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EDUCAÇÃO FÍSICA INCLUSIVA E ESPORTES ADAPTADOS Salime Donida Chedid Lisboa Atividades motoras e esportivas para pessoas com deficiências físicas e/ou motoras Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Reconhecer os elementos fundamentais da prática e do desenvol- vimento das modalidades esportivas voltadas para pessoas com deficiências físicas e/ou motoras. � Identificar as diferentes modalidades esportivas adaptadas para pes- soas com deficiências físicas e/ou motoras. � Analisar a influência das atividades motoras e esportivas para pessoas com deficiências físicas e/ou motoras. Introdução A prática de atividades físicas para indivíduos com deficiência física e/ou motora aumenta a cada dia em nossa sociedade. Essa mudança social acontece devido à conscientização e à busca de uma vida mais saudável, com bem-estar físico e psicológico para os mais diversos públicos, com as mais diversas particularidades. O esporte adaptado é um meio de reabilitação para pessoas com deficiências físicas e/ou motoras. Além disso, fornece aumento de par- ticipação social e autoconhecimento, o que possibilita ganhos na au- toconfiança, na independência diária, na prevenção de doenças, entre outros benefícios. Neste capítulo, você aprenderá sobre os elementos fundamentais para a prática e o desenvolvimento das modalidades esportivas para pessoas com deficiência física e/ou motora, e também identificará as diferentes modalidades esportivas adaptadas para essas pessoas. Dessa forma, poderá observar as influências e os benefícios que o exercício físico pode promover a esse público. 1 Elementos fundamentais de modalidades esportivas adaptadas A sociedade tem vários “pré-conceitos” em relação às pessoas com deficiências. Porém, cada vez mais se observam avanços no que diz respeito à independência desse público, que mostra, todos os dias, exemplos de superação e aumento das potencialidades. A deficiência de que vamos tratar neste capítulo é a deficiência física e/ou motora, a qual é uma limitação (desvantagem) no desempenho motor. Em geral, os problemas são de ordem cerebral ou no sistema locomotor, o que ocasiona paralisia ou mau funcionamento de membros inferiores e/ou superiores. Essas deficiências são classificadas como: devidas a distúrbios ortopédicos ou a distúrbios neurológicos; deficiências congênitas ou adquiridas; deficiências agudas ou crônicas; deficiências permanentes ou temporárias; e deficiências progressivas ou não progressivas. As causas podem ser pré-natais, perinatais ou pós-natais, e podem estar interligadas a problemas genéticos. As deficiências causadas por amputações são classificadas de acordo com sistema orgânico de origem (de ordem ence- fálica, origem espinal, ou origem muscular). As deficiências mais conhecidas são: paraplegia, paraparesia, monoplegia, tetraplegia, tetraparesia, triplegia, triparesia, hemiplegia, hemiparesia, paralisia cerebral, amputações e ostomia. Cada tipo de deficiência possui diferentes níveis, de acordo com o grau da lesão (o que foi afetado), bem como com o tipo de lesão que ocasionou a deficiência (COSTA E SILVA et al., 2013). A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 10% da população de países desenvolvidos e 12 a 15% da população de países em desenvolvimento possuem alguma deficiência. No Brasil, dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010) afirmam que 14,5% da população brasileira possuem alguma deficiência. Em busca de uma melhor qualidade de vida e de inserção social (longe de pré-julgamentos), cada vez mais pessoas com deficiências físicas e/ou motoras têm adentrado na prática de atividades esportivas adaptadas. Estas Atividades motoras e esportivas para pessoas com deficiências físicas e/ou motoras2 são quaisquer atividades ou esportes que levem em consideração todos os potenciais que o indivíduo possui, incluindo suas limitações físico-motoras e sensoriais. Assim, promove-se participação por meio de lazer, diversão e adesão à prática, utilizando o meio esportivo para alcançar avanços pessoais (aumento de potencialidades e habilidades) (AZEVEDO; BARROS, 2004). O esporte é um fenômeno mundial e sociocultural que se manifesta de diversas maneiras. O esporte adaptado mostra-se como uma possibilidade de obter sucesso em diversos objetivos (Figura 1). Ele desempenha papel fundamental na estimulação de questões físicas, psicológicas e sociais, que promovem a independência, a competição, a motivação e a relação social com outras pessoas (MELO; ALONSO LÓPEZ, 2002). O esporte adaptado teve início na necessidade de reabilitação física e mental para amenizar o tédio e o ócio hospitalar e fornecer novas possibilidades, habilidades e eficiência diária (ARAÚJO, 1997). Hoje, a prática de atividades e esportes adaptados para pessoas com deficiência física e/ou motora tornou-se uma oportunidade de ascensão social. A prática dessas atividades testa novos potenciais e limites. Ao desenvolver novas propostas, o educador deve entender as características individuais de cada praticante, além de seus aspectos físicos e psicológicos. Além disso, é de extrema importância conhecer as possibilidades esportivas, as regras e as adaptações (AZEVEDO; BARROS, 2004). Figura 1. O nadador Daniel Dias, um dos maiores atletas paralímpicos do Brasil e dono de 14 títulos e recordes mundiais. Fonte: Chuteiras Fora de Foco (2015, documento on-line). 3Atividades motoras e esportivas para pessoas com deficiências físicas e/ou motoras Mais do que diversão, o esporte adaptado pode ser uma ferramenta para ascensão social, devido à possibilidade de carreira esportiva para pessoas com deficiência física e/ou motora. O esporte paralímpico encontra-se em constante crescimento e está em contínua atualização, a fim de possibilitar melhorias ao público praticante. Pessoas com deficiência física possuem particularidades, às quais o esporte adaptado deve adaptar-se. A partir disso, sugere-se uma teoria geral na prática de esportes adaptados, tecendo considerações sobre inter-relações entre secções que convergem no esporte e possibilitando compreender os fundamentos do esporte adaptado (Figura 2). Figura 2. Fatores determinantes e influenciadores no esporte adaptado. Fonte: Adaptada de Costa e Silva et al. (2013). Atleta com de�ciência Aspectos psicológicos Aspectos sociais Aspectos da modalidade Aspectos biológicos Representatividade social do esporte para a pessoa com de�ciência Qual o per�l requerido para a prática? Como a de�ciência in�uencia? Esporte adaptado Treinamento e avaliação Aspectos �siológicos, biomecânicos, perceptomotores Atividades motoras e esportivas para pessoas com deficiências físicas e/ou motoras4 Aspectos determinantes e influenciadores no esporte adaptado Os aspectos biológicos abordados na Figura 2 buscam entender as compli- cações relativas à deficiência (fisiológicas, metabólicas e neuromusculares). Esses aspectos influenciam o comportamento do praticante de maneira direta, principalmente de ordem motora. Assim, tem-se o conhecimento geral do real impacto que a prática esportiva escolhida terá na aptidão física em questão (COSTA E SILVA et al., 2013). Estudos sobre a influência do esporte adaptado no âmbito psicológico apontam grandes melhorias, principalmente em relação à autoestima e ao autoconceito, além da promoção de valorização pessoal. É consenso que a deficiência interfere não apenas na pessoa com deficiência (relações, perso- nalidade, funcionalidade, etc.), mas também no profissional que conduzirá a tarefa esportiva, o qual deve estar capacitado para isso (DIEHL, 2008; FIGUEIRA, 2012). Antes de realizar a prática esportiva, é importante que tanto a pessoa com deficiência quanto o profissional tenham conhecimento acerca das mo- dalidades adaptadas (características excludentes, classificação funcional, regras, potencialidades, etc.) e das implicações da deficiênciados praticantes. A escolha da modalidade sempre deve ter como objetivos o autoconhecimento, a superação e a diversão. Cada modalidade possui diversas particularidades, as quais direcionarão o planejamento e a vida diária do indivíduo. Assim, cabe ao profissional ter noção da funcionalidade esportiva do indivíduo com deficiência para que este esteja apto a praticar a modalidade (COSTA E SILVA et al., 2013). O esporte, por si só, é um fenômeno que insere valores e simbolismos influenciadores da sociedade. O esporte adaptado é configurado da mesma maneira, mas, além disso, é um forte meio de inclusão social e empoderamento de pessoas com deficiência. Para essas pessoas, a prática esportiva possibilita inserção em grupos nos quais as demais pessoas com condições semelhantes têm seus feitos valorizados (COSTA E SILVA et al., 2013). Os fatores determinantes para o esporte adaptado para pessoas com defi- ciência física e/ou motora são imprescindíveis para a boa prática, mas deve-se frisar a importância da soma desses valores para atingir as várias facetas de benefícios da prática esportiva. 