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1 Avaliação psicológica: uma breve introdução Neste tópico, o estudante poderá conhecer um pouco mais sobre o surgimento e o conceito da avaliação psicológica. Para tanto, é importante ressaltar que os testes e os instrumentos psicológicos só podem ser utilizados pelos psicólogos que possuem inscrição no Conselho Regional de Psicologia – CRP. Assim sendo, os passos, as competências e os princípios éticos do psicólogo em relação à avaliação psicológica serão abordados com o propósito de esclarecer ao profissional sobre o exercício ético da profissão. 1.1 Avaliação psicológica Entre as mais diversas áreas de atuação do psicólogo, destaca-se a avaliação psicológica como um conjunto de procedimentos aplicados ao indivíduo com o objetivo de colher informações. Lins e Borsa (2017) destacam a importância do profissional para se atentar ao cuidado dos instrumentos utilizados, uma vez que o uso de apenas um teste ou procedimento pode propiciar a construção de inferências descontextualizadas em relação ao indivíduo. Assim, não se quer dizer que a avaliação psicológica consiste em simplesmente corrigir os testes psicológicos. Pelo contrário, é necessário salientar que os testes psicológicos são “agregados ao processo de avaliação psicológica para se obter informações sobre o psiquismo do indivíduo” (LINS; BORSA, 2017, p. 12 apud ANACHE, 2011). Para tanto, vamos ressaltar um importante instrumento construído pelo Conselho Federal de Psicologia – CFP – juntamente com os conselhos regionais para informar aos psicólogos sobre a prática de regularização da avaliação psicológica com os seus devidos preceitos éticos. Assim sendo, o Conselho Federal de Psicologia define a avaliação psicológica como: De maneira resumida, destaca-se uma breve contextualização histórica do surgimento dos testes e da avaliação psicológica. Lins e Borsa (2017) ressaltaram que esses procedimentos surgiram nas primeiras décadas do século XX, na França. Os pesquisadores Alfred Binet e Theodore Simon divulgaram a versão originária da Escala Binet-Simon de Inteligência, um recurso para verificar o “retardo mental”, um nome adotado na época. Durante a I Guerra Mundial, utilizou-se a testagem psicológica para escolher os soldados mais aptos para o combate (LINS; BORSA, 2017). Já, após a II Guerra Mundial, alguns testes psicológicos foram confeccionados para avaliar os traços de personalidade, o desempenho do indivíduo no mercado de trabalho, o caráter, dentre outros (LINS; BORSA, 2017). Sendo assim, os estudos sobre a avaliação psicológica foram se desenvolvendo ao longo dos anos até os dias atuais. 1.2 Passos para a avaliação psicológica, competências e princípios éticos do psicólogo Com base na Cartilha sobre Avaliação Psicológica (2013), elaborada pelo Conselho Federal de Psicologia, alguns passos serão salientados para que o profissional se atente ao realizar a avaliação psicológica de um indivíduo. Para tanto, é necessário que o psicólogo descreva quais são os propósitos da avaliação psicológica, colhendo informações sobre o indivíduo ou o grupo dos quais serão analisados. Além disso, as coletas de dados devem ser realizadas através dos instrumentos psicológicos como, por exemplo, entrevistas individuais ou em grupos, dinâmicas, bem como observações através da escuta qualificada do profissional. Após o levantamento das informações, é preciso agregar os dados coletados com a finalidade de indicar uma resposta, respaldada através dos princípios éticos do código. Para além dos passos seguidos pelo profissional, o psicólogo deve desenvolver algumas competências, conforme exposto na Cartilha sobre Avaliação Psicológica (2013). Tais competências se referem ao reconhecimento do “caráter processual da avaliação psicológica”, além de dominar as normas da avaliação psicológica no Brasil. Não se pode esquecer que é necessário buscar capacitações ou qualificações para aplicar e analisar os instrumentos psicológicos com o intuito de identificar a capacidade de “inteligência”, “memória”, “atenção”, “emoção”, entre outros (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2013, p. 15). Nessa perspectiva, obter os conhecimentos necessários na área da psicopatologia é de fundamental importância para identificar