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Indaial – 2021 Planejamento alimentar nos CiClos da Vida Prof.a Isabela Maria Sell Prof.a Jeruza Flores dos Santos 1a Edição Copyright © UNIASSELVI 2021 Elaboração: Prof.a Isabela Maria Sell Prof.a Jeruza Flores dos Santos Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: S467p Sell, Isabela Maria Planejamento alimentar nos ciclos da vida. / Isabela Maria Sell; Jeruza Flores dos Santos. – Indaial: UNIASSELVI, 2021. 282 p.; il. ISBN 978-65-5663-546-0 ISBN Digital 978-65-5663-543-9 1. Planejamento alimentar. - Brasil. I. Santos, Jeruza Flores dos. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci. CDD 610 aPresentação Caro acadêmico, você está iniciando mais uma etapa de seu curso de nutrição. A formação acadêmica envolve a construção de conhecimento que possibilita ao futuro profissional desenvolver suas habilidades e competências para atuar com segurança, responsabilidade e senso crítico diante dos vários desafios desta profissão. Apresento a você mais uma disciplina que fará parte desta jornada e lhe dará subsídios para a aplicação na prática dos conhecimentos adquiridos através de conteúdos teóricos, vivências compartilhadas de exemplos reais e sugestões de fontes bibliográficas. Os conteúdos desta disciplina estão interligados e são indispensáveis como base para a prática do planejamento e prescrição nutricional. A identificação das necessidades nutricionais, tanto de energia como de nutrientes, e as recomendações nutricionais nas diferentes fases da vida, como pré-escolar, escolar, adultos e idosos são conhecimentos indispensáveis para o nutricionista fazer uma prescrição dietética adequada direcionada, seja na manutenção ou na melhora do estado nutricional. A partir deste aprendizado, o aluno estará preparado para seguir em frente na disciplina e aprender a planejar e elaborar cardápios para diferentes públicos em diferentes situações. As orientações nutricionais fazem parte da conduta nutricional tanto a nível individual como coletivo. É uma ferramenta muito útil para que informações sobre alimentação e nutrição cheguem ao maior número de pessoas possíveis ou mesmo favoreça o aprendizado sobre comer saudável para indivíduos que buscam a mudança no estilo de vida. Aprender a elaborar orientações de forma clara, objetiva e que tragam impacto positivo na saúde das pessoas faz parte da formação do estudante de nutrição. As dietas ocupam, atualmente, um espaço muito grande nas mídias de uma forma geral. Várias são indicadas de forma equivocada, por pessoas não habilitadas e trazem muitas dúvidas entre a população. Muitas delas não geram o resultado prometido, principalmente em relação à perda de peso e podem ser prejudiciais à saúde. Você terá oportunidade de aprender a identificar aquelas validadas e recomendadas por entidades de saúde competentes. O presente livro é composto por três unidades e cada uma contém três tópicos, nos quais os conteúdos estão organizados em uma sequência que proporcione a construção do conhecimento tendo como base os itens sugeridos pela ementa da disciplina. Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA Em cada unidade serão encontrados objetivos de aprendizagem, conteúdos, autoatividades, reflexões, recomendações e sugestões. Vamos desvendar esse mundo de possibilidades de aprendizado em nutrição, e dar andamento a sua formação profissional? Desejamos que você aproveite essa experiência da melhor forma possível! Bons estudos! Prof.a Isabela Maria Sell Prof.a Jeruza Flores dos Santos Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! LEMBRETE sumário UNIDADE 1 — METABOLISMO ENERGÉTICO ........................................................................... 1 TÓPICO 1 — NECESSIDADES ENERGÉTICAS ............................................................................. 3 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 3 2 GASTO ENERGÉTICO E NECESSIDADES ENERGÉTICAS ................................................... 5 2.1 GASTO ENERGÉTICO TOTAL .................................................................................................... 6 2.1.1 Gasto Energético Basal – GEB e de Repouso ..................................................................... 6 2.1.2 Efeito Térmico ou Termogênico dos Alimentos – ETA .................................................... 9 2.1.3 Gasto energético da atividade física – GEAF ................................................................... 10 2.2 ENERGIA X CALORIA ................................................................................................................ 10 2.2.1 Calorimetria Direta .............................................................................................................. 11 2.2.2 Calorimetria Indireta ........................................................................................................... 12 2.2.3 Água Duplamente Marcada – ADM ................................................................................. 12 3 EQUAÇÕES PARA CÁLCULO DAS NECESSIDADES ENERGÉTICAS – ESTIMATIVAS DAS NECESSIDADES ENERGÉTICAS ......................................................... 13 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 20 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 21 TÓPICO 2 — METABOLISMO DOS MACRONUTRIENTES .................................................... 23 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 23 2 METABOLISMO DOS CARBOIDRATOS ................................................................................... 24 2.1DIGESTÃO E ABSORÇÃO DOS CARBOIDRATOS ................................................................ 32 2.2 ARMAZENAMENTO DA GLICOSE NA FORMA DE GLICOGÊNIO – GLICOGÊNESE .... 36 2.3 GLICONEOGÊNESE .................................................................................................................... 43 3 METABOLISMO DAS PROTEÍNAS ............................................................................................. 45 4 METABOLISMO DOS LIPÍDIOS .................................................................................................. 48 4.1 DIGESTÃO E ABSORÇÃO DOS LIPÍDIOS .............................................................................. 50 RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 55 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 56 TÓPICO 3 — CARACTERÍSTICAS FISIOLÓGICAS E NUTRICIONAIS DE PRÉ-ESCOLARES, ESCOLARES, ADULTOS E IDOSOS................................... 59 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 59 2 CARACTERÍSTICAS FISIOLÓGICAS E NUTRICIONAIS NO PRÉ-ESCOLAR E ESCOLAR......................................................................................................................................... 60 3 CARACTERÍSTICAS FISIOLÓGICAS E NUTRICIONAIS DO ADULTO E DO IDOSO ..... 68 3.1 ENVELHECIMENTO ................................................................................................................... 69 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 74 RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 84 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 85 REFERÊNCIAS ...................................................................................................................................... 89 UNIDADE 2 — PRESCRIÇÃO DIETÉTICA, OBJETIVOS NUTRICIONAIS E ORIENTAÇÕES ALIMENTARES PARA INDIVÍDUOS SADIOS ........................95 TÓPICO 1 — DIETARY REFERENCE INTAKES – DRIs ............................................................... 97 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 97 2 APLICAÇÃO DAS DIETARY REFERENCE INTAKES NA RECOMENDAÇÃO DA INGESTÃO DE NUTRIENTES PARA INDIVÍDUOS E GRUPOS ......................................... 98 2.1 ASPÉCTOS HISTÓRICOS DAS RECOMENDAÇÕES NUTRICIONAIS ............................ 98 2.2 VALORES DE REFERÊNCIA DE INGESTÃO DE NUTRIENTES ..................................... 100 2.2.1 Definições de níveis de ingestão de nutrientes ............................................................ 100 2.2.2 Aplicação das DRIs em indivíduos ................................................................................. 103 2.2.3 Definição das AMDRs ....................................................................................................... 123 2.2.4 Requerimentos energéticos para manter e adequar o peso corporal ......................... 124 3 PRINCÍPIOS BÁSICOS PARA O PLANEJAMENTO DE DIETAS NUTRICIONALMENTE ADEQUADAS .................................................................................... 125 RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 130 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 131 TÓPICO 2 — OBJETIVOS NUTRICIONAIS E ESTRATÉGIAS DE INTERVENÇÃO NUTRICIONAL ......................................................................................................... 133 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................................... 133 2 GUIAS ALIMENTARES ................................................................................................................. 134 2.1 HISTÓRICO DOS GUIAS ALIMENTARES, DIRETRIZES ALIMENTARES: GUIA ALIMENTAR DA POPULAÇÃO BRASILEIRA ..................................................................... 134 2.2 PIRAMIDE ALIMENTAR ......................................................................................................... 138 3 COMO DEFINIR OS OBJETIVOS NUTRICIONAIS ............................................................. 144 4 ESTRATÉGIAS DE INTERVENÇÃO NUTRICIONAL .......................................................... 145 5 DESAFIOS DA INTERVENÇÃO NUTRICIONAL .................................................................. 147 RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 149 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 150 TÓPICO 3 —COMPORTAMENTO ALIMENTAR ...................................................................... 151 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................................... 151 2 ALTERAÇÕES DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR ....................................................... 151 3 BASES FAMILIARES DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR ........................................... 152 4 FATORES PSICOLÓGICOS E AFETIVOS DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR ...... 154 5 COMPONENTE BIOLÓGICO DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR ........................... 156 6 FATORES COGNITIVOS DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR .................................... 160 7 FATORES ECONÔMICOS DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR .................................. 162 8 ESTRATÉGIAS EM EDUCAÇÃO NUTRICIONAL ................................................................. 163 8.1 PRINCÍPIOS PARA AS AÇÕES DE EAN ............................................................................... 164 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 169 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 175 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 176 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 179 UNIDADE 3 — ELABORAÇÃO DE CARDÁPIO CONVENCIONAL E NÃO CONVENCIONAL E DIETAS DA MODA ...................................................... 187 TÓPICO 1 — PLANEJAMENTO ALIMENTAR E DE CARDÁPIOS CONVENCIONAIS ...... 189 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................................... 189 2 GRUPOS DE ALIMENTOS, EQUIVALÊNCIAS E FONTES DE NUTRIENTES ............... 190 2.1 GRUPOS DE ALIMENTOS ....................................................................................................... 190 2.2 EQUIVALÊNCIAS E FONTES DE NUTRIENTES ................................................................ 191 3 PLANEJAMENTO QUALITATIVO, SEMIQUANTITATIVO E QUANTITATIVOS DE CARDÁPIOS ............................................................................................................................. 192 3.1 PLANEJAMENTO QUALITATIVO DE CARDÁPIOS .......................................................... 194 3.1.1 Proporção dos macronutrientes na composição do Valor Energético Total (VET) ..... 195 3.2 PLANEJAMENTO SEMIQUANTITATIVO DE CARDÁPIOS .............................................198 3.2.1 Planejamento alimentar na infância ............................................................................... 199 3.2.2 Planejamento alimentar na adolescência ........................................................................ 200 3.2.3 Planejamento alimentar no envelhecimento .................................................................. 201 3.3 PLANEJAMENTO QUANTITATIVO DE CARDÁPIOS ...................................................... 202 3.3.1 Refeições e Horários .......................................................................................................... 203 3.3.2 Quantidade ......................................................................................................................... 204 3.3.3 Tipo do alimento ................................................................................................................ 207 4 REGULAMENTAÇÃO PARA PRESCRIÇÃO DE SUPLEMENTOS ALIMENTARES ...... 209 5 PROGRAMAS PARA SUPLEMENTAÇÃO NAS DIFERENTES FASES DA VIDA .......... 210 5.1 APLICAÇÃO DE SUPLEMENTAÇÃO ALIMENTARES. ................................................... 211 RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 212 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 214 TÓPICO 2 — PLANEJAMENTO ALIMENTAR DE CARDÁPIOS NÃO CONVENCIONAIS E ORIENTAÇÕES ALIMENTARES EM SITUAÇÕES ESPECIAIS ......................................................................................... 217 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 217 2 CONCEITUAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO DAS DIETAS NÃO CONVENCIONAIS .......... 218 3 DIETAS VEGETARIANAS ............................................................................................................ 220 3.1 PLANEJAMENTO ALIMENTAR PARA DIETAS VEGETARIANAS EQUILIBRADAS ...... 222 3.1.1 Energia macronutrientes nas dietas vegetarianas ........................................................ 223 3.1.2 Carboidratos ....................................................................................................................... 224 3.1.3 Lipídeos .............................................................................................................................. 224 3.1.4 Proteínas ............................................................................................................................. 226 3.2 FONTES VEGETAIS DE NUTRIENTES CRÍTICOS .............................................................. 227 3.2.1 Ferro .................................................................................................................................... 228 3.2.2 Zinco .................................................................................................................................... 230 3.2.3 Cálcio ................................................................................................................................... 231 3.2.4 Vitamina B12 (cobalamina) .............................................................................................. 232 3.2.5 Vitamina D .......................................................................................................................... 233 3.3 RECOMENDAÇÕES GERAIS ................................................................................................. 233 4 ORIENTAÇÕES PARA DOENÇA CELÍACA E INTOLERÂNCIA AO GLÚTEN .............. 233 4.1 CARACTERIZAÇÃO E SINTOMAS DE INTOLERÂNCIA AO GLÚTEN CELÍACA E NÃO CELÍACA........................................................................................................................ 235 5 ORIENTAÇÕES PARA INTOLERÂNCIA À LACTOSE ......................................................... 237 5.1 PRESCRIÇÃO DIETÉTICA NA INTOLERÂNCIA À LACTOSE ....................................... 238 6 ALERGIAS ALIMENTARES ......................................................................................................... 239 6.1 DIFERENÇAS ENTRE INTOLERÂNCIA E ALERGIA ALIMENTAR ............................... 239 6.2 PRESCRIÇÃO DIETÉTICA NAS ALERGIAS ALIMENTARES ........................................... 241 7 FODMAPS ........................................................................................................................................ 241 RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 243 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 245 TÓPICO 3 — DIETAS DA MODA .................................................................................................. 247 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 247 2 CARACTERÍSTICAS DE DIETAS RESTRITIVAS ................................................................... 248 3 DIETA DA PROTEÍNA ................................................................................................................... 250 3.1 MECANISMO FISIOLÓGICO DO EMAGRECIMENTO NA DIETA DA PROTEÍNA ...... 250 3.2 ALIMENTOS CONSTITUINTES EM DIETAS CETOGÊNICAS ........................................ 252 4 ASPECTOS FISIOLÓGICOS E CONSEQUÊNCIAS NUTRICIONAIS DA DIETA LOW CARB ........................................................................................................................................ 255 5 ASPECTOS FISIOLÓGICOS E CONSEQUÊNCIAS NUTRICIONAIS DO JEJUM INTERMITENTE .............................................................................................................................. 258 5.1 O QUE DIZ O PARECER TÉCNICO N° 1/2019 SOBRE JEJUM INTERMITENTE ........... 259 6 DIETA ALCALINA .......................................................................................................................... 261 7 DIETAS COM USO DE SHAKES ................................................................................................. 261 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 264 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 273 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 275 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 277 1 UNIDADE 1 — METABOLISMO ENERGÉTICO OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • definir energia do ponto de vista biológico; • identificar os componentes do gasto energético total; • citar os fatores que influenciam no gasto energético em repouso/taxa metabólica basal; • conhecer as equações disponíveis para cálculo das estimativas de necessidades energéticas; • aplicar as equações para o cálculo das estimativas de necessidades energéticas; • descrever as etapas do metabolismo dos macronutrientes; • identificar as características fisiológicas e nutricionais do pré-escola, escolar, adultos e idosos. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – NECESSIDADES ENERGÉTICAS TÓPICO 2 – METABOLISMO DOS MACRONUTRIENTES TÓPICO 3 – CARACTERÍSTICAS FISIOLÓGICAS E NUTRICIONAIS DE PRÉ-ESCOLARES, ESCOLARES, ADULTOS E IDOSOS Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilitea concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 3 TÓPICO 1 — UNIDADE 1 NECESSIDADES ENERGÉTICAS 1 INTRODUÇÃO A nutrição oferece muitas possibilidades para aplicabilidade dos muitos conhecimentos exigidos na formação do profissional nutricionista. Alguns desses conhecimentos são bem específicos e direcionados, na prática, a situações distintas e particulares dependendo de cada caso. Quando o assunto inclui o conhecimento das necessidades energéticas, podemos afirmar que estamos diante de um tópico direta ou indiretamente envolvido em quase todas as áreas da nutrição. Sabe por que afirmamos isso? Acompanhe o raciocínio a seguir. Quando um nutricionista, que trabalha na gestão de uma unidade de alimentação e nutrição (UAN), precisa elaborar um cardápio, ele precisa saber o perfil do público alvo e ter uma ideia das necessidades médias destes comensais. Ao atender um atleta, é fundamental que o nutricionista calcule suas necessidades energéticas para então propor um plano alimentar. Para o planejamento da merenda escolar, o profissional também deve conhecer as necessidades energéticas de crianças e adolescentes. Como propor uma conduta nutricional para uma gestante sem entender que, neste caso, o gasto energético é influenciado pelo feto e anexos embrionários? Conseguiu perceber a relevância deste tema? Que tal iniciarmos com uma pergunta? O que é energia? Uma palavra muito usada em várias áreas de nossa vida, incluindo o dia a dia com o tocar em um interruptor para acender uma lâmpada, dar partida em um carro, observar trovões e relâmpagos, ligar um celular, enfim, precisamos de algum tipo de energia para quase tudo na vida. Nosso foco agora é energia em nutrição. Para a base deste conhecimento, eis o conceito clássico de energia, a qual é definida como a capacidade de realizar trabalho. O Sol é a fonte primária de energia para todos os organismos vivos. Tudo começa pela fotossíntese (Figura 1). As plantas captam a luz solar através de suas folhas, a qual é transformada em energia química pela formação de glicose. A partir deste carboidrato ocorre a síntese dos lipídios e das proteínas. O nitrogênio é retirado do solo e incorporado nas moléculas de proteínas das plantas. Os animais obtêm energia através da ingestão das plantas e os seres humanos através da alimentação com produtos vegetais e animais (MAHAN; ESCOTT-STUMP; RAYMOND, 2012). UNIDADE 1 — METABOLISMO ENERGÉTICO 4 FIGURA 1 – ILUSTRAÇÃO FOTOSSÍNTESE FONTE: <http://www.ciencias.seed.pr.gov.br/modules/galeria/uploads/3/normal_485esquema_ da_fotossintese.jpg>. Acesso em: 11 mar. 2021. Os seres vivos retiram energia de fontes externas para realizar reações que dependem desta energia. Como explicado anteriormente, os organismos fotossintéticos obtêm energia através da conversão de energia solar em energia química. Os animais, incluindo os seres humanos, obtêm energia da ingestão de alimentos e através do catabolismo dos compostos de reserva (BRINQUES, 2014). Os carboidratos, lipídios e proteínas são as fontes de energia utilizadas pelo corpo humano e adquiridas pelos alimentos da dieta. O metabolismo energético envolve os mecanismos pelos quais a energia é liberada das ligações químicas dos nutrientes. Os macronutrientes, carboidratos, lipídios e proteínas disponibilizam energia para o organismo. Os micronutrientes, como vitaminas e minerais, não disponibilizam energia diretamente para o organismo. Não possuem valor calórico, porém, muitos atuam como coenzimas nos mecanismos energéticos. NOTA OXIGÊNIO OXIGÊNIO ESQUEMA DA FOTOSSÍNTESEESQUEMA DA FOTOSSÍNTESE ÁGUA + SAIS MINERAIS GÁS CARBÔNICO GLICOSE ENERGIA SOLAR TÓPICO 1 — NECESSIDADES ENERGÉTICAS 5 2 GASTO ENERGÉTICO E NECESSIDADES ENERGÉTICAS O corpo humano depende de energia para várias funções que incluem manutenção dos tecidos corporais, atividade nervosas, manutenção da temperatura corporal, atividade muscular, atividade enzimática, entre outras. Como podemos saber qual a quantidade de energia que cada organismo necessita? Para obtermos a resposta para esta pergunta, temos que aprender alguns conceitos importantes. Começaremos conversando sobre necessidades energéticas. Em nutrição, as necessidades energéticas de um indivíduo fazem parte de questões básicas: • Qual a quantidade de caloria deve ser prescrita? • A ingestão de calorias está adequada? • Como deve ser a distribuição das calorias em relação aos macronutrientes? A quantidade de energia proveniente dos alimentos, necessária para o crescimento ou manutenção de indivíduos de acordo com a idade, sexo, peso, estatura e grau de atividade física, constitui o que chamamos de necessidades energéticas. Em algumas fases da vida, como infância, gestantes e lactantes, as necessidades energéticas são incrementadas pela deposição de tecidos ou a lactogênese. Na presença de doenças as necessidades energéticas podem estar aumentadas ou diminuídas, decorrentes da alteração do gasto energético. O peso corporal reflete na adequação ou não da oferta de energia de acordo com as necessidades energéticas. Vale ressaltar que o peso corporal não é um indicador qualitativo da ingestão de nutrientes como carboidratos, lipídios e proteínas e micronutrientes. Um indivíduo pode estar com o peso adequado, consumindo a quantidade de energia de acordo com suas necessidades, mas não necessariamente está ingerindo quantidades adequadas de cada macro ou micronutrientes. Para melhor entendimento da relação do peso corporal com as necessidades energéticas, vamos considerar o balanço energético. Você tem ideia do que é balanço energético? É muito relevante você entender este tema para a sua formação. Quando uma pessoa consome uma quantidade de energia, através da alimentação, menor do que suas necessidades energéticas, ocorrerá uma perda de peso. Esse déficit de energia deverá ser compensado através da utilização das reservas energéticas corporais. Isto é um exemplo de balanço energético negativo. UNIDADE 1 — METABOLISMO ENERGÉTICO 6 Já quando uma pessoa consome quantidades de energia maior do que suas necessidades ocorre um aumento no peso corporal. Neste caso, o excedente de energia será armazenado nas células do fígado e músculo na forma de glicogênio, e a maior parte na forma de triglicerídeos no tecido adiposo, caracterizando um balanço energético positivo. Para que não ocorra nem ganho nem perda de peso, é necessário que ocorra um balanço energético neutro, quando a ingestão de energia é equivalente às necessidades energéticas. 2.1 GASTO ENERGÉTICO TOTAL Convidamos você a estudar o conteúdo que explica minunciosamente os componentes do gasto energético total (GET) do organismo. É importante que você saiba que GET é a quantidade de energia que um indivíduo utiliza durante 24 horas ininterruptas, que caracterizam um dia. Os três componentes que constituem o GET são: • Gasto Energético Basal – GEB e de repouso. • Efeito térmico dos alimentos – ETA. • Gasto energético da atividade física – GEAF. 2.1.1 Gasto Energético Basal – GEB e de Repouso O gasto energético basal (GEB), ou taxa metabólica basal, consiste na quantidade mínima de energia que uma pessoa gasta de acordo com seu estilo de vida. É a quantidade de energia utilizada durante 24 horas, com o indivíduo em repouso físico e mental, em ambiente termo neutro, isento da ativação de processos geradores de calor como, por exemplo, calafrios. Para medir o GEB devem ser respeitadas algumas orientações: o indivíduo não deve ter realizado nenhuma atividade física por pelo menos 10 horas antes, e não deveter realizado nenhuma ingestão de alimentos, bebidas ou nicotina nas últimas 10 a 12 horas. O GEB corresponde a maior parte do GET, aproximadamente 60 a 70% e é relativamente constante. O Gasto Energético de Repouso (GER) refere-se à quantidade de energia gasta em todas as atividades envolvidas em funções corporais normais e para o alcance da homeostase no repouso. Estão incluídas nessas atividades: respiração, circulação, atividade das bombas de íons localizadas nas membranas celulares, síntese de compostos orgânicos e atividade do sistema nervoso central para manter a temperatura corporal. Outro termo utilizado como sinônimo de GER é Taxa Metabólica de Repouso (TMR). TÓPICO 1 — NECESSIDADES ENERGÉTICAS 7 Para a medição do GEB, são necessárias condições ótimas que incluem salas ou laboratórios equipados adequadamente. É raro que se faça na prática a medição do GEB, assim são utilizadas as medidas do GER. É importante salientar que, na maior parte dos casos, o GER é 10 a 20% maior que o GEB. Para o cálculo do GER utilizam-se equações preditivas. Você irá aprender essas equações posteriormente, nesta unidade. Agora que você já sabe o que é Gasto Energético em Repouso, lhe será apresentado os fatores que interferem no GER. A idade é um dos fatores que influenciam no GER. Durante os períodos em que a velocidade de crescimento é maior, como no primeiro e segundo anos de vida o GER é maior. Nesta fase, ocorre uma taxa aumentada de síntese tecidual. Para você ter uma ideia, cada grama de tecido sintetizado (incorporado ao organismo) são necessárias 5 Kcal. Desta forma, aproximadamente 15% do valor energético dos alimentos consumidos pelos bebês são utilizados na formação de novos tecidos. Com o passar dos anos, as necessidades energéticas para esse fim vão reduzindo, chegando à 1% do gasto energético total (GET). A composição corporal é um dos fatores que afetam grandemente no GER. A massa corporal livre de gordura (MCLG) tende a diminuir com o avançar da idade. Composição corporal corresponde à distribuição do tecido adiposo e muscular e a quantidade do peso total do corpo (MARTINS, 2009). NOTA Você deve estar se perguntando, o que é massa corporal livre de gordura? Para melhor elucidar esse conceito, vejamos rapidamente o modelo de composição corporal de dois componentes que considera o corpo dividido em massa gorda (MG) e em massa corporal livre de gordura (MCLG). A MG corresponde a todos os lipídios solúveis em solventes encontrados no tecido adiposo e em outros tecidos do corpo. A MCLG corresponde a todo o resto do corpo que não é MG, incluindo água, ossos, músculos e demais tecidos sem gordura. A maioria dos tecidos metabolicamente ativos do corpo fazem parte da MCLG, ocupam a maior parte do GER contribuindo com aproximadamente 80%. Quanto maior os níveis de massa muscular, maior o GER. Atletas bem treinados tendem a ter uma taxa metabólica basal 5% maior, quando comparada a não atletas. Na idade adulta, ocorre uma redução do GER, aproximadamente 1 a 2% por quilograma de MCLG. Um dos fatores responsáveis por essa redução é a redução nos níveis de massa muscular. UNIDADE 1 — METABOLISMO ENERGÉTICO 8 A prática de atividade física minimiza a diminuição do GER relacionado às taxas da MCLG em adultos e idosos. ATENCAO O tamanho corporal influencia no GER. Uma maior altura, significa área de superfície corporal maior e, consequentemente, uma taxa metabólica maior. Existe uma correlação entre a MCLG e tamanho corporal total. As diferenças entre o GER relacionado ao sexo estão relacionadas a características do tamanho e composição corporal. No sexo feminino, é mais comum taxas de massa gorda maiores quando comparadas ao sexo masculino, que também contém maior massa muscular. As mulheres apresentam taxa metabólicas de 5 a 10% menores que os homens. Como no envelhecimento ocorre uma redução da massa muscular também em homens, essas diferenças ficam menos evidentes com o avançar da idade. Outro fator que modula a taxa metabólica está relacionado aos hormônios. Os hormônios tiroidianos têm, entre outras funções, atuar no metabolismo celular. Quando as taxas desses hormônios estão aumentadas no hipertireoidismo, o gasto energético aumenta. Em situações em que ocorre baixa atividade glandular e as taxas hormonais estão diminuídas, o gasto energético é menor. Tal situação é denominada de hipotiroidismo. A liberação de adrenalina pelo sistema nervoso simpático em situações de estresse, favorece o gasto energético. Durante o ciclo menstrual ocorre variações na taxa metabólica das mulheres. Um pequeno aumento na taxa metabólica acontece durante a fase lútea. A gestação é um período de intensa síntese de tecido fetal, da placenta e útero. Este fato, mais alterações fisiológicas, como aumento na frequência cardíaca, provocam uma elevação da taxa metabólica basal. A presença de algumas patologias provoca uma elevação no gasto GEB, são as chamadas doenças hipermetabólicas. Alguns tipos de câncer, grandes queimaduras, processos inflamatórios e politraumatismos são alguns exemplos. A presença de febre leva a uma elevação do GER. De acordo com Dobratz et al. (2007), temperaturas ambientais muito frias parecem provocar uma elevação no gasto metabólico, porém, depende da quantidade de gordura subcutânea e proteção física através de roupas. TÓPICO 1 — NECESSIDADES ENERGÉTICAS 9 A cafeína é estimulante do sistema nervoso central (GUERRA et al., 2000). É uma metilxantina que provoca aumento no metabolismo (HOFFMAN et al., 2006). O chá verde também tem sido estudado pelo efeito no gasto energético. O álcool encontrado nas bebidas também provoca elevações no GER. Como você pode observar, vários são os elementos que podem influenciar no GER. Conhecer todas essas particularidades ajudam o profissional nutricionista a entender as necessidades energéticas dos indivíduos. Para complementar esse entendimento, iremos apresentar o efeito termogênico dos alimentos e a influência no gasto energético total. 2.1.2 Efeito Térmico ou Termogênico dos Alimentos – ETA Você sabia que o próprio consumo de alimentos provoca um gasto energético? Sim, o ETA é justamente o aumento no gasto energético relacionado com a ingestão, digestão e absorção dos alimentos. Consiste em aproximadamente 10% do GET. Você poderá encontrar na literatura outros termos para ETA, como termogênese induzida pela dieta, efeito específico de alimento ou ação dinâmica específica dos alimentos. O ETA pode corresponder à termogênese obrigatória ou termogênese facultativa. É importante diferenciar os dois tipos: • A termogênese obrigatória consiste na energia utilizada para digerir, absorver, metabolizar os nutrientes, sintetizar e armazenar os carboidratos, lipídios e proteínas. • A termogênese facultativa, também chamada de adaptativa, corresponde ao excesso de energia necessária, mais do que a termogênese obrigatória, para todos os processos envolvidos da ingestão á metabolização dos nutrientes. Algumas variações da dieta podem interferir no ETA desencadeando aumento do gasto energético após a ingestão alimentar. A seguir, você encontra alguns exemplos: • Refeições com teores maiores de proteína aumentam mais o ETA quando comparadas com refeições com teores maiores de lipídios. • Alimentos picantes aumentam o ETA e prolongam seu efeito. • Alguns compostos bioativos encontrados em alimentos de origem vegetal, como capsaicina e a cafeína, favorecem a oxidação de gorduras. • Chás feitos a partir das folhas da Caméllia sinensis, como o chá verde, chá preto, chá oolong são citados na literatura por seus efeitos no aumento do gasto energético. UNIDADE 1 — METABOLISMOENERGÉTICO 10 2.1.3 Gasto energético da atividade física – GEAF Enfim, vamos estudar o componente mais variável do GET, o gasto energético da atividade física (GEAF), que engloba tanto as atividades físicas do cotidiano quanto o exercício físico. O GEAF, varia entre 15 a 30% do GET (MELO; TIRAPEGUI; RIBEIRO, 2008). Levine e Kotz (2005) referem-se à energia gasta com atividades do dia a dia como termogênese por atividade não exercício (TANE), e a energia gasta durante a prática de exercícios físicos ou esportes como termogênese por atividade (TA). Nesse contexto, a TANE inclui o gasto energético no trabalho diário, atividades de lazer, atividades domésticas e até mesmo ficar inquieto(a). A TA varia de indivíduo para indivíduo de acordo com o tamanho corporal e a eficiência dos movimentos de cada pessoa. A massa muscular do praticante de atividade física influencia no TA de forma direta. Quanto maior a atrofia muscular, maior o TA. A diminuição da MCLG que ocorre com a idade parece estar relacionada com a diminuição da TA que acontece com o passar dos anos. O consumo excessivo de oxigênio após ao exercício é influenciado de forma direta pela duração e magnitude da atividade física. Observa-se o aumento da taxa metabólica mesmo após o término do exercício. Antes de explorarmos como calcular as necessidades energéticas, vamos falar um pouco das unidades utilizadas para medir energia. 