5Atividades motoras e esportivas para pessoas com deficiências físicas e/ou motoras 2 Modalidades esportivas adaptadas Muitas vezes, as pessoas com deficiência física são privadas de muitas opor- tunidades, situações que não são enfrentadas por pessoas que não possuem deficiências. Em relação ao esporte, as oportunidades são ainda mais restritas devido à necessidade de utilização do corpo. Então, a partir do surgimento e maior alcance dos esportes adaptados, houve o aumento de possibilidades de acesso desse público aos diversos benefícios propiciados pelo esporte (de ordem corporal, social ou psicológica). É necessário, então, que a atividade física adaptada receba adaptações e adequações estratégicas para o melhor desempenho de determinadas habilidades motoras. No cenário de políticas públicas de esporte e lazer, deve-se sempre levar em consideração que a prática de um esporte e a obtenção de lazer são direitos sociais (BRASIL, 1988). Porém, para isso, é necessária acessibilidade metodo- lógica acerca desse conteúdo, a qual é inerente também no âmbito de esportes adaptados, a fim de atender as condições específicas físicas e/ou motoras. A Associação Nacional de Desporto para Deficientes (Ande), responsável pelo desporto adaptado no País, aponta que o Brasil ainda carece de informa- ções com embasamento científico sobre esse tema. É preciso aprofundar-se para originar mais políticas públicas para essa população. Nos últimos anos, o governo federal incentivou que a educação superior ministrasse disciplinas sobre esportes adaptados, a fim de fomentar conhecimento sobre essa área (SLONSKI et al., 2013). A maioria dos esportes adaptados pode ser praticada com foco no lazer, bem como em âmbito profissional (desempenho). Em relação à aplicação dos esportes adaptados em meio escolar, é relevante uma ideologia de escola inclusiva, sem discriminações. Para isso, a aprendizagem deve ocorrer de maneira colaborativa, oferecendo igualdade e oportunidades a todos. Além disso, deve-se traçar uma estratégia para atingir o potencial de todos os alunos. O que ainda parece ser uma dificuldade para o meio escolar é a disponibilidade de materiais, bem como a formação específica de professores nessa área. Uma característica comum a todos os meios e maneiras de praticar ativida- Atividades motoras e esportivas para pessoas com deficiências físicas e/ou motoras6 des e esportes adaptados é o fato de a educação inclusiva ser um processo que necessita de dinamismo e continuidade, implicando que todos estejam envolvidos (tanto o praticante quanto o professor). Logo, a disponibilidade de profissionais qualificados é de extrema importância, para que seja transmitida, ao aluno, a boa prática de exercícios físicos, bem como respeito e segurança (CUNHA, 2013). São diversas as modalidades adaptadas que podem ser praticadas. As mais conhecidas são descritas a seguir. Esportes individuais: esses esportes, como o próprio nome diz, são praticados por um atleta sozinho, não dependendo de outra pessoa para serem praticados. Eles proporcionam muito entretenimento e auxiliam na motivação diária de superação de suas próprias conquistas. Além disso, há maior aprimoramento de habilidades próprias e do esporte em questão. Natação adaptada: os exercícios em meio aquático tiveram seu início objeti- vando ser uma terapia para indivíduos reumáticos ou pessoas com problemas no sistema locomotor, antes mesmo da Primeira Guerra Mundial. Então, na Segunda Guerra Mundial, a natação adaptada surgiu como um elemento tera- pêutico para pessoas amputadas, bem como para pessoas com algum trauma psicológico. Essa modalidade está presente nos Jogos Paralímpicos desde a primeira edição (em Roma, Itália, no ano de 1960). Ela serve de auxílio no ganho de independência diária, além de ser extremamente completa, estimu- lando todas as partes do corpo (Figura 3). Existem competições nos quatro estilos oficiais: peito, costas, livre e borboleta, com distâncias de 50 a 800 m. As regras, em geral, são semelhantes às da natação tradicional, com adaptações nas largadas, viradas e chegadas das provas. A classificação do esporte é feita com base nas deficiências de cada praticante (S1, SB1, SM1 a S10, SB9, SM10). As provas oficiais podem ser individuais ou em equipe (SILVA; OLIVEIRA; CONCEIÇÃO, 2005). A metodologia de ensino da natação adaptada segue o mesmo ensino da natação tradicional (adaptação ao meio líquido/ensino dos nados/aperfeiçoamento/treinamento) (ARAUJO; SOUZA 2009). 