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Alteraçoes Musculoesqueléticas - Cervicalgia ANATOMIA DA REGIÃO CERVICAL • A coluna cervical é composta por 7 vértebras, separadas entre si por discos in- tervertebrais, que garantem suporte e mobilidade. • Os locais mais comuns que apresentam alterações degenerativas estão entre C4 e C7, por onde passam as raízes nervosas C5, C6 e C7 pelo forame intervertebral. • A coluna cervical possui uma lordose superficial, que pode ser diminuída (ou até revertida) em pacientes com alterações degenerativas. • Entre C3 e C7 há articulações não vertebrais, localizadas na borda posterolateraldo disco intervertebral e na porção anteromedial do forame intervertebral. Essas articulações podem sofrer hipertrofia e em associação com a degeneração do disco, resulta no estreitamento do forame, causa comum de radiculopatia cervical. • O músculo cervical e trapézio têm a função de apoiar e fornecer movimento e alinhamento da cabeça e pescoço, além de proteger a medula espinhal e os nervos espinhais do estresse mecânico. • Existem 8 nervos espinhais, cada um composto por uma raiz ventral e outra dorsal; a raiz ventral contém fibras eferentes dos neurônios motores no corno ventral da medula; já a raiz dorsal contém fibras aferentes sensoriais primárias das células no gânglio da raiz dorsal. • Após a junção das raízes, o nervo espinhal se divide em 2 ramos: ramo dorsal, que inerva músculos, pele e articulações do pescoço posterior; e o ramo ventral, que inerva os músculos pré-vertebrais e paravertebrais e forma o plexo braquial. CERVICALGIA • A dor cervical, também conhecida como cervicalgia, é uma dor característica no pescoço, geralmente na parte de trás do membro. A sensação é praticamente a mesma que a do torcicolo. • A cervicalgia pode ser sentida como dor ou rigidez. É possível, ainda, a depender da causa, que a dor cervical irradie para os ombros e braços. • É normal que adultos e idosos a sentem por um tempo limitado, de até 3 dias, sem automassagem e relaxamento, após um dia estressante ou depois de permanecer em uma postura errada por um tempo. • No entanto, caso perdure é um sinal mais emergente de que algo pode estar errado. Alteraçoes Musculoesqueléticas - Cervicalgia Algumas doenças apresentam esta dor como sintoma de alguma doença, por isso, é importante ir a um especialista e realizar o diagnóstico de forma adequada. Epidemiologia • Há uma grande dificuldade em obter dados fiéis para a estimativa da real prevalência das cervicalgias, visto que se trata de um grupo de doenças com aspectos clínicos multifatoriais, envolvendo desde fatores de risco individuais, como características físicas e psicossociais, até fatores relacionados com a ergonomia e atividades laborativas(2,3). • A cervicalgia é menos freqüente que a lombalgia. Sua prevalência atual na população geral é estimada em 29% nos homens e 40% nas mulheres, embora estes índices possam ser ainda maiores quando avaliamos populações selecionadas de acordo com as atividades exercidas no trabalho(4). • Nas cervicalgias pós-traumáticas, como nos acidentes automobilísticos com impacto posterior, a condição conhecida como síndrome do chicote (whiplash), apresenta uma incidência que varia de 18% a 60%(5). A incidência das hérnias discais da coluna cervical é de difícil estimativa. Um estudo realizado em Rochester, Minnesota, mostrou uma incidência anual de 5,5 por 100.000 habitantes(6). O nível discal mais afetado foi C5-C6, seguido por C6-C7. • A maioria dos estudos indica a necessidade urgente de orientação e de programas de reeducação postural, com finalidade de diminuição dos custos gerados pelas síndromes dolorosas cervicais Etiologia • As desordens mecânicas são as causas mais comuns de cervicalgias. A dor cervical mecânica pode ser definida como dor secundária a utilização excessiva de uma estrutura anatômica normal (em geral, a musculatura paravertebral) ou como dor secundária a dano ou deformidade em uma estrutura anatômica (hérnia discal) • São caracteristicamente exacerbadas por certas atividades