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APG 9 GUSTAVO MENDES SARMENTO - Objetivos: 1- Compreender endocardite infecciosa em sua totalidade. 2- Analisar como funciona o sistema de saúde na zona rural. Referências: - Porth – Fisiopatologia/ Cap 27/ Pág. 779. - Medicina de Harrison/ Sessão 7/ Cap 83/ pág. 387. -Bogliolo – Patologia/ Cap 15/ pág. 498. - Robbins Patologia Básica/ Cap 11/ pág. 427. - Tratado de cardiologia SOCESP/ Cap 10/ pág. 801. Embora algumas espécies de fungos, riquétsias (agentes da febre Q) e clamídias possam causar endocardite, as bactérias extracelulares são as responsáveis pela grande maioria dos casos. - Goldman-Cecil Medicina/ Sessão 8/ Cap 67/ pág. 465. - Diretriz: https://abccardiol.org/wp- content/uploads/articles_xml/0066-782X-abc-118-05- 0976/0066-782X-abc-118-05-0976.x55156.pdf - Saúde no Campo: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_naci onal_saude_populacoes_campo.pdf TUDO SOBRE ENDOCARDITE INFECCIOSA CONCEITO/ DEFINIÇÃO A endocardite infecciosa (EI) é definida como uma infecção, geralmente bacteriana, da superfície endocárdica do coração, as bactérias extracelulares são as responsáveis pela grande maioria dos casos, embora algumas espécies de fungos, riquétsias (agentes da febre Q) e clamídias possam causar endocardite. A EI afeta principalmente as valvas cardíacas, embora, em alguns casos, os septos entre as câmaras, o endocárdio mural ou dispositivos eletrônicos cardiovasculares implantáveis (p. ex., marca-passos) sejam envolvidos. As valvas mais atingidas são a mitral e a aórtica, em proporções aproximadamente iguais. Tradicionalmente, a EI foi categorizada como “aguda” ou “subaguda”: • ENDOCARDITE AGUDA: consiste em uma infecção destrutiva e turbulenta causada com frequência por um microrganismo altamente virulento que ataca uma valva previamente normal. Essa infecção é capaz de causar morbidade e mortalidade substanciais, mesmo com antibioticoterapia e/ou cirurgia apropriadas. • ENDOCARDITE SUBAGUDA: consiste em uma infecção causada por microrganismos de baixa virulência que afetam um coração previamente anormal, principalmente com valvas cicatrizadas ou deformadas. A doença normalmente aparece de modo insidioso e — mesmo sem tratamento — segue um curso demorado de semanas a meses; a maioria dos pacientes recupera-se após receber a antibioticoterapia adequada. Entretanto, essas categorias se mostraram não confiáveis. Uma classificação que considera o microrganismo causal e a valva envolvida é muito mais clinicamente relevante. Na maioria dos casos, a endocardite infecciosa localiza-se nas faces das valvas (ou das comunicações anômalas) de maior impacto do fluxo sanguíneo, ou seja, na face atrial da valva mitral, na face ventricular da valva aórtica etc. EPIDEMIOLOGIA A incidência, os fatores demográficos e as características da EI sofreram alterações nos últimos 10 anos. Nos países desenvolvidos, a incidência da endocardite varia de 4 a 7 casos por 100.000 habitantes por ano, com taxas maiores em idosos. As condições predisponentes são associação com cuidados de saúde, cardiopatia congênita, uso de drogas injetáveis ilícitas, doença valvar degenerativa e presença de dispositivos intracardíacos. A cardiopatia reumática é um fator de risco em países em desenvolvimento. Em necrópsias e peças cirúrgicas examinadas na Faculdade de Medicina da USP, há equilíbrio quanto ao acometimento dessas valvas (mitral e aórtica). Em 10% dos casos, há comprometimento de ambas. Cerca de 1/3 dos casos corresponde a endocardite em próteses. Menos de 10% das endocardites infecciosas ocorrem no lado direito do coração; outros 10% comprometem o endocárdio mural em indivíduos sem valvopatias, em geral em pacientes com cardiopatias congênitas. Os homens são mais comumente afetados do que as mulheres. Em pacientes com menos de 35 anos, ocorrem mais casos em mulheres. https://abccardiol.org/wp-content/uploads/articles_xml/0066-782X-abc-118-05-0976/0066-782X-abc-118-05-0976.x55156.pdf https://abccardiol.org/wp-content/uploads/articles_xml/0066-782X-abc-118-05-0976/0066-782X-abc-118-05-0976.x55156.pdf https://abccardiol.org/wp-content/uploads/articles_xml/0066-782X-abc-118-05-0976/0066-782X-abc-118-05-0976.x55156.pdf https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional_saude_populacoes_campo.pdf