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LOGÍSTICA EMPRESARIAL AULA 1 Profª Rafaela Aparecida de Almeida CONVERSA INICIAL A logística contempla vários processos que vivenciamos diariamente. Quando você vai ao supermercado e realiza suas compras, todo um sistema logístico foi movimentado para que aqueles produtos estivessem disponíveis naquele momento na gôndola. Quando você acorda pela manhã e pensa em qual será a melhor rota ou meio de transporte disponível para chegar ao trabalho, você está fazendo logística. Toda vez que houver uma movimentação de produto ou de informação, de um ponto a outro, estamos no campo da logística. Cada vez mais, as empresas têm compreendido a importância de proporcionar uma logística eficiente para garantir bons resultados para seus negócios (Nogueira, 2012). Portanto, a logística é uma área bastante promissora e que permite aos seus profissionais atuar nos mais diversos segmentos. Nesta aula, conheceremos os fundamentos da logística, com base nos principais autores da área. Em seguida, abordaremos os princípios da história da logística, desde tempos mais antigos, quando era utilizada como estratégia em grandes guerras até os dias de hoje. Nosso terceiro tema permitirá identificar a relação entre a logística e a cadeia de suprimentos, diferenciando cada uma de suas etapas: logística de suprimentos, de produção e de distribuição, o que nos permitirá avaliar como elas interagem entre si. Por fim, abordaremos uma visão geral da logística no mundo e no Brasil, que nos dará ter uma visão sistêmica da nossa área de estudo. Veja, a seguir, os temas desta nossa aula: 1. Fundamentos da logística; 2. Princípios da história da logística; 3. Logística e a cadeia de suprimentos; 4. A logística no mundo; 5. A logística no Brasil. CONTEXTUALIZANDO A partir da terceira Revolução Industrial, a humanidade tem vivenciado diversas mudanças em consequência dos avanços tecnológicos. As novas tecnologias desenvolvidas possibilitaram que a troca de informações fosse realizada com maior rapidez, permitindo que pessoas e empresas estivessem conectadas de maneira instantânea. O advento da internet diminui a distância e o tempo. Esse rompimento das barreiras físicas e temporais deu início ao processo de globalização, o que facilitou ainda mais a troca de informações e de mercadorias entre empresas e entre empresas e consumidores, a partir de e para qualquer parte do mundo, impulsionando assim, as vendas pelo e- commerce. De acordo com dados da Ebit Nielsen (2020), na comparação de 2019 com 2020, o número de novos consumidores no comércio eletrônico brasileiro cresceu 38%. Em 2001, o valor em vendas do e-commerce nacional era de 0,2 bilhões de reais. Em 2020, esse valor chegou à casa dos 38,8 bilhões de reais. É muito provável que você esteja entre esses consumidores que já realizaram ao menos uma compra em ambiente virtual. A compra é realizada com a facilidade de um simples clique em Realizar compra, mas você já parou para pensar em toda a logística envolvida por trás desse clique? Desde a compra da matéria- prima, passando pela produção, armazenagem, até a distribuição física que levará o produto até a sua casa no tempo e condições estimados? Figura 1 – Compra virtual Crédito: Vectory NT/Shutterstock. Muitas pessoas ainda hoje acreditam que a logística é apenas transporte e armazenagem. Durante nossas seis rotas da disciplina de logística empresarial, veremos que muitas atividades necessitam da logística e ela exerce grande influência em nossas vidas, pois todos os bens de consumo utilizados em nosso dia a dia passam por processos logísticos até que estejam disponíveis para o cliente final. Convido-o(a) a seguir comigo e conhecer melhor a logística empresarial. TEMA 1 – FUNDAMENTOS DA LOGÍSTICA A gestão logística do passado não é mais a mesma da atual. Em nossa primeira rota, você conhecerá a evolução da logística ao longo do tempo, mas você saberia dizer quais foram os principais fatores que influenciaram essa necessidade de adaptação da logística às demandas do mercado atual? Figura 2 – Fatores que influenciaram