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1 SÍNDROME DE DOWN E INCLUSÃO AO MERCADO DE TRABALHO 1 Sumário NOSSA HISTÓRIA .................................................................................. 2 INTRODUÇÃO ......................................................................................... 3 CAPÍTULO I SÍNDROME DE DOWN ...................................................... 6 HISTÓRICO DA SÍNDROME ............................................................... 6 Definição de síndrome de Down .............................................................. 8 Figura 1: Cariograma com 47 cromossomos sendo três de número 218 Figura 2: Erro na meiose na Trissomia do cromossomo 21 ............... 10 Características da pessoa com Síndrome de Down .............................. 11 Educação Inclusiva e potencialidades da pessoa com Síndrome de Down ......................................................................................................................... 13 Capitulo ll SÍNDROME DE DOWN E A INCLUSÃO SOCIAL ................ 16 DIRETRIZES NACIONAIS PARA A EDUCAÇÃO ESPECIAL ........... 16 A ONU e as conferências mundiais ....................................................... 18 A acessibilidade da pessoa com Síndrome de Down no mercado de trabalho 23 Inclusão no mercado de trabalho ........................................................... 26 Orientações para contratar pessoas com Síndrome de Down ............... 27 REFERÊNCIAS ..................................................................................... 31 2 NOSSA HISTÓRIA A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 3 INTRODUÇÃO A proporção de crianças com Síndrome de Down (SD) nas escolas de ensino regular tem aumentado na última década, se comparada com as escolas especiais. Um dos estudos analisados, conduzido na Inglaterra e País de Gales, que pesquisou 3000 crianças com SD, com idade entre cinco e 16 anos, mostrou aumento de 4 para 38% na inclusão destas crianças, entre os anos de 1983 e 1996 (CUCKLE, 1999). A este fato, o autor atribuiu duas razões: maior número de crianças com SD tem entrado com cinco ou seis anos na escola primária e lá tem permanecido, e que a porcentagem de crianças incluídas varia muito de acordo com a política local. Na Holanda, por exemplo, a falta de oportunidade para introduzir a criança em uma escola regular ocorre porque a área geográfica em que a família reside não oferece escola (CUCKLE, 1999), ou ainda porque as escolas primárias não são obrigadas a aceitar crianças com atraso no desenvolvimento, o que torna a inclusão seletiva (GRAAF, 2002). Na Nova Zelândia, receber o estudante com SD em uma escola regular é prática aceitável há mais de dez anos e, conforme apontam dados de pesquisa, os alunos com necessidades especiais que estudam em uma escola regular, conseguem se engajar melhor em um grupo social, quando comparados aos que estudam em classes especiais (HOLDEN; STEWART, 2002). Nesse mesmo sentido, resultados de outro estudo (BUCKLEY; BIRD, 1998) evidenciaram que, mesmo aquelas crianças com de SD, ao apresentarem um nível maior de dificuldade, obtiveram melhora quando incluídas na escola regular. Entretanto, os autores alertam que uma mesma criança inserida em diferentes contextos de inclusão, caminha para o sucesso de modos diversos, pois muitas escolas possuem formas variadas de lidar com estas crianças (BUCKLEY; BIRD, 1998). 4 Nas escolas inclusivas há maior consciência das necessidades individuais de cada criança, permitindo maior flexibilidade do seu currículo e avaliação da diversidade, além de preparar o jovem para viver, brincar e para o trabalho em sociedade (BUCKLEY; BIRD, 1998). Para o sucesso da inclusão da criança, é necessário considerar alguns componentes essenciais: ambiente estruturado e adaptado às suas necessidades; abordagem de ensino que facilite seu aprendizado e adaptação curricular, fatores que não devem ser utilizados unicamente para as crianças com SD, mas para todas que necessitem de um currículo adequado à sua individualidade (HOLDEN; STEWART, 2002). A escola deve investir no treinamento de seus profissionais, a fim de capacitá-los a lidar com a criança com SD; além da equipe, a escola precisa preparar também os colegas de classe (BUCKLEY; BIRD, 1998). Porém, vê- se que o que precede a todos estes componentes são a voluntariedade e o compromisso da instituição em aceitar estas crianças (CUCKLE, 1999). O ambiente escolar deve ser o local propício para todas crianças se desenvolverem social, emocional e academicamente (BUCKLEY; BIRD, 1998). É importante deixar claro que a síndrome de Down não é uma doença e ninguém pode falar, portanto, que a criança vai sarar com tratamentos específicos. A Síndrome de Down é uma condição de vida do indivíduo, um estado biológico alterado, em decorrência de anormalidades cromossômicas. Assim, quem porta essa alteração, sempre terá essa síndrome. (MARTINS, 2002). Segundo Voivodic (2004) para favorecer a educação da criança com Síndrome de Down, é importante o trabalho com os processos cognitivos: percepção, atenção, memória e organização de itinerários mentais. Para Martins (2002) a educação da criança com SD, portanto, abrange desde a estimulação essencial, passando pela educação ministrada na escola, até chegar ao treinamento profissionalizante, visando à sua inserção num trabalho produtivo, dentro de um ambiente o menos restritivo possível. O trabalho é uma mudança muito importante na vida de qualquer jovem, é uma transição do mundo infantil para o mundo adulto, no qual o trabalhador 5 recebe grandes responsabilidades, ou seja, tem deveres a cumprir, mas também possuem direitos garantidos em lei que devem ser cumpridos. Diante disto buscamos os seguintes objetivos: analisar o processo de inclusão de pessoas com Síndrome de Down no mercado de trabalho; analisar o grau de satisfação da pessoa com Síndrome de Down em relação ao seu ambiente de trabalho e avaliar os métodos de contratação pessoas com deficiência e a permanência da mesma na empresa. A pesquisa de base qualitativa, ocorreu em uma rede de supermercado no município de Lins, e participaram da pesquisa, três funcionários, sendo um deles com Síndrome de Down e um profissional do setor de recursos humanos, responsável pela contratação de pessoas. No capítulo I intitulado “Síndrome de Down”, foram abordados aspecto da história, do momento em que surgiu o termo Síndrome de Down, suas características e o decorrer de sua trajetória, o capítulo também descreve de que maneira ocorre a síndrome e as potencialidades que uma pessoa com SD possivelmente terá. O segundo capítulo intitulado “Síndrome de Down e a Inclusão Social”, mostraos desafios da inclusão, como é a entrada de uma criança com a Síndrome na escola, descreve seu desenvolvimento, dificuldades que a família geralmente encontrará e leis que garantem os direitos dos deficientes. Os suportes sociais de que eles necessitam para ingressarem no mercado de trabalho e orientação para as empresas para contratar indivíduos com SD são assuntos também abordados neste capítulo. 