https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional_saude_populacoes_campo.pdf FISIOPATOLOGIA A endocardite infecciosa pode se desenvolver em valvas previamente normais, porém as anomalias cardíacas predispõem o paciente a esse tipo de infecção; a doença reumática cardíaca, o prolapso da valva atrioventricular esquerda, as valvas aórticas bicúspides e a estenose valvar calcificada são substratos comuns. Modelos experimentais de EI demonstraram que a doença segue uma sequência previsível: - Dano endocárdico, - Agregação de plaquetas e fibrina para criar uma vegetação estéril, - Bacteriemia transitória resultante na propagação da vegetação, - Proliferação microbiana, - Invasão da superfície endocárdica e infecção metastática de órgãos viscerais (p. ex., rins, baço) e cérebro. A maioria dos casos de EI começa com uma superfície endocárdica danificada. Danos ao endocárdio podem ser causados por uma série de fatores, variando de inflamação (p. ex., febre reumática) a congênita (p. ex., PVM) a degeneração senil e calcificação; na verdade, qualquer turbulência excessiva ou gradiente de alta pressão pode causar lesão ao endocárdio próximo. Em seguida, os agregados de plaquetas-fibrina se desenvolvem no local do dano formando as vegetações estéreis, também denominadas endocardite trombótica não bacteriana, com frequência no anel de sutura cirúrgica. A endocardite trombótica não bacteriana pode ocorrer espontaneamente em pacientes com doenças sistêmicas (p. ex., a endocardite marântica causada por malignidades ou por outras doenças consumptivas e endocardite de Libman-Sacks no lúpus eritematoso sistêmico). Quando ocorre bacteriemia transitória – por exemplo, como resultado de infecção distante ou manipulações gengivais – a vegetação previamente estéril pode ser semeada. Algumas espécies bacterianas, como estafilococos e estreptococos, são mais avidamente aderentes às vegetações e mais capazes de escapar das defesas endovasculares do hospedeiro inato; portanto, causam mais frequentemente endocardite. As bactérias então proliferam dentro da vegetação e podem, em última instância, atingir uma carga de microrganismos de 109 a 1011 unidades formadoras de colônias (UFC) por grama de tecido. Por último, as superfícies das valvas e vegetações cardíacas são avasculares, dificultando a terapia com antibióticos e a cicatrização. Dispositivos cardíacos implantáveis perturbam a superfície endotelial e predispõem à infecção e à formação de biofilmes, particularmente logo após sua colocação e antes que ocorram endotelização e fibrose. Os microrganismos causadores diferem de acordo com os fatores de risco subjacentes; 50% a 60% dos casos de endocardite que afetam valvas lesadas ou deformadas são causados pelo Streptococcus viridans, um membro relativamente comum da microbiota oral normal. Por outro lado, o S. aureus, mais virulento (e comum na pele), pode atacar valvas deformadas e também valvas saudáveis e é responsável por 10% a 20% de todos os casos; ele também é o principal vilão das infecções que acometem os indivíduos que usam drogas intravenosas. Os microrganismos causadores diferem de acordo com os fatores de risco subjacentes. - Staphylococcus aureus: É o agente patogênico principal entre os usuários de substâncias intravenosas. É proveniente da flora cutânea ou da nasofaringe, é o principal agente da endocardite aguda em valva nativa. - Staphylococcus epidermidis: É o agentepatogênico principal para a EI de valvas cardíacas artificiais.É o agente patogênico principal para às infecções de dispositivos implantáveis e às infecções adquiridas nos serviços de saúde. - Streptococcus do grupo viridans: (estreptococo alfa- hemolítico), por fazer parte da microbiota normal da cavidade oral, pode colonizar valvas previamente acometidas por distúrbios congênitos ou adquiridos, a partir de bacteriemias transitórias. É o principal agente da endocardite subaguda comunitária em indivíduos não usuários de substâncias endovenosas. A disseminação dos microrganismos na corrente sanguínea é o fator principal que resulta no desenvolvimento da EI. Os outros agentes bacterianos envolvidos são os enterococos e os microrganismos do grupo denominado HACEK (Haemophilus, Actinobacillus, Cardiobacterium, Eikenella e