e aliviadas por outras. Os fatores de melhora e de piora obtidos na anamnese são úteis na localização da região acometida, como, por exemplo, a flexão cervical levando a um agravamento dos sintomas relacionados com a doença discal degenerativa e levando a uma melhora nas síndromes facetárias. Na maioria das vezes têm curso autolimitado, com a grande maioria dos pacientes apresentando resolução completa dos sintomas. • DISTENSÃO CERVICAL Pode ser definida como dor cervical não-irradiada, associada a sobrecargas mecânicas ou posturas anormais prolongadas da coluna. Caracteriza-se por dor em região cervical posterior e em área do músculo trapézio, com restrições a movimentação ativa e passiva, além de áreas dolorosas à palpação(15). A incidência real desta condição é de difícil determinação, sendo extremamente comum, e apresentando-se com um espectro doloroso variável. As condições ocupacionais devem ser consideradas no desencadeamento e recidiva desta patologia • O torcicolo é decorrente de uma contratura severa da musculatura do pescoço. A cabeça assume uma atitude em flexão lateral, com o queixo rodado para o lado oposto da dor. O torcicolo pode ser congênito ou adquirido. Na forma congênita, está associado a anormalidades anatômicas e neurológicas, incluindo a síndrome de KlippelFeil (Figura 5), subluxação atlanto- axial, ausência ou atrofia congênita de músculos cervicais, malformação de Arnold-Chiari e siringomielia • A forma adquirida pode ocorrer secundária a traumas, dano muscular repetitivo, fratura ou sub-luxação atlanto-axial; nos quadros infecciosos das vias aéreas superiores, adenites Alteraçoes Musculoesqueléticas - Cervicalgia cervicais e osteomielites; pós-infecciosos (difteria, gripe), anormalidades vasculares com compressão, doenças neurológicas e síndromes radiculares (hérnia discal) • HÉRNIAS DISCAIS CERVICAIS Um disco herniado pode ser definido como uma protrusão do núcleo pulposo através de soluções de continuidade das fibras do ânulo fibroso. A maioria das hérnias ocorrem em situação pósterolateral, com uma maior incidência na quarta década de vida, quando o núcleo pulposo ainda é gelatinoso. As hérnias mais freqüentes estão localizadas em C6- C7 e C5-C6. Hérnias C7-T1 e C3-C4 são raras. Ao contrário das hérnias lombares, o disco herniado cervical pode causar mielopatia(18). Nem toda hérnia discal é sintomática. A presença e magnitude dos sintomas depende da capacidade de reserva do canal medular, do grau de inflamação peri- radicular, do tamanho da hérnia, bem como da presença de doenças concomitantes, como p.ex. espondiloartrose Causas Musculoesqueleticas • Tensão muscular: apresenta-se com dor e/ou rigidez no movimento; pode não ter um fator precipitante claro, mas muitas vezes está relacionada à postura e posição do sono; ao exame físico, apresenta desconforto à palpação dos músculos do pescoço e trapézio. Pode persistir até 6 semanas e seu diagnóstico é clínico, sendo a imagem desnecessária. • Espondilose vertebral: corresponde a alterações degenerativas da coluna, com aparecimento de osteófitos (“bico de papagaio”) ao longo dos corpos vertebrais, que podem comprimir ou não estruturas nervosas (ou seja, podem levar à radiculopatia); porém, normalmente as alterações degenerativas são achadas em pacientes assintomáticos. • Lesões cervicais: ocorrem mais frequentemente após colisões de veículos, apresentam dor e/ou rigidez no movimento do pescoço após lesão abrupta do tipo extensão-flexão; pode estar associada a outros sintomas como cefaleia, dor no ombro, tonturas, parestesias e fadiga; ao exame físico, apresenta diminuição da amplitudede movimento associada ao espasmo do pescoço; seu diagnóstico é clínico e a maior parte apresenta dor persistente e de baixa intensidade, não necessitando de imagens. • Discopatia degenerativa: proeminência do disco intervertebral, podendo comprimir o canal medular, mas está presente em muitos indivíduos assintomáticos; apresenta dor e/ou rigidez no movimento e é exacerbada por posições contínuas como dirigir, ler e sentar; sintomas radiculares