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CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier Curso de Direito DIREITO CIVIL III COLETÂNEA DO ALUNO 2010 (Proibida a Reprodução) CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier Expediente Curso de Direito — Coletânea de Exercícios Direção Nacional do Centro de Ciências Jurídicas Profa. Solange Ferreira de Moura Coordenação do Projeto Prof. Sérgio Cavalieri Filho Coordenação do Estado do Rio de Janeiro Profª Márcia Sleiman Coordenações Pedagógicas Profa. Sonia Regina Vieira Fernandes Profº Marcos Lima Organização da Coletânea Prof. Sandro Gaspar CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier APRESENTAÇÃO Caro aluno A Metodologia do Caso Concreto aplicada em nosso Curso de Direito é centrada na articulação entre teoria e prática, com vistas a desenvolver o raciocínio jurídico. Ela abarca o estudo interdisciplinar dos vários ramos do Direito, permitindo o exercício constante da pesquisa, a análise de conceitos, bem como a discussão de suas aplicações. O objetivo é preparar os alunos para a busca de resoluções criativas a partir do conhecimento acumulado, com a sustentação por meio de argumentos coerentes e consistentes. Desta forma, acreditamos ser possível tornar as aulas mais interativas e, consequentemente, melhorar a qualidade do ensino oferecido. Na formação dos futuros profissionais, entendemos que não é papel do Curso de Direito tão somente oferecer conteúdos de bom nível. A excelência do curso será atingida no momento em que possamos formar profissionais autônomos, críticos e reflexivos. Para alcançarmos esse propósito, apresentamos a Coletânea de Exercícios, instrumento fundamental da Metodologia do Caso Concreto. Ela contempla a solução de uma série de casos práticos a serem desenvolvidos pelo aluno, com auxílio do professor. Como regra primeira, é necessário que o aluno adquira o costume de estudar previamente o conteúdo que será ministrado pelo professor em sala de aula. Desta forma, terá subsídios para enfrentar e solucionar cada caso proposto. O mais importante não é encontrar a solução correta, mas pesquisar de maneira disciplinada, de forma a adquirir conhecimento sobre o tema. A tentativa de solucionar os casos em momento anterior à aula expositiva, aumenta consideravelmente a capacidade de compreensão do discente. Este, a partir de um pré-entendimento acerca do tema abordado, terá melhores condições de, não só consolidar seus conhecimentos, mas também dialogar de forma coerente e madura com o professor, criando um ambiente acadêmico mais rico e exitoso. Além desse, há outros motivos para a adoção desta Coletânea. Um segundo a ser ressaltado, é o de que o método estimula o desenvolvimento da capacidade investigativa do aluno, incentivando-o à pesquisa e, consequentemente, proporcionando-lhe maior grau de independência intelectual. Há, ainda, um terceiro motivo a ser mencionado. As constantes mudanças no mundo do conhecimento – e, por conseqüência, no universo jurídico – exigem do profissional do Direito, no exercício de suas atividades, enfrentar situações nas quais os seus conhecimentos teóricos acumulados não serão, per si, suficientes para a resolução das questões práticas a ele confiadas. Neste sentido, e tendo como referência o seu futuro profissional, consideramos imprescindível que, desde cedo, desenvolva hábitos que aumentem sua potencialidade intelectual e emocional para se relacionar com essa realidade. E isto é proporcionado pela Metodologia do Estudo de Casos. No que se refere à concepção formal do presente material, esclarecemos que o conteúdo programático da disciplina a ser ministrada durante o período foi subdividido em 15 partes, sendo que a cada uma delas chamaremos “Semana”. Na primeira semana de aula, por exemplo, o professor ministrará o conteúdo condizente a Semana nº1. Na segunda, a Semana nº2, e, assim, sucessivamente. O período letivo semestral do nosso curso possui 22 semanas. O fato de termos dividido o programa da disciplina em 15 partes não foi por acaso. Levou-se em consideração não somente as aulas que são destinadas à aplicação das avaliações ou os eventuais feriados, mas, principalmente, as necessidades pedagógicas de cada professor. Isto porque, o nosso projeto pedagógico reconhece a importância de destinar um tempo extra a ser utilizado pelo professor – e a seu critério – nas situações na qual este perceba a necessidade de enfatizar de forma mais intensa uma determinada parte do programa, seja por sua complexidade, seja por ter observado na turma um nível insuficiente de compreensão. A certeza que nos acompanha é a de que não apenas tornamos as aulas mais interativas e dialógicas, como se mostra mais nítida a interseção entre os campos da teoria e da prática, no Direito. Por todas essas razões, o desempenho e os resultados obtidos pelo aluno nesta disciplina estão intimamente relacionados ao esforço despendido por ele na realização das tarefas solicitadas, em conformidade com as orientações do professor. A aquisição do hábito do estudo perene e perseverante, não apenas o levará a obter alta performance no decorrer do seu curso, como também potencializará suas habilidades e competências para um aprendizado mais denso e profundo pelo resto de sua vida. Lembre-se: na vida acadêmica, não há milagres, há estudo com perseverança e determinação. Bom trabalho. Direção do Centro de Ciências Jurídicas CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier PROCEDIMENTOS PARA UTILIZAÇÃO DAS COLETÂNEAS DE EXERCÍCIOS 1- O aluno deverá, antes de cada aula, desenvolver pesquisa prévia sobre os temas objeto de estudo de cada semana, envolvendo a legislação, a doutrina e a jurisprudência e apresentar soluções, por meio da resolução dos casos, preparando-se para debates em sala de aula. 2- Antes do início de cada aula, o aluno depositará sobre a mesa do professor o material relativo aos casos pesquisados e pré-resolvidos, para que o docente rubrique e devolva no início da própria aula. 3- Após a discussão e solução dos casos em sala de aula, com o professor, o aluno deverá aperfeiçoar o seu trabalho, utilizando, necessariamente, citações de doutrina e/ou jurisprudência pertinentes aos casos. 4- A entrega tempestiva dos trabalhos será obrigatória, para efeito de lançamento dos graus respectivos (zero a um), independentemente do comparecimento do aluno às provas. 4.1- Caso o aluno falte à AV1 ou à Av2, o professor deverá receber os casos até uma semana depois da prova, atribuir grau e lançar na pauta no espaço específico. 5- Até o dia da AV 1 e da AV2, respectivamente, o aluno deverá entregar o conteúdo do trabalho relativo às aulas já ministradas, anexando os originais rubricados pelo professor, bem como o aperfeiçoamento dos mesmos, organizado de forma cronológica, em pasta ou envelope, devidamente identificados, para atribuição de pontuação (zero a um), que será somada à que for atribuída à AV1 e AV2 (zero a nove). 5.1- A pontuação relativa à coletânea de exercícios na AV3 (zero a um) será a média aritmética entre os graus atribuídos aos exercícios apresentados até a AV1 e a AV2 (zero a um). 6- As provas (AV1, AV2 e AV3) valerão até 9 pontos e serão compostas de questões objetivas, com respostas justificadas em até cinco linhas, e de casos concretos, baseados nos casos constantes das Coletâneas de Exercícios, salvoas exceções constantes do regulamento próprio. CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier SUMÁRIO Semana 1: Contratos. Conceito e função social. Perspectiva civil-constitucional do contrato. Pressupostos e requisitos de validade do contrato. Forma e prova. Interpretação. Semana 2: Princípios fundamentais do regime contratual. Semana 3: Formação do contrato. Fases. Contrato preliminar. Tempo e lugar do contrato.Conclusão dos contratos. Momento. Lugar. Semana 4: Classificação dos contratos. Semana 5: Dos efeitos dos contratos. Força obrigatória dos contratos. Relatividade dos efeitos dos contratos. Eficácia com relação a terceiros. Contratos por terceiros. Estipulação em favor de terceiro. Promessa de fato de terceiro. Contrato com pessoa a declarar. Semana 6: Elementos Naturais do Contrato. Vícios Redibitórios. Exclusão da garantia em hasta pública. Evicção. Evicção nas aquisições judiciais. Boa-fé do evicto. Semana 7: Contratos preliminares e definitivos. Promessa de compra e venda (momento da transmissão do domínio; características). Arras. Distinções. Semana 8: Extinção dos contratos. Resolução dos contratos. Cláusula resolutiva. Exceção de contrato não-cumprido. Onerosidade excessiva. Resilição (distrato e denúncia). Rescisão. Cessação. Semana 9: Contratos nominados ou típicos. Novidades do Código Civil vigente. Apresentação: conceitos, características e noções gerais. Contrato estimatório. Contrato de comissão. Agência e distribuição. Corretagem. Semana 10: Compra e venda: Conceito e características. Natureza jurídica. Elementos. Modalidades especiais de venda. Semana 11: Cláusulas especiais à compra e venda. Contrato de permuta ou troca. Empreitada. Semana 12: Doação: Conceito e elementos característicos. Natureza jurídica. Pressupostos e requisitos. Espécies. Modalidades especiais de doação. Semana 13: Revogação das doações. Contrato de empréstimo (Comodato, mútuo). Depósito: conceito, características, espécies, alienação fiduciária e a prisão do depositário infiel. CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier Semana 14: Locação urbana. Noções gerais. Legislação. Espécies. Locação. Alienação do bem em locação. Direito de Preferência. Retomada. Locação não-residencial. Fiança. Semana 15: Mandato. Fiança. Transação e compromisso. SEMANA 1 Contratos. Conceito, natureza jurídica e função social. Perspectiva civil-constitucional do contrato. Pressupostos de validade do contrato. Forma e prova. Interpretação. CONTEÚDOS: 1 – O contrato consiste numa espécie de negócio jurídico mais socialmente difundido por ser a mais importante força motriz para mover e alimentar as engrenagens socioeconômicas. 2 – A Carta Política em vigor, ao estabelecer o Estado Democrático de Direito e eliminar o liberalismo econômico, revolucionou os paradigmas contratuais, os quais visam a reconstruir as relações de modo que a produção de riquezas e a sua circulação funcionem como meio de inserção social e redistribuição justa. 2.1 – A concepção atual do contrato fica distante do meio de opressão, açoite ou subjugação da parte mais fraca economicamente, como outrora se admitia. Hoje, deixa de ser mero modo de harmonização de interesses contrapostos para assumir outros valores, todos decorrentes da dignidade da pessoa humana: igualdade entre as partes, boa-fé objetiva, respeito ao meio ambiente, respeito ao valor social do trabalho e distribuição justa de riquezas. 2.2 – O contrato pode ser então definido como fonte de obrigação decorrente da manifestação bilateral de vontades obediente aos seus pressupostos, cujos propósitos são produzir efeitos econômicos admitidos pelo Direito. 3 – Os pressupostos de validade nada mais são do que os próprios elementos de existência adjetivados, podendo ser divididos em subjetivos, objetivo e formais. 3.1 – Não é possível haver contrato válido sem dualidade de sujeitos desde a sua formação, capacidade genérica para expressar intenções e legitimidade, esta também denominada capacidade específica para celebrar negócios específicos, bem como ser livre e consciente a vontade das partes. 3.2 – Somente são válidos os contratos cujos objetos sejam lícitos, possíveis e determináveis, além de apresentarem dimensão econômica. 3.3 – Em regra, não se exige um modo específico para celebração de um contrato, salvo quando a lei ou os sujeitos expressamente determinarem. 4 – De acordo com o princípio da liberdade da forma, os sujeitos podem celebrar contratos sem obedecerem a uma forma específica, salvo se houver previsão expressa (negócio ad solemnitatem). 4.1 – A formalidade transita no campo da validade dos negócios jurídicos, enquanto que a prova situa-se no âmbito da existência. CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier 4.2 – Há certos contratos que consistem em negócios ad probationem, ou seja, exigem a prova escrita para efeito probatório. Logo, são válidos e o pagamento é devido, porém não se admite a prova por outro meio que não documental. 5 – As regras jurídicas dependem da interpretação para aplicação, i.e., correta compreensão das normas pelas partes e pelo julgador, este último na hipótese de conflito. O contrário impede a concretização dos efeitos almejados pelas manifestações de vontade que gerou o contrato. 5.1 – A atividade interpretativa implica na compreensão adequada do que aparenta ser a vontade dos sujeitos contratantes, ainda que haja conflito com a literalidade instrumentalizada. 5.2 – Além da regra subjetiva, são igualmente relevantes as regras objetivas. Nesse compasso, quando o contrato apresentar cláusulas com sentidos dúbios, emerge a necessidade de interpretá- lo de modo que possa produzir efeitos compatíveis com a sua natureza. 5.3 – Mister observar os costumes e os princípios gerais que regem as relações contratuais para a interpretação dos contratos. OBJETIVOS ESPECÍFICOS: O aluno deverá ser capaz de: Conceituar e compreender a natureza jurídica dos contratos; Identificar os pressupostos contratuais e a relevância nas relações contratuais; Entender o contrato segundo os paradigmas solidificados na atual Carta Magna; Diferenciar prova e forma dos contratos; Interpretar as cláusulas contratuais segundo as regras subjetivas e objetivas. ESTRATÉGIA: Os casos concretos e questões de múltipla escolha deverão ser abordados ao longo da aula, de acordo com a pertinência temática; A resolução dos casos faz parte da aula; A abordagem dos casos permeia a exposição teórica. BIBLIOGRAFIA / JURISPRUDÊNCIA: GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2008, Volume III, Título I, Capítulo I. PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006. v.3 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil. 4. ed. rev. e atualizada. São Paulo: Saraiva, 2008. Tomo 1, V. IV, Capítulos I, II e XI. CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier CASO CONCRETO 1 Cláudio contratou Mauro, seu amigo, para projetar a construção da sua nova casa por R$ 10.000,00 (dez mil reais), tendo as partes ajustado que o preço seria pago após a aprovação das plantas pelo engenheiro responsável pela execução. Não obstante o afeto que permeia a relação entre as partes, Mauro procura você para questionar se é necessário celebraro contrato por escrito ou se é indiferente, diante do ordenamento jurídico, constituí-lo verbalmente. Responda ao seu cliente à luz do direito positivo. CASO CONCRETO 2 A Empresa Rubish Ltda. exerce a atividade de comprar dejetos de outras empresas. Como necessita de local para despejá-los, celebra contrato com João dos Santos, dono de vasta área rural, para depositar resíduos tóxicos em seu terreno em troca de pagamento de vultosa quantia. Assim, estavam as partes satisfeitas, sendo cumpridos regularmente os objetos contratuais conforme avençados. Cientes do fato, os moradores da região revoltaram-se diante dos efeitos e exigiram a desconstituição do contrato. João e a empresa resistiram a pressão sob a alegação de que o contrato nasce para ser cumprido, faz lei entre as partes e está harmonizando interesses convergentes. Diante do quadro, solucione o conflito segundo a vigente estrutura das normas que regem as relações contratuais. QUESTÕES OBJETIVAS 1ª Questão: Teotônio está enfrentando graves problemas financeiros e pretende se casar em breve. Com efeito, por não dispor de outra fonte de renda, pensa em celebrar contrato com Carlos, que está interessado na compra de um imóvel que pertence a seu pai. Como filho único, sabe Teotônio que, em não muito tempo, terá a propriedade e poderá transferi-la ao comprador. Assim, marque a alternativa correta que responda se poderá ser considerado válido algum contrato translativo de propriedade, de acordo com as circunstâncias expostas: a) Depende, pois, em se tratando de disposição de imóvel é necessário que seja o contrato celebrado mediante instrumento público. b) Não, porque, como não existe herança de pessoa viva, o objeto é juridicamente impossível, sendo Teotônio sucessor eventual do bem. c) Sim, haja vista ser Teotônio único filho do atual proprietário, o que o faz herdeiro necessário. d) É preciso investigar se estão presentes todos pressupostos de validade do contrato, visto que a narração não confere elementos para conclusão. 2ª Questão: Abelardo obrigou-se, como fiador, em contrato de locação de imóvel para fins residenciais. Ficou estabelecido, em cláusula expressa, que responderia pelos futuros CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier reajustamentos. Após o termo final pactuado no contrato, locador e locatário, prorrogam-no, fixando aumento do aluguel. Tempos depois, o valor é novamente ajustado, em ação revisional, na qual as partes chegaram a novo acordo, também sem a participação do fiador. Estando o locatário em mora, o locador ajuíza ação de cobrança em face do fiador. Não há dúvida de que a cláusula por meio da qual o fiador se obrigou pelos futuros reajustes no valor da locação deixa espaço para interpretação dúbia. Isto posto, marque a alternativa correta: a) Terá o fiador de responder pelo valor de qualquer reajuste, tanto aqueles estabelecidos entre as partes contratantes quanto os reajustes previstos em lei. b) Terá o fiador de responder apenas pelos valores referentes a reajustes estabelecidos entre as partes, em homenagem à vontade como pressuposto de validade. c) Terá o fiador de responder apenas pelos reajustes previstos em lei, na medida em que não concordou com os demais. d) Não terá o fiador de responder pelo valor de qualquer reajuste, haja vista as claras delimitações estabelecidas no contrato garantido por fiança. SEMANA 2 Princípios fundamentais do regime contratual. CONTEÚDOS: 1 – Os princípios são o sumo do ordenamento jurídico, sendo o seu estudo fundamental para a compreensão do Direito enquanto ciência. Diferente da norma, não têm por fim a subsunção direta de fatos, porém são o farol para a melhor aplicação das regras que compõem as relações em sociedade. 2 – Paira sobre todos os princípios jurídicos, conferindo-lhes dimensão constitucional, o princípio da dignidade da pessoa humana, que serve de medida para incidência dos demais e das normas jurídicas. 3 – O princípio da autonomia da vontade apresenta-se sob duas formas distintas: liberdade de contratar (celebrar ou não o contrato) e liberdade contratual (estabelecer o conteúdo contratual). Encontra limitações em outros princípios: supremacia da ordem pública, boa-fé objetiva, função social do contrato. 4 – O princípio da obrigatoriedade traduz a cogência das normas contratuais tais qual lei entre as partes. Afinal, de nada valeria o negócio jurídico se as partes não fossem obrigadas a obedecê-lo. O contrário significaria a absoluta ausência de segurança nas relações econômicas. 4.1 – Outros princípios decorrem deste: intangibilidade e a imutabilidade unilateral. 4.2 – Este princípio é excepcionado pela Teoria da Imprevisão, a qual foi erguida a partir da cláusula rebus sic stantibus, do Direito Canônico, bem como pela possibilidade de resilição do contrato nas hipóteses juridicamente autorizadas. CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier 5 – O princípio do consensualismo decorre da própria essência contratual: é impossível a celebração do contrato se não decorrer do acordo de vontades, ou seja, do encontro das intenções dos sujeitos que buscam objetivos convergentes. A entrega da coisa, prestação do serviço ou abstenção de uma conduta significará o cumprimento da obrigação contratual. 5.1 – Os contratos reais nascem também do consenso. Contudo, o acordo de vontades não é suficiente para dar origem à obrigação; é necessário também a entrega de coisa para que surja o dever de cumprir a prestação pactuada. 5.2 – Este princípio contrapõe-se ao formalismo ou simbolismo de outrora, tornando exceção a hipótese em que seja necessária a observância a um modo especial de celebração para conferir validade ao contrato. 6 – O princípio da relatividade implica na restrição dos efeitos contratuais às pessoas que emitiram vontade para sua formação, não atingindo, portanto, patrimônio de terceiros. 6.1 – Além do aspecto subjetivo, este princípio também restringe a abrangência do objeto contratual, não podendo ultrapassar as fronteiras desenhadas pela vontade dos sujeitos. 6.2 – Este princípio foi esvaziado, não obstante ainda subsista robusto, pela função social dos contratos e por algumas figuras contratuais, como estipulação em favor de terceiro e contrato com pessoa a declarar. 7 – O princípio da boa-fé objetiva exige que as partes assumam comportamento transparente e ético desde as primeiras tratativas até a conclusão do contrato. Trata-se de cláusula geral para aplicação das obrigações. 7.1 – A boa-fé é presumida relativamente, devendo ser comprovada a má-fé se alegada. 7.2 – Boa-fé objetiva significa a concepção ética, servindo de norma de comportamento; a boa-fé subjetiva é uma concepção psicológica, referindo-se ao conhecimento ou ignorância do sujeito quanto à existência de alguma mácula a um fato. 8 – Relevante reiterar o princípio da função social dos contratos trabalhado na aula anterior. OBJETIVOS ESPECÍFICOS: O aluno deverá ser capaz de: Compreender a relevância dos princípios nas relações contratuais; Identificar as situações em que cada princípio incide e as circunstâncias que o excepcionam. ESTRATÉGIA: Os casos e questões de múltipla escolha deverão ser abordados ao longo da aula, de acordo com a pertinência temática; A resolução dos casos faz parte da aula; A abordagem dos casos permeia a exposição teórica. BIBLIOGRAFIA / JURISPRUDÊNCIA: CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2008,Volume III, Título I, Capítulo I. PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006. v.3 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil. 4. ed. rev. e atualizada. São Paulo: Saraiva, 2008. Tomo 1, V. IV, Capítulo III. CASO CONCRETO 1 Roberto deparou-se com a seguinte matéria publicada num jornal de circulação nacional:”SEGURADOS QUEREM MANTER BENEFÍCIOS PREVISTOS EM CONTRATO. O Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) e o Ministério Público de Juiz de Fora (MG) ajuizaram ações contra a Companhia de Seguros Aliança do Brasil e a Federação Nacional de Associações Atléticas do Banco do Brasil. A ação pede que se garanta aos segurados opção de continuar gozando os mesmos benefícios previstos no contrato atual. Os cerca de 400 mil segurados reclama que houve rompimento unilateral do contato, pois foi retirada a cobertura para invalidez permanente total por doença, e foi incluída cobertura para doença terminal. Além disso, haverá aumento no valor do prêmio, que passaria a ser de acordo com a faixa etária do segurado, acrescido de IGPM/FGV”. A notícia revela a violação de princípio contratual por parte da Companhia de Seguros Aliança do Brasil e a Federação Nacional de Associações Atléticas do Banco do Brasil ? Justifique. CASO CONCRETO 2 Emanuel, sócio-gerente de uma mercearia próxima à faculdade de Direito por mais de 10 anos, resolve vender o seu negócio para Firmina, moradora recente na cidade. O verdadeiro motivo do negócio, ignorado por Firmina, foi a informação, através de um amigo próximo de Emanuel que trabalhava na Prefeitura, que no mês seguinte começaria a obra para a construção de um hipermercado na outra esquina do seu estabelecimento. Dois meses após a celebração do negócio, Firmina procura você, advogado (a) militante, a fim de saber se a conduta de Emanuel, ao omitir a informação quanto a abertura do novo hipermercado pode ensejar alguma espécie de ressarcimento a ela.Afinal, a atitude dele afronta algum princípio? Justifique sua resposta. QUESTÕES OBJETIVAS 1ª Questão: Lucas, proprietário de um imóvel na cidade de Fortaleza, celebra um contrato de locação com Janice, tendo esta última lhe informado sobre sua intenção de abrir um novo negócio rentável na cidade. Passados seis meses, Janice inaugura o seu novo empreendimento, que consiste na utilização do terreno para a atividade de enlatar sardinhas. Para diminuir os custos de seu empreendimento, Janice despeja os dejetos sem o devido tratamento. Os moradores ingressam com uma ação coletiva, visando a coibir a atividade de Janice, quanto ao enlatamento CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier de sardinhas, em razão das diversas conseqüências ao bem-estar e à integridade física dos moradores, alegando ainda o descumprimento das regras de proteção ao meio ambiente. Em defesa, Janice ressalta os princípios da relatividade dos contratos e o da autonomia da vontade, sob o argumento de que o seu contrato está perfeito e só gera efeitos entre as partes contratantes, não havendo interesse dos moradores em ingressarem na sua esfera jurídica. Diante desse quadro, pode-se afirmar que A. Janice está correta, na medida em que o ordenamento jurídico lhe garante a liberdade de contratar e a liberdade contratual. B. Feriu-se o princípio da boa-fé objetiva, haja vista que o comportamento entre as partes fugiu à ética contratual. C. Não assiste razão a Janice, pois o princípio da autonomia da vontade foi mitigado pela função social do contrato e pelo princípio da supremacia da ordem pública. D. A coletividade não pode se intrometer na relação contratual por causa do consensualismo contratual e da intangibilidade e imutabilidade dos contratos. 2ª Questão: (TJBA/2004) O ordenamento civil obrigacional brasileiro não contém norma específica reguladora diante do denominado adimplemento ruim. O art. 422 do Código Civil, contudo, ao disciplinar normas gerais sobre contratos, assim dispôs: “Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução,e princípios de probidade e boa-fé”. Considerando as informações do texto acima, julgue os itens seguir em verdadeiro ou falso: ( ) O Código Civil brasileiro adotou o princípio da boa-fé como fundamento dos deveres secundários no contrato. Logo, as ditas violações positivas do contrato prescindem do elemento culpa. ( ) O princípio da boa-fé, que norteia o Código Civil brasileiro, determina aumento de deveres, além daqueles pactuados entre as partes; contudo, trata-se de norma dispositiva, sujeita a auto- regulamentação pelos contratantes. ( ) A violação dos deveres secundários derivados do princípio-norma da boa-fé orienta-se pelo critério da culpa, porquanto objetiva a responsabilidade nela fundada. SEMANA 3 Formação do contrato. Fases. Contrato preliminar. Tempo e lugar do contrato.Conclusão dos contratos. Momento. Lugar. CONTEÚDOS: 1 – A vontade livre e consciente é um dos pressupostos subjetivos do contrato válido. Logo, a sua manifestação de acordo com a norma jurídica consiste no primeiro e mais importante requisito de existência do negócio jurídico. CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier 2 – A primeira fase da formação dos contratos é a puntuação, também denominada negociações preliminares ou tratativas. Dependendo da complexidade e do vulto econômico do contrato a ser celebrado, poderá ser mais ou menos extensa. 2.1 – Consiste em sondagens, pesquisas, conversações, estudos e debates para a averiguação de conveniência ou não na celebração do contrato. Se constatar-se positivamente, acarretará no oferecimento da proposta. 2.2 – Embora não gerem obrigação, as tratativas envolvem deveres de lealdade, correção, informação e, por vezes, sigilo. A inobservância desses deveres implicará na ausência de boa-fé objetiva, podendo acarretar na obrigação de indenizar se caracterizados os elementos da responsabilidade civil pré-contratual. 2.3 – Jornada de Direito Civil, Brasília, 2002: “O art. 422 do Código Civil não inviabiliza a aplicação, pelo julgador, do princípio da boa-fé nas fases pré e pós-contratual”. 3 – A proposta (oferta, policitação) é a segunda fase da formação do contrato, significando a vontade definitiva de contratar nas bases oferecidas. Deve então conter todos os elementos essenciais do negócio jurídico em formação (preço, quantidade, qualidade, prazo, lugar e modo de pagamento etc.), bem como ser clara, completa e inequívoca. 3.1 – Trata-se de ato receptício porque sua eficácia depende da declaração do obleto, ou seja, daquele a quem a oferta se dirige. 3.2 – A proposta, via de regra, está imbuída de força vinculante, i.e., prende o proponente aos seus termos a fim de conferir segurança às relações sociais. Afinal, não raro acarreta fundada expectativa ao oblato de celebração do negócio, o que pode ser causa de despesas e gastos de diferentes naturezas. 3.2.1 – Excepcionalmente, o ordenamento jurídico retira a força vinculante da proposta: havendo expressa menção contrária, incompatibilidade com a natureza da oferta (anúncio em classificados, propostas abertas ao público limitadas ao estoque etc.) ou circunstâncias do caso (enumeração do art. 428, CC). 3.3 – Oferta entre presentes em que o oblato declara que responderá futuramente confere ao proponente o direito de retirá-la. 3.3.1 – Entre presentes significa a possibilidade de o oblato responder o policitante imediatamente, no mesmo momento. 3.4 – Tempo suficiente significa o prazo moral, ou seja, lapso temporal razoável para recebimento e expedição da resposta, devendo-se considerara distância, o meio de comunicação utilizado, a complexidade do negócio em formação, dentre outros. 3.5 – Se esgotado o tempo estabelecido na proposta sem a resposta do oblato, pode-se retirar a proposta, salvo se for hipótese em que o silencio signifique aceitação (ex.: doação). 3.6 – Se a retração chegar ao oblato depois da proposta, o único meio de retirá-la é a prova de que o aceitante soube da retratação antes da oferta (proposta por e-mail aberto antes da mensagem eletrônica sobre a proposta – há meios eletrônicos para certificar os fatos). CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier 4 – A aceitação é a última fase da formação contratual, em que há a concordância com todos os termos da proposta. 4.1 – Para produzir seus efeitos, deve ser pura, simples e dentro do prazo. Do contrário, haverá nova proposta. 4.2 – O momento da conclusão do contrato entre presentes está no exato tempo em que é proferida a oferta, salvo se o proponente conceder prazo para resposta. 4.3 – Entre ausentes, sempre foi tormentosa a identificação do momento da celebração do contrato. Como resultado, surgiram teorias que visaram a solucionar o conflito: 43.1 – Teoria da Informação ou da Cognição: contrato está celebrado quando o proponente conhecer os termos da aceitação. 4.3.1.1 – Não foi adotada por ser inseguro o momento em que se conhece a vontade, permitindo a manipulação por um dos sujeitos, bem como tender ao infinito o tempo da conclusão do contrato (ofertante tem de saber os termos da aceitação; aceitante tem de estar ciente de que o proponente conhece os termos da sua aceitação; oferetante tem de saber que o aceitante está ciente de que conhece os termos da aceitação...). 4.3.2 – Teria da Declaração ou da Agnição: está dividida em três outras teorias. 4.3.2.1 – Teoria da declaração propriamente dita: fica concluído o contrato no exato momento em que o oblato declarar inequivocamente sua adesão à proposta. Não foi acolhida pelo ordenamento jurídico em razão da sua fragilidade. 4.3.2.2 – Teoria da Expedição: foi adotada como regra pelo Direito pátrio. Assim, está formado o contrato quando a aceitação é enviada ao ofertante. 4.3.2.3 – Teoria da Recepção: além da expedição, é necessário que a aceitação chegue ao proponente, nada importando se seus termos serão ou não conhecidos. Foi adotada pelo ordenamento jurídico como exceção à regra da expedição: retração da aceitação que chegue antes ao seu destinatário, houver compromisso do proponente em aguardar a resposta, oferta registrar prazo expressamente para que a resposta chegue ao proponente. 5 – O lugar do contrato, em aparente contradição com a regra da expedição, é onde houve a proposta. A razão legal considera o local onde ocorreu o impulso inicial que deu origem ao contrato. 5.1 – A relevância deste tema está nos contratos internacionais ao se investigar se será ou não aplicável a legislação brasileira (art. 9º, § 2º, LICC). 5.2 – As partes podem sempre eleger foro que lhes seja mais conveniente. Logo, o art. 435, CC, é norma disponível. OBJETIVOS ESPECÍFICOS: O aluno deverá ser capaz de: Identificar as fases contratuais; Compreender os requisitos e características de cada fase; Apontar o lugar da celebração do contrato e a disponibilidade da norma; CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier Solucionar conflitos referentes ao momento da conclusão do contrato. ESTRATÉGIA: Os casos e questões de múltipla escolha deverão ser abordados ao longo da aula, de acordo com a pertinência temática; A resolução dos casos faz parte da aula; A abordagem dos casos permeia a exposição teórica. BIBLIOGRAFIA / JURISPRUDÊNCIA: GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2008, Volume III, Título I, Capítulo II. PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006. v.3 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil. 4. ed. rev. e atualizada. São Paulo: Saraiva, 2008. Tomo 1, V. IV, Capítulo VI. CASO CONCRETO 1 A empresa GESTÃO IMOBILIÁRIA anunciou em jornal de grande circulação um andar em um edifício comercial para locação, tendo tal oferta interessado a EMPREENDIMENTOS – SOCIEDADE DE CONSTRUÇÕES LTDA., que procurou a GESTÃO IMOBILIÁRIA para ver o imóvel. Após a primeira visita, a EMPREENDIMENTOS manifestou interesse na locação, mas informou que precisariam ser feitos certos reparos no imóvel. Após os primeiros encontros e as declarações da EMPREENDIMENTOS de que celebraria o contrato se o imóvel estivesse no estado adequado, a GESTÃO IMOBILIÁRIA tratou de fazer os reparos no imóvel, promovendo uma reforma que durou cerca de um mês. Durante a reforma, a EMPREENDIMENTOS visitava o imóvel regularmente. Concluídos os reparos, a GESTÃO IMOBILIÁRIA chamou a EMPREENDIMENTOS para que, enfim, fosse celebrado o contrato. Todavia, para a surpresa da GESTÃO IMOBILIÁRIA, a EMPREENDIMENTOS informou que não fecharia o acordo porque a sala tinha 200 m2 e teria verificado que as necessidades da EMPREENDIMENTOS limitavam-se a 120 m2, razão pela qual iria procurar um imóvel menor e mais barato. 