Kingella), todos comensais da cavidade oral. Em casos raros, bacilos Gram-negativos e fungos estão envolvidos. Em cerca de 10% de todos os casos de endocardite, nenhum microrganismo é isolado do sangue (endocardite com “cultura negativa”) como consequência de antibioticoterapia prévia, dificuldades no isolamento do agente infeccioso ou porque os microrganismos profundamente entranhados nas vegetações em crescimento não são liberados para a corrente sanguínea. À frente dos fatores que predispõem à endocardite está a semeadura do sangue com microrganimos. O mecanismo ou a porta de entrada do agente na corrente sanguínea pode ser uma infecção manifesta em qualquer local, um procedimento dentário ou cirúrgico que cause bacteremia transitória, a injeção de material contaminado diretamente na corrente sanguínea por usuários de drogas intravenosas ou uma fonte oculta localizada no intestino, na cavidade oral ou mesmo lesões sem importância. O reconhecimento dos substratos anatômicos predisponentes e das condições clínicas que causam bacteremia permite que se faça a profilaxia antibiótica apropriada. - Morfologia Nas formas aguda e subaguda da doença, as valvas cardíacas exibem vegetações friáveis, volumosas e potencialmente destrutivas que contêm fibrina, células inflamatórias e microrganismos. A valva da aorta e a valva atrioventricular esquerda são os locais mais comuns da infecção, embora a valva atrioventricular direita seja um alvo frequente nos casos de abuso de drogas intravenosas. A vegetação pode ser única ou múltipla, e pode acometer mais de uma válvula; às vezes, as vegetações podem provocar erosão e alcançar o miocárdio subjacente, produzindo abscesso cavitário (abscesso anular). O desprendimento de êmbolos é comum por causa da natureza friável das vegetações. Visto que as vegetações fragmentadas contêm grande número de microrganismos, é comum o desenvolvimento de abscessos nos locais onde os êmbolos se alojam, levando ao aparecimento de infartos sépticos e aneurismas que resultem de infecção bacteriana na parede arterial (aneurismas micóticos). A endocardite subaguda normalmente provoca menos destruição valvar do que a endocardite aguda. Ao exame microscópico, as vegetações subagudas da endocardite infecciosa têm com frequência tecido de granulação em sua base (o que sugere cronicidade) que, com o tempo, estimula o desenvolvimento de infiltrados inflamatórios crônicos, fibrose e calcificação. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS O período de incubação até o início dos sintomas é de aproximadamente 2 semanas ou menos, porém presença de infecção por Candida relacionada, o período de incubação pode chegar a 5 meses. - Anamnese A apresentação inicial da EI varia enormemente de paciente para paciente. Alguns casos se desenvolvem agudamente, com os sintomas progredindo rapidamente ao longo de vários dias. Outros casos se desenvolvem insidiosamente e se apresentam com sintomas progressivos, mas inespecíficos, por semanas ou meses. Quando há suspeita de EI, a anamnese inicial deve incluir uma revisão completa dos sistemas, um histórico de viagens e uma discussão completa de comportamentos relacionados à saúde, como uso de drogas ilícitas e atividade sexual. A maioria dos pacientes se queixa de febre e manifestações sistêmicas inespecíficas, como fadiga, mal- estar ou perda de peso. Quase 50% dos pacientes se queixam de sintomas musculoesqueléticos que variam de artrite franca a mialgias difusas. Em cerca de 5 a 10% dos pacientes, lombalgia é a queixa principal, mesmo na ausência de osteomielite ou abscesso epidural. Em usuários de drogas intravenosas com EI da valva tricúspide e pacientes com dispositivos implantáveis no coração direito ou em veias, a endocardite pode se apresentar como dor torácica pleurítica e pneumonia multilobar. - Exame físico Um exame físico completo deve incluir a busca de sinais periféricos que são muito úteis quando presentes, mas são menos frequentes agora do que no passado. Embora febre ocorra em até 90% dos pacientes, é menos comum em pacientes idosos e em pacientes com insuficiência renal ou cardíaca. A pele e as unhas devem ser examinadas cuidadosamente à procura de fenômenos embólicos sugestivos, mas inespecíficos, como petéquias nódulos de Osler, lesões de Janeway e hemorragias