, grupais de uma minoria se transcreve as concepções universalistas e as condições homogeneizadoras, impondo ou se resgatando das alienações autorepresentativas influenciadas pelo imaginário europeu. Contribuindo assim, para a introdução de amplas discussões dos significados aquém ao multiculturalismo, tendo em vista o movimento contínuo dos processos de interação cultural que conduzem, no transpassar e regressar literário e histórico conjuntural, as bases para a sustentação de teorias e representatividades sociais. 3 A segunda parte condensa a problemática dos reflexos dessa ampliação epistêmica, que abrangem os significados de cultura e a questão da identidade, uma vez reconhecidos como os aspectos norteadores de analise dos estudos culturais. A complexidade se caracteriza por ausências de limitações interpretativas, pois o processo de subjetivação influencia na construção das significações. A terceira parte conduz às interpretações das relações de poder resultante de estratégias viáveis para amparar as compreensões dos Estudos culturais em meio às complexidades significativas (conceituais). Um aspecto que se revela persistente na história e que viabiliza o sentido das mobilizações socioculturais das diferenças, um aporte reincidente para a materialização das teorias pós visionais. 2. Estudos culturais e sua dimensão complexa na contemporaneidade Inicialmente às aparições dos estudos culturais, os ambitos de análise metodológica dos fenômenos culturais se preocupavam com a conversão adequada das significações relevantes às diversidades culturais dos povos em torno da cultura ocidental europeia, sem, contudo, problematizar tais diversidades, em suma complexas e multifacetadas, contrastantes às pretensões explicativas. A própria conceituação dos estudos culturais recai em complexidades de significação, uma vez que os repertórios curriculares que orientam seu reconhecimento acadêmico e cientifico se apresentam versáteis que qualquer tentativa de codificá-lo enquanto área e objeto de conhecimento presume um risco à característica interdisciplinar dos quais se intercambiam, tendo em vista as características mutáveis da sociedade condizente aos seus processos históricos e diferentes interpretações simbólicas. O que requer, conforme Jhonson, Escosteguy e Schulman (2007) um exercício constante do olhar intelectual frente aos repertórios de realidades diversas e influenciáveis ao processo de significações e construções epistêmicas. Essas complexidades desafiantes aos ambitos dos estudos culturais se mostram latentes no lapso temporal que usualmente se entende por contemporaneidade, pois não somente se revela pelas constantes aparições dos movimentos sociais endossados por lutas políticas, como pelas necessidades cada vez mais solitárias de ancorar perspectivas sistêmicas diante das crescentes incertezasresultante do amontoado dos diagnósticos da pretensa critica anunciadora de uma era pós ou ultramoderna, que desamparam as significações anunciantes da passagem ou nascimento de um contexto. Uma incompletude que segundo Latour (1994) 4 não finda com a transitoriedade e pretensão das ciências ditas pós-modernas, pois somente contorna essas lacunas ainda insustentáveis dos sujeitos desamparados pela história. Isso não significa que os processos de racionalização devam se prospectar como acumulo desordenado de embates teóricos, pois tais incertezas impulsionam a criação de condições epistemológicas amadurecidas do olhar sob os dinamismos das narrativas sociais, diferentemente de concepções universalistas. Convergente a estas questões as criticas pós- coloniais ou movimento de releituras dos projetos modernistas apontam lacunas teóricos hegemônicas, propondo revisões teóricas metodológicas na mesma trajetória fragilizada da imagem cognoscível do pesquisador. 3. Complexidades refletidas nos conceitos de cultura e identidade Dessa forma, situada como ponto de partida para as reflexões dos estudos culturais, a cultura que se revela como constitutiva de praticas e expressões da dimensão representativas se torna central nos debates contemporâneos (HALL, 1997). Sua posição de importância delineadora se amplia, devido às significações revisionadas pelas teorias criticas de diferentes áreas do conhecimento, consciente das multifaces da sociedade e aberturas interpretativas substantivas e empíricas contextuais, que se expandem para diversos ambitos. A hibridação semântica do termo cultura serve assim, como silogismo demonstrativo da complexidade de sua significação, distante das inflexíveis conceituações, não desmerecedoras, advindas das ciências humanas e antropológicas inicialmente precursoras de reflexões esquemáticas de investigação. Dessa maneira, a hibridação como termo estratégico que revela processo do pensar pós-moderno foi utilizado por Canclini (1998) no sentido de iluminar esses processos de produção identitárias, principalmente ao se deslocar o olhar para os processos culturais acometidos na América Latina, tendo em vista as discussões eurocêntricas em torno de concepções polarizadas, como as comparativas de uma cultura inferior a uma superior, ou ao que fundamenta uma sociedade atrasada cultural e socioeconomicamente. Para Canclini (1998) a cultura e expressões socioculturais se encontram em horizontes ampliados que requerem olhares criativos reveladores das particularidades das sociedades, suas construções subjetivas em constante comunicação com os processos difusos de uma globalização. Essas revelações particulares de uma sociedade fracionada, quanto ao que compete suas praticas econômicas, políticas e culturais diversas a uma totalidade de mundo, contribui para o pensamento sistêmico da complexidade das diversidades socioculturais, pois 5 as figurações