podem estar presentes; apresenta dor e redução de amplitude ao movimento; o diagnóstico é clínico, mas pode ter suporte da RM mostrando hipo-hidratação do disco e fissura do ângulo fibroso, por exemplo. • Síndrome de dor miofascial: quadro muscular peculiar, com dor profunda associada à queimação, geralmente localizada (um lado do pescoço); apresenta sensibilidade à pressão e podem haver cordões de tensão (espessamentos musculares), com pontos gatilhos (trigger points). Radiculopatia/ mielopatia • Radiculopatia: consiste na disfunção da raiz do nervo espinhal, na maioria das vezes (70-90%) causadas por alterações degenerativas da coluna, como a estenose do forame cervical e hérnia de Alteraçoes Musculoesqueléticas - Cervicalgia disco; apresenta dor, dormência e/ou formigamento com uma distribuição dermatomal e/ou fraqueza no membro superior ou inferior (se cervical ou lombar, respectivamente); consiste em uma dor irradiada – quando no membro inferior, chamada de dor “ciática”; ao exame físico, encontra-se sensibilidade alterada, reflexos motores diminuídos e/ou força reduzida no membro; a ressonância magnética da coluna vertebral (ou mielograma pela TC) demonstra a compressão da raiz nervosa, porém o diagnóstico pode ser feito clinicamente. • Mielopatia espondilótica: disfunção medular causada por alterações degenerativas que estreitam o canal espinhal, mas pode ter origem um massas tumorais ou abscessos; os pacientes podem apresentar fraqueza nos membros inferiores, dificuldades na marcha ou coordenação e disfunção intestinal ou da bexiga; ao exame físico, podem estar presentes sinais neurológicos forais em membros superior e/ou inferior; o diagnóstico deve ser confirmado com a ressonância magnética evidenciando estreitamento do canal medular cervical e anormalidade do sinal. Causas não espinhais • Doença arterial coronariana: precordialgia com irradiação no pescoço, com piora aos esforços; apresenta exame físico do pescoço sem alterações. • Infecção (osteomielite, abscesso faríngeo, meningite): devem ser suspeitados se o paciente apresentar clínica de infecção, associada a alterações laboratoriais como leucocitose e elevação dos marcadores inflamatórios; nesses casos, se meningite for considerada uma suspeita, realizar a punção lombar para estudo do LCR; apresenta-se com associação de febre e outros sinais que variam conforme a natureza da infecção. • Malignidade (doença metastática da coluna cervical): perda ponderal, história prévia de câncer; ao exame físico, sensibilidade localizada à palpação da coluna. • Cefaleia tensional: cefaleia associada à dor cervical, sem outros sintomas neurológicos; ao exame, apresenta sensibilidade à palpação do couro cabeludo e/ ou pescoço. • Polimialgia reumática: dor e rigidez matinal nos ombros, quadril, pescoço e tronco; ao exame, diminuição da amplitude de movimentos, com força muscular normal. • Fibromialgia: dor musculoesquelética difusa, associada à fadiga; apresenta múltiplos pontos sensíveis em tecidos moles, sem evidência de inflamação articular ou muscular. • Condições vasculares (dissecção de artéria vertebral, carótida ou aorta): sintomas de isquemia cerebral, como déficits motores e/ou sensoriais agudos. • Etiologias viscerais: no caso da lombalgia, alguns diagnósticos diferenciais devem ser considerados, como pancreatite, nefrolitíase, pielonefrite, aneurisma da aorta abdominal ou herpes-zóster, porém nesses casos os pacientes apresentam outros sintomas associados. Quadro Clinico •Espondiloise – (osteófitos) : Cicatri óssea que gera compressão causando dor •Discopatia degenerativa: Dor ou rigidez a movimentação, em posições continuas. Diag por RM •Raiculopatia: dor irradiada ( ciática),pode haver fraqueza muscular. Diag por Clinica e Imgem •Mielopatias: Quadro neurológico, fraqueza, nível sensitivo, disfunção esfincteriana. Diag por Clinico e Imagem •Estenose Lombar : Claudicacão ( dor ao andar), geralmente idosos, melhora ao pender para frente, exame neurológico pode ser normal. Alteraçoes Musculoesqueléticas - Cervicalgia Exame Fisico • A