a adaptação da logística Crédito: Good Studio/Shutterstock. O ambiente altamente competitivo, dos dias de hoje, é consequência das mudanças vivenciadas, principalmente nas últimas três décadas, quando passamos a presenciar a rápida evolução tecnológica, a evolução do acesso à tecnologia de informação, a quebra de fronteiras com a globalização, a preocupação com as questões ambientais e o crescimento de compras no comércio eletrônico. Como consequência dessa evolução, com maior acesso às informações e com a possibilidade de realizar compras, de qualquer parte do mundo sem sair de casa, o perfil do consumidor também mudou. Diante desse cenário de transformações, a logística passou a ser considerada uma importante ferramenta na gestão corporativa. Compreender o correto entendimento de todos os processos nela envolvidos pode proporcionar às organizações vantagem competitiva frente aos seus concorrentes, e aos profissionais da logística, oportunidades de crescimento pessoal e profissional. Para que possamos ter a correta compreensão do que significa uma gestão da logística empresarial eficiente e eficaz, vamos conhecer os principais conceitos definidos por especialistas da área. 1.1 CONCEITUANDO A LOGÍSTICA De acordo com O Council of Supply Chain Management Professional (Conselho de Profissionais da Cadeia de Suprimentos), principal associação mundial de profissionais de gestão de cadeias de abastecimento, a logística trata do processo de planejamento, implementação e controle de procedimentos para a eficiência e a eficácia do transporte e armazenamento de mercadorias, incluindo serviços e informações relacionadas desde o ponto de origem até o ponto de consumo, em conformidade com os requisitos exigidos ou esperados pelo cliente (CSCMP, 2013). Para Ballou (2012): A logística empresarial trata de todas as atividades de movimentação e armazenagem, que facilitam o fluxo de produtos desde o ponto de aquisição da matéria-prima até o ponto de consumo final, assim como dos fluxos de informação que colocam os produtos em movimento, com o propósito de providenciar níveis de serviço adequados aos clientes a um custo razoável. (Ballou, 2012, p. 24) Morais (2015) destaca que a logística é a série de atividades envolvidas no processo que abrange desde o fornecedor, que extrai ou produz a matéria-prima básica, passando por todos os estágios de produção ou transformação do produto acabado e por todos os canais de distribuição responsáveis por fazer com que este chegue ao cliente final. Vemos que há uma convergência dos conceitos apresentados no sentido de que a logística contemple os processos da aquisição dos suprimentos necessários para alimentar a entrada do sistema produtivo, que é representado pela manufatura (produção) até a saída do produto acabado e sua distribuição para o consumidor final. Vale ressaltar que uma das formas de aumentar a competitividade e a satisfação dos clientes é a integração logística associada à agilidade no processamento das informações, permitindo a entrega dos produtos no tempo certo, na quantidade certa, com a qualidade esperada e ao menor custo possível. 1.2 EVOLUÇÃO DA LOGÍSTICA Novaes (2007) destaca quatro fases da evolução logística, conforme veremos a seguir. 1.2.1 PRIMEIRA FASE: ATUAÇÃO SEGMENTADA Nessa fase, há ausência de sistemas de comunicação e de informática. Pedidos são feitos para fornecedores por meio de telefone ou correio, pesquisando os preços e melhores condições junto a vários fornecedores. O estoque é visto como elemento-chave para o atendimento ao cliente e, dessa forma, as empresas dispõem de alto nível de estoque em cada etapa do processo. O foco principal estava na redução dos custos com transportes por meio da otimização de veículos e negociação de fretes menores. 1.2.2 SEGUNDA FASE: INTEGRAÇÃO RÍGIDA Esta segunda fase teve como elemento-chavea racionalização de processos, por meio da otimização de atividades e do planejamento. Embora seja caracterizada como uma busca inicial de racionalização integrada da cadeia logística, ainda era muito rígida, pois a partir da efetivação do planejamento não eram permitidas mudanças. A integração, nesse momento, ocorria com a incorporação de outros setores ao planejamento, como marketing e vendas, além de fornecedores e clientes, o que possibilitava uma visão sistêmica dos processos logísticos, na tentativa da redução de custos. 