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EDUCAÇÃO FÍSICA INCLUSIVA E ESPORTES ADAPTADOS Cintia Costa Medeiros Martins Educação física e esportes adaptados: relação com as deficiências Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Identificar a relação entre a educação física escolar e os esportes adaptados. � Analisar os esportes adaptados de acordo com as diferentes defici- ências encontradas no ambiente escolar. � Reconhecer a cultura corporal como eixo de ligação entre educação física e esportes adaptados. Introdução O desporto adaptado surgiu como um importante meio para a reabilitação física, psicológica e social para pessoas com algum tipo de deficiência. Ele é composto por adaptações e modificações em regras, materiais e locais para as atividades, possibilitando a participação das pessoas com deficiências nas diversas modalidades esportivas (DUARTE; LIMA, 2003). Também pode ser definido como esporte modificado ou especialmente criado para ir ao encontro das necessidades únicas de indivíduos com algum tipo de deficiência (GORGATTI; COSTA, 2005). A oportunidade da prática desportiva para pessoas com deficiência é de extrema eficácia para a promoção da sua qualidade de vida: “[…] é a oportunidade de testar seus limites e potencialidades, prevenir as enfermidades secundárias a sua deficiência e promover a integração social do indivíduo [...]” (SANTOS et al., 2017, p. 120). A reabilitação é um processo que diz respeito ao desenvolvimento humano e às capacidades adaptativas nas diferentes fases da vida. Ela abrange os aspectos funcio- nais, psíquicos, educacionais, sociais e profissionais. 1 A relação entre a educação física escolar e os esportes adaptados O esporte adaptado é o esporte voltado às populações que necessitam de um atendimento diferenciado, como as grávidas, os cardíacos, os transplantados e a terceira idade, não apenas às pessoas incluídas nos grupos com deficiência motora, sensorial ou mental. Aqui, abordaremos o esporte adaptado voltado a pessoas com deficiência, mais especificamente, a deficiência física, público- -alvo das paralimpíadas. Iniciaremos definindo o que é deficiência, utilizando a legislação como base. Deficiência é considerada a “[…] restrição física, mental ou sensorial, de natureza permanente ou transitória, que limita a capacidade de exercer uma ou mais atividades essenciais da vida diária, causada ou agravada pelo ambiente econômico e social [...]” (SILVA, 2018, p. 100). A proposta de realizar uma transposição didática do tema da cultura corporal esporte adaptado para a escola e sistematizá-lo no espaço escolar pressupõe discutirmos a sua legitimidade enquanto conteúdo. Para tanto, apresentamos as principais definições sobre os conteúdos de ensino e suas possibilidades, inicialmente, no âmbito geral e, depois, na área da educação física. Além disso, serão utilizadas, como base, as dimensões dos conteúdos propostos por Coll et al. (2000), a fim de traçarmos um entendimento de como o esporte adaptado transposto para as aulas de educação física alcança sentido pedagógico. Pensamos nos objetivos a serem alcançados do ponto de vista conceitual, procedimental e atitudinal e tendo como eixo as questões ligadas ao processo de inclusão (COLL et al., 2000). Diversos esportes passaram a ter suas regras adaptadas para possibilitar às pessoas com deficiência a sua prática e treinamento. Assim, a utilização de termos diferenciados são explicitados por Araújo (1998). O autor define o termo “atividade adaptada” utilizando as palavras de Rodrigues (1996 apud ARAÚJO, 1998, p. 18–19): Este termo parece sugerir que a atividade é estandardizada e que, para ser praticada por pessoas com deficiência necessita ser adaptada. Esta lógica funciona, por exemplo, para referir ao basquete em cadeira de rodas, mas será que verdadeiramente a podemos usar com, por exemplo, a boccia, que foi criado exclusivamente para pessoas com paralisia cerebral? Talvez sim, dado que o termo adaptação tem também