6 CAPÍTULO I SÍNDROME DE DOWN HISTÓRICO DA SÍNDROME Os estudos sobre a Síndrome de Down (SD) surgiram há alguns anos aproximadamente no século XIX, no decorrer desse tempo até os dias atuais foram realizadas várias descobertas com possibilidades de propostas inovadoras em benefício à síndrome. Entretanto, apesar de todos os avanços nas pesquisas, percebe-se um fator importantíssimo para a inclusão social que é a visão que a sociedade demonstrou durante muitos anos em relação a essas pessoas. Schwartzmanet al.,(2003) explica que na idade média pessoas com deficiência não eram admitidas na sociedade, pois eram associadas a um tipo de espécie não humana, assim eram justificados pela filosofia atos desumanos de maus tratos e até de morte contra as pessoas com deficiência. Existem obras retratadas por artistas renascentistas em 1455 que evidenciavam a existência de crianças com Síndrome de Down: “Pintura Virgem e Criança com São Jerônimo e Louis de Toulouse”, de Andrea Mantegna – Mântua, Itália e passados 5 anos a artista cria novamente a obraMadona e criança que também indica traços da Síndrome, "Menino com Macaco", pintura de um autor desconhecido datada em 1505 na Alemanha e pinturas de Jacob Jordaens (15931678) "Adoração dos pastores" e " O sátiro e a camponesa". (SCHWARTZMAN et al., 2003) Langdon Down descreveu a Síndrome de Down em 1866, sendo uma entidade clínica distinta, diferenciando-a do hipotireoidismo congênito ou creticismo, e concedeu o seu nome à condição. Este autor trabalhou como superintendente do "asilo para Idiotas", na Inglaterra, no qual havia várias pessoas com deficiência intelectual. Desde o momento a síndrome recebeu 7 numerosas denominações tais como: idiota mongoloide, creticismofurfuráceo, criança inacabada, etc. (SCHWARTZMAN et al., 2003). Fica evidente o tamanho desprezo e desvalorização em relação à pessoa com deficiência por meio das denominações que utilizaram-se ao longo do tempo, que consequentemente transmitiu uma ideia equivocada a respeito dessas pessoas. Ao longo de muito tempo a pessoa com Síndrome de Down foi vista como retardada, incompetente, desnecessária e em algumas sociedades mais antigas eram chamadas até de monstros, resultados de uma mistura entre homens e demônios. Infelizmente esse quadro de incapacidade relacionado à pessoa com Síndrome de Down ainda prevalece sobre algumas pessoas, sendo assim, esse sentimento inconveniente entre os familiares e pessoas próximas a ele pode prejudicá-lo, privando-o de determinadas experiências indispensáveis para o seu desenvolvimento. Todavia na atualidade já se pode constatar que crianças e jovens com síndrome de down podem alcançar fases mais avançadas de raciocínio e de desenvolvimento do que previsto a princípio (SANTANA, 2007). Atualmente com os avanços científicos e tecnológicos é possível definir a causa, características e propostas que facilitam e proporcionam autonomia para a pessoa com SD. Hoje em dia, sabe-se que o desenvolvimento do Down dependerá essencialmente da prévia estimulação, pois ele também tem capacidade para aprender plenamente como qualquer outro indivíduo, com o incentivo de pessoas que estão ao seu redor, investimentos em sua formação, apoio familiar, o deficiente sem dúvida poderá conquistar sua autonomia social. (ORGANIZAÇÃO..., 2017, p.1).Em decorrência ao desenvolvimento alcançado surgem grandes chances de ingressar no mercado de trabalho, aparecendo então à preocupação em garantir que pessoas com deficiência conquistem sua independência profissional e seus direitos enquanto cidadãos. Oliveira (2008) denota a Síndrome de Down como uma deficiência com impedimento de caráter intelectual. Araújo e Schmidt (2006) afirmam que o conceito de inclusão de pessoas com deficiência intelectual incorporada no 8 mercado de trabalho é algo relevantemente recente e ainda não é bem admitida pelas organizações, ante as barreiras existentes e as poucas oportunidades de trabalho a essas pessoas designadas. Aprender a respeitar e a lidar com o diferente ainda é um problema da sociedade, que se reflete nos locais de trabalho. É importante ressaltar que a produção científica referente à inserção das pessoas com deficiência no mercado de trabalho aborda preferencialmente questões que envolvem pessoas com deficiência de natureza física e sensorial (auditiva e visual), o que denota carência de estudos sobre a inserção de pessoas com deficiência intelectual no mercado de trabalho. Definição de síndrome de Down A Síndrome de Down é uma desordem genética reconhecida pela presença de um cromossomo excedente nas células do indivíduo, decorrente a isso é também denominada de Trissomia do Cromossomo 21, como ilustra a Figura 1. Figura 1: Cariograma com 47 cromossomos sendo três de número 21 Fonte: Revista Nature, 2014, http://www.movimentodown.org.br/ 9 No período de desenvolvimento do bebê é que ocorrem a distribuição dos cromossomos sendo metade da mãe e outra metade do pai. As células germinativas (espermas e óvulos) possuem apenas metade da quantidade de cromossomos detectados normalmente em outras células do corpo (PUESCHEL, 2005). Para Schwartzman et al., (2003) síndrome malformativa mais comum na espécie humana ocorre no momento da concepção ou logo em seguida e por isso ele também ressalta que há um atraso no desenvolvimento como um todo e um estado de deficiência intelectual, não apresentando um padrão preestabelecido de desenvolvimento nessas pessoas, já que o progresso da inteligência não depende obrigatoriamente da alteração genética, mas sim de todo o potencial genético e toda a intervenção que o meio causaria. Para entender melhor, essas alterações genéticas sucedem de uma "falha" em um dos gametas que deveriam conter um cromossomo somente para que a junção do gameta materno com o gameta paterno gerem um gameta filho com dois cromossomos, como acontece geralmente em toda a espécie humana. No entanto durante o desenvolvimento do gameta há a possibilidade de ocorrer algumas alterações causadas pela não disjunção cromossômica que ocorre no momento da reprodução, no qual podem ser formados gametas com cromossomos duplos que ao se juntarem a outro cromossomo através da fecundação, ocasionam uma alteração cromossômica, conforme demonstrado na figura 2. 