1.2.3 TERCEIRA FASE: INTEGRAÇÃO FLEXÍVEL A terceira fase da logística é caracterizada pela integração dinâmica e flexível entre os agentes da cadeia de suprimentos, em dois níveis: interno (dentro da empresa, entre os diversos setores) e externo (da empresa com seus fornecedores e clientes). Essa integração foi possível a partir do desenvolvimento da informática, quando o intercâmbio de informações entre os elos da cadeia de suprimentos passa a acontecer por via eletrônica, mais especificamente por meio do EDI Electronic Data Interchange (troca eletrônica de dados), permitindo, assim, ajustes dos planejamentos e das demandas ou variações do mercado. Ainda nessa fase, é possível observar a maior preocupação com a satisfação plena do cliente, seja ele o consumidor dos produtos produzidos ou fornecedores. Além disso, a busca pela redução dos níveis de estoque, a partir do entendimento de que o alto volume de estoques não agrega valor ao produto. 1.2.4 QUARTA FASE: INTEGRAÇÃO ESTRATÉGICA Na quarta fase, a logística passa a atuar de forma estratégica nas empresas, como forma de ganhar competitividade. Nela, os elos da cadeia de suprimentos passam a ser vistos como parceiros de negócio atuando com conjunto na busca por melhores resultados em termos de redução de custos, de desperdícios e de agregação de valor para o consumidor final. A esse novo modelo logístico é dada a denominação de SCM – Supply Chain Management (gerenciamento da cadeia de suprimentos). Outra característica dessa fase é a crescente preocupação das organizações com o meio ambiente e consequente interesse pela logística reversa, por meio da destinação correta de produtos e materiais ao final de sua vida útil. Para chegarmos às práticas logísticas, tais quais conhecemos hoje, foi necessário evoluir ao longo das diversas fases até que se atingisse o estágio atual de desenvolvimento suficiente para viabilizar o SCM. No próximo tema, vamos acompanhar os princípios da história da logística mais detalhadamente. TEMA 2 – PRINCÍPIOS DA HISTÓRIA DA LOGÍSTICA A logística se faz presente desde as civilizações mais antigas, seja por meio da troca de mercadorias entre diferentes povos e nações, ou como estratégia de grandes guerras, permitindo o transporte e a armazenagem de suprimentos. Ballou (2012, p. 28) destaca que antes de 1950 as empresas fragmentavam as atividades logísticas: “o transporte era encontrado frequentemente sob o comando gerencial da produção; os estoques eram responsabilidade de marketing, finanças ou produção; e o processamento de pedidos era controlado por finanças ou vendas”. A atividade logística militar na Segunda Guerra Mundial foi o início para muitos dos conceitos logísticos e o marco de sua notoriedade como atividade específica. Portanto, é a partir deste marco histórico que iniciamos nossa linha do tempo dos princípios da história da logística resumidos na Figura 1. Figura 3 – Linha do tempo da logística 2.1 HISTÓRIA DA LOGÍSTICA A logística passou por grandes transformações ao longo do tempo em decorrência da evolução tecnológica, da mudança de perfil dos consumidores, da globalização, precisando se reinventar de acordo com as novas necessidades que foram se desenhando ao longo das últimas décadas. A partir de agora, convido-o(a) a fazer uma viagem no tempo para conhecer os principais fatores de mudança que envolvem a ciência da logística. 2.1.1 1950 – 1970 Representa o período de decolagem para a teoria e a prática da logística. No período pós- Segunda Guerra Mundial, com o retorno das tropas aos seus países de origem e o incentivo dos governos à retomada do desenvolvimento econômico, as indústrias passaram a oferecer maior variedade de produtos. Associado a esse fator, estava a migração populacional das áreas rurais para os centros urbanos. Tal mudança de cenário culminou no aumento das operações logísticas de transporte e distribuição de produtos, resultando na elevação dos custos logísticos. Essa complexidade passa a ser tratada com a implementação de modelos matemáticos, que permitiram o maior controle dos estoques, associada ao uso da multimodalidade e a introdução da informática a partir do surgimento dos primeiros computadores na década de 1960. 