1) Pode-se afirmar que já existia algum contrato entre as empresas? Justifique. 2) A desistência da empresa EMPREENDIMENTOS tem amparo legal ? Justifique. 3) Houve violação ao princípio da boa-fé ? Em caso positivo, em que fase do contrato ? CASO CONCRETO 2 Charles recebe de Matheus a encomenda de 300 vasos de cerâmica e, no dia seguinte, faz a remessa das primeiras mercadorias. No fim do mesmo dia, Charles sabe por um comerciante amigo seu sobre o aumento do preço dos produtos a entregar e arrepende-se do negócio. Informa CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier seu arrependimento a Matheus e alega que o ajuste não se aperfeiçoara, por carecer de aceitação, já que não houve por parte dele aceitação expressa. A alegação de Charles procede ? Justifique. QUESTÕES OBJETIVAS 1ª Questão: Em matéria de contratos, configura-se o momento da conclusão da formação quando: a) no tempo em que o proponente souber os termos da aceitação. b) quando inequivocamente o aceitante declarar sua adesão à oferta. c) à época em que o oblato enviar a aceitação ao proponente, ainda que a ele não chegue. d) entre presentes,no mesmo instante da proposta; entre ausentes, não há tempo certo estabelecido pela norma jurídica. 2ª Questão: João, após certo tempo de dividir a mesma turma de estudos com Lourdes, desenvolveu por ela especial afeto, não obstante ser casada. Passou então a lhe presentear com flores, chocolates, jóias e outros mimos, sendo certo que, em todas as vezes, Lourdes recebia os presentes, os guardava, porém nada dizia. Por fim, ele tomou coragem para se declarar e convidá- la para um jantar a dois. Diante da resposta negativa dela, ele mostrou-se contrariado, principalmente porque ela aceitou todos os seus presentes. Constrangida, Lourdes afirmou que jamais aceitou qualquer presente. Afinal, nunca declarou aceitação a qualquer proposta. Diante do quadro, considerando que os presentes configuram doações, marque a alternativa correta: a) Lourdes está correta, haja vista que não foi recebida por João qualquer manifestação positiva quanto ao contrato. b) O comportamento de João não denotava nenhuma proposta, mesmo porque não se percebe as características da oferta no caso. c) Não se pode dizer que houve aceitação porque o Código Civil adotou a teoria da expedição, sendo certo que nenhuma vontade foi dirigida ao proponente. d) Foi sim concluídoo contrato de doação, na medida em que o Código Civil admite a hipótese de aceitação quando não houver recusa num prazo moral ou expressamente estipulado. SEMANA 4 Classificação dos contratos. CONTEÚDOS: 1 – Os contratos agrupam-se em diferentes categorias conforme o ângulo pelo qual são analisados. A compreensão de cada modo de classificação é importante para entender as características de cada contrato, bem como aplicar certos fenômenos jurídicos à espécie. 2 – Quanto à obrigação nascida da relação contratual, pode-se classificá-lo em unilateral, bilateral ou plurilateral ou plúrimo: o primeiro gera obrigação para apenas uma das partes envolvidas, o segundo para ambos os contratantes e o terceiro é o tipo de contrato que possui mais de duas partes. CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier 2.1 – Evicção, vício redibitório, cláusula resolutiva e exceção de contrato não-cumprido são institutos contratuais que somente podem ser aplicados em contratos bilateriais. 2.2 – Contrato bilateral imperfeito subordina-se ao regime dos contratos unilaterais. É aquele que somente gera obrigação para uma das partes por circunstância acidental ocorrida durante a execução da prestação, como no caso em que o depositante é obrigado a indenizar o depositário por danos sofridos ao guardar a coisa em contrato que não comporte remuneração. 3 – Quanto às vantagens patrimoniais, os contratos dividem-se em gratuitos (ou benéficos ou graciosos) e onerosos. Os primeiros são aqueles que geram benefício econômico para apenas uma das partes, enquanto que a outra somente tem sacrifícios; os segundos implicam em vantagens para ambas as partes. 3.1 – Há doutrinadores que distinguem os contratos gratuitos em propriamente ditos e em desinteressados: os primeiros são aqueles em que uma das partes empobrece em favor da outra (ex.: doação pura); os segundos geram benefícios sem empobrecimento de ninguém (ex.: empréstimo). 3.2 – Em regra, os contratos gratuitos são unilaterais e os onerosos são bilaterais. Todavia, excepcionalmente, é possível um contrato ser unilateral e oneroso ao mesmo tempo (ex.: empréstimo de dinheiro mediante juros). Segundo alguns doutrinadores, que admitem classificar os contratos em bilateral imperfeitos, estes são gratuitos (ex.: depósito sem remuneração e mandato). 3.3 – Os contratos onerosos podem ser agrupados em comutativos e aleatórios: os primeiros significam contratos em que as partes podem antever as vantagens e sacrifícios, os quais se equivalem (em termos mais simples, as prestações se equivalem); os segundos são chamados contratos de risco, ou seja, as partes não podem antever se o sacrifício a ser cumprido conferirá a vantagem econômica esperada (alea, em latim, é o mesmo que risco, sorte, acaso). 3.3.1 – Há contratos aleatórios por natureza, ou seja, o risco faz parte da essência do negócio (seguro, previdência privada, cessão de direitos hereditários) e os contratos acidentalmente aleatórios (venda de safra futura). 3.3.2 – A distinção ente contatos comutativos e aleatórios é importante para atração de certos institutos contratuais (evicção, vício redibitório, rescisão por lesão). 3.3.3 – Os contratos aleatórios podem ser classificados em emptio spei (denominada também venda da esperança) e emptio rei speratae (venda da coisa esperada). Os primeiros são previstos no art. 458, CC, em que o pagamento é devido ainda que nada exista para ser entregue ao adquirente, salvo se a perda ocorrer por culpa do alienante; os segundos são aqueles em que o pagamento é devido desde que a coisa a ser entregue exista em alguma quantidade, salvo se houver culpa do alienante. 4 – Quanto à participação da vontade dos contratantes, os contratos podem ser classificados em paritários e de adesão. Paritários são aqueles em que cada uma das cláusulas é construída pelo encontro da vontade das partes em situação de igualdade. Os contratos de adesão, frutos da produção em massa, implicam na imposição de cláusulas preestabelecidas por uma das partes, cabendo a outra apenas aceitá-las ou não. 4.1 – Parte da doutrina difere o contrato de adesão do contrato-tipo (ou contrato por formulário). Apesar da identidade no fato de ser apresentado por um dos contraentes, diferem-se porque o CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier contato-tipo não tem sua essência na desigualdade econômica e admite discussão das cláusulas. Assim, não obstante serem pré-redigidas, as cláusulas não são impostas, admitindo a discussão, ainda que parcial, entre as partes. 5 – Quanto ao cumprimento da prestação contratual, os contratos podem ser de execução simultânea (ou instantânea), diferida ou continuada. 5.1 – Contrato de execução simultânea (ou imediata ou instantânea ou única) é aquele cuja obrigação se exaure no mesmo momento em que o negócio é concluído. 5.2 – Nos contratos de execução diferida (ou retardada), a consumação da prestação ocorre também num único momento, porém em tempo futuro à conclusão do contrato. Logo, há necessariamente lapso temporal entre a celebração do contrato e o cumprimento da respectiva prestação, sendo esta exaurida num único ato. 5.3 – Os contratos de execução continuada (ou de trato sucessivo) são aqueles cujas obrigações se cumprem por atos reiterados ao longo do tempo. 5.4 – Há contratos que podem dar origem a obrigações de naturezas diferentes. Assim, por exemplo, a compra de um móvel pode implicar no dever no pagar o preço à vista e a entrega do imóvel num tempo futuro (uma execução imediata e outra retardada). 5.5 – As distinções são relevantes porque a teoria da imprevisão, por exemplo, não se aplica às obrigações simultâneas. 6 – Quanto à pessoalidade, os contratos podem ser personalíssimos (intuito personae) ou impessoais. 6.1 – Nos contratos personalíssimos, as qualidades pessoais do contratante são mais relevantes do que o objeto, consistindo, em regra, obrigações de fazer. Com efeito, são intransmissíveis e anuláveis por erro quando à pessoa. 6.2 – Os contratos impessoais podem ser cumpridos por qualquer pessoa. Logo, não são extintos pela morte do contratante porque os herdeiros do devedor poderão cumpri-lo. 7 – Quanto às vontade envolvidas, os contratos podem ser individuais ou coletivos. Assim, os primeiros são formados de acordo com a expressão de intenções manifestada cada participante do negócio jurídico, enquanto que os segundos são formados por um grupo representado por um líder legitimamente constituído. 8 – Quanto à consideração recíproca, os contratos podem ser principais e acessórios. Os principais têm existência própria, não dependendo de nenhum outra para serem constituídos. Já os acessórios somente são formados em razão dos principais, seguindo a sua sorte. 8.1 – Alguns autores, como Orlando Gomes, identificam tipos diferentes de contratos acessórios: preparatórios (ex.: mandato), integrativos (ex.: aceitação do terceiro em seu favor) e complementares (ex.: fiança). 8.2 – Há também a distinção entre acessórios e subcontratos (ou derivados). Apesar de ambas as categorias envolverem dependência de outro, os derivados implicam num desdobramento do contrato principal, inclusive tendo o mesmo objeto e características (ex.: locação e sublocação). CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier 9 – Quanto ao modo de celebração, os contrato podem ser solenes (ou formais) e não solenes (ou informais). Os primeiros somente são válidos se obedecida à forma de celebração determinada por lei ou pela vontade das partes; os segundos são válidos independentemente do modo em que sãoformados. 9.1 – Tendo o Brasil adotado a liberdade de forma, somente excepcionalmente os contratos são ad solemnitatem. 10 – Quanto à formação, os contratos podem ser consensuais e reais. 10.1 – Os contratos consensuais, os quais consistem na regra, tornam-se negócio jurídico perfeito mediante a expedição da aceitação do oblato em direção ao proponente, salvo nos casos em que é necessária a recepção. Se envolverem entrega de coisa, este ato significará o cumprimento da obrigação nascida da vontade dos sujeitos (ex.: compra e venda, doação). 10.2 – Os contratos reais, exceção jurídica, somente se aperfeiçoam ao tempo em que a coisa é entregue ao devedor. Em outros termos, não é possível haver execução da prestação contratada antes da tradição, pelo que fica inexigível a obrigação (ex.: empréstimo, depósito). 11 – Contratos Preliminares e Definitivos: os primeiros, denominados pelos romanos pactum de contrahendo, são aqueles que têm por objeto a celebração dos segundos. 11.1 – Como há identidade entre os negócios, todos os elementos contratuais são os mesmos, salvo a forma. Assim, por exemplo, os contratos de compra e venda, em regra, devem ser celebrados por instrumento público, porém os contratos de promessa de compra e venda podem ser celebrados por instrumento particular. 12 – Quanto à previsão legal, os contratos podem ser típicos (nominados) ou atípicos (inominados). De acordo com a autonomia da vontade, o ordenamento jurídico autoriza as partes convencionarem obrigações que não estão disciplinadas em lei. 12.1 – Os contratos atípicos devem observar os elementos essenciais dos negócios jurídicos. 12.2 – Os contratos resultantes da combinação de contratos típicos com cláusulas de outro são denominados mistos. Em outros termos, os contratos mistos são formados por elementos de dois ou mais negócios jurídicos. 12.3 – Também merecem menção os contratos coligados, ou seja, pactos constituídos por uma pluralidade de avenças interligadas. São comumente celebrados entre distribuidoras de petróleo e exploradoras de postos de gasolina: fornecimento de combustíveis, arrendamento de bombas, locação de prédios etc. OBJETIVOS ESPECÍFICOS: O aluno deverá ser capaz de: Compreender a importância de classificar os contratos de acordo com critérios bem delineados; Identificar diferentes tipos de classificação de contratos; Interligar contratos de diferentes classificações; Exemplificar cada espécie de contrato. CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier ESTRATÉGIA: Os casos e questões de múltipla escolha deverão ser abordados ao longo da aula, de acordo com a pertinência temática; A resolução dos casos faz parte da aula; A abordagem dos casos permeia a exposição teórica. BIBLIOGRAFIA / JURISPRUDÊNCIA: GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2008, Volume III, Título I, Capítulo III. PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006. v.3 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil. 4. ed. rev. e atualizada. São Paulo: Saraiva, 2008. Tomo 1, V. IV, Capítulo VIII. CASO CONCRETO 1 Manoel resolveu viajar para o exterior por poucas semanas. Preocupado com a hipótese de sofrer algum acidente ou causar danos a alguém, seleciona uma empresa para celebrar contrato de seguro. Assim, pagaria um certo prêmio e, em contrapartida, teria cobertura caso sofresse algum sinistro. Considerando a modalidade do contrato relatada, responda: 1) É oneroso ou gratuito ? 2) É bilateral ou unilateral ? 3) É de natureza aleatória ? Justifique. 4) É solene ? Justifique. CASO CONCRETO 2 Antônio e Carla celebram contrato de doação de uma casa residencial localizada em Santarém/PA avaliada em R$ 200.000,00 (duzentos mil reais). A título de encargo, a donatária comprometeu-se a organizar, por 5 (cinco) anos consecutivos, evento beneficente de natal da Fundação Antônio Almeida, fundada pelo genitor do doador. Analisando o contrato acima e tomando por parâmetro o direito contratual brasileiro, responda, JUSTIFICADA E FUNDAMENTADAMENTE: CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier 1) É oneroso ou gratuito ? 2) É bilateral ou unilateral ? 3) É de natureza aleatória ? 4) É solene ? QUESTÕES OBJETIVAS 1ª Questão: Nos contratos abaixo relacionados, assinale o que é unilateral, real, informal e nominado: a) doação b) mútuo c) depósito d) compra e venda 2ª Questão: João celebrou contrato de transporte de coisas para fins de levar seus móveis para uma nova residência. Conforme as cláusulas avençadas, o preço foi pago no exato momento da contratação do frete, enquanto que a empresa somente executaria a prestação de fazer na semana seguinte, em dia e hora combinados. Isto posto, marque a alternativa que corretamente classifica o contrato no que tange ao cumprimento da obrigação pactuada: a) Simultânea, porque as obrigações surgiram tão logo foi o contrato concluído. b) Diferida, na medida em que será encerrado o contrato em tempo futuro à celebração. c) Continuada,haja vista o adimplemento se estender ao longo do prazo contratual. d) Como dá origem a obrigações distintas, uma tem execução simultânea e a outra diferida. SEMANA 5 Dos efeitos dos contratos. Força obrigatória dos contratos. Relatividade dos efeitos dos contratos. Eficácia com relação a terceiros. Contratos por terceiro. Estipulação em favor de terceiros. Promessa de fato de terceiro. Contrato com pessoa a declarar. CONTEÚDOS: 1 – O principal efeito dos contratos é vincular as partes tal qual a lei opera em sociedade, na medida em que cria obrigação a ser compulsoriamente cumprida, sob as penas previstas em lei ou no próprio pacto. Uma vez exaurida a prestação obrigacional, fica extinto o contrato. 2 – Uma das características da relação contratual, conforme salientado ao tempo do estudo dos princípios, é a relatividade, ou seja, os efeitos do contrato não ultrapassam as pessoas envolvidas na obrigação criada pela vontade dos sujeitos. CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier 2.1 – A título de exceções expressamente previstas em lei, foram criadas figuras jurídicas que estendem os efeitos do contrato a terceiros, pessoas cujas vontades não operaram na formação contratual. Dentre tais exceções, está a estipulação em favor de terceiro. 3 – A estipulação em favor de terceiro consiste no fato de uma pessoa (denominada estipulante) convencionar com outra (denominada promitente) que uma vantagem econômica resultará do ajuste entre as partes em favor de uma terceira que não participou da celebração do contrato (denominada beneficiário). 3.1 – No instante da execução do contrato, o beneficiário, cuja vontade não colaborou para a formação do contrato, pode tornar-se credor do promitente, desde que aceite exatamente todos os termos avençados entre o promitente e o estipulante. 3.2 – Sob pena de invalidação da estipulação, a atribuição patrimonial em favor do terceiro deve consistir em liberalidade, ser-lhe gratuita. Assim, qualquer pessoa, inclusive absolutamente incapazes, pode ser beneficiária. 3.3 – É relevante a aceitação do beneficiário para que surtam os efeitos da estipulação em seu favor, conforme dispõe o art. 438, CC. Afinal, o ordenamento jurídico não admite a aquisição compulsória de um direito, bem como o envolvimento num contrato sem emissão de vontade. 3.4 – O estipulante pode alterar a qualquer tempo a figura do beneficiário, tanto no própriocontrato quanto em testamento. 4 – Outro instituto que esvazia a força da relatividade é a promessa por fato de terceiro. Esta consiste em avença na qual o vinculado é aquele que promete a outrem a execução de uma obrigação de fazer, ou seja, a celebração do contrato com outra pessoa. 4.1 – O agente não assume a figura de mandatário porque o terceiro não lhe outorgou poderes para representá-lo. Sua conduta é autônoma ao assumir perante alguém que conseguirá criar laços contratuais entre a pessoa a quem se promete e o terceiro. 4.3 – Se o terceiro assumir a relação contratual, o promitente terá cumprido sua obrigação de fazer outrora assumida; se o terceiro não assumir a relação contratual e houver danos ao sujeito a quem se prometeu, o promitente responderá por perdas e danos. 4.4 – É isento de responsabilidade o promitente casado com o terceiro sob regime de bens que possa comprometer o patrimônio do terceiro, na medida em que não se pode apenar quem nem mesmo soube do negócio, tampouco emitiu qualquer vontade. 5 – Finalmente, há a figura do contrato com pessoa a declarar, em que uma das partes reserva para si a faculdade de nomear alguém para assumir sua posição na relação contratual tal qual tivesse a pessoa designada celebrado o contrato inicialmente. 5.1 – Esta prática era bastante aplicada no mercado antes de a legislação brasileira positivá-la, principalmente nos contratos de promessa de compra e venda em que o promitente comprador concedia-se o direito de indicar outra pessoa para constar no contrato definitivo em seu lugar. 5.2 – Se o contrato não dispuser do tempo para manifestação do nomeado a respeito da sua aceitação ou não, o prazo será de cinco dias. A formalidade deve ser a mesma exigida para a formação do contrato. CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier 5.3 – Feita a indicação e aceita a nomeação, assume o nomeado a relação contratual como se fizesse parte dela desde o princípio. Se houver silêncio do indicado, presume-se que não houve aceitação. 5.4 – O contrato é eficaz apenas entre as parte originalmente envolvidas se não houver indicação, se a nomeação não for aceita, se indicado for incapaz ao tempo da nomeação ou se insolvente, este último tanto no tempo da indicação quanto no tempo da nomeação. OBJETIVOS ESPECÍFICOS: O aluno deverá ser capaz de: Compreender a força vinculante dos contratos e sua eficácia relativa; Identificar as exceções legais à relatividade; Diferenciar e correlacionar cada uma das exceções; Perceber os efeitos e características dos institutos apresentados. ESTRATÉGIA: Os casos e questões de múltipla escolha deverão ser abordados ao longo da aula, de acordo com a pertinência temática; A resolução dos casos faz parte da aula; A abordagem dos casos permeia a exposição teórica. BIBLIOGRAFIA / JURISPRUDÊNCIA: GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2008, Volume III, Título I, Capítulo IV, V e X.. PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006. v.3 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil. 4. ed. rev. e atualizada. São Paulo: Saraiva, 2008. Tomo 1, V. IV, Capítulo VII. CASO CONCRETO 1 Milena encaminhou proposta a Francisca cujo objeto era a alienação de 30 cavalos marcha larga pelo preço de R$ 200.000,00 (duzentos mil reais). Na referida proposta, Milena se obrigou a aguardar resposta no prazo de 30 dias. Ocorre que no 15º dia Milena sofreu um acidente de trânsito e veio a falecer. Houve a aceitação da proposta após a morte da proponente, porém antes do vencimento do prazo de 30 dias. Isto posto, indaga-se se os herdeiros de Milena estão obrigados a cumprir os termos da proposta ? Justifique a sua resposta. CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier CASO CONCRETO 2 Manoel resolveu viajar para o exterior por poucas semanas. Preocupado com a hipótese de sofrer algum acidente ou causar danos a alguém, seleciona uma empresa para celebrar contrato de seguro, segundo o qual seus filhos receberiam indenização de R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais) se morresse por causa alheia à sua vontade. Destarte, pergunta-se: 1) Qual instituto se percebe no contrato celebrado entre Manoel e a seguradora ? Quais são as partes envolvidas ? 2) Identifique credor e dever. 3) Considerando serem os filhos de Manoel absolutamente incapazes, poderiam eles figurar no contrato em tela ? Justifique QUESTÕES OBJETIVAS 1ª Questão (TJ-SC-27/04/2003 – Direito Civil – Questão n.º 17): Com relação aos CONTRATOS COM PESSOA A DECLARAR (arts. 467 a 471, CC/2002), assinale a alternativa correta: a) A aceitação do nomeado poderá ser feita verbalmente, mesmo que o contrato tenha sido realizado por escrito. b) Os direitos e obrigações da pessoa indicada, uma vez aceita a nomeação, não retroagem à data da celebração do contrato. c) Inexistente indicação de pessoa, no prazo previsto no Código Civil (5 dias) ou em outro estipulado pelas partes, o contrato se extingue. d) Se a pessoa a nomear era incapaz no momento da nomeação, o contrato não produz efeitos em relação aos contratantes originários. e) Todas as alternativas são incorretas. 2ª Questão: Jenifer quer contratar o mais badalado fotógrafo do momento para registrar seu um casamento. Seu marido, Roberto, por ser primo da esposa do fotógrafo, Antonia, questionou-a se seria possível contratá-lo. Solidária ao desejo de Jenifer, Antonia compromete-se a ajudá-los, já que seu marido faz tudo que ela quer. Contudo, seria cobrado um preço simbólico pelo serviço a ser pago em duas parcelas de R$ 5.000,00. No dia do evento, o fotógrafo não comparece e, quando procurado, diz que sequer sabia do fato. Antonia, por sua vez, lamentou o ocorrido e pediu desculpas, bem como declarou não poder devolver o dinheiro já recebido porque o fato criar-lhe-ia grandes problemas conjugais, já que seu marido lhe proibira de se manifestar por ele, bem como já o gastou completamente. Diante disso, poderia Jenifer responsabilizar o fotógrafo ou sua esposa pelos danos morais e materiais sofridos ? a) Depende do regime de bens vigente na relação conjugal entre Antonia e o fotógrafo. CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier b) Somente Antonia poderia ser responsabilizada porque descumpriu sua obrigação de fazer. c) Ambos podem ser responsabilizados porque não se admite o enriquecimento sem causa. d) Ninguém será responsabilizado porque a lei não permite demandar contra pessoas casadas. SEMANA 6 Elementos Naturais do Contrato. Vícios Redibitórios. Exclusão da garantia em hasta pública. Evicção. Evicção nas aquisições judiciais. Boa-fé do evicto. CONTEÚDOS: 1 – Vícios redibitórios são defeitos ocultos em coisa adquirida em contratos comutativos, os quais a tornam imprópria para o fim a que se destina ou lhe diminua o valor. 1.1 – A coisa pode ser rejeitada pelo adquirente, pelo que lhe é devida a devolução do pagamento ou a troca, além de perdas e danos, se o alienante tiver ciência do defeito antes da alienação. Pode ainda o adquirente optar por ficar com a coisa mediante abatimento do preço. 1.2 – O alienante é responsável pelo vício ou defeito se deixar de ser oculto quando a coisa estiver sob a posse do adquirente. É fundamental que a causa do problema seja anterior à entrega do bem. 1.3 – Mesmo que não tenha ciência do vício, responderá o alienante pela devolução do preço recebido. Entretanto, não responderá por perdas e danos porquesua conduta não foi dolosa. 1.4 – O fundamento da responsabilidade pelos vícios está no princípio de garantia, em que o alienante deve conferir segurança ao adquirente quanto à qualidade e quantidade acerca da coisa adquirida. Em outros termos, trata-se de garantia da equivalência ínsita à comutatividade. 1.5 – As ações cujas causas de pedir consistem em vício redibitório são denominadas edilícias. São suas espécies a ação redibitória, em que o adquirente rejeita a coisa, e a ação estimatória (ou quanti minoris), em que o adquirente não rejeita a coisa, porém pretende pagar por ela preço inferior em razão da perda da equivalência entre o preço avençado e as verdadeiras características da coisa. 1.6 – A lei prevê prazos decadenciais para o exercício das ações edilícias, os quais variam de acordo com: a natureza do bem; se o adquirente já estava ou não na posse da coisa antes da aquisição da propriedade; se era ou não possível identificar o vício tão logo adquirido o bem ou se seria necessário o uso contínuo. 1.7 – Vício redibitório não significa má apreciação das características essenciais do objeto adquirido. Nesta última hipótese,a ação seria anulatória por erro (vício de consentimento). 1.8 – O Código Civil revogado afastava a responsabilidade por vício redibitório se a coisa fosse adquirida em hasta pública. Contudo, como a exceção não foi reproduzida na lei vigente, entende- se pela possibilidade de se propor ação edilícia mesmo neste caso. 2 – Evicção é a perda da coisa em virtude de sentença judicial, a qual atribui a outrem a titularidade sobre o bem por um motivo jurídico anterior ao contrato. Logo, há três atores envolvidos: o evictor, reivindicante e vencedor da demanda; o evicto, adquirente que perde a coisa para o reivindicante; alienante, quem responderá pela perda da coisa. CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier 2.1 – O alienante tem o dever de garantir o uso e gozo ao adquirente, ou seja, auxiliá-lo nos casos em que alguém reclamar a coisa alienada e, na hipótese de perda pelo adquirente, indenizá-lo. Daí,a evicção estar fundamentada também no princípio da garantia em que se assentam os vícios redibitórios. 2.2 – Não se discute culpa do alienante, pois este, mesmo de boa-fé, responde perante o adquirente pelos prejuízos resultantes da evicção. 2.3 – Podem as partes convencionarem: reforço, diminuição ou exclusão da responsabilidade pela evicção. Contudo, a mera cláusula geral de exclusão não isenta o alienante de restituir o preço pago pelo adquirente. 2.3.1 – A completa isenção de responsabilidade do alienante decorrerá da ciência ao adquirente do exato risco que corre, tendo este assumido expressamente a opção de sofrê-lo. 2.4 – Entende a doutrina especializada que o reforço não pode ser ilimitado a ponto de ultrapassar a totalidade dos prejuízos sofridos pelo adquirente. 2.5 – Subsiste a obrigação de indenizar se a coisa tiver sido adquirida em hasta pública. A demanda deve ser exercida contra o credor exeqüente, que recebeu o pagamento do arrematante evicto, estendendo-se ao devedor executado se este tiver recebido saldo remanescente. 2.6 – Deve o evicto demandado denunciar à lide o alienante a fim de exigir dele a indenização pelos prejuízos decorrentes da evicção, servindo-se da mesma sentença que favoreceu o reivindicante. 2.6.1 – Entende o STJ que a ausência de denunciação da lide não prejudica a pretensão do evicto em demandar indenização pelo prejuízo sofrido. Contudo, perderá o benefício de fazê-lo na mesma ação em que é demandado pelo reivindicante e, portanto, não poderá se servir da mesma sentença que o condenar. Em outros termos, terá de propor nova ação de conhecimento. 2.7 – Se a evicção for parcial, ou seja, se o evicto perder apenas parte da coisa adquirida, poderá optar entre a extinção do contrato ou a devolução do preço correspondente ao tanto perdido. Contudo, a alternatividade somente é facultada se a perda parcial for declarada considerável pelo juiz. Caso contrário, seu direito será apenas a indenização. 2.8 – Se comprovada a má-fé do evicto, ou seja, seu conhecimento de ser a coisa alheia ou litigiosa, não poderá ser demandada indenização ou qualquer outro efeito do alienante. Afinal, ninguém pode se beneficiar da própria torpeza. 2.9 – A jurisprudência entende cabível ação autônoma de execução quando ocorrer evicção administrativa (ex.: veículo roubado apreendido por policiais em uma blitz). OBJETIVOS ESPECÍFICOS: O aluno deverá ser capaz de: Conceituar vício redibitório e evicção; Elencar características e requisitos; Identificar as ações respectivas a cada fato, bem como prazos e pretensões; CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier Compreender os efeitos decorrentes do vício redibitório e da evicção ESTRATÉGIA: Os casos e questões de múltipla escolha deverão ser abordados ao longo da aula, de acordo com a pertinência temática; A resolução dos casos faz parte da aula; A abordagem dos casos permeia a exposição teórica. BIBLIOGRAFIA / JURISPRUDÊNCIA: GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2008, Volume III, Título I, Capítulos VI e VII. PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006. v.3 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil. 4. ed. rev. e atualizada. São Paulo: Saraiva, 2008. Tomo 1, V. IV, Capítulos XII e XIII. CASO CONCRETO 1 Pedro celebra um contrato de compra e venda de um apartamento, em Cabo Frio, com Renata, alienante, em 27 de outubro de 2005. Um ano após a compra, Pedro recebe em sua casa uma citação do oficial de justiça para responder a uma ação petitória, no qual o autor, André, se diz o legítimo proprietário daquele imóvel. Desesperado com a possibilidade de perder a sua moradia, Pedro telefona para Renata informando-lhe do ocorrido e exigindo explicações. Esta, por sua vez, diz que não tem qualquer responsabilidade, pois não sabia que o imóvel pertencia a André e que havia adquirido o imóvel em hasta pública. Com base nos fatos acima responda justificando e fundamentando nos dispositivos legais pertinentes. A) Renata possui algum dever jurídico perante Pedro caso ele perca o imóvel em razão da ação petitória? Qual? B) De que forma Pedro poderá exercer o direito oriundo da evicção em face de Renata? C) A garantia da evicção subsiste quando o bem é adquirido em hasta pública? Em face de quem deveria ser proposta essa ação? CASO CONCRETO 2 Técio adquiriu um boi reprodutor de Fábio, grande amigo seu. Três meses após a compra, o animal manifestou uma doença incurável, que já se achava encubada ao tempo da alienação, motivo pelo qual o boi veio a falecer. CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier 1 – Técio pode propor ação redibitória ou quanti minoris pelo falecimento do animal? Justifique. 2 – O desconhecimento de Fábio a respeito da doença do boi possui que reflexos no direito de Técio? Justifique. QUESTÕES OBJETIVAS 1ª Questão: Suelen, locatária de uma casa que pertence a Lucia há dez meses, descobre que a proprietária quer vendê-la e se interessa em comprá-la. Passados quatro meses da aquisição do imóvel, descobre que toda a estrutura da casa está comprometida porque foi construída com material inadequado e sem fundações sólidas. Assim, marque a alternativa correta: a) Nada caberá à Suelen porque está no imóvel há mais de 1 ano, pelo que decaiu seu direito. b) Não haveria vício redibitório no caso porque não houve danocausado à adquirente. c) Suelen tem direito de rejeitar o contrato porque o prazo é de 6 meses a contar da compra. d) O direito de Suelen dependerá dos termos previstos na cláusula do contrato celebrado com Lucia. 