conotação que se identifica com a manipulação de variáveis ecológicas. A atividade, os materiais, os estilos de ensino, os enquadramentos, etc., tem que ser adaptados porque a pessoa tem menos possibilidade de adaptação. Adaptar uma atividade, em sentido Educação física e esportes adaptados: relação com as deficiências2 lato, pode ser, pois, construir uma atividade para um objetivo definido — por exemplo, desenvolver a consciência corporal. Adaptação ou usando um termo mais genérico — a adaptabilidade pode se referir a modificações numa atividade padronizada. Referente a um desporto, pode criar um envolvimento específico de atividade não padronizada e pode ainda criar um contexto com objetivos claramente terapêuticos ou reeducativos. Assim, percebe-se que a atividade adaptada pode acontecer diariamente e não apenas para as pessoas com deficiência, mas em todos os momentos e para todos os grupos que apresentarem necessidade de modificações das atividades ou de materiais para possibilitar sua execução. Outro termo definido é o desporto adaptado, que pode ser entendido como: […] experiências esportivas modificadas ou especialmente designadas para suprir as necessidades especiais de indivíduos. O âmbito do esporte adap- tado inclui a integração de pessoas portadoras de deficiência com pessoas “normais”, e lugares nos quais se incluem apenas pessoas com condição de deficiência (WINNICK, 1990 apud ARAÚJO, 1998, p. 18). Nesse conceito, estão incluídas as modalidades que são baseadas em es- portes existentes e conhecidos, em que ocorrem adaptações de regras para que essas modalidades possam ser praticadas por pessoas com deficiência. Além disso, são incluídos esportes que foram criados exclusivamente para a população com deficiência (ARAÚJO, 1998). Entende-se, assim, que o esporte para a pessoa com deficiência, seja ele adaptado de uma modalidade já existente ou criado exclusivamente para a prática de um determinado grupo, passa a integrar o tema esporte, entendido como um fenômeno que influencia a sociedade e por ela é influenciado. Dessa forma, o esporte praticado pelas pessoas com deficiência pode integrar os temas trabalhados no esporte no âmbito escolar, passando a compor o currículo da educação física escolar. 3Educação física e esportes adaptados: relação com as deficiências As práticas esportivas adaptadas no Brasil tiveram início após o ano de 1950, quando o carioca Robson Sampaio de Almeida fundou o Clube do Otimismo e o paulista Sérgio Serafim Del Grande fundou o Clube dos Paraplégicos. Eles tornaram-se pessoas com deficiência em razão de acidentes e procuraram reabilitação nos Estados Unidos. Após a participação em diversas modalidades esportivas como parte integrante do programa de recuperação, retornaram ao Brasil e fundaram instituições com o objetivo de auxiliar na recuperação de outras pessoas com deficiência. 2 Os esportes adaptados e as diferentes deficiências encontradas no ambiente escolar O esporte adaptado integra os temas tratados pela educação física e, por anos, foi o principal meio utilizado na escola regular para encontrar talentos em modalidades convencionais. Na área, entende-se o esporte de forma ampla, com influências em diferentes âmbitos da sociedade. Ao pensar no esporte como fenômeno social, o esporte para pessoas com deficiência, adaptado ou criado para essa população, apresenta-se como uma vivência dentro desse tema. Dessa forma, percebe-se que a evolução da área da educação física deve-se à tentativa de englobar os mais diferentes públicos, oportunizando desde a vivência até o treinamento das diferentes atividades que compõem os conhecimentos que a educação física oferece (DARIDO, 2003). No âmbito escolar, discussões acerca da disciplina educação física ocu- pam-se de quais temas devem ser tratados nos anos escolares. A educação física escolar foi um momento excludente dentre as disciplinas desse espaço (DARIDO, 2003). Após apredominante busca pelo corpo perfeito, o esporte passou a dominar