2.1.2 DÉCADA DE 1980 Esse período é marcado pelo foco no cliente e pelos avanços tecnológicos que permitiram, por meio da evolução dos sistemas de MRP Material Requirement Planning (planejamento das necessidades de materiais), a integração de diferentes áreas (marketing, vendas, produção) e processos das empresas, surgindo então o conceito de logística integrada. 2.1.3 DÉCADA DE 1990 Período marcado por profundas revoluções tecnológicas, como o advento da internet, facilitando a troca de informações e de mercadorias entre diferentes países. Os processos de manufatura e distribuição de produtos mudam radicalmente e a logística integrada evolui para o Supply Chain Management (gestão da cadeia de suprimentos), cuja integração ocorre entre os vários elos da cadeia logística: fornecedores de suprimentos, produção e distribuidores. 2.1.4 ANOS 2000 Em consequência dos avanços da década anterior, a globalização se torna mais evidente e as empresas já não competem mais entre si, mas sim entre cadeias de suprimentos, em que um produto pode conter partes e componentes fabricados em diferentes países e manufaturado em outro. Portanto a integração entre os elos da cadeia se torna o grande diferencial competitivo frente aos concorrentes. Aliado a esse fator, temos o início das operações de e-commerce, permitindo a empresas e consumidores adquirir produtos de qualquer parte do mundo. São fatores relevantes nesse período: Estoque zero e prazos de entrega cada vez mais curtos, possibilitados pelo Just in Time; Busca por custos mais baixos, por meio da redução de tempos, de erros e retrabalhos; Grande competitividade em nível global; Integração total da logística, em que os fornecedores se tornam parceiros de negócios; Uso intensivo da informação e da informática; Logística puxada (é a demanda dos clientes que impulsiona o sistema de produção e distribuição); Maior nível de exigência por parte dos consumidores; Crescente preocupação com a sustentabilidade, a logística reversa começa a ganhar força. 2.1.5 DÉCADA DE 2010 ATÉ OS DIAS ATUAIS Novos conceitos logísticos ganham força, como é o caso da logística colaborativa, em que diferentes elos das cadeias produtivas trocam informações, conhecimentos, competências e técnicas entre si, com vistas à redução de custos, à eficiência operacional e ao aumento e à melhoria no nível de serviço entregue ao consumidor. Outro conceito que se torna evidente é a logística urbana, responsável pela distribuição física dos produtos, que ganha novos moldes em função do aumento das demandas de e-commerce e do maior nível de exigência dos consumidores. Por fim, a logística 4.0 relacionada à automação das fábricas e de centros de distribuição, utilizando tecnologia de ponta, como inteligência artificial (IA), Big Data, Internet das Coisas – Internet of Things (IOT) e computação em nuvem. A logística de hoje pouco nos remete aos tempos mais remotos de quando ela se resumia a transporte e armazenagem. É essa evolução e capacidade de se reinventar que torna a logística uma área tão intrigante e dinâmica para se trabalhar, abrindo aos profissionais, que optam por ela, um leque de infinitas possibilidades. TEMA 3 – LOGÍSTICAE A GESTÃO DA CADEIA DE SUPRIMENTOS Você saberia responder qual é a diferença entre a logística e a gestão da cadeia de suprimentos (SCM)? Embora os termos estejam muito associados, eles apresentam diferenças entre si. Vamos entender melhor! Sabemos que a logística empresarial é fundamental para as organizações e é responsável pelo fluxo de materiais, o que envolve planejamento da produção, armazenagem, transporte e distribuição. O desenvolvimento da logística empresarial, a partir da década de 1970, culminou na logística