dor é o sintoma mais comum de apresentação, apesar de serem freqüentes queixas concomitantes de cefaléia do tipo tensional. Geralmente localiza-se na parte média e inferior da região cervical posterior, podendo ser localizada ou difusa e bilateral nos casos mais severos. A dor não apresenta irradiação para os braços, porém pode se irradiar para os ombros, e se exacerba com a movimentação do pescoço. Ocorre melhora com repouso e imobilização. O exame físico revela apenas uma área de dor localizada, geralmente paravertebral. A intensidade da dor é variável, e a limitação da mobilidade cervical se correlaciona diretamente com a magnitude dolorosa. Pode ocorrer contratura sustentada do esternocleidomastóideo e do trapézio • A avaliação radiológica pode ser completamente normal, ou revelar apenas uma retificação da curvatura fisiológica da coluna cervical • Após a obtenção de uma história clínica completa, o exame físico é a próxima etapa no processo diagnóstico. • A anamnese alerta o clínico para aqueles pacientes que se apresentam com emergências e necessitam de início precoce do tratamento, que incluem portadores de lesões expansivas causando compressões agudas progressivas da medula espinhal e suas raízes (hérnia de disco) ou infecção (meningite bacteriana) (Tabela 2). • Os pacientes com compressão medular podem se apresentar com paraplegia aguda, fraqueza de extremidades inferiores, distúrbios da marcha e incontinência urinária. • Tais pacientes devem ser conduzidos de maneira multidisciplinar, com o intuito de minimizar danos permanentes às estruturas neurológicas. • Um exame físico bem conduzido minimiza os custos gerados pelas condições dolorosas cervicais, posto que tornam muitas vezes desnecessários exames de imagem e estudos eletrodiagnósticos • O exame físico da coluna cervical, como nos demais segmentos, compreende a inspeção, palpação, a mobilização ativa e passiva e manobras especiais. SINAIS DE ALERTA • Febre/calafrios • Cefaléia intensa ou dores espasmódicas em salvas •Distúrbios mental •Edema visível •Aumento ganglionar •Sangramento: ouvidos, nariz ou bucal •Distúrbios visuais, olfativos ou do paladar •Parestesias ou fraqueza muscular •Síndrome de Homer •Dor axilar •Isquemia de membros superiores •Ausência de pulsos nos membros superiores •Claudicação do braço •Atrofia em membro superior •Sinal de Lhermitte positivo •Perda Ponderal •Historia de câncer •Dor cronica Inspeção • Durante a inspeção devemos observar se existem deformidades, alterações da curvatura cervical, atitudes antálgicas, anormalidades posturais, atrofias, alterações cutâneas e sinais de traumatismos. Alteraçoes Musculoesqueléticas - Cervicalgia • Assimetrias nas escápulas devem ser observadas, podendo indicar acometimento do músculo trapézio ou discrepância nos membros inferiores. Palpação • Durante a palpação devemos verificar a presença de pontos dolorosos, contratura da musculatura paravertebral, além de alterações dos linfonodos e possíveis massas cervicais. • Deve ser realizada como rotina a palpação da tireóide e dos pulsos carotídeos. • O ligamento nucal deve ser palpado nasua totalidade, visando à identificação de possíveis sítios de dor. • A inserção occipital do músculo trapézio também deve ser cuidadosamente examinada. Mobilidade Ativa e Passiva • A mobilização ativa (feita pelo paciente) e a passiva (realizada pelo examinador) fornece a capacidade funcional do segmento cervical e a amplitude de movimento, podendo auxiliar na identificação do possível segmento cervical acometido. • No eixo sagital, a flexão e a extensão perfazem uma amplitude de aproximadamente 70°; a rotação compreende cerca de 90° para cada lado e a lateralização 45°, estando estas medidas diminuídas com a idade e na vigência de processos inflamatórios e/ou degenerativos. • Durante a anamnese e o exame físico, a presença de dor irradiada para o ombro, escápula e braço denota a necessidade de avaliação neurológica cuidadosa, com ênfase nas alterações de reflexos, presença de paresias e/ou parestesias, diminuição de força motora, e sua