o desenvolvimento do indivíduo. A “validade, precisão e normas dos testes” são outros aspectos necessários que o psicólogo deve se atentar para utilizar a avaliação psicológica. Sendo assim, buscar informações sobre aplicação, levantamento e interpretação dos instrumentos da avaliação psicológica é de fundamental importância para indicar um diagnóstico de tratamento e acompanhamento para o paciente. Por fim, ressalta-se que o profissional saiba “elaborar documentos psicológicos” e “comunicar os resultados advindos da avaliação” (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2013, p. 15). Em relação aos princípios éticos básicos, é importante salientar que o psicólogo deverá desenvolver a avaliação psicológica de maneira responsável, isto é, os testes e os instrumentos utilizados durante o processo devem possuir a parecer favorável do Conselho Federal de Psicologia e o profissional deve ser qualificado para esta atividade. Além disso, é necessário possuir um ambiente favorável para a aplicação dos instrumentos psicológicos, resguardando o sigilo profissional sem interferências de quaisquer outras pessoas. Os registros das informações coletadas do indivíduo devem ser arquivados em locais seguros para que nenhum outro indivíduo tenha acesso. Entretanto, os laudos ou pareceres psicológicos devem ser endereçados apenas àqueles que necessitem da informação. Não se esqueça de que o profissional da área de psicologia não deve em hipótese nenhuma capacitar profissionais de outras áreas, caracterizando a violação do código de ética (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2013, p. 16-17). 2 Avaliação psicológica em diversos contextos da atuação do psicólogo Este tópico apresentará o processo de avaliação psicológica no contexto da psicologia clínica, da psicologia organizacional e do trabalho, do trânsito e hospitalar, a partir de alguns exemplos da vida cotidiana. 2.1 Psicologia clínica Tomando como pressuposto os escritos propostos por Baptista, Filho e Borges (2017), a avaliação psicológica no contexto da psicologia clínica passou a ser utilizada com maior frequência no Brasil a partir dos anos 1990. Isso se deu, principalmente, pela possibilidade de o profissional colher determinadas informações que poderiam subsidiar intervenções terapêuticas no sentido de proporcionar maiores benefícios aos pacientes ou clientes. Porém, é importante destacar que o psicólogo deve dominar as técnicas com qualidade para utilizar esses instrumentos. Para a clínica, a psicometria (métodos quantitativos em psicologia), o rapport (capacidade de estabelecer empatia com o indivíduo) e a destreza de formular hipóteses diagnósticas são fundamentais para que o psicólogo possa desenvolver esse processo com qualidade (BAPTISTA; FILHO; BORGES, 2017). Assim, os autores ressaltam que “a psicologia clínica é uma área da psicologia que tem como objetivo a prevenção, o diagnóstico e o tratamento do comportamento psicopatológico” (BAPTISTA; FILHO; BORGES, 2017, p. 384). Diante dessa breve contextualização, pode-se dizer que a avaliação psicológica deve seguir cinco passos fundamentais: o primeiro se refere à observação sistematizada, logo, a anamnese (histórico dos sintomas do paciente), entrevistas (estruturadas, semiestruturadas ou abertas), aplicação de métodos projetivos (testes psicológicos) e, por último, a testagem psicométrica (avaliação da personalidade e capacidade do indivíduo). Para o melhor entendimento do estudante, cita-se como exemplo um paciente ou cliente que entra em contato com o psicólogo para tratar sintomas relativos à depressão e à ansiedade. Ao receber o indivíduo no consultório, o profissionalse atenta para as vestimentas, a comunicação verbal e não verbal, estilos de vida do paciente, obtendo algumas informações que devem ser anotadas. Além disso, ele passa a investigar quando surgiram os primeiros sintomas da depressão e da ansiedade, em qual contexto e como o paciente lidou com a situação naquele momento. No decorrer das sessões, o psicólogo passa a realizar entrevistas (estruturadas, semiestruturadas ou abertas) com o propósito de conhecer o contexto familiar, social e a história de vida do indivíduo. De acordo com o relato do paciente, o psicólogo pode optar ou não por aplicar testes que poderão