integrada e posteriormente da gestão da cadeia de suprimentos, a qual abrange todos os processos que envolvem a vida de um produto, desde a sua produção (com a utilização de uma matéria-prima) até a entrega ao consumidor final. Portanto: A logística é a integração intraempresarial (dentro da empresa), responsável pela aquisição dos insumos, do armazenamento e do transporte do produto do ponto de origem ao de chegada. O SCM é mais amplo e envolve a gestão interempresarial (entre empresas), o que inclui fornecedores e clientes em níveis diversos, coordenando e racionalizando o fluxo dos materiais e das informações (desde a matéria-prima até a entrega do produto ao seu consumidor final). Morais (2015, p. 29) define a gestão da cadeia de suprimentos como: O conjunto de todas as partes envolvidas (fornecedores, fabricantes, distribuidores, varejistas, clientes finais), chamados de elos, e seu relacionamento no desenvolvimento das atividades funcionais e logísticas no canal pelo qual as matérias-primas são convertidas em produtos acabados até a entrega ao consumidor. (Morais, 2015, p. 29) E ainda, segundo Nogueira (2012), a gestão da cadeia de suprimentos (SCM) coordena todas as funções do gerenciamento do fluxo de materiais e informações, desde o recebimento do pedido de vendas até a entrega ao cliente, o que abrange todos os recursos de produção, transporte e aquisição de todas as empresas envolvidas nesse processo. Com o desenvolvimento do conceito de Supply Chain Management, as organizações incorporaram os seus setores em três áreas maiores na logística: logística inbound ou de suprimentos físicos; logística de produção e logística outbound ou distribuição física, conforme representado na Figura 4. Figura 4 – Representação da gestão da cadeia de suprimentos (SCM) 3.1 LOGÍSTICA DE SUPRIMENTOS A logística inbound (entrada) ou de suprimentos caracteriza o início da cadeia logística, sendo a fase em que são analisadas as demandas provenientes dos clientes. Nessa etapa, o foco principal são as relações com os fornecedores. Dentre suas principais atividades, destacam-se: o desenvolvimento de novos fornecedores; o planejamento das necessidades de materiais; a aquisição de suprimentos realizando o abastecimento de matérias-primas e componentes para a linha de produção; recebimento de materiais; gerenciamento de estoques. 3.2 LOGÍSTICA DE PRODUÇÃO Essa etapa da cadeia de suprimentos é responsável pela transformação dos recursos de entrada (inbound) em produtos acabados (outbound) que serão distribuídos para o varejo e posteriormente ao consumidor final, ou seja, trata da gestão e controle dos materiais, mão de obra e informações no processo produtivo. O sistema de produção começa pela previsão de demanda. Com base nessas previsões será calculada e estimada a produção adequada para atender os clientes, bem como saber onde os produtos serão fabricados. Nessa fase, o foco principal está em planejar as necessidades futuras, a quantidade de compra de materiais, a programação das atividades de produção e o atendimento, no menor prazo possível as demandas provenientes do mercado (Nogueira, 2012). 3.3 LOGÍSTICA DE DISTRIBUIÇÃO A logística de outbound é responsável pelos processos operacionais e de controle que permitem transferir os produtos desde o ponto de fabricação até o ponto em que a mercadoria é finalmente entregue ao consumidor. Ballou (2012) destaca que a distribuição física preocupa-se principalmente com produtos acabados ou semiacabados que serão distribuídos para os usuários finais ou intermediários que compram estes bens para posteriormente revendê-los. Nessa etapa, são fatores importantes, os meios de transporte utilizados para movimentar os produtos, o controle de inventário e a localização dos centros de distribuição de forma que os produtos sejam entregues no menor prazo, ao menor custo e dentro das condições esperadas pelo cliente. Conclui-se, portanto, que a integração e a fluidez entre as três etapas logísticas descritas acima permitem maior eficácia e eficiência da cadeia de suprimentos, garantindo, assim, o diferencial competitivo