o discurso daqueles que determinavam os conteúdos a serem trabalhados nas escolas. O argumento vigente foi a necessidade de buscar talentos esportivos para representar o Brasil em competições. Então, a edu- cação física escolar passou a contar com aulas de esportividades, porém, não com o intuito de aprender sobre as modalidades e o fenômeno esporte, e sim aprender os gestos técnicos necessários para se tornarem atletas (SALERNO; ARAÚJO, 2008). Educação física e esportes adaptados: relação com as deficiências4 A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) não deve ser considerada como um modelo, mas como referência para as escolas, os municípios e os estados elaborarem seus currículos e oferecerem, aos professores, referenciais de conteúdos que devem ser incluídos nas aulas, bem como aspectos a serem privilegiados na prática educacional, respeitando as características de cada sociedade. Sobre esse assunto, Boscatto, Impolcetto e Darido (2016) afirmam que as peculiaridades regionais devem ser valorizadas quando os currículos forem elaborados. Porém, observa-se que, embora a BNCC tenha sido elaborada com uma proposta de formação reflexiva, promoção da cidadania e avanço social relacionada às competências e às dimensões do conhecimento, “[...] quando priorizadas pela base revelam uma realidade que pode ser divergente e que se aproximam do ensino em conformidade com os paradigmas tradicionais [...]” (ALVARENGA; GUERRINI; ROCHA, 2018, p. 27). A educação física na BNCC não contempla as necessidades da sociedade contemporânea e as considera um retrocesso quanto à formação crítica e autônoma dos alunos. Apesar das orientações para a elaboração dos currículos, ela não possui emba- samento teórico fortalecido para sustentar as propostas que apresenta, já que a BNCC continua a definir a educação física como componente curricular a partir de práticas corporais em diversas formas de codificação e significado social (BRASIL, 2017) relacionadas ao ensino tradicional. Para Alvarenga, Guerrini e Rocha (2018), o documento reflete desequilíbrio na construção do conhecimento em relação às práticas corporais quanto à apropriação e à construção do conhecimento científico, com as observações, vivências e gestos de essencial importância para a participação do professor. Este deve promover o equilíbrio entre os conhecimentos teóricos e práticos, para que as relações sejam construídas e reconstruídas. Quanto à inclusão da pessoa com defici- ência nas aulas de educação física, não há menção da BNCC especificamente. A BNCC cita que deve haver compromisso com alunos com deficiência, reconhecendo as práticas inclusivas, em especial, quanto à existência de currículos diferenciados para o atendimento dessa demanda (BRASIL, 2017). A BNCC apresentou um tímido avanço ao tentar sugerir ideias na elaboração dos currículos educacionais, carecendo de bases teóricas mais consistentes para promover o desenvolvimento educacional. No caso da educação física, são necessárias a inclusão de conhecimentos científicos, observações específicas e vivências e, principalmente, a mediação do professor — ponto fundamental para o equilíbrio entre teoria e prática. 5Educação física e esportes adaptados: relação com as deficiências A dança na deficiência visual A deficiência visual é a redução ou a perda total da capacidade de ver com o melhor olho, mesmo após a melhor correção óptica. Para ser considerada uma pessoa com alguma deficiência visual, esta deverá ter um comprometi- mento em relação à acuidade visual e seu campo de visão restrito (DIEHL, 2006). Pode-se dividir a deficiência visual em cegueira e visão subnormal, que serão determinadas por meio de um procedimento específico utilizado pelos médicos oftalmologistas, chamado de acuidade visual (BICAS, 2002; CAZÉ; OLIVEIRA, 2008). A dança auxilia e traz benefícios, tanto físicos como sociais, para quem a pratica. Estudos revelam que a dança interfere na postura, melhora a agilidade e a flexibilidade, possibilita