distribuição dermatomérica Testes Especiais Teste de Compressão: Com o paciente em posição sentada, realiza-se a compressão progressiva da cabeça. Tal manobra causa o aumento na dor cervical, em razão do estreitamento foraminal secundário, aumento da pressão na raiz acometida, sobrecarga nas facetas articulares e maior sensibilização muscular. Deve-se evitar tal manobra caso haja suspeita de instabilidade cervical. Teste de Tração: Com o paciente sentado, realiza-se uma tração progressiva da cabeça. Tal manobra promove o alívio da sintomatologia dolorosa, provocado pelo aumento do diâmetro foraminal, diminuição da compressão radicular e da tensão nas estruturas de sustentação. Teste de Valsalva: Este teste proporciona o aumento da pressão intratecal. Se uma lesão expansiva, tal como um disco herniado ou tumor está presente no canal vertebral cervical, o paciente desenvolverá dor secundária ao aumento da pressão. A dor apresenta distribuição segmentar, na dependência da raiz acometida. Anormalidades nas fossas supraclaviculares como, p.ex., aumento de linfonodos, também podem se tornar proeminentes com o teste de Valsalva. A maneira mais simples de realização deste teste consiste em solicitar-se ao paciente que faça uma expiração forçada contra a própria mão, segurando por cerca de 5 a 10 segundos. Manobra de Spurling ( RADICULAR): Demonstra possível compressão ou irritação radicular. Consiste na extensão e rotação conjuntas da cabeça para o lado acometido fazendo uma pequena compressão, resultando na reprodução ou aumento da dor radicular(12). Sinal de Lhermitte: Sensação de parestesias ou disestesias nas mãos ou pernas durante a flexão cervical. Tal sensação é mais freqüentemente causada por uma hérnia de disco volumosa com compressão medular ou por formações osteofitárias em pacientes com canal vertebral estreito. Pode ser encontrado em pacientes portadores de AR com subluxação atlantoaxial ou subaxial. Sensações similares foram descritas em pacientes com esclerose múltipla. O sinal de Lhermitte está presente em uma Alteraçoes Musculoesqueléticas - Cervicalgia grande variedade de doenças da medula, incluindo neoplasias, aracnoidite e siringomielia. Teste de Adson: Palpação do pulso radial durante a abdução, extensão e rotação externa do braço, com rotação homolateral do pescoço. A diminuição do pulso caracteriza um teste positivo, sugestivo de síndrome do desfiladeiro torácico. Diagnostico diferencial • Os pacientes apresentando queixas de dor cervical devem ser avaliados no sentido de descartarmos possíveis condições orgânicas subjacentes que podem ser responsáveis pelo seu quadro clínico, seja por meio de propedêutica clínica ou armada. São inúmeros os sinais que têm como origem a patologia cervical, podendo estes, muitas vezes, se apresentar de maneira inespecífica, dificultando o diagnóstico preciso e ampliando o espectro do diagnóstico diferencial. A presença de febre ou perda de peso é sugestiva de processo infeccioso ou tumoral. Pacientes apresentando dores que pioram na posição deitada ou durante a noite podem ser portadores de um processo infiltrativo medular ou tumoração da coluna vertebral. A presença de rigidez matinal prolongada fala a favor das espondiloartropatias soronegativas. Dor cervical localizada pode ocorrer de forma secundária a doenças sistêmicas que aumentam a remodelação óssea, como p.ex. a doença de Paget ou a uma tumoração óssea localizada (osteoblastoma). Pacientes com dor de origem visceral (coronariopatias, síndrome do desfiladeiro torácico, doenças esofagianas) apresentam sintomas que afetam outras estruturas além da coluna cervical e apresentam recorrência regular. (Tabela 5) Pacientes com dor cervical menores de 15 anos ou maiores de 60 anos devem ser avaliados de maneira mais criteriosa, sendo na maioria das vezes necessária a realização de exames de imagem e determinações laboratoriais (hematológico completo, provas de fase aguda, bioquímica óssea, etc.), pertinentes à forma de apresentação de cada caso(13). A classificação quanto ao tipo de dor cervical facilita