frente aos concorrentes. TEMA 4 – LOGÍSTICA NO MUNDO Mesmo antes de povos se constituírem em nações, já eram realizadas transações comerciais entre diferentes civilizações, portanto a logística internacional é realizada desde a Antiguidade. No entanto, é a partir do pós-Segunda Guerra Mundial (1945) que ela ganha destaque. Após o fim da grande guerra, com o aumento populacional (período conhecido como Baby Boom), houve um crescente aumento no consumo de produtos. As empresas passam a disponibilizar maior variedade de produtos no mercado e os governos, por sua vez, incentivam a troca de mercadorias entre diferentes nações, como forma de retomada do comércio e captação de recursos. A distância geográfica deixa de ser um obstáculo ao desenvolvimento, levando empresas a acrescerem valor aos seus produtos, com insumos e componentes adquiridos em outras regiões do planeta, e comercializadas em diversos países. O mercado de qualquer empresa passou a ser o mundo, e o desenvolvimento empresarial passou a adotar estratégias e processos que promovam a integração das empresas no mercado global (Sousa, 2019). A partir da década de 1960, ganha destaque o conceito do global sourcing, que se traduz em uma visão ampliada do gerenciamento da cadeia logística, em que fornecedores/parceiros e clientes trabalham de forma integrada independente de sua localização geográfica (Razzolini Filho, 2012). A partir desse momento, além da troca de mercadorias internacionalmente, as empresas passam a produzir partes e peças de um produto em diferentes países e realizar sua montagem em um país- sede. Figura 5 – Global sourcing Crédito: Rawpixel.com/Shutterstock. Nesse sentido, é possível aferir que a logística internacional foi evoluindo com o tempo, tornando-se ainda mais expressiva após a década de 1990, período que marca o início da globalização com o fim da bipolarização mundial. Os avanços tecnológicos e informacionais, a partir dessa década, intensificam o processo de internacionalização e o surgimento de empresas multinacionais ou transnacionais, com matriz em determinado país e filiais espalhadas ao redor no mundo, como é o caso da Coca-Cola, Nestlé, Toyota e Nike, por exemplo. O mundo mudou e a forma de se fazer logística também: se antes as empresas competiam entre si, agora a competição é entre cadeias logísticas globais, o que demanda maior comprometimento dos diferentes elos (parceiros), maior sincronismo dos processos e visão sistêmica, na busca pelo diferencial competitivo frente aos seus concorrentes. TEMA 5 – LOGÍSTICA NO BRASIL Figura 6 – Logística no Brasil Crédito: Travel Mania/Shutterstock. Se compararmos a logística brasileira à de outros países, somos ainda relativamente novos nesse sentido, visto que o Brasil teve um processo de industrialização tardia, a partir da década de 1970, enquanto em países europeus, asiáticos e nos Estados Unidos, isso ocorreu a partir da Segunda Guerra Mundial. No entanto, é a partir da década de 1990 que ela começa a sofrer mudanças consideráveis. Até esse período, os mercados brasileiros não eram tão dinâmicos e os mercados internacionais ainda não estavam completamente globalizados. As mudanças ocorriam de maneira pouco acelerada e as negociações de produtos de forma lenta, focadas no mercado interno, o quenão exigia tanto de um sistema logístico. O ciclo de vida dos produtos também era mais longo, o que fazia com que as vendas não fossem tão acentuadas como nos dias de hoje. Acomodadas com a falta de competição, num ambiente de reservas de mercado, e convivendo com uma conjuntura favorável de demanda, as empresas nacionais davam pouca atenção às questões de qualidade e produtividade, pois existia um amplo mercado consumidor interno, um baixo grau de concorrência e uma elevada inflação que permitia aplicar os recursos financeiros com altas taxas de juros (Fleury; Wanke; Figueiredo, 2000). Foi no início da década de 90 que essa situação começou a mudar em decorrência da abertura do mercado brasileiro para as empresas multinacionais, aumentando a concorrência e a disputa pelo mercado interno. Além disso, nesta