melhorias no equilíbrio corporal e na coordenação motora. Além disso, proporciona autoconfiança, desenvolve a expressão e a consciência corporal e promove a melhora da orientação e da mobilidade, o que auxilia no cotidiano e na vida em sociedade (CINTRA, 2002; DIEHL, 2006; FIGUEIREDO; TAVARES; VENÂNCIO, 1999). Alguns estudos mostram que a dança promove, aos cegos, a melhoria de suas capacidades físicas e habilidades motoras, propicia uma vida mais ativa e independente, possibilita uma melhor noção de espaço e consciência corporal. Assim, são promovidos novos padrões motores, que possibilitam novas apren- dizagens e aquisição da autonomia. Além disso, a dança auxilia na melhora da socialização e da realização pessoal (BRAGA et al., 2002). Portanto, ao estimular os componentes da capacidade funcional, a dança torna-se também um instrumento de inclusão social, e a autonomia e a independência propor- cionam uma participação mais ativa em sociedade (SEBASTIÃO et al., 2008). As pessoas com deficiência visual utilizam mecanismos de adequação à vida que, segundo Hoffmann (1999), possibilitam-lhes realizar atividades básicas, e também auxiliam no seu desenvolvimento ao lazer, à saúde, à educação e ao trabalho, o que sustenta sua autonomia. Devem ser feitas adaptações necessárias e específicas para que se desenvolvam suas atividades da vida diária com autonomia, independência e produtividade. Hoffmann (1999) afirma que o aprendizado de deslocamentos com orientação e mobilidade e da informação escrita por meio do sistema Braille assume posição relevante dentro da reabilitação desses indivíduos. Para o deslocamento e a mobilidade nos espaços, utiliza-se a orientação de bengala, cão-guia ou guia vidente. O meio mais utilizado é a bengala de Hoover (assim denominada com o nome do médico que a desenvolveu), que é compreendida, pelos indivíduos cegos, Educação física e esportes adaptados: relação com as deficiências6 como uma extensão de seu corpo, possibilitando o deslocamento e a melhora de sua autonomia. Deficiência auditiva e o processo educacional nas aulas de educação física A deficiência auditiva é um tipo de privação sensorial, cujo sintoma comum é uma reação anormal diante do estímulo sonoro (GAGLIARDI; BARRELLA, 1986). A surdez é, portanto, caracterizada pela perda, maior ou menor, da percepção normal dos sons, havendo vários tipos de deficiência auditiva, em geral classificadas de acordo com o grau de perda da audição. Esta perda é avaliada pela intensidade do som, medida em decibéis (dB), em cada um dos ouvidos (MARCHESI, 1996). Quanto à população de pessoas com deficiência auditiva nas escolas, embora não se tenha uma estatística geral, sabe-se que é grande a incidência de casos de surdez. O Censo Escolar/2004 computou 62.325 crianças surdas matriculadas nas escolas de todo o Brasil — um au- mento considerável de alunos com essa deficiência. Para uma pessoa surda, sua limitação fundamental seria a percepção do som, o que pode ou não prejudicá- -la de diferentes maneiras, mas não se devem associar outras deficiências a priori. A influência estará mais ligada à época em que ocorreu a surdez e à profundidade, sendo que, no caso de surdez congênita, a criança já nasce com a deficiência (INEP, 2005). Segundo o documento que orienta o Programa Educação Inclusiva: Direito à Diversidade do Ministério da Educação e Cultura (BRASIL, 2003) e de acordo com Aranha (2003), a surdez leve/moderada é a perda auditiva de 25 a 70 dB. Há necessidade do uso de aparelho de amplificação sonora individual e/ou implante coclear, bem como de acompanhamento especializado. A pessoa com essa surdez, em geral, utiliza naturalmente a Língua Brasileira de Sinais como primeira língua e o português como segunda língua — bilinguismo (BRASIL, 2003). No caso da surdez severa, é mais frequente a dificuldade na coordenação motora, na noção espaço-temporale no equilíbrio — psicomotricidade. Nesse contexto, a prática de atividade física é de extrema importância