das desigualdades sociais contornam lacunas culturais que problematizam as manifestações de resistências culturais e do que se compete o direito de acessibilidade cultural ou econômica. Dessa maneira, a identidade como objeto de interesse dos estudos da cultura, se apresenta na mesma intensificação das complexidades, frente às incertezas de significações teórico metodológicas em curso no contexto histórico. Permeiam significações conjunturais, psicológicas e filosóficas, conduzem às leituras de demarcações espaciais, pois de modo geral, mas não simplista, expressam a relação/atuação do homem em sociedade e seus cíclicos processos de subjetivação e representação de uma realidade. Porém, vale ressaltar que se apresentam concomitante aos referenciais flutuantes e constantes aspectos de deslocamento da modernidade (BAUMAN, 2005). Os processos de subjetivação circunscritos a uma totalidade (realidade) contornam críticas cada vez mais complexas sob os processos de exclusão demarcados pelas teorias habilitadas por heranças de demarcações hegemônicas. Esse pensamento abissal conforme Santos (2009) institui barreiras que impede a renovação dos saberes, que inviabilizam projetos epistêmicos, além de legitimar os processos de exclusão social que tornam os discursos sobre o respeito das diferenças socioculturais superficiais. 4. Aspectos norteadores dos estudos culturais sobre os delineamentos históricos: as relações de poder As dificuldades de procedimentos interpretativos dos estudos culturais permitiu encontrar estratégias de compreensão das diversidades emergentes, o que conduziu assim as revelações de relações de poder marcantes nas disparidades intergrupais e identitárias, dada a ampliação das interpretações pós-estruturalistas uma vez reveladoras dos embates conjunturais constantes da história. Essas ampliações das representatividades identitárias conforme Fraser (1999) dialoga com as interpretações criticas do marxismo, uma vez que estão circunstanciadas nas intenções políticas e sociais mobilizadoras de uma transformação da realidade excludente, onde os discursos sociais que informam os diferentes movimentos sociais ampliam a necessidade de estudos. A partir dessa perspectiva, conforme Quijano (2005) as relações de poder historicamente preservam as relações de dominação social a nível mundial, induzindo visões de mundo ainda sob o mote universalista, o que condensa as revoltas epistemológicas no 6 sentido de propor releituras a partir das desconstruções teóricas com vias a uma independia intelectual, para além das fronteiras teóricas sob os deslocamentos desafiadores das narrativas da diferença (BHABHA, 1998). Considerações finais Ao buscar amparos nas significações historicamente temporárias inscritas na contemporaneidade, percebeu-se que os embates teóricos epistêmicos não se esgotam, pela indefinição de conceitos e do próprio componente curricular que o determine, tendo em vista a dissolução de narrativas contextuais da sociedade, que de certa forma delineou os objetos de análise dos estudos culturais. O caráter complexo das reflexões se apresenta de maneira permanente e exigível de adaptabilidades contextuais sensíveis, reforçando, assim, a emergência de olhares cada vez mais multidisciplinares que reflitam a maneira como a própria ciência desenvolve suas visões da realidade. Estabilizações que tendem a amadurecer os campos dos estudos culturais, diferentemente de idealizações hegemônicas iniciadas historicamente sobre a cultura, por meio de delimitações binárias que os discursos coloniais incutiram por muito tempo como valores e concepções epistêmicas fechadas, ao que na contemporaneidade se ampliaram em decorrência das anunciações das diversidades culturais, principalmente a partir das criticas historiográficas pós-coloniais que deram margem a uma dimensão política e problematizável das afirmações constitutivas das diferenças identitárias inscritas na historia. Desta maneira, os estudos culturais se inscrevem na atualidade em meio às demarcações temporais que incidem em retomar as tentativas de classificação para além de uma modernidade entre pós e contemporâneo, permeados por revisões teórico-metodológicas diante de sua importância cada vez mais necessária em propor reflexões cada vez mais bem elaboradas. Referências BAUMAN, Z. Identidade. Trad. Carlos Albert Medeiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2005. BHABHA, Homi K. O local da cultura. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1998. 7 CANCLINI, Néstor García. Culturas Híbridas: estratégias para entrar e sair da modernidade. Trad. Ana Regina Lessa e Heloísa P. Cintrão. 2. Ed. São Paulo: Edusp, 1998. FRASER, N. Um futuro para o marxismo. Trad. Dina Lida Kiroshita. Revista Novos Rumos, ano 14, n. 29, 1999. HALL, Stuart. A centralidade da cultura: notas sobre as revoluções culturais do nosso tempo. Educação & Realidade, Porto Alegre, v.22, n. 2, p. 15-46, jul./dez. 1997. JOHNSON, Richard; ESCOSTEGUY, Ana Carolina; SCHULMAN, Norma. O que é, afinal, estudos culturais? Trad. Tomaz Tadeu da Silva. Ed. 2. Belo Horizonte: Ed. Autêntica, 2007. LATOUR, Bruno. Jamais fomos modernos: ensaio de antropologia simétrica. Trad. Carlos Irineu da Costa. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1994. QUIJANO, A. Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina. In: LANDER, Edgardo (org). A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas latinoamericanas. Colección Sur Sur, CLACSO, Ciudad Autónoma de Buenos Aires, Argentina. Setembro, 2005. p. 107-130. SANTOS. B. Para além do pensamento abissal: das linhas globais a uma ecologia dos saberes. In: SANTOS, B. S.; MENEZES, Maria P. (Org.). Epistemologias do Sul. Coimbra: Livraria Almedina, 2009, p. 30-65.
Compartilhar