mesma época, em consequência do plano real, houve um aumento no poder de compra dos consumidores. Esse fator, aliado à globalização, levou as empresas a buscarem maior cooperação e integração em sua cadeia de suprimentos. Desde então, a logística no Brasil vem constituindo-se em um negócio de grandes proporções que evoluiu muito rapidamente nos últimos anos. Segundo Silva (2016), esse período passou por um processo revolucionário, tanto em práticas empresariais quanto na eficiência, qualidade e disponibilidade de infraestrutura de transportes e comunicações, que foram fundamentais para uma logística moderna. Com maior acesso às informações e com a possibilidade de realizar compras on-line, os clientes se tornaram mais exigentes e, para melhor atendê-los, foi necessário considerar todos os elementos do sistema de movimentação, desde a armazenagem, fluxo de produtos, aquisição de matérias- primas, até entrega final, bem como todo o fluxo de informações que gerem todos esses processos. Mesmo nesse contexto, a logística no Brasil vem constituindo-se em um negócio de grandes proporções que evoluiu e passou por profundas transformações em direção a uma maior sofisticação. Essas transformações são evidenciadas em diferentes aspectos, sejam eles relacionados à estrutura organizacional, às atividades operacionais, ao relacionamento com os clientes, ou às questões financeiras (Figueiredo; Fleury; Wanke, 2003). 5.1 GARGALOS LOGÍSTICOS NO BRASIL Diante de um cenário que exige cada vez mais da logística brasileira, ainda existem inúmeros gargalos que precisam ser senados, por exemplo, os problemas de infraestrutura logística, a alta dependência do modal rodoviário, a distribuição de cargas em centros urbanos, dentre outros. A Figura 3, retirada do Anuário estatístico de transportes 2010-2017, representa a infraestrutura existente no Brasil, no que diz respeito aos modais rodoviário, ferroviário, hidroviário e dutoviário. Figura 7 –Malha logística por modal brasileiro Fonte: Ministério da Infraestrutura, s. d. Se observarmos a infraestrutura de malha oferecida em cada modal, veremos a supervalorização das rodovias em relação às ferrovias e dutovias e que a matriz de transportes brasileira é fortemente dominada pela participação do modal rodoviário, o que corresponde a 60% das cargas transportadas no território nacional. A alta dependência do modal rodoviário para longas distâncias, somadas ao alto índice de roubo de cargas e avarias provocadas pela infraestrutura ruim de estradas aumentam o custo dos fretes e impactam no valor final das mercadorias, tornando os nossos produtos menos competitivos no mercado. Figura 8 – Distribuição de cargas Crédito: Vladwel/Shutterstock. Outro gargalo, que temos vivenciado com maior intensidade nos últimos anos, em decorrência do aumento das vendas por e-commerce e da redução de estoques do varejo, é a distribuição de cargas nos centros urbanos, a chamada logística urbana ou last mile (última milha). Com entregas de menor porte e mais pulverizadas, a distribuição física passou a ser realizada por veículos menores, que competem com vias congestionadas e com a ausência de pontos apropriados para carga e descarga. Nesse sentido, as empresas brasileiras têm buscado formas alternativas de entrega, como o uso de bicicletas e mesmo testes com drones. Por fim, podemos citar a logística internacional brasileira. O baixo desenvolvimento tecnológico dos parques industriais brasileiros nos torna exportadores de commodities (produtos que não passaram por processo de manufatura) e que possuem baixo valor agregado, como grãos, minérios, petróleo bruto e carnes e dependentes da importação de produtos industrializados, principalmente de maquinários e equipamentos de alta tecnologia. Vemos que o Brasil tem voltado sua atenção para a logística, nas últimas décadas, na tentativa de nos tornarmos mais competitivos frente aos mercados internacionais, no entanto ainda há muito o que se fazer, o que reforça a importância de formarmos gestores logísticos em nosso país. TROCANDO IDEIAS Vimos durante nossa aula que a logística se desenvolveu