subsidiar a capacidade afetiva, cognitiva e comportamental do paciente. Por fim, é elaborado um projeto terapêutico através das sessões psicoterápicas para que o paciente trate dos seus sintomas e possa construir estratégias para lidar com a depressão e a ansiedade. Cabe ressaltar que, nesse caso, o paciente também deverá fazer um acompanhamento psiquiátrico como um paliativo para que possa ajudá-lo a tratar dos seus sintomas. Porém, ressalta-se que o uso de medicamentos sem o acompanhamento psiquiátrico e com o uso prolongado pode afetar a capacidade cognitiva, motora e a memória. Resumindo, os principais tópicos abordados nas entrevistas psicológicas consistem em obter informações sobre a “descrição do problema”, a “situação atual de vida”, a “história de vida do paciente”, as “experiências traumáticas”, o “histórico médico, psicológico e psiquiátrico”, o “status psicológico atual”, o “grau de abertura do cliente diante do processo terapêutico”, as “metas que possui no processo terapêutico” e as “preocupações do cliente” (BAPTISTA; FILHO; BORGES, 2017, p. 385). Aqui, vale destacar que as entrevistas realizadas de maneira aberta possuem uma maior possibilidade de construir um vínculo terapêutico, distintamente das entrevistas estruturadas – perguntas preparadas antecipadamente – ou semiestruturadas – perguntas elaboradas para atingir um objetivo (BAPTISTA; FILHO; BORGES, 2017). Para além do exposto, o psicólogo pode realizar entrevistas com familiares, amigos, investigar documentos ou prontuários com o consentimento do paciente para colher as informações necessárias sobre o indivíduo. Diante dos processos de avaliação psicológica, caberá ao psicólogo clínico realizar um relatório ou parecer psicológico e fazer uma devolução, preservando os princípios éticos, através da sua boa comunicação com o paciente. 2.2 Psicologia organizacional e do trabalho A psicologia organizacional e do trabalho teve origem nos laboratórios de psicologia experimental de Wilhelm Wundt, em 1879, um psicólogo alemão, que dedicou seus estudos para compreender e analisar o comportamento humano. Pereira (2017, p. 317) salienta que Wundt “estudou os problemas humanos no trabalho, criando uma disciplina que pode ser identificada como organizadora dos fundamentos básicos da psicotécnica, principal método de trabalho da psicologia industrial”. A partir dos anos 1980 e 1990, as empresas brasileiras passaram a incorporar os profissionais da psicologia na área conhecida como Recursos Humanos, buscando construir uma visão multidisciplinar (PEREIRA, 2017). Assim sendo, a inserção no mercado de trabalho será um exemplo utilizado para que o estudante possa compreender o processo de avaliação psicológica no contexto organizacional e do trabalho, visto que é necessário recrutar um indivíduo que possui o perfil desejado pela empresa para assumir um determinado cargo. Atualmente, as pessoas buscam oportunidades de trabalho através dos sites destinados a ofertar vagas, cadastrando as experiências profissionais, as competências e as habilidades pessoais. Através do currículo, o psicólogo convoca o candidato para uma entrevista preliminar, selecionando àqueles que possuem o perfil para as próximas etapas. Aqui, cabe ressaltar que cada empresa planeja o recrutamento e a seleção de acordo com as avaliações que julgam necessárias. Logo após uma entrevista preliminar, o candidato passa por dinâmicas de grupo, realiza testes psicológicos, dentre outros processos designados de avaliação psicológica no contexto organizacional. Por fim, uma determinada pessoa que possui o perfil da vaga enunciada assume o cargo. Porém, a avaliação psicológica pode ser utilizada em diversos âmbitos no contexto organizacional e do trabalho. A exemplo disso, pode-se ressaltar as avaliações institucionais realizadas pelas empresas para mensurar o nível de satisfação dos clientes com o atendimento realizado, a avaliação de desempenho e para a escolha de profissionais que serão treinados e desenvolvidos pela empresa. 