2ª Questão: Sandro celebra contrato de doação mediante encargo com Augusto, pelo qual lhe transfere a propriedade de um imóvel pelo preço certo de R$ 100.000,00 (cem mil reais). No instrumento, há cláusula expressa em que Sandro, o vendedor, fica isento de responsabilidade por eventuais riscos de evicção a Augusto. Alguns meses após a conclusão do contrato, Augusto é citado em ação de usucapião em que um terceiro, João, alega e comprova ter adquirido a propriedade da coisa pelo exercício da posse. Conforme os relatos, indique a alternativa INCORRETA: a) A responsabilidade do alienante subsistirá se a usucapião tiver ocorrido antes da venda. b) A cláusula não isenta totalmente o vendedor, tendo ele de restituir o valor pago pela coisa. c) A ausência de denunciação da lide não prejudicará eventual propositura de ação própria para discutir a responsabilidade civil do alienante. d) Sandro terá de indenizar os prejuízos de Augusto ainda que este sempre tenha estado ciente de a coisa ser alheia ou litigiosa. SEMANA 7 Contratos preliminares e definitivos. Promessa de compra e venda (momento da transmissão do domínio; características). Arras. Distinções. CONTEÚDOS: CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier 1 – Contrato preliminar é um negócio provisório, preparatório, no qual prometem complementar o ajuste mediante a celebração do contrato definitivo. Assim, é constituída a obrigação de fazer, cujo cumprimento encerrará o objeto do contrato preliminar. 2 – Os requisitos exigidos para o contrato preliminar são os mesmos do contrato definitivo, exceto a forma. 3 – O contrato preliminar mais comum é a promessa de compra e venda, através da qual as partes avençam a celebração futura do contrato definitivo (compra e venda), que envolverá a obrigação de transferir a propriedade, após o pagamento do preço. 3.1 – Não havendo expressa autorização para arrependimento, o contrato é irretratável. Se celebrado pela forma escrita, poderá o promitente-comprador exigir a adjudicação compulsória judicialmente, substituindo a sentença declaratória de procedência o título definitivo. Assim, seu registro transferirá a propriedade para o adquirente. 3.2 – Relevante destacar o princípio do adimplemento substancial. 3.3 – Havendo descumprimento da obrigação pelo promitente-comprador, terá ele de restituir o imóvel ao promitente-vendedor, cabendo-lhe restituição parcial do preço. 3.3.1 – Se tiver estabelecido residência no imóvel, terá o promitente-comprador o direito de exigir taxa de ocupação pelo período em que se serviu da coisa. Em contrapartida, poderá o promitente- comprador cobrar indenização por benfeitorias. 3.4 – O registro do contrato de promessa de compra e venda não confere ao promitente- comprador direito de propriedade, na medida em que não constitui obrigação de transferir propriedade, mas sim de celebrar outro contrato (definitivo). O registro confere direito real de aquisição, ou seja, oponibilidade erga omnes quanto ao direito de exigir a adjudicação. 3.5 – A cláusula de arrependimento, prevista expressamente pelas partes no contrato, retira a possibilidade de adjudicação compulsória, na hipótese de desistência por parte do promitente vendedor. Contudo, esta cláusula só é possível em se tratando de imóvel não loteado, sendo proibida nos casos em que o objeto da promessa envolva imóvel loteado (lotes rurais – Decreto-lei n. 58/37), e lotes urbanos (Lei 6.766/79 9 Lei de Parcelamento do Solo Urbano). Qualquer cláusula nesses contratos, permitindo a retratabilidade, é tida por não escrita. A vedação é de ordem pública. 3.6 – O Código Civil, permitindo o arrependimento, cuida dos imóveis não loteados (art. 1.417). 4 – Sinal ou arras são a quantia ou coisa entregue por um dos contraentes ao outro como confirmação do acordo de vontades e, dependendo da hipótese, início de pagamento. 4.1 – Não se confundem arras e promessa de compra e venda, não obstante terem em comum o fato de serem preliminares a um contrato. As primeiras são uma garantia de que um contrato será celebrado; o segundo é o próprio contrato. Logo, é bastante comum alguém dar arras para garantir a futura celebração de um contrato de promessa de compra e venda, o qual, ao final, ensejará o contrato de compra e venda. 4.2 – Em conseqüência de sua natureza acessória, incidem arras na antecipação de um contrato bilateral e oneroso translativo de propriedade. Logo, não existem por si. CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier 4.3 – O instituto nasceu no direito romano, as denominadas arras esponsalícias, em que o pretendente entrega um anel como símbolo de que contrairia núpcias. Se o noivo não cumprisse o trato, além de perder o anel, teria de pagar indenização que poderia atingir o triplo ou quádruplo do valor, dependendo dos danos gerados. 4.4 – O sinal ou arras podem ser início de pagamento quando a coisa entregue é parte ou parcela do contrato a ser celebrado, bem como do mesmo gênero do restante a pagar. 4.5 – A garantia decorrente das arras consiste na perda do valor pago por quem as deu se for o responsável pela não-concretude do negócio pretendido; se o responsável for quem as recebeu, terá de devolvê-las em dobro. Assim, a quantia referente a arras equivale à segurança jurídica de que o contrato ser formado. 4.5.1 – Devolver em dobro significa restituir e entregar, do seu próprio patrimônio, o valor equivalente. 4.6 – Existem duas espécies de arras: confirmatórias e penitenciais. 4.6.1 – Arras confirmatórias não admitem arrependimento, consistindo na regra jurídica, ou seja, esta será a espécie diante do silêncio das partes. Neste caso, o valor das arras vale como taxa mínima, podendo ser exigida indenização suplementar caso seja comprovado que o dano sofrido foi maior que o preço pago a título de arras. 4.6.2 – As arras são penitenciais quando houver previsão de arrependimento. Nesta hipótese, as arras têm função unicamente indenizatória, não se admitindo indenização suplementar. OBJETIVOS ESPECÍFICOS: O aluno deverá ser capaz de: Conceituar e identificar as características dos contratos preliminares e definitivos; Definir arras e diferenciar suas espécies; Estabelecer os aspectos convergentes e divergentes entre arras e contratos preliminares. ESTRATÉGIA: Os casos e questões de múltipla escolha deverão ser abordados ao longo da aula, de acordo com a pertinência temática; A resolução dos casos faz parte da aula; A abordagem dos casos permeia a exposição teórica. BIBLIOGRAFIA / JURISPRUDÊNCIA: GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2008, Volume II, Título IV, Capítulo VI. GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2008, Volume III, Título I, Capítulo IX. CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006. v.3 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil. 4. ed. rev. e atualizada. São Paulo: Saraiva, 2008. v. II, Capítulos XII e XIII. GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil. 4. ed. rev. e atualizada. São Paulo: Saraiva, 2008. Tomo 1, V. IV, Capítulo IX. CASO CONCRETO 1 Carlos e Claudia celebraram, mediante instrumento particular,contrato de promessa de compra e venda de imóvel, obrigando-se o promitente vendedor e o promitente comprador à celebração do contrato definitivo no prazo de 90 dias, após o pagamento da última parcela de preço, que as partes ajustaram em R$ 300.000,00 (trezentos mil reais) a ser pago em três parcelas iguais, mensais e sucessivas. O contrato não continha cláusula expressa de irretratabilidade e irrevogabilidade. Tendo Claudia pago todas as parcelas do preço, nos prazos do contrato, Carlos se recusou a outorgar a escritura definitiva, alegando que o contrato preliminar era nulo, porque celebrado por instrumento particular e, não por escritura pública. Argumentou ainda que havia previsto o direito de se arrepender. Isto posto, questiona-se se as alegações de Carlos procedem ? Justifique. CASO CONCRETO 2 Adriana interessou-se em comprar o apartamento de Renan, cujo preço era R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais). A fim de se garantir que o imóvel não seria vendido para outra pessoa, a compradora deu R$ 50.000,00 (cinqüenta mil reais) a título de arras. Após receber o sinal, outra pessoa quis o imóvel de Renan, oferecendo por ele R$ 580.000,00 (quinhentos e oitenta mil reais), o que foi recusado diante da compromisso firmado com Adriana. Um mês após, Renan foi surpreendido pro Adriana, que lhe declarou não mais ter interesse em prosseguir na relação contratual. Afirmou não se importar em perder as arras, porém lhe disse nada mais lhe dever. Está correta a conduta de Adriana ? Justifique com base na legislação vigente. QUESTÕES OBJETIVAS 1ª Questão: FRANCISCO FARIAS celebrou contrato de promessa de compra e venda de imóvel residencial de sua propriedade, localizado em Belém-Pará, com ANTÔNIA ALMEIDA em 20 de maio de 2005. Neste contrato, o promitente-vendedor comprometia-se a transferir a propriedade do imóvel em questão em março de 2008, quando a promitente-compradora terminaria de pagar o valor ajustado em R$ 360.000,00. A promessa não prevê cláusula de irrevogabilidade e a CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier irretratabilidade. No prazo previsto contratualmente, ANTÔNIA efetuou o pagamento da última parcela, tendo FRANCISCO FARIAS se recusado a outorgar a escritura definitiva no prazo pactuado. Diante disso, marque a alternativa correta sobre as providências para a obtenção do título de escritura definitiva: a) Nada poderá ser feito porque a vontade tem de ser livre, pelo que não se pode impor a alguém a perda da sua propriedade. b) Por se tratar de descumprimento culposo de uma obrigação, cabe ao credor resolver o contrato em perdas e danos. c) Terá direito a adjudicar compulsoriamente o imóvel, servindo a sentença como título aquisitivo no lugar do contrato definitivo. d) Teria direito à adjudicação compulsória somente se houvesse cláusula de irretratabilidade no contrato. 2ª Questão: Bernardo celebrou com Valter contrato que teve como objeto a venda de uma casa, em Fortaleza, do primeiro para o segundo. Foi estabelecido direito de arrependimento. No ato da negociação, Bernardo pagou a Valter a importância de R$ 20.000,00 (vinte mil reais), a título de arras penitenciais. O restante do pagamento do bem seria feito em 10 parcelas sucessivas de R$25.000,00 (vinte e cinco mil reais), cada uma. Na semana anterior à quitação da primeira parcela, Bernardo aplica o dinheiro na Bolsa de Valores e acaba perdendo não só o dinheiro da primeira parcela como o capital para o pagamento das demais, inviabilizando o cumprimento do pactuado. a) Bernardo terá direito de não prosseguir com o negócio jurídico porque não deu causa à perda financeira que sofreu. b) Valter poderá reclamar indenização suplementar se provar que seus danos foram maiores que o valor das arras. c) Bernardo poderá responder por perdas e danos, a serem fixadas por juiz, se ficarem comprovados os elementos da responsabilidade civil. d) Por se tratar de arras penitenciais, não poderá Bernardo, ao desistir, receber o dinheiro de volta, tampouco será devida indenização suplementar. SEMANA 8 Extinção dos contratos. Resolução dos contratos. Cláusula resolutiva. Exceção de contrato não- cumprido. Onerosidade excessiva. Resilição (distrato e denúncia). Rescisão. Cessação. CONTEÚDOS: 1 – Os contratos válidos são normalmente extintos mediante o pagamento da obrigação que dão origem, tanto de modo direito quanto indireto. 2 – Os contratos inválidos podem ser extintos por declaração de nulidade ou decreto de anulação, dependendo da natureza do vício. 3 – A extinção anormal ocorre quando a prestação contratual não é cumprida. Existem quatro espécies: resolução, rescisão, resilição e cessação. CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier 4 – Resolução é o rompimento do vínculo contratual porque uma das partes não cumpriu a obrigação contratual que lhe cabia. 4.1 – Tanto o inadimplemento voluntário quanto involuntário causa resolução do contrato, porém apenas o primeiro gera o dever de pagar perdas e danos. 4.2 – A resolução por inexecução voluntária opera efeitos ex tunc, obrigando o culpado a restituir as parcelas pagas por prestações não cumpridas. Ademais, as perdas e danos podem estar avençadas pelas partes em cláusula penal (compensatória ou moratória) ou por juiz. 4.3 – Todo contrato bilateral prevê cláusula resolutiva implícita, na medida em que o ordenamento jurídico admite seus efeitos. Contudo, as partes podem pactuar cláusula resolutiva expressa, na qual são elencadas hipóteses que dão causa à resolução imediata do contrato, sem a necessidade de intervenção judicial. 4.4 – Não se admite a resolução no caso de adimplemento substancial do contrato, ou seja, inexecução mínima a ponto de não permitir uma medida tão grave quanto à extinção do vínculo contratual. O contrário significaria negar a preservação e a função social do contrato. 4.5 – Os contratos bilaterais, por gerarem obrigações para ambas as partes, admitem que uma delas não prossiga na execução do dever que lhe caiba se a outra parte também não cumprir a sua. Trata-se de exceção de contrato não-cumprido. 4.5.1 – Exceção de contrato não-cumprido somente é possível se as obrigações de ambas as partes forem exigíveis, salvo de uma delas apresentar sinais de não poderá cumprir sua obrigação por diminuição patrimonial. 4.5.2 – Cabe alegação de contrato não-cumprido (exceptio non adimpleto contractus) mesmo quando a obrigação não é cumprida integralmente como avençada entre as partes (exceptio non rite adimpleti contractus). 4.6 – Após a formação do contrato e antes do total cumprimento da obrigação avençada, pode ocorrer desequilíbrio econômico superveniente entre as partes, alheio às suas forças, a pontos de tornar a execução excessivamente onerosa, sem que tenha sido possível previsão do fato. Eis a teoria da imprevisão. 4.6.1 – O fato superveniente autoriza a resolução do contrato sem condenação por perdas e danos porque sua causa foi involuntária. Contudo, sempre que possível, deve ser mantida a relação contratual, haja vista o princípio da preservação dos contratos. 5 – Tecnicamente, rescisão não pode ser confundido com resolução ou qualquer outro tipo de extinção anormal. Tem incidência sempre que o negócio jurídico é celebrado às custas da necessidade ou inexperiência de uma das partes. 5.1 – Assim, não se trata de desequilíbrio contratual superveniente. Neste caso, o contrato já é celebrado nessas bases e a imposição da execução obrigacional implicaria na solidificação da injustiça – lesão à função social do contrato. 5.2 – Se a prestação contratual for aparentemente injusta, desequilibrada desde o princípio, não admitirá rescisão se ambasas partes estiverem conscientes e pretenderem o resultado – respeito à autonomia da vontade. CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier 6 – A resilição não decorre de descumprimento de obrigação contratual, mas exclusivamente da vontade (unilateral ou bilateral) de extinguir o contrato. Etmologicamente, resilir, do latim resilire, significa “voltar atrás”. 6.1 – Resilição bilateral também é denominada distrato. Segundo o art. 472, CC, não é obrigatória formalidade para o distrato, salvo se a lei estabelecer solenidade para celebrar o contrato desfeito. 6.2 – Resilição unilateral (denúncia, renúncia, resgate) pode ocorrer em três situações: previsão de cláusula expressa que autoriza uma das partes extinguir o contrato a qualquer tempo, sem ter de se justificar; contrato por tempo indeterminado; contratos calcados em confiança (ex.: prestação de serviços médicos, psiquiatra, advogado). 7 – Nos contratos personalíssimos, a morte de uma das partes implica na extinção do vínculo. Eis o que se denomina cessação. OBJETIVOS ESPECÍFICOS: O aluno deverá ser capaz de: Definir extinção normal e anormal; Diferenciar cada espécie de extinção anormal; Identificar as características da resolução, resilição, rescisão e cessão; ESTRATÉGIA: Os casos e questões de múltipla escolha deverão ser abordados ao longo da aula, de acordo com a pertinência temática; A resolução dos casos faz parte da aula; A abordagem dos casos permeia a exposição teórica. BIBLIOGRAFIA / JURISPRUDÊNCIA: GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2008, Volume III, Título I, Capítulo XI. PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006. v.3 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil. 4. ed. rev. e atualizada. São Paulo: Saraiva, 2008. Tomo 1, V. IV, Capítulos XIV, XV e XVI. CASO CONCRETO 1 Felipe, morador de Niterói, resolveu alugar uma casa em Cabo Frio, para passar suas férias de final de ano. Em julho do referido ano, Felipe encontra um imóvel excelente por um preço acessível, mas que apresentava um entupimento na caixa de esgoto que exalava um cheiro desagradável.A CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier proprietária, Andréia, firma contrato de locação com Felipe, comprometendo-se a entregar-lhe a casa em dezembro de 2005, após o conserto do problema constatado. No dia marcado para a entrega da casa, Felipe viaja com sua família para Cabo Frio e, ao chegar ao imóvel, percebe que o conserto não havia sido feito. Por esta razão, Felipe informa a Andréia que não vai mais alugar o imóvel, retornando para Niterói. Revoltada pelo descumprimento do pactuado, uma vez que deixara de ganhar dinheiro com o aluguel do imóvel no verão, Andréia propõe uma ação indenizatória em face de Felipe em razão do inadimplemento contratual. Com base nos fatos expostos responda de forma fundamentada e justificada. A) Citado para a presente ação, que defesa poderia ser apresentada por Felipe para elidir a pretensão autoral? B) A resposta seria a mesma se no contrato houvesse a cláusula “solve et repete”? CASO CONCRETO 2 Certex celebrou com a empresa Maktub Ltda. contrato escrito de prestação de serviços, com prazo de quatro anos, para manutenção dos elevadores do primeiro. Passado o segundo ano, a empresa prestou serviço falho, vindo a causar danos a Certex. Ingressou esta com ação de rescisão contratual, pleiteando, cumulativamente, a devolução da remuneração até então paga pela empresa, bem como perdas e danos. Indaga-se: 1) Ocorreu na hipótese descumprimento contratual ? Em caso positivo de que natureza ? Justifique. 2) O pedido formulado pela empresa Certex tem amparo na legislação vigente ? Justifique. 3) Poderiam as empresas que firmaram o contrato estipular sua extinção por acordo ? Justifique. QUESTÕES OBJETIVAS 1ª Questão: “A” comprou de “B” uma casa, por escritura pública, pelo preço de R$ 200.000,00 (duzentos mil reais), pagando R$ 20.000,00 de sinal. “A” obrigou-se a pagar o restante do preço mediante financiamento da Caixa Econômica Estadual, a ser obtido no prazo de 3 meses. Acontece que, após ter sido pago o sinal, referida Caixa fechou sua Carteira de Financiamento, pelo período de um ano, o que impossibilitou o comprador “A” de completar o pagamento do preço. Esse fato, em si (A) acarreta a extinção do contrato por resolução. (B) acarreta a extinção do contrato por resilição. (C) acarreta a extinção do contrato por rescisão. (D) não acarreta a extinção do contrato. CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier 2ª Questão: “A” obrigou-se a construir para “B” um edifício, com 12 andares, que foi terminado, segundo peremptória afirmação de “A”. Por sua vez, “B” alega que houve cumprimento insatisfatório e inadequado da obrigação por parte de “A”, que não observou, rigorosamente, a qualidade dos materiais especificados no memorial. Assim, “B” suspende os últimos pagamentos devidos a “A”, (A) aguardando que este cumpra, corretamente, a obrigação. (B) ajuizando ação com fundamento na exceptio non adimpleti contractus. (C) ajuizando ação com fundamento na cláusula rebus sic stantibus. (D) ajuizando ação com fundamento na exceptio non rite adimpleti contractus. SEMANA 9 Contratos nominados ou típicos. Novidades do Código Civil vigente. Apresentação: conceitos, características e noções gerais. Contrato estimatório. Contrato de comissão. Agência e distribuição. Corretagem. CONTEÚDOS: 1 – As transformações do Código Civil vigente são decorrentes do anacronismo de algumas espécies de contrato, hoje arcaicas e superadas, estando substituídas por outras absorvidas da vida em sociedade. 2 – Como efeito da união do Direito Civil e do Direito de Empresa, alguns contratos, outrora abordados no âmbito do Direito Comercial, foram inseridos no Direito Civil, como a comissão, corretagem, transporte, bem como agência e distribuição. 3 – Contrato estimatório é também denominado venda em consignação. Consiste numa parte (consignante) que entrega bens móveis a outra (consignatária), ficando esta autorizada a vendê- los pelo preço estimado pelo consignante. Se tiver êxito na venda, pagara um preço ajustado ao consignante (valor certo ou porcentagem); se não tiver sucesso, deverá cumprir a obrigação de restituir no tempo avençado. 3.1 – Trata-se de um contrato real (somente se aperfeiçoa após a entrega da coisa ao consignatário), unilateral (o consignante assume obrigação de não dispor antes da restituição – obrigação de não-fazer), oneroso (ambas as partes perseguem vantagem econômica), comutativo (não envolve riscos para as partes). 3.2 – A responsabilidade por qualquer perda ou deterioração da coisa consignada fica a cargo do consignatário, o qual não se isenta da obrigação de pagar pelo preço da coisa ainda que o evento danoso ocorra por fato totalmente alheio às suas vontade e forças. 3.3 – O consignatário tem a posse da coisa, porém a propriedade é do consignante até que seja vendida. Portanto, não se admite qualquer constrição patrimonial sobre o bem em razão de dívida do consignatário, mas apenas se o devedor for o consignante. 4 – Segundo o contrato de comissão, uma das partes (comissário) obriga-se a realizar negócios em favor da outra parte (comitente). Contudo, apesar de seguir instruções do comitente, o comissário CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiroe Patrícia Xavier age em seu próprio nome. Eis a relevância da comissão: uma pessoa contrato com terceiros em seu próprio nome, porém na defesa de interesse alheio. 4.1 – O objeto do contrato de comissão é a compra e venda de bens, mantendo em sigilo o real interessado, o comitente. 4.2 – Trata-se de contrato bilateral (comissário assume obrigação de fazer, enquanto que o comitente tem obrigação de remunerá-lo), consensual (aperfeiçoa-se pelo acordo de vontades), oneroso (ambas as partes obtêm vantagem econômica), comutativo (não envolve riscos), informal e personalíssimo. 4.3 – A remuneração, normalmente, é avençada em percentagem sobre o valor do negócio celebrado pelo comissário. Se as partes não acordarem o preço expressamente, será arbitrada pelo costume local. 4.4 – Se o comissário morrer ou não puder, por outro motivo, executar integralmente a obrigação que assumiu, terá ele ou seus herdeiros direito à remuneração proporcional. 4.5 – Sem prejuízo da remuneração, terá o comitente de indenizar os eventuais danos sofridos pelo comissário ao executar a obrigação pactuada, bem como ressarcir o comissário por perdas e danos decorrentes de demissão imotivada. 4.6 – Até ser reembolsado das suas despesas, perceber a indenização por danos sofridos no cumprimento da sua obrigação e a remuneração pelo serviço, poderá o comissário exercer retenção sobre a coisa adquirida em favor do comitente. 4.7 – Em contrapartida, se o comissário desobedecer as instruções do comitente, terá de responder pelos prejuízos causados. 4.8 – Cláusula “del credere” deve ser prevista expressamente no contrato porque imputa responsabilidade ao comissário se celebrar negócio com pessoa insolvente (exceção à regra). 4.9 – Trata-se de contrato bilateral, consensual, oneroso, comutativo, informal e personalíssimo. 5 – Contrato de agência consiste na obrigação remunerada de uma das partes de promover, não eventualmente e com autonomia, as atividades desenvolvidas habitualmente pela outra parte. Distribuição é o negócio jurídico em que a coisa a ser negociada permanece à disposição do agente. 5.1 – Trata-se de contrato bilateral, consensual, oneroso, comutativo, informal e personalíssimo. 5.2 – Extrai-se do conceito as características do contrato: obrigação habitual e remunerada do agente em promover e fomentar os negócios do agenciado; delimitação da execução do serviço a ser prestado; exclusividade e independência na prestação da obrigação. 5.3 – Agência e distribuição são o mesmo contrato. Contudo, num caso concreto, pode ocorrer que o agente não tenha em seu poder coisa do representado a ser negociada. Assim, ficaria excluída a distribuição do contrato de agência. 5.4 – Admite o contrato resilição unilateral se realizado por prazo indeterminado, desde que a outra parte seja notificada num prazo de 90 dias e transcorrido tempo razoável para resgatar os CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier investimento realizados para execução do negócio. Na hipótese de divergência, caberá ao poder judiciário arbitrar o prazo moral. 5.4.1 – Mesmo extinto o contrato, terá o agente direito à remuneração pelos serviços prestados, desde que aproveitem financeiramente o proponente, bem como este terá direito a perdas e danos se a extinção contratual causar-lhe prejuízos por culpa do agente. 5.5 – A responsabilidade do agente é de meio e tem direito à remuneração por todos os negócios do proponente na zona de atuação fixada entre as partes, ainda que não tenha interferido. Logo, salvo estipulação em contrário, não deve o proponente constituir mais de um agente para a mesma atividade na mesma localidade, bem como não deve exercer ele próprio (proponente). 5.6 – Em contrapartida, não deve o agente tratar de negócios da mesma natureza de uma pluralidade de propronentes. 6 – Contrato de corretagem é consiste em uma pessoa, não vinculada numa relação de dependência, obriga-se a intermediar negócios para outra, denominada comitente, mediante remuneração. Por se tratar de obrigação de resultado, a comissão somente será devida se a conclusão do negócio tiver decorrido exclusivamente da atividade do corretor. 6.1 – Apesar de assumir obrigação de resultado e dos entendimentos pretorianos anteriores ao Código Civil vigente, pode o corretor exigir remuneração se o negócio pretendido não for concretizado exclusivamente por arrependimento das partes. 6.2 – Também terá direito à remuneração do corretor que não interveio no negócio celebrado se o contrato de corretagem contiver cláusula expressa que determine a exclusividade. Nesta hipótese, o corretor somente perderia sua comissão se ficasse comprovada sua inércia. 6.3 – Os corretores podem ser livres ou oficiais: livres são pessoas que exercem habitualmente a atividade de corretagem sem nomeação oficial; os oficiais têm a profissão legalmente disciplinada, sendo investidos em cargo público, gozando de fé pública. Assim, estes últimos atuam na corretagem de valores públicos, mercadorias, navios, seguros, operação de câmbio etc. (Lei 6.530/78). 6.4 – A remuneração deve ser distribuída igualmente se vários corretores tiverem agido em conjunto para a celebração de um negócio, salvo ajuste expresso em contrário. 6.5 – A atividade de corretagem é regulamentada pela Lei 6.530/78, a qual estabelece que o corretor deve ter inscrição no Conselho Regional de Corretores de Imóveis (CRECI). Contudo, ainda que o corretor não esteja habilitado, deverá receber comissão mesmo assim, sob pena de enriquecimento ilícito. Eis o porquê ser devida a comissão também quando o negócio é concluído mediante a intervenção do corretor após o vencimento do prazo do contrato de corretagem. 6.6 – A corretagem é contrato bilateral, oneroso, consensual, acessório, aleatório e informal. OBJETIVOS ESPECÍFICOS: O aluno deverá ser capaz de: Compreender os motivos de inserção dos novos contratos no diploma em vigor; CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier Identificar as características dos contratos estimatório, comissão, corretagem, agência e distribuição. Solucionar casos corriqueiros que envolvam cada uma dessas modalidades contratuais. ESTRATÉGIA: Os casos e questões de múltipla escolha deverão ser abordados ao longo da aula, de acordo com a pertinência temática; A resolução dos casos faz parte da aula; A abordagem dos casos permeia a exposição teórica. BIBLIOGRAFIA / JURISPRUDÊNCIA: GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2008, Volume III, Título II, Capítulos III, XI, XII e XIII. PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006. v.3 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil. 4. ed. rev. e atualizada. São Paulo: Saraiva, 2008. Tomo 2, V. IV, Capítulos III, XII, XIII e XIV. CASO CONCRETO 1 Carmênia combinou com Violeta deixar 30 (trinta) esculturas na loja desta para que a primeira as vendesse por preço convencionado, sob o compromisso de devolver as que não fossem vendidas no prazo estipulado, ou seja, 90 (noventa) dias. 1) O contrato estabelecido é um contrato típico? Justifique. 2) Se a restituição da coisa, em sua integridade, tornar-se impossível, ainda que por fato não imputado a Violeta, terá essa alguma responsabilidade ? 3) As coisas consignadas podem ser objeto de penhora se pender sobre Carmênia processo de execução? CASO CONCRETO 2 Sidineia, interessada em vender seu imóvel, contratou oralmente os serviços de Marcio para que conseguisse um comprador interessado em pagar R$ 200.000,00 para adquiri-lo. Após algumas semanas, Maria, graçasao labor de Marcio, pagou R$ 20.000,00 (vinte mil reais) a título de arras pelo apartamento de Sidineia, ficando de apresentar as certidões necessárias para a lavratura da escritura definitiva num prazo de um mês. Tendo se passado mais de seis meses sem que o negócio seja concretizado por problemas de ordem financeira enfrentados por Maria, Sidineia entende em não manter o preço de venda porque CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier todos os imóveis da região sofreram aumento de, ao menos, 15%. Logo, se vendido seu apartamento pelo preço avençado meio ano antes, sofreria grande prejuízo. Por outro lado, como Maria não poderia pagar o novo valor, R$ 250.000,00 (duzentos e cinqüenta mil reais), não prossegue o negócio. Isto posto, pergunta-se: 1) O contrato estabelecido é um contrato típico? Justifique. 2) Deve Sidineia pagar remuneração a Marcio pelo trabalho que executou ? Justifique. 3) Se Sidineia conseguisse vender seu imóvel por R$ 250.000,00 sem a intervenção de Marcio, teria de remunerá-lo ? Justifique. QUESTÕES OBJETIVAS 1ª Questão: Joana foi contratada para negociar a venda de várias telas de artistas plásticos famosos, todas pertencentes a Antonio. Segundo instruções do proprietário, poderia aceitar propostas de compra mediante pagamento em duas parcelas: a primeira no ato do contrato e a segunda num prazo de 30 dias. Maicou, colecionador de arte, acerta com Joana a compra de duas telas. No ato, emite um cheque referente a 50% do preço do negócio e outro parta pagamento em 30 dias. Contudo, não havia previsão de fundos em nenhum dos títulos e os quadros foram entregues. Movida a competente ação, as telas são devolvidas danificadas e se descobre que Maicon não tem patrimônio suficiente para arcar com a indenização devida. Diante disso, considerando que Joana sempre esteve autorizada para celebrar o contrato, marque a alternativa correta: (A) Joana é a única responsável perante Antonio, na medida em que o comissário é justamente contratado para evitar hipóteses como essa. (B) O comissário jamais responde pela insolvência das pessoas com quem contrata, principalmente se demonstra-se zeloso na execução da obrigação. (C) A comissária não responde pela insolvência de Maicon, salvo se pudesse conhecer o estado patrimonial dele ou se assumiu expressamente tal responsabilidade. (D) Impõe-se a Antonio o prejuízo sofrido porque o contrato de comissão é aleatório, pelo que implica em assumir os riscos de ocorrer situação como essa. 2ª Questão: Arlete Costa, cantora em ascensão, celebrou contrato de agenciamento com TT Ltda. A empresa, após muitos esforços, consegue inseri-la no elenco de artistas que se apresentariam num festival internacional a ocorrer em Portugal seis meses adiante, ficando os ajustes relativos à data, cachê, modo de pagamento, dentre outros, pendentes para quando o evento estivesse mais próximo. CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier Influenciada por outras pessoas do meio artístico e por críticos, que a consideram o novo grande nome da música, resolve Ivete romper o contrato por considerar que o seu agente não está mais à altura do seu atual estrelato. Isto posto, marque a alternativa INCORRETA: (A) Poderia Arlete extinguir o contrato sem qualquer justificativa, desde que não haja prazo determinado e notifique o agente com 90 dias de antecedência. (B) De qualquer modo, ainda que se trate de resilição, será devida remuneração ao agente pelos lucros obtidos pela proponente em decorrência do trabalho iniciado por ele. (C) O direito de resilição fica atrelado ao tempo razoável em que o agente possa resgatar os investimentos feitos em favor do proponente, sob pena de perdas e danos. (D) Em hipótese alguma, poderia Arlete extinguir o contrato sem justa causa, pelo que deve pagar indenização em razão das perdas e danos sofridas pelo agente. SEMANA 10 Compra e venda: Conceito e características. Natureza jurídica. Elementos. Modalidades especiais de venda. CONTEÚDOS: 1 – Compra e venda é o contrato bilateral em que uma das partes assume a obrigação de transferir o domínio de um bem patrimonial, ainda que incorpóreo, a outrem mediante a contraprestação em dinheiro. Assim, não se confunde com troca (envolve dinheiro pela coisa) nem com a doação. 2 – O contrato não confere direito real ao comprador, mas sim o direito de exigir a sua constituição. Se o bem for móvel, a propriedade somente será constituída após a tradição; se imóvel, mediante o registro. 3 – A compra e venda consiste em contrato essencialmente bilateral, oneroso e consensual. A formalidade, comutatividade e paridade dependerão de cada caso. 4 – São elementos da compra e venda: coisa, preço e consentimento. 5 – A venda de ascendente para descendente é anulável se não houver o consentimento dos demais descendentes do vendedor e do cônjuge. 