2.2 ENERGIA X CALORIA É certo que você e a maioria das pessoas estão acostumados a lerem e ouvirem o termo caloria quando se refere à quantidade de energia gasta ou que contém nos alimentos. Caloria é a unidade padrão para medir energia. É a quantidade de energia na forma de calor necessária para elevar a 1° C a temperatura de 1 ml de água de 14° C a 15° C. O termo quilocaloria é utilizado na prática obedecendo essa mesma lógica, porque a quantidade de energia do metabolismo dos alimentos é considerada grande. Sendo assim, a quilocaloria referente à 1000 calorias é utilizada, na prática, para medir as calorias. Convencionou-se popularmente designar quilocaloria como “Caloria” com “C” maiúsculo e, de forma oficial, quilocaloria é abreviada por “kcal”. Em outros países utiliza-se medida de calorias em joule (J). Joule mede a energia na forma de trabalho mecânico. Uma kcal equivale a 4,184 quilojoules (kJ). Para transformar kcal em kJ, você deve multiplicar o valor em kcal por 4,184, e para transformar kJ em kcal, você divide por 4,184. Observe os exemplos a seguir: TÓPICO 1 — NECESSIDADES ENERGÉTICAS 11 • Exemplo 1: quantos kJ tem 20 kcal? Resposta: 20 X 4,184 = 83,68 kJ • Exemplo 2: quantas kcal tem 100 kJ? Resposta: 100 ÷ 4,184 = 23,90 kcal Você já aprendeu sobre os componentes do gasto energético total (GET). Talvez você esteja se perguntando como obter os valore do GET na prática. O nutricionista precisa ter essa informação para determinar as necessidades energéticas de seu paciente, por exemplo, e com isso propor um plano alimentar. Para podermos saber quais são as necessidades energéticas de uma pessoa, temos que saber quanto de energia ela gasta ao dia. São vários os métodos existentes para medir o gasto energético humano. Serão apresentados, a seguir, de forma breve, alguns métodos para que você tenha conhecimento de como é possível conhecer tais medidas. Na prática, são usadas equações preditivas de necessidades energéticas, as quais serão ensinadas posteriormente. Acesse os links disponíveis a seguir, para aprimorar seus conhecimentos sobre o assunto: • https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-42301997000300013 • https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0004-27302008000300005 DICAS Entre os métodos disponíveis para medir o gasto energético humano, estão a Calorimetria Direta, a Calorimetria indireta e Água duplamente marcada. 2.2.1 Calorimetria Direta É um método que exige equipamentos altamente especializados e considerados caros. Tais características classificam-no como um método pouco disponível para a população. É utilizado mais frequentemente em laboratórios e para situações especiais. A calorimetria direta consiste em monitorar o indivíduo em uma sala calorimétrica com atividade física limitada. Os equipamentos monitoram a quantidade de calor produzido no interior do indivíduo. Este método não indica o tipo de combustível que está sendo utilizado na oxidação para a geração do calor. Por tratar-se de um método que exige ambiente específico, não reflete as condições normais de gasto energético (IRETON-JONES, 2004). UNIDADE 1 — METABOLISMO ENERGÉTICO 12 2.2.2 Calorimetria Indireta É um método que consiste na verificação do consumo de oxigênio e a produção de dióxido de carbono. É utilizado a equação de Weir (1949) e o valor do quociente respiratório de 0,85 como uma constante para converter o consumo de oxigênio no GER. Trata-se de um exame simples para o paciente que respira normalmente em um medidor em frente ao rosto (Figura 2). O indivíduo deverá seguir alguns protocolos para poder ser submetido a esse método. Deverá ficar no mínimo 5 horas sem se alimentar; evitar cafeína no mínimo por 4 horas antes do exame e não fumar e não consumir bebidas alcoólicas por no mínimo 2 horas antes. Exercícios moderados devem ser abolidos pelo menos 2 horas antes da realização e para exercício de resistência vigorosa deve ser respeitado o período mínimo de 14 horas. É um método que pode ser aplicado em indivíduos enfermos, porém dependendo da situação do paciente algumas adaptações são necessárias. FIGURA 2 – EXEMPLO DE APARELHO PARA CALORIMETRIA INDIRETA FONTE: <https://ntco.com.br/wp-content/uploads/2020/04/calorimetria-320x224.png>. Acesso em: 11 mar. 2021. 2.2.3 Água Duplamente Marcada – ADM É a técnica para medir o GER considerada pela comunidade científica como padrão-ouro. Inclusive, a partir dos resultados obtidos com a aplicação desta técnica, cientistas criaram um banco de dados desde 1982, quando o método foi aplicado pela primeira vez. A partir destes dados são desenvolvidas recomendações sobre ingestão energética (IRETON-JONES, 2004; SCAGLIUSI; LANCHA JUNIOR, 2005). Basicamente, essa técnica é fundamentada no princípio de que a produção do dióxido de carbono é estimada pela diferença nas taxas de eliminação de hidrogênio e oxigênio do corpo. TÓPICO 1 — NECESSIDADES ENERGÉTICAS 13 Para isso, o indivíduo testado ingere, por via oral, água contendo isótopos estáveis de hidrogênio e oxigênio. Os isótopos são o Óxido deutério (²H2O) e oxigênio 18 (IRETON-JONES, 2004; SCAGLIUSI; LANCHA JUNIOR, 2005). Uma das vantagens deste método é a possibilidade de se realizar sem necessidade de confinamento, e a pessoa pode manter seu cotidiano. É uma técnica mais aplicável em pesquisas, pois necessita dos isótopos considerados caros e um especialista para operar os instrumentos utilizados. Agora que você já conheceu alguns métodos disponíveis para medir o GER, serão apresentadas a seguir as equações para a estimativa de gasto energético em repouso. 3 EQUAÇÕES PARA CÁLCULO DAS NECESSIDADES ENERGÉTICAS – ESTIMATIVAS DAS NECESSIDADES ENERGÉTICAS Várias equações surgiram através dos anos com o objetivo de estimar o gasto energético em repouso – GER. A estimativa do GER calculada através destas equações são baseadas na calorimetria indireta (IRETON-JONES, 2004). A mais antiga, mais conhecidas e mais usada até alguns anos atrás, a equação de Harris-Benedict (HARRIS; BENEDICT, 1919), a qual estima o GEB para indivíduos normais ou com alguma patologia. Alguns estudos sugerem que, entre outras equações, a de Harris- Benedictpode estimar o GER em até 20%. Quando comparada com a calorimetria indireta, “o valor energético total fica superestimado em cerca de 500 Kcal” (HINKELMANN et al., 2015, p. 142). O gasto energético basal estimado pela equação de Harris-Benedict para indivíduos doentes deve ser acrescido do fator injuria (Tabela 2), fator atividade (Tabela 3), fator térmico (Tabela 4), no caso da presença de febre. As variáveis utilizadas são: idade em anos, altura em cm e peso em kg (Tabela 1). UNIDADE 1 — METABOLISMO ENERGÉTICO 14 TABELA 1 – FÓRMULA DE HARRIS-BENEDICT PARA ESTIMATIVA DO GEB (1919) Observação: Dependendo da referência de obtenção da fórmula, os valores podem variar. FONTE: Adaptado de Marchini et al. (1998) Homem TMB = 66 + (13,7 x Peso em kg) + (5 x Altura em cm) – (6,8 x Idade em anos) Mulher TMB = 655 + (9,6 x Peso em kg) + (1,7 x Altura em cm) – (4,6 x Idade em anos) TABELA 2 – VALORES UTILIZADOS COMO FATOR INJURIA EM ALGUMAS CONDIÇÕES CLÍNICAS FONTE: Hinklemann (2015, p. 142-143) Situação clínica Fator injuria Diabetes 1,1 Pós-operatório Leve – 1 a 1,5; médio – 1,05 a 1,1; grande – 1,1 a 1,25 Retocolite ulcerativa inespecífica e doença de Crohn 1,3 a 1,75 Hepatopatia 1,2 Doença renal dialítica 1,2 Infecção Leve – 1,1 a 1,2; médio – 1,2 a 1,4; grave – 1,4 a 1,8 Pequena cirurgia 1,15 a 1,25 TABELA 3 – VALORES DO FATOR ATIVIDADE – PACIENTES DOENTES FONTE: Hinklemann (2015, p. 143) Nível de atividade Fator atividade Acamado 1,2 Acamado móvel 1,25 Deambulando 1,3 TABELA 4 – FATOR TÉRMICO FONTE: Hinklemann (2015, p. 143) Temperatura corporal Fator térmico 38° C 1,1 39° C 1,2 40° C 1,3 41° C 1,4 Quando a equação de Harris-Benedict é utilizada para adultos saudáveis, multiplica-se o GEB pelo fator atividade para determinar o GET. O exemplo a seguir ilustra o cálculo do GEB. Exemplo: qual o GEB de uma mulher, 30 anos, 170 cm, 72 kg? TÓPICO 1 — NECESSIDADES ENERGÉTICAS 15 • GEB = 655 + (9,6 x 72) + (1,7 X 170) – (4,6 X 30). • GEB = 655 + 691,2 + 289 – 138. • GEB = 1497,2 kcal/dia. Além da equação de Harris-Benedict, outras equações, como de Mifflin-St Jeor, Penn-State e Ireton-Jones, podem ser utilizadas para pessoas com alguma situação especial. A equação para calcular o GEB proposta por Schofield (1985) considera as variáveis idade, sexo e peso, conforme Tabela 5. TABELA 5 – EQUAÇÃO DE SCHOLFIELD (1985) FONTE: Pereira et al. (2008, p. 70) Faixa Etária Homens Mulheres 3-10 (0,085 x P+ 2,033) x 239 (0,063 X P + 2,466) x 239 10-18 (0,056 x P + 2,898) x 239 (0,056 x P + 2,898) x 239 18-30 (0,062 x P 2,036) x 239 (0,062 x P + 2,036) x 239 30-60 (0,034 x P + 3,538) x 239 (0,034 x P + 3,538) x 239 Onde P é peso corporal atual. O exemplo a seguir mostra o cálculo do GEB do mesmo exemplo usada para a equação de Harris-Benedict (1919). Exemplo: mulher, 30 anos, 170 cm, 72 kg. • GEB = (0,034 x 72 + 3,538) x 239. • GEB = 5,986 x 239. • GEB = 1431 Kcal. A equação proposta pela FAO/OMS/UNU (1985) para o cálculo do GEB, utiliza as mesmas variáveis de Scholfield (1985), idade, sexo e o peso corporal (Tabela 6). TABELA 6 – EQUAÇÃO PARA CÁLCULO DO GEB FAO/OMS/UNU (1985) FONTE: Pereira et al. (2008, p. 70) Faixa etária - anos Homens Mulheres 0-3 60,9 X P - 54 61 x P – 51 3-10 22,7 X P +495 22,5 X P + 499 10-18 17,5 X P + 651 12,2 X P + 746 18-30 15,3 X P + 679 14,7 X P + 469 30-60 11,6 X P + 879 8,7 X P + 829 >60 13,5 X P + 487 10,5 X P + 569 UNIDADE 1 — METABOLISMO ENERGÉTICO 16 A FAO/OMS/UNU propõem uma classificação de estilo de vida em relação à intensidade da atividade física habitual. Após o cálculo do GEB, é necessário multiplicar pelo fator atividade baseado nesta classificação (Tabela 7). TABELA 7 – CLASSIFICAÇÃO DO ESTILO DE VIDA DE ACORDO COM O NÍVEL ATIVIDADE FÍSICA HABITUAL (OMS/FAO) FONTE: Adaptado de Carvalho et al. (2012) Categoria NAF Estilo de vida sedentário ou atividades leves 1,40 a 1,69 Estilo de vida ativo ou moderadamente ativo 1,70 a 1,99 Estilo de vida intenso ou intensamente ativo 2 a 2,40 Quais são as atividades que correspondem a cada nível de atividade física – NAF proposto pela FAO/OMS/UNU (1985)? • Para estilo de vida sedentário ou atividades leves: indivíduos que passam a maioria do dia sentados em atividades de trabalho ou de lazer que requerem pouco movimento. Atividades que requerem movimento são raramente praticadas. • Para estilo de vida ativo ou moderadamente ativo: indivíduos com atividades diárias que gastam mais energia do que os de estilo de vida sedentário como, por exemplo, pessoas que trabalham em construção de casa ou trabalhadores rurais ou indivíduos com atividades diárias semelhantes às do estilo de vida sedentário, mas que costumam praticar uma hora de exercícios por dia como ciclismo, corrida, natação, dança ou outra atividade aeróbica. • Para estilo de vida intenso ou intensamente ativo: indivíduos com atividades diárias que gastam mais energia do que aqueles com estilo de vida moderadamente ativo como, por exemplo, as pessoas com trabalhos em que carregam artigos pesados ou indivíduos que praticam maios de duas horas diárias de exercícios como ciclismo, corrida, natação, dança ou outra atividade aeróbica. O Instituto de Medicina (IOM – Institute of Medicine), a National Academy of Sciences e a Food and Nutrition Board, juntamente com Health Canada estabeleceram as necessidades estimadas de energia (NEE) para gestantes, lactantes, bebês, crianças, homens e mulheres adultas. No que consiste as NEE? As NEE correspondem a ingestão média de energia dietética estimada para manter o equilíbrio energético em um adulto saudável com idade, sexo, peso e estatura definidos e com grau de atividade física compatível com boa saúde (IOM, 2002; 2005). Para gestantes, crianças e lactantes, a NEE inclui as necessidades energéticas associadas à deposição de tecidos ou à secreção de leite em taxas compatíveis com uma boa saúde (IOM, 2002; 2005). TÓPICO 1 — NECESSIDADES ENERGÉTICAS 17 O termo “Necessidades estimadas de energia” (NEE) também é conhecido como Estimativa de necessidade energética, uma tradução do inglês Estimated Energy Requiriment (EER). Essas equações foram desenvolvidas tanto para indivíduos com o índice de massa corporal adequado, como para pré-obesos e obesos (FISBERG et al., 2005). As equações da NEE propostas pelo IOM (2005) são divididas por fases da vida: • NEE para lactentes e crianças de 0 a 2 anos: são indicadas para lactentes e crianças que estejam dentro do percentil 3-97 do índice Peso para Estatura. • NEE para meninos de 3 a 8 anos: são indicadas para crianças e adolescentes que estejam dentro do percentil 5-85 para o IMC. • NEE para meninos de 9 a 18 anos: são indicadas para crianças e adolescentes que estejam dentro do percentil 5-85 para o IMC. • NEE para meninas de 3 a 8 anos: são indicadas para crianças e adolescentes que estejam dentro do percentil 5-85 para o IMC. • NEE para meninas de 9 a 18 anos: são indicadas para crianças e adolescentes que estejam dentro do percentil 5-85 para o IMC. • NEE para meninos de 19 anos e mais velhos: são indicadas para indivíduos do sexo masculino, dentro desta faixa etária, que estejam com o IMC entre 18,5 a 25 kg/m². • NEE para meninas de 19 anos e mais velhos: são indicadas para indivíduos do sexo feminino, dentro desta faixa, etária que estejam com o IMC entre 18,5 a 25 kg/m². • NEE para gestante: utiliza-se a equação para a idade e adiciona-se a deposição de energia durante a gravidez: ◦ 14 a 18 anos: - 1° trimestre – NEE em adolescentes + o (deposição de energia durante a gestação); - 2° trimestre – NEE em adolescente + 160 kcal (8 kcal/semana X 20 semanas) + 180 Kcal; - 3° trimestre – NEE em adolescente + 272 kcal (8 kcal/semana X 34 semanas) + 180 kcal. ◦ 19 a 50 anos: - 1° trimestre – NEE em adultos+ o (deposição de energia durante a gestação); - 2° trimestre – NEE em adultos + 160 kcal (8 kcal/semana 1 X 20 semanas) + 180 kcal; - 3° trimestre – NEE em adultos + 272 kcal (8 kcal/semana 1 X 34 semanas) + 180 kcal. • NEE para mulheres lactantes: utiliza a equação para a idade mais produção de energia pelo leite menos perda de peso: ◦ 14 a 18 anos: - Primeiros 6 meses – NEE em adolescentes + 500 kcal – 170 kcal; - Segundos 6 meses – NEE em adolescentes + 400 kcal – 0 (zero) kcal. UNIDADE 1 — METABOLISMO ENERGÉTICO 18 ◦ 19 a 50 anos: - Primeiros 6 meses – NEE em adultos + 500 kcal – 70 kcal; - Segundos 6 meses – NEE em adultos + 400 kcal – 0 (zero) kcal. Como as necessidades energéticas para gestantes, lactantes, lactentes, crianças e adolescentes são estudadas com detalhes na disciplina de conteúdo direcionado para nutrição materno infantil, vamos focar na equação da NEE para adultos (com 19 anos ou mais). Como você pode observar na Tabela 8, a equação para o cálculo das NEE utiliza as variáveis idade, peso, estatura, sexo (as equações para homens e mulheres são diferentes) e o coeficiente de atividade física (CAF). O CAF varia de acordo com o nível de atividade física (NAF) (IOM, 2005) em: • Sedentário. • Baixo ativo. • Ativo. • Muito ativo. Os valores do CAF, de acordo com NAF proposto pelo IOM (2005), são: • Para homens: ◦ CAF- 1 para sedentário. ◦ CAF- 1,11 para baixo ativo. ◦ CAF- 1,25 para ativo. ◦ CAF- 1,48 para muito ativo. • Para mulheres: ◦ CAF- 1 para sedentário. ◦ CAF- 1,12 para baixo ativo. ◦ CAF- 1,27 para ativo. ◦ CAF- 1,45 para muito ativo. As atividades físicas relacionadas ao CAF são (IOM, 2005): • Sedentário: trabalhos domésticos de esforço leve a moderado, caminhadas para atividades relacionadas com o cotidiano, ficar sentado por várias horas. • Pouco ativo/Baixo ativo: caminhadas (6,4 km/h), além das mesmas atividades relacionadas ao nível sedentário. • Ativo: ginástica aeróbica, corrida, natação, jogar tênis, além das mesmas atividades relacionadas ao nível sedentário. • Muito ativo: ciclismo de intensidade moderada, corrida, pular corda, jogar tênis, além das mesmas atividades relacionadas ao nível sedentário. TÓPICO 1 — NECESSIDADES ENERGÉTICAS 19 TABELA 8 – EQUAÇÕES PARA O CÁLCULO DAS NECESSIDADES ESTIMADAS DE ENERGIA – NEE, PROPOSTA PELAS DRI, DE ENERGIA PARA HOMENS E MULHERES COM IDADE SUPERIOR A 19 ANOS. FONTE: Adaptado de IOM (2005) Homens > 19 anos NEE= 662 – (9,53 X Idade) + CAF X (15,91 X Peso [kg] + 539,6 x Estatura [m]) Mulheres > 19 anos NEE= 354 – (6,91 X Idade) + CAF X (9,36 X Peso [kg] + 726 x Estatura [m]) Hora de colocar em prática o cálculo das NEE através de um exemplo. Exemplo: homem de 23 anos, com 1,73 m, 74 kg de peso corporal. O IMC deste homem é de 24,72 kg/m², ele está eutrófico, O NAF dele é de baixo ativo, assim, o CAF é de 1,11. Quais as NEE deste homem? Resposta: NEE = 662 – (9,53 X Idade) + CAF X (15,91 X Peso [Kg] + 539,6 x Estatura [m]) NEE = 662 – (9,53 X 23) + 1,11 X (15,91 X 74+ 539,6 X 1,73) NEE = 622- 219,19 + 1,11 X (1.177,34 + 933,508) NEE = 622 – 219,19 + 1,11 X 2110,848 NEE = 622 – 219,19 + 2343,04 NEE = 402,81 + 2343,04 NEE = 2745,85 Kcal 20 Neste tópico, você aprendeu que: • A fonte de energia básica para os seres vivos é o Sol. • O nutricionista deverá estar apto para verificar, através de equações preditivas, as necessidades energéticas de indivíduos em diferentes situações. • O gasto energético total é composto pelo gasto energético em repouso, pelo efeito termogênico dos alimentos e pelo gasto com atividade física. • Vários fatores influenciam no gasto energético em repouso. • Existem vários métodos para medir o gasto energético de um indivíduo. • Existem equações para calcular a estimativa do gasto energético total. RESUMO DO TÓPICO 1 21 AUTOATIVIDADE 1 Vários métodos foram desenvolvidos para determinar a quantidade de energia que uma pessoa gasta durante um período, geralmente, de 24 horas em repouso. Poucos destes métodos são utilizados na prática clínica para definir as necessidades energéticas. Os nutricionistas utilizam as equações desenvolvidas através, principalmente, do método de calorimetria indireta, que predizem as necessidades energéticas diárias. Sobre o exposto, analise as seguintes afirmativas: I- O método da calorimetria direta, é considerado caro e de difícil aplicabilidade, pois exige ambiente específico e preparado para determinar o gasto energético em repouso. II- A técnica desenvolvida para medir o gasto energético em repouso, considerado como padrão-ouro, e utilizado para determinar recomendações de ingestão calórica, é denominada de água duplamente marcada III- A técnica de calorimetria indireta foi desenvolvida para determinar o gasto energético total, considerando o efeito termogênico dos alimentos e o gasto com atividade física. IV- O método de calorimetria indireta tem como vantagem o fato de o indivíduo não precisar frequentar salas especializadas. V- O método de calorimetria indireta é baseado no consumo de oxigênio e produção de CO2. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Somente as afirmativas I, III e V são verdadeiras. b) ( ) Somente as afirmativas II e III são verdadeiras. c) ( ) Somente as afirmativas I, IV e V são verdadeiras. d) ( ) Somente as afirmativas I, II e V são verdadeiras. 2 Toda pessoa necessita de energia para viver. As células necessitam constantemente de energia para desempenhar suas funções. A quantidade total de energia utilizada por dia é composta por vários componentes. Sobre o exposto, analise as seguintes afirmativas: I- O gasto energético em repouso é o maior componente do gasto energético total (GET). Inclui a energia gasta em atividades fisiológicas como respiração, circulação, atividade enzimática e síntese de compostos orgânicos. II- O efeito termogênico dos alimentos corresponde a cerca de 40% do GET. III- O mais variável componente do GET é o gasto com atividade física. IV- Uma das equações para calcular o gasto energético em repouso é a da FAO/OMS/UNU. As variáveis consideradas por essa equação são idade, sexo e peso corporal. V- A equação de Schofield para o cálculo do gasto energético basal – GEB, considera as variáveis idade, sexo e peso. 22 Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Somente as afirmativas I, II e V são verdadeiras. b) ( ) Somente as afirmativas II, III, IV e V são verdadeiras. c) ( ) Somente a afirmativa III é verdadeira. d) ( ) Somente a afirmativa I, III, IV e V são verdadeiras. 3 O Gasto Energético de Repouso (GER) refere-se à quantidade de energia gasta em todas as atividades envolvidas em funções corporais normais e para o alcance da homeostase no repouso. Estão incluídos entre essas atividades a respiração, a circulação, atividade das bombas de íons localizadas nas membranas celulares, síntese de compostos orgânicos e atividade do sistema nervoso central para manter a temperatura corporal. Outro termo utilizado com sinônimo de GER é Taxa Metabólica de Repouso (TMR). Sobre o exposto, analise as seguintes afirmativas: I- Vários são os fatores que influenciam no GER. A composição corporal é um deles, quanto maior a quantidade de massa muscular, maior o GER. O músculo é um tecido metabolicamente mais ativo quando comparado com o tecido adiposo. II- A presença de febre reduz a taxa metabólica em repouso. III- O aumento nas taxas dos hormônios tiroidianos reduz a taxa metabólica em repouso em aproximadamente 30% do normal. IV- Com o avançar da idade ocorre uma redução da taxa metabólica em repouso. Idosos gastam menos energia em repouso quando comparados com indivíduos jovens. V- O tamanho corporal não influencia diretamente no gasto energético em repouso.Não existe diferença na taxa metabólica em repouso entre pessoas altas e pessoas de baixa estatura. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Somente as afirmativas I, II, IV e V são verdadeiras. b) ( ) Somente as afirmativas I e IV são verdadeiras. c) ( ) Somente as afirmativas I, III, IV e V são verdadeiras. d) ( ) Todas as afirmativas são verdadeiras. 4 Como você aprendeu neste tópico da Unidade 1, o gasto de energia total pelo organismo e o consumo de energia através da alimentação determinam o balanço energético. Explique o significado de balanço energético negativo relacionado ao metabolismo energético de uma pessoa adulta e sua principal consequência. 23 TÓPICO 2 — UNIDADE 1 METABOLISMO DOS MACRONUTRIENTES 1 INTRODUÇÃO No Tópico 1 desta unidade, você aprendeu sobre o gasto e necessidades energéticas do corpo humano. Neste tópico, você irá aprender sobre o metabolismo dos macronutrientes, carboidratos, proteínas e lipídios, suas funções e os processos envolvidos na obtenção de energia para o organismo humano. É fundamental para o futuro nutricionista ter plena compreensão da função dos nutrientes no funcionamento do corpo humano, incluindo os mecanismos envolvidos na disponibilidade de energia para a execução das atividades celulares, dos órgãos e sistemas, seja para a sobrevivência ou para as atividades físicas envolvidas no dia a dia. A partir deste conhecimento, será possível compreender a relação da alimentação e o funcionamento adequado do organismo, envolvendo crescimento e desenvolvimento, reparo e manutenção de tecidos e preservação e recuperação da saúde. Antes de iniciarmos nossos estudos do metabolismo dos macronutrientes, vamos relembrar alguns conceitos relevantes que servem de base para a formação de todo este conhecimento. Iniciaremos com a definição de alimentos. Você, acadêmico do curso de nutrição, sabe definir alimentos? Os alimentos incluem todas as substâncias sólidas e líquidas que, ao serem disponibilizadas ao trato digestivo, passam por processos de degradação chamados de digestão, que disponibilizam para o organismo substâncias denominadas de nutrientes. E o que realmente são nutrientes? Nutrientes são, justamente, as substâncias químicas disponibilizadas através da digestão dos alimentos e absorvidas pelo trato gastrointestinal. Após a absorção, os nutrientes são distribuídos para as células do corpo humano para desempenharem várias funções, incluindo a disponibilidade de energia. Como você já deve ter lido ou ouvido, os nutrientes são classificados em macronutrientes e micronutrientes. 24 UNIDADE 1 — METABOLISMO ENERGÉTICO Os macronutrientes são aqueles que nosso organismo necessita em maior quantidade, sendo o grama (g) a unidade de recomendação mais utilizada. Além de várias outras funções, os macronutrientes têm uma característica específica de serem fontes de energia para o organismo. Os macronutrientes incluem os carboidratos, proteínas e lipídios. Embora os micronutrientes, os quais incluem as vitaminas e minerais, serem essenciais ao funcionamento adequado do organismo, eles não disponibilizam energia de forma direta. Muitos atuam no metabolismo energético atuando como cofatores enzimáticos, por exemplo. O nosso organismo não necessita de grandes quantidades de micronutrientes, as unidades de recomendação são geralmente miligramas ou microgramas. Agora que já relembramos um pouco das definições básicas em nutrição humana, vamos iniciar nossos estudos do metabolismo dos macronutrientes. Espero que você, acadêmico, aproveite todas as informações a seguir e as transforme em conhecimento. 2 METABOLISMO DOS CARBOIDRATOS Atualmente, a palavra carboidrato se tornou, de uma certa forma, “popular”. Aparece em várias mídias, redes sociais, blogs, revistas impressas, entre outras. Na maioria das vezes, a referência feita aos carboidratos, nesses meios de comunicação, principalmente por leigos, é negativa. Veremos que, de acordo com a literatura científica, os carboidratos têm fundamental importância no nosso metabolismo, e, no final deste tópico, você deverá ter condições de pontuar as funções dos carboidratos no organismo, entender a importância deste macronutriente como fonte de energia e estar apto a identificar o que são mitos e verdades sobre esse tema. Que tal se tornar um bom conhecedor dos carboidratos? Vamos começar sobre a origem dos carboidratos na dieta humana? No início desta unidade, lá no Tópico 1, quando foi iniciado a explanação sobre energia, foi explicado o papel do Sol e da fotossíntese como fonte básica de energia para os seres humanos. Lembra? A formação dos carboidratos depende desse processo, e são produzidos pelos vegetais. Desta forma, são os macronutrientes mais abundantes na natureza. A partir da década de 1970, muitas novas descobertas sobre carboidratos surgiram, graças ao desenvolvimento de técnicas avançadas como eletroforese, espectrometria e cromatografia. TÓPICO 2 — METABOLISMO DOS MACRONUTRIENTES 25 Você sabia que existe um novo ramo da ciência denominado de Glicobiologia, que foca seus estudos nos carboidratos? INTERESSA NTE Sarda e Giuntini (2013) definiram carboidratos como um grupo variado de substâncias que apresentam propriedades físicas, químicas e fisiológicas bem peculiares. Os carboidratos, além de serem compostos encontrados nos vegetais e terem função nutricional tanto para humanos como para animais, também ocupam funções extranutricionais, como as fibras de folhas de papel, através da celulose; fazer parte do exoesqueleto de crustáceos; e componentes estruturais das paredes celulares de plantas e microrganismos. A glicose é a fonte de energia principal para todas as células dos mamíferos. O catabolismo dos carboidratos libera energia química para a formação do ATP. A contribuição calórica dos carboidratos é de 4 kcal por grama (PANSANI, 2016, p 25). Vale ressaltar que, além da importante função energética dos carboidratos que iremos explorar adiante, este composto químico também tem outras variadas funções. Um exemplo é a heparina, substância anticoagulante e antitrombótica muito utilizada na medicina (POMIN; MOURAS, 2006). Além da glicose encontrada na corrente sanguínea, armazenada na forma de glicogênio, também é encontrado carboidrato na estrutura do organismo na forma de glicocálix ou glicocálice. Trata-se de um envoltório externo à membrana plasmática presente em células animais e de alguns protozoários. O glicocálix, é formado pela associação de carboidrato e proteína e de carboidrato e lipídio. Quimicamente, os carboidratos são compostos de carbono, hidrogênio e oxigênio, em uma proporção de C:O:H2. Isto significa que, para cada átomo de carbono, tem um átomo de oxigênio e dois átomos de hidrogênio (GALLAGHER, 2012). Tal proporção sugere que os carboidratos apresentam um carbono ligado à água – hidratado. O cérebro e as hemácias utilizam exclusivamente a glicose como fonte de energia. O organismo tem mecanismos para manter o suprimento de glicose de forma constante para garantir o funcionamento principalmente dessas células. Como são classificados os carboidratos dietéticos? 26 UNIDADE 1 — METABOLISMO ENERGÉTICO O futuro nutricionista deve ter muito claro a classificação dos carboidratos, suas funções e fontes alimentares. Você está pronto para adquirir o conhecimento dos tipos de carboidratos e poder conversar com seus colegas sobre o assunto com propriedade? Os carboidratos chamados de simples, são também chamados de açucares e são constituídos por uma ou duas moléculas de sacarídeos. A glicose e frutose são exemplos de carboidratos simples. Os carboidratos mais complexossão formados por várias moléculas de sacarídeos ligadas entre si através das ligações glicídicas. O amido é um carboidrato complexo de muita importância para a alimentação de humanos (DEMONTE, 1998). Como ficou evidente no parágrafo anterior, a classificação dos carboidratos em simples e complexos se dá de acordo com o grau de polimerização. Esta classificação é baseada no número de moléculas de sacarídeos (açucares) existente na cadeia. Vamos começar a explorar o conteúdo dos carboidratos simples como monossacarídeos e dissacarídeos, posteriormente os oligossacarídeos e os mais complexos, os polissacarídeos. Os monossacarídeos são “açucares simples”. A palavra deriva dos termos “mono”, que significa “um”, e sacarídeos, que significa “açúcar”. São encontrados na natureza, principalmente como componentes básicos de dissacarídeos ou polissacarídeos. São compostos por apenas um sacarídeo, uma molécula de açúcar (GALLAGHER, 2012). Os monossacarídeos de importância dietética possuem seis átomos de carbono, chamado de hexoses. As hexoses encontradas na natureza e consumidas através dos alimentos são a glicose, frutose e galactose (GALLAGHER, 2012). A ribose é um monossacarídeo composto por cinco carbonos. É formada nos processos metabólicos no organismo, não é disponível nos alimentos. É componente dos ácidos nucleicos, RNA e DNA (DEMONTE, 1998). A glicose é o monossacarídeo utilizado pelas células como fonte energética. A maior parte do produto da digestão dos carboidratos dos alimentos é a glicose (GALLAGHER, 2012). Dextrose é outra denominação da glicose (DEMONTE, 1998). Na Figura 3, é possível visualizar a estrutura química da glicose na forma linear e na forma de anel. No organismo humano, a glicose apresenta-se na forma de anel. TÓPICO 2 — METABOLISMO DOS MACRONUTRIENTES 27 FIGURA 3 – MOLÉCULA DE GLICOSE FONTE: <https://s2.static.brasilescola.uol.com.br/img/2012/10/glicose.jpg>. Acesso em: 11 mar. 2021. A glicose, quando hidrolisada, dá origem a aldeído, sendo chamada de aldohexose (DEMONTE, 1998). A frutose, também conhecida como levulose, é um composto sólido, incolor, cristalino e solúvel em água. É encontrada sob forma isolada na natureza e também na sacarose, ligada à uma molécula de glicose (BARREIROS; BOSSOLAN; TRINDADE, 2005). É o monossacarídeo mais doce encontrado nos alimentos. Quando comparada à sacarose, tem valor de doçura de 173% (GALLAGHER, 2012). Por ter um poder adoçante alto, a frutose é utilizada por algumas pessoas para reduzir o consumo da sacarose. É importante alertar, que não deve ser utilizada por diabéticos como adoçante dietético, pois, após ser absorvida no intestino delgado, a maior parte da frutose é convertida em glicose no fígado. A frutose também faz parte da constituição dos frutanos, como a inulina que tem sido muito estudada pela ação prebiótica e sua influência sobre a microbiota intestinal. Exemplos de fontes alimentares de inulina incluem chicória, alcachofra e cebola (DOLINSKI, 2009). As frutas possuem a frutose como monossacarídeo predominante. Os vegetais, de uma forma geral, podem ter de 1 a 2% do peso de frutose livre ou uma quantidade um pouco maior na forma de sacarose (BARREIROS; BOSSOLAN; TRINDADE, 2005). 28 UNIDADE 1 — METABOLISMO ENERGÉTICO O mel é o alimento com a maior concentração de frutose, numa proporção de 42,4% do peso (BARREIROS; BOSSOLAN; TRINDADE, 2005). A rafinose, é um trissacarídeo (formado por três monossacarídeos) e a estaquiose é um tetrassacarídeo (formado por quatro monossacarídeos), são classificados como oligossacarídeos que também possuem frutose em suas cadeias. Não são digeridos e nem absorvidos no trato gastrointestinal de humanos. As fontes alimentares desses carboidratos são as leguminosas, como feijão, soja, ervilha e lentilha (BARREIROS; BOSSOLAN; TRINDADE, 2005, DOLINSKI, 2009). A galactose é um monossacarídeo encontrado no leite e derivados ligados à glicose, formando a lactose. Também, após ser absorvida, é convertida em glicose no fígado (DEMONTE, 1998). O valor de doçura equivalente à sacarose é de 32% (GALLAGHER, 2012). Agora que você já conhece os monossacarídeos de importância dietética e energética, lhe convido a conhecer os dissacarídeos, sua constituição e fontes alimentares. Os dissacarídeos são carboidratos simples formados pela combinação de dois monossacarídeos. Quando dois monossacarídeos se ligam, ocorre uma reação de condensação e uma molécula de água é liberada. A ligação entre dois monossacarídeos é chamada de ligação glicosídica ou sacarídica. Existem dois tipos de ligação glicosídica, a alfa(α) e a beta (β). Os seres humanos produzem enzimas digestivas somente capazes de digerir carboidratos com ligações do tipo alfa (DEMONTE, 1998, GALLAGHER, 2012). Os dissacarídeos de importância dietética e fisiológica são a sacarose, a lactose e a maltose. A composição de cada um encontra-se no Quadro 1. QUADRO 1 – DEGRADAÇÃO DOS DISSACARÍDEOS FONTE: Adaptado de Gallagher (2012) DISSACARÍDEOS, COMPOSIÇÃO E ENZIMAS DISSACARIDASES Sacarose → Glicose + frutose – Enzima sacarase Lactose → Glicose + galactose – Enzima lactase Maltose → Glicose + glicose – Enzima maltase A sacarose é encontrada em vegetais, mel, açúcar de cana e açúcar de beterraba. A dieta ocidentalizada tem sido apontada como uma das causas do aumento do excesso de peso, justamente por uma de suas características, o consumo frequente de fontes alimentares ricas em açucares, principalmente a sacarose. A média de consumo de sacarose fica em torno de 30 a 40% dos carboidratos da dieta. TÓPICO 2 — METABOLISMO DOS MACRONUTRIENTES 29 O chamado açúcar do leite, a lactose é formada pelos mamíferos. É composta por uma molécula de glicose unida à uma molécula de galactose. É considerado o menos doce dos açucares simples. A equivalência do valor de doçura em relação à sacarose é de 16% (GALLAGHER, 2012). A ligação alfa entre duas moléculas de glicose forma a maltose. Não é comum encontrar naturalmente nos alimentos. Durante a digestão de polissacarídeos, amido, ocorre a produção de maltose. Muitos alimentos industrializados contêm maltose como aditivos (GALLAGHER, 2012, DEMONTE, 1998). “Naturalmente é encontrada no trigo e cevada germinados” (PANSANI, 2016, p. 29). Você já deve ter lido em rótulos de alimentos, na descrição dos ingredientes, o termo açúcar invertido. É uma forma natural de açúcar formada por partes iguais entre frutose e glicose. Quando se compara a mesma quantidade de sacarose e açúcar invertido, o último é mais doce. Como esse tipo de açúcar não sofre cristalização, é mais útil na produção de alimentos doces (GALLAGHER, 2012). IMPORTANT E Carboidratos que contêm de três a dez moléculas de monossacarídeos na cadeia são chamados de oligossacarídeos (GALLAGHER, 2012). Os oligossacarídeos de importância dietética para humanos possuem ligações do tipo beta entre os monossacarídeos, não sendo digeridos. Uma exceção é a maltodextrina, produzida a partir da digestão de cadeias maiores de moléculas de glicose ligadas por ligações do tipo alfa (PANSANI, 2016, p 28). Você deve estar se perguntando, se não digerimos, então, por que tem importância na alimentação humana? É uma observação bem relevante. Vamos ver o porquê do questionamento anterior. Muitos dos oligossacarídeos encontrados nos alimentos têm sua importância, pois, como não são digeridos e nem absorvidos, atuam como fibras dietéticas. Não apresentam importância em relação à disponibilização de energia, pelo menos diretamente. As bactérias da microbiota intestinal fermentam esses oligossacarídeos eum dos produtos são os ácidos graxos de cadeia curta (AGCC) utilizados pelos colonócitos como fonte de energia. Pesquisas têm apontado vários efeitos benéficos para a saúde associados às fibras dietéticas fermentáveis. 