7Atividades motoras e esportivas para pessoas com deficiências físicas e/ou motoras Figura 3. Natação adaptada. Fonte: Jose Luis Carrascosa/Shutterstock.com. Atletismo adaptado: a prática do atletismo adaptado teve seu início no século XX (por volta de 1920), por pessoas com deficiência física após a Segunda Guerra Mundial, mostrando-se uma possibilidade de reabilitação para ex- -combatentes. Desde 1960, o atletismo adaptado é oficialmente um esporte paralímpico. É considerado a modalidade mais praticada dos Jogos Paralímpi- cos (por ser destinada a todos os tipos de deficiências) (Figura 4). O atletismo para pessoas com deficiências físicas e/ou motoras é subdividido em provas de 100 m, 200 m, 400 m, 800 m, 1.500 m, 10.000 m, 4 × 100 m, 4 × 400 m, lançamento de dardo, lançamento de disco, maratona, pentatlo, arremesso de peso, salto triplo, salto em distância e salto em altura. Uma das especificida- des do atletismo adaptado é a necessidade de avaliar o grau de deficiência e, assim, computar uma pontuação para cada atleta. Os atletas são classificados de acordo com a sua funcionabilidade. Sendo assim, as classificações são baseadas na classe (F) e nas provas de pista (T), com o número indicando o tipo e o grau da deficiência (FERREIRA et al., 2018). Atividades motoras e esportivas para pessoas com deficiências físicas e/ou motoras8 Figura 4. Atletismo para pessoas com deficiência física. Fonte: sportpoint/Shutterstock.com. Esgrima adaptada: a esgrima adaptada foi aplicada originalmente pelo alemão Ludwig Guttman. A adaptação da esgrima tradicional foi destinada inteiramente a pessoas que utilizam cadeiras de rodas (Figura 5). A modali- dade é disputada desde a primeira edição dos Jogos Paralímpicos. A disputa da esgrima adaptada ocorre em cadeiras de rodas que ficam fixas no chão (com um suporte metálico) em uma pista para o duelo que possui 4 metros de comprimento, feita de material antiderrapante. Os duelos ocorrem com a utilização de florete, sabre ou espada. Nas competições oficiais, ganha quem realizar 15 toques válidos ou realizar o maior número de toques ao final do combate. A classificação para a prática é decorrente do grau de deficiência (classe 1A, 1B, 2, 3, 4 e limitações mínimas) (NAZARETH, 2009). 9Atividades motoras e esportivas para pessoas com deficiências físicas e/ou motoras Figura5. Esgrima para pessoas com deficiência física. Fonte: UfaBizPhoto/Shutterstock.com. Esportes coletivos: esses esportes têm, como característica, os sistemas ofensivo e defensivo. Para isso, são necessários vários praticantes, que formam uma equipe. Esses esportes auxiliam na inserção social em grupos, com maior socialização. Além disso, há maior aprimoramento de habilidades inerentes à sua prática. Basquete adaptado: assim como aconteceu com outros esportes adaptados, essa modalidade surgiu nos anos 1940, com o objetivo de reintegrar soldados feridos da Segunda Guerra Mundial (REDE NACIONAL DO ESPORTE, 2016a). Diretamente, para pessoas que possuem dificuldade em locomover- -se, na prática desse esporte há necessidade de adaptação para utilização de cadeira de rodas (que são padronizadas) (Figura 6). É muito semelhante ao basquete tradicional. A quadra mede 18 metros de comprimento e 15 metros de largura. O jogo é disputado por um total de 6 jogadores em quadra, em 2 períodos compostos por 20 minutos. Ao final do tempo, ganha a equipe com maior pontuação. Os praticantes são classificados de acordo com o nível de comprometimento físico-motor (escala de 1–4,5). Sendo assim, quanto maior for o nível de comprometimento, menor será a classe. Dessa forma, a soma Atividades motoras e esportivas para pessoas com deficiências físicas e/ou motoras10 dos números da classificação em equipe não pode ultrapassar 14 (TEIXEIRA; RIBEIRO, 2006). Figura 6. Basquete adaptado, uma ótima modalidade