5.1 – Como a lei não declara o prazo para se requerer a anulação, é atraída a vigência do art. 179, CC. Logo, o tempo para ser pleiteada a decretação de invalidade do ato é de 2 anos. 5.2 – Considerando que o fundamento da norma é garantir a igualdade entre os descendentes ao tempo da abertura da sucessão, bem como a vigilância em não se diminuir o patrimônio do ascendente para beneficiar apenas um, não são todos os descendentes que devem consentir para que o contrato seja válido, mas sim apenas aqueles que seriam convocados à sucessão se aberta à época da celebração do negócio. CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier 5.3 – Relevante destacar algumas regras sucessórias de modo superficial: a sucessão do descendente em grau mais próximo retira o mais remoto; direito de representação na hipótese de pré-morte; definir o que é herdeiro necessário e a legítima. 5.4 – O cônjuge casado pelo regime da separação obrigatória não concorre na herança com os descendentes. Por isso, a lei dispensa a sua manifestação quando celebrado o contrato de venda de ascendente para descendente. 5.5 – É controvertido o suprimento judicial se um dos descendentes não concordar com a venda, mesmo que sem fundamentos ou sem razão justa, na medida em que a lei não prevê a hipótese. Contudo, prevalece o entendimento de ser possível requerer ao juiz suprir a vontade não expressada tal qual ocorre no direito de família (art. 1631, parágrafo único e 1648, ambos do CC). 6 – Não é possível a venda de coisa entre cônjuges se o objeto estiver em comunhão, ou seja, somente é válido o contrato acerca de bens particulares. Afinal, não se pode vender a alguém o que já lhe pertence. 6.1 – Importante destacar a comunicabilidade patrimonial de acordo com os regimes de bem (ao menos a comunhão universal, comunhão parcial e separação absoluta). 7 – Ninguém é obrigado a permanecer condômino contra a própria vontade. Assim, a lei confere o direito de, a qualquer tempo, ser extinto o condomínio. 7.1 – Relevante apontar os diferentes tipos de condomínio e concluir que a lei, neste aspecto, refere-se à situação em que duas ou mais pessoas duas ou mais pessoas são proprietárias da mesma coisa. 7.2 – Sendo a coisa indivisível, cada condômino tem a propriedade de uma fração ideal. Assim, se tiver a intenção de vendê-la, terá de antes oferecer aos demais. 7.3 – Se mais de um condômino tiver interesse na aquisição da fração ideal, o critério de desempate é o quanto cada um gastou em benfeitorias. Se não puder ser aplicado, a preferência será de quem tiver a maior fração ideal. Finalmente, se as demais falharem, terão a fração ideal os condôminos que a quiserem a pagarem o preçopreviamente. 7.4 – Ocorrendo a alienação sem ser conferido o direito de preferência, terá o condômino prejudicado a faculdade de reivindicar a fração ideal, desde que, mediante depósito do preço, exerça seu direito no prazo decadencial de 180 dias. 8 – Considera-se a venda ad mensuram quando o seu preço é fixado exclusivamente em razão da unidade de dimensão ou pela extensão do imóvel. É ad corpus quando o tamanho do imóvel é enunciativo, não sendo o elemento determinante do valor do contrato. 8.1 – Sendo ad mensuram a venda e a dimensão real for menor do que a área anunciada, o adquirente tem o direito de exigir a complementação (ação ex empto). Se impossível complementar, poderá demandar a devolução do preço (ação redibitória) ou o abatimento proporcional (ação estimatória). 8.2 – Ainda que ad mensuram a venda, se a diferença a ser complementada não for superior a 1/20 da área anunciada, não terá qualquer direito o adquirente, sendo considerada a venda equiparada a ad corpus. CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier 8.2.1 – Excepciona-se a regra se, mesmo pequena a diferença, conseguir o adquirente comprovar que não teria celebrado o contrato caso soubesse da diferença, ainda que não superior a 1/20 da área enunciada. 8.3 – Na hipótese de aquisição de imóvel de área maior do que a anunciada, o vendedor nada poderá reclamar, salvo se provar que não tinha meios de saber da diferença. Neste caso, terá o adquirente a obrigação alternativa de pagar o equivalente à diferença ou devolver o lote que recebeu a maior. OBJETIVOS ESPECÍFICOS: O aluno deverá ser capaz de: Conceituar o contrato de compra e venda. Diferenciar o contrato de compra e venda da doação e troca. Compreender os meandros e as dificuldades que envolvem a venda entre cônjuges, ascendentes e descendentes, condôminos e terceiros, e a venda ad mensuram. Estabelecer as características da venda ad corpus e da ad mensuram. Elencar os elementos do contrato de compra e venda. Traçar a classificação do contrato de compra e venda. ESTRATÉGIA: Os casos e questões de múltipla escolha deverão ser abordados ao longo da aula, de acordo com a pertinência temática; A resolução dos casos faz parte da aula; A abordagem dos casos permeia a exposição teórica. BIBLIOGRAFIA / JURISPRUDÊNCIA: GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2008, Volume III, Título II, Capítulo I. PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006. v.3 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil. 4. ed. rev. e atualizada. São Paulo: Saraiva, 2008. V. IV, Tomo 2, capítulo I. CASO CONCRETO 1 Antônio comprou área de 20.000 metros quadrados para nela instalar uma empresa. Celebrado o contrato e registrado o título respectivo, Antônio constatou, com perícia, ao cabo de seis meses após esse registro, que a área adquirida só possuía 19.500 metros quadrados. Destarte, pretende desfazer o negócio a fim de reaver o dinheiro pago pelo imóvel. CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier 1 ) A pretensão de Antônio procede? Justifique a resposta, aplicando artigos do Código Civil. 2) Na hipótese de a área real ser de 20.000 metros quadrados e Antônio ter pago o preço de apenas 19.500 metros quadrados, poderia o vendedor reclamar a diferença ? Justifique a resposta, aplicando artigos do Código Civil. CASO CONCRETO 2 Otávio tem três filhos e cinco netos, todos maiores e capazes. Decide vender um dos seus imóveis para o filho mais velho, haja vista necessitar urgentemente de dinheiro para custear despesas médicas. Por orientação de um advogado, solicitou a todos os descendentes que assinassem a escritura em manifestação de anuência. O filho mais novo, por ciúmes do irmão, nega-se a expressar concordância e ameaça promover ação anulatória se prosseguirem na celebração do contrato. Isto posto, responda: 1) Há alguma medida a ser promovida pelos contratantes para se resguardarem da atitude de um dos descendentes ? Justifique a resposta, aplicando artigos do Código Civil. 2) Todos os descendentes devem consentir quanto à celebração deste contrato ? Justifique a resposta, aplicando artigos do Código Civil. 3) Qual o prazo para dedução da pretensão anulatória do contrato ? QUESTÕES OBJETIVAS 1ª Questão: Carlos, Marcos e Miguel são proprietários de um mesmo apartamento, sendo certo que o primeiro tem fração ideal de 50%, o segundo e o terceiro 25% cada um. Miguel tem interesse em vender sua fração ideal pelo preço de R$ 250.000,00 e a oferece aos demais condôminos. Ambos ficam interessados e querem preferência na aquisição. Diante disso, marque a alternativa correta quanto á solução do caso: (A) Carlos tem preferência porque é proprietário da maior fração ideal. (B) A preferência é de Marcos porque foi quem mais gastou com benfeitorias no imóvel. (C) Ambos têm igual direito, cabendo-lhes depositar o preço previamente. (D) Ninguém tem direito de preferência, podendo Miguel vender a quem quiser. 2ª Questão: Considerando as características do contrato de compra e venda, marque a alternativa correta: (A) Unilateral, oneroso e consensual. (B) Bilateral, oneroso e consensual. CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier (C) Bilateral, oneroso e real. (D) Bilateral, gratuito e consensual. SEMANA 1I Cláusulas especiais à compra e venda. Contrato de permuta ou troca. Empreitada. CONTEÚDOS: 1 – As cláusulas especiais implicam na atração de situações excepcionais nas relações jurídicas as quais não ocorreriam sem a existência de acordo expresso. Portanto, a compra e venda que as envolver configurará contrato formal. 2 – A retrovenda consiste na avença entre as partes pela qual o vendedor reserva-se o direito de comprar a coisa alienada no prazo estabelecido entre as partes mediante devolução do preço recebido acrescido das despesas efetuadas pelo comprador e benfeitorias feitas por este, sendo certo que a autorização para realizá-las somente é dispensada se forem necessárias. 2.1 – Tem a retrovenda a natureza de condição resolutiva, implicando no desfazimento da venda , retornando as partes à situação anterior. Portanto, não há fato gerado de novo imposto de transmissão de propriedade. 2.2 – O prazo decadencial máximo para o exercício da retrovenda (direito de retrato ou resgate) é de 3 anos. Qualquer excesso reputa-se não escrito. 2.3 – A reivindicação da coisa fica atrelada ao depósito de respectivo preço. Enquanto não houver pagamento integral, não fica o comprador obrigado a restituir o bem ao vendedor. 2.4 – Registrado o título pelo comprador, torna-se ele proprietário, podendo alienar o bem. Contudo, não fica prejudicado o vendedor se quiser exercer seu direito de resgate, na medida em que a cláusula de retrato é gravada. Logo, trata-se de cláusula com eficácia real, oponível a terceiros eventuais adquirentes do imóvel enquanto não vencido o prazo. 3 –Preempção (preferência ou prelação) é pacto segundo o qual o comprador de um bem móvel ou imóvel obriga-se a oferecê-lo ao vendedor se, futuramente, pretender vendê-lo ou dá-lo em pagamento, tanto por tanto. 3.1 – Diferenças da retrovenda: presta-se tanto para bens móveis quanto imóveis; o preço é estabelecido livremente; a cláusula de preempção somente gera efeitos entre as partes, não sendo oponível a terceiros, tampouco seus direitos são sucedidos pelos herdeiros. 3.2 – O prazo para exercício da preferência é estabelecido entre aspartes, não podendo ser superior a 180 dias, se a coisa for móvel, e 2 anos, se imóvel. Na hipótese de as partes não fixarem o prazo, dispõe a norma jurídica ser de 3 ou 60 dias, dependendo se a coisa for móvel ou imóvel, respectivamente. 3.3 – Os prazos começam a correr da data em que o houver o efetivo recebimento da notificação, que, salvo disposição contratual em contrário, pode ser extrajudicial. CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier 3.4 – O desrespeito ao direito de preferência, não se dando ciência ao vendedor sobre preço e vantagens, implica em perdas e danos. Responde também o adquirente se tiver agido de má-fé. 3.5 – Denomina-se retrocessão a preempção legal conferida ao desapropriado quando a coisa não receber o destino que justificou a desapropriação ou qualquer outra finalidade de interesse público. 4 – Venda a contento do comprador consiste no contrato em que o comprador somente se obriga a pagar preço pela coisa após declarar seu agrado. Se estipulada a cláusula especial e tendo sido previamente entregue a coisa ao adquirente, é este considerado comodatário até manifestar seu contentamento. 4.1 – O aperfeiçoamento do contrato após a expressa manifestação do comprador pela aceitação da oferta. 5 – Venda sujeita à prova é ato jurídico que apenas se perfaz após a comprovação das qualidades da coisa asseguradas pelo vendedor. Caso confirmadas pelo comprador, não poderá este recusá-la, assumindo, a partir de então, as obrigações decorrentes da compra. Até então, recebe o mesmo tratamento do comodatário. 6 – Venda com reserva de domínio consiste em modalidade especial de contrato que versa sobre bem móvel em que a entrega do bem ao comprador somente transfere a posse. A propriedade permanece com o vendedor até o pagamento integral do débito, o que significa execução continuada oi diferida da obrigação de pagar. 6.1 – A inadimplência da obrigação do comprador faz nascer ao vendedor a alternativa de exigir o pagamento ou recuperar a coisa. Se entender pela primeira opção, fica consolidada a propriedade da coisa no patrimônio do comprador, pelo que poderá ser penhorada em execução promovida pelo vendedor. 6.2 – Optando o vendedor por reclamar o bem, terá de restituir ao comprador o valor já pago, antes deduzindo a quantia referente à depreciação da coisa, as despesas sofridas e qualquer outro prejuízo. 6.3 – A fim de conferir à cláusula oponibilidade em face de terceiros, deverá o contrato ser registrado no cartório de títulos e documentos do domicílio do comprador. 7 – Venda sobre documentos tem maior incidência no comércio marítimo e sua finalidade é conferir agilidade na venda de mercadorias móveis. Logo, a obrigação do vendedor é cumprida mediante a entrega de documento que signifique a própria coisa. 7.1 – A entrega de documentação regular faz presumir o estado e a qualidade da coisa vendida. 8 – Contrato de troca é aquele em que as partes obrigam-se a entregar a propriedade de uma coisa mediante o recebimento de outra. 8.1 – Trata-se de contrato bilateral, oneroso, consensual e, normalmente, paritários. 8.2 – Se contrato envolver em troca e complementação em dinheiro configura compra e venda se o valor em dinheiro significar mais da metade do preço do negócio. Caso contrário, será considerado contrato de troca. CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier 8.3 – As mesmas regras que se aplicam aos contratos de compra e venda incidem nos contratos de troca, ressalva a divisão das despesas referentes ao contrato e a necessidade de consentimento dos descendentes se houver desigualdade do valor dos bens trocados entre ascendentes e descendentes. 8.3.1 – É pacífico o entendimento de isenção de concordância dos descendentes se o bem pertencente ao ascendente for o menos valioso. 9 – Empreitada é o contrato em que uma das partes assume a obrigação de realizar determinada obra, pessoalmente ou por terceiros, conforme as orientações da outra parte, que tem a obrigação de lhe remunerar. 9.1 – Por ser uma relação contratual civil, não há subordinação entre o empreiteiro e o dono da obra. 9.2 – O objeto do contrato é o resultado final da obra, pelo que não faz jus o empreiteiro à maior remuneração se a execução tomar mais tempo que o esperado, tampouco receberia menos se a conclusão ocorrer em menos tempo. 9.3 – A abordagem do tema requer cuidado especial porque a incidência desta modalidade de contrato no campo social se dá na seara do mercado de consumo. Logo, deve-se ter cautela na aplicação do ordenamento jurídico porque é atraída a vigência do CDC. Em suma, o Código Civil tem lugar quando não está configurada a relação consumerista ou como diploma subsidiário. 9.4 – São características do contrato de empreitada: bilateralidade, onerosidade (empreitada presume-se onerosa), consensualidade, informalidade, comutatividade e execução continuada. 9.5 – São suas espécies: empreitada de obra ou lavor e empreitada mista. Na primeira modalidade, que consiste na regra, o empreiteiro somente contribui com o seu trabalho, sendo responsabilidade do dono da obra o fornecimento do material; já na segunda, o empreiteiro também tem a obrigação de fornecer os materiais. 9.5.1 – É importante estabelecer a espécie de empreitada porque, dentre outros efeitos, determina que deve assumir os riscos do contrato. Adotado o princípio geral res perit domino, quando a empreitada é de obra ou lavor, quem sofre a perda é o dono da obra, se não houver culpa do empreiteiro (nesta hipótese, ele fica responsável). Ademais, o empreiteiro também não responde pelos danos se houver mora do dono da obra ou se os prejuízos forem causados pela qualidade ou quantidade do material, tendo sido o dono da obra alertado do fato à tempo. Contudo, se a empreitada for mista, todos os riscos correm por conta do empreiteiro, salvo se o dono da obra estiver em mora. 9.6 – A Lei 4.591/64 ainda prevê o contrato de construção sob administração, segundo o qual a obra é realizada de acordo com a concessão de recursos, materiais e ordens do dono da obra, restringindo-se o empreiteiro a execução da obrigação de fazer. Diferencia-se da empreitada propriamente dita, em que o construtor/empreiteiro assume todos os encargos e custos da obra/construção. 9.7 – A remuneração ao empreiteiro pode ser convencionada por etapas ou globalmente. De qualquer forma, tem o dono da obra o direito de verificar o resultado ao tempo do seu recebimento. Tendo pago o preço quando recebida a obra, presume-se a verificação. Nada poderá CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier reclamar após 30 dias do recebimento sem que tenha havido denúncia quanto à qualidade e exata execução da obrigação do empreiteiro. 9.8 – Incide nos contratos de empreitada a teoria dos vícios redibitórios, segundo a qual o dono da obra tem o prazo de 1 ano para reclamar de defeitos ocultos que somente possam ser percebidos mediante a utilização da coisa. 9.9 – O prazo de 5 anos somente se refere à solidez e segurança, que consiste em conferir garantia ao dono da obra. O direito de exercer a respectiva ação decai em 180 dias a contar da data do surgimento do vício ou defeito. OBJETIVOS ESPECÍFICOS: O aluno deverá ser capaz de: Compreender as características e efeitos das cláusulas especiais. Diferenciar as cláusulas especiais entre si e institutos semelhantes. Conceituar o contrato de troca e estabelecer suas semelhanças e diferenças do contrato de compra e venda. Conceituar o contrato de empreitada. Elencar as características e efeitos do contrato de empreitadade acordo com suas espécies. Diferenciar a responsabilidade do dono da obra e do empreiteiro, sendo que, neste último, aplicar os prazos de acordo com a característica do evento. ESTRATÉGIA: Os casos e questões de múltipla escolha deverão ser abordados ao longo da aula, de acordo com a pertinência temática; A resolução dos casos faz parte da aula; A abordagem dos casos permeia a exposição teórica. BIBLIOGRAFIA / JURISPRUDÊNCIA: GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2008, Volume III, Título II, Capítulos I, II e VIII. PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006. v.3 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil. 4. ed. rev. e atualizada. São Paulo: Saraiva, 2008. V. IV, Tomo 2, capítulos I, II e VIII. CASO CONCRETO 1 João comprou imóvel de Antônio mediante cláusula de retrovenda, tendo as partes avençado que o direito de retrato poderia ser exercido no prazo de 4 anos após a transferência da propriedade. Ocorre que, 3 anos e 6 meses após o negócio jurídico, Antônio tenta resgatar, porém João vendera CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier a coisa a terceiro. Antônio procura você, advogado, para se informar se pode exercer o direito que a cláusula de retrovenda lhe confere perante este terceiro. CASO CONCRETO 2 Otávio tem três filhos e cinco netos, todos maiores e capazes. Decide trocar uma casa por um apartamento do seu filho mais velho, haja vista os altos custo de manutenção de um imóvel grande. Contudo, como deixou de colher a anuência expressa de todos os seus descendentes, o filho mais promove ação anulatória por vício de forma, bem como pelo fato de os imóveis não serem igualmente valiosos. Isto posto, segundo entendimento predominante em manifestações pretorianas e doutrinárias, qual deveria ser o resultado da causa se comprovado ser o apartamento mais valioso do que a casa ? Justifique. QUESTÕES OBJETIVAS 1ª Questão: O empreiteiro Célio Aguiar foi contratado para a construção de um empreendimento em Santos. O contrato foi de empreitada mista. Após cinco anos e nove meses da conclusão da obra, apareceu uma rachadura que se estendia do teto até a parte térrea da casa. Um perito esteve no local e constatou defeito na construção. Alegou o empreiteiro que sua responsabilidade pelo trabalho executado seria só por cinco anos. Diante disso, marque a alternativa correta: (A) Está correto o empreiteiro porque se trata de questão que envolve solidez e segurança, pelo que nada deve responder. (B) Enganou-se o empreiteiro, pois, em se tratando de vício de qualidade, a responsabilidade é de 30 dias tão logo possa o vício ser percebido. (C) Se constatado defeito em razão de culpa do empreiteiro, o prazo será de três anos, previsto no art. 206, §3º, V, do Código Civil, a contar da data da lesão. (D) Somente estaria correto o empreiteiro se o contrato fosse de lavor, em que a responsabilidade é imputada ao dono da obra. 2ª Questão: Em contrato de empreitada mista, o dono de uma obra verificou que o preço dos materiais empregados na execução dos serviços sofrera significativa queda no mercado, o que acarretou redução, no valor total da obra, superior a 12% do que fora convencionado pelas partes. Diante disso, pleiteou ao empreiteiro a revisão do preço original, de modo a garantir abatimento correspondente à redução verificada. Em resposta a tal pedido, o empreiteiro argumentou que não seria possível qualquer revisão porque a queda no preço dos materiais resultara de fenômeno sazonal e, portanto, não se apresentava como motivo imprevisível capaz de justificar o requerimento. Com base no Código Civil, marque a alternativa correta: (A) Não tem direito o dono da obra ao abatimento do preço, haja vista ter assumido o risco da variação dos preços quando não elegeu a empreitada por lavor. CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier (B) A solução do caso depende das cláusulas avençadas entre as partes, na medida em que a obrigação do empreiteiro é o resultado. (C) O abatimento do preço é possível desde que presentes os elementos autorizadores da revisão do contrato segundo a teoria da imprevisão. (D) Por se tratar da empreitada mista e a variação do preço dos materiais ter sido superior a 10%, é direito do dono da obra exigir a revisão do preço pactuado. SEMANA 12 Doação: Conceito e elementos característicos. Natureza jurídica. Pressupostos e requisitos. Espécies. Modalidades especiais de doação. CONTEÚDOS: 1 – Doação é o contrato em que uma das partes assume a obrigação de transferir a propriedade de Um bem a outrem por mera liberalidade. Assim, são elementos do negócio: a vontade de praticar a liberalidade, a oferta do doador de transferir um bem e a aceitação do donatário. 1.1 – A lei admite a aceitação tácita. Assim, se o sujeito nada declarar e ficar com a coisa objeto do contrato, reputa-se concluído o contrato de doação. 1.2 – Existe a figura da aceitação ficta na hipótese em que o donatário for incapaz. 2 – A doação é pura quando o donatário nada tem a fazer ou entregar ao doador para ser credor do direito de receber a coisa. Outrossim, o contrato não fica vinculado a qualquer condição ou outro elemento qualquer que possa atingir sua eficácia. 2.1 – Há doação pura quando o pagamento efetuado pelo serviço de alguém for superior ao cobrado. Logo, o preço equivalente ao ajustado é pagamento; o que lhe superar é doação pura e simples. 3 – Doação onerosa impõe ao donatário o cumprimento de um dever para ser merecedor da aquisição do bem pertencente ao doador. Logo, seu patrimônio não é aumentado a custa de nada, mas sim em razão da realização de uma incumbência. 3.1 – O encargo não consiste em obrigação do donatário, mas sim elemento acidental do negócio jurídico. Destarte, o contrato surte efeito tão logo celebrado, porém o descumprimento acarreta na perda da aptidão do contrato em gerar efeitos, na forma do art. 136, CC. Se tivesse natureza obrigacional, seu descumprimento implicaria em perdas e danos. 3.2 – O encargo pode ser imposto em benefício do doador, de terceiro ou da coletividade em geral. Havendo mora do donatário, apenas o doador pode pleitear a revogação do contrato. Contudo, o Ministério Público pode exigir o cumprimento do encargo se destinado em favor de interesse geral e o doador não o tiver feito antes de sua morte. 3.3 – Aplicada a tese da estipulação em favor de terceiro, o beneficiado pelo encargo também poderá pleitear o cumprimento do encargo. CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier 3.4 – Se previsto encargo impossível ou ilícito, reputa-se não-escrito. Se, todavia, for a causa determinante da doação, fica o contrato integralmente invalidado, segundo preceitua o art. 137, CC. 4 – Doação remuneratória é celebrada em retribuição a serviços prestados ao donatário em que não tenha havido exigência de pagamento. 5 – Denomina-se doação em contemplação de casamento futuro quando o contrato é celebrado em razão das núpcias do donatário com pessoa certa e determinada. Assim, pode ser doador um dos nubentes e donatário o outro; um terceiro pode ser doador e ambos ou apenas um dos nubentes ser o donatário, bem como se admite a doação de um bem para a futura prole do casal. 5.1 – Não se requer a manifestação de aceitação, bastando a concretização do casamento para aperfeiçoar o ato jurídico. Pela mesma razão, se não ocorrer o casamento, o negócio jurídico não se concretiza, pelo que devem os bensobjetos de doação ser restituídos aos doadores. 6 – Doação ao nascituro é válida, sendo manifestada a aceitação pelo representante legal. Contudo, o negócio jurídico somente fica perfeito com o nascimento com vida. Logo, se não houver nascimento, os objetos doados devem ser restituídos aos doadores. 6.1 – O donatário, na verdade, é o nascituro. Como a lei não lhe confere aptidão para adquirir direitos, os efeitos da doação dependem do nascimento, quando então tem início a personalidade. 7 – A doação em comum a mais de uma pessoa (doação conjuntiva) ocorre quando houver pluralidade de donatários, sendo todos proprietários da coisa. Se os donatários forem sócios conjugais, haverá direito de acrescer ao sobrevivente quando um deles morrer. 8 – A doação de ascendente para descendente não implica na necessidade de concordância dos demais descendentes. Contudo, o valor da coisa doada, ao tempo da liberalidade, terá de ser corrigido monetariamente para ser considerado ao tempo da abertura da sucessão do doador. Assim, terá o descendente de abater do valor do seu quinhão sucessório o monte já recebido em doação. 8.2 – Pode o ascendente doador obstar a colação do valor do contrato para descontar do quinhão a ser sucedido pelo donatário se houver cláusula expressa no contrato de doação ou se fizer testamento com tal objetivo. 8.3 – Se o descendente donatário não for filho do ascendente doador, somente terá de colacionar o valor da doação se tiver qualidade de herdeiro à época da liberalidade. 9 – Considera-se inoficiosa a doação cujo valor exceder ao montante que poderia ser livremente disposto pelo doador em testamento à época da celebração do contrato. 9.1 – O contrato é válido se ultrapassar a metade máxima que poderia ser disposta pelo doador. A nulidade está apenas no excesso. 9.2 – Havendo multiplicidade de doações, a ordem da redução é da última à primeira. 9.3 – Não são consideradas inoficiosas as doações feitas antes de o doador ter herdeiros necessários. CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier 10 – Doação universal é aquele que envolve todos os bens do doador, ainda que não tenha herdeiros necessários, não havendo reserva de parte ou renda suficiente para a subsistência digna do doador. Consiste em modalidade de negócio jurídico nulo. 10.1 – Visa a nulidade a evitar que alguém, por sua negligência ou imprevidência, reduza-se à miséria, tornando-se um problema social. 11 – É anulável a doação do cônjuge adúltero ao seu cúmplice, havendo o prazo de 2 anos para promover a ação anulatória, a contar da dissolução da sociedade conjugal. 11.1 – Sendo a fidelidade um dos deveres conjugais, descumpri-la significa agir antijuridicamente, o que merece resposta do ordenamento jurídico. 11.2 – Por ter a lei utilizado a expressão cúmplice, a anulação somente atingiria a pessoa que aceitou a doação sabendo que manter relações com pessoa casada. Comprovada a ignorância do donatário quanto à prática do adultério, pode resistir à pretensão anulatória. 12 – Doação mediante reversão (com cláusula de retorno) é aquela em que o doador estipula retornar a coisa doada ao seu patrimônio se sobreviver ao donatário. 12.1 – Trata-se de constituição de propriedade resolúvel, em que o direito do donatário é intuitu personae. Se morrer antes do doador, o bem não será entregue aos seus herdeiros, mas sim retornará ao patrimônio do doador. 12.2 – A propriedade fica gravada com a cláusula de retorno. Logo, quem adquirir do donatário a propriedade do bem, terá de se sujeitas aos efeitos da cláusula, não sendo prejudicado o direito do doador de reivindicar a coisa na hipótese de morte do donatário. 12.3 – A morte simultânea consolida a propriedade do donatário, na medida em que o doador teria de sobrevivê-lo para ser extinto o direito real adquirido pelo contrato de doação. 12.4 – Não se pode convencionar o retorno da coisa em favor de terceiro. OBJETIVOS ESPECÍFICOS: O aluno deverá ser capaz de: Conceituar o contrato de doação. Identificar as características do contrato. Compreender as espécies e respectivos efeitos de doação ESTRATÉGIA: Os casos e questões de múltipla escolha deverão ser abordados ao longo da aula, de acordo com a pertinência temática; A resolução dos casos faz parte da aula; A abordagem dos casos permeia a exposição teórica. BIBLIOGRAFIA / JURISPRUDÊNCIA: CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2008, Volume III, Título II, Capítulo IV. PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006. v.3 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil. 4. ed. rev. e atualizada. São Paulo: Saraiva, 2008. V. IV, Tomo 2, capítulo IV. CASO CONCRETO 1 Tício doa à Mévia um imóvel com cláusula de reversão, segundo a qual, caso o doador sobrevivesse à donatária, a coisa retornaria ao seu patrimônio. Todavia, por ter contraído muitas dívidas, Mévia vendeu o imóvel para terceiro. Preocupado com a situação, Tício procura você, advogado, e lhe questiona se poderá reaver a coisa, que está na posse e propriedade de terceiro atualmente, se sobreviver a morte de Mévia. CASO CONCRETO 2 Otávio tem três filhos e cinco netos, todos maiores e capazes. Decide doar uma casa ao seu filho mais velho, avaliado o bem objeto do contrato em R$ 300.000,00. Contudo, como deixou de colher a anuência expressa de todos os seus descendentes, o filho mais promove ação anulatória por vício de forma, bem como pelo fato de os imóveis não serem igualmente valiosos. Isto posto, responda : 1) Considerado o ordenamento jurídico em vigor, deverá ser procedente a pretensão de decretação da anulação do contrato ? Justifique. 2) Há algum meio de o doador resguardar o filho donatário de algum prejuízo futuro ? Justifique com base na norma jurídica. QUESTÕES OBJETIVAS 1ª Questão: Amanda recebeu de Paulo, casado com Fernanda, em 10 de dezembro de 2004, um veículo em doação. Durante as férias em família, no verão de 2009, Paulo sofreu um acidente e morreu. Recentemente, Fernanda soube da doação e propõe ação anulatória. Assim, quanto á anulação do contrato, marque a alternativa correta: (A) Prescreveu a pretensão de anulação do contrato, haja vista ter se passado mais de 2 anos da doação. (B) Poderá ser declarado nulo o contrato porque a sociedade conjugal não foi dissolvida há mais tempo que o estabelecido em lei. (C) O contrato de doação somente seria nulo se o veículo ultrapassasse a metade do que Paulo poderia dispor em testamento. CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier (D) É viável a pretensão porque o doador era casado e o prazo para ser requerida a anulação do ato somente começou a correr após a morte do doador. 2ª Questão: João reivindica a propriedade de um imóvel que está em poder de Maria. Esta alega que o recebeu de Antônio em doação de mediante cumprimento de encargo. Ao tempo da contestação, denuncia o alienante à lide, a fim de lhe indenizar por eventuais danos decorrentes de evicção. O denunciado argumenta não ser cabível responsabilizá-lo por evicção, na medida em que celebrou com a denunciante contrato gratuito. Com base no Código Civil, marque a alternativa correta: (A) A denunciante não tem direito a ser indenizada pelo denunciado se sofrer evicção porque somente poderia assim pleitear se tivesse celebrado contrato oneroso. (B) Doação mediante cumprimento de encargo é contrato oneroso, pelo queé cabível postular indenização por evicção. (C) Somente teria direito contra o denunciado se este tivesse culpa pela perda da coisa em favor do reivindicante, segundo a teoria da responsabilidade civil. (D) O caso admite unicamente anulação do negócio jurídico por vício de consentimento, na modalidade de dolo. SEMANA 13 Revogação das doações. Contrato de empréstimo (Comodato, mútuo). Depósito: conceito, características, espécies, alienação fiduciária e a prisão do depositário infiel. CONTEÚDOS: 1 – A revogação da doação pode ocorrer por descumprimento de encargo e por ingratidão do donatário. 2 – Se o doador fixar prazo para cumprimento do encargo, automaticamente é configurada a mora do devedor; se não houver termo, a mora depende de interpelação do doador em que é determinado tempo razoável para conclusão. 3 – O elenco legal dos atos de ingratidão é taxativo, implicando na revogação da doação pura. Está fundamentada no dever moral do donatário de ser grato ao seu benfeitor. Logo, os atos que servem de causa de pedir revogação são considerados repugnantes, tornando o donatário desmerecedor da liberalidade. 4 – O direito de revogar a doação por ingratidão é ordem pública, caráter cogente. Portanto, não pode ser renunciado antecipadamente. 5 – Homicídio doloso ou a tentativa consiste em ingratidão. Destarte, a prática de homicídio culposo não enseja revogação da doação. 