10 Figura 2: Erro na meiose na Trissomia do cromossomo 21 Fonte: Thompson e Thompson, 1993, http://tanya-biologia.blogspot.com.br Qualquer família independente de raça, cor, situação econômica, social ou ambiental entre outras coisas, pode ter uma criança sindrômica, que é diagnosticada na gestação por meios de exames médicos realizados no acompanhamento pré-natal. Apesar de qualquer mulher ter probabilidades de ter um bebê com SD a Fundação Síndrome de Down discorre que mulheres que engravidam após os 35 anos de idade têm mais possibilidades de ter uma criança com a síndrome. O erro genético se dá ao fato da não divisão cromossômica ocasionando uma célula com excesso de cromossomos e outra com falta, a célula que fica com dois cromossomos por não sofrer a separação se fecundada, resultará em um zigoto trissômico, pelo motivo de possuir três cromossomos similares no lugar de apenas um par. E como já foi apontado é muito comum em mulheres de idade avançada, devido ao envelhecimentodo óvulo (SILVA, 2002). 11 Sendo assim a malformação gerada pelo cromossomo 21 causam várias características semelhantes e modifica a composição de diversos órgãos já no começo do desenvolvimento do feto, consequentemente provocando uma série de anormalidades comuns ente os sindrômicos. Mesmo que as pessoas com Síndrome de Down tenham características físicas bem peculiares não significa que todos são iguais ou terão a mesma capacidade de desenvolvimento. Um pensamento equivocado que ainda prevalece em algumas pessoas é o de que todos os indivíduos com essa síndrome apresentarão prejuízos nas áreas motora, orgânica e intelectual sempre no mesmo nível de comprometimento. Características da pessoa com Síndrome de Down Pessoas com SD possuem traços típicos apresentados com frequência como: hipotonia (diminuição do tônus muscular e da força), fendas palpebrais oblíquas, formato do rosto achatado, nariz e orelhas pequenos, cavidade nasal estreita, língua grande, protusa e sucata, palato estreito e elevado; dentes pequenos; pescoço curto com diâmetro maior; mãos e pés pequenos e grossos; única fenda palpar (50%das crianças), pés chatos devido à frouxidão dos tendões, distância entre primeiro e segundo artelho, braços e pernas curtas (baixa estatura), deficiência intelectual em graus variáveis e uma tendência à obesidade se comparados com as pessoas normais (PUESCHEL, 2005, SCHWARTZMAN et al., 2003) O crânio se forma com certa anormalidade que torna perceptível pelo formato do rosto que apresenta um leve achatamento que dá uma característica arredondada da cabeça. Os ossos são mais tênues e o fechamento da moleira é comum. Seja qual for o tipo de complicação ocorrido ao longo da formação e desenvolvimento do cérebro pode ocasionar uma deficiência intelectual. O 12 cérebro das pessoas com SD, apresenta volume e peso menores do que o esperado para as pessoas normais. Outro fator importante é a redução do número de neurônios em diversas áreas do córtex cerebral, hipocampo e cerebelo (FLÓREZ, 1997 apud SAAD, 2003, p. 67). Eles também possuem cabelos finos e lisos podendo haver algumas falhas de cabelo. Pessoas com a síndrome têm a boca pequena se associada com pessoas normais, e ficam com a boca na maioria das vezes aberta com a língua levemente para fora, sendo que a língua é sulcada. A linguagem do Down é bastante comprometida, principalmente se comparadas com o grupo de indivíduos com o desenvolvimento normal. As características físicas de uma pessoa com Síndrome de Down são definidas pelos cromossomos, ou seja, pelo material genético. Desta maneira, Pueschel(2003, p.77) explica que: Como as crianças herdam os genes tanto da mãe quanto do pai, elas se parecerão, até certo ponto, com os pais em aspectos como estrutura corporal, cor dos cabelos e olhos, padrões de crescimento (embora em ritmo mais lento). Entretanto, em virtude do material genético adicional no cromossomo 21 extra, crianças com síndrome de down também têm características corporais que lhe conferem uma aparência diferente da de seus pais ou outras crianças sem deficiência. Como o cromossomo 21 extra se encontra nas células de toda criança com síndrome de down, ele exerce uma influência na formação do corpo em todas as crianças de forma semelhante. Assim crianças com síndrome de down apresentam muitas características em comum e se parecem um pouco entre si. De maneira geral indivíduos com essa Síndrome são pacíficos, afetivos, dispõem de um bom humor e possuem prejuízos intelectuais, no entanto podem demonstrar grandes alterações em relação ao comportamento. A personalidade varia de pessoa para pessoa estes podem apresentar distúrbios do comportamento, desordens de conduta e ainda seu comportamento pode diferir quanto ao potencial genético e características culturais, que serão elementares no comportamento. 13 Educação Inclusiva e potencialidades da pessoa com Síndrome de Down A inclusão social de pessoas com deficiência teve repercussão de uma extensa trajetória histórica que até os dias atuais vem sendo construída. Rosa (2003, p. 72) destaca que, “falar em inclusão não é apenas repetir um conceito, mas falar de todos aqueles que passaram suas vidas aprisionados em hospícios ou que acabaram em uma fogueira para salvar a alma de um corpo deficiente”. Um progresso de instituições privadas de Educação Especial e das redes públicas, ocorreu com a origem de classes e escolas especiais em todo o território nacional na década de 1970 e nessa mesma década, o caso da deficiência no Brasil a todo momento foi conduzida pelos técnicos ou responsáveis, vistos como “especialistas na área”. O ponto principal de todos os requerimentos em relação ao tema era o paternalismo, o assistencialismo e a tutela, defendendo a institucionalização (BRASIL, 1990). Até a década de 1960, os métodos educacionais utilizados para atender essas pessoas foram mais pensados para crianças e jovens que não tinham acesso à escola comum do ensino regular ou para aqueles excluídos das classes comuns, por não acompanharem o processo educacional. Essa discriminação acontecia justificando que tais alunos seriam mais bem atendidos se fossem direcionados para classes ou escolas especiais. A Educação Especial foi, então, "constituindo-se