a ser praticada. Fonte: marino bocelli/Shutterstock.com. Vôlei sentado: o vôlei sentado surgiu inicialmente da união do vôlei tradi- cional com um esporte alemão, o Sitzbal (o qual é praticado por pessoas com pouca mobilidade). A partir da união dessas modalidades, surgiu, em 1956, a versão adaptada do vôlei. Também chamado de voleibol adaptado, é um esporte adaptado que possibilita fortemente a integração social. Apesar de ter diversas semelhanças com o voleibol tradicional, possui algumas parti- cularidades para propiciar um jogo dinâmico, como modificações na quadra, somente um jogador em cada equipe com “inabilidade mínima”, não é possível fazer pontos sem estar sentado, etc. (Figura 7). Sua classificação é baseada na amputação (AK — above knee, amputação acima ou através da articulação dos joelhos; BK — below knee, amputação abaixo do joelho ou através da articulação talocalcânea; AE — above elbow, amputação acima ou através da articulação do cotovelo; BE — below elbow, amputação abaixo do cotovelo, mas através ou acima da articulação do pulso; e demais combinações, que 11Atividades motoras e esportivas para pessoas com deficiências físicas e/ou motoras variam de combinações das anteriores) (REDE NACIONAL DO ESPORTE, 2016b). Os sets são compostos por 25 pontos corridos. O primeiro time a vencer 3 sets vence a partida. Figura 7. Vôlei sentado. Fonte: Pukhov K/Shutterstock.com. Rúgbi adaptado: também chamado de quad-rugby, é destinado para indiví- duos que possuem deficiência em 3 membros (lesão medular) ou 4 membros (amputação), sendo assim tetraplégicos. Os participantes são classificados de acordo com a habilidade funcional (em sete classes, que variam de 0,5–3,5). As classes de maiores valores são atribuídas a pessoas com maiores níveis funcionais, e as classes de menores valores, para menores níveis funcionais. Os criadores foram o professor de arquitetura Ben Harnish (da University of Manitoba) e dois atletas em cadeiras de rodas (Duncan Campbell e Gerry Terwin). É uma modalidade mais recente, pois foi inserida nos Jogos Para- límpicos em 1996. É praticado em cadeira de rodas (Figura 8), e, assim como a modalidade tradicional, há muito contato físico, não sendo dividido por gênero (CAMPANA et al., 2011). Atividades motoras e esportivas para pessoas com deficiências físicas e/ou motoras12 Figura 8. Rugby adaptado, também conhecido como quad-rugby. Fonte: Rob van Esch/Shutterstock.com. Além dos esportes citados, há possibilidade de adaptação de muitos outros — basta haver profissionais qualificados, conhecimento e motivação. O ponto que merece relevância é que o praticante nunca deve parar de se exercitar. A prática esportiva tem grande importância para o bom andamento físico. Por meio da prática de esportes, também são proporcionados, às pessoas com deficiência, o desenvolvimento lúdico e prazeroso e a integração com a sociedade. Para mais informações sobre os esportes citados neste capítulo e demais possibilidades esportivas, acesse o site do Comitê Paralímpico Brasileiro. Lá são disponibilizadas cartilhas de regras e adaptações, bem como notícias sobre campeonatos. 13Atividades motoras e esportivas para pessoas com deficiências físicas e/ou motoras 3 Benefícios da prática esportiva para pessoas com deficiência física e/ou motora O esporte adaptado pode dar sentido à vida de pessoas com deficiência física. A necessidade de incentivar a prática de atividade física por pessoas com deficiência é crescente por desempenhar um papel importante na percepção de competência e identidade pessoal. Praticar esportes é uma forma de autoconhe- cimento e de promoção social por meio da possibilidade de redescobrimento da vida, apesar das limitações físicas e/ou motoras, auxiliando no aprendizado de novas habilidades (COSTA E SILVA et al., 2013). O esporte para pessoas com algum tipo de deficiência iniciou-se como uma tentativa de colaborar no processo terapêutico delas e logo cresceu e ganhou muitos adeptos. Atualmente, mais do que terapia o esporte para esta população caminha para o alto rendimento e o nível técnico dos atletas impressiona cada vez mais o público e os estudiosos da área de Educação Física (GORGATTI; COSTA, 2008, p. 532). A oportunidade de praticar um esporte ou atividade parece promover melhoras na qualidade de vida das pessoas com deficiência, sendo