2.3 Trânsito A Carteira Nacional de Habilitação – CNH – é um dos maiores anseios dos jovens ao completarem 18 anos. Porém, o processo não é tão simples. Atualmente, além do investimento financeiro é preciso que o indivíduo perpasse por diferentes processos e avaliações para obter êxito na retirada do documento. Assim sendo, o primeiro passo consiste na avaliação médica e psicológica com o propósito de identificar se o indivíduo possui condições biológicas, físicas e subjetivas para circular motorizado pelas ruas das cidades ou das grandes metrópoles. Hoje, a avaliação psicotécnica passou a ser concebida por avaliação psicológica pericial. Assim sendo, a psicologia do trânsito é definida: A partir do texto “Avaliação psicológica no contexto do trânsito”, alguns aspectos importantes serão abordados para a formação do psicólogo. O primeiro deles se refere à promulgação do primeiro Código Nacional de Trânsito – Decreto-Lei nº 3.651 de 25 de setembro de 1941 – definindo o exame médico e o psicológico (RUEDA; MOGNON, 2017). No ano de 1953, o exame psicotécnico tornou-se uma obrigatoriedade para retirar a Carteira Nacional de Habilitação por determinação do CONTRAN (Conselho Nacional de Trânsito) com o propósito de identificar os aspectos relacionados à personalidade e à atenção do cidadão. Contudo, Rueda e Mognon (2017, p. 412) ressaltam que somente em 1998 é que a avaliação psicológica passou a envolver a “área percepto-reacional, motora e nível mental, equilíbrio físico e habilidades específicas complementares”. Daí, a mudança do termo psicotécnico para avaliação psicológica pericial. Em 2012, a Resolução nº 425 do CONTRAN, juntamente com a Resolução 007/2009 do Conselho Federal de Psicologia, instituíram a avaliação psicológica no contexto da psicologia do trânsito através de “entrevistas individuais, testes psicológicos, dinâmicas de grupo, escuta e intervenções verbais” (RUEDA; MOGNON, 2017, p. 413). 2.4 Hospitalar A avaliação psicológica no contexto hospitalar segue, basicamente, os processos de entrevista e testagem psicológica. Porém, cabe aqui ressaltar que cada contexto possui a sua peculiaridade e o psicólogo deve ser capacitado para desenvolver essa tarefa com primazia. Para tanto, é preciso uma gama de estudos e experiências profissionais para atuar nessa área. Desde o reconhecimento da psicologia enquanto profissão, em 1962, os psicólogos já atuavam na área sem muito reconhecimento. Entretanto, a partir da década de 1990, a psicologia hospitalar passou a trabalhar questões relativas à integralidade da saúde, concebendo o paciente nas suas dimensões biológicas, psíquicas e sociais, isto é, através de um modelo biopsicossocial, além de contar com uma equipe multiprofissional (médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, fisioterapeutas, psicólogos, terapeutas ocupacionais, nutricionistas, entre outros). Schmidt, Bolze e Crepaldi argumentam que “nessas instituições, a principal (mas não única) tarefa do profissional é avaliar e acompanhar intercorrências psíquicas dos usuários envolvidos em procedimentos médicos, com vistas à promoção e à recuperação à saúde” (2017, p. 462). Assim sendo, o psicólogo no contexto hospitalar possui a suaatuação através de atendimento psicoterápico individual ou em grupo com vistas à promoção à saúde. Para o melhor entendimento do estudante, a cirurgia bariátrica será utilizada como um exemplo para ilustrar a atuação da equipe multidisciplinar, abordando os aspectos biopsicossociais e a promoção à saúde. Assim sendo, a coleta de dados através das entrevistas, observações, testes psicológicos e dinâmicas de grupo são os procedimentos usados para a avaliação psicológica no contexto hospitalar. Dessa forma, a equipe possui os subsídios necessários para a formulação do diagnóstico, os encaminhamentos para os profissionais responsáveis e a construção de intervenções terapêuticas (SCHMIDT; BOLZE; CREPALDI, 2017). Como se sabe, o indivíduo que se submete a uma cirurgia bariátrica possui uma perda de peso considerável, fato que acarreta em mudanças físicas e psicológicas. Para tanto, é necessário avaliar: Sendo assim, é importante que o psicólogo saiba discutir os casos para construir tratamentos a partir de uma perspectiva particular para seus pacientes, contando com a equipe multiprofissional, além de dominar os testes psicológicos que deverão ser aplicados a cada indivíduo, avaliando se ele possui condições para realizar uma cirurgia e se adaptar às transformações físicas e emocionais (SCHMIDT; BOLZE; CREPALDI, 2017). 