30 UNIDADE 1 — METABOLISMO ENERGÉTICO Leia o artigo intitulado Fibra alimentar – ingestão adequada e efeitos sobre a saúde do metabolismo, em: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0004 -27302013000600001 DICAS Os carboidratos complexos são aqueles formados por mais de dez moléculas de monossacarídeos. São encontrados na natureza alguns com 3.000 ou mais unidades de monossacarídeos (DEMONTE, 1998, GALLAGHER, 2012). São encontrados amplamente distribuídos em várias espécies vegetais, em grânulos contendo amido, e servem como fonte de energia para animais e para as próprias plantas (GALLAGHER, 2012). O amido, polissacarídeo de extrema importância na dieta humana, constitui, em média, 80% dos polissacarídeos consumidos na dieta (WALTER; SILVA; EMANUELLI, 2005), e é encontrado de forma abundante em cereais, raízes e tubérculos. São exemplos de boas fontes alimentares de amido o arroz, a mandioca, o trigo, a batata, o milho e o feijão (PANSANI, 2016). Como já mencionado anteriormente, o amido é uma das principais fontes de energia da dieta. A hidrólise do amido libera muitas moléculas de glicose. A estrutura do amido é composta por cadeias de amilose e amilopectina. O que difere essas cadeias é a sua orientação. A amilose é formada por ligações glicosídicas entre moléculas de glicose do tipo alfa (1 4), levando a formação de uma cadeia linear. Técnicas mais modernas, identificaram ramificações em algumas moléculas de amilose. A amilopectina é composta por moléculas de glicose unidas através de ligações do tipo alfa (1 → 4) e alfa (1 → 6), originando uma estrutura ramificada (WALTER; SILVA; EMANUELLI, 2005). A amilopectina é maior e mais abundante nos alimentos, principalmente tubérculos e grãos (GALLAGHER, 2012, p. 36). O tratamento térmico é importante para que os grânulos de amido inchem, gelatinize, amacie o amido e favoreça o rompimento da parede celular e com isso possibilita a ação das enzimas digestivas (GALLAGHER, 2012, p 36). A classificação do amido em glicêmico ou resistente é relacionada com a degradação da cadeia de glicose por enzimas do trato digestório. O amido glicêmico pode, ainda, ser classificado em amido rapidamente digerível ou lentamente digerível no intestino delgado. TÓPICO 2 — METABOLISMO DOS MACRONUTRIENTES 31 O amido resistente não é digerido no trato gastrointestinal, mas é fermentado pelas bactérias da microbiota intestinal. É considerado fibra dietética. Têm sido atribuídas a esse tipo de amido funções importantes como prebióticos e a saúde da microbiota intestinal (DOLINSKI, 2009). O amido resistente é encontrado em alimentos não processados como grãos, batata crua, banana verde entre outros. Processamentos aplicados em alguns alimentos como esterilização ou secagem em altas temperaturas, podem aumentar a proporção do amido resistente (PEREIRA, 2007). A banana verde, ou biomassa de banana verde, são fontes alimentares de amido resistente. FIGURA – CACHO DE BANANA FONTE: <https://conteudo.imguol.com.br/2012/10/05/banana-verde-ilustra- 1349448883952_615x300.jpg>. Acesso em: 11 mar. 2021. INTERESSA NTE As dextrinas também são polissacarídeos que resultam da digestão do amido (GALLAGHER, 2012). São encontradas em muitos produtos alimentícios industrializados e suplementos. Os polissacarídeos não amido, derivados da parede celular, são a celulose, hemicelulose e pectina. Têm importância na alimentação como fibras dietéticas. “Exercem efeitos benéficos na função intestinal, sensação de saciedade, e alguns sevem como substrato para fermentação pelas bactérias da microbiota intestinal” (PANSANI, 2016, p. 28). Agora que você já aprendeu ou revisou os tipos de carboidratos, funções, características e fontes alimentares, chegou o momento de iniciar o estudo da digestão e absorção deste macronutriente e, em seguida, os mecanismos envolvidos na função energética dos carboidratos. 32 UNIDADE 1 — METABOLISMO ENERGÉTICO 2.1 DIGESTÃO E ABSORÇÃO DOS CARBOIDRATOS O processo de digestão e absorção dos nutrientes é fundamental para que os substratos energéticos estejam disponíveis para as células e participem de todas as etapas do metabolismo. Os macronutrientes também participam de outras funções, além da energética, e precisam estar em sua forma mais elementar para poderem serem aproveitados pelas células. Um exemplo são os aminoácidos que irão ser utilizados para a síntese de novas proteínas. Além do trato digestório, que compreende todas as estruturas da boca até o ânus, também participam destes processos as glândulas anexas como pâncreas exócrino e fígado (Figura 4). FIGURA 4 – ILUSTRAÇÃO DO TRATO GASTROINTESTINAL FONTE: Stanfield (2013, p. 662) Acompanhe, a seguir, o processo de digestão dos carboidratos. A maior parte do carboidrato presente na dieta é na forma de polissacarídeos, amido, encontrados nos cereais, grãos, tubérculos e raízes e na forma de dissacarídeos como açúcar de adição (sacarose) e a lactose presente no leite e derivados (SAWAYA; LEANDRA; WAITZBERG, 2018). Órgãos do trato gastrointestinal Boca Faringe Traquéia Ânus Reto Pâncreas Vesícula biliar Fígado Diafragma Pulmão Apêndice vermiforme Estômago Intestino delgado Cólon Glândulas salivares Esôfago Glândulas acessórias e estruturas associadas TÓPICO 2 — METABOLISMO DOS MACRONUTRIENTES 33 A mastigação é extremamente importante para o processo de digestão de uma forma geral. Promove a formação de partículas menores dos alimentos e, no caso dos carboidratos, a presença da enzima alfa-amilase salivar atua no início da digestão dos amidos já na boca. O produto da digestão pela alfa-amilase salivar são oligossacarídeos. No estômago, essa enzima é inativada pelo ácido clorídrico (SAWAYA; LEANDRA; WAITZBERG, 2018). No intestino delgado, a digestão dos carboidratos continua através da ação da amilase pancreática, que faz parte da composição do suco pancreático produzido pela porção exócrina do pâncreas. O restante do amido digerido nessa porção do trato gastrointestinal dá origem a mais oligossacarídeos, trissacarÍdeos e dissacarÍdeos. As oligossacarídases, enzimas presentes nas membranas luminais das células epiteliais do intestino delgado, são enzimas também denominadas de borda em escova, devido à presença de microvilosidades na região apical dos enterócitos (Figura 5), terminam o processo de digestão produzindo os monossacarídeos glicose, galactose e frutose (Quadro 2). FIGURA 5 – DESENHO ILUSTRATIVO DA MUCOSA DO INTESTINO DELGADO, VILOSIDADE, ENTERÓCITOS, MICROVILOSIDADES (BORDA EM ESCOVA). FONTE: Stanfield (2013, p. 667) Ducto linfático Microvilosidades Borda em escova Membrana apical Membrana basolateral Células absortivas Capilares Lácteo Vênula Arteriola Artéria Veia Vilosidades Cripta de Lieberkühn 34 UNIDADE 1 — METABOLISMO ENERGÉTICO QUADRO 2 – ENZIMAS DE BORDA EM ESCOVA QUE ATUAM NA DIGESTÃO DOS CARBOIDRATOS NO INTESTINO DELGADO FONTE: Adaptado de Gallagher (2012); Sawaya, Leandra e Waitzberg (2018) Enzima Alvo Produto Sacarase Sacarose Frutose e Glicose Maltase Maltose Glicose e Glicose Lactase Lactose Galactose e Glicose Isomaltase Isomaltose Glicose e Glicose A galactose e a frutose são metabolizadas no fígado e são transformadas em glicose. O substrato energético proveniente da ingestão de carboidratos disponível no sangue após a digestão e absorção é a glicose. São fornecidos aproximadamente 180 g de glicose ao dia, proveniente de uma dieta ocidentalnormal (WRIGHT; HIRAYAMA; LOO, 2007). Agora que já conheceu os processos da digestão dos carboidratos, convido você a entender o processo de absorção. Basicamente são dois mecanismos envolvidos na absorção intestinal de glicose. Um deles é a absorção mediada por um transportador de sódio e glicose – SGLT1, chamado de cotransportador sódio-glicose. O SGLT1 é encontrado na borda em escova das células epiteliais do intestino e rins. A seguir, um passo a passo do possível mecanismo deste tipo de transportador: • A bomba sódio/potássio ATPase localizada na membrana basal do enterócito provoca a saída do sódio do interior do enterócito pela região basolateral. • O passo 1 provoca um gradiente favorável a entrada do sódio pelo transportador SGLT1, localizado na membrana apical do enterócito. • O mecanismo do passo 2 favorece a ligação da molécula de glicose no sítio de ligação do SGLT1. • Para cada dois íons de sódio que se ligam do SGLT1, uma molécula de glicose é absorvida para dentro do enterócito. • As moléculas de glicose que entraram nos enterócitos são libradas de forma passiva (difusão facilitada) pela região basolateral da membrana do enterócito para o sangue por duas vias diferentes: ◦ a maioria das moléculas de glicose saem do enterócito através do transportador tipo GLUT2; ◦ algumas moléculas de glicose podem ser transferidas do enterócito através de vesículas intracelulares, na forma desfosforilada. Quando há muitas moléculas de glicose na luz intestinal para serem absorvidas, o cotransportador sódio-glicose torna-se saturado. Desta forma, moléculas de glicose são absorvidas através do transporte pelo solvente. TÓPICO 2 — METABOLISMO DOS MACRONUTRIENTES 35 Com o aumento na concentração de moléculas de glicose na região externa da membrana basolateral dos enterócitos, decorrente do mecanismo de absorção através do cotransporte sódio-glicose e GLUT2, ocorre a passagem de água entre as células e as moléculas de glicose são “arrastadas” do lúmen intestinal juntamente com o solvente. A galactose também é absorvida pelo cotransporte sódio-galactose. A frutose é absorvida do lúmen intestinal através dos enterócitos por difusão facilitada (sem gasto de energia). O mecanismo de transporte da glicose que ocorre na membrana intestinal e nos túbulos renais é diferente do transporte da glicose nas outras células. No intestino e nos rins, o transporte da glicose para dentro das células como enterócitos e células tubulares ocorre contra um gradiente de concentração. Como vimos anteriormente, neste caso, o transporte é ativo com a participação do transporte do sódio que fornece a energia necessária para a absorção da glicose. Nas outras células, o transporte da glicose para o meio intracelular ocorre através da difusão facilitada que envolve a ligação das moléculas de glicose com o transportador específico tipo GLUTs. IMPORTANT E Os GLUTs são proteínas especializadas no transporte de glicose na membrana celular, a favor do gradiente de concentração. Já foram identificados vários tipos de GLUTs. Os principais são o GLUT1, GLUT2, GLUT 3, GLUT 4 e GLUT5. O GLUT 2 é encontrado no intestino delgado entre outras regiões do organismo. O GLUT 4 é sensível à insulina e o GLUT5 tem afinidade pela frutose (PANSANI, 2016, p. 31-32). Você sabe o que é fosforilação da glicose? O processo de fosforilação da glicose consiste na combinação da molécula de glicose com um radical fosfato promovido pelas enzimas glicoquinase nos hepatócitos e a hexoquinase nas outras células, ocorre imediatamente após a glicose entrar na célula. A fosforilação é importante para capturar a glicose no interior da célula. Evita que ela sofra difusão para o meio extracelular. Com exceção das células hepáticas dos enterócitos e das células do epitélio tubular renal, a fosforilação é quase totalmente irreversível. A enzima glicose fosfatase pode reverter a fosforilação e está presente nas células do fígado, intestino e rins (GUYTON; HALL, 1996, p. 773). Para entendermos a utilização da glicose como substrato energético, além dos processos que possibilitam a chegada deste macronutriente no sangue, incluindo digestão e absorção, é necessário entender sua distribuição no organismo. Ao ser absorvida pelas células a glicose poderá seguir um dos destinos a seguir: 36 UNIDADE 1 — METABOLISMO ENERGÉTICO • Ser utilizada imediatamente com o objetivo de disponibilizar energia para as células, principalmente as células sistema nervoso e hemácias. • Ser armazenada na forma de glicogênio, um polissacarídeo encontrado em maior quantidade nas células hepáticas e nas células musculares. • O excesso de glicose poderá ser convertido em lipídios e armazenados no tecido adiposo. 2.2 ARMAZENAMENTO DA GLICOSE NA FORMA DE GLICOGÊNIO – GLICOGÊNESE As moléculas de glicose que não são utilizadas imediatamente para energia nas células como hepatócitos e células musculares são armazenadas na forma de glicogênio através do mecanismo chamado de glicogênese (SACKHEIM; LEHMAN, 2001). Outras células também armazenam glicogênio, porém, em quantidades muito pequenas. Existe um limite na quantidade de glicogênio tanto no músculo como no fígado. O glicogênio armazenado nos hepatócitos sofre glicogenólise quando os níveis de glicose sanguínea começam a baixar. Dessa forma, esse mecanismo é responsável em partes por manter os níveis de glicemia. Já “o glicogênio muscular serve de substrato energético para a contração das fibras musculares” (CONN; STUMPF, 1980, p. 240). A glicogenólise é a via de liberação da glicose a partir do glicogênio. Ocorre principalmente no fígado e no músculo, principais locais de armazenamento de glicose na forma de glicogênio. A glicogenólise hepática libera moléculas de glicose para o sangue. A glicogenólise muscular, disponibiliza glicose como fonte energética para o músculo. NOTA Agora que já exploramos todos os processos envolvidos na obtenção de glicose pelo organismo, finalmente iremos discutir os mecanismos de liberação de energia da glicose. Iniciaremos pela glicólise. As células utilizam a glicólise para extrair energia da glicose. A palavra glicólise significa “quebra da glicose”, originada dos dois termos “Glico”, que significa glicose e “Lise” que significa quebra. Essa via metabólica acontece no citoplasma. É a primeira via metabólica da molécula de glicose. Uma molécula de glicose é quebrada e dá origem a 2 moléculas de piruvato com 3 átomos de carbono cada. A glicólise não requer oxigênio, ocorre em dez fases e utiliza várias enzimas conforme Figura 6). TÓPICO 2 — METABOLISMO DOS MACRONUTRIENTES 37 FIGURA 6 – GLICÓLISE FONTE: A autora Glicose + ATP ↓ Glicose-6-fosfato ↓ Frutose-6-fosfato + ATP ↓ Fruto se-1,6-fosfato ↓ Di-hidroxiacetona-fosfato ↓ Gliceraldeido-3-fosfato + NAD+ + Pi ↓ 1,3-bifosfoglicerato + ADP ↓ 3-fosfato-glicerol ↓ 2-fosfato-glicerol ↓ Fosfatoenolpirovato + ADP + H+ ↓ PIRUVATO Observe, no Quadro 3, as reações da glicólise, as enzimas envolvidas e produtos de cada reação. 38 UNIDADE 1 — METABOLISMO ENERGÉTICO QUADRO 3 – REAÇÕES DA GLICÓLISE, SUBSTRATO, ENZIMAS E PRODUTO FINAL FONTE: A autora Reações da Glicólise Substrato Enzima Produto 1ª Glicose (ATP – transferência de um grupo fosforila do ATP para glicose no C6) Hexoquinase Glicose-6-fosfato 2ª Glicose 6- fosfato Glicose 6- fosfato isomerase Frutose-6-fosfato 3ª Frutose 6-fosfato (ATP transferência de um grupo fosforila do ATP para glicose no C1) Fosfofrutosequinase-1 Frutose-1-6-bifosfato + ADP H+ 4ª Frutose 1-6-bifosfato Aldalose Gliceraldeido 3-fosfato e Di-hidroxiacetona-fosfato (2 trioses- formadas por três carbonos cada) 5ª Di-hidroxiacetona-fosfato Triose fosfatoisomerase Gliceraldeido 3-fosfato 6ª Gliceraldeido 3-fosfato (Utiliza NAD+ e Pi → NADH + H+ Gliceraldeido 3-fosfato desidrogenase 1,3-bisfosfoglicerato + NADH+ H+ 7ª 1,3-bifosfoglicerato + ADP Fosfoglicerato quinase 3-fosfoglicerato + ATP 8ª 3-fosfoglicerato Fosfoglicerato mutase 2-fosfoglicerato 9ª 2-fosfoglicerato Enolase Fosfoenolpiruvato + H2O 10ª Fosfoenolpiruvato + ADP+ H+ Piruvato quinase Piruvato + ATP É importante ficar atento que a partir da 6ª reação, as reações ocorrem em dobro, pois são formadas duas moléculas de Gliceraldeído 3-fosfato. Nas reações que envolvem as hexoses, moléculas com seis carbonos, são utilizadas duas moléculas de ATP. Nas reações que envolvem as trioses, moléculas com três carbonos, ocorre a formação de 4 ATP. O saldo final é de 2 ATP. Como vimos anteriormente, a glicólise forma duas moléculas de piruvato mais duas moléculas de ATP. E qual o destino do piruvato? O piruvato poderá ser transformado em: etanol; lactato; oxaloacetato; acetil-CoA. Vamos agora avançar um pouco para entender de que forma o piruvato, através da conversão em acetil-CoA, entra no ciclo do ácido cítrico, também chamado de ciclo de Krebs, para formação de ATP. TÓPICO 2 — METABOLISMO DOS MACRONUTRIENTES 39 A função do ciclo de Krebs é produzir intermediários energéticos como nucleotídeos reduzidos NADH e FADH2, que irão formar ATP através da fosforilação oxidativa (cadeia respiratória). Lembrando que o ciclo de Krebs, ou do ácido cítrico, acontece na mitocôndria e tem como função formar ATP, caracterizando a produção de energia para a célula – respiração celular. NOTA Ocorre uma etapa preparatório antes do ciclo de Krebs, no qual o piruvato é convertido em acetil-CoA com a participação de um complexo enzimático, constituído por três enzimas: a piruvato-desidrogenase, a diidrilipil-transacetilase e a diidrolipildesidrogenase. O piruvato, molécula de três carbonos, sofre uma descarboxilação, libera CO2 e NADH+ e uma molécula de CoA é adicionada à sua estrutura. A formação de 1 NADH ocorre pela desidrogenação da molécula. Agora está formada a molécula de acetil-CoA, que está pronta para entrar no ciclo de Krebs. O ciclo do ácido cítrico acontece em oito etapas, conforme ilustrado na Figura 7. Vale ressaltar que a molécula de acetil-CoA é originaria da oxidação do piruvato formado da glicólise. Cada molécula de glicose gera duas moléculas de piruvato através da glicólise. Então cada molécula de glicose gera dois ciclos do ácido cítrico. Acompanhe, a seguir, as etapas deste ciclo. • 1ª etapa: a acetil-CoA, formada por dois carbonos irá se unir ao oxaloacetato que possui quatro carbonos. O resultado é a formação do citrato com seis carbonos. A coenzima A que faz parte da acetil-CoA é liberada e pode ser utilizada para formar mais acetil-CoA a partir do piruvato; • 2ª etapa: o citrato sofre desidratação, através da catalização da enzima aconitase, formando o isocitrato. Liberação CO2 e NADH+ e H+; • 3ª etapa: o isocitrato é oxidado em alfa- acetoglutarato com cinco carbonos, pela enzima isocitrato desidrogenase. Uma molécula de NAD+ é reduzida em NADH+ e um H+ e uma molécula de CO2 é liberada; • 4ª etapa: o alfa-cetoglutarato é catabolizado pela enzima alfa-cetoglutarato desidrogenase dando origem ao succinil-CoA com quatro carbonos. Mais uma molécula de NAD+ é reduzida em NADH+ e um H+ e uma molécula de CO2 é liberada. Aqui é formada uma molécula de ATP; • 5ª etapa: a molécula de succinil-CoA é catalisada pela enzima succinil-CoA sintetase em succinato, também com quatro carbonos. Ocorre a formação de 1 GTP (Trifostato de guanosina); • 6ª etapa: a molécula de succinato é transformada em fumarato pela enzima succinato desidrogenase. Ocorre a redução do FAD+ a FADH2; 40 UNIDADE 1 — METABOLISMO ENERGÉTICO • 7ª etapa: o fumarato é hidratado através da ação da enzima fumarase formando uma molécula de malato; • 8ª etapa: através da ação da enzima malato desidrogenase sobre o malato, ocorre a redução de mais um NAD+ para NADH+ e um H+, resultando na regeneração da molécula de oxaloacetato. Esta etapa representa o final do ciclo e o oxaloaacetato está pronto para se unir a uma nova molécula de acetil-CoA e dar continuidade ao ciclo. FIGURA 7 – CICLO DO ÁCIDO CÍTRICO FONTE: <https://static.mundoeducacao.uol.com.br/mundoeducacao/2020/12/ciclo-do-acido- citrico.jpg>. Acesso em: 11 mar. 2021. TÓPICO 2 — METABOLISMO DOS MACRONUTRIENTES 41 Qual o saldo energético final do ciclo do ácido cítrico? Chegou a hora de contabilizar essa energia: • Na glicólise tem-se como produto 2 NADH e 2 ATP. A energia de cada NADH no citosol é de 1,5 ATP. Neste caso, serão 3 ATP (do NADH) e 2 ATP formados no processo. • Na oxidação do piruvato, são formados 2 NADH, como a energia do NADH na mitocôndria é de 2,5 ATP., o equivalente é de 5 ATP. • O ciclo de Krebs é responsável por 2 ATP; 6 NADH com equivalência energética, para 2,5 ATP, resultando em 15 ATP; 2 FADH2 com equivalência para 1,5 ATP cada, resultando em 3 ATP. • O total de ATP do metabolismo energético de uma molécula de glicose é de 30 ATP. Enfim, vamos para o último processo na formação de ATP após a glicólise e o ciclo de Krebs, a cadeia respiratória – também chamada de fosforilação oxidativa. O NADH e FADH2 são os aceptores intermediários de elétrons e doam elétrons para a cadeia respiratória, processo que faz parte do mecanismo de formação de ATP. A fosforilação oxidativa acontece também na mitocondria, na crista mitocondrial (membrana mitocondrial interna) (Figura 8). Neste mecanismo, o oxigênio participa como aceptor final de elétrons. FIGURA 8 – DESENHO DE UMA MITOCONDRIA FONTE: <https://www.infoescola.com/wp-content/uploads/2016/03/mitocondria-768x429.jpg>. Acesso em: 11 mar. 2021. 42 UNIDADE 1 — METABOLISMO ENERGÉTICO Na membrana mitocondrial interna estão presentes proteínas (Figura 9) como NADH desidrogenase, ubiquinona, complexo citocromos e ATP sintase. Essas proteínas recebem elétrons dos aceptores intermediários NADH e FADH. Uma “primeira” proteína recebe os elétrons e transfere para a próxima e assim por diante. Cada vez que os elétrons “saltam” de uma proteína para outra, ocorre a liberação de H+ e, desta forma, aumenta a acidez do meio o que favorece a ativação da ATP sintase. A ATP sintase é a proteína que produz o ATP no final da cadeia respiratória. O oxigênio, aceptor final de elétrons, recebe elétrons (H+) e forma H2O (água), possibilitando desta forma que não haja um “congestionamento” de elétrons e assim, não pare o processo. FIGURA 9 – REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DOS COMPLEXOS DA CADEIA RESPIRATÓRIA NA CRISTA MITOCONDRIAL FONTE: Ferreira, Aguiar e Valerinho (2008, p. 50) Através do esquema a seguir (Figura 10), você pode visualizar a ligação entre os processos de alimentação, no caso, a ingestão de alimentos fontes de carboidratos e os processos envolvidos na função energética deste macronutriente. Succinato Complexo I Complexo III Complexo II Complexo IV TÓPICO 2 — METABOLISMO DOS MACRONUTRIENTES 43 FIGURA 10 – CARBOIDRATOS E METABOLISMO ENERGÉTICO FONTE: A autora Ingestão de alimento fonte de carboidratos ↓ Digestão e absorção ↓ Glicose, galactose e frutose na circulação - Galactose e frutose convertidas em glicose no figado ↓ Glicose chega até as células ↓ Aproveitamento da glicose como fonte de energia - Formação de ATP - Glicólise – Sem oxigênio - Ciclo do ácido cítrico → Matriz Mitocondrial - Fosforilação oxidativa (cadeia respiratória) → Crista mitocondrial - Presença de oxigênio 2.3 GLICONEOGÊNESE A gliconeogênese é uma via metabólica pela qual ocorre produção de glicose a partir de compostos diferentes dos carboidratos como aminoácidos, glicerol e lactato. Essemecanismo é importante, pois garante a disponibilidade de glicose quando ocorre uma redução dos níveis circulantes, devido a não ingestão de alimentos e a baixa liberação de glicose a partir da glicogenólise hepática. Essa via é muito importante para garantir a glicose como fonte energética principalmente para o cérebro. A gliconeogênese ocorre principalmente no fígado. ATENCAO 44 UNIDADE 1 — METABOLISMO ENERGÉTICO Lembra da via glicolítica que estudamos anteriormente? Existem vários processos e enzimas comuns tanto na via glicolítica como na via da gliconeogênese. Os hormônios insulina ou glucagon irão favorecer a ativação de uma ou outra via. O glucagon sinaliza a via da gliconeogênese. Você lembra que, na glicólise, ocorre a produção de duas moléculas de piruvato? Agora na gliconeogênese ocorre a síntese da glicose a partir do piruvato. Algumas etapas da glicólise são irreversíveis. São as que envolvem as enzimas hexoquinase, fosfofrutoquinase e piruvato quinase. Na gliconeogênese, são usadas outras enzimas nestes pontos da via. A maioria dos precursores deve entrar no Ciclo de Krebs em algum ponto para ser convertida em oxaloacetato. O oxaloacetato é o material de partida para a gliconeogênese. Um exemplo de gliconeogênese ocorre quando o músculo em atividade produz lactato a partir da glicose. Esse lactato é convertido piruvato no músculo no qual é convertido em glicose no fígado (Figura 11). FIGURA 11 – CONVERSÃO DO LACTATO EM GLICOSE ATRAVÉS DA GLICONEOGÊNESE FONTE: Brinques (2014, p. 18) “Os aminoácidos são importantes substratos para a gliconeogênese. Todos os aminoácidos podem ser utilizados no mecanismo de formação de glicose, com exceção da lisina e leucina” (BRINQUES, 2014, p. 19). “Os aminoácidos, que produzem esqueleto de carbono (acetoácido) e podem ser convertidos em glicose, são os aminoácidos glicogênicos” (GALLAGHER, 2012, p. 51). Fígado MÚSCULO GlicogênioGlicogênio Glicose Glicose Ácidos graxos CO2 + H20 LactatoLactato Gliconeogênese Glicólise TÓPICO 2 — METABOLISMO DOS MACRONUTRIENTES 45 3 METABOLISMO DAS PROTEÍNAS Aproximadamente 18% do peso corporal é de proteína. É um macronutriente indispensável na alimentação de animais. As proteínas são constituídas por C, H, O e N. e podem conter minerais como fósforo, enxofre e ferro fazendo parte da sua estrutura (PANSANI, 2016, p. 53). São macronutrientes que se diferenciam dos carboidratos e lipídios, pela presença de nitrogênio (GALLAGHER, 2012). São formadas por aminoácidos que se ligam entre si através de ligações peptídicas. “A estrutura e função de uma proteína é definida pela sequência de aminoácidos que forma a proteína” (GALLAGHER, 2012, p. 48). Os aminoácidos são constituídos por grupamento carboxila (COOH) e um grupamento amina (NH2). O organismo utiliza 20 tipos de aminoácidos para todas as suas funções. Nutricionalmente os aminoácidos são classificados em essenciais, não essenciais e condicionalmente essenciais. “Os essenciais são os que não podem ser produzidos pelo organismo, devem ser consumidos através da dieta. São eles: fenilalanina, triptofano, valina, leucina, isoleucina, metionina, treonina, lisina e histidina” (GALLAGHER, 2012, p. 51). Os não essenciais, podem ser sintetizados pelo organismo a partir de outros aminoácidos e do esqueleto de carbono do metabolismo dos carboidratos (LAJOLO, TIRAPEGUI, 1998). Os aminoácidos condicionalmente essenciais são aqueles que em condições especiais passam a ser essenciais e devem ser garantidos pela dieta. As proteínas classificadas como completas são encontradas nas fontes alimentares de origem animal, como carnes, aves, peixes, ovos e leite. “São assim chamadas por possuírem todos os aminoácidos essenciais em quantidades adequadas para garantir o crescimento na infância e adolescência e a manutenção dos tecidos em todas as fases” (PANSANI, 2016, p. 57). Proteínas parcialmente incompletas são aquelas que disponibilizam aminoácidos que garantam apenas a manutenção das funções orgânicas. “São encontradas nas leguminosas, cereais e oleaginosas. As proteínas totalmente incompletas não disponibilizam para o organismo aminoácidos nem para a manutenção das funções orgânicas” (PANSANI, 2016, p. 57). As proteínas embora disponibilizem energia, suas funções primárias são divididas em estruturais e dinâmicas. As funções estruturais incluem as proteínas que, como o nome sugere, fazem parte da estrutura dos tecidos. O colágeno é um exemplo deste tipo de função. “As enzimas, proteínas transportadoras, hormônios peptídicos, imunoglobulinas (anticorpos) são exemplos das funções dinâmicas” (GALLAGHER, 2012, p. 48). As proteínas estão presentes tanto em alimentos de origem animal como de origem vegetal. O Quadro 4 traz alguns exemplos de fontes alimentares de proteínas. 46 UNIDADE 1 — METABOLISMO ENERGÉTICO QUADRO 4 – EXEMPLOS DE FONTES ALIMENTARES DE PROTEÍNAS. FONTE: Adaptado de Gallagher (2012) e Pansani (2016) Proteína Fontes alimentares Vegetal Feijão, lentilha, ervilha, grão de bico, soja Animal Ovo, Leite e derivados, carne bovina, carne de aves, peixes, crustáceos. Como é a digestão e a absorção das proteínas? A digestão das proteínas tem início no estômago com a ação da pepsina secretada pelas células principais do estômago na forma de pepsinogênio, ativada pela presença do ácido clorídrico (HCL) secretado pelas células parietais e degrada principalmente o colágeno das carnes. Ocorre de 10 a 20% da digestão total das proteínas (FRENHANI; BURINI, 1999). No intestino delgado as enzimas proteolíticas produzidas no pâncreas, como tripsina, quimiotripsina, carboxipolipeptidase, pró-elastase, fazem a maior parte da digestão. As enzimas são ativadas apenas quando chegam ao intestino delgado. Na borda em escova são secretadas muitas peptidases, principalmente as dipeptidases e aminopolipeptidase, que fazem a digestão de pequenos peptideos e o produto final são aminoácidos, dipeptideos e tripeptídeos. Os aminoácidos, dipeptideos e tripeptideossão são facilmente transportados para o interior do enterócito. Peptidases específicas fazem a degradação final dentro dos enterócitos. No Quadro 5, você pode encontrar os precursores inativos, que são ativados no local de ação de cada enzima. TÓPICO 2 — METABOLISMO DOS MACRONUTRIENTES 47 QUADRO 5 – DIGESTÃO DAS PROTEÍNAS NO TRATO GASTROINTESTINAL ORGÃO PRECURSOR INATIVO ATINADOR ENZIMA ATNA AÇÃO DIGESTIVA BOCA - - - mecânica ESTÔMAGO (ácido) pepsinogênio HCI pepsina (renina) proteína → polipeptídeo caseína → paracaseína INTESTINO DELGADO (alcalino) Suco pancreático tripsinogênio quimiotripsinogênio procarboxipeptidase enteroquinase tripsina ativa tripsina tripsina quimiotripsina carboxipeptidase proteína e polipeptídeos → polipeptídeos de cadeia curta polipeptídeos → peptídeos dipeptídeos → aa INTESTINO DELGADO (alcalino) Suco entérico aminopeptidase dipeptidase erepsina dipeptídeos → aa livres peptídeos → aa livres FONTE: Adaptado de Mahan, Escott-Stump e Raymond (2012) Absorção das proteínas A maior parte dos aminoácidos, dipeptideos e tripeptidios são absorvidos através da membrana luminal dos enterócitos através do mecanismo de transporte ativo cotransporte sódio/aminoácido, mesmo mecanismo do cotransporte sódio- glicose. Alguns aminoácidos são transportados para o interior do enterócito utilizando transportadores específicos. Utilização de proteínas como fonte energética. As proteínas são fontes de energia para o metabolismo celular em situações em que há carência de energia proveniente dos carboidratos e lipídios. Os melhores macronutrientes em produção de energia são os carboidratos e os lipídios. Quando ocorre adegradação de proteína para mobilizar aminoácidos com o propósito de gerar energia, pode estar acontecendo a degradação de proteínas musculares e plasmáticas. A degradação oxidativa dos aminoácidos acontece em algumas circunstâncias metabólicas: • Aminoácidos originados da degradação de proteínas e não utilizados para síntese de novas proteínas são oxidados. 48 UNIDADE 1 — METABOLISMO ENERGÉTICO • Como aminoácidos não são armazenados, e o consumo dietético de proteínas maior do que as necessidades, os excessos de aminoácidos são catabolizados. • Quando não ocorre a ingestão de carboidratos ou por algum motivo, como a falta de insulina, as moléculas de glicose não estão entrando nas células, as proteínas são utilizadas como combustível através da gliconeogênese. O catabolismo dos aminoácidos desencadeia a remoção do grupo amino e os α-cetoácidos resultantes podem ser utilizados na oxidação em CO2 e formação de ATP e síntese de glicose e lipídios. Como afirmado anteriormente, a função energética não é a principal função das proteínas, contudo esse macronutriente também é uma fonte de energia. Cada grama de proteína tem 5 kcal, porém a remoção do grupo amino, e a formação e excreção da ureia através da desaminação desencadeiam um gasto de 1 kcal por grama. “O que resta é o esqueleto de carbono para ser utilizado como fonte energética com um valor de 4 kcal por grama” (GALLAGHER, 2012, p. 51). Na prática, cada grama de proteína que você ingere e é absorvida, vai disponibilizar 4 kcal quando a proteína for utilizada como fonte de energia. 4 METABOLISMO DOS LIPÍDIOS Lipídios são macronutrientes com várias funções no organismo dividias em energéticas, hormonais e estruturais. “Possuem baixa solubilidade em água e alta solubilidade em solventes orgânicos” (CONN; STUMPF, 1980, p. 48), e possuem os mesmos elementos estruturais dos carboidratos -CHO, com relação de hidrogênio para oxigênio maior. Ao sofrer hidrólise, fornece ácidos graxos e outros compostos. “No organismo, são encontrados lipídios que ficam armazenados como fonte de energia na forma de triglicerídeos e lipídios que fazem parte da estrutura da membrana plasmática na forma de fosfolipídios” (GALLAGHER, 2012, p. 40). Os lipídios são também precursores de hormônios na forma de colesterol, como os hormônios esteroides, cortisol, aldosterona, e os hormônios sexuais, e vitamina D. A absorção e o transporte das vitaminas lipossolúveis e de alguns compostos bioativos como carotenoides, especialmente o licopeno, nos líquidos corporais, são dependentes dos lipídios. Os lipídios formam a bainha de mielina dos axônios e favorecem a condução nervosa. O tecido adiposo subcutâneo atua no controle da temperatura corporal, e o visceral forma um coxim protetor das vísceras contra ação mecânica. TÓPICO 2 — METABOLISMO DOS MACRONUTRIENTES 49 O tecido adiposo recebeu a denominação de “glândula” nas últimas décadas, justificada pela identificação de muitas adipocinas secretadas pelos adipócitos (WAJCHENBERG, 2000). Enfim, uma das mais importantes funções, a energética, possibilita o ser humano sobreviver durante algum tempo em situações de restrição calórica. O tecido adiposo, principal local de armazenamento de gorduras, tem a capacidade de armazenar quantidades teoricamente ilimitadas de energia na forma de triglicerídeos. Os lipídios produzem 9 kcal por grama quando oxidados no organismo. Contribuem com cerca de 34% da energia da dieta ocidental (GALLAGHER, 2012). Os lipídios encontrados nos alimentos exercem funções importantes, como favorecer incorporação das misturas em receitas, conferir textura e maciez e sabor agradável, por exemplo, nas massas, sorvetes e assados etc. Também conferem maior densidade calórica (DC) para os alimentos. As gorduras alimentares são fontes de nutrientes essenciais como os ácidos graxos ômega 3 e ômega 6. Os lipídios são classificados em lipídios simples, compostos e variados (GALLAGHER, 2012). • Lipídios simples: ◦ Ácidos graxos: - gorduras neutras: ésteres de ácidos graxos com glicerol, monoglicerídeos, diglicerídeos, triglicerídeos; - ceras: ésteres dos ácidos graxos com álcoois de alto peso molecular, ésteres de esterol (ésteres de colesterol), ésteres de não colesterol (palmitato e retinil). • Lipídios compostos: ◦ Fosfolipídios. ◦ Glicerofosfolipídio. ◦ Glicosfingolipídio. ◦ Glicolipídio. ◦ Lipoproteínas. • Lipídios variados: ◦ Esteroides: - colesterol; - vitamina D; - sais biliares; - vitamina A, E e K. Os triglicerídeos são a principal forma de armazenamento dos lipídios no organismo. São formados por três moléculas dos ácidos graxos, mais um glicerol. Para que os lipídios possam ser armazenados e disponibilizarem energia para o organismo, precisam passar pelo processo de digestão e absorção. A seguir, vamos conversar sobre esses mecanismos. 