5.1 – As causas de exclusão de antijuridicidade e culpabilidade do crime também são aplicadas na esfera cível para obstar a revogação da doação. CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier 5.2 – Não se exige a prévia condenação criminal. Todavia, se esta ocorrer, fará coisa julgada também na esfera cível, bastando ao doador executar o título. 6 – Ofensa física também não depende de prévia condenação criminal para viabilizar a revogação. Não se exige que seja configurado crime de vestígio, porém é adotado o princípio da insignificância. 6.1 – Incidem igualmente as causas de exclusão de antijuridicidade e culpabilidade. 7 – Não obstante a divergência doutrinária, apesar de não constar expressamente no terceiro inciso do art. 557, CC, predomina o entendimento de que é também ato de ingratidão a difamação. Afinal, atinge o mesmo bem jurídico (honra) do doador. 8 – O fato de o donatário recusar-se a pagar alimentos ao doador quando este necessitar não significa de imediato a revogação do contrato. É preciso que o donatário possa pagar os alimentos porque, se não os puder, será mantida a eficácia da doação. 9 – São considerados atos de ingratidão quando os ofendidos guardarem vínculo com o doador de casamento, união estável, descendência, ascendência ou sejam irmãos. 10 – Estabelece a lei o prazo decadencial de 1 ano, a contar da ciência do ato de ingratidão e da sua autoria, para ser promovida ação revocatória. Ambos os requisitos são cumulativos, pelo que a contagem somente tem início quando ambos são conhecidos. 10.1 – A ação é personalíssima, cabendo a sua iniciativa apenas ao doador, podendo os herdeiros prosseguir a demanda. Contudo, se o ato de ingratidão consistir em homicídio consumado, os herdeiros poderão iniciar a ação. 10.2 – É possível lapso temporal entre os atos de execução do homicídio e o resultado morte. Se, neste ínterim, for perdoado o donatário, não poderá ser revogada a doação. 11 – Se a coisa doada for alienada a terceiro de boa-fé, que não perderá a propriedade da coisa. Por outro lado, terá o donatário a obrigação de pagar indenização pelo valor médio da coisa. 12 – Empréstimo é o contrato pelo qual uma das partes entrega à outra um bem que deverá ser devolvido. 13 – Trata-se de contrato real, o qual somente se perfaz mediante a entrega da coisa. Antes da tradição, existe promessa de empréstimo. 14 – Uma das espécies de empréstimo é o comodato. Este implica na transferência temporária de coisa infungível para fins de uso do comodatário. Encerrado o prazo, fixado ou razoável, deverá o bem ser restituído ao comodante. 15 – O contrato de comodato não pode gerar qualquer vantagem econômica ao comodante, sob pena de se desclassificar para locação. Contudo, nada impede de ser configurado o comodato modal, ou seja, comodatário assume uma determinada tarefa em razão do empréstimo. 16 – Trata-se de contrato unilateral, gratuito, real e informal. CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier 17 – Administradores de bens alheios não podem dar a coisa do proprietário em comodato sem especial autorização. 18 – Havendo prazo convencionado entre as partes, o comodante não poderá exigir a devolução da coisa antes do tempo, salvo se provar necessidade urgente e imprevista. Se não tiverem as partes fixado tempo, deverá o comodante interpelar o comodatário para configurar a mora. 18.1 – Configurada a mora do comodatário e mantendo este a posse do bem, poderá o comodante cobrar-lhe aluguel pelo uso da coisa até a efetiva devolução. 19 – O comodatário é obrigado a conservar a coisa, não podendo cobrar do comodante as despesas efetuadas na conservação enquanto o bem estava em seu poder. 19.1 – Se coisas próprias correrem risco de perecer juntamente com a coisa emprestada, não poderá o comodatário preferir salvar os seus bens em detrimento da bem objeto do contrato. Do contrário, responderá pelos danos, ainda que causados por caso fortuito ou força maior. 20 – O mútuo é o empréstimo de coisas fungíveis, consistindo em contrato de consumo. Assim, é transferida a propriedade da coisa ao mutuário, que poderá usá-la como quiser. Ao tempo devido, entregará ao mutuante outro bem, do mesmo gênero, quantidade e qualidade. 21 – Em regra, o mútuo também é gratuito. Excepcionalmente, o mútuo torna-se oneroso por prever o pagamento de juros pelo empréstimo de dinheiro – mútuo feneratício. 22 – Depósito é o contrato em que uma das partes, após receber coisa da outra parte, assume a obrigação de guardá-la, conservá-la e, ao tempo devido, restituí-la. Distingue-se do empréstimo por não conferir o direito de se servir do bem, devendo este ser guardado. 23 – Dentre as espécies do contrato, recebe o maior número de normas o depósito voluntário, o qual se presume gratuito e, portanto, seria unilateral. 23.1 – A doutrina, predominantemente, entende que esta modalidade de depósito é bilateral imperfeita, haja vista ser certa a obrigação do depositário, porém eventual a obrigação do depositante. Esta surge apenas quando o depositário sofre prejuízos ou despesas ao efetuar a guarda da coisa. 23.2 – Se o depósito implicar em remuneração, encerra-se a controvérsia: o contrato é bilateral. 23.3 – Trata-se de contato real, visto que a obrigação do depositário somente surge após a entrega da coisa. Outrossim, predomina o entendimento de se tratar de contrato informal, sendo a forma apenas ad probationem tantum. 24 – Denomina-se depósito voluntário irregular aquele cujo objeto for bem fungível, são atraídas as normas relativas ao mútuo. Contudo, se diferenciam porque o depósito não transfere o consumo da coisa ao depositário. 25 – Outra espécie de depósito é o necessário, o qual é constituído por força de imposição jurídica ou em razão de desgraça. O primeiro é denominado legal e o segundo miserável. 26 – Terceira espécie é o depósito por equiparação, no qual o hospedeiro recebe o mesmo tratamento do depositário em ralação aos bens do hóspede. CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier 27 – Tanto o depósito necessário quanto o depósito por equiparação são premidamente onerosos. 28 – A despeito da previsão legal da prisãodo depositário infiel, tanto no Código Civil quanto no Código de Processo Civil, firmou o Pretório Excelso ser incabível a privação da liberdade nesta hipótese. OBJETIVOS ESPECÍFICOS: O aluno deverá ser capaz de: Identificar as causas de revogação da doação, legitimidade e seus efeitos. Conceituar o contrato de empréstimo e suas espécies. Compreender as características e os efeitos do comodato e do mútuo Conceituar o contrato de depósito e suas espécies. Elencar as características e efeitos do contrato de depósito. Analisar criticamente a prisão civil do depositário. ESTRATÉGIA: Os casos e questões de múltipla escolha deverão ser abordados ao longo da aula, de acordo com a pertinência temática; A resolução dos casos faz parte da aula; A abordagem dos casos permeia a exposição teórica. BIBLIOGRAFIA / JURISPRUDÊNCIA: GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2008, Volume III, Título II, Capítulos IV, VI e IX. PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006. v.3 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil. 4. ed. rev. e atualizada. São Paulo: Saraiva, 2008. V. IV, Tomo 2, capítulos IV, VI e IX. CASO CONCRETO 1 Mário doa uma casa a Francisco. Pouco tempo depois do cumprimento do contrato, o filho de Mário é assassinado. 25 anos após o homicídio, descobre-se que o criminoso foi Francisco, que, antes de matar o filho do doador, vendera a casa a um terceiro de boa-fé. Encerrada a investigação, é oferecida a denúncia pelo Ministério Público, sendo instaurada a ação penal, a qual resulta na condenação transitada em julgado por tentativa de homicídio. O doador requer ao juízo cível a revogação da doação, a fim de restabelecer o bem doado no seu patrimônio. Deve ser julgada procedente a sua pretensão ? Justifique abordando como ficará a propriedade da casa. CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier CASO CONCRETO 2 Carlos celebrou contrato de financiamento com o Banco X para fins de aquisição de um veículo, sendo o negócio garantido pela modalidade da alienação fiduciária. Após pagar três das trinta e seis parcelas avençadas, foi interrompida a execução de pagar. Esgotada a cobrança pela via extrajudicial, a instituição financeira propõe ação de busca e apreensão. Foram exauridas as diligências pelo oficial de justiça sem que o veículo tivesse sido encontrado, pelo que a financeira requer a conversão do feito em ação de depósito. Isto posto, questiona-se: é cabível a ordem de prisão civil por até um ano a fim de compelir o cumprimento da decisão condenatória no que tange à entrega da coisa ou se equivalente em dinheiro ? Justifique a resposta respaldando-se em entendimentos recentes do STF. QUESTÕES OBJETIVAS 1ª Questão: João doou um valioso imóvel para Maria em 2003. Quatro anos após, muito doente e desempregado, o doador requer alimentos em face da donatária a fim de suprir suas necessidades básicas. Esta, por sua vez, negou-lhe a assistência porque sobrevive exclusivamente dos alugueres do imóvel recebido em doação, quantia esta insuficiente para cobrir seus gastos com remédios, alimentação, vestuário e outros ônus ordinários. Diante disso, marque a alternativa referente ao direito do doador promover revogação por ingratidão: (A) Não poderá ser revogada a doação, cabendo ao doador promover ação de alimentos e sua respectiva execução se a donatária manter-se inadimplente. (B) A revogação pode ser requerida desde que obedecido o prazo decadencial de um ano, haja vista a evidente ingratidão da donatária. (C) O contrato de doação somente poderia ser revogado se a donatária pudesse pagar alimentos e se negasse, o que não é o caso. (D) Apesar da previsão legal lacunosa, somente se admite a exigência de alimentos se as partes guardarem relação de familiar entre si. 2ª Questão: Antônio emprestou para Benedito seu automóvel, por um dia. Benedito estava trafegando pela cidade quando foi assaltado em um semáforo. Nesse caso, (A) Benedito terá que restituir o valor do automóvel, mais perdas e danos. (B) Benedito terá que restituir o valor do automóvel, pura e simplesmente. (C) Benedito nada terá que restituir a Antônio. (D) Benedito terá que pagar, tão somente, perdas e danos. SEMANA 14 CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier Locação urbana. Noções gerais. Legislação. Espécies. Alienação do bem locado. Direito de Preferência. Retomada. Locação não residencial. Fiança. CONTEÚDOS: 1. A locação do prédio urbano, regulado pela Lei 8.245/91, alterada pela Lei 12.112, de 09 de dezembro de 2009, determina-se pela destinação do imóvel, ou seja, independentemente da sua localização, o tipo de ocupação verificada no bem é que definirá se trata de locação urbana ou rural. 2. A Lei previu a solidariedade entre as partes, ou seja, independentemente do número de locadores ou locatários, todos podem acionar ou ser acionado judicialmente. Exceção à regra ocorre na ação de despejo, já que visa ao término da relação contratual. Logo, todos os locatários deverão figurar no pólo passivo da relação processual. 3. A locação pode ser ajustada por qualquer prazo, sendo necessária a vênia conjugal, independentemente do regime de casamento, se o prazo da locação for superior a dez anos. 3.1 - Para as locações residenciais, é garantida a denúncia vazia se no prazo inicial da locação for igual ou superior a trinta meses. Se inferior a esse prazo o locador só poderá retomar o imóvel locado pela denúncia vazia após cinco anos. 3.2 - O mesmo não ocorre nas locações não-residenciais, em que se admite denuncia vazia após o término do prazo da locação. 4. A locação poderá ser contratada por temporada quando o prazo contratual não exceder a noventa dias. Nesse caso, em havendo prorrogação da locação sem oposição do locador, ficará prorrogada por prazo indeterminado, só podendo ser retomada motivadamente ou por denúncia vazia após o prazo de trinta meses. 5. O locador não poderá retomar o imóvel locado enquanto houver prazo contratual, enquanto que o locatário poderá devolvê-lo pagando a multa pactuada proporcionalmente ao prazo de vigência ainda restante ou ao que for judicialmente determinado. 6. Havendo alienação do imóvel locado, o adquirente poderá denunciar o contrato mesmo que ainda exista prazo contratual em vigor, só não podendo fazê-lo de observada três condições: o contrato for por prazo determinado; haver cláusula de vigência; registro junto à matrícula imobiliária. 7. Morrendo o locador, a locação transfere-se automaticamente aos herdeiros; se a morte for do locatário, incide na locação de finalidade residencial o cônjuge, companheiro, os herdeiros necessários e os que viviam na dependência econômica do falecido. 7.1 – Nas locações não residenciais, sucedem o Espólio ou o sucessor no negócio. 7.2 – Em caso de separação de fato, separação judicial, divórcio ou dissolução da união estável, a locação prosseguirá com aquele que continuar ocupando o imóvel locado. 8. A cessão da locação, a sublocação e o empréstimo dependem de autorização prévia e expressa do locador. CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier 9.Todas as regras da locação são aplicáveis às sublocações, sendo certo que rescindida a locação resolvem-se as sublocações. 10. No caso de alienação do imóvel locado, o locatário tem preferência na aquisição do bem, devendo o locador dar-lhe conhecimento do negócio de forma inequívoca, caducando o direito de preferênciano prazo de trinta dias da notificação se o locatário não manifestar, também de maneira inequívoca, a aceitação integral à proposta formulada. O locatário não terá direito de preferência se a alienação decorrer de decisão judicial, permuta, doação, integralização de capital, cisão, fusão e incorporação. 10.1 O locatário preterido no direito de preferência poderá reclamar do locador perdas e danos e, se o contrato estiver averbado à margem da matrícula do imóvel pelo menos trinta dias do ato de alienação, depositando o preço da venda e demais atos de transferência, poderá requerer judicialmente a adjudicação compulsória do bem, desde que o faça até seis meses a contar do registro no cartório do registro de imóveis do ato de transferência. 12. Existem quatro modalidades de garantias locatícias e todas elas se estendem até a efetiva devolução do imóvel locado, sendo vedado ao locador exigir mais de uma modalidade de garantia locatícia, sob pena de nulidade da garantia que estiver topograficamente colocada em segundo lugar. 12.1 A garantia é estendida ainda que o contrato seja prorrogado por tempo indeterminado, exceto que o contrato dispuser em contrário.Poderá o locador, contudo, notificar o locador da sua intenção de desobrigar-se, situação em que o fiador permanecerá garantindo a locação por 120 dias a contar da notificação. 12.2 O locador poderá resilir o contrato se o locatário não apresentar novo fiador no prazo de 30 dias a contar da data em que for notificado para tal fim. 12.2 Sendo a garantia a fiança e havendo qualquer alteração contratual, da qual o fiador não anui, a fiança ficará extinta na forma da Sumula 214 do STJ. 13. A garantia em caução poderá ser em bens móveis e imóveis, sendo em dinheiro fica limitada a três meses aluguel e deverá ser depositada em caderneta de poupança, sob pena do locador responder pelos acréscimos do depósito não procedido. OBJETIVOS ESPECÍFICOS: O aluno deverá ser capaz de: Diferenciar as locações que são regidas pelo direito comum e aquelas reguladas pela lei especial (8.245/91); Identificar as regras aplicáveis a qualquer locação e aquelas aplicáveis especificamente às locações residenciais e às locações não residenciais; Elencar os direitos e deveres de cada uma das partes envolvidas no pacto locatício; Aprender as formas de garantias locatícias e suas repercussões práticas; ESTRATÉGIA: CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier Os casos e questões de múltipla escolha deverão ser abordados ao longo da aula, de acordo com a pertinência temática; A resolução dos casos faz parte da aula; A abordagem dos casos permeia a exposição teórica. BIBLIOGRAFIA / JURISPRUDÊNCIA: GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2007, Volume III, Título II, Capítulo V. Venosa, Silvio de Salvo. Lei do Inquilinato Comentada: Doutrina e Prática: Lei n. 8.245, 18.10.1991 8. ed. São Paulo: Atlas, 2005. CASO CONCRETO 1 Laurita é locatária de um imóvel localizado numa cobertura, cuja locação é administrada pela Imobiliária Estrela do Mar Ltda.. Depois de dois anos morando no imóvel, um vazamento de grandes proporções em decorrência de fortes chuvas havidas na cidade durante o verão e, em razão da falta de limpeza conveniente do encanamento que faz o escoamento de águas pluviais, resulta no estrago de toda a mobília da suíte do casal, inclusive objetos de adorno e decoração raros. Laurita prevendo que tal fato poderia ser verificar, havia solicitado por escrito diversas vezes à imobiliária providências para a limpeza da calha de escoamento de água. Constatado o prejuízo, Laurita procura você, advogado, para mover ação de reparação de danos material e moral em face da imobiliária, uma vez que a ela cabia a execução dos serviços de administração do bem locado. Responda pela viabilidade ou não da pretensão, abordando nos fundamentos da sua manifestação os deveres e direitos do locador e do locatário. CASO CONCRETO 2 Dendina encontra-se em mora quanto ao pagamento do aluguel e encargos locatícios desde de julho de 2008, tendo o prazo contratual terminado em dezembro de 2007. João Paulo, locador, ingressa com ação de despejo por falta de pagamento em face de Dendina e de Gabriel, fiador e principal pagador juntamente com a locatária pelo cumprimento de todas as obrigações contratuais, tendo renunciado ao benefício de ordem previsto no artigo 827 do Código Civil. Em defesa a fiadora alega que ela não poderia ser ré em ação de despejo, já que não figura como locatária e o prazo da locação já havia decorrido e que, desta forma, já estava extinta a fiança prestada. Resolva o conflito em tela, apresentando os fundamentos jurídicos que amparem sua decisão. QUESTÕES OBJETIVAS 1ª questão: É correto afirmar que na locação de imóveis urbanos CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier a) no contrato, pode o locador exigir do locatário mais de uma das modalidades de garantia. b) salvo expressa disposição contratual em contrário, as benfeitorias voluptuárias introduzidas pelo locatário serão indenizáveis e permitem o exercício do direito de retenção. c) não havendo acordo, o locador ou o locatário, após 3 anos de vigência do contrato ou do acordo anteriormente realizado, poderão pedir revisão judicial do aluguel, a fim de ajustá-lo ao preço de mercado. d) a cessão do contrato poderá ser feita, independentemente do consentimento prévio do locador. Justificativa: artigo 19 da Lei 8.245/91 2ª questão: No que tange à importância do registro/averbação do contrato de locação no registro imobiliário competente, aponte a assertiva errada: (A) garante o direito de indenização por perdas de danos no caso de preterição no direito de preferência na aquisição do imóvel; (B) garante o direito de haver para si o imóvel locado, no caso de preterição no direito de preferência na aquisição do imóvel; (C) garante a permanência no imóvel até final do prazo locatício, se houver cláusula de vigência do contrato em caso de alienação; (D) Consiste em cláusula de eficácia real, pelo que pode ser oponível erga omnes, malgrado consistir a locação numa relação contratual. Justificativa: (b) artigo 33 da Lei 8.245/91 e (c) artigo 8º da Lei 8.245/91 SEMANA 15 Mandato. Fiança. CONTEÚDOS: 1 – Mandato é contrato pelo qual uma das partes outorga poderes a outra para praticar atos civis em seus nome, como se fosse o próprio outorgante. 2 – Trata-se de contrato presumidamente gratuito, salvo se envolver a prática de profissão. Portanto, diverge a doutrina em classificá-lo em unilateral ou bilateral imperfeito, na medida em que é obrigação do mandante ressarcir os prejuízos sofridos pelo mandatário. 2.1 – Por configurar contrato calcado na confiança que as partes depositam uma na outra, tem caráter personalíssimo. Em razão disso, admite a resilição unilateral a qualquer tempo. CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier 2.2 – Igualmente, é consensual e informal, servindo a procuração como instrumento do mandato, ou seja, documento que viabiliza a execução do contrato e sua demonstração perante terceiros. 3 – Tem legitimidade para ser mandatário o maior de 16 anos, porém, se menor de 18 anos, não poderá ser responsabilizado. 4 – O substabelecimento é o instrumento pelo qual o mandatário compartilha ou transfere os poderes outorgados pelo mandante. 4.1 – Se substabelecer sem autorização do mandante, fica o mandatário responsável pelos atos prejudiciais praticados pelo substabelecido escolhidopelo mandatário, ainda que o dano decorra de caso fortuito. Contudo, exonera-se do dever de indenizar se provar que o fato ocorreria de qualquer modo. 4.2 – Caso haja poderes conferidos para substabelecer, o mandatário somente responde por danos se tiver culpa quanto à escolha ou às orientações dadas ao substabelecido. 4.3 – Convencionada a proibição de substabelecer no contrato de mandato, os atos do substabelecido não vinculam o mandante, salvo posterior ratificação. 4.4 – Nada dizendo o contrato sobre substabelecimento, o mandatário fica responsável pelos atos danosos do substabelecido, desde que sejam culposos. 5 – Havendo expressão “em causa própria”, o mandato torna-se irrevogável e sucessível pelos herdeiros das partes (muito comum no mercado imobiliário). 6 – Fiança é o contrato pelo qual uma pessoa se obriga a pagar um débito caso o devedor assim não o faça. 7 – Trata-se de negócio acessório, na medida em que somente tem existência se houver relação obrigacional a ser garantida. É excepcionada a regra quando a vinculação principal for nula unicamente por incapacidade pessoal do devedor. 7.1 – Em razão do caráter acessório, a fiança não pode implicar pagamento superior do que ocorreria no contrato principal. 8 – O contrato é unilateral, gratuito e consensual. Outrossim, é formal porque jamais se presume, bem como personalíssima. 9 – Salvo disposição contratual em contrário, pela qual se torna devedor principal e solidário, tem o fiador direito de ordem, o que o diferencia do avalista. Assim, em regra, pode exigir que seja primeiro esgotado o patrimônio do devedor quando exigido o pagamento. 10 – Havendo vários fiadores garantindo o pagamento da mesma dívida, ficam todos obrigados solidariamente a prestar garantia. Contudo, solvido o débito por um deles, poderá exigir dos demais a fração que caberia a cada um no monte. OBJETIVOS ESPECÍFICOS: O aluno deverá ser capaz de: CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier Conceituar o contrato de mandato, identificando suas características e efeitos. Estabelecer a responsabilidade do mandatário nas diferentes hipóteses de substabelecimento. Compreender o instituto do mandato em causa própria e suas conseqüências. Conceituar o contrato de fiança. Apontar os requisitos e elencar características da fiança. ESTRATÉGIA: Os casos concretos e questões de múltipla escolha deverão ser abordados ao longo da aula, de acordo com a pertinência temática; A resolução dos casos faz parte da aula; A abordagem dos casos permeia a exposição teórica. BIBLIOGRAFIA / JURISPRUDÊNCIA: GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2008, Volume III, Título II, Capítulos X e XVIII. PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006. v.3 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil. 4. ed. rev. e atualizada. São Paulo: Saraiva, 2008. V. IV, Tomo 2, capítulos XI e XIX. CASO CONCRETO 1 Manuela e Joana obrigaram-se como fiadoras e principais pagadoras da empresa em que o pai de ambas é sócio administrador, num contrato de empréstimo bancário. Inadimplida a obrigação de pagar, o banco promove execução do título extrajudicial, pelo que extrai do patrimônio de Manuela a integralidade do pagamento. Diante disso, questiona-se : 1) Poderia ser alegado o benefício de ordem em favor das fiadoras ? Justifique. 2) Tem Manuela direito de regresso em face de alguém para reaver o pagamento da dívida ? Justifique. CASO CONCRETO 2 Carlos precisa viajar por muitos meses, razão pela qual confere poderes a Marcos para administrar seus bens, todos em locação. Sem que haja cláusula expressa que o autorize, o mandatário substabelece os poderes outorgados a Antonio para que possa se recuperar de forte stress numa clínica especializada. Ao retornar, Carlos descobre que Antonio deu remissão dos aluguéis referentes ao período em que esteve responsável pela administração dos imóveis. Diante de tamanho prejuízo, requereu a condenação de Marcos a lhe indenizar por eventuais prejuízos. CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier Isto posto, Marcos procura você para lhe questionar se é responsável pelos danos sofridos pelo mandante, na medida em que entende não haver nexo de causalidade entre o seu comportamento e o alegado evento danoso. Responda-o com base no ordenamento jurídico. QUESTÕES OBJETIVAS 1ª Questão: João confere poderes a Maria para dispor de um imóvel específico por instrumento público em que consta cláusula “em nome próprio”. Morta a mandatária, João arrepende-se do seu ato, principalmente em razão do caráter duvidoso dos herdeiros de sua outrora grande amiga. Assim sendo, marque a alternativa correta: (A) Poderá ser revogado o mandato porque consiste em relação personalíssima e calcada na confiança mútua. (B) A revogação somente teria sucesso se comprovado o caráter infungível da prestação a ser realizada pela mandatária originária. (C) Por se tratar de mandato em causa própria, assume o contrato feições excepcionais, pelas quais não pode ser revogado o negócio sequer se morrer uma das partes. (D) Somente é possível a revogação se comprovada a prática de atos lesivos ao patrimônio do mandante pelos herdeiros da mandatária. 2ª Questão: A respeito do mandato, assinale a opção correta. A Por ser contrato, a aceitação do mandato não poderá ser tácita. B O mandato outorgado por instrumento público pode ser objeto de substabelecimento por instrumento particular. C Apesar de a lei exigir forma escrita para a celebração de contrato, tal exigência não alcança o mandato, cuja outorga pode ser verbal. D O poder de transigir estabelecido no mandato importará o de firmar compromisso. CURSO DE DIREITO CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier Curso de Direito DIREITO CIVIL III COLETÂNEA DO PROFESSOR 2010 (Proibida a Reprodução) CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier SEMANA 1 Contratos. Conceito, natureza jurídica e função social. Perspectiva civil- constitucional do contrato. Pressupostos de validade do contrato. Forma e prova. Interpr etação. CASO CONCRETO 1 Cláudio contratou Mauro, seu amigo, para projetar a construção da sua nova casa por R$ 10.000,00 (dez mil reais), tendo as partes ajustado que o preço seria pago após a aprovação das plantas pelo engenheiro responsável pela execução. Não obstante o afeto que permeia a relação entre as partes, Mauro procura você para questionar se é necessário celebrar o contrato por escrito ou se é indiferente, diante do ordenamento jurídico, constituí-lo verbalmente. Responda ao seu cliente à luz do direito positivo. GABARITO – CASO 1 O contrato em questão não possui forma prevista em lei para sua validade, podendo as partes convencionar a forma livremente a fim de conferi-lo validade. Contudo, é preciso destacar os preceitos dos art. 227 e 401, do Código Civil: nos negócios jurídicos cujo valor ultrapassar o décuplo do salário mínimo não será admitida a prova exclusivamente testemunhal. Trata-se do resquício da época dos negócios ad probationem. Assim, é relevante frisar ao cliente que o contrato será válido se celebrado verbalmente, porém poderá encontrar graves entraves tiver de produzir provas na hipótese de eventual violação do seu direito decrédito. CASO CONCRETO 2 A Empresa Rubish Ltda. exerce a atividade de comprar dejetos de outras empresas. Como necessita de local para despejá-los, celebra contrato com João dos Santos, dono de vasta área rural, para depositar resíduos tóxicos em seu terreno em troca de pagamento de vultosa quantia. Assim, estavam as partes satisfeitas, sendo cumpridos regularmente os objetos contratuais conforme avençados. Cientes do fato, os moradores da região revoltaram-se diante dos efeitos e exigiram a desconstituição do contrato. João e a empresa resistiram a pressão sob a alegação de que o contrato nasce para ser cumprido, faz lei entre as partes e está harmonizando interesses convergentes. Diante do quadro, solucione o conflito segundo a vigente estrutura das normas que regem as relações contratuais. GABARITO – CASO 2 Têm razão os moradores da região porque o contrato não pode ser nocivo a uma das partes, tampouco à sociedade. Pelo contrário, deve ser instrumento de enriquecimento e desenvolvimento CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier econômico sustentável. Eis a conclusão registrada em Jornada de Direito Civil: “A função social do contrato, prevista no art. 421 do novo Código Civil, não elimina o princípio da autônima contratual, mas atenua ou reduz o alcance desse princípio, quando presentes interesses metaindividuais ou interesse individual relativo à dignidade da pessoa humana” (Jornada 23). QUESTÕES OBJETIVAS 1ª Questão: Teotônio está enfrentando graves problemas financeiros e pretende se casar em breve. Com efeito, por não dispor de outra fonte de renda, pensa em celebrar contrato com Carlos, que está interessado na compra de um imóvel que pertence a seu pai. Como filho único, sabe Teotônio que, em não muito tempo, terá a propriedade e poderá transferi-la ao comprador. Assim, marque a alternativa correta que responda se poderá ser considerado válido algum contrato translativo de propriedade, de acordo com as circunstâncias expostas: a) Depende, pois, em se tratando de disposição de imóvel é necessário que seja o contrato celebrado mediante instrumento público. b) Não, porque, como não existe herança de pessoa viva, o objeto é juridicamente impossível, sendo Teotônio sucessor eventual do bem. c) Sim, haja vista ser Teotônio único filho do atual proprietário, o que o faz herdeiro necessário. d) É preciso investigar se estão presentes todos pressupostos de validade do contrato, visto que a narração não confere elementos para conclusão. Resposta: Letra b Justificativa: Não há certeza alguma se o apartamento estará no patrimônio do pai de Teotônio ao tempo da sua morte, tampouco se ele estará ou não excluído da sucessão. Eis o porquê do artigo 426, Código Civil, que torna juridicamente inviável o objeto. 