um sistema paralelo ao geral, até que, por motivos morais, lógicos, científicos, políticos, econômicos e legais, surgiram as bases para reivindicar e fundamentar as práticas de integração na escola regular" (MENDES, 1996, p. 26). A educação inclusiva tem como objetivo introduzir crianças com necessidades educacionais especiais no ensino regular assegurando a todos o direito à igualdade e a educação, tendo em vista o desenvolvimento do 14 indivíduo, sua preparação para o exercício da cidadania e sua qualificação para o mercado de trabalho. Atualmente o deficiente tem direito ao ingresso e permanência na escola regular e conta com o apoio de atendimento em salas de recursos no período contrário da aula regular, dispondo de especialistas que objetivam desenvolver habilidades necessárias para sua aprendizagem. Hoje em dia, almeja-se a superação do estigma que está na nomenclatura, as Diretrizes Nacionais da Educação Especial (BRASIL, 2001) propõem um termo atualizado, contemplando a partir dele a verdadeira necessidade educacional da pessoa, modificando alguns termos que possam sugerir indícios estereotipados na sociedade, indicando a utilização que enfatiza as possibilidades de desenvolvimento, originando o termo pessoa com necessidade especial. “É nessa perspectiva que já percebe-se especialistas da área, gradativamente, responsabilizando-se pela a terminologia da diferença/deficiência como representação de uma nova postura na área de educação especial” (BIANCHETTI, 1998, p. 14). A nomenclatura usada para definir a inclusão no Brasil: necessidades educacionais especiais representa o indivíduo que: […] por manifestar, temporariamente ou permanentemente algum tipo de deficiência física, sensorial, cognitiva, múltipla, condutas peculiares, ou ainda altas habilidades, precisa de recursos especializados formar plenamente o seu potencial e/ou diminuir suas dificuldades (BRASIL, 2000, p.22). Nesta perspectiva, o destaque está justamente no suporte especial que precisa subsidiar a tarefa, tanto nas áreas educacional, social ou profissional, sem deixar de lado as adaptações curriculares nas instituições de ensino que acolhe alunos com necessidades especiais, bem como as medidas de acessibilidade em locais de trabalho destas pessoas. O direito ao ingresso e a permanência do sujeito com necessidades educacionais especiais no ensino regular fundamenta-se de várias maneiras, independentemente das leis que direcionam tal disposição. A probabilidadede estar incluso e poder participar do contexto social e do grupo social que representa a escola é imprescindível na formação e desenvolvimento pleno do indivíduo. 15 Não dá para negar que o sujeito com síndrome de Down sofra certas limitações, porém se as atividades estiverem de acordo com suas possibilidades de realização, e a estimulação acontecer por meio da interação, sem dúvidas sucederá na formação e progresso da aprendizagem. Vigotsky (1988, p. 78) acrescenta que “a criança deficiente não é uma criança menos desenvolvida do que seus parceiros normais, é uma criança que se desenvolve de um outro modo”. Voivodic e Storer (2002) complementa que a Síndrome de Down está presente nos quadros das deficiências intelectuais e que o subdesenvolvimento motor pode ser reduzido quando certamente estimulados precocemente. Além de uma estimulação apropriada, é necessário deixar a criança desenvolver-se de forma espontânea, afetiva e criativa. De acordo com Santana (2007) subsequentemente a criança precisa ter acesso às práticas esportivas, dando início no esporte através da investigação, conhecimento e manuseio dos materiais, e participando ativamente depois de jogos em grupo com intervenção apropriada. É vital que o trabalho psicomotor enfatize questões de equilíbrio, coordenação de movimentos, estruturação do esquema corporal, orientação espacial, ritmo, exercícios respiratórios, hábitos posturais e sensibilidade. A autora ainda discorre que os sujeitos com essa síndrome têm capacidade de realizar tarefas rotineiras sem impedimento, no entanto a limitação intelectual complica o raciocínio abstrato, tornando mais complicado o exercício de tarefas que abranjam associação, discriminação, assim como as que envolvem matemática. É necessário assim, ter uma visão realista das necessidades e bloqueios da criança, e o que se deve e pode fazer é ajudá-la por meio de uma estimulação sensível e adequada as suas condições (SANTANA 2007). O ser humano desde seu nascimento está inserido no meio social e para que a pessoa com Síndrome de Down conquiste o sucesso enquanto incluído, todos os envolvidos, como família, amigos e principalmente professores devem estar presente ativamente neste processo, procurando seu 16 pleno desenvolvimento, sendo que na escola, o apoio dos professores é indispensável e está assegurado o ensino básico ao aluno. Portanto, um dos maiores desafios está em entender como se dá a formação do sujeito com SD, procurando conhecer e respeitar seu ritmo de aprendizagem, reconsiderando conceitos, contendo as rotulações, e não discriminar aquele que já é discriminado pela sociedade. Prontamente, faz parte da função da sociedade fazer uma reflexão sobre a responsabilidade que cada um possui em relação à transformação da sociedade e mudanças no processo educativo, precisa ser oportunizado ao sujeito com algum tipo de deficiência oportunidades de inclusão com qualidade assegurando o exercício efetivo dos direitos humanos, incluindo o direito ao trabalho e autonomia. Capitulo ll SÍNDROME DE DOWN E A INCLUSÃO SOCIAL DIRETRIZES NACIONAIS PARA A EDUCAÇÃO ESPECIAL Em 1999 surge a Política Nacional para a Integração da Pessoa com Deficiência/Decreto 3298 que estabeleceu a matrícula compulsória nos cursos regulares; a oferta obrigatória e gratuita da educação especial em estabelecimentos públicos de ensino; a consideração da educação especial como modalidade de educação escolar, permeando todos os níveis e modalidades de ensino; dentre outras medidas. (BRASIL, 2014) Em 2001, foi a vez do Plano Nacional de Educação, a Lei nº 10172, que estabeleceu objetivos e metas para a educação das pessoas com necessidades educacionais especiais (hoje já no Plano para o decênio 2011- 2020). Se a LDB nº 9.394/96 propôs um atendimento especializado, 17 preferencialmente na rede regular, a Resolução CNE/CEB 2/2001, em seu artigo 7º indicou a educação de sujeitos com necessidades especiais na escola regular. Suprimiu-se o “preferencialmente” e foi acrescentada a noção segundo a qual os alunos da Educação