50 UNIDADE 1 — METABOLISMO ENERGÉTICO 4.1 DIGESTÃO E ABSORÇÃO DOS LIPÍDIOS No estômago, a lipase lingual digere pequena quantidades de triglicerídeos. A maior parte da digestão das gorduras acontece no intestino delgado. A emulsificação das gorduras é feita, em parte, pela agitação do estômago, mas principalmente pelos sais biliares da bile e a lecitina. Ambas produzidas no fígado. Os glóbulos de gordura tornam-se menores, o que aumenta a área de superfície da gordura em duas vezes, facilitando a ação da lipase pancreática. A lipase pancreática é a enzima mais importante na digestão dos lipídios. Pequenas quantidades de gordura são digeridas pela lipase entérica, produzida pelos enterócitos. Os sais biliares formam as micelas, pequenos glóbulos cilíndricos e esféricos, constituídos em 20 a 40 moléculas de sais biliares. Cada molécula de sal biliar é constituída por um núcleo esterol altamente lipossolúvel e um grupo polar altamente hidrossolúvel. As gorduras se organizam em glóbulos que ficam no interior dessas micelas. As gorduras ligam-se com a porção lipossolúvel dos sais biliares e a porção polar fica na parte que tem contato com o meio aquoso. Este arranjo facilita o transporte dos lipídios até o local de absorção. IMPORTANT E As micelas transportam monoglicerídeos, produto da digestão dos triglicerídeos, ácidos graxos livres, colesterol, vitaminas lipossolúveis até as bordas em escova dos enterócitos para absorção. Os sais biliares, voltam para o conteúdo intestinal para formarem mais micelas. Os monoglicerídeos e ácidos graxos livres penetram entre as microvilosidades através da membrana plasmática para o interior do enterócito. No interior dos enterócitos, os monoglicerídeos e ácidos graxos livres são captados pelo reticulo endoplasmático e ressintetizam novos triglicerídeos. Em seguida, são formados no complexo de Golgi os quilomícrons, constituídos pelos triglicerídeos, colesterol, fosfolipídios e apoproteínas que revestem a parte externa desses glóbulos. “Esses glóbulos são excretados por exocitose para o espaço basolateral do enterócito e passam para a linfa” (GUYTON; HALL. 1996, p. 753). Os ácidos graxos de cadeia média são transportados diretamente para o fígado pela veia porta. TÓPICO 2 — METABOLISMO DOS MACRONUTRIENTES 51 A utilização de gorduras como fonte de energia é muito importante. Além dos lipídios da dieta grande parte dos carboidratos ingeridos são transformados em triglicerídeos. A beta-oxidação é o mecanismo pelo qual a célula utiliza gordura (ácido graxo) para produzir ATP. A seguir, relembraremos este mecanismo que tem início com o processo de lipólise do triglicerídeo, e que origina ácidos graxos e glicerol. O que acontece com o glicerol? O glicerol recebe um fosfato do ATP – Gasto de 1 ATP e gera Glicerol-3-fosfato. Glicerol-3-fosfato – Libera 2 H+ ---NAD em NADH H+ (Vai para a cadeia respiratória) e gera Dihidroxiacetona fosfato. Obs.: o NADH+ H gera 2,5 ATP na cadeia respiratória. • A Dighidroxiacetona fosfato é um intermediário entre a glicose e o fosfato na via glicolítica: ◦ na necessidade de energia, a Dihidroxiacetona fosfato segue a via do piruvato para formar ATP; ◦ na necessidade de glicose, a Dihidroxiacetona fosfato segue a via da gliconeogênese para formar glicose (Figura 12). FIGURA 12 – GLICONEOGÊNESE A PARTIR DO GLICEROL FONTE: Adaptado de Brinques (2014) Glicose Gliconeogênese Di-hidroxiacetona fosfatoGlicerol ATP ADP Glicerol quinase Glicerol 3-fosfato NADH,H NAD Complexo de glicerol 3-fosfato desidrogenase Matriz mitocondrial CITOSOL Membrana mitocondrial interna Glicerol 3-fosfato desidrogenase citosólica 52 UNIDADE 1 — METABOLISMO ENERGÉTICO O que acontece com os ácidos graxos? • Vão ser degradados pela beta-oxidação, mas, para isso, a molécula de ácido graxo vai se unir com uma molécula de acetil-CoA. e dar origem a uma molécula de acil-CoA. • Nesta reação 1 ATP perde dois fosfatos e torna-se 1 AMP (Gasto de 2 ATP): • A CoA não consegue passar pela membrana interna da mitocôndria, é separada do ácido graxo e a enzima Carnitina se liga ao ácido graxo formando uma molécula de Acilcarnitina que consegue ultrapassar a membrana interna da mitocôndria. • No interior da matriz mitocondrial a carnitina é liberada e volta para o exterior e o ácido graxo, se liga à CoA que já existe no interior, no lado interno da mitocôndria (matriz), e forma uma molécula de acil-CoA. • A carnitina é um carreador do ácido graxo. • Agora, acontece a beta-oxidação propriamente dita. Em cada ciclo, o ácido graxo perde dois carbonos (C) que formarão acetil-CoA: ◦ 1ª reação: o acil-CoA libera 2 H+ para p FAD, levando a formação de uma molécula de FADH2; ◦ 2ª reação: entra uma molécula de água (H2O) no restante da molécula do acil- CoA; ◦ 3ª reação: NAD recebe do acil-Coa 2 H+ e forma-se NADH+H+; ◦ 4ª reação: saída de dois carbonos, resultando em uma molécula de acetil- CoA. Uma molécula de CoA se liga ao ácido graxo e recompõe o acil-CoA, com dois carbonos a menos. A cada ciclo na beta-oxidação o número de ciclos depende do número de carbono da cadeia do ácido graxo. • Exemplo 1: ácido palmítico tem 16 C. ◦ o acil-CoA perde dois carbonos; ◦ forma uma molécula de FADH2; ◦ forma uma molécula de NADH+H+; ◦ forma uma molécula de acetil-CoA; ◦ no último ciclo, quando o acil-CoA tem quatro carbonos, o resultado será: - 1 FADH2 + 1 NADH+H+ + 2 moléculas de acetil-CoA. Cada molécula de Acetil-CoA tem 2 C. IMPORTANT E TÓPICO 2 — METABOLISMO DOS MACRONUTRIENTES 53 • Exemplo 2: qual o saldo final da beta oxidação de um ácido graxo de 16 carbonos (ácido palmítico)? ◦ na beta-oxidação do ácido palmítico ocorre sete voltas do ciclo. Você deve estar se perguntando, mas cada ciclo libera dois carbonos, não seriam oito voltas? Não, porque a última volta acontece quando tem quatro carbonos na cadeia; ◦ 8 moléculas de acetil-CoA. De 16 carbonos da cadeia, cada dois liberados formarão uma molécula de Acetil-CoA; ◦ 7 NADH e 7 FADH2- uma molécula de NADH+ H+ e uma molécula de FADH2 em cada volta do ciclo; ◦ as oito moléculas de acetil-CoA irão entrar no ciclo do ácido cítrico. Ocorre uma volta do ciclo do ácido cítrico para cada molécula de Acetil-CoA. que serão consumidos no ciclo do ácido cítrico; ◦ cada volta do ciclo do ácido cítrico produz três moléculas de NADH. No final do ciclo serão produzidos 24 NADH (oito voltas X 3); ◦ cada volta do ciclo do ácido cítrico produz 1 FADH2, como são oito voltas, o saldo será de 8 FADH2; ◦ cada volta do ciclo do ácido cítrico produz 1 ATP. Serão 8 ATP no final do ciclo: - saldo final: 31 NADH + 15 FADH2 + 8 ATP. As moléculas de NADH+ e FADH2 vão para a cadeia respiratória (fosforilação oxidativa). Cada molécula de NADH+ na cadeia respiratória gera 2,5 ATP e cada molécula de FADH2 gera 1,5 ATP na cadeia respiratória. ATENCAO Observe que a conta não terminou ainda. ◦ 31 NADH+ X 2,5 = 77,5 ATP + 15 X 1,5 = 22,5 ATP + 8 ATP (do ciclo da ácido cítrico). Total = 108 ATP ◦ Ainda não chegamos no saldo final, porque, na formação do acil-CoA, foram gastos 2 ATP, então o saldo final é de 106 ATP. Assim, uma molécula de ácido graxo de 16 C, quando oxidada, gera 106 ATP. E assim terminamos o Tópico 2 da Unidade 1 deste livro. Espero que você consiga “visualizar” todo o processo de geração de energia desde a ingestão dos alimentos até a geração de ATP. 54 UNIDADE 1 — METABOLISMO ENERGÉTICO Caro estudante, espero que você tenha entendido todos os processos envolvidos desde a digestão até a forma pela qual os macronutrientes são responsáveis pela energia que nossas células necessitam para realizar suas funções. IMPORTANT E 55 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • Os carboidratos são as fontes primárias de energia utilizada pelas células. • Todos os processos envolvidos no metabolismo dos carboidratos, da absorção a formação de ATP. • As proteínas podem contribuir como fonte de energia através da gliconeogênese. • Os lipídios são importantes fontes de energia, principalmente para períodos de baixa ingestão energética e jejum. • Além dos macronutrientes serem muito importantes como substrato energético, também possuem outras funções no organismo. 56 1 O glicogênio e os triglicerídeos que ficam armazenados no tecido adiposo são os principais locais de reserva de energia do organismo. Existe um limite na formação de glicogênio tanto no fígado como no músculo, mas, teoricamente, é possível armazenar grandes quantidades de gorduras no tecido adiposo. Vários mecanismos estão envolvidos na disponibilização de energia a partir dessas reservas, conforme as necessidades do organismo. Sobre o exposto, analise as seguintes afirmativas: I- A glicogenólise hepática é responsável pela liberação de glicose para o sangue a partir do glicogênio hepático. O glucagon estimula esse processo. II- A glicogenólise muscular participa na manutenção da glicemia. O glucagon é um ativador desse processo. III- A ingestão excessiva de carboidratos, favorece a lipogênese. Devido a esse mecanismo, é desaconselhável o consumo excessivo de açucares para quem precisa controlar o peso corporal. IV- Quando os níveis de glicose estão reduzidos, os lipídios podem ser transformados em glicose através do mecanismo de gliconeogênese, usando o glicerol como substrato. V- Os mecanismos de formação de glicogênio envolvem a fosforilação da glicose que favorece a manutenção da glicose dentro da célula. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Somente as afirmativas I, II e V são verdadeiras. b) ( ) Somente as afirmativas II, III, IV e V são verdadeiras. c) ( ) Somente as afirmativas I, III, IV e V são verdadeiras. d) ( ) Todas as afirmativas são verdadeiras. 2 Os carboidratos são as principais fontes de energia encontradas na natureza. São consideradas as mais abundantes e mais baratas quando comparadas com as fontes alimentares de proteínas e gorduras. São consideradas fontes primárias de energia para o organismo humano. Sobre o exposto, analise as seguintes afirmativas: I- Os carboidratos podem ser classificados em simples e complexos, de acordo com o grau de polimerização da cadeia. Os monossacarídeos são carboidratos simples formados por apenas uma molécula. A galactose, frutose e glicose são os monossacarídeos de importância dietética e fisiológica para humanos. A maior parte da energia na forma de carboidratos do organismo está na forma de glicose. II- A frutose é absorvida no enterócito através do transportador tipo GLUT e no fígado é convertida à glicose. AUTOATIVIDADE57 III- O amido, polissacarídeo de origem vegetal, é digerido no trato digestório em uma sequência de atividade enzimática com início na boca, depois no intestino delgado, com a participação da amilase pancreática, e, por fim, através das dissacaridases das bordas em escovas dos enterócitos. IV- Os oligossacarídeos encontrados nos alimentos de importância nutricional têm função de fibras dietéticas V- A lactose é um dissacarídeo, o mais doce de todos, encontrado no leite e derivados e, quando digerido, dá origem a uma molécula de galactose e uma molécula de frutose. Assinale um x na alternativa CORRETA: a) ( ) Somente as afirmativas I, III e V são verdadeiras. b) ( ) Somente aas afirmativas II, IV e V são verdadeiras. c) ( ) Somente as afirmativas I, II, III e IV são verdadeiras. d) ( ) Todas as afirmativas são verdadeiras. 3 O organismo humano depende de energia para o funcionamento das células e manutenção da vida. Os alimentos são as fontes dessa energia, através dos macronutrientes disponibilizados após os processos de digestão, absorção e distribuição para os tecidos. Sobre o exposto, analise as seguintes afirmativas: I- Na glicólise, uma molécula de glicose é convertida em duas moléculas de piruvato. Essa via acontece no citoplasma sem a presença de oxigênio. II- O ciclo de Krebs, ou ciclo do ácido cítrico, gera moléculas de NADH+ e FADH2, as quais são aceptores intermediários de elétrons e os transportam para as proteínas da membrana mitocondrial interna na fosforilação oxidativa. O oxigênio participa desse mecanismo. III- A gliconeogênese é um mecanismo de produção de glicose através de substratos não carboidratos, importante em situações de jejum ou impossibilidade do uso de glicose pelas células como no diabetes. IV- A beta oxidação é o mecanismo pelo qual os ácidos graxos são oxidados para a formação de ATP. V- A mitocôndria é o local onde ocorre a beta-oxidação dos ácidos graxos e a respiração celular. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Somete as afirmativas I e IV são verdadeiras b) ( ) Somente as afirmativas I, II e V são verdadeiras c) ( ) Somente a afirmativa I é falsa d) ( ) Todas as afirmativas são verdadeiras. 4 Vários são os mecanismos metabólicos envolvidos na geração de energia para as células através da formação de ATP (trifosfato de adenosina). Todos os macronutrientes podem disponibilizar energia para as células. Em relação aos ácidos graxos, qual o nome do mecanismo envolvido na produção de ATP, em que local da célula ocorre e qual a participação da carnitina nesse processo? 58 59 TÓPICO 3 — UNIDADE 1 CARACTERÍSTICAS FISIOLÓGICAS E NUTRICIONAIS DE PRÉ-ESCOLARES, ESCOLARES, ADULTOS E IDOSOS 1 INTRODUÇÃO A nutrição ideal é fundamental em todo ciclo da vida. Atualmente, muitos achados científicos apontam para a importância da nutrição em fases específicas que envolvem o crescimento e desenvolvimento e o envelhecimento. Os efeitos da nutrição adequada vêm sendo reconhecidos, nas últimas décadas, durante a gestação, na saúde do bebê, durante os primeiros anos de vida, como nas consequências posteriores, já na vida adulta. Até mesmo a saúde materna e paterna, anterior à concepção, pode influenciar na saúde do recém- nascido e em outras fases também. A vida intrauterina têm sido foco de muitas pesquisas, e muitos achados estão sendo úteis para melhorar vários aspectos incluindo os nutricionais. Hábitos alimentares saudáveis durante a infância diminuem o risco de comportamentos alimentares não desejados persistirem na vida adulta. Várias entidades em saúde aconselham o desenvolvimento e manutenção de práticas alimentares adequadas na infância com o intuito de reduzir, futuramente, o risco das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) como obesidade, diabetes, hipertensão arterial sistêmica, dislipidemias e alguns tipos de câncer. O sobrepeso e a obesidade ocupam um lugar de destaque nos dados estatísticos nos últimos anos, tanto em países desenvolvidos como em desenvolvimento. A precocidade do aparecimento dessas condições tem assustado os profissionais de saúde. A obesidade é a base para o desenvolvimento de várias comorbidades como as DCNT. Os profissionais de saúde, especialmente os nutricionistas, têm um papel importante no desenvolvimento de ações tanto a nível coletivo como no atendimento individual, em relação a essa realidade. Estudos e desenvolvimento de estratégias para alterar esse panorama fazem parte das competências dos profissionais nutricionistas. O crescimento da população de idosos que vem ocorrendo nos últimos anos é outro foco de atenção dos nutricionistas. Com o passar dos anos, o risco de desenvolvimento de DCNT aumenta, influenciado tanto pelos hábitos de vida 60 UNIDADE 1 — METABOLISMO ENERGÉTICO como pelo próprio envelhecimento fisiológico. O perfil dos idosos também vem se modificando. Ficam mais tempo ativos, atuando no mercado de trabalho e alguns buscam aproveitar a vida de uma forma mais dinâmica quando comparada com idosos de décadas atrás. A nutrição na geriatria é um campo promissor e requer que os profissionais e futuros nutricionistas se aprofundem na busca de conhecimento nesta área. Independente da fase da vida em que você, futuro nutricionista, deseja atuar, é importante você aproveitar todas as oportunidades para aprender sobre o impacto da nutrição na vida das pessoas. Lembre-se que os cursos de graduação em nutrição são generalistas, oportunizando ao acadêmico o conhecimento global da área. Para continuarmos a formação de conhecimento, iremos explorar, neste tópico, as características fisiológicas e nutricionais de algumas fases do crescimento e desenvolvimento do indivíduo, como a pré-escolar e escolar, e da vida adulta e dos idosos. Esperamos que, ao final deste tópico, você sinta que seus conhecimentos estão lhe transformando e ampliando sua visão da importância da nutrição adequada no bem estar das pessoas. 2 CARACTERÍSTICAS FISIOLÓGICAS E NUTRICIONAIS NO PRÉ-ESCOLAR E ESCOLAR O crescimento e desenvolvimento físico de crianças são indicadores sensíveis das condições de nutrição e saúde em uma população. Vários fatores influenciam no favorecimento do desenvolvimento do potencial biológico de humanos. Entre estes fatores estão as condições socioeconômicas, condições sanitárias, imunização e controle de doenças infecciosas, renda mínima, industrialização e urbanização. “O desequilíbrio em um ou mais destes fatores podem alterar negativamente o potencial biológico de um ser humano” (NASCIMENTO et al., 2010, p. 200). A herança genética condiciona a velocidade de crescimento e a altura final nas diferentes idades. “Uma boa nutrição, favorece um bom estado nutricional e influenciam no alcance do potencial genético dos indivíduos” (NASCIMENTO et al., 2010, p. 200). Após a lactação até a puberdade é o período chamado de “período de crescimento latente ou quiescente” (LUCAS; FEUCHT; OGATA, 2012, p. 389). Esse período contrasta em velocidade de crescimento com o período da lactância e da adolescência. O crescimento durante a fase pré-escolar e escolar trazem impactos em várias áreas, incluindo a social, emocional e cognitiva. TÓPICO 3 — CARACTERÍSTICAS FISIOLÓGICAS E NUTRICIONAIS DE PRÉ-ESCOLARES, ESCOLARES, ADULTOS E IDOSOS 61 Diante das informações anteriores, sobre o crescimento na infância; os fatores que podem influenciar negativamente; e uma rápida ideia do impacto da nutrição neste contexto. É hora de estudarmos alguns detalhes sobre o crescimento na infância. Após o primeiro ano de vida a taxa de crescimento diminui bastante. Apesar do foco deste tópico ser a fase pré-escolar e escolar, vale relembrarcomo é o padrão de crescimento até o segundo ano de vida. Nos primeiros 12 meses de vida, o peso do nascimento triplica e o comprimento ao nascer aumenta 50% (VITOLO, 2015). É uma fase de crescimento bem acelerada. De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP, 2018), a fase pré-escolar engloba o período entre dois e seis anos de idade e a fase escolar compreende crianças na faixa etária de sets a dez anos. Na fase pré-escolar ocorre uma estabilização do crescimento linear e do ganho de peso e, no final da fase escolar, próximo ao estirão do crescimento da adolescência, ocorre ganho de peso mais acentuado. “O crescimento na fase pré-escolar e escolar é mais lento. Algumas crianças podem apresentar um padrão mais irregular com períodos sem crescimento seguido de “estirões” de crescimento” (LUCAS, FEUCHT; OGATA, 2012, p. 389). O ganho de peso por ano, após o segundo ano de vida, é cerca de 2 a 3 kg por ano, e o crescimento estatural é cerca de 5 a 7 cm por ano até os 9-10 anos de idade (SBP, 2018). A ingestão alimentar diminui comparada com a fase anterior. “As necessidades de ingestão energéticas são relativamente menores nesta fase” (BRASIL, 2005, p. 144). Outra mudança nessa fase consiste nas alterações nas proporções corporais, como: • A cabeça cresce muito pouco. • O tronco cresce de forma muito lenta. • Os membros tornam-se mais longos. • As pernas ficam mais estável, principalmente pela prática da caminhada e atividades físicas como brincadeiras. • Os músculos do abdome e das costas estão mais fortes e favorecem maior precisão na locomoção, postura e as crianças ficam mais hábeis em suas atividades, inclusive em relação à alimentação. A composição corporal na fase pré-escolar e escolar é caracterizada por uma diminuição da gordura corporal de forma gradual, chegando a um nível mínimo entre os quatro e seis anos de vida. “Após essa fase, ocorre o chamado ‘rebote da adiposidade’ caracterizado pela reserva de gordura com aumento do peso corporal, mecanismo de preparo para o estirão do crescimento puberal” (LUCAS; FEUCHT; OGATA, 2012, p. 389). Vai ocorrendo uma diferenciação na composição corporal entre meninos e meninas com o passar dos anos. Os meninos apresentam maior índice da massa corporal magra por centímetro de estatura, comparado com as meninas. As 62 UNIDADE 1 — METABOLISMO ENERGÉTICO meninas têm um percentual de gordura corporal maior do que os meninos já na fase pré-escolar. “As diferenças na composição corporal entre os sexos são mais significativas a partir da adolescência” (LUCAS; FEUCHT; OGATA, 2012, p. 390). É importante a avaliação nutricional regular na infância, tanto para identificar deficiências no crescimento e ganho de peso como também um ganho de peso acima da normalidade. De acordo com Williams e Goulding (2009), o rebote da adiposidade precoce pode estar relacionado com índice da massa corporal elevado futuramente na vida adulta. Na disciplina direcionada à nutrição materno infantil você irá aprender os métodos para a avaliação de crescimento, incluindo as curvas de crescimento como os referencias recomendados pela Organização mundial de saúde (OMS) e Ministério da Saúde e utilizados atualmente no Brasil. Os pais estavam acostumados à uma velocidade de crescimento e padrão de ganho de peso no primeiro ano de vida. Essa lentificação do crescimento, somada a diminuição na ingestão alimentar da criança, costuma gerar ansiedade e preocupação nos pais. É fundamental o nutricionista explicar que essas alterações são normais na fase pré- escolar e orientar alimentação adequada nessa fase. IMPORTANT E O comportamento alimentar da criança tende a sofrer alterações. A criança vai se tornando mais ativa no processo de selecionar os alimentos considerando os sabores, cores, texturas, experiências sensoriais. As escolhas alimentares nesta fase sofrem muita influência dos hábitos alimentares da família. O crescimento e desenvolvimento na infância, leva a alterações fisiológicas e comportamentais características de cada fase que acabam implicando em processos nutricionais como: Todos os dentes da primeira dentição já aparecem aos três anos de idade. Isso aumenta as possibilidades de escolhas em relação aos alimentos com diferentes texturas. Proporciona um desenvolvimento do sistema digestório incluindo as estruturas ósseas e musculares da região orofacial. O desenvolvimento da mastigação favorece a substituição dos alimentos amassados por alimentos inteiros e a aceitação de alimentos crus como frutas e vegetais. O uso de mamadeiras não deve ultrapassar os três anos de idade (SBP, 2018). TÓPICO 3 — CARACTERÍSTICAS FISIOLÓGICAS E NUTRICIONAIS DE PRÉ-ESCOLARES, ESCOLARES, ADULTOS E IDOSOS 63 Existe uma relação entre maus hábitos alimentares e deformidades dentárias e de mordida, como a respiração bucal frequente (SBP, 2018). As necessidades de ferro nesta fase continuam importantes, principalmente pelo aumento no tamanho dos órgãos e do volume sanguíneo. Resultados de pesquisas evidenciam a relação entre a deficiência de alguns micronutrientes incluindo ferro em pré-escolares e erros alimentares (SBP, 2018). Os alimentos podem conter o ferro heme e o ferro não heme. O ferro heme é melhor absorvido e, com isso, tem maior biodisponibilidade para as funções orgânicas. É encontrado somente em fontes alimentares de origem animal. O ferro não heme é encontrado tanto nos alimentos de origem animal como de origem vegetal, mas observe a diferença em relação à absorção entre o ferro heme e o não heme. A absorção do ferro heme é de 20% a 30% da quantidade presente no alimento, já a absorção do ferro não heme é bem menor, de aproximadamente 2% a 10%. A ingestão de vitamina C junto às refeições favorecem a biodisponibilidade do ferro não-heme. Entre as fontes alimentares de ferro heme, estão as carnes vermelhas e vísceras, como fígado de boi e galinha e ovos. As leguminosas como feijão, lentilha, ervilha e grão de bico são boas fontes de ferro não heme. Na Tabela 9, encontram-se as recomendações de ferro de acordo com as DRIs. TABELA 9 – RECOMENDAÇÕES DE FERRO DE ACORDO COM AS DRI FONTE: Adaptada de Vitolo (2008) Fases da vida UL (mg) EAR (mg) RDA/AL* (mg) Lactentes 0 a 6 meses 40 ND 0,27* Lactentes 7 a 12 meses 40 6,9 11 Crianças 1 a 3 anos 40 3 7 Crianças 4 a 8 anos 40 4,1 10 Meninas 9 a 13 anos 40 5,7 8 Meninas 14 a 18 anos 45 7,9 15 Meninos 9 a 13 anos 40 5,9 8 Meninos 9 a 13 anos 45 7,7 11 A criança vai desenvolvendo habilidades manuais em relação ao ato de comer. Inicialmente, a criança utiliza os dedos para levar a comida a boca. Aos dois anos, aproximadamente, a criança já consegue segurar utensílios como xícaras e colheres. Aos seis anos as habilidades já estão mais complexas e a criança começa a usar a faca para cortar seus alimentos (LUCAS; FEUCHT; OGATA, 2012, p. 398). 64 UNIDADE 1 — METABOLISMO ENERGÉTICO É importante estimular a autonomia da criança para se alimentar, sempre com segurança. O “corte alimentar”, caracterizado pela recusa em comer alimentos antes aceitos, pode ocorrer na fase pré-escolar. “Muitas vezes querem comer apenas um alimento específico em cada refeição. Geralmente é um período temporário” (LUCAS; FEUCHT; OGATA, 2012, p. 389). A capacidade gástrica do pré-escolar é pequena em torno de 200 a 300 ml por refeição (VITOLO, 2008). É recomendado para crianças pré-escolares cerca de cinco a seis refeições diárias em pequenos volumes (LUCAS; FEUCHT; OGATA, 2012; SBP, 2018). A seletividade alimentar é comum nesta fase, geralmente evitam alimentos em temperaturas extremas. Alimentos com odores fortes podem ser rejeitados, mesmo sem que elas conheçam o sabor. O simplesfato de os alimentos encostarem uns nos outros no prato pode ser motivo para a criança recusar ingeri- los (LUCAS; FEUCHT; OGATA, 2012, p. 398). As crianças têm preferência por alimentos de sabor doce e muito calóricos O sabor doce já é identificado pela criança na fase de lactente. Não é indicado o consumo de açucares maior que 25 g ao dia (SBP, 2018). As sobremesas devem fazer parte da refeição e não serem utilizadas como recompensa pelo consumo de outros alimentos (SBP, 2018). Muitas crianças na fase pré-escolar demonstram aversão em aceitarem novos alimentos ou alimentos desconhecidos. Essa situação é denominada de neofobia. Mesmos assim, os pais devem apresentar novos sabores para que a criança se identifique com novos alimentos. É indicado oferecer em torno de oito a dez vezes o mesmo alimento (SBP, 2018). A saciedade é intrínseca de cada pessoa. A criança possui mecanismos que determinam a quantidade de alimentos que ela necessita. É importante que os pais respeitem esse mecanismo (SBP, 2018). Deve ter uma coerência entre o tamanho das porções dos alimentos nos pratos e o grau de aceitação da criança (SBP, 2018). Situações extremas de rejeição da alimentação devem ser investigadas com um profissional. O tempo utilizado para cada refeição deve ser definido, e ser suficiente, para a criança comer com calma. Caso o tempo se estenda muito, a refeição deve ser encerrada e a oferta de alimentos deve ser na próxima refeição apenas (SBP, 2018). O cansaço é um dos motivos para a criança não aceitar bem alguma refeição. É importante os pais organizarem os horários das refeições para que não coincidam com períodos de muita atividade (LUCAS; FEUCHT; OGATA, 2012, p. 398). TÓPICO 3 — CARACTERÍSTICAS FISIOLÓGICAS E NUTRICIONAIS DE PRÉ-ESCOLARES, ESCOLARES, ADULTOS E IDOSOS 65 As crianças tendem a se interessar por tudo o que está ao seu redor de forma mais evidente após o primeiro ano de vida, se distraem com facilidade. Um ambiente tranquilo e adequado é importante para uma refeição bem sucedida. Deve ser observado se as pernas da criança ficam bem apoiadas e se a altura da mesa permite que os braços alcancem de forma confortável a mesa. É aconselhável oferecer os alimentos em tigelas rasas ao invés de pratos, pois facilita o levantamento dos talheres. Os tipos de talheres, como colheres e garfos de cabos pequenos e mais grossos, facilitam no manuseio (LUCAS; FEUCHT; OGATA, 2012, p. 398). Cuidados em relação ao risco do consumo de alimentos que possam provocar engasgo devem ter atenção pelos pais. As balas duras, pipoca, uva inteira, pedaços grandes de cenoura crua e alguns tipos de pães são alguns exemplos desses alimentos. A socialização das crianças na fase escolar aumenta consideravelmente. “A influência dos colegas, grupos de amigos e até mesmo dos educadores, interferem no comportamento nesta fase, incluindo o alimentar” (LUCAS; FEUCHT; OGATA, 2012, p. 400). Tanto para crianças na fase pré-escolar como escolar a oferta de líquidos durante as refeições deve ser controlada. Os líquidos, incluindo sucos, refrigerantes e até a água, afetam a saciedade, pois provocam distensão do estômago (SBP, 2018). Em relação ao consumo de refrigerantes e bebidas à base de sucos de frutas, que são bebidas adoçadas com sacarose ou xarope de milho a base de frutose, deve ser evitado, mas não se recomenda a proibição. Bebidas fosfatadas, tipo “cola” pode levar a uma excreção de cálcio elevada (SBP, 2018). A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP, 2018) alerta para que o consumo de sucos seja limitado ao máximo de 120 ml ao dia para crianças de um a três anos e de 175 ml ao dia para crianças de quatro a seis anos. A mesma entidade recomenda que bebidas à base de soja não devem ser consumidas de forma indiscriminada (SBP, 2018). A ingestão excessiva destas bebidas pode levar ao consumo elevado de proteínas. A soja é fonte de fitoestrógenos e não está bem elucidado as consequências da ingestão excessiva na infância. Leite e derivados são fontes alimentares com boas fontes de cálcio, micronutriente com demandas aumentadas na fase de crescimento. O mercado oferece muitos compostos lácteos desenvolvidos para a faixa etária pediátrica. Muitos são enriquecidos com minerais como ferro e zinco e vitaminas como A e D, ômega 3 e DHA (SBP, 2018). 66 UNIDADE 1 — METABOLISMO ENERGÉTICO Já na infância, o consumo excessivo de alimentos fontes de sódio, açucares e gorduras, devem ser limitados com o intuito de diminuir o risco das doenças crônicas não transmissíveis na fase adulta. O consumo de alimentos industrializados e ultraprocessados contribui para o consumo elevado tanto de sódio, açucares e lipídios, como também de alimentos reduzidos em fibras e, muitas vezes, com teor reduzido de micronutrientes. A idade escolar é caracterizada por intensa atividade física. O crescimento continua constante até o início da puberdade e o ganho de peso também é mais acentuado próximo ao estirão da adolescência. Nesta fase, as crianças ficam mais fortes, com melhor coordenação e mais rápidas. É importante estimular a atividade físicas incluindo brincadeiras e atividades recreativas. É na idade escolar que os dentes permanentes aparecem. Como na maioria das vezes existe um tempo para a substituição dos dentes de leite pelos permanentes, a falta de dente pode alterar a aceitação de alguns alimentos. Uma dieta adequada tanto em qualidade como em consistência pode diminuir o risco de deficiências e trazer mais conforto para as crianças. Ações educativas de higienização dos dentes devem ser intensificadas nesta fase (SBP, 2018). Na fase escolar, as crianças que frequentam as escolas públicas têm acesso à merenda escolar. A escola passa a ter uma importância fundamental nos processos de educação nutricional A educação nutricional deve elucidar a formação de hábitos alimentares saudáveis e a importância da alimentação adequada para reduzir o risco de doenças crônicas não transmissíveis na vida adulta (SBP, 2018). A Sociedade Brasileira de Pediatria (2018) apresenta, no Manual da Alimentação da Infância e Adolescência, diretrizes gerais para a alimentação do escolar. Acesse em: https:// www.SBP.com.br/fileadmin/user_upload/_21089k-ManNutro_Alimentacao_para_site.pdf DICAS Os objetivos nutricionais em relação a uma alimentação saudável e hábitos alimentares adequados de crianças e adolescentes incluem: • Favorecer o crescimento e desenvolvimento adequado. • Evitar deficiências de nutrientes (macro e micronutrientes) • Prevenir problemas de saúde futuros, na vida adulta, que possam ser influenciados pela dieta. TÓPICO 3 — CARACTERÍSTICAS FISIOLÓGICAS E NUTRICIONAIS DE PRÉ-ESCOLARES, ESCOLARES, ADULTOS E IDOSOS 67 Como você pode conferir, são várias as características fisiológicas e nutricionais específicas da fase pré-escolar e escolar que devem estar bem compreendidas pelo futuro nutricionista. Em termos de valores e grupos alimentares, você poderá conhecer as necessidades nutricionais do pré-escolar e escolar na continuidade do tema. A alimentação na infância, incluindo os pré-escolares e escolares, deve incluir os quatros grupos alimentares principais: • Cereais e pães. • Leite e derivados. • Carnes e leguminosas. • Frutas e hortaliças. Os valores de ingestão de referência, segundo idade e gênero, para energia de acordo com as DRI (2001 e 2003) são: • Lactentes (0 a 6 meses) → meninos = 570 kcal / meninas = 570 kcal. • Lactentes (7 a 12 meses) → meninos = 743 kcal / meninas = 676 kcal. • Lactentes (1 a 2 anos) → meninos = 1046 kcal / meninas = 992 kcal. • Crianças (3 a 8 anos) → meninos = 1742 / meninas = 1642 kcal.• Adolescente (9 a 13 anos) → sexo masculino = 2279 (média para 11 anos). • Adolescente (9 a 13 anos) → sexo feminino = 2071 (média para 11 anos). • Adolescente (14 a 18 anos) → sexo masculino = 3152 (média para 16 anos). • Adolescente (14 a 18 anos) → sexo feminino = 2368 (média para 11 anos). A distribuição dos macronutrientes em relação à oferta energética total indicada é distinta, de acordo com a faixa etária (VIEIRA et al., 2008). • Para crianças de 1 a 3 anos, recomenda-se: ◦ de 5 a 20% e proteínas; ◦ 45 a 65% de carboidratos; ◦ 30 a 40% de lipídios; ◦ 5 a 10% do valor energético total de ácidos graxos ômega 6; ◦ 0,6 a 1,2% do valor energético total de ácidos graxos ômega 3. • Para crianças de 4 a 18 anos, recomenda-se: ◦ de 10 a 30% de proteínas; ◦ de 45 a 65% de carboidratos; ◦ de 25 a 30% de lipídios; ◦ 5 a 10% do valor energético total de ácidos graxos ômega 6; ◦ 0,6 a 1,2% do valor energético total de ácidos graxos ômega 3; • Açúcar de adição: limite máximo recomendado de açucares livres é de 10%, sendo o ideal 5% (OMS, 2015). • Fibras: somar à idade 5 gramas, não ultrapassar 25 gramas. 68 UNIDADE 1 — METABOLISMO ENERGÉTICO As recomendações de micronutrientes de acordo com as DRI você encontrará na Unidade 2, Tópico 1 deste livro. ESTUDOS FU TUROS 3 CARACTERÍSTICAS FISIOLÓGICAS E NUTRICIONAIS DO ADULTO E DO IDOSO A vida adulta compreende o período dos 20 aos 59 anos (OMS, 2009). Consequentemente, idosos são as pessoas que tem 60 anos ou mais. Essa classificação é verdadeira em países em desenvolvimento. Em países desenvolvidos os idosos são pessoas com 65 anos ou mais. A população mundial vive o processo de transição demográfica nas últimas décadas. Esse fenômeno tem como base maior sobrevivência do ser humano, como consequência, há um aumento no número de adultos e idosos. De acordo com a OPAS/OMS (2018), entre 2015 e 2050 a proporção da população mundial com mais de 60 anos quase dobrará de 12% para 22%. O intervalo de anos da vida do adulto é grande e bem heterogêneo. Muitas mudanças fisiológicas acontecem durante esse período e se intensificam para idosos. A alimentação e nutrição para adultos e idosos têm como função primordial disponibilizar energia e nutrientes para o metabolismo celular envolvidos no metabolismo basal, funcionamento adequado dos órgãos e sistemas, gasto energético com atividade física e reparo quando há alguma lesão. Diferente das crianças os adultos e idosos não crescem mais. Em situações especiais como a gestação de mulheres adultas, a nutrição exerce outras funções relacionadas ao crescimento e desenvolvimento do feto e dos anexos embrionários. No intervalo de idade da vida adulta, as necessidades nutricionais são bem similares, com pequenas variações influenciadas pelo sexo, estado de saúde e estilo de vida. O grande desafio da contemporaneidade, em relação à nutrição e alimentação na vida adulta e na maturidade fisiológica, é o risco maior do desenvolvimento das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT). TÓPICO 3 — CARACTERÍSTICAS FISIOLÓGICAS E NUTRICIONAIS DE PRÉ-ESCOLARES, ESCOLARES, ADULTOS E IDOSOS 69 É certo que você já ouviu falar de algumas DCNT. São várias, mais as mais prevalentes na população adulta e idosa são o diabetes e a hipertensão arterial sistêmica. As dislipidemias, a síndrome metabólica e alguns tipos de câncer estão também no rol destas doenças. Há um aumento na incidência e na prevalência de todas elas no mundo todo. Você já se perguntou qual a relação destas doenças com a alimentação e nutrição? E porque, apesar de tanto avanço na tecnologia e no desenvolvimento da indústria farmacêutica, o número de portadores só cresce? Que tal discorrermos sobre esse tema de total relevância em sua formação? É importante falarmos sobre a relação do aumento na incidência das DCNT e o perfil nutricional da população brasileira. A prevalência de excesso de peso no Brasil, entre os anos de 1974 e 2009, aumentou em 18,5% para 50,1% nos homens e 28,7% para 48% nas mulheres (IBGE, 2010). Dados mais recentes, de 2018, obtidos através da Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (VIGETEL), constataram que 57,8% dos homens adultos entrevistados referiram excesso de peso e 53,9% das mulheres adultas também (BRASIL, 2018). Levando em consideração que o sobrepeso e a obesidade são fatores de risco para o desenvolvimento das DCNT, os dados apresentados anteriormente são preocupantes, você não acha? É importante frisar que a gênese das DCNT é multifatorial, incluindo, além do sobrepeso e obesidade, outros fatores de risco como o tabagismo, o sedentarismo e o consumo de álcool. Esse panorama demonstra a necessidade de ações para melhorar os hábitos alimentares dos brasileiros e tentar reduzir o número de portadores de DCNT. 3.1 ENVELHECIMENTO Como referido anteriormente, os idoso são grupo de risco para o desenvolvimento das DCNT, tanto pelas alterações fisiológicas mais intensas nesta fase, como pelos hábitos de vida ao longo dos anos. Para entendermos esta maior vulnerabilidade dos idosos para certas condições, é importante que você conheça as diferenças fisiológicas desta fase. Como você define o envelhecimento? A literatura traz muitas definições do envelhecimento e de ser idoso. O envelhecimento envolve o resultado de várias áreas da vida de uma pessoa que se encontra em determinada idade. No ponto de vista biológico, é o resultado do impacto da acumulação de vários tipos de danos moleculares e celulares ao longo do tempo. A capacidade física e mental vai diminuindo gradualmente, aumenta o risco de doenças e diminui a capacidade de adaptação ao meio. Vale ressaltar que tais mudanças não são lineares e obrigatórias no mesmo nível para todos na mesma idade (OPAS/OMS, 2018). 