ao longo das últimas décadas, permitindo que hoje tenhamos acesso à mercadorias provenientes de qualquer parte do mundo. Figura 9 – Rotas das mercadorias Crédito: Alex Millos/Shutterstock. Dessa forma, etiquetas de produtos com a inscrição Made in China ou Made in USA já fazem parte do nosso cotidiano e nos cercam por toda parte. Troque ideias com seus colegas a respeito das principais origens dos produtos que você possui em sua casa e relate se já realizou compras pela internet em sites internacionais e depois comente como foi essa experiência. NA PRÁTICA A logística é responsável pelas atividades de transporte, movimentação, armazenamento, produção e distribuição de produtos, tendo como principal objetivo facilitar o fluxo de materiais na cadeia produtiva, unindo produtos e serviços aos consumidores finais. A partir da década de 1990, com o advento da internet e a consolidação da globalização, a logística vem passando por grandes transformações, e novos termos e metodologias vão sendo incorporados a esta área. Um deles é a logística urbana, também conhecida pelas terminologias city logistics (logística da cidade) e last mile (última milha), a qual trata do processo de otimização das atividades logísticas e de transportes em áreas urbanas, ou seja, a logística de distribuição. Saiba mais Tal conceito vem ganhando força nos últimos anos em consequência das evoluções tecnológicas e informacionais e do aumento da demanda de consumo, associados ao sistema de produção puxada e à necessidade de redução de estoques por parte das organizações e da explosão do e-commerce. Esses fatores alteram a dinâmica de distribuição de cargas nos centros urbanos, em que as entregas passam a ser de volumes cada vez menores, com maior frequência e mais pulverizadas. Fonte: Logística..., 2020. Embora essa etapa final da cadeia de suprimentos seja importante para garantir as entregas aos consumidores, dentro dos prazos estipulados, as empresas brasileiras de transporte e distribuição ainda sofrem com gargalos logísticos e com a falta de políticas públicas que facilitem o andamento da última milha. Levando-se em conta essa contextualização, responda: 1. O que logística de distribuição? 2. Pesquise e proponha possíveis soluções para diminuir os impactos dos gargalos na logística urbana brasileira. FINALIZANDO Vimos durante esta aula que a logística dos dias de hoje em pouco lembra aquela realizada há algumas décadas, quando era voltada apenas para o transporte e a armazenagem, e que essa multiplicidade de processos logísticos envolvidos em uma cadeia de suprimentos abre um leque de possibilidades para a atuação profissional nessa área. No tema 1 foram apresentados os principais conceitos do que é logística e logística empresarial, bem como da sua evolução da atuação segmentada até a atuação estratégica, como a conhecemos hoje. Na sequência, retornamos no tempo, fazendo uma viagem desde a Segunda Guerra Mundial até os dias atuais quando pudemos observar os grandes marcos históricosrelacionados à logística, em cada década. No tema 3, compreendemos que, embora muito similares, a logística e gestão da cadeia de suprimentos são conceitos distintos e, com base nessa compreensão, estudamos as três etapas: logística de suprimentos, de produção e distribuição que compõem uma cadeia logística como um todo. Por fim, nos temas 4 e 5 tratamos da logística no mundo e no Brasil, avaliando a evolução dessa ciência em nosso país e discorrendo sobre os principais gargalos que nos impedem de nos tornarmos ainda mais competitivos em um cenário global. REFERÊNCIAS BALLOU, R. H. Logística empresarial: transporte, administração de materiais, distribuição física. São Paulo: Atlas, 2012. CSCMP – Council of Supply Chain Management Professionals. CSCMP Supply Chain Management Definitions and Glossary, CSCMP, 2013. Disponível em: < https://cscmp.org/CSCMP/Academia/SCM_Definitions_and_Glossary_of_Terms/CSCMP/Educate/SCM_ Definitions_and_Glossary_of_Terms.aspx?hkey=60879588-f65f-4ab5-8c4b-6878815ef921>. Acesso em: 13 jan. 2021. 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