Especial poderão, extraordinariamente, serem atendidos em classes ou escolas especiais. A mudança do texto legal – retirou- se o “preferencialmente” e acrescentou-se o “extraordinariamente” – manteve a histórica lógica dual integrado/segregado, modificando, contudo, sua intensidade (GARCIA; MICHELS, 2011). A Resolução CNE/CEB nº 2/2001 (BRASIL, 2001) ganhou importância por normatizar no Brasil as premissas inclusivas que estavam no debate internacional e, ao mesmo tempo, expressou o modo pelo qual a política nacional incorporou um conjunto de ideias que se firmaram como hegemônicas no campo da Educação Especial. (BRASIL, 2014) Impulsionando a inclusão educacional e social, o Decreto nº 5.296/04 regulamentou as Leis nº 10.048/00 e nº 10.098/00, estabelecendo normas e critérios para a promoção da acessibilidade às pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida. Nesse contexto, o Programa Brasil Acessível, do Ministério das Cidades, é desenvolvido com o objetivo de promover a acessibilidade urbana e apoiar ações que garantam o acesso universal aos espaços públicos. (BRASIL, 2014) O Decreto nº 6571/08, incorporado pelo Decreto nº 7611/11, institui a política pública de financiamento no âmbito do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação – FUNDEB –, estabelecendo o duplo cômputo das matrículas dos estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação. Visando o desenvolvimento inclusivo dos sistemas públicos de ensino, este Decreto também define o atendimento educacional especializado complementar ou suplementar à escolarização e os demais serviços da educação especial, além de outras medidas de apoio à inclusão escolar (BRASIL, 2014). Com a finalidade de orientar a organização dos sistemas educacionais inclusivos, o Conselho Nacional de Educação – CNE – publica a Resolução 18 CNE/CEB, 04/09, que institui as Diretrizes Operacionais para o Atendimento Educacional Especializado – AEE – na Educação Básica. Este documento determina o público-alvo da educação especial, define o caráter complementar ou suplementar do AEE, prevendo sua institucionalização no projeto político pedagógico da escola. (BRASIL, 2009) O caráter não substitutivo e transversal da educação especial é ratificado pela Resolução CNE/CEB nº 04/10, que institui Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica e preconiza em seu artigo 29, que os sistemas de ensino devem matricular os estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação nas classes comuns do ensino regular e no Atendimento Educacional Especializado – AEE –, complementar ou suplementar à escolarização, ofertado em salas de recursos multifuncionais ou em centros de AEE da rede pública ou de instituições comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos. (BRASIL, 2009) A ONU e as conferências mundiais A Declaração Universal dos Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (DUDH-ONU), de 1948, é um marco na história dos direitos humanos. Foi ele que desencadeou um processo de mudança no comportamento social e na produção de instrumentos e mecanismos 19 10 de dezembro de 1948 ONU adota a declaração universal dos direitos humanos internacionais de direitos humanos que foram incorporados ao ordenamento jurídico dos países signatários. Esse processo resultou na base dos atuais sistemas global e regionais de produção dos direitos humanos (PNEDH, 2007). Eles incluem a Convenção para a Prevenção e a Repressão do Crime de Genocídio (1948), a Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formasde Discriminação Racial (1965), a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres (1979), a Convenção sobre os Direitos da Criança (1989) e a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (2006), entre outras. (PNEDH, 2007) Na declaração dos direitos das pessoas deficientes – 1975, tendo em vista a necessidade de prevenir deficiências físicas e mentais e de prestar assistência às pessoas deficientes para que elas possam desenvolver suas habilidades nos mais variados campos de atividades e para promover, portanto quanto possível, sua integração na vida normal, consciente de que determinados países, em seu atual estágio de desenvolvimento, podem, desenvolver apenas limitados esforços para este fim, proclama esta Declaração dos Direitos das Pessoas Deficientes e apela à ação nacional e internacional para assegurar que ela seja utilizada como base comum de referência para a proteção destes direitos.(Resoluções ONU 3447/75) Em julho de 1994, foi realizada na Espanha, cidade de Salamanca, a 20 Conferência Mundial sobre Educação de Pessoas com Necessidades Especiais, com o patrocínio da UNESCO e do Governo Espanhol. Nessa Conferência foi criada a Declaração de Salamanca e o Plano de Ação para a Educação de Necessidades Especiais, que foi aceito por mais de 300 participantes de 92 países e 25 organizações internacionais. (DECLARAÇÃO DE SALAMANCA, 1994). Essa Declaração contém 83 propostas, sendo um dos mais completos textos sobre a inclusão de pessoas com deficiências físicas. Os seus parágrafos evidenciam que a educação inclusiva não é aquela destinada apenas às pessoas com deficiências, mas, também, a todas as pessoas com necessidades educacionais especiais, sejam em caráter temporário, intermitente ou permanente (SANTOS, 2013). A Declaração de Salamanca não deixa dúvidas quanto ao direito à educação. O fato que vem modificar o cenário da educação mundial fica por conta de elaboração da Declaração de Salamanca em 1994, na cidade de Salamanca (Espanha), este documento foi criado para apontar aos países a necessidade de políticas públicas e educacionais que venham a atender a todas as pessoas de modo igualitário independente das suas condições pessoais, sociais, econômicas e socioculturais. A declaração destaca a necessidade da inclusão educacional dos indivíduos que apresentam necessidades educacionais especiais..