70 UNIDADE 1 — METABOLISMO ENERGÉTICO O envelhecimento está associado também a outras alterações de vida ou de uma perspectiva social, econômica e afetiva, como aposentadoria, mudança de moradia, perda da autonomia em várias áreas, perda de parceiros e amigos e, em alguns, casos a experiencia da solidão (OPAS/OMS, 2018). Independente dos aspectos da vida que envolvem o processo de envelhecimento, de uma forma direta ou indireta podem refletir em alterações na alimentação e provocar prejuízos nutricionais. Dois termos ligados ao envelhecimento, senescência e senilidade, embora muitas vezes usados como sinônimo, têm significados diferentes tanto na teoria como na prática. A senescência abrange todas as alterações produzidas no organismo de um ser vivo e que são diretamente relacionadas a um maior tempo de vida, mas sem a presença de doença. Já a senilidade envolve o envelhecimento com o desenvolvimento de uma condição patológica que pode decorrer de estresse emocional, acidente ou doenças (CIOSAK et al., 2011). NOTA Várias alterações fisiológicas acontecem com o passar dos anos. O grau dessas mudanças e a capacidade adaptativa de cada um, pode variar muito e as consequências também. A seguir, você encontrará tópicos que refletem algumas mudanças fisiológicas importantes e que podem, de forma direta ou indireta, modular o comportamento de idosos e impactar nos aspectos alimentares e nutricionais. • Ocorrem alterações na composição corporal com o passar dos anos. A diminuição da massa magra acontece numa proporção de cerca de 2 a 3% por década. Como consequência, o idoso vai apresentando sarcopenia, com manifestação de perda de força muscular. Algumas consequências práticas incluem alteração na mobilidade (na maneira de andar), no equilíbrio e maior risco de DCNT (VITOLO, 2008). • Alteração nacoordenação motora fina. Essa situação gera dificuldades em atividades que necessitam maior presteza nos movimentos mais precisos e delicados, tanto na vida laborativa como no cotidiano doméstico. • Diminuição na capacidade de sintetizar proteínas e aumento no catabolismo das proteínas. O colágeno torna-se mais fibroso e menos elástico. Aumenta a flacidez da pele e surgimento de rugas (PUJOL, 2011). • Alterações sensoriais como: dessensibilização do tato; alterações visuais; alteração do paladar decorrente de alterações nas papilas gustativas (disgeusia ou hipogeusia) e alterações no olfato. Todas essas alterações influenciam direta ou indiretamente no apetite e na ingestão de alimentos (VITOLO, 2015). • Xerostomia – boca seca. Provoca dificuldades na mastigação e deglutição. TÓPICO 3 — CARACTERÍSTICAS FISIOLÓGICAS E NUTRICIONAIS DE PRÉ-ESCOLARES, ESCOLARES, ADULTOS E IDOSOS 71 • Alterações na dentição: falta de dentes ou uso de próteses mal adaptadas provoca redução na ingestão de alguns tipos de alimentos como frutas, hortaliças cruas e carnes. • Disfagia: leva à diminuição na ingestão de alimentos de uma forma geral (VITOLO, 2008). • Redução na secreção do ácido clorídrico e outras secreções gástricas: provoca deficiência de vitamina B12 e pode provocar anemia. • Constipação decorrente da lentificação da velocidade intestinal e baixa ingestão hídrica (VITOLO, 2018). • Alterações dos tecidos da parede das artérias, levando ao enrijecimento desses vasos. Aumenta o risco de hipertensão arterial sistêmica e eventos cardiovasculares, • Alterações nas lipoproteínas plasmáticas: aumenta o risco de dislipidemias. • Alteração no metabolismo dos carboidratos: favorece a resistência à insulina e diabetes. • Redução considerável da função renal, o que aumenta o risco de doença renal. • Alterações na função neurológica que podem desencadear dificuldades de memória. • Diminuição na produção de neurotransmissores, o que pode estar relacionado com alteração do humor e no sono. • Função imunológica menos eficiente, tanto por alterações humorais (anticorpos) como celulares. Aumenta o risco de infecções. • Problemas psicossociais e econômicos: ◦ baixa renda – interferência nutricional, tanto quantitativamente com qualitativamente, perda da autonomia para comprar seus alimentos; ◦ viver sozinho(a) – desanimo para preparar refeições para uma pessoa e fazer as refeições sozinha. ◦ polifarmácia – fazer o uso de vários medicamentos que podem interferir no paladar e no apetite. Entre as várias estratégias e pontos de atenção para conservar ou melhorar a saúde e qualidade de vida do idoso e diminuir o risco de desenvolver DCNT, a alimentação ocupa um lugar de destaque. A prática de atividade física, evitar o tabagismo e o excesso de bebida alcoólica, redução de fatores estressantes e condutas focadas na saúde mental favorecem o alcance do bem estar na vida adulta e na maturidade. A alimentação de idosos não difere, de uma forma geral, dos princípios da alimentação saudável recomendada para adultos. Claro que ao fazer orientações alimentares e nutricionais para um adulto ou idoso, deve ser levado em consideração a condição de cada um. A presença do risco mais eminente de desenvolver alguma DCNT ou já ser portador, inadequação do estado nutricional – baixo peso ou excesso de peso –, dificuldades psicossociais e econômicas são algumas situações que exigem condutas e orientações nutricionais mais específicas. 72 UNIDADE 1 — METABOLISMO ENERGÉTICO Algumas orientações alimentares e nutricionais que podem beneficiar adultos e a população de idosos de uma forma geral estão descritas a seguir: • Fazer várias refeições ao dia em volumes menores. Inclua pelo menos três refeições ao dia e intercale-as com pequenos lanches: ◦ ◦ principais refeições – café da manhã, almoço e jantar; ◦ pequenos lanches – lanche da manhã, lanche da tarde e ceia. • Procure mastigar bem os alimentos. Coma devagar e aproveite sua refeição. • Respeite as restrições dietéticas impostas pela presença de diabetes, hipertensão ou dislipidemias. Procure substituir os alimentos que devem ser evitados por opções mais saudáveis. Experimente novos alimentos, assim você irá conhecer novos sabores e a dieta não fica monótona. Na dúvida, converse com seu médico ou nutricionista. • Procure incluir diariamente em suas refeições alimentos de todos os grupos alimentares para garantir que você esteja ingerindo todos os nutrientes (macro e micronutrientes) que seu corpo necessita. ◦ grupo das frutas; ◦ grupo dos carboidratos complexos – cereais, tubérculos e raízes; ◦ grupo das proteínas de origem animal – carnes, aves, ovo, leite e laticínios; e das proteínas vegetais – leguminosas como feijão, ervilha, lentilha e grão de bico; ◦ grupo das hortaliças – vegetais folhosos e legumes. • Procure comer alimentos integrais como o arroz integral, aveia e pães ou massas feitas com trigo integral, pois são fontes de fibras que melhoram o trânsito intestinal e evitam constipação. • Evite o excesso de gordura: ◦ prefira os alimentos preparados ao vapor ou cozidos, assados ou grelhados. Procure não consumir frituras com muita frequência; ◦ evite alimentos fontes de gordura de origem animal como leite integral, nata, creme de leite, queijos amarelos, pele de aves, gordura exposta das carnes, bacon, embutidos com alto teor de gordura. Obs.: o leite integral pode ser consumido caso o adulto ou idoso não tenha risco de dislipidemias, seja diabético ou esteja com excesso de peso corporal; ◦ evite comer com muita frequência alimentos industrializados e ultraprocessados como salgadinhos de pacote, biscoitos recheados, preparações industrializadas congeladas, entre outros. • Consuma vegetais folhosos e legumes de cores variadas diariamente. Esses alimentos são fontes de vitaminas, minerais, fibras e compostos bioativos que trazem benefício para o organismo. Esses grupos têm densidade calórica menor. ◦ vegetais folhosos: alface, rúcula, couve, repolho, agrião, coentro; ◦ legumes: cenoura, rabanete, abóbora, tomate, beterraba, vagem, chuchu. • Mantenha-se hidratado. Observe se você sente sede como quando era mais jovem. Com a idade pode ocorrer uma diminuição da sensação de sede, porém, a necessidade de água continua a mesma. ◦ opte pela água como o principal líquido para ingerir diariamente; TÓPICO 3 — CARACTERÍSTICAS FISIOLÓGICAS E NUTRICIONAIS DE PRÉ-ESCOLARES, ESCOLARES, ADULTOS E IDOSOS 73 ◦ evite as bebidas açucaradas como refrigerantes, sucos de pacote (pó) e sucos de caixinha adoçados. Os sucos de frutas naturais, de preferência não adoçados, podem ser consumidos com moderação. No caso da presença de diabetes, seguir a recomendação de seu nutricionista ou médico. • Consuma com moderação as oleaginosas como castanhas, nozes, amêndoas. São fontes de gorduras mais saudáveis (ácidos graxos monoinsaturados). Servem como opção para os pequenos lanches. • Evite o excesso de sal. Salgue com moderação as preparações e evite os alimentos que têm muito sal ou sódio na sua constituição como: salgadinhos de pacote, temperos prontos com sal, caldos de carne e legumes tipo Knorr®, conservas de peixes e carnes salgadas como bacalhau e charque, refringentes, água mineral com gás, sopas de pacote, macarrão instantâneo, embutidos (linguiças, presuntos, salsichas, paio, copa, entre outros) e queijos salgados. ◦ Atualmente, o mercado oferece versões de alimentos com a quantidade reduzida de sal ou isento de sal. • O farelo de aveia, a linhaça e psílio são boas fontes de fibras dietéticas. Inclua pelo menos em uma de suas refeições. • Escolha gorduras de origem vegetal para o preparodos alimentos. O azeite de oliva é a opção mais saudável tanto para o preparo como para temperar saladas. Caso você tenha que controlar o peso, consuma com moderação. • Varie sua alimentação com um prato bem colorido. Opte pelas frutas, verduras e legumes da época, pois estão num grau de maturidade ideal e o preço é mais acessível. Chegamos ao final da Unidade 1 deste livro. Tudo o que foi explorado nesta primeira parte preparou você para dar continuidade às unidades seguintes (2 e 3). Espero que você procure ampliar seus conhecimentos através da leitura de livros técnicos na área de alimentação e nutrição e artigos científicos. Siga em frente e bons estudos! 74 UNIDADE 1 — METABOLISMO ENERGÉTICO LEITURA COMPLEMENTAR INGESTÃO INADEQUADA DE NUTRIENTES NA POPULAÇÃO DE IDOSOS DO BRASIL: INQUÉRITO NACIONAL DE ALIMENTAÇÃO 2008-2009 Regina Mara Fisberg Dirce Maria Lobo Marchioni Michelle Alessandra de Castro Eliseu Verly Junior Marina Campos Araújo Ilana Nogueira Bezerra Rosângela Alves Pereira Rosely Sichieri INTRODUÇÃO A população idosa é um dos grupos etários de maior risco à desnutrição e às deficiências nutricionais devido ao declínio das funções cognitivas e fisiológicas que prejudicam o consumo e o metabolismo dos nutrientes. Dessa forma, as ações de vigilância alimentar e nutricional têm sido cruciais para o monitoramento e a caracterização das práticas alimentares e de seus determinantes nessa população, com vistas à prevenção dos distúrbios nutricionais e das doenças a eles relacionadas. A comparação do consumo habitual com as recomendações de micronutrientes, mediante o cálculo da prevalência de inadequação da ingestão, tem sido uma estratégia utilizada nos inquéritos de saúde e nutrição internacionais para identificar os indivíduos em situação de risco às deficiências nutricionais. Nesse sentido, o Ministério da Saúde, como parte da Política Nacional de Alimentação e Nutrição e em parceria com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), realizou o primeiro Inquérito Nacional de Alimentação (INA) por meio da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2008-2009. Nesse inquérito, foi realizado diagnóstico da situação alimentar e nutricional da população brasileira por meio do cálculo da prevalência de inadequação da ingestão de micronutrientes. O presente artigo tem por objetivo estimar a prevalência de ingestão inadequada de nutrientes na população idosa brasileira. MÉTODOS Foram analisados dados do Inquérito Nacional de Alimentação (INA), correspondente a um módulo na Pesquisa de Orçamentos Familiares 2008-2009. TÓPICO 3 — CARACTERÍSTICAS FISIOLÓGICAS E NUTRICIONAIS DE PRÉ-ESCOLARES, ESCOLARES, ADULTOS E IDOSOS 75 Para a POF 2008-2009, adotou-se um plano de amostragem por conglomerados em dois estágios. No primeiro, setores censitários estratificados geográfica e economicamente foram selecionados por amostragem com probabilidade proporcional ao número de domicílios existentes em cada setor. Os setores correspondem aos da base geográfica do Censo Demográfico, 2000. No segundo estágio, domicílios particulares permanentes foram selecionados dentro de cada setor por amostragem aleatória simples sem reposição. Para garantir a coleta de dados em todos os estratos ao longo dos 12 meses de duração da pesquisa, os setores de cada estrato foram alocados aleatoriamente por trimestre e seus domicílios, distribuídos de maneira semelhante no tempo. Foram selecionados 68.373 domicílios. A subamostra do INA foi inicialmente calculada para corresponder a 25% dos domicílios amostrados para a POF 2008-2009. A seleção dos domicílios foi conduzida dentro de cada setor censitário de modo a garantir a seleção de um a cada quatro domicílios do setor. Dessa forma, a subamostra totalizou 16.764 domicílios, equivalente a 24,5% da amostra. Responderam à pesquisa 13.569 domicílios com taxa de não resposta de 19%. No INA, foram avaliados todos os moradores com dez anos de idade ou mais, num total de 34.032 indivíduos. Para a presente análise, foram incluídos todos os indivíduos idosos, de 60 anos ou mais de ambos os sexos, perfazendo uma amostra de 4.322 indivíduos. Os dados de consumo alimentar individual foram obtidos por meio do registro alimentar preenchido pelo morador com 60 anos de idade ou mais em dois dias não consecutivos conforme recomendação do Institute of Medicine (IOM), a fim de estimar a ingestão habitual e calcular a prevalência de inadequação de nutrientes. Orientou-se a anotação sob a forma de medidas caseiras, o preenchimento dos horários e locais das refeições (dentro ou fora do lar), e a descrição detalhada de todos os alimentos e bebidas consumidos, incluindo-se modo de preparo e ingredientes. Além de coletar informações sobre o consumo dos alimentos e bebidas nos dias avaliados, o registro alimentar incluía uma pergunta sobre o consumo de açúcar e/ou adoçante. Ainda nos domicílios, os agentes de pesquisa realizaram a entrada das informações de consumo alimentar em programa específico desenvolvido pelo IBGE cujos alimentos e bebidas foram extraídos dos 5.686 registros contidos na base dos dados de aquisição domiciliar de alimentos e bebidas da POF 2002-2003. Esse programa dispunha de aproximadamente 1.500 alimentos e bebidas, 16 opções de modos de preparo e 106 tipos de medidas caseiras, além de itens de preenchimento obrigatório como o local e horário de consumo. Alimentos ou bebidas consumidos pelos indivíduos que não constavam no programa foram incluídos pelo agente. Ao término da pesquisa, 1.120 alimentos e bebidas foram citados. 76 UNIDADE 1 — METABOLISMO ENERGÉTICO Para o controle de qualidade dos dados de consumo alimentar, foram realizadas análises parciais durante a coleta dos dados, tais como a verificação da frequência de resposta, o número médio de itens consumidos no primeiro e no segundo dia de registro alimentar, a codificação de itens não cadastrados e a inspeção dos itens incluídos pelo agente de pesquisa. Detalhes sobre o pré-teste, treinamento, validação do instrumento de coleta de dados e digitação dos dados encontram-se disponíveis na publicação do IBGE. Na análise de consistência de dados, foram excluídos 29 indivíduos que possuíam apenas um dia de registro alimentar. Além disso, quantidades não informadas e/ou consideradas improváveis foram imputadas por meio do procedimento hot deck, que prevê a criação de uma matriz de similaridades formada por variáveis correlacionadas com a variável quantidade consumida, sendo essas sexo, faixa etária, unidade da federação, grande região e unidade de medida reportada. A imputação ocorreu em menos de 1% dos alimentos citados. Para conversão dos alimentos relatados em valores de micronutrientes foram utilizadas as tabelas de composição nutricional e de medidas caseiras, elaboradas especificamente para análise dos alimentos e preparações citados na POF 2008-2009. As tabelas de composição nutricional foram elaboradas com base no programa Nutrition Data System for Research (NDS-R), versão 2008,17 bem como da Tabela Brasileira de Composição de Alimentos (Taco).e Os dados de ingestão de nutrientes representam a contribuição apenas dos alimentos e/ou bebidas e não incluiu o consumo de suplementos e/ou medicamentos. A ingestão habitual de cada nutriente foi estimada pelo método desenvolvido por pesquisadores do National Cancer Institute (NCI). O método NCI é um modelo misto de duas partes. Na primeira, estima-se a probabilidade de consumo utilizando regressão logística com efeitos aleatórios (modelo de probabilidade); na segunda, utilizando os dados transformados para a normalidade, estima-se aquantidade consumida por meio de regressão linear com efeitos aleatórios (modelo de quantidade). Devido ao fato de os nutrientes serem consumidos quase diariamente, assumiu-se, neste estudo, probabilidade de consumo igual a 1 para cada nutriente, dispensando assim o uso do modelo de probabilidade. No de quantidade foram utilizadas como covariáveis sexo (masculino; feminino) e regiões (Norte, Nordeste, Sudeste, Sul e Centro-Oeste). A média e os percentis de ingestão foram estimados para cada sexo. O método NCI foi executado utilizando as macros DISTRIB e MIXTRAN desenvolvidas para o software SAS versão 9.1 (Statistical Analysis System). As prevalências de inadequação de ingestão de micronutrientes foram estimadas segundo sexo e grupo etário (51-70 anos; > 70 anos), utilizando o método da EAR (Estimated Average Requirement) como ponte de corte, conforme proposto pelo IOM para a população dos Estados Unidos e Canadá. A prevalência de inadequação dos micronutrientes foi calculada como o TÓPICO 3 — CARACTERÍSTICAS FISIOLÓGICAS E NUTRICIONAIS DE PRÉ-ESCOLARES, ESCOLARES, ADULTOS E IDOSOS 77 percentual de indivíduos com ingestão abaixo do valor de EAR, isto é, com ingestão inferior à necessidade média estimada do micronutriente para cada sexo e grupo etário. A ingestão de sódio foi comparada ao nível de ingestão máximo tolerável (Tolerable Upper Intake Level - UL), o que permite estimar o percentual da população em risco de efeito adverso à saúde. As análises foram estratificadas por sexo e região. Intervalos com 95% de confiança (IC95%) foram calculados para as médias e as prevalências de inadequação com base nos valores de erro-padrão estimados pela técnica de replicação Balanced Repeated Replication (BRR) utilizada no método NCI. Os IC95% foram utilizados para comparar as prevalências de inadequação segundo sexo e região. O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (Protocolo n° 2258/2011). RESULTADOS Foram observadas elevadas prevalências de inadequação de vitamina E, vitamina D, cálcio e magnésio em idosos de ambos os sexos (Tabelas 1 e 2). Para esses micronutrientes, as prevalências de inadequação foram próximas ou acima de 80%. Destacam-se ainda as prevalências de inadequação de tiamina, vitamina C e piridoxina, em ambos os sexos, cujos valores situaram-se entre 37% e 57%, e de vitamina A, com percentuais situados entre 68% nas mulheres e 83% nos homens. 78 UNIDADE 1 — METABOLISMO ENERGÉTICO Prevalências de inadequação inferiores a 15% foram identificadas para fósforo, selênio, ferro e niacina, no sexo masculino (Tabela 1), e apenas para ferro e niacina no sexo feminino (Tabela 2). As prevalências de inadequação de magnésio, vitamina A, riboflavina e zinco foram superiores no sexo masculino, enquanto fósforo, niacina, ferro e cobre tiveram prevalências superiores no sexo feminino. Para os demais micronutrientes, não foram observadas diferenças significativas entre os sexos. A Figura 1 exibe as prevalências de inadequação de vitaminas por região. Em todo o País, as vitaminas E, D e A apresentaram as maiores prevalências de inadequação. Independentemente da região, a vitamina E foi o único nutriente a apresentar 100% de ingestão inadequada em ambos os sexos. Já a vitamina D obteve percentuais próximos de 100% em todas as regiões, exceto na região Norte, cujo percentual foi significativamente menor (89% nos homens e 92% nas mulheres). Para a vitamina A, observaram-se maiores percentuais nas regiões Norte (93% nos homens e 91% nas mulheres), Nordeste (89% nos homens e 76% nas mulheres) e Centro-Oeste (86% nos homens e 78% nas mulheres), com TÓPICO 3 — CARACTERÍSTICAS FISIOLÓGICAS E NUTRICIONAIS DE PRÉ-ESCOLARES, ESCOLARES, ADULTOS E IDOSOS 79 diferença significativa entre homens e mulheres apenas na região Nordeste. Outras vitaminas com prevalências de inadequação elevadas nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste foram piridoxina (49% a 60% nos homens e 56% a 65% nas mulheres), tiamina (47% a 53% nos homens e 50% a 61% nas mulheres) e vitamina C (40% a 60% nos homens e 37% a 43% nas mulheres), sem diferença significativa entre os sexos. No que diz respeito aos minerais, cálcio foi o que apresentou as maiores prevalências de ingestão inadequada em todas as regiões, tanto em homens (84% a 98%) quanto em mulheres (94% a 98%). Nas cinco regiões de estudo não foram observadas diferenças significativas nas prevalências de inadequação de cálcio entre os sexos. 80 UNIDADE 1 — METABOLISMO ENERGÉTICO Diferenças significativas foram observadas apenas entre mulheres das regiões Norte e Sudeste (Norte: 98%, IC95% 97,0;100,0 e Sudeste: 94%, IC95% 93,0;96,0). Magnésio foi o segundo mineral com maior prevalência de ingestão inadequada (77% a 88% nos homens e 69% a 82% nas mulheres), para o qual diferenças significativas ocorreram entre homens e mulheres das regiões Nordeste (homens: 86%, IC95% 82,3;90,3; mulheres: 79%, IC95% 76,5;80,6) e Sudeste (homens: 85%, IC95% 83,0;87,9; mulheres: 78%, IC95% 76,1;79,0), e entre mulheres das regiões Sul (82%, IC95% 80,0;84,0) e Sudeste (78%, IC95% 76,0;79,0) (Figura 2). Outros minerais com prevalências de inadequação elevadas foram zinco nos homens de todas as regiões (26% a 42%) e cobre nas mulheres das regiões Norte (56%), Nordeste (45%), Centro-Oeste (38%) e Sudeste (32%). Não foram observadas diferenças significativas na prevalência de inadequação de zinco segundo região. Já a prevalência de inadequação de cobre nas mulheres foi superior na região Nordeste (45%, IC95% 39,0;52,0) em comparação à região Sudeste (32%, IC95% 30,0;34,0). Em relação ao sódio, 80% dos idosos do sexo masculino e 61% do sexo feminino apresentaram ingestão habitual acima do limite tolerável. A Figura 3 mostra esses percentuais segundo região. Os maiores percentuais de ingestão excessiva de sódio foram observados nas regiões Norte (64% para mulheres e 83% para homens), Sudeste (65% para mulheres e 82% para homens) e Centro-Oeste (61% para mulheres e 80% para homens), embora sem diferença significativa entre as regiões. TÓPICO 3 — CARACTERÍSTICAS FISIOLÓGICAS E NUTRICIONAIS DE PRÉ-ESCOLARES, ESCOLARES, ADULTOS E IDOSOS 81 DISCUSSÃO O presente estudo encontrou elevados percentuais de ingestão inadequada para as vitaminas E, D, A, piridoxina e tiamina, e para os minerais cálcio, magnésio, zinco e cobre, bem como elevado percentual de idosos com ingestão excessiva de sódio. Com exceção de vitamina D, cálcio e cobre, esses nutrientes também foram os que apresentaram alta prevalência de inadequação na população norte- americana idosa avaliada no inquérito de saúde e nutrição, Nhanes (National Health and Nutrition Examination Survey) 2001-2002. Comparados com os americanos acima de 50 anos, os idosos brasileiros apresentaram prevalências de inadequação superiores, sobretudo para vitamina A, piridoxina, tiamina e cobre. Nos idosos brasileiros, a maior prevalência de inadequação de vitamina A foi de 83% para o sexo masculino, e de piridoxina, tiamina e cobre foi de 57%, 47% e 36% para o sexo feminino, respectivamente. Já para os americanos, a prevalência de inadequação de vitamina A no sexo masculino foi de 55%, e de piridoxina, tiamina e cobre no sexo feminino de 49%, 12% e 14%, respectivamente. Devido aos valores de EAR de vitamina D e cálcio terem sido recentemente estabelecidos pelo Comitê de Nutrição do IOM, ainda não existem dados publicados a respeito da prevalência de inadequação desses micronutrientes em idosos de outros países. Contudo, com base nos dadosdo Nhanes 2005- 2006, acredita-se que, para a população norte-americana, a prevalência de inadequação de vitamina D e cálcio também seja elevada, se considerarmos que menos de 6% dos americanos de 50 anos ou mais ultrapassaram os valores de ingestão adequada para vitamina D e menos de 24% para cálcio. Na análise por região, verificou-se que a região Norte concentrou os menores percentuais de inadequação de vitamina D em ambos os sexos, enquanto a região Sudeste concentrou as menores prevalências de inadequação de magnésio e cobre no sexo feminino. Esses resultados sugerem que o consumo 82 UNIDADE 1 — METABOLISMO ENERGÉTICO de alimentos com elevado teor de micronutrientes por idosos brasileiros sofre importantes variações entre as regiões do País. Como exemplo, os menores percentuais de inadequação de vitamina D encontrados na região Norte podem ser explicados pelo maior consumo habitual de pescados, que excedeu em mais de duas vezes o consumo da região Nordeste e em mais de sete vezes o consumo das demais regiões. O consumo insuficiente de micronutrientes pode ser decorrente da pouca variedade de alimentos que compõem a dieta habitual dos idosos brasileiros. Ao analisar os alimentos consumidos (dados não apresentados), constatou-se que arroz, feijão e carne bovina foram os que mais contribuíram para o valor energético total da dieta, seguidos de farinha de mandioca na região Norte, de cuscuz na região Nordeste, macarrão e pão de sal nas regiões Sul e Sudeste e de carne suína na região Centro-Oeste. Esses alimentos forneceram, em conjunto, cerca de 50% da energia total. Além disso, o consumo insuficiente de frutas, verduras e legumes, que representou cerca de um terço das recomendações preconizadas no Guia Alimentar para a População Brasileira (≥ 400 g/dia), pode também ter ocasionado o baixo consumo de micronutrientes e explicar as elevadas prevalências de inadequação aqui encontradas. A implicação das elevadas prevalências de inadequação observadas neste estudo se dá à luz do atual perfil demográfico e epidemiológico da população brasileira, caracterizado pelo crescente número de adultos e idosos e pela elevada carga de doenças crônicas não transmissíveis relacionadas ao envelhecimento. Embora o envelhecimento populacional acarrete maior carga de doenças crônicas, estudos têm mostrado que elas não são consequências inexoráveis do envelhecimento e que podem ser prevenidas com a adoção de estilos de vida saudável, tais como a dieta. Nesse sentido, é crescente o número de evidências científicas que apontam o papel protetor dos nutrientes da dieta na etiologia e progressão das doenças crônicas, como os nutrientes antioxidantes (vitaminas C e E), os relacionados ao metabolismo ósseo (vitamina D, cálcio, magnésio e fósforo) e os envolvidos nas funções cognitivas (tiamina, riboflavina, niacina e piridoxina). A ingestão elevada de sódio nessa população é um potencial risco à saúde, visto sua relação com aumento da pressão arterial. Segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde, 17,2% das mortes ocorridas nos países emergentes são atribuídas à hipertensão arterial, sendo esse o mais importante fator de risco cardiovascular conhecido. O presente estudo possui algumas características metodológicas que devem ser consideradas. A análise da adequação da ingestão de nutrientes pelo método da EAR, como ponto de corte, permite quantificar o percentual de indivíduos na população com ingestão abaixo das recomendações para um determinado estágio de vida e sexo. TÓPICO 3 — CARACTERÍSTICAS FISIOLÓGICAS E NUTRICIONAIS DE PRÉ-ESCOLARES, ESCOLARES, ADULTOS E IDOSOS 83 Tais recomendações baseiam-se na necessidade média do nutriente estimada nas populações norte-americana e canadense e é apropriada apenas para indivíduos saudáveis. Considera-se que os valores recomendados de ingestão expressam as quantidades ideais de consumo para que um ou mais indicadores do estado nutricional do nutriente (e.g., níveis sanguíneos, reservas corporais) mantenham-se adequados. Desse modo, idosos com ingestão habitual insuficiente de um ou mais nutrientes podem ter a longo prazo um pool reduzido desses nutrientes no organismo, sem que, no entanto, haja manifestação clínica imediata da deficiência. Outro importante aspecto consiste no ajuste da ingestão de nutrientes pela variância intrapessoal. O método NCI é, atualmente, um dos mais utilizados para remover a variância intrapessoal de nutrientes e alimentos quando estes são medidos pelos métodos de curto prazo, como o registro ou o recordatório alimentar. Apesar de fornecerem informações mais detalhadas sobre o consumo alimentar do que os métodos de longo prazo, os de curto prazo são incapazes de captar as variações do dia a dia, exigindo, portanto, o emprego de métodos de ajuste pela variância intrapessoal para o cálculo da prevalência de inadequação. Assim, o presente estudo preservou o rigor metodológico ao fazer uso de procedimentos estatísticos adequados para a estimativa da prevalência de inadequação. A ingestão de vitaminas e minerais por idosos brasileiros encontra-se aquém dos valores recomendados. Ações diretas de incentivo à alimentação saudável que facilitem o acesso a alimentos fontes de micronutrientes, como cereais integrais, frutas e hortaliças, leites e derivados e pescados pela população idosa podem contribuir para reverter esse cenário. FONTE: <https://www.scielosp.org/article/rsp/2013.v47suppl1/222s-230s/>. Acesso em: 11 mar. 2021. 84 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você aprendeu que: • Cada fase da vida é caracterizada por especificidades fisiológica, comportamentais e nutricionais. • A alimentação adequada é fundamental para garantir o crescimento e desenvolvimento de crianças na fase pré-escolar e escolar. • Existem recomendações de energia, macro e micronutrientes especificas para crianças. • A população de idoso vem crescendo no mundo todo. • A alimentação é um ponto de atenção na prevenção e diminuição de risco de DCNT. • Existem várias orientações nutricionais para adultos e idosos que o estudante de nutrição deve saber para poder aplicar. • A alimentação tem um papel importante na saúde e bem estar de adultos e idosos. Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. CHAMADA 85 1 Em cada fase da infância, o crescimento e ganho de peso obedecem a ritmos específicos. A alimentação e nutrição adequadas nessas fases é fundamental, pois inadequações podem trazer prejuízos, dependendo do grau, irrecuperáveis. Sobre o exposto, analise as seguintes afirmativas: I- O ganho de peso e crescimento linear após o segundo ano de vida é relativamente maior que no lactente. É esperado um aumento de peso de 4 a 5 kg por ano. II- A velocidade de crescimento fica mais lenta na fase pré-escolar e, paralelamente, a ingestão de alimentos reduz relativamente quando comparada ao primeiro ano de vida. III- Não existe diferenças na composição corporal relacionadas à massa muscular e à massa gorda entre meninos e meninas, nem na fase pré- escolar e nem na fase escolar. As diferenças começam a aparecer somente na adolescência. IV- O fenômeno denominado de “rebote da adiposidade” consiste no aumento do armazenamento de gordura no tecido adiposo, depois de um período de diminuição da gordura corporal, serve de reserva energética para o estirão do crescimento puberal. V- Desencadeado pelo aumento do gasto energético para o crescimento na fasepré-escolar, a criança tem um aumento considerável do apetite. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Somente as afirmativas I, II e V são verdadeiras. b) ( ) Somente as afirmativas I, III e V são falsas. c) ( ) Somente as afirmativas III e V são verdadeiras. d) ( ) Todas as afirmativas são verdadeiras. 2 O crescimento e desenvolvimento na infância, leva a alterações fisiológicas e comportamentais características de cada fase que acabam implicando na dinâmica alimentar. Após o segundo ano de idade, o comportamento alimentar da criança tende a sofrer alterações. A criança vai se tornando mais ativa no processo de selecionar os alimentos considerando os sabores, cores, texturas, experiências sensoriais. As escolhas alimentares nessa fase sofrem muita influência dos hábitos alimentares da família. Algumas orientações para os pais são muito importantes para reduzir o risco de deficiências ou excessos, garantir o crescimento e desenvolvimento adequado e prevenir doenças relacionadas com a alimentação na vida adulta. Sobre as orientações alimentares e nutricionais na infância, analise as seguintes afirmativas: AUTOATIVIDADE 86 I- Existe uma tendência de os pais insistirem para os filhos comerem todo o alimento que está no prato. Esse comportamento deve ser desencorajado, a saciedade é determinada pelo organismo da criança. Os pais devem respeitar o mecanismo de saciedade manifestado pela criança quando para de aceitar os alimentos que restam no prato. II- É importante que seja determinado um tempo para a realização das refeições pelas crianças. No caso de a criança estar extrapolando muito esse tempo, a refeição deve ser finalizada e alimentos devem ser oferecidos somente na próxima refeição. Não é aconselhável oferecer outros alimentos, como biscoitos ou salgadinhos, para complementar a refeição. III- O cuidado com a ingestão de alimentos industrializados, fontes excessivas de sal, açucares e gorduras, não deve ser um ponto de atenção, pois não existem evidências de prejuízos na infância com essa prática e sim a partir da adolescência, quando os prejuízos já são evidentes IV- Uma dúvida frequente dos pais está relacionada com o consumo de bebidas pelas crianças. A ingestão de água como principal fonte de líquidos para hidratação já está bem elucidada e gera poucas dúvidas. É bem frequente que as crianças consumam as bebidas açucaradas como refrigerantes e sucos adoçados na forma em pó e diluído em água ou os sucos de caixinha adoçados. De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria (2018), a proibição não é aconselhável, mas devem ser evitadas e/ou consumidas com muita moderação. V- Uma recomendação da Sociedade Brasileira de Pediatria (2018) é em relação à quantidade no consumo de sucos que deve ser limitada ao consumo de, no máximo, 120 ml ao dia para crianças de 1 a 3 anos e de 175 ml ao dia para crianças de 4 a 6 anos. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Somete as afirmativas I, IV e V são verdadeiras. b) ( ) Somente as afirmativas I, II, III e V são verdadeiras. c) ( ) Somente as afirmativas I, II, IV e V são verdadeiras. d) ( ) Todas as afirmativas são verdadeiras. 3 O envelhecimento é, ao mesmo tempo, um processo complexo e simples. Faz parte de uma fase da vida importante por vários aspectos que abrangem questões muito amplas e dependem dos anseios de cada um, e esses aspectos ocupam diferentes intensidades na vida das pessoas muito relacionadas à história de vida de cada um. No ponto de vista biológico, é o resultado do impacto da acumulação de vários tipos de danos moleculares e celulares ao longo do tempo. A capacidade física e mental vai diminuindo gradualmente, aumenta o risco de doenças e diminui a capacidade de adaptação ao meio. Vale ressaltar que tais mudanças não são lineares e obrigatórias no mesmo nível para todos na mesma idade (OPAS/OMS, 2018). Além das alterações biológicas, o envelhecimento está associado, também, a outras alterações de vida, de uma perspectiva social, econômica e afetiva: aposentadoria, mudança de moradia, perda da 87 autonomia em várias áreas, perda de parceiros e amigos e, em alguns casos, experiencia da solidão (OPAS/OMS, 2018). Independente dos aspectos da vida que envolvem o processo de envelhecimento, de uma forma direta ou indireta, podem refletir em alterações na alimentação e provocar prejuízos nutricionais. Sobre o exposto, analise as seguintes afirmativas: FONTE: OPAS/OMS – ORGANIZAÇÃO PANAMERICANA DA SAÚDE. Envelhecimento e saú- de. OPAS Brasil, Folha informativa, Washington, DC, 2018. Disponível em https://www.paho. org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=5661:folha-informativa-envelhe- cimento-e-saude&Itemid=820. Acesso: 11 mar. 2021. I- A ingestão de frutas, verduras e legumes deve fazer parte das refeições de adultos e idosos diariamente. São fontes alimentares de fibras, vitaminas e minerais, além de não terem uma densidade calórica muito grande. As fibras têm ações que melhoram o trânsito intestinal e reduzem o risco de constipação. II- Devido ao risco maior que os idosos tem de desenvolver DCNT como diabetes, hipertensão arterial sistêmica e dislipidemia, a ingestão de gorduras merece uma atenção especial. Entre as recomendações, neste sentido, temos: evitar alimentos fontes de gordura de origem animal como leite integral, nata, creme de leite, queijos amarelos, pele de aves, gordura exposta das carnes, bacon, embutidos com alto teor de gordura. III- Uma das alterações fisiológicas que podem ocorrer com idosos é a redução da secreção de ácido clorídrico. Uma das consequências é o risco de hipovitaminose de B12. IV- A falta de dentes ou até mesmo o uso de próteses mal adaptadas podem interferir nas escolhas alimentares de idoso. Como consequências dessa situação, estão a baixa ingestão de verduras e frutas cruas e também de carnes, o que pode refletir na ingestão reduzida de vitaminas, minerais, fibras, proteínas, ferro e vitamina B12. V- O profissional da área da nutrição deve dar muita atenção à hidratação dos idosos. A sensação de sede pode estar diminuída nessa fase. O nutricionista deve incluir em sua conduta estratégias para fazer com que o idoso ingira quantidades adequadas de água. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Somente as afirmativas I, II e V são verdadeiras. b) ( ) Somente as afirmativas I, III e IV são falsas. c) ( ) Somente a afirmativa I é falsa. d) ( ) Todas as afirmativas são verdadeiras. 4 Vitolo (2015) alerta para o fato das alterações sensoriais que ocorrem com o avançar da idade poderem influenciar no estado nutricional dos idosos, pois podem afetar o apetite e a ingestão de alimentos. Cite as alterações dessa natureza que ocorrem no organismo dos idosos. FONTE: VITOLO, M. R. Nutrição da gestação ao envelhecimento. 2. ed. Rio de Janeiro: Rúbio, 2015. 88 89 REFERÊNCIAS BARREIROS, R. C., DOSSOLAN, G. TRINDADE, C. E. P. Frutose em humanos: efeitos metabólicos, utilização clínica e erros inatos associados. Rev. Nutr., Campinas, v. 8, n. 3, p. 377-389, maio/jun. 2005. BRASIL. Ministério da Saúde. 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No decorrer da unidade, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – DIETARY REFERENCE INTAKES – DRIs TÓPICO 2 – OBJETIVOS NUTRICIONAIS E ESTRATÉGIAS DE INTERVENÇÃO NUTRICIONAL TÓPICO 3 – COMPORTAMENTO ALIMENTAR Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 97 UNIDADE 2 TÓPICO 1 — DIETARY REFERENCE INTAKES – DRIs 1 INTRODUÇÃO Caro acadêmico, neste tópico, daremos início aos estudos referentes à disciplina de Planejamento Alimentar, partindo de conhecimentos acerca da praescrição dietética e princípios para a formulação de dietas nutricionalmente adequadas para indivíduos e populações. A prescrição dietética é uma das atribuições do nutricionista que define o tipo de dieta, a quantidade e a frequência da alimentação. Esta é elaborada a partir do processo da doença que acomete o indivíduo e fornece metas para o seu tratamento. A prescrição pode fornecer informações de valor calórico, níveis de macro e micro nutrientes, podendo incluir, ainda, restrições ou, do contrário, o uso de suplementações a serem aplicados. Dos componentes da dieta, observamos, inicialmente, a quantidade e qualidade dos carboidratos, proteínas, lipídeos, gordura, álcool, fibras, água, além de vitaminas e minerais. As recomendações alimentares ou prescrição dietética, surgem com base no diagnóstico nutricional, possibilitando a implementação do tratamento adequado. Para a formulação de um planejamento alimentar, é necessário conhecer inicialmente os princípios básicos para uma alimentação adequada, que traz os conhecimentos prévios de uma conduta alimentar que supra todas as necessidades orgânicas, garantindo o crescimento, desenvolvimento, manutenção e recuperação do organismo humano, seguindo os preceitos de uma alimentação adequada e equilibrada que considera as leis da alimentação em quantidade, qualidade, harmonia e adequação considerando a individualidade de cada paciente, de forma a atender todos os fatores norteadores da alimentação como, por exemplo, hábitos alimentares e de vida, condição socioeconômica e cultura, dentre outros. Acadêmico, no Tópico 1, abordaremos a aplicação das Dietary Reference Intakes (DRIs) na recomendação da ingestão de nutrientes para indivíduos e grupos. Neste contexto, vamos distinguir os tipos de DRIs disponíveis para a formulação de prescrições dietéticas e diferenciar as fontes para referências de nutrientes que contemplam os valores de ingestão recomendados. UNIDADE 2 — PRESCRIÇÃO DIETÉTICA, OBJETIVOS NUTRICIONAIS E ORIENTAÇÕES ALIMENTARES PARA INDIVÍDUOS SADIOS 98 Conhecerá, ainda, os princípios básicos para o planejamento de dietas nutricionalmente adequadas de acordo os as leis da alimentação, que regem a quantidade, qualidade, harmonia e adequação, traçando preceitos para um planejamento dietético que atenda aos princípios de uma alimentação adequada e equilibrada e que contenha todos os nutrientes e a energia necessária para suprir todas as necessidades fisiológicas do organismo de modo a garantir o crescimento, desenvolvimento, manutenção e recuperação do organismo humano. 2 APLICAÇÃO DAS DIETARY REFERENCE INTAKES NA RECOMENDAÇÃO DA INGESTÃO DE NUTRIENTES PARA INDIVÍDUOS E GRUPOS As necessidades nutricionais correspondem às quantidades de nutrientes que devem ser consumidas diariamente por um indivíduo a fim de suprir suas funções fisiológicas habituais definidas por meio de valores médios para grupos semelhantes da população, utilizados por profissionais da área da nutrição para o planejamento e avaliação de dietas destinadas a pessoas saudáveis, na definição de rotulagem de alimentos e programas de orientação nutricional. 2.1 ASPÉCTOS HISTÓRICOS DAS RECOMENDAÇÕES NUTRICIONAIS Há décadas, estudos buscam adequar ferramentas para a avaliação e predição de necessidades nutricionais, em que foram desenvolvidas tabelas com informações de quantidade de nutrientes e energia conhecidascomo RDA (Recommended Dietary Allowances) ou Compensações Dietéticas Indicadas. Buscando adequar essas recomendações, atualmente, a RDA foi renomeada para IDR (Ingestão Diária Recomendada) ou Consumações de Referência Dietéticas, das quais as mais reconhecidas são as recomendações canadenses e norte americanas. Nos anos 30, o conselho canadense de nutrição lançou valores de referência para o consumo de nutrientes que seriam estabelecidos para a sua população. Tais referencias passaram, durante anos, por diversas revisões até que, em 1983, finalmente foram denominadas Recomendações de Ingestão de Nutrientes ou, em inglês, Recommneded Nutrient Intakes (RNI). Posteriormente, em 1990, as RNIs foram revisadas a partir de estatísticas publicadas pelo The Report of the Scientific Review Committee e identificou o aumento da taxa de risco para a população canadense ao desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis (IOM, 2006). No ano de 1941, os Estados Unidos, anunciaram as primeiras orientações para recomendações nutricionais. TÓPICO 1 — DIETARY REFERENCE INTAKES – DRIs 99 O instituto norte-americano anunciou, na época, valores de referência conhecidos como Quotas Dietéticas Recomendadas (do inglês, Recommended Dietary Allowances – RDAs), uma versão simplificada que definia valores para a ingestão de vitaminas, proteínas e energia. Essas recomendações foram baseadas em estudos científicos que visavam orientar o consumo alimentar para uma nutrição adequada a população americana. Desde então, as RDAs foram utilizadas como guias para o desenvolvimento de programas de alimentação e nutrição. Assim como as referências canadenses, as RDAs americanas passaram por revisões desde a sua criação até 1989, quando, inicialmente, haviam especificações para apenas oito nutrientes, apresentando uma evolução significativa, passando a trazer valores de referência para 27 diferentes nutrientes (NETO LOSS et al., 2018). As recomendações canadenses e americanas serviram como parâmetro não apenas no seu local de origem, sendo aderidas em outros países, incluindo o Brasil, durante muitos anos, guiando profissionais em atribuições como na elaboração de planejamento alimentar, rotulagem de produtos e apresentando referências para a fortificação e adição de nutrientes a dietas (NETO LOSS et al., 2018). Com o desenvolvimento dos conhecimentos científicos, estatísticas e alterações do perfil epidemiológico não só no Canadá e Estados Unidos, mas também em outros países, viu-se a necessidade de atribuir novos valores, bem como o complemento dos guias para informações mais completas no que se refere as referências nutricionais. A partir dessa conclusão, a Food Nutrition Board, sob auxilio dos governos canadense e americano, atuou na elaboração e implementação de novas diretrizes – as chamadas DRIs –, as quais constituíram referências e, mais tarde, substituíram as RDAs americanas e as RNIs canadenses, no ano de 1997. Uma versão mais ampliada de valores de referência de ingestão de nutrientes, que seria publicada pelo Institute of Medicine norte-americano e pela agência Health, no Canadá. Posteriormente, ao final de 1999, as DRIs passaram por mais modificações, publicadas pela Food and Nutrition Board. Nesta nova proposta, as tabelas de nutrientes passaram a proporcionar facilidade de leitura e compreensão das recomendações de nutrientes (NETO LOSS et al., 2018). As Dietary Reference Intakes (DRIs), ou Ingestão Dietética de Referência (IDRs), que propõem as referências de valores de ingestão de nutrientes para indivíduos e grupos tendo por objetivo garantir a saúde da população. Cada país possui sua própria regulamentação que estipula os valores de referência para a ingestão de nutrientes, traçando parâmetros nutricionais na prevenção de doenças crônicas não transmissíveis e, ainda, fornecem limites superiores de ingestão como prevenção de efeitos negativos a saúde por consumo excessivo de nutrientes. UNIDADE 2 — PRESCRIÇÃO DIETÉTICA, OBJETIVOS NUTRICIONAIS E ORIENTAÇÕES ALIMENTARES PARA INDIVÍDUOS SADIOS 100 Avaliar e adequar planos alimentares e dietas de adultos e idosos, é uma das atribuições básicas de um nutricionista que atua no âmbito da nutrição e dietética. (IOM, 2003) 2.2 VALORES DE REFERÊNCIA DE INGESTÃO DE NUTRIENTES Segundo a Associação Brasileira de Nutrição (GALANTE; SCHWARTZMAN; VOCI, 2007), para a prescrição dietética, devemos incluir a adequação dos macronutrientes e micronutrientes que devem atender as necessidades mínimas do indivíduo orientadas nas DRIs. Essas DRIs são expressas para a população conforme os diferentes estágios da vida: recém-nascidos, crianças, adolescentes, adultos, idosos, grupos específicos (gravidez e lactação) e gênero cujos valores diários de referência recomendados são expressos seguindo um conjunto de quatro níveis de ingestão, sendo estes: EAR, RDA, AI, UL. A seguir, veremos as definições dos quatro níveis de referência das DRIs utilizados na obtenção de valores para a interpretação das informações e para auxilio de profissionais para avaliar os dados de ingestão alimentar individual em relação as DRIs estabelecidos pela IOM (2003). Por tanto, vale ressaltar que é necessária a obtenção de dados quanto a ingestão habitual do indivíduo e aos padrões de referência apropriados para interpretação dos resultados. As necessidades nutricionais são próprias de cada indivíduo, deste modo, a alimentação deve atender a todos os requerimentos necessários para satisfazer todas as funções orgânicas do mesmo (COZZOLINO, 2009). ATENCAO 2.2.1 Definições de níveis de ingestão de nutrientes As definições para a necessidade de nutrientes iniciam a partir de níveis mais baixos de ingestão, cujas quantidades são suficientes para manter o estado de nutricional de um indivíduo em um determinado nível, analisado segundo critérios de adequação nutricional (COZZOLINO; COLLI, 2001). • Necessidade média estimada (Estimated Average Requirement – EAR) A necessidade média estimada, a EAR: é o valor médio de ingestão diária, quantidade suficiente para suprir as necessidades de 50% dos indivíduos saudáveis de acordo com o estágio de vida e sexo. É utilizada para avaliar a adequação e o planejamento da ingestão dietética de grupos populacionais. TÓPICO 1 — DIETARY REFERENCE INTAKES – DRIs 101 A quantidade de nutriente necessária para atender ao critério correspondente para a adequação é individualizada, assim, varia de indivíduo para indivíduo, porém, em geral, podem ser transformados para atingirem uma distribuição normal. Para a obtenção da média de ingestão calculada, visando atender aos critérios determinados, utilizamos a EAR, entretanto, esta referência não é utilizada como uma estimativa da adequação de nutrientes de um único indivíduo, uma vez que representa valores mínimos de necessidades para coletividades ou grupos, assim, considera-se que pode haver uma grande variação dentro dessa classificação, considerando que na EAR, 50% dos indivíduos em um grupo estão abaixo das suas necessidades e os demais 50% acima destas mesmas necessidades, de maneira que um indivíduo com ingestão usual correspondente à EAR possui 50% de risco de ingestão inadequada de nutrientes, bem como suas consequências nutricionais, sendo assim, a EAR possibilita apenas estimar nutrientes em termos de probabilidades, limitando sua utilização na prática clínica. No que se refere a indivíduos saudáveis com ingestão habitual adequada, a EAR pode ser atribuída do ponto de vista teórico, na avaliação de inadequação (COZZOLINO; COLLI, 2001) • Ingestão Dietética Recomendada (Recommended Dietary Allowance – RDA) A Ingestão Dietética Recomendada (RDA) define o nível de ingestão dietética diária de determinado nutriente, sendo esta quantidade suficiente para prover às necessidades de praticamente toda apopulação para este mesmo nutriente (97% a 98%). Esta recomendação é destinada a indivíduos saudáveis de um determinado grupo de mesmo gênero e estágio de vida, ou seja, considera- se a idade e, quando aplicável, a gestação e a lactação. Desta maneira, a RDA de um nutriente é considerada uma meta de ingestão dietética para indivíduos saudáveis e a mesma não deve ser utilizada como parâmetro para avaliar ou planejar dietas de indivíduos ou grupos. As RDAs foram constituídas de maneira a serem empregadas como meta de ingestão de um indivíduo, todavia, indivíduos com ingestão habitual acima da RDA podem atingir suas necessidades diárias, deste modo, apresentam ingestão adequada. Por outro lado, a ingestão que encontra-se abaixo de valores da RDA não pode ser interpretada como indício de inadequação, porém, devido a grandes possibilidades de diferenças da ingestão de um nutriente entre indivíduos pode variar fortemente, mesmo quando a média da ingestão observada for maior que a RDA, não se pode concluir com segurança que ela está realmente adequada (COZZOLINO; COLLI, 2001) UNIDADE 2 — PRESCRIÇÃO DIETÉTICA, OBJETIVOS NUTRICIONAIS E ORIENTAÇÕES ALIMENTARES PARA INDIVÍDUOS SADIOS 102 • Ingestão Adequada (Adequate Intake – AI) Esta classificação de referência é utilizada em situações em que não há dados suficientes para determinar a RDA, desta maneira pode-se definir a AI como a média de ingestão diária de um nutriente para pessoas saudáveis. É importante salientar que devido à natureza dos dados usados, sendo estes obtidos por medianas para estabelecimento das AIs, seus valores, possivelmente, excederiam as RDAs quando estas não possam ser estabelecidas, de maneira que, em comparação à ingestão habitual obtida na AI, permite indicar apenas se a ingestão ultrapassa ou não a AI. Desta maneira, quando temos apenas os valores de AI disponíveis, é possível determinar se a ingestão de nutrientes sobrepõe os valores da AI, assim como também é possível definir se a ingestão habitual de um nutriente excede o valor do limite superior tolerável de ingestão, a UL. • Limite Superior Tolerável de Ingestão (Tolerable Upper Intake Level – UL) A UL ou nível máximo de ingestão tolerável é a quantidade máxima de consumo diário de um nutriente, considerada segura para ingestão ou sem trazer prejuízos à saúde por excesso alimentar. Fundamentada por limites toleráveis do ponto de vista biológico, os quais podem estar disponíveis através do consumo de alimentos, alimentos fortificados, suplementos e água. Assim como é necessário definir padrões de referência para ingestão adequada de nutrientes, é de suma importância estabelecer os níveis máximos de ingestão dos mesmos, evitando que o consumo de determinado nutriente apresente riscos para a saúde de um indivíduo ou grupo de indivíduos. O UL tem por objetivo estabelecer valores de consumo como forma de prevenir problemas associados ao excesso de ingestão do nutriente, de modo que não é considerado um nível recomendado de ingestão (COZZOLINO; COLLI, 2001). A EAR, sendo a necessidade média estimada, é considerada a maneira mais adequada de estimar as necessidades de um indivíduo. É importante lembrar que, devido à variação intrapessoal das necessidades, a partir desta problemática, atribuiu-se um desvio padrão, que serve como indicativo do quanto a necessidade individual de um nutriente pode se desviar da mediana da população, ou seja, da EAR. Para a prescrição dietética, consideramos que, tanto os valores de RDA como os de AI, podem ser empregados como metas de ingestão de nutrientes (COZZOLINO; COLLI, 2001). A Figura 1 apresenta o modelo conceitual de uso das DRIs para indivíduos e para a população. TÓPICO 1 — DIETARY REFERENCE INTAKES – DRIs 103 FIGURA 1 – MODELO CONCEITUAL DO USO DAS DRIS FONTE: Fisberg, Marchioni e Slater (2001, p. 36) • EAR: analisa a possibilidade de inadequação. • RDA: ingestão usual acima deste nível tem baixa expectativa de inadequação. • AI: ingestão usual igual ou acima da AI tem baixa perspectiva de inadequação. • UL: ingestão usual superior a UL implica em risco de efeito sobre consumo excessivo (COZZOLINO, 2001). NOTA 2.2.2 Aplicação das DRIs em indivíduos Vimos que as recomendações nutricionais são valores de referência de nutrientes com o objetivo de orientar o planejar dietas para indivíduos saudáveis. Para tal, é preciso compreender as diferenças entre o termo “necessidade nutricional” e “recomendação nutricional”. Segundo a IOM (2006). • Necessidades nutricionais: quantidade de nutrientes que devem ser consumidos diariamente. • Recomendações nutricionais: abordagem quantitativa obtida da adequação de nutrientes, da qual faz-se necessária a comparação do consumo diário de nutrientes com os valores de referência estabelecidos. UNIDADE 2 — PRESCRIÇÃO DIETÉTICA, OBJETIVOS NUTRICIONAIS E ORIENTAÇÕES ALIMENTARES PARA INDIVÍDUOS SADIOS 104 FIGURA 2 – NÍVEIS DE NUTRIENTES PARA AVALIAÇÃO E PLANEJAMENTO DE CONSUMO INDIVIDUAL FONTE: Adaptado de IOM (2003) Para calcular o valor de RDA, é preciso, também, definir o valor da EAR. A definição ocorre através da aplicação do acrescido de dois Desvios Padrão (DP), de modo a adotar a distribuição normal dos valores das necessidades do nutriente. Quando não conhecemos o DP, calcula-se utilizando o coeficiente de variação igual a 10%, considerando ainda as necessidades nutricionais apresentes na distribuição normal. Quando o DP do EAR é conhecido: RDA = EAR + 2DPEAR Quando o DP de EAR é desconhecido: (Assume-se coeficiente de variação igual a 10%) RDA = 1,2 × EAR As RDAs devem ser expressas em médias diárias de ingestão e interpretadas como médias de ingestão por um tempo pré-determinado. Cada nutriente possui tempo especifico, variando diferentemente entre os nutrientes, já que cada nutriente apresenta um tempo diferente tanto para a utilização como para o seu estoque no organismo. Na maioria dos nutrientes, a RDA oferta a ingestão média de cerca de três dias, e os demais, traz a média para vários meses. Quando não temos o estabelecimento da RDA de determinado nutriente, a AI é atribuída como meta de ingestão no planejamento alimentar de indivíduos (CARDOSO; SCAGLIUSI, 2019) O Quadro 1 apresenta a interpretação qualitativa para adequação da ingestão referente aos valores de AI: Planejar consumo EAR: verificar inadequação Al: Baixa expectativa de inadequação UL: averiguar consumo excessivo Avaliar consumo RDA: meta de ingestão Al: Meta UL: Limite de consumo TÓPICO 1 — DIETARY REFERENCE INTAKES – DRIs 105 QUADRO 1 – INTERPRETAÇÃO QUALITATIVA DA ADEQUAÇÃO DA INGESTÃO REFERENTE A AI FONTE: Cupari (2001, p. 31) Ingestão relacionada a Al Interpretação qualitativa Maior ou igual ao valor de Al A ingestão média possivelmente adequada (avaliar por vários dias) Menor que o valor de Al A adequação da ingestão não pode ser apurada A AI não deve ser aplicada na avaliação de dietas de indivíduos ou para avaliar e planejar dietas de grupos populacionais, uma vez que apresenta insuficiência de dados científicos (CARDOSO, SCAGLIUSI, 2019). IMPORTANT E Em relação à UL, deve ser utilizada como subsídio para delimitar níveis toleráveis de consumo, de maneira que este parâmetro não é um nível de ingestão indicado como referência. Vale lembrar que valores de consumo acima da UL, podem representar risco para o surgimento de efeitos negativos à saúde. Caso um nutriente observado ultrapasse níveis estabelecidos de UL, pode-se avaliar a possibilidade de risco a saúde por excesso de consumo. A grande preocupação baseia-se em níveis elevados de consumo por tempo prolongado. Temos valores de UL para todas as fontes de nutrientes, desde alimentos, água, suplementos, até produtos farmacêuticos (COZZOLINO, 2009; CARDOSO; SCAGLIUSI, 2019). O Quadro 2, apresenta sugestão de interpretação qualitativa referente a valores de UL para um grande número de dias. QUADRO 2 – INTERPRETAÇÃOQUALITATIVA REFERENTE A VALORES DE UL PARA UM GRANDE NÚMERO DE DIAS FONTE: Cupari (2001, p. 33) Ingestão relacionada a UL Interpretação qualitativa Maior ou igual ao valor de UL Risco para efeitos adversos por um grande número de dias. Menor que o valor de UL Ingestão possivelmente segura por um grande número de dias. UNIDADE 2 — PRESCRIÇÃO DIETÉTICA, OBJETIVOS NUTRICIONAIS E ORIENTAÇÕES ALIMENTARES PARA INDIVÍDUOS SADIOS 106 Acadêmico, conheça agora as tabelas de recomendações das DRIs para as diferentes fases da vida, gênero e estado fisiológico. TABELA 1 – VALORES DIÁRIOS DE UL, EAR E AL* OU RDA PARA MINERAIS. TABELAS E APLICABILIDADE DAS DRI | 745 Rev. Nutr., Campinas, 19(6):741-760, nov./dez., 2006 Revista de Nutrição Ta b el a 1. V al or es d iá rio s de U L, E A R e A I* o u RD A p ar a m in er ai s† . B eb ês 00 - 0 6m 07 - 1 2m C ri an ça s 01 - 0 3 a 04 - 0 8 a H o m en s 09 - 1 3 a 14 - 1 8 a 19 - 3 0 a 31 - 5 0 a 51 - 7 0 a > 7 0 a M u lh er es 09 - 1 3 a 14 - 1 8 a 19 - 3 0 a 31 - 5 0 a 51 - 7 0 a > 7 0 a G es ta n te s M en os d e 18 a 19 - 3 0 a 31 - 5 0 a La ct an te s M en os d e 18 a 19 - 3 0 a 31 - 5 0 a Es tá gi o da V id a N D b N D 2 ,5 2 ,5 2 ,5 2 ,5 2 ,5 2 ,5 2 ,5 2 ,5 2 ,5 2 ,5 2 ,5 2 ,5 2 ,5 2 ,5 2 ,5 2 ,5 2 ,5 2 ,5 2 ,5 2 ,5 U L ª ( g) N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D 2 1 0 * 2 7 0 * 5 0 0 * 8 0 0 * 1 3 0 0 * 1 3 0 0 * 1 0 0 0 * 1 0 0 0 * 1 2 0 0 * 1 2 0 0 * 1 3 0 0 * 1 3 0 0 * 1 0 0 0 * 1 0 0 0 * 1 2 0 0 * 1 2 0 0 * 1 3 0 0 * 1 0 0 0 * 1 0 0 0 * 1 3 0 0 * 1 0 0 0 * 1 0 0 0 * EA R A I* o u RD A ( m g) C ál ci o N D N D 3 3 4 4 4 4 4 3 4 4 4 4 4 3 3 ,5 3 ,5 3 ,5 4 5 4 5 4 5 U L (m g) N D N D 3 8 0 4 0 5 1 0 5 5 1 0 5 5 5 8 0 5 8 0 5 8 0 5 8 0 1 0 5 5 1 0 5 5 5 8 0 5 8 0 5 8 0 5 8 0 1 0 5 5 5 8 0 5 8 0 1 0 5 5 5 8 0 5 8 0 1 0 0 * 2 7 5 * 4 6 0 5 0 0 1 2 5 0 1 2 5 0 7 0 0 7 0 0 7 0 0 7 0 0 1 2 5 0 1 2 5 0 7 0 0 7 0 0 7 0 0 7 0 0 1 2 5 0 7 0 0 7 0 0 1 2 5 0 7 0 0 7 0 0 EA R (m g) A I* o u RD A ( m g) Fó sf or o 4 0 4 0 4 0 4 0 4 0 4 5 4 5 4 5 4 5 4 5 4 0 4 5 4 5 4 5 4 5 4 5 4 5 4 5 4 5 4 5 4 5 4 5 U L (m g) N D 6 ,9 3 4 ,1 5 ,9 7 ,7 6 6 6 6 5 ,7 7 ,9 8 ,1 8 ,1 5 5 2 3 2 2 2 2 7 6 ,5 6 ,5 0 ,2 7 * 1 1 7 1 0 8 1 1 8 8 8 8 8 1 5 1 8 1 8 8 8 2 7 2 7 2 7 1 0 9 9 EA R (m g) A I* o u RD A ( m g) Fe rr o N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D U L N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D 0, 2µ g * o u 2 9n g /k g * 5, 5µ g* o u 61 1n g/ kg * 1 1 * 1 5 * 2 5 * 3 5 * 3 5 * 3 5 * 3 0 * 3 0 * 2 1 * 2 4 * 2 5 * 2 5 * 2 0 * 2 0 * 2 9 * 3 0 * 3 0 * 4 4 * 4 5 * 4 5 * EA R A I* o u RD A ( µg ) C ro m o co nt in ua TÓPICO 1 — DIETARY REFERENCE INTAKES – DRIs 107 746 | R.M. PADOVANI et al. Rev. Nutr., Campinas, 19(6):741-760, nov./dez., 2006Revista de Nutrição Ta b el a 1. V al or es d iá rio s de U L, E A R e A I* o u RD A p ar a m in er ai s† . N D N D 6 5 1 1 0 2 0 0 3 4 0 3 3 0 3 5 0 3 5 0 3 5 0 2 0 0 3 0 0 2 5 5 2 6 5 2 6 5 2 6 5 3 3 5 2 9 0 3 0 0 3 0 0 2 5 5 2 6 5 3 0 * 7 5 * 8 0 1 3 0 2 4 0 4 1 0 4 0 0 4 2 0 4 2 0 4 2 0 2 4 0 3 6 0 3 1 0 3 2 0 3 2 0 3 2 0 4 0 0 3 5 0 3 6 0 3 6 0 3 1 0 3 2 0 EA R (m g) A I* o u RD A ( m g) M ag né si o 0 ,7 0 ,9 1 ,3 2 ,2 1 0 1 0 1 0 1 0 1 0 1 0 1 0 1 0 1 0 1 0 1 0 1 0 1 0 1 0 1 0 1 0 1 0 1 0 1 0 U L (m g) N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D 0 ,0 1 * 0 ,5 * 0 0 ,7 * 0 1 * 2 * 3 * 4 * 4 * 4 * 4 * 2 * 3 * 3 * 3 * 3 * 3 * 3 * 3 * 3 * 3 * 3 * 3 * EA R A I* o u RD A ( m g) Fl úo r N D N D 3 6 1 1 1 7 2 0 2 0 2 0 2 0 1 1 1 7 2 0 2 0 2 0 2 0 1 7 2 0 2 0 1 7 2 0 2 0 U L (m g) N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D EA R A I* o u RD A B o ro N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D 0 ,2 0 ,3 0 ,6 1 ,0 1 ,0 1 ,0 1 ,0 1 ,0 0 ,6 1 ,0 1 ,0 1 ,0 1 ,0 1 ,0 1 ,0 1 ,0 1 ,0 1 ,0 1 ,0 1 ,0 U L (m g) N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D EA R A I* o u RD A N íq ue l co nt in ua B eb ês 00 - 0 6m 07 - 1 2m C ri an ça s 01 - 0 3 a 04 - 0 8 a H o m en s 09 - 1 3 a 14 - 1 8 a 19 - 3 0 a 31 - 5 0 a 51 - 7 0 a > 7 0 a M u lh er es 09 - 1 3 a 14 - 1 8 a 19 - 3 0 a 31 - 5 0 a 51 - 7 0 a > 7 0 a G es ta n te s M en os d e 18 a 19 - 3 0 a 31 - 5 0 a La ct an te s M en os d e 18 a 19 - 3 0 a 31 - 5 0 a Es tá gi o da V id a N D N D 6 5 1 1 0 3 5 0 3 5 0 3 5 0 3 5 0 3 5 0 3 5 0 3 5 0 3 5 0 3 5 0 3 5 0 3 5 0 3 5 0 3 5 0 3 5 0 3 5 0 3 5 0 3 5 0 3 5 0 U Lc ( m g) UNIDADE 2 — PRESCRIÇÃO DIETÉTICA, OBJETIVOS NUTRICIONAIS E ORIENTAÇÕES ALIMENTARES PARA INDIVÍDUOS SADIOS 108 TABELAS E APLICABILIDADE DAS DRI | 747 Rev. Nutr., Campinas, 19(6):741-760, nov./dez., 2006 Revista de Nutrição Ta b el a 1. V al or es d iá rio s de U L, E A R e A I* o u RD A p ar a m in er ai s† . N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D EA R A I* o u RD A Va ná di od N D N D 1 0 0 0 3 0 0 0 5 0 0 0 8 0 0 0 1 0 0 0 0 1 0 0 0 0 1 0 0 0 0 1 0 0 0 0 5 0 0 0 8 0 0 0 1 0 0 0 0 1 0 0 0 0 1 0 0 0 0 1 0 0 0 0 8 0 0 0 1 0 0 0 0 1 0 0 0 0 8 0 0 0 1 0 0 0 0 1 0 0 0 0 U L (µ g) N D N D 2 6 0 3 4 0 5 4 0 6 8 5 7 0 0 7 0 0 7 0 0 7 0 0 5 4 0 6 8 5 7 0 0 7 0 0 7 0 0 7 0 0 7 8 5 8 0 0 8 0 0 9 8 5 1 0 0 0 1 0 0 0 20 0µ g * o u 3 0µ g /k g * 22 0µ g * o u 2 4µ g /k g * 3 4 0 4 4 0 7 0 0 8 9 0 9 0 0 9 0 0 9 0 0 9 0 0 7 0 0 8 9 0 9 0 0 9 0 0 9 0 0 9 0 0 1 0 0 0 1 0 0 0 1 0 0 0 1 3 0 0 1 3 0 0 1 3 0 0 EA R (µ g) A I* o u RD A ( µg ) C ob re N D N D 2 0 0 3 0 0 6 0 0 9 0 0 1 1 0 0 1 1 0 0 1 1 0 0 1 1 0 0 6 0 0 9 0 0 1 1 0 0 1 1 0 0 1 1 0 0 1 1 0 0 9 0 0 1 1 0 0 1 1 0 0 9 0 0 1 1 0 0 1 1 0 0 U L (µ g) N D N D 6 5 6 5 7 3 9 5 9 5 9 5 9 5 9 5 7 3 9 5 9 5 9 5 9 5 9 5 1 6 0 1 6 0 1 6 0 2 0 9 2 0 9 2 0 9 EA R (µ g) A I* o u RD A ( µg ) Io d o 1 1 0 * 1 3 0 * 9 0 9 0 1 2 0 1 5 0 1 5 0 1 5 0 1 5 0 1 5 0 1 2 0 1 5 0 1 5 0 1 5 0 1 5 0 1 5 0 2 2 0 2 2 0 2 2 0 2 9 0 2 9 0 2 9 0 N D N D 3 0 0 6 0 0 1 1 0 0 1 7 0 0 2 0 0 0 2 0 0 0 2 0 0 0 2 0 0 0 1 1 0 0 1 7 0 0 2 0 0 0 2 0 0 0 2 0 0 0 2 0 0 0 1 7 0 0 2 0 0 0 2 0 0 0 1 7 0 0 2 0 0 0 2 0 0 0 U L (µ g) N D N D 1 3 1 7 2 6 3 3 3 4 3 4 3 4 3 4 2 6 3 3 3 4 3 4 3 4 34 4 0 4 0 4 0 3 5 3 6 3 6 2* o u 0 ,3 */ kg 3* o u 0 ,3 */ kg 1 7 2 2 3 4 4 3 4 5 4 5 4 5 4 5 3 4 4 3 4 5 4 5 4 5 4 5 5 0 5 0 5 0 5 0 5 0 5 0 EA R (µ g) A I* o u RD A ( µg ) M ol ib dê ni o co nt in ua B eb ês 00 - 0 6m 07 - 1 2m C ri an ça s 01 - 0 3 a 04 - 0 8 a H o m en s 09 - 1 3 a 14 - 1 8 a 19 - 3 0 a 31 - 5 0 a 51 - 7 0 a > 7 0 a M u lh er es 09 - 1 3 a 14 - 1 8 a 19 - 3 0 a 31 - 5 0 a 51 - 7 0 a > 7 0 a G es ta n te s M en os d e 18 a 19 - 3 0 a 31 - 5 0 a La ct an te s M en os d e 18 a 19 - 3 0 a 31 - 5 0 a Es tá gi o da V id a N D N D N D N D N D N D 1 ,8 1 ,8 1 ,8 1 ,8 N D N D 1 ,8 1 ,8 1 ,8 1 ,8 N D N D N D N D N D N D U L (m g) TÓPICO 1 — DIETARY REFERENCE INTAKES – DRIs 109 748 | R.M. PADOVANI et al. Rev. Nutr., Campinas, 19(6):741-760, nov./dez., 2006Revista de Nutrição Ta b el a 1. V al or es d iá rio s de U L, E A R e A I* o u RD A p ar a m in er ai s† . B eb ês 00 - 0 6m 07 - 1 2m C ri an ça s 01 - 0 3 a 04 - 0 8 a H o m en s 09 - 1 3 a 14 - 1 8 a 19 - 3 0 a 31 - 5 0 a 51 - 7 0 a > 7 0 a M u lh er es 09 - 1 3 a 14 - 1 8 a 19 - 3 0 a 31 - 5 0 a 51 - 7 0 a > 7 0 a G es ta n te s M en os d e 18 a 19 - 3 0 a 31 - 5 0 a La ct an te s M en os d e 18 a 19 - 3 0 a 31 - 5 0 a Es tá gi o da V id a co nc lu sã o Fo nt es : In st itu te o f M ed ic in e2 ; In st itu te o f M ed ic in e9 ; In st itu te o f M ed ic in e1 2 ; In st itu te o f M ed ic in e2 1 ; R ep ro du zi do s ob p er m is sã o #2 24 31 04 90 . †N ão f or am e st ab el ec id os u m E A R ou A I p ar a ar sê ni co , b or o, n íq ue l, si líc io o u va ná di o. A pe sa r de n ão t er s id o de te rm in ad o o U L pa ra a rs ên ic o, n ão h á ju st ifi ca tiv a pa ra a di ci on ar a rs ên ic o ao a lim en to o u su pl em en to s. .A pe sa r de n ão s e te re m o bs er va do e fe ito s ad ve rs os e m s er es h um an os , nã o há j us tif ic at iv a pa ra a di ci on ar s ilí ci o ao s su pl em en to s ªU L: O li m ite s up er io r to le rá ve l d e m ai or in ge st ão (U L) é o m ai or n ív el d e in ge st ão c on tin ua da d e um n ut rie nt e qu e, c om u m a da da p ro ba bi lid ad e, n ão c ol oc a em r is co a s aú de d a m ai or p ar te d os in di ví du os . A m en os qu e es te ja e sp ec ifi ca do d e ou tr a m an ei ra , o U L re pr es en ta a in ge st ão t ot al d e al im en to , ág ua e s up le m en to s. b N D = n ão f oi p os sí ve l e st ab el ec er e st e va lo r. c O U L pa ra m ag né si o re pr es en ta a in ge st ão n a fo rm a de su pl em en to a pe na s e nã o in cl ui a in ge st ão d o nu tr ie nt e a pa rt ir d o al im en to e á gu a. d A pe sa r de o v an ád io n o al im en to n ão t er a pr es en ta do e fe ito s ad ve rs os e m s er es h um an os , n ão s e ju st ifi ca a a di çã o de v an ád io ao s al im en to s e os s up le m en to s de ve m s er u til iz ad os c om c au te la . O U L é ba se ad o no s ef ei to s ad ve rs os e m a ni m ai s de la bo ra tó rio e e ss es d ad os p ud er am s er u til iz ad os p ar a es ta be le ce r o U L pa ra a du lto s, m as nã o pa ra a do le sc en te s e cr ia nç as . N D N D 1 7 2 3 3 5 4 5 4 5 4 5 4 5 4 5 3 5 4 5 4 5 4 5 4 5 4 5 4 9 4 9 4 9 5 9 5 9 5 9 1 5 * 2 0 * 2 0 * 3 0 * 4 0 * 5 5 * 5 5 * 5 5 * 5 5 * 5 5 * 4 0 * 5 5 * 5 5 * 5 5 * 5 5 * 5 5 * 6 0 * 6 0 * 6 0 * 7 0 * 7 0 * 7 0 * EA R (µ g) A I* o u RD A ( µg ) Se lê ni o N D N D 2 3 6 9 1 1 1 1 1 1 1 1 6 9 1 1 1 1 1 1 1 1 9 1 1 1 1 9 1 1 1 1 U L (m g) N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D 0 ,0 0 3 * 0 ,6 * 0 0 1 ,2 * 0 0 1 ,5 * 0 0 1 ,9 * 0 0 2 ,2 * 0 0 2 ,3 * 0 0 2 ,3 * 0 0 2 ,3 * 0 0 2 ,3 * 0 0 1 ,6 * 0 0 1 ,6 * 0 0 1 ,8 * 0 0 1 ,8 * 0 0 1 ,8 * 0 0 1 ,8 * 0 0 2 * 0 0 2 * 0 0 2 * 0 0 2 ,6 * 0 0 2 ,6 * 0 0 2 ,6 * 0 0 EA R A I* o u RD A (m g) M an ga nê s 4 5 7 1 2 2 3 3 4 4 0 4 0 4 0 4 0 2 3 3 4 4 0 4 0 4 0 4 0 3 4 4 0 4 0 3 4 4 0 4 0 U L ( m g) N D 0 2 ,5 0 2 ,5 4 7 0 8 ,5 0 9 ,4 0 9 ,4 0 9 ,4 0 9 ,4 7 0 7 ,3 0 6 ,8 0 6 ,8 0 6 ,8 0 6 ,8 1 0 ,5 0 9 ,5 0 9 ,5 1 0 ,9 1 0 ,4 1 0 ,4 EA R ( m g) A I* o u RD A (m g) Zi nc o 2 * 3 * 3 * 5 * 8 * 1 1 * 1 1 * 1 1 * 1 1 * 1 1 * 8 * 9 * 8 * 8 * 8 * 8 * 1 3 * 1 1 * 1 1 * 1 4 * 1 2 * 1 2 * 4 5 6 0 9 0 1 5 0 2 8 0 4 0 0 4 0 0 4 0 0 4 0 0 4 0 0 2 8 0 4 0 0 4 0 0 4 0 0 4 0 0 4 0 0 4 0 0 4 0 0 4 0 0 4 0 0 4 0 0 4 0 0 U L (µ g) FONTE: Institute of Medicine2; Institute of Medicine9; Institute of Medicine12; Institute of Medicine21; Reproduzido sob permissão #224310490. UNIDADE 2 — PRESCRIÇÃO DIETÉTICA, OBJETIVOS NUTRICIONAIS E ORIENTAÇÕES ALIMENTARES PARA INDIVÍDUOS SADIOS 110 TABELA 2 - VALORES DIÁRIOS DE UL, EAR E AI* OU RDA PARA VITAMINAS. TABELAS E APLICABILIDADE DAS DRI | 749 Rev. Nutr., Campinas, 19(6):741-760, nov./dez., 2006 Revista de Nutrição Ta b el a 2. V al or es d iá rio s de U L, E A R e A I* o u RD A p ar a vi ta m in as † . B eb ês 00 - 0 6m 07 - 1 2m C ri an ça s 01 - 0 3 a 04 - 0 8 a H o m en s 09 - 1 3 a 14 - 1 8 a 19 - 3 0 a 31 - 5 0 a 51 - 7 0 a > 7 0 a M u lh er es 09 - 1 3 a 14 - 1 8 a 19 - 3 0 a 31 - 5 0 a 51 - 7 0 a > 7 0 a G es ta n te s M en os d e 18 a 19 - 3 0 a 31 - 5 0 a La ct an te s M en os d e 18 a 19 - 3 0 a 31 - 5 0 a Es tá gi o da V id a N D b N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D U La N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D 2 ,0 * 2 ,5 * 3 0 * 5 5 * 6 0 * 7 5 * 1 2 0 * 1 2 0 * 1 2 0 * 1 2 0 * 6 0 * 7 5 * 9 0 * 9 0 * 9 0 * 9 0 * 7 5 * 9 0 * 9 0 * 7 5 * 9 0 * 9 0 * EA R A I* o u RD A ( µg ) V ita m in a K N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D U L N D N D 0 ,4 0 ,5 0 ,7 1 1 1 1 1 0 ,7 0 ,9 0 ,9 0 ,9 0 ,9 0 ,9 1 ,2 1 ,2 1 ,2 1 ,2 1 ,2 1 ,2 0 ,2 * 0 ,3 * 0 ,5 * 0 ,6 * 0 ,9 * 1 ,2 * 1 ,2 * 1 ,2 * 1 ,2 * 1 ,2 * 0 ,9 * 1 * 1 ,1 * 1 ,1 * 1 ,1 * 1 ,1 * 1 ,4 1 ,4 1 ,4 1 ,4 1 ,4 1 ,4 EA R (m g) A I* o u RD A ( m g) Ti am in a N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D U L N D N D 0 ,4 0 ,5 0 ,8 1 ,1 1 ,1 1 ,1 1 ,1 1 ,1 0 ,8 0 ,9 0 ,9 0 ,9 0 ,9 0 ,9 1 ,2 1 ,2 1 ,2 1 ,3 1 ,3 1 ,3 0 ,3 * 0 ,4 * 0 ,5 * 0 ,6 * 0 ,9 * 1 ,3 * 1 ,3 * 1 ,3 * 1 ,3 * 1 ,3 * 0 ,9 * 1 ,0 * 1 ,1 * 1 ,1 * 1 ,1 * 1 ,1 * 1 ,4 * 1 ,4 * 1 ,4 * 1 ,6 * 1 ,6 * 1 ,6 * EA R (m g) A I* o u RD A ( m g) Ri bo fla vi na N D N D 4 0 0 6 5 0 1 2 0 01 8 0 0 2 0 0 0 2 0 0 0 2 0 0 0 2 0 0 0 1 2 0 0 1 8 0 0 2 0 0 0 2 0 0 0 2 0 0 0 2 0 0 0 1 8 0 0 2 0 0 0 2 0 0 0 1 8 0 0 2 0 0 0 2 0 0 0 U L (m g) N D N D 1 3 2 2 3 9 6 3 7 5 7 5 7 5 7 5 3 9 5 6 6 0 6 0 6 0 6 0 6 6 7 0 7 0 9 6 1 0 0 1 0 0 4 0 * 5 0 * 1 5 2 5 4 5 7 5 9 0 9 0 9 0 9 0 4 5 6 5 7 5 7 5 7 5 7 5 8 0 8 5 8 5 1 1 5 1 2 0 1 2 0 EA R (m g) A I* o u RD A ( m g) V ita m in a C co nt in ua TÓPICO 1 — DIETARY REFERENCE INTAKES – DRIs 111 TABELAS E APLICABILIDADE DAS DRI | 749 Rev. Nutr., Campinas, 19(6):741-760, nov./dez., 2006 Revista de Nutrição Ta be la 2 . V al or es d iá rio s de U L, E AR e A I* o u RD A pa ra v ita m in as † . Be bê s 00 - 0 6m 07 - 1 2m Cr ia nç as 01 - 0 3 a 04 - 0 8 a H om en s 09 - 1 3 a 14 - 1 8 a 19 - 3 0 a 31 - 5 0 a 51 - 7 0 a > 70 a M ul he re s 09 - 1 3 a 14 - 1 8 a 19 - 3 0 a 31 - 5 0 a 51 - 7 0 a > 70 a G es ta nt es M en os d e 18 a 19 - 3 0 a 31 - 5 0 a La ct an te s M en os d e 18 a 19 - 3 0 a 31 - 5 0 a Es tá gi o da V id a N D b N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D U La N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D 2, 0* 2, 5* 30 * 55 * 60 * 75 * 12 0* 12 0* 12 0* 12 0* 60 * 75 * 90 * 90 * 90 * 90 * 75 * 90 * 90 * 75 * 90 * 90 * EA R A I* o u RD A ( µg ) Vi ta m in a K N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N DUL N D N D 0, 4 0, 5 0, 7 1 1 1 1 1 0, 7 0, 9 0, 9 0, 9 0, 9 0, 9 1, 2 1, 2 1, 2 1, 2 1, 2 1, 2 0, 2* 0, 3* 0, 5* 0, 6* 0, 9* 1, 2* 1, 2* 1, 2* 1, 2* 1, 2* 0, 9* 1* 1, 1* 1, 1* 1, 1* 1, 1* 1, 4 1, 4 1, 4 1, 4 1, 4 1, 4 EA R (m g) A I* o u RD A (m g) Ti am in a N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N DUL N D N D 0, 4 0, 5 0, 8 1, 1 1, 1 1, 1 1, 1 1, 1 0, 8 0, 9 0, 9 0, 9 0, 9 0, 9 1, 2 1, 2 1, 2 1, 3 1, 3 1, 3 0, 3* 0, 4* 0, 5* 0, 6* 0, 9* 1, 3* 1, 3* 1, 3* 1, 3* 1, 3* 0, 9* 1, 0* 1, 1* 1, 1* 1, 1* 1, 1* 1, 4* 1, 4* 1, 4* 1, 6* 1, 6* 1, 6* EA R (m g) A I* o u RD A (m g) Ri bo fla vi na N D N D 40 0 65 0 12 00 18 00 20 00 20 00 20 00 20 00 12 00 18 00 20 00 20 00 20 00 20 00 18 00 20 00 20 00 18 00 20 00 20 00 U L (m g) N D N D 13 22 39 63 75 75 75 75 39 56 60 60 60 60 66 70 70 96 10 0 10 0 40 * 50 * 15 25 45 75 90 90 90 90 45 65 75 75 75 75 80 85 85 11 5 12 0 12 0 EA R (m g) A I* o u RD A (m g) Vi ta m in a C co nt in ua UNIDADE 2 — PRESCRIÇÃO DIETÉTICA, OBJETIVOS NUTRICIONAIS E ORIENTAÇÕES ALIMENTARES PARA INDIVÍDUOS SADIOS 112 750 | R.M. PADOVANI et al. Rev. Nutr., Campinas, 19(6):741-760, nov./dez., 2006Revista de Nutrição Ta b el a 2. V al or es d iá rio s de U L, E A R e A I* o u RD A p ar a vi ta m in as † . B eb ês 00 - 0 6m 07 - 1 2m C ri an ça s 01 - 0 3 a 04 - 0 8 a H o m en s 09 - 1 3 a 14 - 1 8 a 19 - 3 0 a 31 - 5 0 a 51 - 7 0 a > 7 0 a M u lh er es 09 - 1 3 a 14 - 1 8 a 19 - 3 0 a 31 - 5 0 a 51 - 7 0 a > 7 0 a G es ta n te s M en os d e 18 a 19 - 3 0 a 31 - 5 0 a La ct an te s M en os d e 18 a 19 - 3 0 a 31 - 5 0 a Es tá gi o da V id a N D N D 1 0 1 5 2 0 3 0 3 5 3 5 3 5 3 5 2 0 3 0 3 5 3 5 3 5 3 5 3 0 3 5 3 5 3 0 3 5 3 5 U L (m g) N D N D 5 6 9 1 2 1 2 1 2 1 2 1 2 9 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 4 1 4 1 4 1 3 1 3 1 3 2 * 4 * 6 8 1 2 1 6 1 6 1 6 1 6 1 6 1 2 1 4 1 4 1 4 1 4 1 4 1 8 1 8 1 8 1 7 1 7 1 7 EA R (m g) A I* o u RD A ( m g) N ia ci na c N D N D 3 0 4 0 6 0 8 0 1 0 0 1 0 0 1 0 0 1 0 0 6 0 8 0 1 0 0 1 0 0 1 0 0 1 0 0 8 0 1 0 0 1 0 0 8 0 1 0 0 1 0 0 U L (m g) N D N D 0 ,4 0 ,5 0 ,8 1 ,1 1 ,1 1 ,1 1 ,4 1 ,4 0 ,8 1 1 ,1 1 ,1 1 ,3 1 ,3 1 ,6 1 ,6 1 ,6 1 ,7 1 ,7 1 ,7 0 ,1 * 0 ,3 * 0 ,5 * 0 ,6 * 1 1 ,3 * 1 ,3 * 1 ,3 * 1 ,7 * 1 ,7 * 1 1 ,2 * 1 ,3 * 1 ,3 * 1 ,5 * 1 ,5 * 1 ,9 * 1 ,9 * 1 ,9 * 2 2 2 EA R (m g) A I* o u RD A ( m g) V ita m in a B6 N D N D 3 0 0 4 0 0 6 0 0 8 0 0 1 0 0 0 1 0 0 0 1 0 0 0 1 0 0 0 6 0 0 8 0 0 1 0 0 0 1 0 0 0 1 0 0 0 1 0 0 0 8 0 0 1 0 0 0 1 0 0 0 8 0 0 1 0 0 0 1 0 0 0 U L (µ g) N D N D 1 2 0 1 6 0 2 5 0 3 3 0 3 2 0 3 2 0 3 2 0 3 2 0 2 5 0 3 3 0 3 2 0 3 2 0 3 2 0 3 2 0 5 2 0 5 2 0 5 2 0 4 5 0 4 5 0 4 5 0 EA R (µ g) A I* o u RD A ( µg ) Fo la to E q. d e fo la to a lim en ta r (D FE )d N D N D 2 0 0 3 0 0 6 0 0 8 0 0 1 0 0 0 1 0 0 0 1 0 0 0 1 0 0 0 6 0 0 8 0 0 1 0 0 0 1 0 0 0 1 0 0 0 1 0 0 0 8 0 0 1 0 0 0 1 0 0 0 8 0 0 1 0 0 0 1 0 0 0 U L1 ( m g) N D N D 5 6 9 1 2 1 2 1 2 1 2 1 2 9 1 2 1 2 1 2 1 2 1 2 1 2 1 2 1 2 1 6 1 6 1 6 4 * 5 * 6 7 1 1 1 5 1 5 1 5 1 5 1 5 1 1 1 5 1 5 1 5 1 5 1 5 1 5 1 5 1 5 1 9 1 9 1 9 EA R (m g) A I* o u RD A ( m g) V ita m in a E α- to co fe ro l e qu iv al en te se co nt in ua 6 5 * 8 0 * 1 5 0 2 0 0 3 0 0 4 0 0 4 0 0 4 0 0 4 0 0 4 0 0 3 0 0 4 0 0 4 0 0 4 0 0 4 0 0 4 0 0 6 0 0 6 0 0 6 0 0 5 0 0 5 0 0 5 0 0 TÓPICO 1 — DIETARY REFERENCE INTAKES – DRIs 113 750 | R.M. PADOVANI et al. Rev. Nutr., Campinas, 19(6):741-760, nov./dez., 2006Revista de Nutrição Ta b el a 2. V al or es d iá rio s de U L, E A R e A I* o u RD A p ar a vi ta m in as † . B eb ês 00 - 0 6m 07 - 1 2m C ri an ça s 01 - 0 3 a 04 - 0 8 a H o m en s 09 - 1 3 a 14 - 1 8 a 19 - 3 0 a 31 - 5 0 a 51 - 7 0 a > 7 0 a M u lh er es 09 - 1 3 a 14 - 1 8 a 19 - 3 0 a 31 - 5 0 a 51 - 7 0 a > 7 0 a G es ta n te s M en os d e 18 a 19 - 3 0 a 31 - 5 0 a La ct an te s M en os d e 18 a 19 - 3 0 a 31 - 5 0 a Es tá gi o da V id a N D N D 1 0 1 5 2 0 3 0 3 5 3 5 3 5 3 5 2 0 3 0 3 5 3 5 3 5 3 5 3 0 3 5 3 5 3 0 3 5 3 5 U L (m g) N D N D 5 6 9 1 2 1 2 1 2 1 2 1 2 9 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 4 1 4 1 4 1 3 1 3 1 3 2 * 4 * 6 8 1 2 1 6 1 6 1 6 1 6 1 6 1 2 1 4 1 4 1 4 1 4 1 4 1 8 1 8 1 8 1 7 1 7 1 7 EA R (m g) A I* o u RD A ( m g) N ia ci na c N D N D 3 0 4 0 6 0 8 0 1 0 0 1 0 0 1 0 0 1 0 0 6 0 8 0 1 0 0 1 0 0 1 0 0 1 0 0 8 0 1 0 0 1 0 0 8 0 1 0 0 1 0 0 U L (m g) N D N D 0 ,4 0 ,5 0 ,8 1 ,1 1 ,1 1 ,1 1 ,4 1 ,4 0 ,8 1 1 ,1 1 ,1 1 ,3 1 ,3 1 ,6 1 ,6 1 ,6 1 ,7 1 ,7 1 ,7 0 ,1 * 0 ,3 * 0 ,5 * 0 ,6 * 1 1 ,3 * 1 ,3 * 1 ,3 * 1 ,7 * 1 ,7 * 1 1 ,2 * 1 ,3 * 1 ,3 * 1 ,5 * 1 ,5 * 1 ,9 * 1 ,9 * 1 ,9 * 2 2 2 EA R (m g) A I* o u RD A ( m g) V ita m in a B6 N D N D 3 0 0 4 0 0 6 0 0 8 0 0 1 0 0 0 1 0 0 0 1 0 0 0 1 0 0 0 6 0 0 8 0 0 1 0 0 0 1 0 0 0 1 0 0 0 1 0 0 0 8 0 0 1 0 0 0 1 0 0 0 8 0 0 1 0 0 0 1 0 0 0 U L (µ g) N D N D 1 2 0 1 6 0 2 5 0 3 3 0 3 2 0 3 2 0 3 2 0 3 2 0 2 5 0 3 3 0 3 2 0 3 2 0 3 2 0 3 2 0 5 2 0 5 2 0 5 2 0 4 5 0 4 5 0 4 5 0 EA R (µ g) A I* o u RD A ( µg ) Fo la to E q. d e fo la to a lim en ta r (D FE )d N D N D 2 0 0 3 0 0 6 0 0 8 0 0 1 00 0 1 0 0 0 1 0 0 0 1 0 0 0 6 0 0 8 0 0 1 0 0 0 1 0 0 0 1 0 0 0 1 0 0 0 8 0 0 1 0 0 0 1 0 0 0 8 0 0 1 0 0 0 1 0 0 0 U L1 ( m g) N D N D 5 6 9 1 2 1 2 1 2 1 2 1 2 9 1 2 1 2 1 2 1 2 1 2 1 2 1 2 1 2 1 6 1 6 1 6 4 * 5 * 6 7 1 1 1 5 1 5 1 5 1 5 1 5 1 1 1 5 1 5 1 5 1 5 1 5 1 5 1 5 1 5 1 9 1 9 1 9 EA R (m g) A I* o u RD A ( m g) V ita m in a E α- to co fe ro l e qu iv al en te se co nt in ua 6 5 * 8 0 * 1 5 0 2 0 0 3 0 0 4 0 0 4 0 0 4 0 0 4 0 0 4 0 0 3 0 0 4 0 0 4 0 0 4 0 0 4 0 0 4 0 0 6 0 0 6 0 0 6 0 0 5 0 0 5 0 0 5 0 0 UNIDADE 2 — PRESCRIÇÃO DIETÉTICA, OBJETIVOS NUTRICIONAIS E ORIENTAÇÕES ALIMENTARES PARA INDIVÍDUOS SADIOS 114 TABELAS E APLICABILIDADE DAS DRI | 751 Rev. Nutr., Campinas, 19(6):741-760, nov./dez., 2006 Revista de Nutrição Ta b el a 2. V al or es d iá rio s de U L, E A R e A I* o u RD A p ar a vi ta m in as † . B eb ês 00 - 0 6m 07 - 1 2m C ri an ça s 01 - 0 3 a 04 - 0 8 a H o m en s 09 - 1 3 a 14 - 1 8 a 19 - 3 0 a 31 - 5 0 a 51 - 7 0 a > 7 0 a M u lh er es 09 - 1 3 a 14 - 1 8 a 19 - 3 0 a 31 - 5 0 a 51 - 7 0 a > 7 0 a G es ta n te s M en os d e 18 a 19 - 3 0 a 31 - 5 0 a La ct an te s M en os d e 18 a 19 - 3 0 a 31 - 5 0 a Es tá gi o da V id a N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N DU L N D N D 0 ,7 1 ,0 1 ,5 2 ,0 2 ,0 2 ,0 2 ,0 2 ,0 1 ,5 2 ,0 2 ,0 2 ,0 2 ,0 2 ,0 2 ,2 2 ,2 2 ,2 2 ,4 2 ,4 2 ,4 0 ,4 * 0 ,5 * 0 ,9 * 1 ,2 * 1 ,8 * 2 ,4 * 2 ,4 * 2 ,4 * 2 ,4 * 2 ,4 * 1 ,8 * 2 ,4 * 2 ,4 * 2 ,4 * 2 ,4 * 2 ,4 * 2 ,6 * 2 ,6 * 2 ,6 * 2 ,8 * 2 ,8 * 2 ,8 * EA R (µ g) A I* o u RD A ( µg ) V ita m in a B1 2g N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D U L N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D 1 ,7 * 1 ,8 * 2 * 3 * 4 * 5 * 5 * 5 * 5 * 5 * 4 * 5 * 5 * 5 * 5 * 5 * 6 * 6 * 6 * 7 * 7 * 7 * EA R A I* o u RD A ( m g) Á ci do P an to tê ni co N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D U L N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D EA R A I* o u RD A ( µg ) Bi ot in a 2 5 2 5 5 0 5 0 5 0 5 0 5 0 5 0 5 0 5 0 5 0 5 0 5 0 5 0 5 0 5 0 5 0 5 0 5 0 5 0 5 0 5 0 U L (µ g) N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D 5 * 5 * 5 * 5 * 5 * 5 * 5 * 5 * 1 0 * 1 5 * 5 * 5 * 5 * 5 * 1 0 * 1 5 * 5 * 5 * 5 * 5 * 5 * 5 * EA R A I* o u RD A ( µg ) V ita m in a D h i co nt in ua 5 * 6 * 8 * 1 2 * 2 0 * 2 5 * 3 0 * 3 0 * 3 0 * 3 0 * 2 0 * 2 5 * 3 0 * 3 0 * 3 0 * 3 0 * 3 0 * 3 0 * 3 0 * 3 5 * 3 5 * 3 5 * TÓPICO 1 — DIETARY REFERENCE INTAKES – DRIs 115 752 | R.M. PADOVANI et al. Rev. Nutr., Campinas, 19(6):741-760, nov./dez., 2006Revista de Nutrição Ta b el a 2. V al or es d iá rio s de U L, E A R e A I* o u RD A p ar a vi ta m in as † . B eb ês 00 - 0 6m 07 - 1 2m C ri an ça s 01 - 0 3 a 04 - 0 8 a H o m en s 09 - 1 3 a 14 - 1 8 a 19 - 3 0 a 31 - 5 0 a 51 - 7 0 a > 7 0 a M u lh er es 09 - 1 3 a 14 - 1 8 a 19 - 3 0 a 31 - 5 0 a 51 - 7 0 a > 7 0 a G es ta n te s M en os d e 18 a 19 - 3 0 a 31 - 5 0 a La ct an te s M en os d e 18 a 19 - 3 0 a 31 - 5 0 a Es tá gi o da V id a U L (g ) Fo nt es : In st itu te o f M ed ic in e9 ; In st itu te o f M ed ic in e1 1 ; In st itu te o f M ed ic in e1 2 . R ep ro du zi do s ob p er m is sã o #2 24 31 04 90 . N ot as : † N ão f or am e st ab el ec id os v al or es d e EA R, R D A o u A I e U L pa ra c ar ot en ói de s. ª U L: O li m ite s up er io r to le rá ve l d e m ai or in ge st ão (U L) é o m ai or n ív el d e in ge st ão c on tin ua da d e um n ut rie nt e qu e co m u m a da da pr ob ab ili da de n ão c ol oc a em r is co a s aú de d a m ai or p ar te d os in di ví du os . A m en os q ue e st ej a es pe ci fic ad o de o ut ra m an ei ra , o U L re pr es en ta a in ge st ão t ot al p ro ve ni en te d e al im en to s, á gu a e su pl em en to s. b N D = nã o fo i p os sí ve l e st ab el ec er e st e va lo r. c C om o eq ui va le nt es d e ni ac in a (N E) . 1 m g de n ia ci na = 6 0m g de t rip to fa no . Z er o- 6 m es es = n ia ci na p ré -f or m ad a (n ão N E) . d 1 eq ui va le nt e al im en ta r de f ol at o (D FE )= 1 µg d e fo la to al im en ta r= 0 ,6 µg d e ác id o fó lic o de a lim en to f or tif ic ad o ou c om o su pl em en to c on su m id o co m a lim en to = 0 ,5 µ g de s up le m en to t om ad o co m o e st ôm ag o va zi o. D ad as a s ev id ên ci as q ue li ga m a in ge st ão d e fo la to a os de fe ito s do t ub o ne ur al n o fe to , é r ec om en da do q ue t od as a s m ul he re s ca pa ze s de e ng ra vi da r co ns um am 4 00 µg a p ar tir d e su pl em en to s ou a lim en to s fo rt ifi ca do s, a lé m d a in ge st ão d o fo la to a lim en ta r de u m a di et a va ria da . e C om o α- to co fe ro l. O α -t oc of er ol in cl ui R RR α -t oc of er ol ( ún ic a fo rm a en co nt ra da n os a lim en to s) e a s fo rm as 2 R- es te re oi so m ér ic as d e -t oc of er ol ( RR R- , RS R- , RR S- e R SS –t oc of er ol ) qu e sã o en co nt ra da s no s al im en to s fo rt ifi ca do s e su pl em en to s. E le n ão in cl ui a s fo rm as 2 R- es te re oi so m ér ic as d e -t oc of er ol ( SR R- , SS R, S R- e S SS - -t oc of er ol ) ta m bé m e nc on tr ad as e m a lim en to s fo rt ifi ca do s e su pl em en to s. f Só s e ap lic a pa ra qu al qu er fo rm a de α -t oc of er ol s up le m en ta r. g C om o 10 a 3 0% d os in di ví du os id os os p od em a bs or ve r m al a B 12 d e al im en to s, re co m en da -s e ap ós o s 50 a no s, o c on su m o de a lim en to s fo rt ifi ca do s ou s up le m en to s. h C om o co le cl ac ife ro l. 1µ g de c ol ec al ci fe ro l= 4 0 U I v ita m in a D . i N a au sê nc ia d e ex po si çã o so la r ad eq ua da . J A pe sa r da s A I t er em s id o es ta be le ci da s pa ra c ol in a, n ão h á da do s su fic ie nt es p ar a ju st ifi ca r a ut ili za çã o de s up le m en to di et ét ic o. k C om o eq ui va le nt es d e at iv id ad e de r et in ol ( RA E) . 1 RA E= 1 µg d e re tin ol , 12 µg d e β- ca ro te no , 24 µg d e α- ca ro te no . ou 2 4µ g de β -c rip to xa nt in a U L (µ g) 4 0 0 * 5 0 0 * 3 0 0 4 0 0 6 0 0 9 0 0 9 0 0 9 0 0 9 0 0 9 0 0 6 0 0 7 0 0 7 0 0 7 0 0 7 0 0 7 0 0 7 5 0 7 7 0 7 7 0 1 2 0 0 1 3 0 0 1 3 0 0 EA R (µ g) A I* o u RD A ( µg )V ita m in a A k , R A E N D N D 2 1 0 2 7 5 4 4 5 6 3 0 6 2 5 6 2 5 6 2 5 6 2 5 4 2 0 4 8 5 5 0 0 5 0 0 5 0 0 5 0 0 5 3 0 5 5 0 5 5 0 8 8 5 9 0 0 9 0 0 6 0 0 6 0 0 6 0 0 9 0 0 1 7 0 0 2 8 0 0 3 0 0 0 3 0 0 0 3 0 0 0 3 0 0 0 1 7 0 0 2 8 0 0 3 0 0 0 3 0 0 0 3 0 0 0 3 0 0 0 2 8 0 0 3 0 0 0 3 0 0 0 2 8 0 0 3 0 0 0 3 0 0 0 1 2 5 * 1 5 0 * 2 0 0 * 2 5 0 * 3 7 5 * 5 5 0 * 5 5 0 * 5 5 0 * 5 5 0 * 5 5 0 * 3 7 5 * 4 0 0 * 4 2 5 * 4 2 5 * 4 2 5 * 4 2 5 * 4 5 0 * 4 5 0 * 4 5 0 * 5 5 0 * 5 5 0 * 5 5 0 * EA R A I* o u RD A ( m g) C ol in aj N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D 1 ,0 1 ,0 2 ,0 3 ,0 3 ,5 3 ,5 3 ,5 3 ,5 2 ,0 3 ,0 3 ,5 3 ,5 3 ,5 3 ,5 3 ,0 3 ,5 3 ,5 3 ,0 3 ,5 3 ,5 FONTE: Institute of Medicine9; Institute of Medicine11; Institute of Medicine12. Reproduzido sob permissão #224310490. UNIDADE 2 — PRESCRIÇÃO DIETÉTICA, OBJETIVOS NUTRICIONAIS E ORIENTAÇÕES ALIMENTARES PARA INDIVÍDUOS SADIOS 116 TABELA 3 - VALORES DE INGESTÃO DIETÉTICA DE REFERÊNCIA PARA ENERGIA PARA INDIVÍDUOS ATIVOS. TABELAS E APLICABILIDADE DAS DRI | 753 Rev. Nutr., Campinas, 19(6):741-760, nov./dez., 2006 Revista de Nutrição Fo nt e: In st itu te o f M ed ic in e1 9 . Re pr od uz id o so b pe rm is sã o #2 24 31 04 90 . N ot a: † Pa ra a m er ic an os e c an ad en se s sa ud áv ei s at iv os n a al tu ra e p es o de r ef er ên ci a; a N A F= n ív el d e at iv id ad e fís ic a; N EE = n ec es si da de e st im ad a de e ne rg ia ; G ET = g as to t ot al d e en er gi a; b Su bt ra ir 10 kc al /d ia p ar a ho m en s e 7k ca l/d ia p ar a m ul he re s pa ra c ad a an o de id ad e ac im a de 1 9 an os . Ta b el a 3. V al or es d e in ge st ão d ie té tic a de r ef er ên ci a pa ra e ne rg ia p ar a in di ví du os a tiv os † . 00 - 0 6m 07 - 1 2m 01 - 0 2 a 03 - 0 8 a 09 - 1 3 a 14 - 1 8 a > 1 8 a G es ta n te s 14 a 1 8 a Pr im ei ro tr im es tr e Se gu nd o tr im es tr e Te rc ei ro tr im es tr e 1 9 -5 0 a Pr im ei ro tr im es tr e Se gu nd o tr im es tr e Te rc ei ro tr im es tr e La ct an te s 14 -1 8 a Pr im ei ro s em es tr e Se gu nd o se m es tr e 19 -5 0 an o s Pr im ei ro s em es tr e Se gu nd o se m es tr e G as to d e en er gi a + d ep os iç ão d e en er gi a G as to d e en er gi a + d ep os iç ão d e en er gi a G as to d e en er gi a + d ep os iç ão d e en er gi a G as to d e en er gi a + d ep os iç ão d e en er gi a G as to d e en er gi a + d ep os iç ão d e en er gi a G as to d e en er gi a + d ep os iç ão d e en er gi a G as to d e en er gi a N EE a do le sc en te d o se xo f em in in o + a lte ra çã o em T EE + d ep os iç ão d e en er gi a da g ra vi de z N EE a du lta d o se xo f em in in o + a lte ra çã o em G TE + d ep os iç ão d e en er gi a da g ra vi de z N EE a do le sc en te d o se xo f em in in o + d éb ito d e en er gi a do l ei te – p er da d e pe so N EE a du lta d o se xo f em in in o + d éb ito d e en er gi a do l ei te – p er da d e pe so 5 7 0 7 4 3 1 0 4 6 1 7 4 2 2 2 7 9 3 1 5 2 3 06 7b 00 52 0 b (0 3 m es es ) 00 67 6b ( 09 m es es ) 00 99 2b ( 24 m es es ) 16 42 b ( 06 a no s) 20 71 b ( 11 a no s) 23 68 b ( 16 a no s) 24 03 b ( 19 a no s) 23 68 b ( 16 a no s) 27 08 b ( 16 a no s) 28 20 b ( 16 a no s) 24 03 b ( 19 a no s) 27 43 b ( 19 a no s) 28 55 b ( 19 a no s) 26 98 b ( 16 a no s) 27 68 b ( 16 a no s) 27 33 b ( 19 a no s) 28 03 b ( 19 a no s) Es tá gi o da v id a C rit ér io Se xo f em in in o N EE d e N A F at iv o (k ca l/d ia )a Se xo m as cu lin o FONTE: Institute of medicine19 TÓPICO 1 — DIETARY REFERENCE INTAKES – DRIs 117 TABELA 4 - VALORES DIÁRIOS DE UL, EAR E AI* OU RDA PARA MACRONUTRIENTES. 754 | R.M. PADOVANI et al. Rev. Nutr., Campinas, 19(6):741-760, nov./dez., 2006Revista de Nutrição Ta b el a 4. V al or es d iá rio s de U L, E A R e A I* o u RD A p ar a m ac ro nu tr ie nt es † . B eb ês 00 - 0 6m 07 - 1 2m C ri an ça s 01 - 0 3 a 04 - 0 8 a H o m en s 09 - 1 3 a 14 - 1 8 a 19 - 3 0 a 31 - 5 0 a 51 - 7 0 a > 7 0 a M u lh er es 09 - 1 3 a 14 - 1 8 a 19 - 3 0 a 31 - 5 0 a 51 - 7 0 a > 7 0 a G es ta n te s M en os d e 18 a 19 - 3 0 a 31 - 5 0 a La ct an te s M en os d e 18 a 19 - 3 0 a 31 - 5 0 a Es tá gi o da V id a EA R (g ) A I* o u RD A ( g) A M D Ra C ar bo id ra to A I* o u RD A ( g) Fi br as Á ci do L in ol éi co co nt in ua G or du ra s to ta is A I* o u RD A ( g) A M D R A I* o u RD A ( g) A M D R Á ci do a lfa L in ol éi co c A I* o u RD A ( g) A M D R N D b N D 1 0 0 1 0 0 1 0 0 1 0 0 1 0 0 1 0 0 1 0 0 1 0 0 1 0 0 1 0 0 1 0 0 1 0 0 1 0 0 1 0 0 1 3 5 1 3 5 1 3 5 1 6 0 1 6 0 1 6 0 6 0 * 9 5 * 1 3 0 1 3 0 1 3 0 1 3 0 1 3 0 1 3 0 1 3 0 1 3 0 1 3 0 1 3 0 1 3 0 1 3 0 1 3 0 1 3 0 1 7 5 1 7 5 1 7 5 2 1 0 2 1 0 2 1 0 N D N D 4 5 -6 5 4 5 -6 5 4 5 -6 5 4 5 -6 5 4 5 -6 5 4 5 -6 5 4 5 -6 5 4 5 -6 5 4 5 -6 5 4 5 -6 5 4 5 -6 5 4 5 -6 5 4 5 -6 5 4 5 -6 5 4 5 -6 5 4 5 -6 5 4 5 -6 5 4 5 -6 5 4 5 -6 5 4 5 -6 5 N D N D 1 9 * 2 5 * 3 1 * 3 8 * 3 8 * 3 8 * 3 0 * 3 0 * 2 6 * 2 6 * 2 5 * 2 5 * 2 1 * 2 1 * 2 8 * 2 8 * 2 8 * 2 9 * 2 9 * 2 9 * 3 1 * 3 0 * N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D 3 0 -4 0 2 5 -3 5 2 5 -3 5 2 5 -3 5 2 0 -3 5 2 0 -3 5 2 0 -3 5 2 0 -3 5 2 5 -3 5 2 5 -3 5 2 0 -3 5 2 0 -3 5 2 0 -3 5 2 0 -3 5 2 0 -3 5 2 0 -3 5 2 0 -3 5 2 0 -3 5 2 0 -3 5 2 0 -3 5 4 ,4 * 4 ,6 * 7 * 1 0 * 1 2 * 1 6 * 1 7 * 1 7 * 1 4 * 1 4 * 1 0 * 1 1 * 1 2 * 1 2 * 1 1 * 1 1 * 1 3 * 1 3 * 1 3 * 1 3 * 1 3 * 1 3 * N D N D 5 -1 0 5 -1 0 5 -1 0 5 -1 0 5 -1 0 5 -1 0 5 -1 0 5 -1 0 5 -1 0 5 -1 0 5 -1 0 5 -1 0 5 -1 0 5 -1 0 5 -1 0 5 -1 0 5 -1 0 5 -1 0 5 -1 0 5 -1 0 0 ,5 * 0 ,5 * 0 ,7 * 0 ,9 * 1 ,2 * 1 ,6 * 1 ,6 * 1 ,6 * 1 ,6 * 1 ,6 * 1 ,0 * 1 ,1 * 1 ,1 * 1 ,1 * 1 ,1 * 1 ,1 * 1 ,4 * 1 ,4 * 1 ,4 * 1 ,3 * 1 ,3 * 1 ,3 * N D N D 0 ,6 -1 ,2 0 ,6 -1 ,2 0 ,6 -1 ,2 0 ,6 -1 ,2 0 ,6 -1 ,2 0 ,6 -1 ,2 0 ,6 -1 ,2 0 ,6 -1 ,2 0 ,6 -1 ,2 0 ,6 -1 ,2 0 ,6 -1 ,2 0 ,6 -1 ,2 0 ,6 -1 ,2 0 ,6 -1 ,2 0 ,6 -1 ,2 0 ,6 -1 ,2 0 ,6 -1 ,2 0 ,6 -1 ,2 0 ,6 -1 ,2 0 ,6 -1 ,2 UNIDADE 2 — PRESCRIÇÃO DIETÉTICA, OBJETIVOS NUTRICIONAIS E ORIENTAÇÕES ALIMENTARES PARA INDIVÍDUOS SADIOS 118 TABELAS E APLICABILIDADE DAS DRI | 755 Rev. Nutr., Campinas, 19(6):741-760, nov./dez., 2006 Revista de Nutrição Ta b el a 4. V al or es d iá rio s de U L, E A R e A I* o u RD A p ar a m ac ro nu tr ie nt es † . B eb ês 00 - 0 6m 07 - 1 2m C ri an ça s 01 - 0 3 a 04 - 0 8 a H o m en s 09 - 1 3 a 14 - 1 8 a 19 - 3 0 a 31 - 5 0 a 51 - 7 0 a > 7 0 a M u lh er es 09 -1 3 a 14 - 1 8 a 19 - 3 0 a 31 - 5 0 a 51 - 7 0 a > 7 0 a G es ta n te s M en os d e 18 a 19 - 3 0 a 31 - 5 0 a La ct an te s M en os d e 18 a 19 - 3 0 a 31 - 5 0 a Es tá gi o da V id a EA R (g /k g/ d) A I* o u RD A ( g/ d) A M D R Pr ot eí na co nc lu sã o A I* o u RD A ( g/ kg /d ia ) N D 1 ,0 0 ,8 7 0 ,7 6 0 ,7 6 0 ,7 3 0 ,6 6 0 ,6 6 0 ,6 6 0 ,6 6 0 ,7 6 0 ,7 1 0 ,6 6 0 ,6 6 0 ,6 6 0 ,6 6 0, 88 o u + 21 g de p ro te ín a ad ic io na l 0, 88 o u + 21 g de p ro te ín a ad ic io na l 0, 88 o u + 21 g de p ro te ín a ad ic io na l 1, 05 o u + 21 g de p ro te ín a ad ic io na l 1, 05 o u + 21 g de p ro te ín a ad ic io na l 1, 05 o u + 21 g de p ro te ín a ad ic io na l 9 ,1 * 1 1 1 3 1 9 3 4 5 2 5 6 5 6 5 6 5 6 3 4 4 6 4 6 4 6 4 6 4 6 7 1 7 1 7 1 7 1 7 1 7 1 1 ,5 2 * 1 ,2 * 0 1 ,0 5 * 0 ,9 5 * 0 ,9 5 * 0 ,8 5 * 0 ,8 0 * 0 ,8 0 * 0 ,8 0 * 0 ,8 0 * 0 ,9 5 * 0 ,8 5 * 0 ,8 0 * 0 ,8 0 * 0 ,8 0 * 0 ,8 0 * 1, 1 ou + 25 g de p ro te ín a ad ic io na l 1, 1 ou + 25 g de p ro te ín a ad ic io na l 1, 1 ou + 25 g de p ro te ín a ad ic io na l 1, 3 ou + 25 g de p ro te ín a ad ic io na l 1, 3 ou + 25 g de p ro te ín a ad ic io na l 1, 3 ou + 25 g de p ro te ín a ad ic io na l N D N D 0 5 -2 0 1 0 -3 0 1 0 -3 0 1 0 -3 0 1 0 -3 5 1 0 -3 5 1 0 -3 5 1 0 -3 5 1 0 -3 0 1 0 -3 0 1 0 -3 5 1 0 -3 5 1 0 -3 5 1 0 -3 5 1 0 -3 5 1 0 -3 5 1 0 -3 5 1 0 -3 5 1 0 -3 5 1 0 -3 5 Fo nt e: In st itu te o f M ed ic in e1 9 . 2 00 5. R ep ro du zi do s ob p er m is sã o #2 24 31 04 90 . † P ar a co le st er ol , g or du ra s sa tu ra da s e tr an s nã o fo ra m e st ab el ec id os v al or es d e EA R, R D A o u A I e U L. a A v ar ia çã o de d is tr ib ui çã o ac ei tá ve l d e m ac ro nu tr ie nt e (A M D R) é a f ai xa d e in ge st ão d a fo nt e pa rt ic ul ar d e en er gi a da da c om o po rc en ta ge m q ue e st á as so ci ad a ao r is co r ed uz id o de d oe nç a cr ôn ic a qu e fo rn ec e as i ng es tõ es d os n ut rie nt es e ss en ci ai s. b N D = n ão f oi p os sí ve l es ta b el ec er e st e va lo r. c A pr ox im ad am en te 1 0% d a in ge st ão d os á ci do s gr ax os n -3 p od em s er p ro ve ni en te s de á ci do s gr ax os d e ca de ia m ai s lo ng a. FONTE: Institute of Medicine19. 2005. Reproduzido sob permissão #224310490 TÓPICO 1 — DIETARY REFERENCE INTAKES – DRIs 119 TABELA 5 - VALORES DIÁRIOS DE UL, EAR E AI* OU RDA PARA AMINOÁCIDOS ESSENCIAIS. 756 | R.M. PADOVANI et al. Rev. Nutr., Campinas, 19(6):741-760, nov./dez., 2006Revista de Nutrição Ta b el a 5. V al or es d iá rio s de U L, E A R e A I* o u RD A p ar a am in oá ci do s es se nc ia is . B eb ês 00 - 0 6m 07 - 1 2m C ri an ça s 01 - 0 3 a 04 - 0 8 a H o m en s 09 - 1 3 a 14 - 1 8 a 19 - 3 0 a 31 - 5 0 a 51 - 7 0 a > 7 0 a M u lh er es 09 - 1 3 a 14 - 1 8 a 19 - 3 0 a 31 - 5 0 a 51 - 7 0 a > 7 0 a G es ta n te s M en os d e 18 a 19 - 3 0 a 31 - 5 0 a La ct an te s M en os d e 18 a 19 - 3 0 a 31 - 5 0 a Es tá gi o da V id a co nt in ua N D 2 2 1 6 1 3 1 3 1 2 1 1 1 1 1 1 1 1 1 2 1 2 1 1 1 1 1 1 1 1 1 5 1 5 1 5 1 5 1 5 1 5 EA R (m g/ kg ) A I* o u RD A ( m g/ kg ) H is tid in a EA R (m g/ kg ) A I* o u RD A ( m g/ kg ) Is ol eu ci na EA R (m g/ kg ) A I* o u RD A ( m g/ kg ) Le uc in a EA R (m g/ kg ) A I* o u RD A ( m g/ kg ) Li si na EA R (m g/ kg ) A I* o u RD A ( m g/ kg ) M et io ni na + c is te ín a 3 6 * 3 2 2 1 1 6 1 7 1 5 1 4 1 4 1 4 1 4 1 5 1 4 1 4 1 4 1 4 1 4 1 8 1 8 1 8 1 9 1 9 1 9 N D 3 0 2 2 1 8 1 8 1 7 1 5 1 5 1 5 1 5 1 7 1 6 1 5 1 5 1 5 1 5 2 0 2 0 2 0 2 4 2 4 2 4 8 8 * 4 3 2 8 2 2 2 2 2 1 1 9 1 9 1 9 1 9 2 1 1 9 1 9 1 9 1 9 1 9 2 5 2 5 2 5 3 0 3 0 3 0 N D 6 5 4 8 4 0 4 0 3 8 3 4 3 4 3 4 3 4 3 8 3 5 3 4 3 4 3 4 3 4 4 5 4 5 4 5 5 0 5 0 5 0 1 5 6 * 9 3 6 3 4 9 4 9 4 7 4 2 4 2 4 2 4 2 4 7 4 4 4 2 4 2 4 2 4 2 5 6 5 6 5 6 6 2 6 2 6 2 N D 6 2 4 5 3 7 3 7 3 5 3 1 3 1 3 1 3 1 3 5 3 2 3 1 3 1 3 1 3 1 4 1 4 1 4 1 4 2 4 2 4 2 1 0 7 * 8 9 5 8 4 6 4 6 4 3 3 8 3 8 3 8 3 8 4 3 4 0 3 8 3 8 3 8 3 8 5 1 5 1 5 1 5 2 5 2 5 2 N D 3 0 2 2 1 8 1 8 1 7 1 5 1 5 1 5 1 5 1 7 1 6 1 5 1 5 1 5 1 5 2 0 2 0 2 0 2 1 2 1 2 1 5 9 * 4 3 2 8 2 2 2 2 2 1 1 9 1 9 1 9 1 9 2 1 1 9 1 9 1 9 1 9 1 9 2 5 2 5 2 5 2 6 2 6 2 6 UNIDADE 2 — PRESCRIÇÃO DIETÉTICA, OBJETIVOS NUTRICIONAIS E ORIENTAÇÕES ALIMENTARES PARA INDIVÍDUOS SADIOS 120 TABELAS E APLICABILIDADE DAS DRI | 757 Rev. Nutr., Campinas, 19(6):741-760, nov./dez., 2006 Revista de Nutrição Ta b el a 5. V al or es d iá rio s de U L, E A R e A I* o u RD A p ar a am in oá ci do s es se nc ia is . B eb ês 0- 6m 7 - 12 m C ri an ça s 1 - 3 a 4 - 8 a H o m en s 09 - 1 3 a 14 - 1 8 a 19 - 3 0 a 31 - 5 0 a 51 - 7 0 a > 7 0 a M u lh er es 09 - 1 3 a 14 - 1 8 a 19 - 3 0 a 31 - 5 0 a 51 - 7 0 a > 7 0 a G es ta n te s M en os d e 18 a 19 - 3 0 a 31 - 5 0 a La ct an te s M en os d e 18 a 19 - 3 0 a 31 - 5 0 a Es tá gi o da V id a co nc lu sã o EA R (m g/ kg ) A I/R D A ( m g/ kg ) Fe ni la la ni na + T iro si na EA R (m g/ kg ) A I/R D A ( m g/ kg ) Tr eo ni na EA R (m g/ kg ) A I/R D A ( m g/ kg ) Tr ip to fa no EA R (m g/ kg ) A I/R D A ( m g/ kg ) Va lin a N D 5 8 4 1 3 3 3 3 3 1 2 7 2 7 2 7 2 7 3 1 2 8 2 7 2 7 2 7 2 7 3 6 3 6 3 6 4 1 4 1 4 1 1 3 5 * 8 4 5 4 4 1 4 1 3 8 3 3 3 3 3 3 3 3 3 8 3 5 3 3 3 3 3 3 3 3 4 4 4 4 4 4 5 1 5 1 5 1 N D 3 4 2 4 1 9 1 9 1 8 1 6 1 6 1 6 1 6 1 8 1 7 1 6 1 6 1 6 1 6 2 1 2 1 2 1 2 4 2 4 2 4 7 3 * 4 9 * 3 2 * 2 4 * 2 4 * 2 2 * 2 0 * 2 0 * 2 0 * 2 0 * 2 2 * 2 1 * 2 0 * 2 0 * 2 0 * 2 0 * 2 6 * 2 6 * 2 6 * 3 0 * 3 0 * 3 0 * N D 9 6 5 5 5 4 4 4 4 5 4 4 4 4 4 5 5 5 7 7 7 2 8 * 1 3 * 8 * 6 * 6 * 6 * 5 * 5 * 5 * 5 * 6 * 5 * 5 * 5 * 5 * 5 * 7 * 7 * 7 * 9 * 9 * 9 * N D 3 9 2 8 2 3 2 3 2 2 1 9 1 9 1 9 1 9 2 2 2 0 1 9 1 9 1 9 1 9 2 5 2 5 2 5 2 8 2 8 2 8 8 7 * 5 8 * 3 7 * 2 8 * 2 8 * 2 7 * 2 4 * 2 4 * 2 4 * 2 4 * 2 7 * 2 4 * 2 4 * 2 4 * 2 4 * 2 4 * 3 1 * 3 1 * 3 1 * 3 5 * 3 5 * 3 5 * Fo nt e: In st itu te o f M ed ic in e1 9 . Re pr od uz id o so b pe rm is sã o #2 24 31 04 90 . FONTE: Institute of Medicine19 TÓPICO 1 — DIETARY REFERENCE INTAKES – DRIs 121 TABELA 6 - PERFIL AMINOACÍDICO PARA CRIANÇAS >1 ANO DE IDADE E TODAS AS OUTRAS IDADES. 758 | R.M. PADOVANI et al. Rev. Nutr., Campinas, 19(6):741-760, nov./dez., 2006Revista de Nutrição Ta b el a 6. P er fil a m in oa cí di co p ar a cr ia nç as > 1 an o de i da de e t od as a s ou tr as i da de s. Fo nt e: In st itu te o f M ed ic in e1 9 . Re pr od uz id o so b pe rm is sã o #2 24 31 04 90 . ªP ro te ín a= n itr og ên io X 6 ,2 5.A m in oá ci do H is tid in a Is ol eu ci na Le uc in a Li si na M et io ni na + c is te ín a Fe ni la la ni na + T iro si na Tr eo ni na Tr ip to fa no Va lin a 1 8 2 5 5 5 5 1 2 5 4 7 2 7 7 3 2 m g/ g pr ot eí na ª m g/ g de n itr og ên io 1 1 4 1 5 6 3 4 1 3 2 0 1 5 6 2 9 1 1 7 0 4 3 1 9 9 FONTE: Institute of Medicine19 UNIDADE 2 — PRESCRIÇÃO DIETÉTICA, OBJETIVOS NUTRICIONAIS E ORIENTAÇÕES ALIMENTARES PARA INDIVÍDUOS SADIOS 122 TABELA 7 - VALORES DIÁRIOS DE UL, EAR E AI OU RDA PARA ÁGUA E ELETRÓLITOS. FONTE: Institute of Medicine20. Reproduzido sob permissão #224310490 TABELAS E APLICABILIDADE DAS DRI | 759 Rev. Nutr., Campinas, 19(6):741-760, nov./dez., 2006 Revista de Nutrição Ta b el a 7. V al or es d iá rio s de U L, E A R e A I ou R D A p ar a ág ua e e le tr ól ito s† . B eb ês 00 - 0 6m 07 - 1 2m C ri an ça s 01 - 0 3 a 04 - 0 8 a H o m en s 09 - 1 3 a 14 - 1 8 a 19 - 3 0 a 31 - 5 0 a 51 - 7 0 a > 7 0 a M u lh er es 09 - 1 3 a 14 - 1 8 a 19 - 3 0 a 31 - 5 0 a 51 - 7 0 a > 7 0 a G es ta n te s M en os d e 18 a 19 - 3 0 a 31 - 5 0 a La ct an te s M en os d e 18 a 19 - 3 0 a 31 - 5 0 a Es tá gi o da V id a N D c N D 1 ,5 1 ,9 2 ,2 2 ,3 2 ,3 2 ,3 2 ,3 2 ,3 2 ,2 2 ,3 2 ,3 2 ,3 2 ,3 2 ,3 2 ,3 2 ,3 2 ,3 2 ,3 2 ,3 2 ,3 U Lb ( g) N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D 0 ,1 2 * 0 ,3 7 * 1 ,0 * 0 1 ,2 * 0 1 ,5 * 0 1 ,5 * 0 1 ,5 * 0 1 ,5 * 0 1 ,3 * 0 1 ,2 * 0 1 ,5 * 0 1 ,5 * 0 1 ,5 * 0 1 ,5 * 0 1 ,3 * 0 1 ,2 * 0 1 ,5 * 0 1 ,5 * 0 1 ,5 * 0 1 ,5 * 0 1 ,5 * 0 1 ,5 * 0 EA R A I* o u RD A ( g) Só d io a N D N D 2 ,3 2 ,9 3 ,4 3 ,6 3 ,6 3 ,6 3 ,6 3 ,6 3 ,4 3 ,6 3 ,6 3 ,6 3 ,6 3 ,6 3 ,6 3 ,6 3 ,6 3 ,6 3 ,6 3 ,6 U L (g ) N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D 0 ,1 8 * 0 ,5 7 * 1 ,5 * 0 1 ,9 * 0 2 ,3 * 0 2 ,3 * 0 2 ,3 * 0 2 ,3 * 0 2 ,0 * 0 1 ,8 * 0 2 ,3 * 0 2 ,3 * 0 2 ,3 * 0 2 ,3 * 0 2 ,0 * 0 1 ,8 * 0 2 ,3 * 0 2 ,3 * 0 2 ,3 * 0 2 ,3 * 0 2 ,3 * 0 2 ,3 * 0 EA R A I* o u RD A ( g) C lo re to N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D U L N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D EA R A I* o u RD A ( g) Po tá ss io N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D U L N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D N D 0 ,7 * 0 ,8 * 1 ,3 * 1 ,7 * 2 ,4 * 3 ,3 * 3 ,7 * 3 ,7 * 3 ,7 * 3 ,7 * 2 ,1 * 2 ,3 * 2 ,7 * 2 ,7 * 2 ,7 * 2 ,7 * 3 ,0 * 3 ,0 * 3 ,0 * 3 ,8 * 3 ,8 * 3 ,8 * EA R A I* o u RD A ( L) Á g u ad 0 ,4 * 0 ,7 * 3 ,0 * 3 ,8 * 4 ,5 * 4 ,7 * 4 ,7 * 4 ,7 * 4 ,7 * 4 ,7 * 4 ,5 * 4 ,7 * 4 ,7 * 4 ,7 * 4 ,7 * 4 ,7 * 4 ,7 * 4 ,7 * 4 ,7 * 5 ,1 * 5 ,1 * 5 ,1 * Fo nt e: In st itu te o f M ed ic in e2 0 . R ep ro du zi do s ob p er m is sã o #2 24 31 04 90 . N ot a: † Pa ra s ul fa to , as e vi dê nc ia s ci en tíf ic as f or am in su fic ie nt es p ar a es ta be le ce r ta nt o um A I o u U L. A s ne ce ss id ad es d e su lfa to s ão c ob er ta s pe la in ge st ão a tu al m en te r ec om en da da p ar a os a m in oá ci do s su lfu ra do s, os q ua is f or ne ce m a m ai or p ar te d os s ul fa to s in or gâ ni co s ne ce ss ár io s pa ra o m et ab ol is m o. a O A I f oi b as ea do e m p es so as c ap az es d e ob te r um a di et a nu tr ic io na lm en te a de qu ad a. O U L se a pl ic a pa ra in di ví du os n ão h ip er te ns os . b U L: O li m ite s up er io r to le rá ve l d e m ai or in ge st ão (U L) é o m ai or n ív el d e in ge st ão c on tin ua da d e um n ut rie nt e qu e, c om u m a da da p ro ba bi lid ad e, n ão c ol oc a em r is co a sa úd e da m ai or p ar te d os i nd iv íd uo s. A m en os q ue e st ej a es pe ci fic ad o de o ut ra m an ei ra , o U L re pr es en ta a i ng es tã o to ta l de a lim en to , ág ua e s up le m en to s. c N D = n ão f oi p os sí ve l es ta be le ce r es te v al or . d O A I re pr es en ta a n ec es si da de d e ág ua t ot al p ar a cl im a te m pe ra do . To da s as f on te s de á gu a po de m c on tr ib ui r pa ra a n ec es si da de t ot al d e ág ua ( ch ás , ca fé s, s uc os , ág ua e a u m id ad e do s al im en to s) . TÓPICO 1 — DIETARY REFERENCE INTAKES – DRIs 123 2.2.3 Definição das AMDRs Para a distribuição de macronutrientes na dieta, temos a faixa de distribuição aceitável de macronutrientes, do inglês Acceptable Macronutrients Ofdistribution Ranges (AMDR). Os valores atribuídos na AMDR são parâmetros de consumo de nutrientes considerados essenciais: carboidratos, lipídeos e proteínas em quantidades suficientes para manter as necessidades de calorias necessárias diariamente e, ainda, prevenir o surgimento de DCNTs em decorrência do consumo insuficiente ou excessivo, estabelecendo valores percentuais de consumo sobre o valor energético total do dia. Como a determinação de calorias ao dia é um dado individual, essas porcentagens não geram um valor fixo para todos os indivíduos, mas fornece porcentagens mínimas e máximas de consumo, podendo gerar valores intermediários. Os padrões percentuais estabelecidos para macronutrientes pela AMDR, aponta para o risco de desenvolvimento de doenças crônicas, partindo do pressuposto que um consumo inferior destes parâmetros pode indicar o perigo da ingestão insuficiente, relacionada ao surgimento de deficiências nutricionais, assim como o excesso, pode gerar aumento de peso corporal e suas consequências. Vale lembrar que esses valores de referência envolvem, além da ingestão de macronutrientes, o gasto energético obtido na atividade física, de maneira que visa promover o equilíbrio energético (MOREIRA et al., 2012). O Quadro 3 apresenta as faixas de AMDR segundo as recomendações da OMS, DRI e SBAN. QUADRO 3 – FAIXA DE AMDR SEGUNDO RECOMENDAÇÕES DA OMS, DRI E SBAN FONTE: Adaptado de Cardoso e Scagliusi (2019) Nutriente SBAN (1990) DRI (2001) OMS (2003) Proteína 10 a 12% 10 a 35% 10 a 15% Lipídio 20 a 25% 20 a 35% 15 a 30% Carboidrato 60 a 70% 45 a 65% 55 a 75% Embora estudos sejam realizados periodicamente para a revisão das ferramentas de referência, não podemos afirmar que o uso das DRIs garante ingestão adequada de determinado nutriente. A partir dos conhecimentos da aplicação das DRIs para avaliação de planejamento de dietas, podemos chegar a algumas conclusões. UNIDADE 2 — PRESCRIÇÃO DIETÉTICA, OBJETIVOS NUTRICIONAIS E ORIENTAÇÕES ALIMENTARES PARA INDIVÍDUOS SADIOS 124 Cada indivíduo possui capacidade de digestão e absorção diferentes, de modo que os nutrientes não são aproveitados pelo organismo em mesma quantidade e tempo. Assim, não é possível estimar exatamente a necessidade de ingestão do indivíduo, ou seja, cada um pode apresentar uma necessidade nutricional diferente. Por outro lado, quando avaliamos, durante um extenso período de tempo, a ingestão média de um indivíduo, é possível acompanhar a adequação de micronutrientes, permitindo a recomendaçãoadequada a longo prazo. Então, apesar de não serem exatas para cada indivíduo, as recomendações propostas pelas DRIs permitem a obtenção da probabilidade indicando se o consumo planejado atinge as necessidades nutricionais de determinada pessoa (CARDOSO; SCAGLIUSI, 2019; CUPARI, 2001). Para a identificação do diagnóstico nutricional, o nutricionista dispões de ferramentas que auxiliam na investigação dietética como antropometria, índices bioquímicos, diagnóstico e estado clínico permitindo avaliar, se a ingestão supre a necessidade do indivíduo (CUPARI, 2001). ATENCAO 2.2.4 Requerimentos energéticos para manter e adequar o peso corporal A Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição (SBAN) define as necessidades nutricionais como a quantidade de energia e nutrientes contidos nos alimentos suficientes indicados para pessoas sadias, tendo o objetivo de atender as necessidades nutricionais de um indivíduo, cobrindo suas funções fisiológicas. As necessidades nutricionais diferenciam do termo recomendações nutricionais, uma vez que este se refere à quantidade e calorias e nutrientes desprendidos dos alimentos para atender as necessidades de praticamente toda a população (97,5%), e, ainda, diferenciam das recomendações de energia, estas baseadas na média de necessidade da população (CUPPARI, 2005). A necessidade de energia estimada, ou estimativa de requerimento energético (EER), foi desenvolvida pelo Institute of Medicine (IOM), em 2005, e fornece diferentes formulas para cada gênero e fase da vida, ou, ainda, formulas que consideram o baixo peso ou o excesso de peso. Essas equações dão valores calóricos para atender as necessidades de energia diária de um indivíduo, sendo esta suficiente para manter crescimento, desenvolvimento nas fases da infância e adolescência, manter o peso corporal de adultos e idosos, levando em conta o TÓPICO 1 — DIETARY REFERENCE INTAKES – DRIs 125 nível de atividade física diária, e, ainda, traz equações para situações especiais, como a gestação e lactação (descritas na Unidade 1 deste livro), trazendo o aporte energético necessário para suprir suas próprias necessidades nutricionais e mais as calorias adicionais (VITOLO, 2008). Vitolo (2008) ainda reforça que, para calcular o requerimento de energia para pessoas com sobrepeso ou obesidade, devemos descrever o balanço energético como gasto total de energia (TEE, sigla em inglês para Total Energy Expenditure), já que este valor calórico não será atribuído ao paciente acima do peso definitivamente, e, sim, por tempo determinado para a manutenção do peso corporal. Após a obtenção do peso eutrófico, devemos reconsiderar as necessidades de energia para EER. Para melhor adequação tanto da EER como da TEE, temos um desvio padrão de calorias estabelecendo para indivíduos do sexo masculino, 199 kcal para mais ou para menos e, para mulheres, um desvio padrão de 162 kcal para mais ou para menos. Na determinação das necessidades energéticas temos os coeficientes de atividade física (PA), que variam de acordo com o gênero e a idade de indivíduos. Para identificarmos o fator de atividade física que melhor se aplica a um indivíduo, precisamos entender os tipos de atividades diárias que definem um indivíduo como sedentário, pouco ativo, ativo e muito ativo. Ao definir os níveis de atividade física diária, o valor encontrado é atribuído à na formula do EER. Na Unidade 1, estão descritas as fórmulas para a estimativa de consumo diário de calorias para os diferentes gêneros e fases da vida. UNI 3 PRINCÍPIOS BÁSICOS PARA O PLANEJAMENTO DE DIETAS NUTRICIONALMENTE ADEQUADAS Para o planejamento de dietas nutricionalmente adequadas, alguns preceitos da nutrição precisam ser seguidos. Esses preceitos foram desenvolvidos, em 1937, por Pedro Escudeiro, médico argentino conhecido internacionalmente como doutor