a determinação da entidade patológica. (Tabela 6) Compressões extrínsecas em estruturas vasculares ou em nervos periféricos são as principais causas que mimetizam cervicobraquialgia e devem ser descartadas. Patologias torácicas e do ombro também devem fazer parte do diagnóstico diferencial. TRATAMENTO Alteraçoes Musculoesqueléticas - Cervicalgia • Anti-inflamatórios não-esteroidais (AINEs) são medicamentos analgésicos simples, que, junto com o paracetamol, compõem o 1o degrau da escada de dor da Organização Mundial da Saúde. Fisiologia da inflamação • A inflamação aguda é a resposta ini- • cial a lesão celular e tecidual, predo- • minando fenômenos de aumento de • • permeabilidade vascular e migração • • de leucócitos, particularmente neu- • trófilos. As manifestações externas • • da inflamação, chamadas de sinais • cardinais, são: calor (aquecimento), • rubor (vermelhidão), tumor (inchaço), • dor e perda de função. • Se a reação for intensa, pode haver • envolvimento regional dos linfonodos • • Via lipoxigenase Via ciclo-oxigenase • Fosfolipídios • • Ácido • Araquidônico • • Leucotrienos • Fosfolipase A2 • • Tromoboxanos • • Prostaglandina • • Prostaciclinas • Lipoxigenase COX 2 COX 1 • Ação dos AINES • • VIA DO ÁCIDO ARAQUIDÔNICO • • e resposta sistêmica na forma de • neutrofilia e febre, caracterizando a • reação da fase aguda da inflamação. • Todas estas respostas são mediadas • por substâncias oriundas do plasma, • • das células do conjuntivo, do endo- • télio, dos leucócitos e plaquetas, que • • regulam a inflamação e chamadas genericamente de mediadores quími- • cos da inflamação. Dentre esses me- • diadores químicos tem se destaque • • as prostaglandinas que tem ação no • aumento da permeabilidade capilar, • atuam como fatores quimiotáticos, • • atraindo leucócitos em direção ao lo- • cal da lesão ou infecção. • O principal precursor das prostaglan- • dinas é o ácido araquidônico (AA), • • que tem origem dos fosfolipídios das • membranas celulares destruídas após • • lesão celular e transformados em di- • versos ácidos pela fosfolipase, sendo • • esse evento o início base do processo • inflamatório. Os produtos derivados • do metabolismo do AA influenciam • • uma variedade de processos bioló- • gicos, incluindo a inflamação e a he- • mostasia. Os metabólitos do AA tam- • bém chamados eicosanoides podem • Alteraçoes Musculoesqueléticas - Cervicalgia • mediar praticamente cada etapa da • inflamação. • A produção dos metabólitos do ácido • araquidônico pode ser feita através • de duas vias: via ciclo-oxigenasee via • lipoxigenase. ▪Via ciclo-oxigenase: envolve duas isoformas (COX-1 e COX-2) e é responsável pela síntese das prostaglandinas (PGs), tromboxa- nos e prostaciclinas. As diferenças e particularidades entre as duas COX serão comentadas a frente, mas é importante destacar que a diferença na estrutura dessas en- zimas permitiu o surgimento de inibidores seletivos da COX-2, evi- tando a interferência com os pro- cessos fisiológicos mediados pela COX-1. ▪Via lipoxigenase: responsável pela síntese final de moléculas como os leucotrienos, porém não está diretamente relacionada à ação dos anti-inflamatórios. Farmacocinetica • A maioria dos AINEs são administra- • dos oralmente, com as exceções do • • cetorolaco e do parecoxibe (adminis- • tração intravenosa), e do diclofena- • co (administração oral, intravenosa e • • retal). • • Os AINEs compõem um grupo hete- • rogêneo de compostos, que consiste • • de um ou mais anéis aromáticos liga- • dos a um grupamento ácido funcional. • • São ácidos orgânicos fracos que atu- • am principalmente nos tecidos infla- • mados e se ligam, significativamen- • te, à albumina plasmática. Pacientes • • com hipoalbuminemia (devido, por exemplo, a cirrose ou artrite reumató- • ide ativa) têm maiores concentrações • • da forma livre da droga, que corres- • ponde à sua forma ativa. • • Sua absorção é rápida (entre 1 a 4 • • horas) e completa no sistema gas- • trointestinal, depois de administração • • oral. Não atravessam imediatamen- • te a barreira hematoencefálica