2ª Questão: Abelardo obrigou-se, como fiador, em contrato de locação de imóvel para fins residenciais. Ficou estabelecido, em cláusula expressa, que responderia pelos futuros reajustamentos. Após o termo final pactuado nocontrato, locador e locatário, prorrogam-no, fixando aumento do aluguel. Tempos depois, o valor é novamente ajustado, em ação revisional, na qual as partes chegaram a novo acordo, também sem a participação do fiador. Estando o locatário em mora, o locador ajuíza ação de cobrança em face do fiador. Não há dúvida de que a cláusula por meio da qual o fiador se obrigou pelos futuros reajustes no valor da locação deixa espaço para interpretação dúbia. Isto posto, marque a alternativa correta: a) Terá o fiador de responder pelo valor de qualquer reajuste, tanto aqueles estabelecidos entre as partes contratantes quanto os reajustes previstos em lei. b) Terá o fiador de responder apenas pelos valores referentes a reajustes estabelecidos entre as partes, em homenagem à vontade como pressuposto de validade. CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier c) Terá o fiador de responder apenas pelos reajustes previstos em lei, na medida em que não concordou com os demais. d) Não terá o fiador de responder pelo valor de qualquer reajuste, haja vista as claras delimitações estabelecidas no contrato garantido por fiança. Resposta: Letra c Justificativa: De fato, a cláusula, da forma redigida, deixa espaço para conflitos futuros, devendo ser interpretada levando-se em conta as regras de hermenêutica contratual. Considerando a natureza jurídica do contrato de fiança, que é a de negócio jurídico gratuito, verdadeira liberalidade, deve ser aplicada a regra do art. 114 do C.C., pela qual os negócios jurídicos benéficos interpretam-se estritamente, o que nos leva à conclusão de que Abelardo teria se obrigado apenas pelos reajustes previstos em lei. Merece menção o Enunciado Nº. 134 TJ/RJ - “Nos contratos de locação responde o fiador pelas obrigações futuras após a prorrogação do contrato por prazo indeterminado se assim o anuiu expressamente e não se exonerou naforma da lei” (Referência: Uniformização de Jurisprudência nº. 2006.018.00006. Julgamento em 29/01//2007. Relator: Desembargador Paulo César Salomão. Votação por maioria). SEMANA 2 Princípios fundamentais do regime contratual. CASO CONCRETO 1 Roberto deparou-se com a seguinte matéria publicada num jornal de circulação nacional:”SEGURADOS QUEREM MANTER BENEFÍCIOS PREVISTOS EM CONTRATO. O Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) e o Ministério Público de Juiz de Fora (MG) ajuizaram ações contra a Companhia de Seguros Aliança do Brasil e a Federação Nacional de Associações Atléticas do Banco do Brasil. A ação pede que se garanta aos segurados opção de continuar gozando os mesmos benefícios previstos no contrato atual. Os cerca de 400 mil segurados reclama que houve rompimento unilateral do contato, pois foi retirada a cobertura para invalidez permanente total por doença, e foi incluída cobertura para doença terminal. Além disso, haverá aumento no valor do prêmio, que passaria a ser de acordo com a faixa etária do segurado, acrescido de IGPM/FGV”. A notícia revela a violação de princípio contratual por parte da Companhia de Seguros Aliança do Brasil e a Federação Nacional de Associações Atléticas do Banco do Brasil ? Justifique. GABARITO – CASO 1 Destacam-se, ao menos, três princípios violados: princípio da obrigatoriedade contratual, princípio da imutabilidade contratual e princípio da boa-fé. O contrato é obrigatório (pacta sun servanda), faz lei entre as partes e deve ser cumprido pelas mesmas razões da lei. Além do mais, dizer que o contrato é obrigatório quer dizer que ele deve ser cumprido exatamente da forma ajustada, o que significa que nenhuma das partes pode modificar as cláusulas e condições contratuais unilateralmente. Por fim, a mudança unilateral das regras preestabelecidas caracteriza a má-fé da seguradora. CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier CASO CONCRETO 2 Emanuel, sócio-gerente de uma mercearia próxima à faculdade de Direito por mais de 10 anos, resolve vender o seu negócio para Firmina, moradora recente na cidade. O verdadeiro motivo do negócio, ignorado por Firmina, foi a informação, através de um amigo próximo de Emanuel que trabalhava na Prefeitura, que no mês seguinte começaria a obra para a construção de um hipermercado na outra esquina do seu estabelecimento. Dois meses após a celebração do negócio, Firmina procura você, advogado (a) militante, a fim de saber se a conduta de Emanuel, ao omitir a informação quanto a abertura do novo hipermercado pode ensejar alguma espécie de ressarcimento a ela.Afinal,a atitude dele afronta algum princípio? Justifique sua resposta. GABARITO – CASO 2 Houve ofensa ao princípio da boa fé objetiva, art.422, CC, na sua função integrativa, oriunda dos deveres anexos de proteção, informação e cooperação. Trata-se de responsabilidade na fase pré- contratual (enunciados 170; 24 e 25 CJF). QUESTÕES OBJETIVAS 1ª Questão: Lucas, proprietário de um imóvel na cidade de Fortaleza, celebra um contrato de locação com Janice, tendo esta última lhe informado sobre sua intenção de abrir um novo negócio rentável na cidade. Passados seis meses, Janice inaugura o seu novo empreendimento, que consiste na utilização do terreno para a atividade de enlatar sardinhas. Para diminuir os custos de seu empreendimento, Janice despeja os dejetos sem o devido tratamento. Os moradores ingressam com uma ação coletiva, visando a coibir a atividade de Janice, quanto ao enlatamento de sardinhas, em razão das diversas conseqüências ao bem-estar e à integridade física dos moradores, alegando ainda o descumprimento das regras de proteção ao meio ambiente. Em defesa, Janice ressalta os princípios da relatividade dos contratos e o da autonomia da vontade, sob o argumento de que o seu contrato está perfeito e só gera efeitos entre as partes contratantes, não havendo interesse dos moradores em ingressarem na sua esfera jurídica. Diante desse quadro, pode-se afirmar que A. Janice está correta, na medida em que o ordenamento jurídico lhe garante a liberdade de contratar e a liberdade contratual. B. Feriu-se o princípio da boa-fé objetiva, haja vista que o comportamento entre as partes fugiu à ética contratual. C. Não assiste razão a Janice, pois o princípio da autonomia da vontade foi mitigado pela função social do contrato e pelo princípio da supremacia da ordem pública. D. A coletividade não pode se intrometer na relação contratual por causa do consensualismo contratual e da intangibilidade e imutabilidade dos contratos. Resposta: letra c Justificativa: Além da autonomia da vontade, o princípio da obrigatoriedade dos contratos foi também relativizado pela função social do contrato e pelo princípio da supremacia da ordem pública, a fim de que o interesse da coletividade venha a interferir na esfera privada das partes CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier contratantes. Típico caso da constitucionalização do Direito Civil em homenagem à dignidade da pessoa humana. 2ª Questão: (TJBA/2004) O ordenamento civil obrigacional brasileiro não contém norma específica reguladora diante do denominado adimplemento ruim. O art. 422 do Código Civil, contudo, ao disciplinar normas gerais sobre contratos, assim dispôs: “Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução,e princípios de probidade e boa-fé”. Considerando as informações do texto acima, julgue os itens seguir em verdadeiro ou falso: ( ) O Código Civil brasileiro adotou o princípio da boa-fé como fundamento dos deveres secundários no contrato. Logo, as ditas violações positivas do contrato prescindem do elemento culpa. ( ) O princípio da boa-fé, que norteia o Código Civil brasileiro, determina aumento de deveres, além daqueles pactuados entre as partes; contudo, trata-se de norma dispositiva, sujeita a auto- regulamentação pelos contratantes. ( ) A violação dos deveres secundários derivados do princípio-norma da boa-fé orienta-se pelo critério da culpa, porquanto objetiva a responsabilidade nela fundada. Resposta: v, f, f. SEMANA 3 Formação do contrato. Fases. Contrato preliminar. Tempo e lugar do contrato.Conclusão dos contratos. Momento. Lugar. CASO CONCRETO 1 A empresa GESTÃO IMOBILIÁRIA anunciou em jornal de grande circulação um andar em um edifício comercial para locação, tendo tal oferta interessado a EMPREENDIMENTOS – SOCIEDADE DE CONSTRUÇÕES LTDA., que procurou a GESTÃO IMOBILIÁRIA para ver o imóvel. Após a primeira visita, a EMPREENDIMENTOS manifestou interesse na locação, mas informou que precisariam ser feitos certos reparos no imóvel. Após os primeiros encontros e as declarações da EMPREENDIMENTOS de que celebraria o contrato se o imóvel estivesse no estado adequado, a GESTÃO IMOBILIÁRIA tratou de fazer os reparos no imóvel, promovendo uma reforma que durou cerca de um mês. Durante a reforma, a EMPREENDIMENTOS visitava o imóvel regularmente. Concluídos os reparos, a GESTÃO IMOBILIÁRIA chamou a EMPREENDIMENTOS para que, enfim, fosse celebrado o contrato. Todavia, para a surpresa da GESTÃO IMOBILIÁRIA, a EMPREENDIMENTOS informou que não fecharia o acordo porque a sala tinha 200 m2 e teria verificado que as necessidades da EMPREENDIMENTOS limitavam-se a 120 m2, razão pela qual iria procurar um imóvel menor e mais barato. 1) Pode-se afirmar que já existia algum contrato entre as empresas? Justifique. 2) A desistência da empresa EMPREENDIMENTOS tem amparo legal ? Justifique. CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier 3) Houve violação ao princípio da boa-fé ? Em caso positivo, em que fase do contrato ? GABARITO – CASO 1 1)Não havia um contrato realizado entre as partes. Encontravam-se na fase das tratativas, também chamada de negociações preliminares, momento em que os sujeitos estão se conhecendo e definindo a possibilidade ou não de realização do negócio. 2)Em regra geral, a fase das tratativas não vincula as partes, podendo qualquer delas desistir, a qualquer tempo, da realização do contrato, salvo no caso de má-fé. 3) Houve ofensa ao princípio da boa fé objetiva, na fase pré-contratual, art.422CC. A boa-fé objetiva é um comando normativo que impõe aos contratantes guardarem a mais estreita obediência aos princípios de probidade e de lisura nas suas ações, enquanto durar o ajuste e na fase pré-contratual. CASO CONCRETO 2 Charles recebe de Matheus a encomenda de 300 vasos de cerâmica e, no dia seguinte, faz a remessa das primeiras mercadorias. No fim do mesmo dia, Charles sabe por um comerciante amigo seu sobre o aumento do preço dos produtos a entregar e arrepende-se do negócio. Informa seu arrependimento a Matheus e alega que o ajuste não se aperfeiçoara, por carecer de aceitação, já que não houve por parte dele aceitação expressa. A alegação de Charles procede ? Justifique. GABARITO – CASO 2 Quando o comerciante deu início a execução do contrato, remetendo as primeiras mercadorias, comportou-se de forma que fez crer inequivocadamente a aceitação tácita do contrato. Logo, não procede sua alegação. QUESTÕES OBJETIVAS 1ª Questão: Em matéria de contratos, configura-se o momento da conclusão da formação quando: a) no tempo em que o proponente souber os termos da aceitação. b) quando inequivocamente o aceitante declarar sua adesão à oferta. c) à época em que o oblato enviar a aceitação ao proponente, ainda que a ele não chegue. d) entre presentes,no mesmo instante da proposta; entre ausentes, não há tempo certo estabelecido pela norma jurídica. Resposta: letra c (art. 434, CC). 2ª Questão: João, após certo tempo de dividir a mesma turma de estudos com Lourdes, desenvolveu por ela especial afeto, não obstante ser casada. Passou então a lhe presentear com flores, chocolates, jóias e outros mimos, sendo certo que, em todas as vezes, Lourdes recebia os presentes, os guardava, porém nada dizia. Por fim, ele tomou coragem para se declarar e convidá- la para um jantar a dois. Diante da resposta negativa dela, ele mostrou-se contrariado, CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavierprincipalmente porque ela aceitou todos os seus presentes. Constrangida, Lourdes afirmou que jamais aceitou qualquer presente. Afinal, nunca declarou aceitação a qualquer proposta. Diante do quadro, considerando que os presentes configuram doações, marque a alternativa correta: a) Lourdes está correta, haja vista que não foi recebida por João qualquer manifestação positiva quanto ao contrato. b) O comportamento de João não denotava nenhuma proposta, mesmo porque não se percebe as características da oferta no caso. c) Não se pode dizer que houve aceitação porque o Código Civil adotou a teoria da expedição, sendo certo que nenhuma vontade foi dirigida ao proponente. d) Foi sim concluído o contrato de doação, na medida em que o Código Civil admite a hipótese de aceitação quando não houver recusa num prazo moral ou expressamente estipulado. Resposta: letra d (art. 432 e 540, CC). SEMANA 4 Classificação dos contratos. CASO CONCRETO 1 Manoel resolveu viajar para o exterior por poucas semanas. Preocupado com a hipótese de sofrer algum acidente ou causar danos a alguém, seleciona uma empresa para celebrar contrato de seguro. Assim, pagaria um certo prêmio e, em contrapartida, teria cobertura caso sofresse algum sinistro. Considerando a modalidade do contrato relatada, responda: 1) É oneroso ou gratuito ? 2) É bilateral ou unilateral ? 3) É de natureza aleatória ? Justifique. 4) É solene ? Justifique. GABARITO – CASO 1 1) É oneroso porque gera vantagem para ambas as partes. 2) É bilateral, pois tem reciprocidade de prestação e contraprestação. 3) Embora o segurado assuma obrigação certa, que é a de pagar o prêmio estipulado, a avença é sempre aleatória para o segurador, porque a sua prestação depende de fato eventual. 4) Afirmam alguns que ele só se aperfeiçoa depois de emitida a apólice, sendo assim um contrato solene. Tem-se entendido, no entanto, que a forma escrita é exigida apenas ad CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier probationem, não sendo, porém, essencial, visto que a parte final do art. 758 também considera perfeito o contrato, desde que o segurado tenha efetuado o pagamento do prêmio. CASO CONCRETO 2 Antônio e Carla celebram contrato de doação de uma casa residencial localizada em Santarém/PA avaliada em R$ 200.000,00 (duzentos mil reais). A título de encargo, a donatária comprometeu-se a organizar, por 5 (cinco) anos consecutivos, evento beneficente de natal da Fundação Antônio Almeida, fundada pelo genitor do doador. Analisando o contrato acima e tomando por parâmetro o direito contratual brasileiro, responda, JUSTIFICADA E FUNDAMENTADAMENTE: 1) É oneroso ou gratuito ? 2) É bilateral ou unilateral ? 3) É de natureza aleatória ? 4) É solene ? GABARITO – CASO 2 1) É oneroso porque o encargo confere vantagem econômica para o doador. Afinal, a donatária perceberia pagamento para realização da atividade que consiste no encargo. 2) Unilateral, na medida em que a natureza jurídica do encargo não é obrigação, mas sim elemento acidental do negócio jurídico. Portanto, se não for cumprido, não poderá ser convertido em perdas e danos, mas sim atingirá a eficácia do contrato (perda dos seus efeitos). 3) Não tem natureza aleatória porque as partes sabem o que devem esperar e obter quando o contato foi celebrado. 4) É solene, haja vista ser negócio translativo de propriedade de bem imóvel. QUESTÕES OBJETIVAS 1ª Questão: Nos contratos abaixo relacionados, assinale o que é unilateral, real, informal e nominado: a) doação b) mútuo c) depósito d) compra e venda Resposta: letra b CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier 2ª Questão: João celebrou contrato de transporte de coisas para fins de levar seus móveis para uma nova residência. Conforme as cláusulas avençadas, o preço foi pago no exato momento da contratação do frete, enquanto que a empresa somente executaria a prestação de fazer na semana seguinte, em dia e hora combinados. Isto posto, marque a alternativa que corretamente classifica o contrato no que tange ao cumprimento da obrigação pactuada: a) Simultânea, porque as obrigações surgiram tão logo foi o contrato concluído. b) Diferida, na medida em que será encerrado o contrato em tempo futuro à celebração. c) Continuada,haja vista o adimplemento se estender ao longo do prazo contratual. d) Como dá origem a obrigações distintas, uma tem execução simultânea e a outra diferida. Resposta: letra d SEMANA 5 Dos efeitos dos contratos. Força obrigatória dos contratos. Relatividade dos efeitos dos contratos. Eficácia com relação a terceiros. Contratos por terceiro. Estipulação em favor de terceiros. Promessa de fato de terceiro.Contrato com pessoa a declarar. CASO CONCRETO 1 Milena encaminhou proposta a Francisca cujo objeto era a alienação de 30 cavalos marcha larga pelo preço de R$ 200.000,00 (duzentos mil reais). Na referida proposta, Milena se obrigou a aguardar resposta no prazo de 30 dias. Ocorre que no 15º dia Milena sofreu um acidente de trânsito e veio a falecer. Houve a aceitação da proposta após a morte da proponente, porém antes do vencimento do prazo de 30 dias. Isto posto, indaga-se se os herdeiros de Milena estão obrigados a cumprir os termos da proposta ? Justifique a sua resposta. GABARITO – CASO 1 Não há no Código Civil comando expresso que solucione a hipótese. Contudo, a solução da questão está consolidada nas manifestações pretorianas e doutrinárias, que resultaram da interpretação sistemática da legislação pertinente e dos princípios contratuais. Ora, imbuída a proposta de força vinculante, os herdeiros do proponente são obrigados a manter a proposta, nos mesmos casos em que ele o é, salvo se a prestação a que vise não puder ser realizada por outra pessoa. Afinal, de acordo com o direito de saisine, os herdeiros assumem todos os vínculos jurídicos do falecido que não são desatados pela sua morte, incluídos os créditos e débitos. Insta salientar a tese de que a resposta deveria estar de acordo com a natureza do contrato a ser celebrado. Realmente, se visasse a proposta a um contrato personalíssimo, a morte do proponente acarretaria a caducidade da proposta. Se a obrigação não fosse dessa natureza, estariam obrigados os herdeiros nos limites das forças da herança. CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier CASO CONCRETO 2 Manoel resolveu viajar para o exterior por poucas semanas. Preocupado com a hipótese de sofrer algum acidente ou causar danos a alguém, seleciona uma empresa para celebrar contrato de seguro, segundo o qual seus filhos receberiam indenização de R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais) se morresse por causa alheia à sua vontade. Destarte, pergunta-se: 1) Qual instituto se percebe no contrato celebrado entre Manoel e a seguradora ? Quais são as partes envolvidas ? 2) Identifique credor e dever. 3) Considerando serem os filhos de Manoel absolutamente incapazes, poderiam eles figurar no contrato em tela ? Justifique GABARITO – CASO 2 1) Manoel, ao celebrar o contrato de seguro, fez uma estipulação em favor de terceiros, que se caracteriza pelo fato de uma pessoa (estipulante) convencionar com outra, o promitente, uma determinada obrigação, em que a prestação será cumprida emfavor de outra pessoa (beneficiária). Logo, Manoel é o estipulante, a seguradora é a promitente e os filhos do estipulante são os beneficiários. 2) Inicialmente, o credor é Manoel; havendo a ocorrência do sinistro previsto, os seus filhos passam a ser beneficiados, pelo que podem reclamar a execução do contrato desde que aceitem os seus termos. A seguradora é a devedora em qualquer hipótese. 3) A estipulação em favor de terceiros, quanto ao elemento subjetivo, apresenta a exigência do agente capaz apenas para as figuras do estipulante e do promitente. Todavia, não há a necessidade da capacidade do terceiro, pelo fato de o mesmo não interferir na celebração do contrato, bem como não existir qualquer ônus ao beneficiário, sendo este destinatário de pura liberalidade. QUESTÕES OBJETIVAS 1ª Questão (TJ-SC-27/04/2003 – Direito Civil – Questão n.º 17): Com relação aos CONTRATOS COM PESSOA A DECLARAR (arts. 467 a 471, CC/2002), assinale a alternativa correta: a) A aceitação do nomeado poderá ser feita verbalmente, mesmo que o contrato tenha sido realizado por escrito. b) Os direitos e obrigações da pessoa indicada, uma vez aceita a nomeação, não retroagem à data da celebração do contrato. c) Inexistente indicação de pessoa, no prazo previsto no Código Civil (5 dias) ou em outro estipulado pelas partes, o contrato se extingue. d) Se a pessoa a nomear era incapaz no momento da nomeação, o contrato não produz efeitos em relação aos contratantes originários. e) Todas as alternativas são incorretas. CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier Resposta: letra e 2ª Questão: Jenifer quer contratar o mais badalado fotógrafo do momento para registrar seu um casamento. Seu marido, Roberto, por ser primo da esposa do fotógrafo, Antonia, questionou-a se seria possível contratá-lo. Solidária ao desejo de Jenifer, Antonia compromete-se a ajudá-los, já que seu marido faz tudo que ela quer. Contudo, seria cobrado um preço simbólico pelo serviço a ser pago em duas parcelas de R$ 5.000,00. No dia do evento, o fotógrafo não comparece e, quando procurado, diz que sequer sabia do fato. Antonia, por sua vez, lamentou o ocorrido e pediu desculpas, bem como declarou não poder devolver o dinheiro já recebido porque o fato criar-lhe-ia grandes problemas conjugais, já que seu marido lhe proibira de se manifestar por ele, bem como já o gastou completamente. Diante disso, poderia Jenifer responsabilizar o fotógrafo ou sua esposa pelos danos morais e materiais sofridos ? a) Depende do regime de bens vigente na relação conjugal entre Antonia e o fotógrafo. b) Somente Antonia poderia ser responsabilizada porque descumpriu sua obrigação de fazer. c) Ambos podem ser responsabilizados porque não se admite o enriquecimento sem causa. d) Ninguém será responsabilizado porque a lei não permite demandar contra pessoas casadas. Resposta: letra a Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier CURSO DE DIREITO SEMANA 6 Elementos Naturais do Contrato. Vícios Redibitórios. Exclusão da garantia em hasta públi ca. Evicção. Evicção nas aquisições judiciais. Boa-fé do evicto. CASO CONCRETO 1 Pedro celebra um contrato de compra e venda de um apartamento, em Cabo Frio, com Renata, alienante, em 27 de outubro de 2005. Um ano após a compra, Pedro recebe em sua casa uma citação do oficial de justiça para responder a uma ação petitória, no qual o autor, André, se diz o legítimo proprietário daquele imóvel. Desesperado com a possibilidade de perder a sua moradia, Pedro telefona para Renata informando-lhe do ocorrido e exigindo explicações. Esta, por sua vez, diz que não tem qualquer responsabilidade, pois não sabia que o imóvel pertencia a André e que havia adquirido o imóvel em hasta pública. Com base nos fatos acima responda justificando e fundamentando nos dispositivos legais pertinentes. A) Renata possui algum dever jurídico perante Pedro caso ele perca o imóvel em razão da ação petitória? Qual? B) De que forma Pedro poderá exercer o direito oriundo da evicção em face de Renata? CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier C) A garantia da evicção subsiste quando o bem é adquirido em hasta pública? Em face de quem deveria ser proposta essa ação? GABARITO – CASO 1 A) Sim. Renata responde pela evicção na forma do art. 447 e ss. Do CC B) Pedro exercitará esse direito através da denunciação a lide- art. 456 CC c.c. art. 70,I CPC. C) Sim, segundo o art. 447, in fine CC. Predomina o entendimento de que a obrigação de indenizar caberá AP credor exeqüente, que recebeu o pagamento do arrematante evicto, estendendo-se ao devedor executado se este tiver recebido saldo remanescente. Há entendimento minoritário de imputar a responsabilidade ao Estado, já que a alienação decorreu de força judicial. CASO CONCRETO 2 Técio adquiriu um boi reprodutor de Fábio, grande amigo seu. Três meses após a compra, o animal manifestou uma doença incurável, que já se achava encubada ao tempo da alienação, motivo pelo qual o boi veio a falecer. 1 – Técio pode propor ação redibitória ou quanti minoris pelo falecimento do animal? Justifique. 2 – O desconhecimento de Fábio a respeito da doença do boi possui que reflexos no direito de Técio? Justifique. GABARITO – CASO 2 1 - Técio poderá propor ação redibitória, pois, embora ele não possa mais devolver o animal, tem direito a recuperar o valor pago pela coisa e ainda perdas e danos, caso venha a comprovar a má- fé do alienante. No entanto, não poderá propor ação quanti minoris por não ter, neste caso, como pedir abatimento proporcional do preço. 2 – O desconhecimento do alienante a respeito do vício ou defeito da coisa não exclui sua responsabilidade. A diferença quanto aos direitos de Técio é que, se Fábio não sabia, deverá ressarcir o adquirente do valor pago pelo bem, mais despesas do contrato, e, se sabia, terá que pagar ainda perdas e danos. QUESTÕES OBJETIVAS 1ª Questão: Suelen, locatária de uma casa que pertence a Lucia há dez meses, descobre que a proprietária quer vendê-la e se interessa em comprá-la. Passados quatro meses da aquisição do imóvel, descobre que toda a estrutura da casa está comprometida porque foi construída com material inadequado e sem fundações sólidas. Assim, marque a alternativa correta: CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier a) Nada caberá à Suelen porque está no imóvel há mais de 1 ano, pelo que decaiu seu direito. b) Não haveria vício redibitório no caso porque não houve dano causado à adquirente. c) Suelen tem direito de rejeitar o contrato porque o prazo é de 6 meses a contar da compra. d) O direito de Suelen dependerá dos termos previstos na cláusula do contrato celebrado com Lucia. Resposta: letra c (art. 445, CC) 2ª Questão: Sandro celebra contrato de doação mediante encargo com Augusto, pelo qual lhe transfere a propriedade de um imóvel pelo preço certo de R$ 100.000,00 (cem mil reais). No instrumento, há cláusula expressa em que Sandro, o vendedor, fica isento de responsabilidade por eventuais riscos de evicção a Augusto. Alguns meses após a conclusão do contrato, Augusto é citado em ação de usucapião em que um terceiro, João, alega e comprova ter adquirido a propriedade da coisa pelo exercício da posse. Conforme os relatos, indique a alternativa INCORRETA:a) A responsabilidade do alienante subsistirá se a usucapião tiver ocorrido antes da venda. b) A cláusula não isenta totalmente o vendedor, tendo ele de restituir o valor pago pela coisa. c) A ausência de denunciação da lide não prejudicará eventual propositura de ação própria para discutir a responsabilidade civil do alienante. d) Sandro terá de indenizar os prejuízos de Augusto ainda que este sempre tenha estado ciente de a coisa ser alheia ou litigiosa. Resposta: letra d (art. 457, CC) SEMANA 7 Contratos preliminares e definitivos. Promessa de compra e venda (momento da transmissão do domínio; características). Arras. Distinções. CASO CONCRETO 1 Carlos e Claudia celebraram, mediante instrumento particular, contrato de promessa de compra e venda de imóvel, obrigando-se o promitente vendedor e o promitente comprador à celebração do contrato definitivo no prazo de 90 dias, após o pagamento da última parcela de preço, que as partes ajustaram em R$ 300.000,00 (trezentos mil reais) a ser pago em três parcelas iguais, mensais e sucessivas. O contrato não continha cláusula expressa de irretratabilidade e irrevogabilidade. Tendo Claudia pago todas as parcelas do preço, nos prazos do contrato, Carlos se recusou a outorgar a escritura definitiva, alegando que o contrato preliminar era nulo, porque celebrado por instrumento particular e, não por escriturapública. Argumentou ainda que havia previsto o direito de se arrepender. Isto posto, questiona-se se as alegações de Carlos procedem ? Justifique. GABARITO – CASO 1 CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier Os argumentos não procedem, pois mesmo o contrato não possuindo expressamente cláusula de irretratabilidade e irrevogabilidade, ele se presume irretratável e irrevogável em razão do Princípio da Obrigatoriedade Contratual (Pacta Sunt Servanda), aplicável a todos os contratos. Por outro lado, na conformidade do que dispõe o art. 1417 do C.C., a promessa pode ser feita por instrumento público ou particular. CASO CONCRETO 2 Adriana interessou-se em comprar o apartamento de Renan, cujo preço era R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais). A fim de se garantir que o imóvel não seria vendido para outra pessoa, a compradora deu R$ 50.000,00 (cinqüenta mil reais) a título de arras. Após receber o sinal, outra pessoa quis o imóvel de Renan, oferecendo por ele R$ 580.000,00 (quinhentos e oitenta mil reais), o que foi recusado diante da compromisso firmado com Adriana. Um mês após, Renan foi surpreendido pro Adriana, que lhe declarou não mais ter interesse em prosseguir na relação contratual. Afirmou não se importar em perder as arras, porém lhe disse nada mais lhe dever. Está correta a conduta de Adriana ? Justifique com base na legislação vigente. GABARITO – CASO 2 Adriana somente estaria correta se as arras tivessem cláusula expressa admitindo arrependimento. Caso contrário, além de perder as arras, Adriana teria de pagar mais R$ 30.000,00 (trinta mil reais) a título de indenização suplementar, pois as arras seriam confirmatórias. QUESTÕES OBJETIVAS 1ª Questão: FRANCISCO FARIAS celebrou contrato de promessa de compra e venda de imóvel residencial de sua propriedade, localizado em Belém-Pará, com ANTÔNIA ALMEIDA em 20 de maio de 2005. Neste contrato, o promitente-vendedor comprometia- se a transferir a propriedade do imóvel em questão em março de 2008, quando a promitente-compradora terminaria de pagar o valor ajustado em R$ 360.000,00. A promessa não prevê cláusula de irrevogabilidade e a irretratabilidade. No prazo previsto contratualmente, ANTÔNIA efetuou o pagamento da última parcela, tendo FRANCISCO FARIAS se recusado a outorgar a escritura definitiva no prazo pactuado. Diante disso, marque a alternativa correta sobre as providências para a obtenção do título de escritura definitiva: a) Nada poderá ser feito porque a vontade tem de ser livre, pelo que não se pode impor a alguém a perda da sua propriedade. b) Por se tratar de descumprimento culposo de uma obrigação, cabe ao credor resolver o contrato em perdas e danos. c) Terá direito a adjudicar compulsoriamente o imóvel, servindo a sentença como título aquisitivo no lugar do contrato definitivo. d) Teria direito à adjudicação compulsória somente se houvesse cláusula de irretratabilidade no contrato. CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier Resposta: letra c (Súmula 239, STJ) 2ª Questão: Bernardo celebrou com Valter contrato que teve como objeto a venda de uma casa, em Fortaleza, do primeiro para o segundo. Foi estabelecido direito de arrependimento. No ato da negociação, Bernardo pagou a Valter a importância de R$ 20.000,00 (vinte mil reais), a título de arras penitenciais. O restante do pagamento do bem seria feito em 10 parcelas sucessivas de R$25.000,00 (vinte e cinco mil reais), cada uma. Na semana anterior à quitação da primeira parcela, Bernardo aplica o dinheiro na Bolsa de Valores e acaba perdendo não só o dinheiro da primeira parcela como o capital para o pagamento das demais, inviabilizando o cumprimento do pactuado. a) Bernardo terá direito de não prosseguir com o negócio jurídico porque não deu causa à perda financeira que sofreu. b) Valter poderá reclamar indenização suplementar se provar que seus danos foram maiores que o valor das arras. c) Bernardo poderá responder por perdas e danos, a serem fixadas por juiz, se ficarem comprovados os elementos da responsabilidade civil. d) Por se tratar de arras penitenciais, não poderá Bernardo, ao desistir, receber o dinheiro de volta, tampouco será devida indenização suplementar. Resposta: letra d (art. 420, CC) SEMANA 8 Extinção dos contratos. Resolução dos contratos. Cláusula resolutiva. Exceção de contrato não- cumprido. Onerosidade excessiva. Resilição (distrato e denúncia). Rescisão. Cessação. CASO CONCRETO 1 Felipe, morador de Niterói, resolveu alugar uma casa em Cabo Frio, para passar suas férias de final de ano. Em julho do referido ano, Felipe encontra um imóvel excelente por um preço acessível, mas que apresentava um entupimento na caixa de esgoto que exalava um cheiro desagradável.A proprietária, Andréia, firma contrato de locação com Felipe, comprometendo-se a entregar-lhe a casa em dezembro de 2005, após o conserto do problema constatado. No dia marcado para a entrega da casa, Felipe viaja com sua família para Cabo Frio e, ao chegar ao imóvel, percebe que o conserto não havia sido feito. Por esta razão, Felipe informa a Andréia que não vai mais alugar o imóvel, retornando para Niterói. Revoltada pelo descumprimento do pactuado, uma vez que deixara de ganhar dinheiro com o aluguel do imóvel no verão, Andréia propõe uma ação indenizatória em face de Felipe em razão do inadimplemento contratual. Com base nos fatos expostos responda de forma fundamentada e justificada. A) Citado para a presente ação, que defesa poderia ser apresentada por Felipe para elidir a pretensão autoral? B) A resposta seria a mesma se no contrato houvesse a cláusula “solve et repete”? CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier GABARITO – CASO 1 A) Exceção do contrato não cumprido, na forma do art. 476, CC. B) Não. Porque a referida cláusula afasta a possibilidade de aplicação do art.476CC. Em sendo assim, deveria Felipe entrar com uma ação pedindo resolução contratual ou obrigação de fazer, em ambas as hipóteses cumulada com perdas e danos. CASO CONCRETO 2 Certexcelebrou com a empresa Maktub Ltda. contrato escrito de prestação de serviços, com prazo de quatro anos, para manutenção dos elevadores do primeiro. Passado o segundo ano, a empresa prestou serviço falho, vindo a causar danos a Certex. Ingressou esta com ação de rescisão contratual, pleiteando, cumulativamente, a devolução da remuneração até então paga pela empresa, bem como perdas e danos. Indaga-se: 1) Ocorreu na hipótese descumprimento contratual ? Em caso positivo de que natureza ? Justifique. 2) O pedido formulado pela empresa Certex tem amparo na legislação vigente ? Justifique. 3) Poderiam as empresas que firmaram o contrato estipular sua extinção por acordo ? Justifique. GABARITO – CASO 2 1) Emerge claramente o descumprimento contratual culposo por parte da empresa, o que enseja a resolução do contrato, na forma do artigo 475 do Código Civil. 2) Possui amparo legal o pedido de rescisão cumulado com o da indenização por perdas e danos, desde que provada a ocorrência. Quanto à devolução da remuneração já paga, o pleito não prospera, visto que o contrato de locação ou prestação de serviços de manutenção de equipamento, é de trato sucessivo ou de duração, modalidade em que a prestação é desempenhada de forma periódica e futura.Seus efeitos, portanto, ao contrário dos contratos instantâneos, se operam "ex nunc", razão pela qual não será devolvida a remuneração paga pelos serviços periódicos já prestados. 3) Poderiam as empresas, por acordo, estabelecer a extinção do contrato, vez que não há óbice legal para que firmem um distrato. QUESTÕES OBJETIVAS 1ª Questão: “A” comprou de “B” uma casa, por escritura pública, pelo preço de R$ 200.000,00 (duzentos mil reais), pagando R$ 20.000,00 de sinal. “A” obrigou-se a pagar o restante do preço mediante financiamento da Caixa Econômica Estadual, a ser obtido no prazo de 3 meses. Acontece que, após ter sido pago o sinal, referida Caixa fechou sua Carteira de Financiamento, pelo período de um ano, o que impossibilitou o comprador “A” de completar o pagamento do preço. Esse fato, em si CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier (A) acarreta a extinção do contrato por resolução. (B) acarreta a extinção do contrato por resilição. (C) acarreta a extinção do contrato por rescisão. (D) não acarreta a extinção do contrato. Resposta: letra A 2ª Questão: “A” obrigou-se a construir para “B” um edifício, com 12 andares, que foi terminado, segundo peremptória afirmação de “A”. Por sua vez, “B” alega que houve cumprimento insatisfatório e inadequado da obrigação por parte de “A”, que não observou, rigorosamente, a qualidade dos materiais especificados no memorial. Assim, “B” suspende os últimos pagamentos devidos a “A”, (A) aguardando que este cumpra, corretamente, a obrigação. (B) ajuizando ação com fundamento na exceptio non adimpleti contractus. (C) ajuizando ação com fundamento na cláusula rebus sic stantibus. (D) ajuizando ação com fundamento na exceptio non rite adimpleti contractus. Resposta: letra d (art. 420, CC) Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier CURSO DE DIREITO SEMANA 9 Contratos nominados ou típicos. Novidades do Código Civil vigente. Apresentação: concei tos, características e noções gerais. Contrato estimatório. Contrato de comissão. Agência e distribuição. Corretagem. CONTEÚDOS: 1 – As transformações do Código Civil vigente são decorrentes do anacronismo de algumas espécies de contrato, hoje arcaicas e superadas, estando substituídas por outras absorvidas da vida em sociedade. 