subungueais. Petéquias são mais frequentemente encontradas na conjuntiva, no palato e nos membros. Os nódulos de Osler são pequenos nódulos dolorosos encontrados com frequência nas superfícies palmares dos dedos das mãos e dos pés; eles frequentemente aumentam e diminuem. Classicamente considerados um fenômeno imunológico, os nódulos de Osler podem ter um componente mediado por complexos imunes, mas são mais provavelmente iniciados por microêmbolos. As lesões de Janeway são manchas hemorrágicas e não dolorosas, também encontradas principalmente nas palmas das mãos e plantas dos pés; elas são de origem embólica e são menos frequentemente observadas do que os outros estigmas cutâneos. As hemorragias subungueais são lesões avermelhadas não esbranquiçadas, lineares e acastanhadas no leito ungueal, paralelas ao sentido do crescimento das unhas; trata-se de um achado inespecífico e ocorrem em uma porcentagem significativa de pacientes hospitalizados sem endocardite infecciosa. O exame fundoscópico deve ser realizado para procurar manchas de Roth, coriorretinite ou endoftalmite; os últimos dois estão presentes em uma proporção substancial dos casos de endocardite fúngica. Um exame cardíaco cuidadoso deve ser realizado para detectar qualquer sopro sistólico ou diastólico, especialmente sopros novos ou evidências de insuficiência cardíaca, que é um sinal de mau prognóstico. O abdome deve ser examinado em busca de evidências de esplenomegalia, que é mais comum em pacientes com endocardite subaguda. O exame neurológico pode demonstrar evidências de embolia de grandes vasos, paralisia dos nervos cranianos, defeitos de campo visual ou encefalopatia tóxico- metabólica generalizada com estado mental alterado. Até 15 a 20% dos pacientes com endocardite apresentam um acidente vascular encefálico (AVE) antes da apresentação ou durante o curso da doença. Pacientes com EI relacionada ao dispositivo geralmente apresentam sinais e sintomas locais de infecção no local da implantação. Os sintomas iniciais de EI podem incluir: - Febre e sinais de infecção sistêmica, - Alteração na característica de um sopro cardíaco existente - Evidências de distribuição embólica das lesões vegetativas. No tipo agudo, a febre normalmente apresenta picos e é acompanhada por calafrios. No tipo subagudo, a febre em geral é de grau baixo, com início gradual e frequentemente acompanhada de outros sinais sistêmicos de inflamação, como aumento do volume do baço, anorexia, mal-estar e letargia. Em muitos casos, surgem pequenas petéquias hemorrágicas quandoos êmbolos se alojam nos vasos de pequeno calibre da pele, nos leitos ungueais e nas membranas mucosas. É comum haver hemorragias lineares (i. e., linhas vermelhas escuras) sob as unhas das mãos e dos pés. Tosse, dispneia, artralgia ou artrite, diarreia e dor abdominal ou no flanco podem ocorrer como resultado da embolia sistêmica. Pode haver o desenvolvimento de insuficiência cardíaca congestiva em consequência da destruição da valva, embolia em artéria coronária ou miocardite, bem como de insuficiência renal decorrente da destruição ou das toxicidades dos antimicrobianos. Os pacientes apresentam quadro infeccioso e septicêmico e, portanto, têm manifestações sistêmicas em geral exuberantes, como febre, mal-estar, cefaleia, anorexia, aumento de linfonodos e hepatoesplenomegalia. DIAGNÓSTICO O diagnóstico de endocardite infecciosa é estabelecido de forma definitiva apenas quando as vegetações são examinadas histológica e microbiologicamente. Os critérios clínicos mais amplamente aceitos são os critérios de Duke: Os casos são classificados como: - Definitivos: Quando preenchem dois critérios maiores, um critério maior mais três critérios menores, ou cinco critérios menores. - Possíveis: Quando atendem a um critério maior e um critério menor, ou três critérios menores. - Descartado: Quando se estabelece um diagnóstico alternativo, a infecção regride com tratamento antibiótico em 4 dias ou menos, ou não há evidência histológica de infecção. - Microbiologia Quando existe suspeita de bacteriemia, pelo menos três conjuntos de hemoculturas, cada conjunto consistindo em um frasco para microrganismos aeróbicos e um frasco para microrganismos anaeróbicos; devem ser coletados em locais distintos, com atenção cuidadosa