para um bom desenvolvimento motor da criança com deficiência auditiva (MARCHESI; PALÁCIOS; COLL, 1995; WINNICK, 2004). O que de fato determina o desempenho de cada criança é sua história, e, sem dúvida, o professor e a escola terão papel decisivo na realização do aluno. Outro fator importante está associado ao fato de os pais serem ou não surdos (OLIVEIRA, 2002). Assim, o déficit auditivo constitui um fator importante, pois acarreta problemas que 7Educação física e esportes adaptados: relação com as deficiências vão além do comprometimento de fala, percebendo-se, em alguns casos, atrasos no desenvolvimento cognitivo e social. Entretanto, a surdez, mesmo afetando algumas experiências de vida, não limita a inteligência, a capacidade emocional ou o desenvolvimento e a maturação normais. Esses aspectos mantém certa sintonia com o desenvolvimento de crianças ouvintes (SANTOS et al., 2017). A problemática fundamental deste trabalho é identificar como se dá a participação do aluno com deficiência auditiva do ensino fundamental nas aulas de educação física, verificar como a formação dos professores dessa disciplina tem influenciado a inclusão das pessoas com deficiências em suas aulas e o que eles têm feito para se adequarem a essa realidade. Por fim, a intenção também é averiguar o quanto as instituições e os gestores das escolas estão preocupados com o que preconiza o Ministério da Educação (MEC), por meio das Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica, Resolução CNE/CEB nº. 2/2001, no artigo 2º, o qual determina que os sistemas de ensino matriculem todos os alunos. Nesse sentido, cabe à escola organizar- -se para dar a todos os alunos uma educação de qualidade (BRASIL, 2001). Para conhecer mais sobre os níveis de atividade física para deficiência auditiva, leia o artigo Níveis de atividade física: um estudo comparativo entre adolescentes surdos e ouvintes, de Andrade e Castro (2017). Esgrima e o esporte adaptado para pessoas com deficiência física Muitos esportes adaptados derivam de suas respectivas modalidades con- vencionais, e a esgrima adaptada também se enquadra nesse grupo. Ela foi introduzida já na primeira edição das paralimpíadas, em Roma, no ano de 1960 e, apesar de ser um dos esportes mais antigos, só chegou ao Brasil em meados de 2000 (CPB, 2016). Mais conhecida como esgrima em cadeira de rodas, esse esporte nada difere da esgrima convencional (nome dado às modalidades esportivas para pessoas ditas “normais”, i.e., sem deficiências), exceto pelo deslocamento e pelas categorias. Em relação ao deslocamento, o esgrimista pode deslocar-se com movimentos de pés em ações como marchar, Educação física e esportes adaptados: relação com as deficiências8 romper, usar o passo duplo para a frente e para trás, dar saltos, etc. O esgrimista paralímpico pode deslocar apenas o tronco. Ele fica sentado sobre a cadeira de rodas, que é fixada a um aparelho colocado sobre a pista, chamado de fixador, próprio para essa finalidade. Ou seja, a cadeira não se move, nem o esgrimista sai dela — ele faz apenas movimentos com o tronco para a frente (movimento chamado de afundo) e reclina-se para trás (movimento denominado recuo). As habilidades desenvolvidas com a prática da esgrima, segundo a Con- federação Brasileira de Esgrima (2016), geram inúmeros benefícios. Entre eles, pode-se destacar a melhora no equilíbrio, na acuidade visual, no desen- volvimento motor, na percepção corporal e na capacidade de agilidade, e o aumento da força de explosão, da resistência, da capacidade de concentração e da autoconfiança e da autoestima. Na esgrima adaptada, esses benefícios são de suma importância para o indivíduo, visto que, quando bem desenvolvidos, fornecem ao praticante um ganho que modifica toda a sua estrutura de vida. Devido a algumas de suas limitações, implicadas pela deficiência física, pode haver perda significativa de massa muscular, perda de equilíbrio, instabilidade corporal, aparecimento de lesões como as escaras e uma