2 – Como efeito da união do Direito Civil e do Direito de Empresa, alguns contratos, outrora abordados no âmbito do Direito Comercial, foram inseridos no Direito Civil, como a comissão, corretagem, transporte, bem como agência edistribuição. 3 – Contrato estimatório é também denominado venda em consignação. Consiste numa parte (consignante) que entrega bens móveis a outra (consignatária), ficando esta autorizada a vendê- los pelo preço estimado pelo consignante. Se tiver êxito na venda, pagara um preço ajustado ao consignante (valor certo ou porcentagem); se não tiver sucesso, deverá cumprir a obrigação de restituir no tempo avençado. 3.1 – Trata-se de um contrato real (somente se aperfeiçoa após a entrega da coisa ao consignatário), unilateral (o consignante assume obrigação de não dispor antes da restituição – obrigação de não-fazer), oneroso (ambas as partes perseguem vantagem econômica), comutativo (não envolve riscos para as partes). CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier 3.2 – A responsabilidade por qualquer perda ou deterioração da coisa consignada fica a cargo do consignatário, o qual não se isenta da obrigação de pagar pelo preço da coisa ainda que o evento danoso ocorra por fato totalmente alheio às suas vontade e forças. 3.3 – O consignatário tem a posse da coisa, porém a propriedade é do consignante até que seja vendida. Portanto, não se admite qualquer constrição patrimonial sobre o bem em razão de dívida do consignatário, mas apenas se o devedor for o consignante. 4 – Segundo o contrato de comissão, uma das partes (comissário) obriga-se a realizar negócios em favor da outra parte (comitente). Contudo, apesar de seguir instruções do comitente, o comissário age em seu próprio nome. Eis a relevância da comissão: uma pessoa contrato com terceiros em seu próprio nome, porém na defesa de interesse alheio. 4.1 – O objeto do contrato de comissão é a compra e venda de bens, mantendo em sigilo o real interessado, o comitente. 4.2 – Trata-se de contrato bilateral (comissário assume obrigação de fazer, enquanto que o comitente tem obrigação de remunerá-lo), consensual (aperfeiçoa-se pelo acordo de vontades), oneroso (ambas as partes obtêm vantagem econômica), comutativo (não envolve riscos), informal e personalíssimo. 4.3 – A remuneração, normalmente, é avençada em percentagem sobre o valor do negócio celebrado pelo comissário. Se as partes não acordarem o preço expressamente, será arbitrada pelo costume local. 4.4 – Se o comissário morrer ou não puder, por outro motivo, executar integralmente a obrigação que assumiu, terá ele ou seus herdeiros direito à remuneração proporcional. 4.5 – Sem prejuízo da remuneração, terá o comitente de indenizar os eventuais danos sofridos pelo comissário ao executar a obrigação pactuada, bem como ressarcir o comissário por perdas e danos decorrentes de demissão imotivada. 4.6 – Até ser reembolsado das suas despesas, perceber a indenização por danos sofridos no cumprimento da sua obrigação e a remuneração pelo serviço, poderá o comissário exercer retenção sobre a coisa adquirida em favor do comitente. 4.7 – Em contrapartida, se o comissário desobedecer as instruções do comitente, terá de responder pelos prejuízos causados. 4.8 – Cláusula “del credere” deve ser prevista expressamente no contrato porque imputa responsabilidade ao comissário se celebrar negócio com pessoa insolvente (exceção à regra). 4.9 – Trata-se de contrato bilateral, consensual, oneroso, comutativo, informal e personalíssimo. 5 – Contrato de agência consiste na obrigação remunerada de uma das partes de promover, não eventualmente e com autonomia, as atividades desenvolvidas habitualmente pela outra parte. Distribuição é o negócio jurídico em que a coisa a ser negociada permanece à disposição do agente. 5.1 – Trata-se de contrato bilateral, consensual, oneroso, comutativo, informal e personalíssimo. CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello,Renato Monteiro e Patrícia Xavier 5.2 – Extrai-se do conceito as características do contrato: obrigação habitual e remunerada do agente em promover e fomentar os negócios do agenciado; delimitação da execução do serviço a ser prestado; exclusividade e independência na prestação da obrigação. 5.3 – Agência e distribuição são o mesmo contrato. Contudo, num caso concreto, pode ocorrer que o agente não tenha em seu poder coisa do representado a ser negociada. Assim, ficaria excluída a distribuição do contrato deagência. 5.4 – Admite o contrato resilição unilateral se realizado por prazo indeterminado, desde que a outra parte seja notificada num prazo de 90 dias e transcorrido tempo razoável para resgatar os investimento realizados para execução do negócio. Na hipótese de divergência, caberá ao poder judiciário arbitrar o prazo moral. 5.4.1 – Mesmo extinto o contrato, terá o agente direito à remuneração pelos serviços prestados, desde que aproveitem financeiramente o proponente, bem como este terá direito a perdas e danos se a extinção contratual causar-lhe prejuízos por culpa do agente. 5.5 – A responsabilidade do agente é de meio e tem direito à remuneração por todos os negócios do proponente na zona de atuação fixada entre as partes, ainda que não tenha interferido. Logo, salvo estipulação em contrário, não deve o proponente constituir mais de um agente para a mesma atividade na mesma localidade, bem como não deve exercer ele próprio (proponente). 5.6 – Em contrapartida, não deve o agente tratar de negócios da mesma natureza de uma pluralidade de propronentes. 6 – Contrato de corretagem é consiste em uma pessoa, não vinculada numa relação de dependência, obriga-se a intermediar negócios para outra, denominada comitente, mediante remuneração. Por se tratar de obrigação de resultado, a comissão somente será devida se a conclusão do negócio tiver decorrido exclusivamente da atividade do corretor. 6.1 – Apesar de assumir obrigação de resultado e dos entendimentos pretorianos anteriores ao Código Civil vigente, pode o corretor exigir remuneração se o negócio pretendido não for concretizado exclusivamente por arrependimento das partes. 6.2 – Também terá direito à remuneração do corretor que não interveio no negócio celebrado se o contrato de corretagem contiver cláusula expressa que determine a exclusividade. Nesta hipótese, o corretor somente perderia suacomissão se ficasse comprovada sua inércia. 6.3 – Os corretores podem ser livres ou oficiais: livres são pessoas que exercem habitualmente a atividade de corretagem sem nomeação oficial; os oficiais têm a profissão legalmente disciplinada, sendo investidos em cargo público, gozando de fé pública. Assim, estes últimos atuam na corretagem de valores públicos, mercadorias, navios, seguros, operação de câmbio etc. (Lei 6.530/78). 6.4 – A remuneração deve ser distribuída igualmente se vários corretores tiverem agido em conjunto para a celebração de um negócio, salvo ajuste expresso em contrário. 6.5 – A atividade de corretagem é regulamentada pela Lei 6.530/78, a qual estabelece que o corretor deve ter inscrição no Conselho Regional de Corretores de Imóveis (CRECI). Contudo, ainda que o corretor não esteja habilitado, deverá receber comissão mesmo assim, sob pena de enriquecimento ilícito. Eis o porquê ser devida a comissão também quando o negócio é concluído mediante a intervenção do corretor após o vencimento do prazo do contrato decorretagem. CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier 6.6 – A corretagem é contrato bilateral, oneroso, consensual, acessório, aleatório e informal. OBJETIVOS ESPECÍFICOS: O aluno deverá ser capaz de: Compreender os motivos de inserção dos novos contratos no diploma em vigor; Identificar as características dos contratos estimatório, comissão, corretagem, agência e distribui ção. Solucionar casos corriqueiros que envolvam cada uma dessas modalidades contratuais. ESTRATÉGIA: Os casos e questões de múltipla escolha deverão ser abordados ao longo da aula, de acordo com a pertinência temática; A resolução dos casos faz parte da aula; A abordagem dos casos permeia a exposição teórica. BIBLIOGRAFIA / JURISPRUDÊNCIA: GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2008, Volume III, Título II, Capítulos III, XI, XII e XIII. PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006. v.3 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil. 4. ed. rev. e atualizada. São Paulo: Saraiva, 2008. Tomo 2, V. IV, Capítulos III, XII, XIII e XIV. CASO CONCRETO 1 Carmênia combinou com Violeta deixar 30 (trinta) esculturas na loja desta para que a primeira as vendesse por preço convencionado, sob o compromisso de devolver as que não fossem vendidas no prazo estipulado, ou seja, 90 (noventa) dias. 1) O contrato estabelecido é um contrato típico? Justifique. 2) Se a restituição da coisa, em sua integridade, tornar-se impossível, ainda que por fato não imputado a Violeta, terá essa alguma responsabilidade ? 3) As coisas consignadas podem ser objeto de penhora se pender sobre Carmênia processo de execução? CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier GABARITO – CASO 1 1) É um contrato típico, por ser nominado e previsto em lei. Denomina- se de contrato estimatório ou venda por consignação. 2) Conforme o art. 535, CC, Violeta tem responsabilidade integral sobre os objetos. A norma jurídica impõe-lhe a obrigação de indenizar ainda que não seja estabelecido nexo causal entre a sua conduta e o resultado danoso. 3) Sim, pois ela é a verdadeira proprietária dos bens enquanto não pago integralmente o preço, conforme expressa o artigo 536 do Código Civil. Violeta é apenas possuidora por ser consignatária. CASO CONCRETO 2 Sidineia, interessada em vender seu imóvel, contratou oralmente os serviços de Marcio para que conseguisse um comprador interessado em pagar R$ 200.000,00 para adquiri-lo. Após algumas semanas, Maria, graças ao labor de Marcio, pagou R$ 20.000,00 (vinte mil reais) a título de arras pelo apartamento de Sidineia, ficando de apresentar as certidões necessárias para a lavratura da escritura definitiva num prazo de um mês. Tendo se passado mais de seis meses sem que o negócio seja concretizado por problemas de ordem financeira enfrentados por Maria, Sidineia entende em não manter o preço de venda porque todos os imóveis da região sofreram aumento de, ao menos, 15%. Logo, se vendido seu apartamento pelo preço avençado meio ano antes, sofreria grande prejuízo. Por outro lado, como Maria não poderia pagar o novo valor, R$ 250.000,00 (duzentos e cinqüenta mil reais), não prossegue o negócio. Isto posto, pergunta-se: 1) O contrato estabelecido é um contrato típico? Justifique. 2) Deve Sidineia pagar remuneração a Marcio pelo trabalho que executou ? Justifique. 3) Se Sidineia conseguisse vender seu imóvel por R$ 250.000,00 sem a intervenção de Marcio, teria de remunerá-lo ? Justifique. GABARITO – CASO 2 1) É um contrato típico, por ser nominado e previsto em lei. Denomina- se de contrato corretagem. 2) Na forma do art. 725, CC, Sidineia não deve comissão a Marcio porque a sua obrigação é de resultado e o negócio pretendido não foi concluído. Contudo, em razão do repúdio ao locupletamento ilícito, se Sidineia retiver o valor das arras, deverá remunerar proporcionalmente o trabalho de Marcio. 3) Não terá de remunerá-lo porque ele não interveio para a realizaçãodo negócio, conforme art. 726, CC. Merece ser ressaltado a impossibilidade de previsão do contrário porque, sendo oral o contrato, não poderia haver cláusula expressa prevendo a exclusividade do corretor. CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier QUESTÕES OBJETIVAS 1ª Questão: Joana foi contratada para negociar a venda de várias telas de artistas plásticos famosos, todas pertencentes a Antonio. Segundo instruções do proprietário, poderia aceitar propostas de compra mediante pagamento em duas parcelas: a primeira no ato do contrato e a segunda num prazo de 30 dias. Maicou, colecionador de arte, acerta com Joana a compra de duas telas. No ato, emite um cheque referente a 50% do preço do negócio e outro parta pagamento em 30 dias. Contudo, não havia previsão de fundos em nenhum dos títulos e os quadros foram entregues. Movida a competente ação, as telas são devolvidas danificadas e se descobre que Maicon não tem patrimônio suficiente para arcar com a indenização devida. Diante disso, considerando que Joana sempre esteve autorizada para celebrar o contrato, marque a alternativa correta: (A) Joana é a única responsável perante Antonio, na medida em que o comissário é justamente contratado para evitar hipóteses como essa. (B) O comissário jamais responde pela insolvência das pessoas com quem contrata, principalmente se demonstra-se zeloso na execução da obrigação. (C) A comissária não responde pela insolvência de Maicon, salvo se pudesse conhecer o estado patrimonial dele ou se assumiu expressamente tal responsabilidade. (D) Impõe-se a Antonio o prejuízo sofrido porque o contrato de comissão é aleatório, pelo que implica em assumir os riscos de ocorrer situação como essa. Resposta: letra C (art. 697 e 698, CC) 2ª Questão: Arlete Costa, cantora em ascensão, celebrou contrato de agenciamento com TT Ltda. A empresa, após muitos esforços, consegue inseri-la no elenco de artistas que se apresentariam num festival internacional a ocorrer em Portugal seis meses adiante, ficando os ajustes relativos à data, cachê, modo de pagamento, dentre outros, pendentes para quando o evento estivesse mais próximo. Influenciada por outras pessoas do meio artístico e por críticos, que a consideram o novo grande nome da música, resolve Ivete romper o contrato por considerar que o seu agente não está mais à altura do seu atual estrelato. Isto posto, marque a alternativa INCORRETA: (A) Poderia Arlete extinguir o contrato sem qualquer justificativa, desde que não haja prazo determinado e notifique o agente com 90 dias de antecedência. (B) De qualquer modo, ainda que se trate de resilição, será devida remuneração ao agente pelos lucros obtidos pela proponente em decorrência do trabalho iniciado por ele. (C) O direito de resilição fica atrelado ao tempo razoável em que o agente possa resgatar os investimentos feitos em favor do proponente, sob pena de perdas e danos. CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier (D) Em hipótese alguma, poderia Arlete extinguir o contrato sem justa causa, pelo que deve pagar indenização em razão das perdas e danos sofridas pelo agente. Resposta: letra d (art. 720) SEMANA 10 Compra e venda: Conceito e características. Natureza jurídica. Elementos. Modalidades especiais de venda. CONTEÚDOS: 1 – Compra e venda é o contrato bilateral em que uma das partes assume a obrigação de transferir o domínio de um bem patrimonial, ainda que incorpóreo, a outrem mediante a contraprestação em dinheiro. Assim, não se confunde com troca (envolve dinheiro pela coisa) nem com a doação. 2 – O contrato não confere direito real ao comprador, mas sim o direito de exigir a sua constituição. Se o bem for móvel, a propriedade somente será constituída após a tradição; se imóvel, mediante o registro. 3 – A compra e venda consiste em contrato essencialmente bilateral, oneroso e consensual. A formalidade, comutatividade e paridade dependerão de cada caso. 4 – São elementos da compra e venda: coisa, preço e consentimento. 5 – A venda de ascendente para descendente é anulável se não houver o consentimento dos demais descendentes do vendedor e do cônjuge. 5.1 – Como a lei não declara o prazo para se requerer a anulação, é atraída a vigência do art. 179, CC. Logo, o tempo para ser pleiteada a decretação de invalidade do ato é de 2 anos. 5.2 – Considerando que o fundamento da norma é garantir a igualdade entre os descendentes ao tempo da abertura da sucessão, bem como a vigilância em não se diminuir o patrimônio do ascendente para beneficiar apenas um, não são todos os descendentes que devem consentir para que o contrato seja válido, mas sim apenas aqueles que seriam convocados à sucessão se aberta à época da celebração do negócio. 5.3 – Relevante destacar algumas regras sucessórias de modo superficial: a sucessão do descendente em grau mais próximo retira o mais remoto; direito de representação na hipótese de pré-morte; definir o que é herdeiro necessário e a legítima. 5.4 – O cônjuge casado pelo regime da separação obrigatória não concorre na herança com os descendentes. Por isso, a lei dispensa a sua manifestação quando celebrado o contrato de venda de ascendente para descendente. 5.5 – É controvertido o suprimento judicial se um dos descendentes não concordar com a venda, mesmo que sem fundamentos ou sem razão justa, na medida em que a lei não prevê a hipótese. Contudo, prevalece o entendimento de ser possível requerer ao juiz suprir a vontade não expressada tal qual ocorre no direito de família (art. 1631, parágrafo único e 1648, ambos do CC). CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier 6 – Não é possível a venda de coisa entre cônjuges se o objeto estiver em comunhão, ou seja, somente é válido o contrato acerca de bens particulares. Afinal, não se pode vender a alguém o que já lhe pertence. 6.1 – Importante destacar a comunicabilidade patrimonial de acordo com os regimes de bem (ao menos a comunhão universal, comunhão parcial e separação absoluta). 7 – Ninguém é obrigado a permanecer condômino contra a própria vontade. Assim, a lei confere o direito de, a qualquer tempo, ser extinto o condomínio. 7.1 – Relevante apontar os diferentes tipos de condomínio e concluir que a lei, neste aspecto, refere-se à situação em que duas ou mais pessoas duas ou mais pessoas são proprietárias da mesma coisa. 7.2 – Sendo a coisa indivisível, cada condômino tem a propriedade de uma fração ideal. Assim, se tiver a intenção de vendê-la, terá de antes oferecer aos demais. 7.3 – Se mais de um condômino tiver interesse na aquisição da fração ideal, o critério de desempate é o quanto cada um gastou em benfeitorias. Se não puder ser aplicado, a preferência será de quem tiver a maior fração ideal. Finalmente, se as demais falharem, terão a fração ideal os condôminos que a quiserem a pagarem o preço previamente. 7.4 – Ocorrendo a alienação sem ser conferido o direito de preferência, terá o condômino prejudicado a faculdade de reivindicar a fração ideal, desde que, mediante depósito do preço, exerça seu direito no prazo decadencial de 180 dias. 8 – Considera-se a venda ad mensuram quando o seu preço é fixado exclusivamente em razão da unidade de dimensão ou pela extensão do imóvel. É ad corpus quando o tamanho do imóvel é enunciativo, não sendo o elemento determinante do valor do contrato. 8.1 – Sendo ad mensuram a venda e a dimensão real for menor do que a área anunciada, o adquirente tem o direito de exigir a complementação (ação ex empto). Se impossível complementar, poderá demandara devolução do preço (ação redibitória) ou o abatimento proporcional (ação estimatória). 8.2 – Ainda que ad mensuram a venda, se a diferença a ser complementada não for superior a 1/20 da área anunciada, não terá qualquer direito o adquirente, sendo considerada a venda equiparada a ad corpus. 8.2.1 – Excepciona-se a regra se, mesmo pequena a diferença, conseguir o adquirente comprovar que não teria celebrado o contrato caso soubesse da diferença, ainda que não superior a 1/20 da área enunciada. 8.3 – Na hipótese de aquisição de imóvel de área maior do que a anunciada, o vendedor nada poderá reclamar, salvo se provar que não tinha meios de saber da diferença. Neste caso, terá o adquirente a obrigação alternativa de pagar o equivalente à diferença ou devolver o lote que recebeu a maior. OBJETIVOS ESPECÍFICOS: CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier O aluno deverá ser capaz de: Conceituar o contrato de compra e venda. Diferenciar o contrato de compra e venda da doação e troca. Compreender os meandros e as dificuldades que envolvem a venda entre cônjuges, ascendentes e descendentes, condôminos e terceiros, e a venda ad mensuram. Estabelecer as características da venda ad corpus e da ad mensuram. Elencar os elementos do contrato de compra e venda. Traçar a classificação do contrato de compra e venda. ESTRATÉGIA: Os casos e questões de múltipla escolha deverão ser abordados ao longo da aula, de acordo com a pertinência temática; A resolução dos casos faz parte da aula; A abordagem dos casos permeia a exposição teórica. BIBLIOGRAFIA / JURISPRUDÊNCIA: GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2008, Volume III, Título II, Capítulo I. PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006. v.3 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil. 4. ed. rev. e atualizada. São Paulo: Saraiva, 2008. V. IV, Tomo 2, capítulo I. CASO CONCRETO 1 Antônio comprou área de 20.000 metros quadrados para nela instalar uma empresa. Celebrado o contrato e registrado o título respectivo, Antônio constatou, com perícia, ao cabo de seis meses após esse registro, que a área adquirida só possuía 19.500 metros quadrados. Destarte, pretende desfazer o negócio a fim de reaver o dinheiro pago pelo imóvel. 1 ) A pretensão de Antônio procede? Justifique a resposta, aplicando artigos do Código Civil. 2) Na hipótese de a área real ser de 20.000 metros quadrados e Antônio ter pago o preço de apenas 19.500 metros quadrados, poderia o vendedor reclamar a diferença ? Justifique a resposta, aplicando artigos do Código Civil. GABARITO – CASO 1 1) Inicialmente, somente seria procedente a pretensão de complementação da área, na medida em que o Código Civil somente permite a desconstituição do negócio ou abatimento proporcional se impossível o sucesso da ação ex empto – art. 500, CC. Em outros termos, o desfazimento do contrato é juridicamente viável desde que não se possa tornar a área real igual à anunciada. CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier Ademais, a diferença entre a área real e a anunciada é inferior a 1/20 desta, o que atrai a vigência do parágrafo primeiro do art. 500, CC. Portanto, a princípio, fica a venda equiparada a ad corpus, nenhum direito cabendo ao adquirente. Todavia, o mesmo dispositivo permite ao adquirente produzir prova de que jamais teria realizado o contrato se soubesse que a dimensão real é inferior à enunciada. 2) Na hipótese contrária, em regra, não haveria direito ao vendedor de reclamar composição do prejuízo, salvo de tiver êxito na comprovação de ignorância da verdadeira dimensão do imóvel. Ainda assim, não poderá exigir devolução do preço, pois o parágrafo segundo do art. 500, CC estabelece obrigação alternativa e confere ao devedor (adquirente) o direito de escolher se efetuará a devolução parcial da área, restabelecendo a comutatividade, ou se restituirá o valor correspondente ao excesso. CASO CONCRETO 2 Otávio tem três filhos e cinco netos, todos maiores e capazes. Decide vender um dos seus imóveis para o filho mais velho, haja vista necessitar urgentemente de dinheiro para custear despesas médicas. Por orientação de um advogado, solicitou a todos os descendentes que assinassem a escritura em manifestação de anuência. O filho mais novo, por ciúmes do irmão, nega-se a expressar concordância e ameaça promover ação anulatória se prosseguirem na celebração do contrato. Isto posto, responda: 1) Há alguma medida a ser promovida pelos contratantes para se resguardarem da atitude de um dos descendentes ? Justifique a resposta, aplicando artigos do Código Civil. 2) Todos os descendentes devem consentir quanto à celebração deste contrato ? Justifique a resposta, aplicando artigos do Código Civil. 3) Qual o prazo para dedução da pretensão anulatória do contrato ? GABARITO – CASO 2 1) A questão é controvertida. Predomina o entendimento de se aplicar analogia às figuras previstas nos artigos art. 1631, parágrafo único e 1648, ambos do Código Civil – suprimento judicial. Neste caso, salta aos olhos a ausência de motivo justo pelo descendente em não concordar com a venda, cabendo ao juiz impedir que o fato torpe impeça a celebração de um ato lícito. Contudo, há entendimento minoritário contrário porque não há previsão de suprimento judicial para a hipótese, o que seria necessário. 2) Somente os filhos teriam de manifestar consentimento, apesar de os netos também serem descendentes. A razão está na interpretação teleológica do art. 496, do Código Civil, a qual confere a anuência àqueles que seriam herdeiros do vendedor ao tempo da celebração do contato. 3) 2 anos, segundo o art. 179, do Código Civil. QUESTÕES OBJETIVAS CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier 1ª Questão: Carlos, Marcos e Miguel são proprietários de um mesmo apartamento, sendo certo que o primeiro tem fração ideal de 50%, o segundo e o terceiro 25% cada um. Miguel tem interesse em vender sua fração ideal pelo preço de R$ 250.000,00 e a oferece aos demais condôminos. Ambos ficam interessados e querem preferência na aquisição. Diante disso, marque a alternativa correta quanto á solução do caso: (A) Carlos tem preferência porque é proprietário da maior fração ideal. (B) A preferência é de Marcos porque foi quem mais gastou com benfeitorias no imóvel. (C) Ambos têm igual direito, cabendo-lhes depositar o preço previamente. (D) Ninguém tem direito de preferência, podendo Miguel vender a quem quiser. Resposta: letra B (art. 504, CC) 2ª Questão: Considerando as características do contrato de compra e venda, marque a alternativa correta: (A) Unilateral, oneroso e consensual. (B) Bilateral, oneroso e consensual. (C) Bilateral, oneroso e real. (D) Bilateral, gratuito e consensual. Resposta: letra B SEMANA 1I Cláusulas especiais à compra e venda. Contrato de permuta ou troca. Empreitada. CONTEÚDOS: 1 – As cláusulas especiais implicam na atração de situações excepcionais nas relações jurídicas as quais não ocorreriam sem a existência de acordo expresso. Portanto, a compra e venda que as envolver configurará contrato formal. 2 – A retrovenda consiste na avença entre as partes pela qual o vendedor reserva-se o direito de comprar a coisa alienada no prazo estabelecido entre as partes mediante devolução do preço recebido acrescido das despesas efetuadaspelo comprador e benfeitorias feitas por este, sendo certo que a autorização para realizá-las somente é dispensada se forem necessárias. 2.1 – Tem a retrovenda a natureza de condição resolutiva, implicando no desfazimento da venda , retornando as partes à situação anterior. Portanto, não há fato gerado de novo imposto de transmissão de propriedade. 2.2 – O prazo decadencial máximo para o exercício da retrovenda (direito de retrato ou resgate) é de 3 anos. Qualquer excesso reputa-se não escrito. CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier 2.3 – A reivindicação da coisa fica atrelada ao depósito de respectivo preço. Enquanto não houver pagamento integral, não fica o comprador obrigado a restituir o bem ao vendedor. 2.4 – Registrado o título pelo comprador, torna-se ele proprietário, podendo alienar o bem. Contudo, não fica prejudicado o vendedor se quiser exercer seu direito de resgate, na medida em que a cláusula de retrato é gravada. Logo, trata-se de cláusula com eficácia real, oponível a terceiros eventuais adquirentes do imóvel enquanto não vencido o prazo. 3 –Preempção (preferência ou prelação) é pacto segundo o qual o comprador de um bem móvel ou imóvel obriga-se a oferecê-lo ao vendedor se, futuramente, pretender vendê-lo ou dá-lo em pagamento, tanto por tanto. 3.1 – Diferenças da retrovenda: presta-se tanto para bens móveis quanto imóveis; o preço é estabelecido livremente; a cláusula de preempção somente gera efeitos entre as partes, não sendo oponível a terceiros, tampouco seus direitos são sucedidos pelos herdeiros. 3.2 – O prazo para exercício da preferência é estabelecido entre as partes, não podendo ser superior a 180 dias, se a coisa for móvel, e 2 anos, se imóvel. Na hipótese de as partes não fixarem o prazo, dispõe a norma jurídica ser de 3ou 60 dias, dependendo se a coisa for móvel ou imóvel, respectivamente. 3.3 – Os prazos começam a correr da data em que o houver o efetivo recebimento da notificação, que, salvo disposição contratual em contrário, pode ser extrajudicial. 3.4 – O desrespeito ao direito de preferência, não se dando ciência ao vendedor sobre preço e vantagens, implica em perdas e danos. Responde também o adquirente se tiver agido de má-fé. 3.5 – Denomina-se retrocessão a preempção legal conferida ao desapropriado quando a coisa não receber o destino que justificou a desapropriação ou qualquer outra finalidade de interesse público. 4 – Venda a contento do comprador consiste no contrato em que o comprador somente se obriga a pagar preço pela coisa após declarar seu agrado. Se estipulada a cláusula especial e tendo sido previamente entregue a coisa ao adquirente, é este considerado comodatário até manifestar seu contentamento. 4.1 – O aperfeiçoamento do contrato após a expressa manifestação do comprador pela aceitação da oferta. 5 – Venda sujeita à prova é ato jurídico que apenas se perfaz após a comprovação das qualidades da coisa asseguradas pelo vendedor. Caso confirmadas pelo comprador, não poderá este recusá-la, assumindo, a partir de então, as obrigações decorrentes da compra. Até então, recebe o mesmo tratamento do comodatário. 6 – Venda com reserva de domínio consiste em modalidade especial de contrato que versa sobre bem móvel em que a entrega do bem ao comprador somente transfere a posse. A propriedade permanece com o vendedor até o pagamento integral do débito, o que significa execução continuada oi diferida da obrigação de pagar. 6.1 – A inadimplência da obrigação do comprador faz nascer ao vendedor a alternativa de exigir o pagamento ou recuperar a coisa. Se entender pela primeira opção, fica consolidada a propriedade CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier da coisa no patrimônio do comprador, pelo que poderá ser penhorada em execução promovida pelo vendedor. 6.2 – Optando o vendedor por reclamar o bem, terá de restituir ao comprador o valor já pago, antes deduzindo a quantia referente à depreciação da coisa, as despesas sofridas e qualquer outro prejuízo. 6.3 – A fim de conferir à cláusula oponibilidade em face de terceiros, deverá o contrato ser registrado no cartório de títulos e documentos do domicílio do comprador. 7 – Venda sobre documentos tem maior incidência no comércio marítimo e sua finalidade é conferir agilidade na venda de mercadorias móveis. Logo, a obrigação do vendedor é cumprida mediante a entrega de documento que signifique a própria coisa. 7.1 – A entrega de documentação regular faz presumir o estado e a qualidade da coisa vendida. 8 – Contrato de troca é aquele em que as partes obrigam-se a entregar a propriedade de uma coisa mediante o recebimento de outra. 8.1 – Trata-se de contrato bilateral, oneroso, consensual e, normalmente, paritários. 8.2 – Se contrato envolver em troca e complementação em dinheiro configura compra e venda se o valor em dinheiro significar mais da metade do preço do negócio. Caso contrário, será considerado contrato de troca. 8.3 – As mesmas regras que se aplicam aos contratos de compra e venda incidem nos contratos de troca, ressalva a divisão das despesas referentes ao contrato e a necessidade de consentimento dos descendentes se houver desigualdade do valor dos bens trocados entre ascendentes e descendentes. 8.3.1 – É pacífico o entendimento de isenção de concordância dos descendentes se o bem pertencente ao ascendente for o menos valioso. 9 – Empreitada é o contrato em que uma das partes assume a obrigação de realizar determinada obra, pessoalmente ou por terceiros, conforme as orientações da outra parte, que tem a obrigação de lhe remunerar. 9.1 – Por ser uma relação contratual civil, não há subordinação entre o empreiteiro e o dono da obra. 9.2 – O objeto do contrato é o resultado final da obra, pelo que não faz jus o empreiteiro à maior remuneração se a execução tomar mais tempo que o esperado, tampouco receberia menos se a conclusão ocorrer em menos tempo. 9.3 – A abordagem do tema requer cuidado especial porque a incidência desta modalidade de contrato no campo social se dá na seara do mercado de consumo. Logo, deve-se ter cautela na aplicação do ordenamento jurídico porque é atraída a vigência do CDC. Em suma, o Código Civil tem lugar quando não está configurada a relação consumerista ou como diploma subsidiário. 9.4 – São características do contrato de empreitada: bilateralidade, onerosidade (empreitada presume-se onerosa), consensualidade, informalidade, comutatividade e execução continuada. CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier 9.5 – São suas espécies: empreitada de obra ou lavor e empreitada mista. Na primeira modalidade, que consiste na regra, o empreiteiro somente contribui com o seu trabalho, sendo responsabilidade do dono da obra o fornecimento do material; já na segunda, o empreiteiro também tem a obrigação de fornecer os materiais. 