3 Observação e entrevista psicológica Nesse tópico, a observação que deve ser realizada pelo psicólogo e as entrevistas serão descritas para que o estudante possa compreender melhor as nuances de ambos os processos no contexto da avaliação psicológica. 3.1 Observação realizada pelo psicólogo Ao caminharmos pelas ruas das cidades, frequentar estabelecimentos comerciais ou visitar familiares, observamos uma série de funcionamentos peculiares da própria metrópole, do local ou do contexto familiar. Não obstante, também, é possível observar vestimentas, gestos, comportamentos e expressões das pessoas que nos fornecem informações se aquele indivíduo pode ser de confiança, honesto, entre outras características. Partindo do estudo realizado por Nunes, Lourenço e Teixeira (2017) sobre avaliação psicológica, os autores ressaltam quatro dimensões do processo de observação feita pelo psicólogo. O primeiro deles se refere à possibilidade de testar uma teoria, isto é, observa-se como o indivíduo se comporta em situações distintas. O segundo está relacionado com a observação experimental ou naturalista, ou seja, a observação de uma situação em que o observador pode controlar, denominados de grupos de controle. Como exemplo de grupos de controle, pode-se ressaltar aqueles indivíduos que são medicados e outros que recebem o placebo. Assim, é possível observar quais os efeitos do medicamento nos indivíduos que pertencem a grupos distintos. A terceira dimensão elencada pelos autores em relação à observação é conhecida por estruturada e não estruturada. Para o exercício do psicólogo, a observação estruturada deve conter uma lista de tópicos dos quais se deve atentar para colher informações do paciente. A não estruturada parte do princípio de que o psicólogo marcará o primeiro encontro e observará o comportamento do indivíduo a partir do qual ele se apresenta. Por fim, destaca-se a observação participante, que pressupõe uma relação entre o observador e o observado em que o psicólogo pode angariar percepções de como a criança se relaciona com o outro, por exemplo. Além disso, ressalta-se a observação não participante, em que o psicólogo pode observar o comportamento de uma criança no recreio para colher dados para a avaliação psicológica (NUNES; LOURENÇO; TEIXEIRA, 2017). No entanto, cabe ressaltar que nem todas essas dimensões são passíveis da atuação do profissional, uma vez que a quebra do vínculo ou confiança pode ocorrer a partir da invasão da privacidade da criança ou até mesmo do adulto. Nesse sentido, cabe ao psicólogo se atentar para o exercício ético da profissão e estudar qual a observação que mais se adéqua ao caso. 3.2 Entrevista psicológica A entrevista psicológica, além de fornecer dados suficientes para as indagações realizadas pelo psicólogo, pode oferecer subsídios para a observação dos pensamentos, sentimentos, emoções, comportamentos, intenções e comunicação não verbal do paciente ou candidato. Nesse sentido, acredita-se que a observação pode ser realizada juntamente com a entrevista com o propósito de não apossar de determinados espaços frequentados pelo indivíduo. A observação nos mais diversos contextos pode significar uma invasão da intimidade da pessoa. Um primeiro aspecto importante de ressaltar é que a entrevista estruturada é baseada em um roteiro fechado, como no caso da anamnese, em que as perguntas são direcionadas para que o paciente responda de forma clara e precisa. Por outro lado, o psicólogo pode construir um roteiro de entrevista semiestruturada. Isto quer dizer que se tem um roteiro de perguntas que podem ser flexibilizadas a partir do relato do candidato ou paciente, além de poder modificar a ordem das questões (NUNES; LOURENÇO; TEIXEIRA, 2017). Para tanto, é necessário o domínio dessas questões por parte do psicólogo e a clareza do objetivo a ser alcançado com esse instrumento. Nesse sentido, é importante investigar as crenças, opiniões, intenções, comportamentos passados e atuais, sem induzir qualquer tipo de resposta. Além do mais, a condução da entrevista deve ser realizada de maneira acolhedora. Se, em alguns momentos, for preciso utilizar o gravador, é necessário o consentimento prévio do entrevistado com a assinatura de um documento. 