série de agravantes. Além disso, há implicações emocionais e psicológicas, presentes desde a descoberta ou obtenção de sua deficiência até a fase de aceitação, as quais podem, em alguns casos, estar presentes pelo resto da vida (PANZIERA; FRAGA; CARVALHO, 2016). A prática lúdica de esgrima proporcionou para as crianças de uma escola estudada um aprendizado motor, melhorou a condição física delas e potencia- lizou suas capacidades de equilíbrio, força, resistência, agilidade e disposição. Destaca-se também o ganho psicossocial, onde a criança se relaciona com outros indivíduos de mesma idade, com características de vidas cotidianas parecidas, de realidades aproximadas devido às deficiências e nisso há a possibilidade de trocar informações e evoluir no conhecimento sobre a própria deficiência e suas habilidades e restrições. O avanço cognitivo no aprimoramento do raciocínio rápido e do reflexo aguçado. Para tal, destaco apenas, que não se realizou nenhum teste neste meio, para que se pudesse considerar ganhos ou perdas com base científica. Apenas se entende, por meio da percepção do trabalho realizado, da intervenção nas aulas e da preparação das atividades e conteúdo, bem como pela elaboração de todo contexto em si, para que a escolinha ganhasse vida, de que tais benefícios aqui citados são totalmente visíveis, e que o comportamento e aderência das crianças às aulas de esgrima adaptada direcionou todo entendimento a respeito das ações aqui relatadas (PANZIERA; FRAGA; CARVALHO, 2016). 9Educação física e esportes adaptados: relação com as deficiências A capoeira nas deficiências intelectuais A capoeira angola é um jogo repleto de rituais ancestrais, de caráter não com- petitivo em si. Ela é uma prática de resistência a qualquer forma de opressão, mesmo dentro da própria capoeira; sendo assim, o desafio é perceber de que forma ela pode contribuir para a construção de um ser autônomo. Para Silva e Ferreira (2012), a dialogia corporal dos seres humanos é um processo social de interação do próprio corpo com o dos outros, que, na capoeira, configura-se na interação do indivíduo com a forma específica de lidar com esse mecanismo, tensionando os vários corpos ao mesmo tempo de forma diferente, o que possibilita várias leituras em uma dinâmica radical. Segundo os autores, esse processo forma a corporeidade do indivíduo capoeirista. Assim, as experiências corporais vividas em conjunto nas relações da roda de capoeira proporcionam tensões, criando problemas a serem superados. Como um instrumento de ação e luta (no sentido de resistência e perseverança), a capoeira é uma prática que transita entre a arte e a luta (no sentido marcial), em uma perspectiva de atividade física e defesa pessoal. Porém, quando exclusiva ou fortemente contextualizada como prática esportiva, tem seu potencial libertário afetado de maneira negativa (CESSE NETO; MORAES, 2011). Portanto, a prática esportiva como instrumento educacional visa ao desen- volvimento humano e capacita o sujeito a lidar e desenvolver suas competências, além do fato de o esporte ser um instrumento pedagógico. O esporte está, cada vez mais, revolucionando as escolas do País. A primeira preocupação educativa deve ser uma organização correta da percepção e do controle do próprio corpo. Visando à importância do esporte na educação e no desenvol- vimento humano, e em consequência da falta de prática esportiva nas escolas, são feitas reflexões iniciais no trabalho. 