à técnica asséptica. Iniciar antibióticos antes da coleta de hemoculturas reduzirá a sensibilidade delas em cerca de um terço. - Microrganismos Causais Cerca de 90% dos casos de EI de valva nativa adquirida na comunidade são causados por estafilococos, estreptococos ou enterococos, que são habitantes normais da pele, orofaringe, sistemas urogenital e digestório, respectivamente, e que têm acesso frequente à corrente sanguínea. Esses microrganismos expressam receptores específicos para fixação e aderência às superfícies endoteliais danificadas. As espécies de estreptococos são a causa mais comum de EI adquirida na comunidade em pacientes sem história pregressa de uso de drogas injetáveis ou contato com a assistência médica. - Hemocultura Hemocultura ainda é o exame complementar mais conclusivo e é essencial à escolha do tratamento. Com esse exame é possível identificar o tipo de bactéria responsável pela infecção e orientar o tratamento. Três amostras de sangue retiradas de três locais diferentes de punção venosa devem ser obtidas no intervalo de 24 h. Hemoculturas negativas podem ser obtidas, retardando o diagnóstico e o tratamento, o que tem efeitos profundos no prognóstico. O resultado negativo pode ser causado por uso prévio de antibióticos ou porque os microrganismos têm crescimento lento, requerem meios de cultura especiais, ou não podem ser facilmente cultivados. - Ecocardiograma O ecocardiograma é a principal técnica usada para detectar vegetações e complicações cardíacas causadas pela EI e é um recurso importante ao diagnóstico e tratamento da doença. Hoje em dia, indícios ecocardiográficos de acometimento endocárdico são um dos critérios maiores da classificação de Duke modificada. É recomendável que o ecocardiograma transtorácico seja realizado nos casos de risco inicialmente baixo ou suspeita clínica fraca, enquanto o ecocardiograma transesofágico seja reservado para os casos em que a suspeita é de moderada a alta. Os indivíduos altamente suspeitos de ter EI são portadores de valvas artificiais, tiveram EI no passado, têm cardiopatia congênita complexa ou insuficiência cardíaca ou um sopro cardíaco de início recente. - Eletrocardiograma O eletrocardiograma pode eventualmente indicar complicações cardíacas da EI, como bloqueio atrioventricular (BAV) persistente nos portadores de abscesso de anel aortico, mas que não costuma causar manifestações de maior especificidade. O bloqueio AV de primeiro grau também pode estar presente nos casos de doença reumática em atividade. -Radiografia Do Tórax A radiografia de tórax pode mostrar alterações diversas, como congestão pulmonar, múltiplas opacidades alveolares pulmonares compatíveis com embolias pulmonares sépticas de endocardite. - Exames complementares Os exames laboratoriais iniciais devem incluir hemograma completo com contagem diferencial, eletrólitos séricos, provas de função renal e urinálise. A maioria dos pacientes com EI subaguda tem o perfil de ferro sérico de anemia crônica. A contagem de leucócitos está frequentemente elevada na EI aguda, sobretudo se S. aureus for o microrganismo causal, mas pode não estar elevada nas formas mais subagudas. Hematúria microscópica é comum, assim como a proteinúria. A velocidade de hemossedimentação (VHS), o nível de proteína C reativa e o nível de procalcitonina, geralmente não são úteis no estabelecimento de um diagnóstico de endocardite. TRATAMENTO Tem por objetivo identificar e eliminar o microrganismo causal, minimizar os efeitos cardíacos residuais e tratar o efeito patológico da embolia. A escolha da terapia antimicrobiana depende do organismo cultivado e da sua ocorrência em uma valva nativa ou prótese valvar. Além de antibioticoterapia, a cirurgia pode ser necessária em casos de infecção sem resolução, insuficiência cardíaca grave e embolia significativa. A maioria das pessoas com EI alcança a cura com tratamento clínico ou cirúrgico. Aquelas com quadros de endocardite infecciosa devem ser instruídas a respeito de seus sinais e sintomas, e informadas sobre a possibilidade de recidivas. Deve-se buscar tratamento médico imediato, se houver recidiva dos sinais ou sintomas. O uso de antibióticos profiláticos para prevenção da EI é controverso. As recomendações atuais concluem que apenas uma quantidade muito pequena