9.5.1 – É importante estabelecer a espécie de empreitada porque, dentre outros efeitos, determina que deve assumir os riscos do contrato. Adotado o princípio geral res perit domino, quando a empreitada é de obra ou lavor, quem sofre a perda é o dono da obra, se não houver culpa do empreiteiro (nesta hipótese, ele fica responsável). Ademais, o empreiteiro também não responde pelos danos se houver mora do dono da obra ou se os prejuízos forem causados pela qualidade ou quantidade do material, tendo sido o dono da obra alertado do fato à tempo. Contudo, se a empreitada for mista, todos os riscos correm por conta do empreiteiro, salvo se o dono da obra estiver em mora. 9.6 – A Lei 4.591/64 ainda prevê o contratode construção sob administração, segundo o qual a obra é realizada de acordo com a concessão de recursos, materiais e ordens do dono da obra, restringindo-se o empreiteiro a execução da obrigação de fazer. Diferencia-se da empreitada propriamente dita, em que o construtor/empreiteiro assume todos os encargos e custos da obra/construção. 9.7 – A remuneração ao empreiteiro pode ser convencionada por etapas ou globalmente. De qualquer forma, tem o dono da obra o direito de verificar o resultado ao tempo do seu recebimento. Tendo pago o preço quando recebida a obra, presume-se a verificação. Nada poderá reclamar após 30 dias do recebimento sem que tenha havido denúncia quanto à qualidade e exata execução da obrigação do empreiteiro. 9.8 – Incide nos contratos de empreitada a teoria dos vícios redibitórios, segundo a qual o dono da obra tem o prazo de 1 ano para reclamar de defeitos ocultos que somente possam ser percebidos mediante a utilização da coisa. 9.9 – O prazo de 5 anos somente se refere à solidez e segurança, que consiste em conferir garantia ao dono da obra. O direito de exercer a respectiva ação decai em 180 dias a contar da data do surgimento do vício ou defeito. OBJETIVOS ESPECÍFICOS: O aluno deverá ser capaz de: Compreender as características e efeitos das cláusulas especiais. Diferenciar as cláusulas especiais entre si e institutos semelhantes. Conceituar o contrato de troca e estabelecer suas semelhanças e diferenças do contrato de compra e venda. Conceituar o contrato de empreitada. Elencar as características e efeitos do contrato de empreitada de acordo com suas espécies. Diferenciar a responsabilidade do dono da obra e do empreiteiro, sendo que, neste último, aplicar os prazos de acordo com a característica do evento. ESTRATÉGIA: CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier Os casos e questões de múltipla escolha deverão ser abordados ao longo da aula, de acordo com a pertinência temática; A resolução dos casos faz parte da aula; A abordagem dos casos permeia a exposição teórica. BIBLIOGRAFIA / JURISPRUDÊNCIA: GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2008, Volume III, Título II, Capítulos I, II e VIII. PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006. v.3 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil. 4. ed. rev. e atualizada. São Paulo: Saraiva, 2008. V. IV, Tomo 2, capítulos I, II e VIII. CASO CONCRETO 1 João comprou imóvel de Antônio mediante cláusula de retrovenda, tendo as partes avençado que o direito de retrato poderia ser exercido no prazo de 4 anos após a transferência da propriedade. Ocorre que, 3 anos e 6 meses após o negócio jurídico, Antônio tenta resgatar, porém João vendera a coisa a terceiro. Antônio procura você, advogado, para se informar se pode exercer o direito que a cláusula de retrovenda lhe confere perante este terceiro. GABARITO – CASO 1 De acordo com o preceito do art. 507, CC, o direito de resgate é oponível erga omnes enquanto não é vencido o prazo resolutivo da propriedade do comprador. Assim, o terceiro teria adquirido imóvel gravado com a cláusula especial, logo se tornou titular de propriedade resolúvel. Afinal, ninguém pode transferir um direito diverso daquele que tem. Contudo, o art. 505, CC, estabelece o limite máximo de 3 anos para resolubilidade da propriedade em razão da retrovenda. Portanto, o excesso (1 ano) é considerado não-escrito, pelo que o vendedor não mais poderá exercer o direito de resgate no caso em tela. CASO CONCRETO 2 Otávio tem três filhos e cinco netos, todos maiores e capazes. Decide trocar uma casa por um apartamento do seu filho mais velho, haja vista os altos custo de manutenção de um imóvel grande. Contudo, como deixou de colher a anuência expressa de todos os seus descendentes, o filho mais promove ação anulatória por vício de forma, bem como pelo fato de os imóveis não serem igualmente valiosos. Isto posto, segundo entendimento predominante em manifestações pretorianas e doutrinárias, qual deveria ser o resultado da causa se comprovado ser o apartamento mais valioso do que a casa ? Justifique. GABARITO – CASO 2 CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier Apesar de não haver disposição explícita, predomina o entendimento de ser válido o contato de troca entra ascendente e descendente quando a coisa deste for mais valiosa do que daquele. A finalidade da anulação é evitar prejuízo aos demais descendentes ao tempo da partilha da herança. Ora, desfazendo-se o ascendente de coisa menos valiosa e, assim, aumentando o seu patrimônio, não haveria prejuízo que possa justificar a anulação. QUESTÕES OBJETIVAS 1ª Questão: O empreiteiro Célio Aguiar foi contratado para a construção de um empreendimento em Santos. O contrato foi de empreitada mista. Após cinco anos e nove meses da conclusão da obra, apareceu uma rachadura que se estendia do teto até a parte térrea da casa. Um perito esteve no local e constatou defeito na construção. Alegou o empreiteiro que sua responsabilidade pelo trabalho executado seria só por cinco anos. Diante disso, marque a alternativa correta: (A) Está correto o empreiteiro porque se trata de questão que envolve solidez e segurança, pelo que nada deve responder. (B) Enganou-se o empreiteiro, pois, em se tratando de vício de qualidade, a responsabilidade é de 30 dias tão logo possa o vício ser percebido. (C) Se constatado defeito em razão de culpa do empreiteiro, o prazo será de três anos, previsto no art. 206, §3º, V, do Código Civil, a contar da data da lesão. (D) Somente estaria correto o empreiteiro se o contrato fosse de lavor, em que a responsabilidade é imputada ao dono da obra. Resposta: letra C (Súmula 194 do STJ – previa 20 anos porque o Código Civil revogado, vigente à época da sua edição, não fixava prazo para prescrição para reparação civil, o que existe no diploma atual). 2ª Questão: Em contrato de empreitada mista, o dono de uma obra verificou que o preço dos materiais empregados na execução dos serviços sofrera significativa queda no mercado, o que acarretou redução, no valor total da obra, superior a 12% do que fora convencionado pelas partes. Diante disso, pleiteou ao empreiteiro a revisão do preço original, de modo a garantir abatimento correspondente à redução verificada. Em resposta a tal pedido, o empreiteiro argumentou que não seria possível qualquer revisão porque a queda no preço dos materiais resultara de fenômeno sazonal e, portanto, não se apresentava como motivo imprevisível capaz de justificar o requerimento. Com base no Código Civil, marque a alternativa correta: (A) Não tem direito o dono da obra ao abatimento do preço, haja vista ter assumido o risco da variação dos preços quando não elegeu a empreitada por lavor. (B) A solução do caso depende das cláusulas avençadas entre as partes, na medida em que a obrigação do empreiteiro é o resultado. (C) O abatimento do preço é possível desde que presentes os elementos autorizadores da revisão do contrato segundo a teoria da imprevisão. CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier (D) Por se tratar da empreitada mista e a variação do preço dos materiais ter sido superior a 10%, é direito do dono da obra exigir a revisão do preço pactuado. Resposta: letra D (art. 620, CC) Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, CleysonMello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier CURSO DE DIREITO SEMANA 12 Doação: Conceito e elementos característicos. Natureza jurídica. Pressupostos e requisit os. Espécies. Modalidades especiais de doação. CONTEÚDOS: 1 – Doação é o contrato em que uma das partes assume a obrigação de transferir a propriedade de Um bem a outrem por mera liberalidade. Assim, são elementos do negócio: a vontade de praticar a liberalidade, a oferta do doador de transferir um bem e a aceitação do donatário. 1.1 – A lei admite a aceitação tácita. Assim, se o sujeito nada declarar e ficar com a coisa objeto do contrato, reputa-se concluído o contrato de doação. 1.2 – Existe a figura da aceitação ficta na hipótese em que o donatário for incapaz. 2 – A doação é pura quando o donatário nada tem a fazer ou entregar ao doador para ser credor do direito de receber a coisa. Outrossim, o contrato não fica vinculado a qualquer condição ou outro elemento qualquer que possa atingir sua eficácia. 2.1 – Há doação pura quando o pagamento efetuado pelo serviço de alguém for superior ao cobrado. Logo, o preço equivalente ao ajustado é pagamento; o que lhe superar é doação pura e simples. 3 – Doação onerosa impõe ao donatário o cumprimento de um dever para ser merecedor da aquisição do bem pertencente ao doador. Logo, seu patrimônio não é aumentado a custa de nada, mas sim em razão da realização de uma incumbência. 3.1 – O encargo não consiste em obrigação do donatário, mas sim elemento acidental do negócio jurídico. Destarte, o contrato surte efeito tão logo celebrado, porém o descumprimento acarreta na perda da aptidão do contrato em gerar efeitos, na forma do art. 136, CC. Se tivesse natureza obrigacional, seu descumprimento implicaria em perdas e danos. 3.2 – O encargo pode ser imposto em benefício do doador, de terceiro ou da coletividade em geral. Havendo mora do donatário, apenas o doador pode pleitear a revogação do contrato. Contudo, o Ministério Público pode exigir o cumprimento do encargo se destinado em favor de interesse geral e o doador não o tiver feito antes de sua morte. CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier 3.3 – Aplicada a tese da estipulação em favor de terceiro, o beneficiado pelo encargo também poderá pleitear o cumprimento do encargo. 3.4 – Se previsto encargo impossível ou ilícito, reputa-se não-escrito. Se, todavia, for a causa determinante da doação, fica o contrato integralmente invalidado, segundo preceitua o art. 137, CC. 4 – Doação remuneratória é celebrada em retribuição a serviços prestados ao donatário em que não tenha havido exigência de pagamento. 5 – Denomina-se doação em contemplação de casamento futuro quando o contrato é celebrado em razão das núpcias do donatário com pessoa certa e determinada. Assim, pode ser doador um dos nubentes e donatário o outro; um terceiro pode ser doador e ambos ou apenas um dos nubentes ser o donatário, bem como se admite a doação de um bem para a futura prole do casal. 5.1 – Não se requer a manifestação de aceitação, bastando a concretização do casamento para aperfeiçoar o ato jurídico. Pela mesma razão, se não ocorrer o casamento, o negócio jurídico não se concretiza, pelo que devem os bens objetos de doação ser restituídos aos doadores. 6 – Doação ao nascituro é válida, sendo manifestada a aceitação pelo representante legal. Contudo, o negócio jurídico somente fica perfeito com o nascimento com vida. Logo, se não houver nascimento, os objetos doados devem ser restituídos aos doadores. 6.1 – O donatário, na verdade, é o nascituro. Como a lei não lhe confere aptidão para adquirir direitos, os efeitos da doação dependem do nascimento, quando então tem início a personalidade. 7 – A doação em comum a mais de uma pessoa (doação conjuntiva) ocorre quando houver pluralidade de donatários, sendo todos proprietários da coisa. Se os donatários forem sócios conjugais, haverá direito de acrescer ao sobrevivente quando um deles morrer. 8 – A doação de ascendente para descendente não implica na necessidade de concordância dos demais descendentes. Contudo, o valor da coisa doada, ao tempo da liberalidade, terá de ser corrigido monetariamente para ser considerado ao tempo da abertura da sucessão do doador. Assim, terá o descendente de abater do valor do seu quinhão sucessório o monte já recebido em doação. 8.2 – Pode o ascendente doador obstar a colação do valor do contrato para descontar do quinhão a ser sucedido pelo donatário se houver cláusula expressa no contrato de doação ou se fizer testamento com tal objetivo. 8.3 – Se o descendente donatário não for filho do ascendente doador, somente terá de colacionar o valor da doação se tiver qualidade de herdeiro à época da liberalidade. 9 – Considera-se inoficiosa a doação cujo valor exceder ao montante que poderia ser livremente disposto pelo doador em testamento à época da celebração do contrato. 9.1 – O contrato é válido se ultrapassar a metade máxima que poderia ser disposta pelo doador. A nulidade está apenas no excesso. 9.2 – Havendo multiplicidade de doações, a ordem da redução é da última à primeira. CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier 9.3 – Não são consideradas inoficiosas as doações feitas antes de o doador ter herdeiros necessários. 10 – Doação universal é aquele que envolve todos os bens do doador, ainda que não tenha herdeiros necessários, não havendo reserva de parte ou renda suficiente para a subsistência digna do doador. Consiste em modalidade de negócio jurídico nulo. 10.1 – Visa a nulidade a evitar que alguém, por sua negligência ou imprevidência, reduza-se à miséria, tornando-se um problema social. 11 – É anulável a doação do cônjuge adúltero ao seu cúmplice, havendo o prazo de 2 anos para promover a ação anulatória, a contar da dissolução da sociedade conjugal. 11.1 – Sendo a fidelidade um dos deveres conjugais, descumpri-la significa agir antijuridicamente, o que merece resposta do ordenamento jurídico. 11.2 – Por ter a lei utilizado a expressão cúmplice, a anulação somente atingiria a pessoa que aceitou a doação sabendo que manter relações com pessoa casada. Comprovada a ignorância do donatário quanto à prática do adultério, pode resistir à pretensão anulatória. 12 – Doação mediante reversão (com cláusula de retorno) é aquela em que o doador estipula retornar a coisa doada ao seu patrimônio se sobreviver ao donatário. 12.1 – Trata-se de constituição de propriedade resolúvel, em que o direito do donatário é intuitu personae. Se morrer antes do doador, o bem não será entregue aos seus herdeiros, mas sim retornará ao patrimônio do doador. 12.2 – A propriedade fica gravada com a cláusula de retorno. Logo, quem adquirir do donatário a propriedade do bem, terá de se sujeitas aos efeitos da cláusula, não sendo prejudicado o direito do doador de reivindicar a coisa na hipótese de morte do donatário. 12.3 – A morte simultânea consolida a propriedade do donatário, na medida em que o doador teria de sobrevivê-lo para ser extinto o direito real adquirido pelo contrato de doação. 12.4 – Não se pode convencionar o retorno da coisa em favor de terceiro. OBJETIVOS ESPECÍFICOS: O aluno deverá ser capaz de: Conceituar o contrato de doação. Identificar as características do contrato. Compreender as espécies e respectivos efeitos de doação ESTRATÉGIA: Os casos e questões de múltipla escolha deverão ser abordados ao longo da aula, de acordo com a pertinência temática; A resolução dos casos faz parte da aula; A abordagem dos casos permeia a exposição teórica. CURSO DE DIREITO Organização: professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier BIBLIOGRAFIA / JURISPRUDÊNCIA: GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2008, Volume III, Título II, Capítulo IV. PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006. v.3 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil. 4. ed. rev. e atualizada. São Paulo: Saraiva, 2008. V. IV, Tomo 2, capítulo IV. CASO CONCRETO 1 Tício doa à Mévia um imóvel com cláusula de reversão, segundo a qual, caso o doador sobrevivesse à donatária, a coisa retornaria ao seu patrimônio. Todavia, por ter contraído muitas dívidas, Mévia vendeu o imóvel para terceiro. Preocupado com a situação, Tício procura você, advogado, e lhe questiona se poderá reaver a coisa, que está na posse e propriedade de terceiro atualmente, se sobreviver a morte de Mévia. GABARITO – CASO 1 O direito do doador de reivindicar a coisa após a morte do donatário é oponível erga omnes, na medida em que o imóvel fica gravado com a cláusula especial com eficácia real. Outrossim, tendo o donatário propriedade resolúvel, não poderá transferir um direito diverso daquele que tem. CASO CONCRETO 2 Otávio tem três filhos e cinco netos, todos maiores e capazes. Decide doar uma casa ao seu filho mais velho, avaliado o bem objeto do contrato em R$ 300.000,00. Contudo, como deixou de colher a anuência expressa de todos os seus descendentes, o filho mais promove ação anulatória por vício de forma, bem como pelo fato de os imóveis não serem igualmente valiosos. Isto posto, responda : 1) Considerado o ordenamento jurídico em vigor, deverá ser procedente a pretensão de decretação da anulação do contrato ? Justifique. 2) Há algum meio de o doador resguardar o filho donatário de algum prejuízo futuro ? Justifique com base na norma jurídica. GABARITO – CASO 2 1) O contrato de doação não requer a concordância dos demais descendentes quando o ascendente comum é o doador. Contudo, ao tempo da abertura da sucessão, o donatário terá de trazer o bem à colação, a fim de compensar o valor ora recebido no quinhão hereditário. Assim, os demais herdeiros legítimos receberão R$ 300.000,00 a mais para compensar o adiantamento recebido pelo mais velho. CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier 2) Se houvesse no contrato cláusula expressa que declarasse ser o bem doado proveniente da parte disponível do patrimônio, ficaria o donatário isento de colacioná-lo, conforme art. 2005, CC. Desta forma, seu quinhão hereditário seria o mesmo dos demais herdeiros legítimos. O mesmo ocorreria se o doador fizesse testamento posterior à liberalidade para isentar a colação, conforme art. 2006, CC. QUESTÕES OBJETIVAS 1ª Questão: Amanda recebeu de Paulo, casado com Fernanda, em 10 de dezembro de 2004, um veículo em doação. Durante as férias em família, no verão de 2009, Paulo sofreu um acidente e morreu. Recentemente, Fernanda soube da doação e propõe ação anulatória. Assim, quanto á anulação do contrato, marque a alternativa correta: (A) Prescreveu a pretensão de anulação do contrato, haja vista ter se passado mais de 2 anos da doação. (B) Poderá ser declarado nulo o contrato porque a sociedade conjugal não foi dissolvida há mais tempo que o estabelecido em lei. (C) O contrato de doação somente seria nulo se o veículo ultrapassasse a metade do que Paulo poderia dispor em testamento. (D) É viável a pretensão porque o doador era casado e o prazo para ser requerida a anulação do ato somente começou a correr após a morte do doador. Resposta: letra D (art. 550, CC). 2ª Questão: João reivindica a propriedade de um imóvel que está em poder de Maria. Esta alega que o recebeu de Antônio em doação de mediante cumprimento de encargo. Ao tempo da contestação, denuncia o alienante à lide, a fim de lhe indenizar por eventuais danos decorrentes de evicção. O denunciado argumenta não ser cabível responsabilizá-lo por evicção, na medida em que celebrou com a denunciante contrato gratuito. Com base no Código Civil, marque a alternativa correta: (A) A denunciante não tem direito a ser indenizada pelo denunciado se sofrer evicção porque somente poderia assim pleitear se tivesse celebrado contrato oneroso. (B) Doação mediante cumprimento de encargo é contrato oneroso, pelo que é cabível postular indenização por evicção. (C) Somente teria direito contra o denunciado se este tivesse culpa pela perda da coisa em favor do reivindicante, segundo a teoria da responsabilidade civil. (D) O caso admite unicamente anulação do negócio jurídico por vício de consentimento, na modalidade de dolo. Resposta: letra B CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier SEMANA 13 Revogação das doações. Contrato de empréstimo (Comodato, mútuo). Depósito: conceito, características, espécies, alienação fiduciária e a prisão do depositário infiel. CONTEÚDOS: 1 – A revogação da doação pode ocorrer por descumprimento de encargo e por ingratidão do donatário. 2 – Se o doador fixar prazo para cumprimento do encargo, automaticamente é configurada a mora do devedor; se não houver termo, a mora depende de interpelação do doador em que é determinado tempo razoável para conclusão. 3 – O elenco legal dos atos de ingratidão é taxativo, implicando na revogação da doação pura. Está fundamentada no dever moral do donatário de ser grato ao seu benfeitor. Logo, os atos que servem de causa de pedir revogação são considerados repugnantes, tornando o donatário desmerecedor da liberalidade. 4 – O direito de revogar a doação por ingratidão é ordem pública, caráter cogente. Portanto, não pode ser renunciado antecipadamente. 5 – Homicídio doloso ou a tentativa consiste em ingratidão. Destarte, a prática de homicídio culposo não enseja revogação da doação. 5.1 – As causas de exclusão de antijuridicidade e culpabilidade do crime também são aplicadas na esfera cível para obstar a revogação da doação. 5.2 – Não se exige a prévia condenação criminal. Todavia, se esta ocorrer, fará coisa julgada também na esfera cível, bastando ao doador executar o título. 6 – Ofensa física também não depende de prévia condenação criminal para viabilizar a revogação. Não se exige que seja configurado crime de vestígio, porém é adotado o princípio da insignificância. 6.1 – Incidem igualmente as causas de exclusão de antijuridicidade e culpabilidade. 7 – Não obstante a divergência doutrinária, apesar de não constar expressamente no terceiro inciso do art. 557, CC, predomina o entendimento de que é também ato de ingratidão a difamação. Afinal, atinge o mesmo bem jurídico (honra) do doador. 8 – O fato de o donatário recusar-se a pagar alimentos ao doador quando este necessitar não significa de imediato a revogação do contrato. É preciso que o donatário possa pagar os alimentos porque, se não os puder, será mantida a eficácia da doação. 9 – São considerados atos de ingratidão quando os ofendidos guardarem vínculo com o doador de casamento, união estável, descendência, ascendência ou sejam irmãos. 10 – Estabelece a lei o prazo decadencial de 1 ano, a contar da ciência do ato de ingratidão e da sua autoria, para ser promovida ação revocatória. Ambos os requisitos são cumulativos, pelo que a contagem somente tem início quando ambos são conhecidos. CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier 10.1 – A ação é personalíssima, cabendo a sua iniciativa apenasao doador, podendo os herdeiros prosseguir a demanda. Contudo, se o ato de ingratidão consistir em homicídio consumado, os herdeiros poderão iniciar a ação. 10.2 – É possível lapso temporal entre os atos de execução do homicídio e o resultado morte. Se, neste ínterim, for perdoado o donatário, não poderá ser revogada a doação. 11 – Se a coisa doada for alienada a terceiro de boa-fé, que não perderá a propriedade da coisa. Por outro lado, terá o donatário a obrigação de pagar indenização pelo valor médio da coisa. 12 – Empréstimo é o contrato pelo qual uma das partes entrega à outra um bem que deverá ser devolvido. 13 – Trata-se de contrato real, o qual somente se perfaz mediante a entrega da coisa. Antes da tradição, existe promessa de empréstimo. 14 – Uma das espécies de empréstimo é o comodato. Este implica na transferência temporária de coisa infungível para fins de uso do comodatário. Encerrado o prazo, fixado ou razoável, deverá o bem ser restituído ao comodante. 15 – O contrato de comodato não pode gerar qualquer vantagem econômica ao comodante, sob pena de se desclassificar para locação. Contudo, nada impede de ser configurado o comodato modal, ou seja, comodatário assume uma determinada tarefa em razão do empréstimo. 16 – Trata-se de contrato unilateral, gratuito, real e informal. 17 – Administradores de bens alheios não podem dar a coisa do proprietário em comodato sem especial autorização. 18 – Havendo prazo convencionado entre as partes, o comodante não poderá exigir a devolução da coisa antes do tempo, salvo se provar necessidade urgente e imprevista. Se não tiverem as partes fixado tempo, deverá o comodante interpelar o comodatário para configurar a mora. 18.1 – Configurada a mora do comodatário e mantendo este a posse do bem, poderá o comodante cobrar-lhe aluguel pelo uso da coisa até a efetiva devolução. 19 – O comodatário é obrigado a conservar a coisa, não podendo cobrar do comodante as despesas efetuadas na conservação enquanto o bem estava em seu poder. 19.1 – Se coisas próprias correrem risco de perecer juntamente com a coisa emprestada, não poderá o comodatário preferir salvar os seus bens em detrimento da bem objeto do contrato. Do contrário, responderá pelos danos, ainda que causados por caso fortuito ou força maior. 20 – O mútuo é o empréstimo de coisas fungíveis, consistindo em contrato de consumo. Assim, é transferida a propriedade da coisa ao mutuário, que poderá usá-la como quiser. Ao tempo devido, entregará ao mutuante outro bem, do mesmo gênero, quantidade e qualidade. 21 – Em regra, o mútuo também é gratuito. Excepcionalmente, o mútuo torna-se oneroso por prever o pagamento de juros pelo empréstimo de dinheiro – mútuo feneratício. CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier 22 – Depósito é o contrato em que uma das partes, após receber coisa da outra parte, assume a obrigação de guardá-la, conservá-la e, ao tempo devido, restituí-la. Distingue-se do empréstimo por não conferir o direito de se servir do bem, devendo este ser guardado. 23 – Dentre as espécies do contrato, recebe o maior número de normas o depósito voluntário, o qual se presume gratuito e, portanto, seria unilateral. 23.1 – A doutrina, predominantemente, entende que esta modalidade de depósito é bilateral imperfeita, haja vista ser certa a obrigação do depositário, porém eventual a obrigação do depositante. Esta surge apenas quando o depositário sofre prejuízos ou despesas ao efetuar a guarda da coisa. 23.2 – Se o depósito implicar em remuneração, encerra-se a controvérsia: o contrato é bilateral. 23.3 – Trata-se de contato real, visto que a obrigação do depositário somente surge após a entrega da coisa. Outrossim, predomina o entendimento de se tratar de contrato informal, sendo a forma apenas ad probationem tantum. 24 – Denomina-se depósito voluntário irregular aquele cujo objeto for bem fungível, são atraídas as normas relativas ao mútuo. Contudo, se diferenciam porque o depósito não transfere o consumo da coisa ao depositário. 25 – Outra espécie de depósito é o necessário, o qual é constituído por força de imposição jurídica ou em razão de desgraça. O primeiro é denominado legal e o segundo miserável. 26 – Terceira espécie é o depósito por equiparação, no qual o hospedeiro recebe o mesmo tratamento do depositário em ralação aos bens do hóspede. 27 – Tanto o depósito necessário quanto o depósito por equiparação são premidamente onerosos. 28 – A despeito da previsão legal da prisão do depositário infiel, tanto no Código Civil quanto no Código de Processo Civil, firmou o Pretório Excelso ser incabível a privação da liberdade nesta hipótese. OBJETIVOS ESPECÍFICOS: O aluno deverá ser capaz de: Identificar as causas de revogação da doação, legitimidade e seus efeitos. Conceituar o contrato de empréstimo e suas espécies. Compreender as características e os efeitos do comodato e do mútuo Conceituar o contrato de depósito e suas espécies. Elencar as características e efeitos do contrato de depósito. Analisar criticamente a prisão civil do depositário. ESTRATÉGIA: Os casos e questões de múltipla escolha deverão ser abordados ao longo da aula, de acordo com a pertinência temática; CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier A resolução dos casos faz parte da aula; A abordagem dos casos permeia a exposição teórica. BIBLIOGRAFIA / JURISPRUDÊNCIA: GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2008, Volume III, Título II, Capítulos IV, VI e IX. PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006. v.3 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil. 4. ed. rev. e atualizada. São Paulo: Saraiva, 2008. V. IV, Tomo 2, capítulos IV, VI e IX. CASO CONCRETO 1 Mário doa uma casa a Francisco. Pouco tempo depois do cumprimento do contrato, o filho de Mário é assassinado. 25 anos após o homicídio, descobre-se que o criminoso foi Francisco, que, antes de matar o filho do doador, vendera a casa a um terceiro de boa-fé. Encerrada a investigação, é oferecida a denúncia pelo Ministério Público, sendo instaurada a ação penal, a qual resulta na condenação transitada em julgado por tentativa de homicídio. O doador requer ao juízo cível a revogação da doação, a fim de restabelecer o bem doado no seu patrimônio. Deve ser julgada procedente a sua pretensão ? Justifique abordando como ficará a propriedade da casa. GABARITO – CASO 1 Primeiramente, não decaiu o direito de se pretender a revogação, na medida em que somente se soube quem praticou o ato muitos anos após o homicídio. Assim, mesmo que estivesse prescrita a pretensão punitiva, é viável o sucesso da revogação. Outrossim, não se exige ser o doador em pessoa a vítima do ato de ingratidão para ser configurada a situação jurídica em enseja a revogação. Sendo a vítima descendente do doador, fica configurara também a ingratidão. Por fim, não pode ser prejudicada a aquisição da propriedade pelo terceiro de boa-fé. Contudo, não fica impedida a condenação do doador ingrato, que terá de indenizar o donatário pelo valor médio da coisa doada. CASO CONCRETO 2 Carlos celebrou contrato de financiamento com o Banco X para fins de aquisição de um veículo, sendo o negócio garantido pela modalidade da alienação fiduciária. Após pagar três das trinta e seis parcelas avençadas, foi interrompida a execução de pagar. Esgotada a cobrança pela via extrajudicial, a instituição financeira propõe ação de busca e apreensão. Foram exauridasas diligências pelo oficial de justiça sem que o veículo tivesse sido encontrado, pelo que a financeira requer a conversão do feito em ação de depósito. CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier Isto posto, questiona-se: é cabível a ordem de prisão civil por até um ano a fim de compelir o cumprimento da decisão condenatória no que tange à entrega da coisa ou se equivalente em dinheiro ? Justifique a resposta respaldando-se em entendimentos recentes do STF. GABARITO – CASO 2 Não obstante o Decreto-lei 911/69, nascido no período de vigência do AI-5, prever a conversão da busca e apreensão em ação de depósito justamente para equiparar o devedor fiduciante ao depositário e, então, atrair a figura da prisão civil, sedimentou o Pretório Excelso o entendimento de não ser cabível a prisão civil por força de descumprimento da obrigação decorrente do depósito, principalmente nos casos em que o devedor não celebrou contrato de depósito, sendo tão somente equiparado a depositário pelas características do negócio jurídico. QUESTÕES OBJETIVAS 1ª Questão: João doou um valioso imóvel para Maria em 2003. Quatro anos após, muito doente e desempregado, o doador requer alimentos em face da donatária a fim de suprir suas necessidades básicas. Esta, por sua vez, negou-lhe a assistência porque sobrevive exclusivamente dos alugueres do imóvel recebido em doação, quantia esta insuficiente para cobrir seus gastos com remédios, alimentação, vestuário e outros ônus ordinários. Diante disso, marque a alternativa referente ao direito do doador promover revogação por ingratidão: (A) Não poderá ser revogada a doação, cabendo ao doador promover ação de alimentos e sua respectiva execução se a donatária manter-se inadimplente. (B) A revogação pode ser requerida desde que obedecido o prazo decadencial de um ano, haja vista a evidente ingratidão da donatária. (C) O contrato de doação somente poderia ser revogado se a donatária pudesse pagar alimentos e se negasse, o que não é o caso. (D) Apesar da previsão legal lacunosa, somente se admite a exigência de alimentos se as partes guardarem relação de familiar entre si. Resposta: letra C. 2ª Questão: Antônio emprestou para Benedito seu automóvel, por um dia. Benedito estava trafegando pela cidade quando foi assaltado em um semáforo. Nesse caso, (A) Benedito terá que restituir o valor do automóvel, mais perdas e danos. (B) Benedito terá que restituir o valor do automóvel, pura e simplesmente. (C) Benedito nada terá que restituir a Antônio. (D) Benedito terá que pagar, tão somente, perdas e danos. Resposta: letra C. Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier CURSO DE DIREITO Organização : professora Thelma Fraga Colaboradores: Prof. Ana Carolina Paul, Cleyson Mello, Renato Monteiro e Patrícia Xavier 1ª Questão: FRANCISCO FARIAS celebrou contrato de promessa de compra e venda de imóvel residencial de sua propriedade, localizado em Belém-Pará, com ANTÔNIA ALMEIDA em 20 de maio de 2005. Neste contrato, o promitente-vendedor comprometia-se a transfer... 1ª Questão: FRANCISCO FARIAS celebrou contrato de promessa de compra e venda de imóvel residencial de sua propriedade, localizado em Belém-Pará, com ANTÔNIA ALMEIDA em 20 de maio de 2005. Neste contrato, o promitente-vendedor comprometia-se a transfer... (1)