4 Testes psicológicos e outros instrumentos de avaliação psicológica Este tópico apresentará os testes psicológicos mais utilizados pelos estudantes e profissionais de psicologia e ressaltará a importância dos jogos e desenhos como instrumentos necessários para a avaliação psicológica infantil. 4.1 Testes psicológicos Apresentar os testes psicológicos no contexto da avaliação psicológica não é uma tarefa fácil, principalmente, pelo fato de que esses instrumentos são caros para a aquisição de psicólogos recém-formados e, em segundo, existe pouco investimento nessa área de pesquisa no Brasil. Consequentemente, os psicólogos passam a ter conhecimento de um número ínfimo de testes psicológicos e a capacitação para o uso de tais instrumentos nem sempre abrange o público de maneira satisfatória. Os estudos de Noronha et al (2005, p. 392) apontam que os seguintes testes psicológicos são os mais conhecidos pelos estudantes de psicologia, porém eles nem sempre se sentem qualificados o suficiente para utilizá-los: Aqui, é importante ressaltar que os testes utilizados para avaliação psicológica devem seguir os critérios psicométricos regulamentados pelo Sistema de Avaliação de Testes Psicológicos – SATEPSI. O uso de testes considerados como desfavoráveis pela comissão é passível de penalidades éticas. 4.2 Jogos e desenhos Os jogos e os desenhos são instrumentos de avaliação psicológica utilizados para colher informações sobre a criança. Obviamente, elas não conseguem se adaptar às entrevistas abertas, estruturadas ou semiestruturadas, muito menos submeter a testes que dependem de uma capacidade de raciocínio que não condiz com o desenvolvimento adequado da criança. Por isso, os jogos passaram a ser instrumentos imprescindíveis para estabelecer um vínculo com a criança, a fim de que ela possa se sentir confortável para falar da sua maneira sobre os conflitos familiares, preocupações e aflições. Além disso, o psicólogo observará o comportamento da criança, as habilidades psicomotoras, a construção das histórias e os vínculos estabelecidos com o propósito de identificar se a criança possui alguma psicopatologia. Além disso, os desenhos também são instrumentos importantes para a avaliação psicológica, uma vez que se observaa coordenação motora, assim como os aspectos relativos à família, escola e o contexto socioeconômico e cultural. Porém, vale ressaltar que para avaliação psicológica infantil, é necessário realizar entrevistas com os pais ou responsáveis, familiares que acompanham a criança e, caso preciso, com os professores da escola ou de outras atividades com a finalidade de colher informações sobre a relação que a criança estabelece consigo mesma, bem como com as demais. A partir do diagnóstico, é importante preparar uma devolução aos pais com os possíveis encaminhamentos, caso seja necessário. Por exemplo, uma avaliação neurológica ou psiquiátrica, um acompanhamento escolar ou psicopedagógico. 5 Questionário e inventário Esse tópico apresenta como elaborar questionários a partir das discussões realizadas em grupos de pesquisa constituídos na Universidade Federal de Minas Gerais, dado que se considera importante trazer à tona as discussões “vivas” das dificuldades que podem permear o trabalho da atuação do profissional. Além disso, ressalta-se o inventário como um instrumento eficaz para o processo de seleção de pessoas a determinados cargos. 5.1 Questionário Para muitos, elaborar um questionário é uma tarefa fácil, uma vez que não se tem a mínima ideia de como as perguntas podem ressoar na subjetividade de cada sujeito ou na indução de respostas. Para tanto, grupos de trabalho, conhecidos por GT, são formados para discutir a escrita, a organização dos questionamentos, a condução do psicólogo, bem como a sua abordagem e as formas de coletar os dados. Esse processo pode durar dias ou até semanas e, muitas vezes, é realizado por uma equipe de profissionais qualificados. Para tanto, é necessário saber o que se deseja investigar com a avaliação psicológica, qual o objetivo e, inclusive, identificar a faixa etária, gênero, estado civil, entre outros, para facilitar o vínculo e a abertura do indivíduo a responder os questionamentos. Sabe-se que os questionários são passíveis de manipulação por parte dos indivíduos, uma vez que se sentem envergonhados em relatar determinados