uma grande oportunidade de testar novos potenciais e limites. O processo de reabilitação diária das pessoas com deficiências físicas e/ou motoras é um processo que requer capacidade adaptativa em diferentes âmbitos e fases da vida. Essa reabilitação é a interligação da melhora física com a melhora de convívio social, assegurando que a pessoa com deficiência (independentemente das dificuldades locomotoras) terá ampla participação da vida, podendo desfrutar de todos os seus prazeres (MELO; ALONSO LÓPEZ, 2002). O incentivo da participação em atividades adaptadas recebe atenção por oferecer oportunidade de experimentação de sensações e movimentos cor- porais que são geralmente impossibilitados pelas limitações causadas pelas deficiências físicas. Um dos maiores benefícios que podem ser proporcionados a esse público é a inclusão social, que muitas vezes é alcançada somente por meio do esporte adaptado (LABRONICI et al., 2000). A inclusão social envolve todas as esferas da sociedade, unindo corpos fora dos “padrões de normalidade” (seja física, comportamental e socialmente), que precisam de superação e novas visões e compreensões do que é visto como normalidade para, assim, alcançar aceitação (COSTA E SILVA et al., 2013). Atividades motoras e esportivas para pessoas com deficiências físicas e/ou motoras14 Muitas pessoas com deficiência física e/ou motora beneficiam-se da prática de atividades físicas ou esportes adaptados. Por meio de acessibilidade em espaços, materiais, regras e habilidades, os principais benefícios alcançados estão nos âmbitos físico e psicológico. Os benefícios físicos dizem respeito ao amplo desenvolvimento físico possibilitado pela prática de atividades ou esportes adaptados, apesar da limitação locomotora. Variáveis como agilidade, coordenação motora, força e resistência muscular são abrangidas na prática de todos os esportes. Evoluções são notadas no que se refere a alterações orgânicas, como sistemas circulatório, digestório, respiratório, reprodutor, muscular e ósseo. Além disso, previnem- -se outras enfermidades e doenças crônicassecundárias à deficiência física (COSTA E SILVA et al., 2013; GORGATTI; COSTA, 2008). Os benefícios psicológicos são diversos, e grande parte vem do aumento de integração social. A partir da reinserção na sociedade, atingem-se melhoras na autoestima e afastam-se sintomas depressivos, ansiedade e agressividade. Além disso, pode ser alcançada motivação para novas atividades, perspectiva de futuro e independência emocional (COSTA E SILVA et al., 2013; GOR- GATTI; COSTA, 2008). Porém, mesmo sabendo dos benefícios, é imprescindível respeitar as li- mitações resultantes de todas as adaptações necessárias de regras, espaços e materiais, visando aos objetivos de cada pessoa. Além disso, seguir as normas de segurança e conhecer as particularidades de cada deficiência e as regras dos esportes facilitam o total aproveitamento do potencial de cada indivíduo (COSTA E SILVA et al., 2013). A prática de atividades físicas e/ou esportes adaptados demonstrou ter forte influência (positiva) no dia a dia de pessoas com deficiências físicas e/ou motoras. Devido à conscientização acerca do poder de superação das pessoas com deficiência, cada vez mais o esporte adaptado tem sido buscado por esse público, bem como apoiado por países e governantes. Neste capítulo, aprendemos mais sobre diversas modalidades de esportes adaptados individuais e coletivos que podem ser praticados como lazer ou para alto desempenho, observando que o indivíduo com deficiência sempre é favorecido com melhorias físicas, psicológicas e sociais. Assim, é interessante incentivar a prática desses esportes e atividades, com os devidos cuidados quanto às limitações, bem como regras e adaptações que devem ser aplicadas. 15Atividades motoras e esportivas para pessoas com deficiências físicas e/ou motoras ARAÚJO, P. F. Desporto adaptado no Brasil: origem, institucionalização e atualidade. 1997. Tese (Doutorado em Educação Física) — Programa de Pós-Graduação em Educação Fí- sica, Faculdade de Educação Física, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 1997. ARAUJO, L. G.; SOUZA, T. G. Natação para portadores de necessidades especiais. EF- Deportes: Revista Digital, Buenos Aires, v. 14, n. 137, 2009. 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