(BRASIL, 1994, p. 2). As escolas devem acolher todas as crianças, independentemente de suas condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais, linguísticas ou outras. Devem acolher crianças com deficiência e crianças bem-dotadas; crianças que vivem nas ruas e que trabalham; crianças de populações distantes ou nômades; crianças de minorias linguísticas, étnicas ou culturais e crianças de outros grupos ou zonas desfavorecidas ou marginalizadas (BRASIL, 1997, p. 17-18). De acordo com a declaração e os princípios por ela defendidos é que as escolas e seus projetos pedagógicos se adequem às necessidades dos indivíduos nela matriculados, em conformidade com a Declaração de Salamanca (art. 11º, p 13) “O planejamento educativo elaborado pelos governos deverá concentrar-se na educação para todas as pessoas em todas 21 as regiões do país e em todas as condições econômicas, através de escolas públicas e privadas”. Em 12 de março de 1990, durante a Cúpula Mundial das ONGs sobre Deficiência realizada em Pequim, capital da República Popular da China, vale saber que essa declaração foi mais uma amostra de que a legislação até então, embora afinada com as vertentes mundiais de inclusão, não garantia o acesso e, mais, o sucesso das crianças com deficiências na escola. Convenção dos direitos da pessoa com deficiência da ONU e seu protocolo facultativo, Resende e Vital (2008) organizaram um material que traz os mais diversos comentários sobre a convenção acima, a qual tomou por referência, os 60 anos da DUDH, em 2008. Na introdução do material, Maior (2008) explica que para celebrar esta data de alto simbolismo, a ONU cunhou a expressão “Dignidade e Justiça para Todos Nós” e sob esta inspiração, os Estados Partes estão desenvolvendo suas agendas de educação em direitos humanos. No Brasil, a Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República, com status de ministério, já está trabalhando para a mais ampla divulgação da Declaração Universal dos Direitos Humanos. As atividades se desenvolvem com base no lema “Iguais na Diferença”. Nada melhor do que juntarmos dignidade e justiça para reconhecer que muito deve ser feito até que as diferenças não nos impeçam de ser iguais, justifica ela. A proteção da criança é abordada por muitas convenções internacionais. Ao dedicar um artigo da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência às crianças, as Nações Unidas reafirmam os direitos conquistados na Declaração dos Direitos da Criança de 1959, bem como nas Regras de Beijing de 1985, na Convenção sobre os Direitos da Criança (1989), nas Regras das Nações Unidas para a proteção dos menores privados de liberdade (1990) e nas Diretrizes das Nações Unidas para Prevenção da Delinquência Juvenil (Diretrizes de Riad – 1990). A inclusão é um conceito defendido por educadores de todas as partes do mundo. Atualmente, é difícil encontrar quem se oponha publicamente ao convívio de crianças com algum tipo de deficiência com outras de sua idade, 22 tanto para o desenvolvimento social e educacional como para diminuir o preconceito. Porém, no Brasil, a realidade da rede pública de ensino ainda é de salas superlotadas, baixos salários, má formação dos professores, projetos pedagógicos ultrapassados e estrutura precária, o que dificulta a aprendizagem de qualquer criança. Os defensores da inclusão acreditam que a entrada dos alunos com deficiência no ambiente educacional regular vai pressionar as escolas a se reestruturarem física e pedagogicamente, respeitando o ritmo de aprendizagem de cada aluno, tenha ele uma deficiência ou não (PNEDH, 2007). A Constituição Brasileira de 1988, garante o acesso ao Ensino Fundamental regular a todas as crianças, sem exceção. A inclusão ganhou reforço com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de 1996, e com a Convenção da Guatemala, de 2001, que proíbe qualquer tipo de restrição baseada na deficiência de uma pessoa. Todos os instrumentos nacionais e internacionais criados para proteger os direitos da criança, embora o âmbito possa variar, giram em torno do tema comum de promover seu bem-estar e desenvolvimento. 23 A acessibilidade da pessoa com Síndrome de Down no mercado de trabalho A pessoa com deficiência, sempre foi considerada como alguém fora dos padrões normais pela ótica histórico-cultural, que sempre ditou para a sociedade, critérios para a normalidade. Muitos termos foram usados para identificar pessoas com deficiência e atravessaram décadas buscando assumir um sentido de inovação na busca pela superação de preconceitos. Historicamente as pessoas com deficiências foram segregadas e mantidas à margem do mercado de trabalho. (ASSIS et al, 2014, p 11) Ao estabelecer a obrigatoriedade para as empresas no cumprimento da porcentagem ou cota determinada de pessoas com deficiência em relação ao total de empregados, percebem-se paradoxos, polêmicas e distintas abordagens de análise. Hoje, evidencia-se a relevância desse tema, pois a inclusão de pessoas com deficiência, na sociedade em geral, e, principalmente, no mercado de trabalho, é um fato recente que alcançou gradativo destaque no contexto brasileiro após a criação da Lei de Cotas de nº 8.213/1991. (Lei nº 8.213/91) Segundo Carvalho (2010), a inclusão de pessoas deficientes no mercado de trabalho vem obtendo maior importância devido a movimentos 24governamentais e da sociedade civil. Considerando a redação do Decreto 914, de 06/09/1993 em seu 3º artigo, do artigo 5º, § 2º, da Lei 8.112/90 e do art. 93, da Lei 8.213/91, “Considera-se pessoa portadora de deficiência aquela que apresenta, em caráter permanente, perdas ou anormalidades de sua estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica, que geram incapacidade para o desempenho de atividade, dentro do padrão considerado normal para o ser humano”. A inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho apresenta dificuldades e especificidades que requerem aprofundamento em termos de pesquisas e estudos. Todavia não é possível agrupar as pessoas deficientes em um único grupo caracterizado por particularidades específicas. As deficiências são diversas, assim como suas graduações e as respectivas consequências para o indivíduo. Em uma classificação ampla e atual, podem- se distinguir diferentes grupos de deficiências, sejam essas com impedimentos de natureza física, intelectual ou sensorial. A “Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência”, aprovada pela ONU, em 6/dez. /2006, pela Resolução nº. A/61/611, e aprovada pelo Brasil, por meio do Decreto Legislativo nº. 186, de 9/7/2008 e, posteriormente, pelo Dec. Presidencial nº. 6494, de 25/08/2009, conceituou as pessoas com deficiência (substituindo a expressão antiga “pessoas portadoras de deficiência”). A referida convenção em seu art.1º estabelece que: “pessoas com deficiência são aquelas que têm impedimentos de natureza física, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade com as demais pessoas”. As deficiências podem ser físicas, sensoriais (visão ou da audição), ou intelectuais; podem ser de nascença ou ter surgido em outra época da vida em função de doença ou acidente, tendo assim um brando impacto