aspectos em poucos encontros. Para tanto, é necessário um bom manejo do psicólogo para facilitar esse processo de abertura por parte do avaliado. Após a construção do questionário, é necessário fazer um teste com um grupo de voluntários para verificar se realmente as perguntas são acessíveis ao bom entendimento do avaliado e se existe algum equívoco por parte do instrumento. Assim sendo, o questionário pode ser transformado ao longo dos meses para determinados segmentos dos quais desejamos obter informações. Cita- se, como exemplo, questionários realizados na avaliação psicológica com policiais militares e com agentes penitenciários. Esse instrumento deve ser adaptado em relação ao contexto e o perfil do trabalhador. 5.2 Inventário Os inventários psicológicos são, comumente, utilizados pelas empresas para selecionar os candidatos de acordo com o perfil do cargo. Nos dias atuais, as empresas utilizam o Inventário Fatorial de Personalidade (IFP) com o intuito de fazer uma triagem antes da aplicação dos testes psicológicos, uma vez que necessitam de maiores recursos financeiros para esses instrumentos. Assim, somente aqueles que podem ocupar o cargo acabam passando por esse processo de testagem psicológica. Com isso, o inventário se torna uma ferramenta mais acessível para aplicar a um número maior de candidatos. Os principais aspectos abordados no IFP são: assistência; dominância; ordem; denegação; intracepção; desempenho; exibição; afago; mudança; persistência; agressão; deferência; autonomia; afiliação. Este inventário é reconhecido pelo Conselho Federal de Psicologia e identifica possíveis fatores comportamentais que o candidato possa ter na condução do seu trabalho no interior da empresa. REFERÊNCIAS BAPTISTA, M. N.; FILHO, N. H.; BORGES, L. Avaliação em psicologia clínica. In: LINS, M. R. C.; BORSA, J. C. Avaliação psicológica: aspectos teóricos e práticos. Petrópolis: Vozes, 2017. BRASIL. Decreto-Lei Nº 3.651, de 25 de setembro de 1941. República Federativa do Brasil. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/1937-1946/Del3651.htm > Acesso em: 17 mai. 2020. CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Cartilha sobre avaliação psicológica. Brasília: DF, 2013. Disponível em: < http://satepsi.cfp.org.br/docs/cartilha.pdf > Acesso em: 17 mai. 2020. CONSELHO NACIONAL DE TRÂNSITO – CONTRAN (2012). Resolução Nº 425 de 27 de novembro de 2012. Disponível em: < https://www.legisweb.com.br/legislacao/?id=247963 > Acesso em: 17 mai. 2020. LINS, M. R. C.; BORSA, J. C. Avaliação psicológica: aspectos teóricos e práticos. Petrópolis: Vozes, 2017. NORONHA, A. P. P.; PRIMI, R.; ALCHIERI, J. C. Instrumentos de avaliação mais conhecidos/utilizados por psicólogos e estudantes de psicologia. Reflexão e Crítica. v. 18, n. 3, p. 390-401, 2005. NUNES, M. L. T.; LOURENÇO, L. J.; TEIXEIRA, R. C. P. Avaliação psicológica: o papel da observação e da entrevista.In: LINS, M. R. C.; BORSA, J. C. Avaliação psicológica: aspectos teóricos e práticos. Petrópolis: Vozes, 2017. PADILHA, S.; NORONHA, A. P. P.; FAGAN, C. Z. Instrumentos de avaliação psicológica: uso e parecer de psicólogos. Aval. Psicol. Porto Alegre, v. 6, n. 1, p. 69-76, jun. 2007. PEREIRA, D. F. Aspectos práticos da avaliação psicológica nas organizações. In: LINS, M. R. C.; BORSA, J. C. Avaliação psicológica: aspectos teóricos e práticos. Petrópolis: Vozes, 2017. RUEDA, F. J. M.; MOGNON, J. F. Avaliação psicológica no contexto do trânsito. In: LINS, M. R. C.; BORSA, J. C. Avaliação psicológica: aspectos teóricos e práticos. Petrópolis: Vozes, 2017. SALTIEL, L. O.; KRUG, J. S.; BANDEIRA, D. Recursos utilizados na entrevista lúdica diagnóstica para avaliação de crianças no período de latência. Especialização em Psicologia Clínica ênfase avaliação psicológica (monografia). Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 2012. SCHMIDT, B.; BOLZE, S. D. A.; CREPALDI, M. A. Avaliação psicológica no contexto hospitalar. In: LINS, M. R. C.; BORSA, J. C. Avaliação psicológica: aspectos teóricos e práticos. Petrópolis: Vozes, 2017. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/1937-1946/Del3651.htm http://satepsi.cfp.org.br/docs/cartilha.pdf https://www.legisweb.com.br/legislacao/?id=247963
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