3 A cultura corporal como eixo de ligação entre educação física e esportes adaptados Na área de educação física escolar e nos esportes adaptados, há muitas dis- cussões sobre os conteúdos que devem ser trabalhados pelos professores e sobre as abordagens e áreas de conhecimentos que ela abrange. Além disso, o movimento e suas técnicas sofisticadas buscando a perfeiçãosão adotados como conteúdo das áreas mais diversas, como ciências médicas, biológicas e humanas. Muitas vezes, os docentes acabam esquecendo o ponto–chave: Educação física e esportes adaptados: relação com as deficiências10 o ser humano, historicamente criado e culturalmente desenvolvido de uma maneira integral e única (SANTOS et al., 2017). A maneira como o ser humano se expressa é reflexo da cultura em que cada indivíduo está inserido. A relação entre corpo e sociedade envolve a cultura corporal do movimento, que ao longo da vida e da história se configura como um conhecimento que vai sendo construído e reconstruído. No amplo campo da cultura, está inserida a cultura corporal do movimento, sendo componente da cultura humana, condicionada histórica e socialmente. No contexto da cultura corporal do movimento, estão inseridas as diferentes manifestações corporais, como esportes, jogos, danças, ginásticas, brincadeiras, lutas e rodas, as quais exprimem sentido e significado para quem a produzir. As diferentes e variadas expressões da cultura corporal do movimento devem ser tratadas na escola como conteúdo importante, distribuído no tempo e adaptado às condições espaciais e materiais do espaço onde será realizada a prática, concretas de cada comunidade. Além disso, devem ser avaliados os conhecimentos referentes aos temas abordados que foram apreendidos em suas múltiplas possibilidades, a partir da perspectiva que contempla uma pedagogia crítica, criativa e emancipatória — que aponte os problemas e encontre soluções de maneira coletiva (BRACHT, 2005). Bracht (2005) realizou uma reflexão a respeito da seguinte questão: cultura corporal, cultura do movimento ou cultura corporal de movimento. Ele afirma que qualquer um desses termos pode embasar uma nova construção do objeto da educação física, desde que o peso maior seja colocado sobre o conceito de cultura, necessário para a “desnaturalização” do nosso objeto, refletindo a sua contextualização social e histórica e redefinindo a relação entre educação física, natureza e conhecimento. A cultura corporal de movimento não pode ser resolvida pela via fenome- nológica, pois se trata de uma ambiguidade inerente à educação física como disciplina escolar, mas que pode ser mais bem compreendida pela diferencia- ção entre significação existencial e significação conceitual. É a esta última que se refere a abordagem culturalista da educação física, quando pretende a “[…] apropriação crítica da cultura corporal do movimento [...]” (BETTI, 2005, p. 187). Contudo, precisamos entender que a inclusão não é desencarnada. Requer sensibilidade no respeito às diferenças, mas não se esgota nesse aspecto sensí- vel. Santos e Paulino (2004), em seu estudo, relataram que a inclusão abrange três dimensões que interagem de maneira dinâmica e que se influenciam na construção de culturas de inclusão, na dimensão do desenvolvimento de políticas de inclusão e na dimensão da orquestração das práticas de inclusão. 11Educação física e esportes adaptados: relação com as deficiências A primeira se refere à construção de valores inclusivos que favoreçam a compreensão e o respeito às diferenças; a segunda pensa sobre esses valores e planeja ações que possibilitam a participação efetiva de todos nas diferentes áreas da vida humana; e a terceira se refere à orquestração das práticas de inclusão e está ligada ao fato de fazer a inclusão. Tudo isso leva, às aulas de Educação Física na escola, uma construção de valores éticos, estéticos, políticos e filosóficos. A educação física começa a preocupar-se com a atividade física e o esporte para pessoas com necessidades especiais, aproximadamente no final dos anos 1950, e o enfoque inicial para a prática dessas atividades foi o médico. Os programas eram denominados ginástica médica e tinham a finalidade de prevenir doenças, utilizando, para tanto, exercícios corretivos e de prevenção, ou seja, eram relacionados com a reabilitação (COSTA; SOUSA, 2004). De acordo com Santos et al. (2017), o paradigma da escola inclusiva pres- supõe, conceitualmente, uma educação apropriada e de qualidade oferecida para todos os alunos — considerados dentro