na capacidade de trabalho e interação com o meio ambiente. A deficiência com impedimento de natureza física pode ser classificada pela alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo 25 humano, acarretando o comprometimento da função física, apresentando-se na forma de paraplegia, paraparesia, monoplegia, monoparesia ou outras. As deficiências com impedimento de natureza sensorial referem-se às deficiências auditivas e visuais. Já a deficiência com impedimento de natureza intelectual é caracterizada pelo funcionamento intelectual significantemente inferior à média, manifestado antes de 18 anos e limitações associadas a duas ou mais áreas de habilidades adaptativas, tais como: comunicação, cuidado pessoal, habilidades sociais, utilização dos recursos da comunidade, trabalho, dentre outras. A Síndrome de Down (SD) caracteriza-se como deficiência com impedimento de natureza intelectual (OLIVEIRA, 2008). Se o processo de inclusão de pessoas com deficiências é algo relativamente novo no contexto de trabalho brasileiro e requer estudos, é importante salientar que nesse universo a inclusão de pessoas com deficiências de natureza intelectual apresenta agravamentos que tendem a ser preteridos nas organizações. Para Araújo e Schmidt (2006), a ideia de inclusão de pessoas com deficiência intelectual no mercado de trabalho é recente e ainda não é bem aceita pelas organizações, ante as barreiras existentes e as poucas oportunidades de trabalho a essas pessoas destinadas. “Talvez por depender de iniciativas próprias de escolarização as PNE´s preferencialmente contratadas pelas empresas são aquelas com deficiência auditiva, física ou visual” (ARAUJO, SCHMIDT, 2006, p. 251). Da mesma forma, Suzano et al (2010) destacam que a produção científica referente à inserção das pessoas com deficiências no mercado de trabalho aborda preferencialmente questões que envolvem pessoas com deficiência de natureza física e sensorial (auditiva e visual), o que denota carência de estudos sobre a inserção de pessoas com deficiência intelectual no mercado de trabalho. 26 Inclusão no mercado de trabalho Fórum debate mercado de trabalho para pessoas com Síndrome de Down A entrada no mercado de trabalho é um passo importante para que os jovens possam fazer a transição entre o mundo da infância e o mundo adulto. O excesso de preocupação por parte de familiares e amigos muitas vezes torna essa passagem difícil para as pessoas com Síndrome de Down, principalmente pela forma com a qual são tratadas e pelas baixas expectativas em relação à sua função na sociedade. As pessoas que não estão empregadas tendem a ter mais depressão e menos autoestima. Isso acontece porque o ambiente de trabalho ajuda os indivíduos a ganhar responsabilidades e desenvolver relacionamentos com grupos diversos. Além disso, favorece o desenvolvimento de habilidades cognitivas, mecânicas e de adaptação a diferentes situações, inclusive na vida pessoal. Reconhecer-se como parte do 27 mundo do trabalho fortalece o sentido de cidadania de jovens e adultos. No caso de pessoas com Síndrome de Down, muitas vezes as próprias famílias se surpreendem com mudanças de atitude, uma vez que elas se sentem mais independentes e capazes de realizar seus desejos. O artigo 27 da convenção da ONU sobre os direitos das pessoas com deficiência estabelece que todos têm direito a oportunidades iguais de trabalho. Muitos países, assim como o Brasil, contam com uma legislação trabalhista que favorece a inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho, seja através de cotas ou de subsídios para as empresas contratantes. É importante ressaltar que o trabalho não envolve apenas a pessoa e a empresa. Família, escola e sociedade precisam caminhar juntas na defesa da inclusão efetiva para que a entrada no mercado de trabalho de pessoas com Síndrome de Down possa se tornar uma realidade para todos. Na seção “Trabalho” do Movimento Down, você encontra informações sobre como contratar uma pessoa com Síndrome de Down, experiências inclusivas no mercado de trabalho e um banco de dados com vagas disponíveis para pessoas com a trissomia em todo o Brasil. Se você representa uma instituição interessada em oferecer oportunidades a este público, não deixe de se cadastrar. Profissionais com Síndrome de Down que desejam se candidatar a uma vaga de emprego também podem se cadastrar no banco de dados de prestadores de serviços. Orientações para contratar pessoas com Síndrome de Down De acordo com o site movimento Down empregar pessoas com Síndrome de Down e outras deficiências intelectuais traz benefícios não apenas para os indivíduos, mas para as organizações. Para que a experiência seja positiva para todos, é fundamental enxergar as oportunidades de acordo com as potencialidades de cada um. Compreender que o (a) profissional com Síndrome de Down ou outras deficiências intelectuais é um ser humano com particularidades e 28 potencialidades é um passo importante na hora de pensar nas oportunidades que serão oferecidas. Assim, embora seja importante compreender quais são as limitações e questões relacionadas à deficiência, é fundamental conversar com o (a) novo (a) empregado (a) para definir de que maneiras ele (a) poderá contribuir para a empresa de acordo com suas características pessoais. Em virtude da falta de expectativas em relação ao futuro profissional no ambiente familiar e escolar, muitos jovens e adultos com Síndrome de Down não foram apresentados ao mundo do trabalho. Assim, questões como o comportamento adequado, responsabilidade e hierarquia podem ser novidades para o (a) empregado (a) que acaba de chegar. Porém, isso não significa que essas pessoas não sejam capazes de se adaptar à rotina da empresa, muito pelo contrário. Trata-se apenas de ter disposição para facilitar sua entrada neste novo universo e explicar, sempreque necessário, quais são os direitos e os deveres relacionados ao vínculo com a organização. Segundo a Fundação Síndrome de Down, é importante trabalhar com o exemplo dos colegas de trabalho para mostrar ao jovem que determinados comportamentos são inadequados, como por exemplo: Atrasos e faltas sem justificativas; Higiene inadequada; Confundir papel do chefe ou da equipe de trabalho; E negar a realizar determinadas tarefas sem motivo aparente. É importante ressaltar que uma adaptação adequada e o acompanhamento do desenvolvimento do (a) funcionário (a) dentro da empresa são fundamentais para que situações semelhantes às citadas acima sejam encaradas com tranquilidade e resolvidas