de casos de EI pode ser prevenida com profilaxia antibiótica em procedimentos odontológicos. Assim sendo, a profilaxia é recomendada apenas para pessoas com EI anterior, cardiopatia congênita (como cardiopatia coronariana cianótica não reparada, reparada com prótese ou com defeitos residuais), prótese valvar e transplante de coração, que desenvolvem valvopatia cardíaca. Seu uso somente com base na elevação do risco vitalício de EI não é recomendado. O tratamento é realizado por via parenteral e por tempo prolongado (entre 2 e 6 semanas, dependendo do agente etiológico identificado). O sucesso do tratamento depende da erradicação do micro-organismo causador da EI mediante o uso de agentes antimicrobianos. Quase sempre são utilizados, no mínimo, dois fármacos, que atuarão em sinergia. Para otimizar esse efeito, recomenda-se a administração simultânea dos antimicrobianos ou no intervalo de tempo mais próximo possível entre os fármacos. O tempo de antibioticoterapia deverá ser contado sempre a partir do primeiro dia de negativação de culturas, quando estas forem inicialmente positivas, ou após cessação da febre, nos pacientes com hemoculturas negativas ao diagnóstico. Na abordagem de uma antibioticoterapia após cirurgia para endocardite, deve-se aguardar a cultura da valva retirada. A duração do tratamento antibiótico deve ser a mesma recomendada para a valva nativa, o qual não deve ser mudado para o esquema de EI de valva protética. Caso haja crescimento bacteriano, o esquema deverá ser reiniciado. Caso contrário, com uma cultura negativa, o tempo total de antibioticoterapia será subtraídodaquele utilizado no pré-operatório. - Tratamento Cirúrgico A abordagem cirúrgica durante a antibioticoterapia, incluindo troca ou reparação valvar, aumentou nas últimas três décadas, atingindo uma taxa de cerca de 50% dos casos. As principais indicações cirúrgicas são insuficiência cardíaca, infecção não controlada e prevenção de eventos embólicos. O momento cirúrgico pode ser dividido em três categorias: emergência (< 24 horas), urgência (> 24 horas) e eletivo (após o término de 1 ou 2 semanas de antibioticoterapia). - COMPLICAÇÕES Entre as principais complicações da EI encontram-se se a insuficiência cardíaca (IC - com mortalidade estimada entre 55% e 85%) e embolização para sítios extracardíacos, principalmente para o sistema nervoso central (SNC- 65% dos casos). A IC é causada, principalmente, por regurgitação aórtica e mitral. A falência cardíaca decorrente da insuficiência aórtica é pouco tolerada, uma vez que o ventrículo não se adapta tão bem à sobrecarga de volume em relação ao leito arterial pulmonar (como ocorre na insuficiência mitral). Dessa maneira, pode haver falência cardíaca aguda, estando indicada a troca valvar em caráter emergencial. – Observação: O atraso na decisão cirúrgica, com a intenção de prolongar a antibioticoterapia, pode acarretar disfunção ventricular per manente e deve ser desencorajado, além de aumentar o risco de infecção perivalvar e mortalidade perioperatória. Piores resultados cirúrgicos são obtidos em pacientes com IC classe funcional III-IV. insuficiência renal e idade avançada. Outra complicação da EI é a embolização para sítios extracardíacos, dentre os quais o território cerebrovascular é o mais acometido (65% dos casos), sendo a artéria cerebral média a principal envolvida (cerca de 90% das embolias). A embolização pode ocorrer antes do diagnóstico de EI, durante o tratamento, ou mesmo após seu término. Entretanto, o risco de embolia é de até 50%, inicialmente, reduzindo-se para 15% após a primeira semana de tratamento e para apenas 1% após 4 semanas, de modo que o início rápido e efetivo da antibioticoterapia pode preveni-la. Após embolização para o SNC, a cirurgia cardíaca não está contraindicada, se realizada precocemente, nas primeiras 72 horas do evento, e se o diagnóstico de hemorragia cerebral tiver sido excluído por tomografia computadorizada de crânio imediatamente antes da cirurgia. Caso não seja possível realizar a cirurgia precocemente, aconselha-se postergá-la por 3 a 4 semanas. Caso o paciente já faça anticoagulação com cumarínico, este deverá ser substituído por heparina imediatamente após o diagnóstico de endocardite.
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