dos padrões da normalidade com as necessidades educacionais especiais — nas classes do ensino comum, da escola regular, onde deve ser desenvolvido um trabalho pedagógico que sirva a todos os alunos, indiscriminadamente. Sendo assim, o ensino inclusivo é a prática da inclusão de todos, independentemente de seu talento, deficiência (sensorial, física ou cognitiva), origem socioeconômica, étnica ou cultural. Além disso, concordando com Ribeiro e Araújo (2004, p. 20), temos que reconhecer que nem sempre há uma identificação dos futuros profissionais com a área da educação física adaptada, por motivos diversos. Neste momento, cabe dizer que uma causa provável seja ainda a dificuldade em se trabalhar com as diferenças, com o corpo não-perfeito, “incapaz” de atingir o rendimento que se está acostumado a atingir em situações de “nor- malidade”. Isso constitui, provavelmente, resquício de uma Educação Física tecnicista, ou mesmo o fato de a formação do professor de Educação Física ser realizada em cursos de graduação que, ainda, representam essa característica. A Educação Física não está preparada para tratar o uno e o diverso simul- taneamente, conforme aponta a proposta de inclusão. Seus conteúdos estão parados no tempo, o que a obriga a recorrer às adaptações (CARMO, 2002). Portanto, a reflexão da cultura corporal incentiva o quanto se pode fazer durante as aulas de educação física. O papel desse trabalho é demonstrar os fundamentos, os limites, as leis e as possibilidades, que são abordados de acordo com os diferentes momentos e pontos de vista. Educação física e esportes adaptados: relação com as deficiências12 � Assista ao vídeo Educação Física - 11.1 - Esportes adaptados no site do Centro de Mídias de Educação do Amazonas. � Para conhecer mais sobre a educação física inclusiva, assista ao vídeo [EFI] Educação Física Inclusiva, disponível no canal Nead Unicentro, no YouTube. Nele, a professora Evelline Fontana fala sobre diversidade e inclusão para o curso de educação física. O esporte inserido no contexto escolar pode explorar as mais diversas formas de expressão; porém, não se pode, neste momento, escolher poucas atividades para serem apresentadas. O esporte, enquanto conteúdo da educação física escolar, deve oferecer aos alunos a vivência de diferentes modalidades e discutir suas diferentes repercussões. Dessa forma, aos alunos, deve ser apresentado o maior número possível de atividades, para que eles possam, futuramente, escolher uma atividade para praticar ou treinar. O esporte para a pessoa com deficiência não ocorre apenas por meio do movimento ou do desenvolvimento de coordenação motora. Ele pode fazer parte do contexto da educação física escolar, para acrescentar, aos alunos, a compreensão das diferenças e do que o fenômeno esportivo pode ser para todos. ALVARENGA, A. F.; GUERRINI, D.; ROCHA, Z. F. D. C. A educação física escolar e a Base Nacional Comum Curricular – BNCC: o ensino pautado em uma perspectiva crítica. In: SINECT, 6., 2018, Ponta Grossa. Anais [...]. Ponta Grossa: UTFPR, 2018. ARANHA M. S. F. (org.). Desenvolvendo competências para o atendimento às necessidades educacionais de alunos surdos. 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Rio de Janeiro: UERJ, 2004. 15Educação física e esportes adaptados: relação com as deficiências Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun- cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. SEBASTIÃO, É. et al. Efeitos da prática regular de dança na capacidade funcional de mulheres acima de 50 anos. Revista da Educação Física UEM, Maringá, v. 19, n. 2, p. 205–214, 2008. SILVA, J. V. Educação física adaptada. Porto Alegre: SAGAH, 2018. SILVA, L. C. D.; FERREIRA, A. D. Capoeira dialogia: o corpo e o jogo de significados. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, Porto Alegre, v. 34, n. 3, p. 665–661, 2012. WINNICK. J. P. Educação física e esportes adaptados. Barueri: Manole, 2004. 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