com uma conversa franca entre as partes. Em alguns casos, pode ser benéfico entrar em contato com a família ou com o (a) profissional responsável pelo acompanhamento terapêutico do (a) empregado (a), se houver. É muito importante que cada pessoa com Síndrome de Down empregada na organização saiba de forma clara que existe uma referência dentro da empresa. Um outro funcionário – não necessariamente o seu chefe – a quem ele (a) pode recorrer em caso de dúvidas e que também acompanhe 29 de perto a sua adaptação ao trabalho para discutir questões relacionadas com a área de relações humanas da empresa caso seja necessário. Esse apoio traz segurança para o (a) profissional com síndrome de Down, que muitas vezes se torna ansioso (a) diante da incerteza sobre diversos assuntos ligados a um ambiente desconhecido. A Síndrome de Down está relacionada a dificuldades de aprendizado, o que significa que os funcionários com a trissomia provavelmente vão demorar um pouco mais de tempo para realizar determinadas tarefas. Isso não quer dizer que elas não serão feitas, ou que serão feitas de forma inadequada. Assim, é importante acompanhar sempre o processo de adaptação da pessoa ao trabalho para determinar, de preferência junto com o (a) funcionário (a) em questão, quais serão as suas responsabilidades e tarefas a cumprir. Para empresas como a Light e a Oi, que empregam pessoas com Síndrome de Down, a parceria com os pais é fundamental no processo de adaptação ao mundo do trabalho. Muitas vezes, os pais podem se sentir inseguros em relação à convivência de seu filho ou filha em um ambiente desconhecido, pois eles também precisam se adaptar à ideia de que a pessoa com Síndrome de Down ou outras deficiências intelectuais pode trabalhar. No entanto, com o passar do tempo, percebem que a experiência pode trazer benefícios inclusive no ambiente familiar. Na fase inicial, pode ser benéfico entrar em contato com eles no sentido de tranqüilizá-los ou com o profissional responsável pelo acompanhamento psicológico do (a) empregado (a), se houver. Conforme está no artigo de Marina da Silveira Rodrigues Almeida, consultora em educação inclusiva, sobre a empregabilidade da pessoa com Síndrome de Down. (Marina, 2012) A falta de acesso a ambientes inclusivos pode fazer com que algumas pessoas apresentem diversas dúvidas relacionadas à Síndrome de Down. A falta de conhecimento pode gerar distanciamento e até mal-entendidos entre funcionários, prejudicando a cultura de inclusão e o ambiente de trabalho da empresa. Por isso, é importante que um profissional especializado converse com a equipe que receberá o (a) novo (a) empregado (a) sobre o assunto para criar um ambiente adequado e propício para a adaptação da pessoa com deficiência. 30 A legislação estabeleceu a obrigatoriedade de as empresas com cem (100) ou mais empregados preencherem uma parcela de seus cargos com pessoas com deficiência. A reserva legal de cargos é também conhecida como Lei de Cotas (art. 93 da Lei nº 8.213/91). A cota depende do número geral de empregados que a empresa tem no seu quadro, na seguinte proporção, conforme estabeleceu o art. 93 da Lei nº 8.213/91: Tabela 1: Lei de cotas A entrada no mercado de trabalho é um passo importante para que os jovens possam fazer a transição entre o mundo da infância e o mundo adulto. O excesso de preocupação por parte de familiares e amigos muitas vezes torna essa passagem difícil para as pessoas com Síndrome de Down, principalmente pela forma com que elas são tratadas e pelas baixas expectativas em relação à sua função na sociedade. As pessoas que não estão empregadas tendem a ter mais depressão e menos autoestima. Isso acontece porque o ambiente de trabalho ajuda os indivíduos a ganhar responsabilidades e desenvolver relacionamentos com grupos diversos. Além disso, favorece o desenvolvimento de habilidades cognitivas, mecânicas e de adaptação a diferentes situações, inclusive na vida pessoal. Número de empregados Porcentagem de 100 a 200 2% de 201 a 500 3% de 501 a 1.000 4% de 1.001 em diante 5% Fonte: www.movimentodown.org.br/trabalho/inclusao-no- mercado-de-trabalho 31 REFERÊNCIAS Decreto n. 7611 de 17 de novembro de 2011. Dispõe sobre a educação especial, o atendimento educacional especializado e dá outras providências.Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011- 2014/2011/decreto/d7611.htm ____. Ministério da Educação e Cultura. Declaração de Salamanca e Linha de Ação sobre necessidades educativas especiais. Brasília: Corde, 1990. ____. Ministério da Educação e do Desporto. Plano Decenal de Educação para todos. Brasilia: MEC, 1993. ____. Ministério da Educação. Referencial curricular nacional de estratégias e orientações para a educação de crianças com necessidades educacionais especiais.– Brasília: MEC, 2000. ____. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Política Nacional de Educação Especial. Brasília: MEC/SEESP, 1994. ____. Ministério da Educação.Diretrizes nacionais para a educação especial na educação básica. Brasília: MEC; SEESP, 2001. ____. Plano Nacional de Educação – Lei 10.172, de 09 de janeiro de 2001. Aprova o Plano Nacional de Educação e dá outras providências. Brasília: Plano, 2001. (apresentado por Ivan Valente. Rio de Janeiro: DP&A, 2001. ____.Lei n.8.069 de 13 de julho de 1990. Estatuto da Criança e do Adolescente. Disponível em: http://www.planalto.gov.br /ccivil_03/l eis/l8069 ____.Ministério da Justiça/Corde. Declaração de Salamanca e linha de Ação sobre necessidades educativas especiais. Brasilia, 1994 ____.Política nacional de educação especial na perspectiva da educação inclusiva. Brasília: MEC, 2008. Disponível em: http://portal.mec.gov.br /arqui vos /pdf/politicaeducespecial.pdf _____. PNEDH – Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos. 32 ______. Ministério da Educação e do Desporto. Plano Decenal de Educação para todos. Brasilia: MEC, 1993. ______.Decreto n. 6.949 de 25 de agosto de 2009. Promulga a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, assinados em Nova York, em 30 de março de 2007. Disponível em:http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/decreto/d6949.htm ARAUJO, JP; SCHMIDT,A.A Inclusão de pessoas com necessidades especiais no trabalho: a visão de empresas e de instituições educacionais especiais na cidade de Curitiba. Revista Brasileira de Educação Especial. Marília, v. 12, n.2, p. 241-254, maio-ago. 2006. BIANCHETTI, L. e FREIRE, I. M. Um olhar sobre a diferença: interação, trabalho e cidadania. Campinas, SP: Papirus, 1998.