e são • • metabolizados principalmente pelo Alteraçoes Musculoesqueléticas - Cervicalgia • • fígado. Os AINEs têm alta biodispo- • nibilidade devido a um limitado me- • tabolismo hepático de primeira pas- • sagem. A biotransformação é, em • • grande parte, hepática, com metabó- • litos excretados na urina. • Essencialmente, todos AINEs são con- • vertidos em metabólitos inativos pelo • • fígado e são, predominantemente, • • excretados pela urina, embora o su- • lindaco também possa ser metabo- • lizado no rim. Alguns AINEs e seus • • metabólitos têm excreção biliar. • As meias-vidas dos AINEs variam, • mas em geral podem ser divididas • • em “ação curta” (menos de seis ho- • ras, incluindo ibuprofeno, diclofenaco, • • cetoprofeno e indometacina ) e «ação • • prolongada» (mais de seis horas, in- • cluindo naproxeno , celecoxibe , me- • loxicam , nabumetona e piroxicam ). • • Os AINEs mais lipossolúveis como, • cetoprofeno, naproxeno e ibuprofeno, • penetram no sistema nervoso central • mais facilmente e estão associados • com leves alterações no humor e na • função cognitiva Mecanismo de ação • Os efeitos terapêuticos e colaterais • dos AINES resultam principalmente • • da inibição das enzimas COX, preju- • dicando, assim, a transformação final • • do ácido araquidônico em prostaglan- • dinas, prostaciclina e tromboxanos. • Há duas formas da enzima cicloxige- • nase, denominadas COX-1 e COX-2. • • A COX-1, dita como constitutiva, é • • produzida em resposta a um estímu- • lo inflamatório e constitutivamente na • • maioria dos tecidos, onde estimula • a produção de prostaglandinas que • exercem função homeostática (por • exemplo, equilíbrio hidroeletrolítico • • nos rins e citoproteção no trato gas- • trintestinal). A COX-2, em contraste, • • é induzida por estímulos inflamató- • rios, mas está ausente da maioria dos • • tecidos normais. Portanto, os inibido- • res da COX-2 foram desenvolvidos Alteraçoes Musculoesqueléticas - Cervicalgia • • com a expectativa de que eles ini- • bissem a inflamação prejudicial mas • • não bloqueassem os efeitos proteto- • res das prostaglandinas produzidas • • constitutivamente. • Entretanto, essas distinções entre os • papéis das duas cicloxigenases não • • são absolutas. Além disso, os inibi- • dores da COX-2 podem aumentar o • • risco para doença cerebrovascular e • • cardiovascular, provavelmente por- • que prejudicam a produção, pela cé- • lula endotelial, da prostaciclina PGI2, • • um inibidor de agregação plaquetária, • • mas conserva intacta a produção pe- • las plaquetas, mediada pela COX-1 • • de TXA2, um mediador de agregação • • das plaquetas. Os glicocorticoides, • que são agentes anti-inflamatórios • potentes, atuam em parte inibindo a • atividade da fosfolipase A2, inibindo, • assim, a liberação de AA dos lipídios • de membrana. • Recentemente foi descoberta uma • • variante do gene da COX-1, des- • crito como COX-3. Essa parece ser • • expressa em altos níveis no sistema • • nervoso central e pode ser encon- • trada também no coração e na aorta. • • Essa enzima é seletivamente inibida • • por drogas analgésicas e antipiréti- • cas, como paracetamol e dipirona, e é • • potencialmente inibida por alguns AI- • NEs. Essa inibição pode representar • • um mecanismo primário central pelo • qual essas drogas diminuem a dor e • possivelmente a febre. A relevância • dessa isoforma ainda não está clara. • A aspirina e os demais AINEs inibem • a síntese de PG mediante a inativação • • da COX. A aspirina acetila as isoenzi- • mas (COX-1 e COX-2) covalentemen- • te, inativando-as de forma irreversível • • e não seletiva. A maioria dos AINEs • age de forma reversível e não seletiva • sobre as mesmas enzimas. Convém • salientar que tanto a aspirina quanto • os outros AINEs não bloqueiam a via • da lipoxigenase, não inibindo, desta • forma, a produção de leucotrienos. • Portanto, os AINEs reduzem, mas • • não eliminam completamente os si- • nais e sintomas inflamatórios. Farmacodinamica e efeitos colaterais
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