especializado em Nutrição. UNIDADE 2 — PRESCRIÇÃO DIETÉTICA, OBJETIVOS NUTRICIONAIS E ORIENTAÇÕES ALIMENTARES PARA INDIVÍDUOS SADIOS 126 As leis da alimentação de Pedro Escudeiro têm por finalidade orientar para práticas alimentares que garantam crescimento, desenvolvimento, manutenção e recuperação do organismo humano. São as quatro leis: da quantidade, da qualidade, da harmonia e da adequação (LIMA, E. S., 2009). • 1ª Lei – Quantidade: a Lei da Quantidade, assim como o próprio termo sugere, refere-se à quantidade de alimentos consideradas suficientes para suprir as demandas energéticas do organismo, para sustentar o equilíbrio o seu balanço energético para cada indivíduo, sem excessos ou restrições que poderiam ser prejudiciais à saúde. • 2ª Lei – Qualidade: a Lei da Qualidade dispõe sobre a composição nutricional dos alimentos. Esta lei define que a alimentação deve ser nutricionalmente completa, para oferecer ao organismo todos os nutrientes necessários, dando ênfase à variedade de alimentos, para viabilizar disponibilização de todas as substancias necessárias ao bom funcionamento do organismo. • 3ª Lei – Harmonia: a Lei da Harmonia refere-se à quantidade de nutrientes contidos na alimentação que devem estar dispostos de maneira harmoniosa entre si, sendo, desta forma, disponibilizados proporcionalmente, possibilitando níveis de absorção e utilização de nutrientes adequadas, ou seja, sem sobreposição de um nutriente a outro. • 4ª Lei – Adequação: a Lei da Adequação propõe a proporção de nutrientes adequada para as necessidades de cada indivíduo, de acordo com as suas características individuais e o ciclo de vida em que se encontram, considerando ainda, o estado fisiológico e mental, hábitos alimentares, condições socioeconômicas e estados patológicos gerando necessidades nutricionais variadas. Para Escudero, de acordo com Lima (2009), as quatro Leis da Nutrição, direcionam o profissional ao planejamento de uma dieta saudável, para manter um cardápio balanceado, variado, e com o fornecimento de nutrientes essenciais para a manutenção do corpo, nas suas devidas proporções e quantidades adequadas, respeitando as necessidades individuais de pessoas, bem como o seu estado nutricional e clínico. Comumente, o conceito de dieta é confundido com restrições alimentares. Para Philippi (1999), o termo dieta é atribuído ao conceito de alimentação adequada, ou seja, é suficiente para suprir as necessidades de indivíduos. A partir da constituição deste conceito, atualmente, entende-se dieta como a alimentação considerada saudável para indivíduos ou, ainda, aquelas modificadas de acordo com a necessidade em determinadas situações de doença. Ao prescrever uma dieta, é necessário obedecer a critérios de escolha de alimentos, conhecendo seu conteúdo nutricional e, ainda, alinhando o planejamento alimentar aos preceitos práticos da alimentação que envolvam não apenas o TÓPICO 1 — DIETARY REFERENCE INTAKES – DRIs 127 ato de comer, mas que incluam, dentre as necessidades nutricionais, aspectos socioeconômicos e culturais associados aos alimentos, de modo a incluir como itens fundamentais, sua produção e consumo regionais e aspectos comportamentais, cognitivos e afetivos relacionados à alimentação (BRASIL, 2008a). Segundo Phillipi (2015), ao elaborar um cardápio, devemos planejar o entendimento e visualização da dieta pelo paciente, de modo que a organização dos itens alimentares serão disponibilizados através da distribuição e organização de horários de refeições, descrição dos alimentos (nome do alimento ou da preparação), indicar a composição nutricional e valor energéticos dos alimentos, informar a técnica dietética a ser utilizada na preparação (assados, cozidos, grelhados, dentre outros) que melhor se adequa às recomendações dietéticas e que promovam o melhor aproveitamento dos nutrientes, medidas caseiras e quantidades em gramas de alimento, além de distribuir os alimentos de acordo com seus grupos de origem. É importante, ainda, indicar locaisde compra e opções de escolha para substituições, informar a maneira adequada de selecionar e armazenar alimentos para assegurar a segurança alimentar e nutricional. Ao elaborar um plano alimentar, precisamos integrar à alimentação todos os aspectos observados no paciente a partir de avaliação criteriosa de dados obtidos para o estabelecimento do diagnóstico nutricional, dando subsídio para a elaboração da prescrição dietética. Assim, para a formulação de planos alimentares, é necessário observar alguns importantes fatores como, o estado de saúde do paciente, a adequação individualizada, os critérios para prescrição, o modo de apresentação desta prescrição, bem como a avaliação da prescrição (NETO LOSS et al., 2018). Como item fundamental, identificar o estado de saúde do paciente, precipita a prescrição e define a meta a ser alcançada, lembrando que a prescrição poderá ser modificada de acordo com a evolução do paciente, ou ainda na observação da sua adaptação ao plano alimentar estabelecido inicialmente (NETO LOSS, et al., 2018) Quando falamos em adequação à individualidade do paciente, consideramos sua rotina, sua carga cultural relacionada ao consumo alimentar, além de recomendações de alimentos coincidentes às condições socioeconômicas do indivíduo, para que a conduta possa ser seguida (NETO LOSS, et al., 2018) A prescrição, além da observação do diagnóstico nutricional consolidado de um paciente, os demais aspectos individuais correlacionados à alimentação habitual do mesmo, tais como os comportamentos alimentares e formas de consumo de alimentos, podemos identificar pontos a serem melhorados ou mantidos no seu consumo habitual. Ao considerarmos esses pontos como adequados ou inadequados, facilitamos a identificação do objetivo do plano alimentar para assim definir a prescrição dietética, de modo a guiar o profissional ao foco do tratamento. UNIDADE 2 — PRESCRIÇÃO DIETÉTICA, OBJETIVOS NUTRICIONAIS E ORIENTAÇÕES ALIMENTARES PARA INDIVÍDUOS SADIOS 128 É comum que ao prescrevermos um plano alimentar o paciente apresente diversas dúvidas a respeito do que se pode considerar como práticas saudáveis ou não, diante dos comportamentos sinalizados. Porém, é importante salientar ao paciente, que tratamentos nutricionais possuem uma tendência cíclica, ou seja, a prescrição dietética pode ocorrer em diferentes etapas de tratamento, dependendo das prioridades envolvidas neste contexto, podendo haver mudanças na dieta a cada etapa do tratamento nutricional (NETO LOSS, et al., 2018). Comumente, são observados casos em que a recomendação pré-estabelecida sofre alterações à medida que os objetivos iniciais são atingidos e novas prioridades sejam observadas. Deste modo, pode-se ter uma prescrição inicial, seguida de alterações subsequentes. É importante salientar que o diagnóstico nutricional inicial pode sofrer modificações ao longo do tratamento e tais mudanças devem obedecer a preceitos individuais, ou seja, fugindo das orientações genéricas, geralmente fornecidas a populações (NETO LOSS, et al., 2018). A forma da prescrição pode ser elaborada de diferentes maneiras dependendo do indivíduo em questão, visando facilitar o entendimento e a implementação do plano alimentar a rotina do paciente. Desta maneira, a prescrição pode ser expressa através de uma lista de objetivos e orientações, como, por exemplo, na forma de um cardápio. O nível de facilidade para elaboração do plano alimentar e do cardápio é diretamente relacionado ao conhecimento cognitivo do paciente, podendo ser mais ou menos detalhado (VITOLO, 2008). O imprescindível é que a forma de apresentação da dieta coincida com a capacidade de compreensão do indivíduo. As condições cognitivas e nível de escolaridade do paciente como subsídio da definição da forma de apresentação da prescrição dietética e subsequente plano alimentar, definem se as orientações nutricionais devem ser mais complexas ou mais simplificadas. Esta decisão é diretamente relacionada às condições e entendimento do paciente e as suas limitações. Tenha sempre certeza de que as informações fornecidas estão ou não sendo compreendidas pelo indivíduo, isto irá assegurar um tratamento mais efetivo, pois permite que o paciente as siga de acordo com os critérios adequados, com menor nível de dificuldade e melhor adesão as modificações estabelecidas. Em casos de analfabetismo, por exemplo, deve-se observar a possibilidade deste paciente possuir um acompanhante que irá auxiliá-lo na leitura e compreensão das informações fornecidas. Outra possibilidade é utilizar métodos visuais de demonstração da dieta, como imagens de utensílios de diferentes tamanhos e formas, demonstração de porções de alimentos, dentre outros (NETO LOSS, et al., 2018) TÓPICO 1 — DIETARY REFERENCE INTAKES – DRIs 129 Para o acompanhamento de cada meta estabelecida ao longo do tratamento, fazer uma avaliação da sua prescrição auxilia o profissional na observação de resultados de cada etapa, e ainda pode favorecer o paciente no que se refere ao acompanhamento frequente e maior possiblidade de esclarecimento de dúvidas durante o período de tratamento (NETO LOSS, et al., 2018) Ao estabelecer um período predeterminado para cada meta, é possível observar se as recomendações estabelecidas na prescrição dietética estão sendo efetivas em seus resultados ou não, se o tempo preestabelecido para atingir cada meta coincide com a realidade, e, assim, facilitar a identificação de possíveis novas alterações no plano alimentar e períodos de consultas (NETO LOSS, et al., 2018) O plano alimentar é a forma mais frequente de prescrição dietética e é fundamentado pelos cálculos de energia e recomendações de macronutrientes e micronutrientes indicados para um indivíduo pelo período de 24 h. Essas recomendações podem variar de acordo com o diagnóstico nutricional, podendo haver a necessidade de restrição ou aumento de determinadas substancias para manter o estado nutricional ou adequar estados inadequados, observando a proporção dos nutrientes recomendados de forma a harmonizar suas quantidades e momentos de ingestão (MAHAN; ESCOTT-STUMP, 2012). Para a obtenção de informações pertinentes a práticas saudáveis de alimentação, temos os Guias Alimentares, ferramentas de orientação nutricional para profissionais e para a população, que tem por objetivo promover a saúde e alimentação apropriada, visando prevenir e/ou combater a desnutrição, a obesidade e doenças crônicas associadas, como o diabetes, doenças cardíacas, câncer, e demais enfermidades relacionadas à má alimentação. Traz ainda, informações conexas aos grupos alimentares, métodos de preparo e conservação de alimentos e dicas para conduzir a alimentação de forma a manter ou promover hábitos alimentares saudáveis (PHILIPPI, 2014). Caro acadêmico, no Tópico 2 da Unidade 2, vamos conhecer os guias alimentares destinados à população brasileira e as diretrizes alimentares necessárias para a elaboração de planos alimentares. ESTUDOS FU TUROS 130 Neste tópico, você aprendeu que: • As recomendações para valores de ingestão dietética de macronutrientes e micronutrientes estão estabelecidos pelas Dietary Reference Intakes (DRIs). • Na aplicação adequada, as recomendações nutricionais das Dietary Reference Intakes podem ser designadas a indivíduos ou grupos, tendo cada recomendação o seu próprio âmbito de referência. • Para a elaboração da prescrição dietética, precisamos estar atentos ao diagnóstico nutricional de pacientes e, ainda, considerar hábitos alimentares já estabelecidos, situação socioeconomica, fatores culturais e nível de conhecimento cognitivo sobre alimentação. • O plano alimentar é a forma mais frequente de prescrição dietética, e é desenvolvido, inicialmente, considerando cálculos de energia e recomendações de macronutrientes e micronutrientes indicados para um indivíduo em um período de 24 h. •As recomendações nutricionais podem variar de acordo com o diagnóstico nutricional, de modo que, por vezes, é necessário restringir ou aumentar o aporte de substancias para manter o estado nutricional ou adequar estados inadequados. • Ao desenvolver o plano alimentar, devemos considerar a prescrição em si, a forma de apresentação desta prescrição e a forma de apresentação do cardápio, de modo a adaptá-lo às condições de entendimento do paciente. • A dieta é um termo utilizado para descrever dietas adequadas às necessidades de um indivíduo para um período de 24 h, ou, ainda, podemos dizer que o termo dieta é atribuído a prescrições dietéticas para indivíduos em situações especiais, que necessitam de restrição ou ampliação de substancias alimentares. • Entendemos por um planejamento alimentar adequado e equilibrado aquele que atende a todas as necessidades orgânicas para garantir o crescimento, desenvolvimento, manutenção e recuperação do organismo humano. • A nutrição possui como preceito as leis da alimentação que obedecem aos critérios de quantidade, qualidade, harmonia e adequação. RESUMO DO TÓPICO 1 131 1 As recomendações nutricionais para indivíduos e populações são determinadas pelas Dietary Reference Intakes (DRIs) e são expressas seguindo um conjunto de quatro níveis de ingestão a EAR, RDA, AI e UL. Sobre os níveis de ingestão, analise as sentenças a seguir: I- A EAR é o valor médio de ingestão diária, quantidade suficiente para suprir as necessidades de 50% dos indivíduos saudáveis de acordo com o estágio de vida e sexo. É utilizada para avaliar a adequação e o planejamento da ingestão dietética de grupos populacionais. II- Adequate Intake (AI) é utilizada em situações em que não há dados suficientes para determinar a RDA, desta maneira, pode-se definir a AI como a média de ingestão diária de um nutriente para pessoas saudáveis. III- Tolerable Upper Intake Level (UL) é definida como o nível máximo de ingestão tolerável, ou seja, é a quantidade máxima de consumo diário de um nutriente, considerada segura para ingestão sem trazer prejuízos à saúde. IV- Ingestão Dietética Recomendada (Recommended Dietary Allowance – RDA) define o nível de ingestão dietética diária de determinado nutriente, sendo esta quantidade suficiente para prover às necessidades de metade da população (50%). Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Apenas as afirmativas II e III estão corretas. b) ( ) Apenas as afirmativas I e II estão corretas. c) ( ) Todas as afirmativas estão corretas. d) ( ) Apenas as afirmativas I, II e III estão corretas. e) ( ) Apenas as afirmativas I, II e IV estão corretas. 2 As leis da alimentação que contemplam os quatro princípios: quantidade, qualidade, harmonia e adequação, formuladas por Pedro Escudeiro, no ano de 1937, visam ressaltar e orientar, para práticas alimentares, que forneçam nutrientes e energia necessários para garantir o crescimento, desenvolvimento, manutenção e recuperação do organismo humano. (LIMA, E. S., 2009). Sobre o exposto, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: FONTE: LIMA, E. S. Quantidade, qualidade, harmonia e adequação: princípios-guias da sociedade sem fome em Josué de Castro. História, Ciências, Saúde de Manguinhos, Rio de Janeiro, v. 16, n. 1, p. 171-194, 2009. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/hcsm/ v16n1/11.pdf. Acesso em: 15 mar. 2021. AUTOATIVIDADE 132 ( ) A Lei da Quantidade aborda que a quantia de alimento deve ser suficiente para cobrir as exigências energéticas do organismo e mantê-lo em equilíbrio. ( ) A Lei da Harmonia corresponde ao equilíbrio que deve haver na ingestão dos alimentos, e, consequentemente, na proporção de nutrientes. ( ) A Lei da Adequação refere-se à adequação da alimentação às especificações de cada indivíduo, considerando os ciclos da vida, o estado fisiológico, os hábitos alimentares e as condições socioeconômicas e culturais. ( ) A Lei da Qualidade corresponde à composição, a qual deve ser completa e composta por alimentos saudáveis e de qualidade para oferecer ao organismo todas as substâncias necessárias para o seu bom funcionamento. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V, V, F, V. b) ( ) F, F, V, V. c) ( ) V, V, V, V. d) ( ) V, F, V, F. e) ( ) V, F, V, V. 3 No acompanhamento nutricional, realizar encontros programados ao longo do tratamento é considerado um método eficaz para a obtenção das metas estabelecidas. Descreva como o acompanhamento nutricional programado pode auxiliar para o alcance das metas objetivadas ao longo do tratamento nutricional. 133 UNIDADE 2 TÓPICO 2 — OBJETIVOS NUTRICIONAIS E ESTRATÉGIAS DE INTERVENÇÃO NUTRICIONAL 1 INTRODUÇÃO Caro acadêmico, neste tópico, daremos continuidade aos estudos referentes à disciplina de Planejamento Alimentar com foco nos objetivos nutricionais, bem como estratégias de intervenção nutricional para a prevenção e tratamento de doenças relacionadas a má alimentação. Conheceremos os guias alimentares utilizados como embasamento para a formação de hábitos alimentares de indivíduos e grupos, bem como para a elaboração de planos alimentares que trazem informações aplicáveis para a realização de intervenções nutricionais quando necessário, servindo como instrumentos de orientação nutricional, os quais são utilizados por profissionais para à promoção da saúde do indivíduo e de grupos a partir da identificação de objetivos nutricionais como embasamento e meta para a elaboração do planejamento alimentar. Para a manifestação de conhecimentos acerca dos aspectos nutricionais e controle de doenças crônicas não transmissíveis associadas à alimentação, a área da nutrição se utiliza de estratégias de intervenção nutricional, que buscam melhorar a conduta da população implementando práticas de alimentação saudável e demais elementos pertinentes ao consumo alimentar. Estratégias de intervenção nutricional são utilizadas pelo profissional nutricionista, como forma de atribuição do mesmo no âmbito da abordagem clínica sobre o auxílio de materiais de apoio indicados para este profissional como alternativas que visam a saúde e qualidade de vida, de maneira a identificar parâmetros e indicadores nutricionais individuais e para a população respeitando o gênero, as características especificas de estados fisiológicos e a fase de vida de indivíduos. Acadêmico, no Subtópico 2, conheceremos os principais guias alimentares utilizados na formulação de dietas, a partir da identificação de objetivos nutricionais e abordaremos as estratégias para a intervenção nutricional, como a base para a formulação de planejamento em educação nutricional, tendo em vista, riscos nutricionais da alimentação inadequada para indivíduos e para a população. 134 UNIDADE 2 — PRESCRIÇÃO DIETÉTICA, OBJETIVOS NUTRICIONAIS E ORIENTAÇÕES ALIMENTARES PARA INDIVÍDUOS SADIOS 2 GUIAS ALIMENTARES Como visto no Tópico 1 desta unidade, a alimentação adequada deve obedecer a quatro princípios conhecidos por “Leis da Alimentação”, formuladas por Pedro Escudero, através das quais, uma alimentação considerada saudável deve nortear a quantidade, qualidade, harmonia e adequação no consumo. Por outro lado, consideramos uma alimentação inadequada, aquela com ingestão insuficiente ou excessiva de nutrientes, capazes de conduzir o indivíduo ao desenvolvimento de distúrbios nutricionais e, ainda, patologias associadas às chamadas doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) (LIMA, 2009). Com o propósito de colaborar para a orientação de práticas alimentares para a prevenção de possíveis patologias associadas à má alimentação e, ainda, buscando a promoção da saúde. Os Guia Alimentares, instrumentos que deliberam as diretrizes empregadas na orientação de escolhas alimentares saudáveis pela população, foram desenvolvidos para dar direcionamento ao profissionale as instruções necessárias para a prática da nutrição, trazendo parâmetros e informações que regem a área da nutrição em seus diferentes âmbitos normatizando os serviços. Além dessas diretrizes, diversos estudos publicados atualizam e apoiam o profissional (BRASIL, 2013). O Guia Alimentar da População Brasileira traz princípios e recomendações para uma alimentação saudável para a população brasileira, sendo este, além de embasamento para profissionais da nutrição e outros setores da saúde do Sistema Único de Saúde (SUS), é ainda considerado uma ferramenta de educação nutricional para a população (BRASIL, 2014) Os guias alimentares explanam dados científicos quantitativos em práticas alimentares, obtidos através de pesquisas realizadas com a população brasileira ao longo de anos. Tais guias servem como instrumentos de orientação nutricional utilizados por profissionais com o objetivo de promover mudanças de hábitos alimentares, visando a saúde do indivíduo e a prevenção de doenças. São ferramentas de educação nutricional que devem conter mensagens educativas para orientar e melhorar hábitos da população e devem ser dirigidos a todas as classes socioeconômicas (BRASIL, 2014). 2.1 HISTÓRICO DOS GUIAS ALIMENTARES, DIRETRIZES ALIMENTARES: GUIA ALIMENTAR DA POPULAÇÃO BRASILEIRA O Guia Alimentar para a População Brasileira de 2006 trouxe em seu conteúdo as primeiras diretrizes alimentares oficiais, principalmente no que se refere às diretrizes de consumo de alimentos e refeições tradicionalmente consumidas, incorporadas à alimentação das famílias brasileiras, e que atingem todos os níveis socioeconômicos, buscando cultivar na população o ponto de vista de que uma alimentação saudável não é essencialmente cara ou de difícil acesso. TÓPICO 2 — OBJETIVOS NUTRICIONAIS E ESTRATÉGIAS DE INTERVENÇÃO NUTRICIONAL 135 Além das diretrizes alimentares, o Guia Alimentar da População Brasileira (BRASIL, 2006d) esclarece a relação da elaboração do próprio guia de políticas públicas de saúde, a Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN) e aos objetivos indicados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) (BRASIL, 2006). As diretrizes abordadas no Guia Alimentar para a População Brasileira (BRASIL, 2006d) são: • Diretriz 1: os alimentos saudáveis e as refeições. • Diretriz 2: cereais, tubérculos e raízes. • Diretriz 3: frutas, legumes e verduras. • Diretriz 4: feijões e outros alimentos vegetais ricos em proteínas. • Diretriz 5: leite e derivados, carnes e ovos. • Diretriz 6: gorduras, açúcares e sal. • Diretriz 7: água. Acadêmico, acesse o Guia Alimentar para a População Brasileira (2006) em: http://189.28.128.100/nutricao/docs/geral/guia_alimentar_conteudo.pdf DICAS A segunda edição do Guia Alimentar para a População Brasileira foi instituída em 2014. A nova versão do guia foi adaptada às novas condições de saúde da população e mudanças sociais que influenciaram no novo cenário de saúde no país. Desse modo, viu-se a necessidade da implementação de novas recomendações. A obtenção do novo quadro da população ocorreu através de consulta pública, orientando os pontos a serem revisados e desta maneira culminou no novo Guia Alimentar para a População Brasileira. O estudo que de fato culminou para a mudança do guia ocorreu a partir da Pesquisa de Orçamentos Familiares 2008-2009, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Partindo da observação de altos índices de obesidade no Brasil, quando se observou excesso de peso em cerca de metade da população masculina e feminina brasileira, em que indivíduos do sexo masculino apresentaram estatísticas de 16,9% de indivíduos acima do peso e entre o grupo feminino prevalência de 12,5%. Observou-se, ainda, que a incidência de obesidade apresentou correlação com a idade e com a renda familiar, assinalando maior frequência de obesidade em homens na faixa etária de 45 a 54 anos, e, para mulheres, entre 55 e 64 anos de idade. 136 UNIDADE 2 — PRESCRIÇÃO DIETÉTICA, OBJETIVOS NUTRICIONAIS E ORIENTAÇÕES ALIMENTARES PARA INDIVÍDUOS SADIOS O mesmo estudo apurou ainda que, nas últimas quatro décadas, houve um aumento gradativo de índices de obesidade na população, quando o excesso de peso praticamente quadriplicou entre os homens e duplicou entre as mulheres, dados estes observados em todas as regiões brasileiras e que abrangeu a população de distintas rendas familiares. O índice de obesidade entre as mulheres brasileiras apresentou valores superiores em relação à população masculina, porém, o aumento de número de obesos na população masculina apontou maior ascendência (IBGE, 2010). Assim o novo Guia Alimentar considera os princípios e diretrizes como referência em educação nutricional. O novo guia apresenta cinco novos princípios: • alimentação é mais que ingestão de nutrientes; • recomendações sobre alimentação devem estar em sintonia com seu tempo; • alimentação adequada e saudável deriva de sistema alimentar social e ambientalmente sustentável; • diferentes saberes geram o conhecimento para a formulação de guias alimentares; • guias alimentares ampliam a autonomia nas escolhas alimentares. Estes princípios têm por objetivo, recomendar e orientar escolhas alimentares que resultem em refeições nutricionalmente balanceadas, saborosas e adaptadas à cultura da população brasileira, e, ainda, preocupa-se, a nível social e ambiental, no sentido da sustentabilidade (BRASIL, 2014). Outra modificação ocorrida entre a 1ª e a 2ª edição do Guia Alimentar para a População Brasileira, foi a classificação dos alimentos conforme o seu nível de processamento antes de sua aquisição, preparo e consumo. Essa ação se deu devido a observações de mudanças no padrão alimentar da população. Tais mudanças estão associadas principalmente a substituição de alimentos in natura ou minimamente processados, frequentemente substituídos por preparações culinárias contendo alimentos que passaram por processos industriais ou, ainda, aqueles já prontos para consumo. Visto que, nos últimos anos, a utilização de produtos industrializados tem sido cada vez mais presente no consumo alimentar da população brasileira, e preocupando-se com a redução da ingestão de alimentos in natura concomitantemente ao aumento da oferta de produtos processados, a 2ª edição do Guia Alimentar (BRASIL, 2014), identificou o risco para consequências nutricionais negativas, considerando o desequilíbrio na demanda de nutrientes e a ingestão excessiva de calorias, gorduras e açúcares, já que, ao submeter alimentos ao processamento industrial, a qualidade nutricional bem como os modos de consumo alimentar são alterados, considerando ainda o impacto social e ambiental resultante da produção destes alimentos. TÓPICO 2 — OBJETIVOS NUTRICIONAIS E ESTRATÉGIAS DE INTERVENÇÃO NUTRICIONAL 137 Para influenciar o consumo de alimentos in natura, o Guia Alimentar para a população Brasileira (BRASIL, 2014), incluiu quatro categorias de alimentos, deliberadas de acordo com o tipo de processamento empregado para a sua produção. Esta medida visa recomendar, para a promoção da alimentação adequada e saudável, minimizar ainda mais os índices de desnutrição, condição que já apresenta resultados favoráveis nos últimos anos e reduzir a taxa de obesidade e de demais doenças associadas à alimentação inadequada. As quatro categorias de alimentos são: • Alimentos in natura: são alimentos de origem animal ou vegetal que não sofreram nenhuma alteração, até o seu consumo (folhas, frutos, ovos, leite dentre outros). • Alimentos minimamente processados: são alimentos in natura que, antes de sua aquisição, sofreram alterações mínimas (cereais, leguminosas, polidos e empacotados ou moídos na forma de farinhas, raízes e tubérculos lavados, carnes resfriadas ou congelados e leite pasteurizado). • Alimentos processados: alimentos in natura que sofreram modificaçõesdurante a sua produção produzidos a nível industrial, incluindo adição de sal, açúcar ou outras substâncias para a sua conservação e confere modificação da sua qualidade nutricional e características organolépticas (sardinha enlatada, conservas em salmoura, compotas de frutas, carnes defumadas, queijos, pães). • Alimentos ultraprocessados: são formulações industriais com pouco ou nenhum alimento inteiro e que contêm aditivos em sua composição (salsichas, biscoitos, sorvetes, chocolates, molhos, sopas, macarrão e temperos “instantâneos”, refrigerantes, produtos congelados e prontos para aquecimento como massas e hambúrgueres). O Guia Alimentar designa aos alimentos ultraprocessados, maior preocupação de consumo do ponto de vista nutricional, devido a sua formulação desbalanceada. Por conta de sua formulação e apresentação, tendem a ser consumidos em excesso e a substituir alimentos in natura ou minimamente processados. As formas de produção, distribuição, comercialização e consumo afetam de modo desfavorável a cultura, a vida social e o meio ambiente (BRASIL, 2014, p. 39) O Guia de 2014 apresenta quatro recomendações que visam auxiliar na promoção de escolhas de alimentos mais saudáveis (BRASIL, 2014): • faça de alimentos in natura, ou minimamente processados, a base de sua alimentação; • utilize óleos, gorduras, sal e açúcar em pequenas quantidades ao temperar e cozinhar alimentos e criar preparações culinárias; • limite o uso de alimentos processados consumindo-os em pequenas quantidades, como ingredientes de preparações culinárias ou como parte de refeições baseadas em alimentos in natura ou minimamente processados; • evite alimentos ultraprocessados. 138 UNIDADE 2 — PRESCRIÇÃO DIETÉTICA, OBJETIVOS NUTRICIONAIS E ORIENTAÇÕES ALIMENTARES PARA INDIVÍDUOS SADIOS Criou, ainda, uma regra de ouro: “prefira sempre alimentos in natura ou minimamente processados e preparações culinárias a alimentos ultraprocessados” (BRASIL, 2014, p. 47). Acadêmico, acesse o Guia Alimentar para a População Brasileira (2014) em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_alimentar_populacao_brasileira_2ed.pdf DICAS 2.2 PIRAMIDE ALIMENTAR Os Guias Alimentares têm por objetivo, traduzir dados científicos quantitativos às práticas alimentares. Estes instrumentos servem como base para a orientação nutricional e são utilizados por profissionais com o objetivo de promover mudanças de hábitos alimentares, visando a saúde e a prevenção de doenças na população. Utilizados como ferramentas de educação nutricional, devem conter mensagens educativas de fácil observação para orientar e melhorar hábitos da população, de modo a atender a todas as classes socioeconômicas da população (BRASIL, 2014). A pirâmide alimentar adaptada à população brasileira é um instrumento gráfico que permite a visualização dos grupos alimentares e número de porções diárias de alimentos, que surgiu a partir da proposta do guia alimentar americano, em 1992, pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (UEDA). O gráfico tinha o intuito de atuar como um guia alimentar para população, a fim de estimular uma boa alimentação e reduzir o risco de desenvolvimento de doenças crônicas. Os princípios norteadores da Pirâmide Alimentar Americana eram a variedade, a moderação e a proporcionalidade mediante a alimentação. • Variedade: consumo de alimentos diversos ao longo do dia, entre os maiores grupos alimentares, dos quais nenhum grupo é mais importante do que outro. • Moderação: envolve dois componentes, consumir alimentos conforme a recomendação de volume e números de porções, dando destaque para aqueles ricos em gorduras e/ou açúcares adicionados; e consumir gorduras, óleos e doces comedidamente. • Proporcionalidade: consumir mais alimentos dos grupos representados em maior quantidade na pirâmide e consumir menos alimentos de grupos alimentares menores, ou seja, seguir o formato gráfico da pirâmide para designar os grupos consumidos em maior ou menor quantidade. TÓPICO 2 — OBJETIVOS NUTRICIONAIS E ESTRATÉGIAS DE INTERVENÇÃO NUTRICIONAL 139 Na Figura 3, a representação gráfica da Pirâmide Alimentar Americana de 1992. FIGURA 3 – PIRÂMIDE ALIMENTAR AMERICANA DE 1992 FONTE: <https://www.sonutricao.com.br/conteudo/alimentacao/index_clip_image011.jpg>. Acesso em 20/12/2020. Até então não havia uma pirâmide alimentar voltada especificamente à população brasileira. Dessa forma, viu-se a necessidade de modificar o padrão da pirâmide americana, adaptando-a aos aspectos da população brasileira, partindo de alimentos tradicionais brasileiros, da cultura e condições socioeconômicas do Brasil (PHILIPPI et al., 1999). Assim, no ano de 1999, foi desenvolvida a primeira pirâmide alimentar adaptada à população brasileira, baseada no modelo de 1992 da pirâmide americana. Para designar valores energéticos de consumo, a pirâmide adaptada de 1999 trouxe indicações de opções para valores calóricos de dietas de acordo com o que seria o nível de consumo energético, como veremos a seguir: • 1.600 kcal: destinadas a mulheres sedentárias e adultos sedentários e idosos; • 2.200 kcal: destinada a crianças e adolescentes do sexo feminino, mulheres com nível de atividade física intensa e homens sedentários; • 2.800 kcal: destinada a homens com atividade física intensa e adolescentes do sexo masculino. Pão, arroz, cereais e massas 6- 11 PORÇÕES Gorduras, óleos e doces USE MODERADAMENTE Leite, iogurte e queijo 2 - 3 PORÇÕES Vegetais 3 - 5 PORÇÕES Carnes, aves, peixes, feijões. ovos e nozes 2- 3 PORÇÕES Frutas 2 - 4 PORÇÕES 140 UNIDADE 2 — PRESCRIÇÃO DIETÉTICA, OBJETIVOS NUTRICIONAIS E ORIENTAÇÕES ALIMENTARES PARA INDIVÍDUOS SADIOS A partir da pirâmide de Philippi (1999), foi lançada a Nova Pirâmide Alimentar para a População Brasileira de 2013, modificando as recomendações energéticas para 2.000 quilocalorias, com subdivisão de consumo diário de seis refeições ao dia (café da manhã, almoço, jantar e lanches e pequenos lanches entre os intervalos das principais refeições) divididas em intervalos de três em três horas. A mudança se deu devido a alteração das recomendações de energia pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) em 2005 (PHILLIPPI, 2013). A Figura 4 apresenta a Pirâmide dos Alimentos desenvolvida por Sônia Philippi, em 2013, contendo as alterações de consumo energético e incluindo, ainda, recomendações quanto a prática de atividades físicas. FIGURA 4 – PIRÂMIDE DOS ALIMENTOS (2013) FONTE: Philippi (2013, p. 4) Naturalmente presente ou adicionado Óleos e Gorduras 1 porção Açúcares e Doces 1 porção Leite, Queijo, Iogurte 3 porções Carnes e Ovos 1 porção Feijões e Oleaginosas 1 porção Legumes e Verduras 3 porções Arroz, Pao, Massa, Batata, Mandioca 6 porções Frutas 3 porções Philipp ST, organizador. Pirâmide dos alimentos. Fundamentos básicos de nutrição. Barueri: Manole: 2008 Pratique atividade física, no mínimo 30 minutos diários Faça 6 refeições no dia (café da manhã, almoço e jantar, com lanches intermediários) TÓPICO 2 — OBJETIVOS NUTRICIONAIS E ESTRATÉGIAS DE INTERVENÇÃO NUTRICIONAL 141 Da pirâmide original, foi mantida a estrutura de piramidal, já que seu formato conseguia explicitar de maneira simples e clara a forma de escolha dos alimentos a serem consumidos, e incluiu alimentos disponíveis em nosso país, adaptando a realidade e hábitos alimentares do brasileiro, incluindo alimentos tipicamente regionais, como caju, graviola e castanha-do-pará (PHILIPPI, 2013). Outra modificação da Nova Pirâmide Alimentar é a distribuição dos alimentos em oito grupos. Para cada um foram definidos valores energéticos de ingestão diária, para dar embasamento às quantidades de alimentos, possibilitando o estabelecimento de valores equivalentes de calorias. O Quadro 4 apresenta a divisão dos alimentos em grupos e classifica cada um conforme o valor energético e númerode porções diárias. QUADRO 4 – VALOR ENERGÉTICO E NÚMERO DE PORÇÕES POR GRUPO DE ALIMENTOS DA PIRÂMIDE ALIMENTAR PARA UMA DIETA DE 2000 KCAL/DIA FONTE: Adaptado de Philippi (2014) Grupos alimentares Porção (kcal) Número de refeições Total (kcal) Arroz, pão, Massa, batata, mandioca 150 6 900 Legumes e verduras 15 3 45 Frutas 70 3 210 Carnes e ovos 190 1 190 Leite, queijo e iogurte 120 3 360 Feijões 55 1 55 Óleos e gorduras 73 1 73 Açúcares e doces 110 1 110 Total - - 1943 Os oito grupos alimentares foram subdivididos em quatro diferentes níveis, de acordo com o nutriente predominante em cada grupo, e foi determinado um número de porções para maior controle e adequação da ingestão de nutrientes (PHILIPPI, 2014). O Nível 1 é o topo da pirâmide alimentar (Figura 5), o qual une os grupos dos açúcares e doces, óleos e gorduras. A representação gráfica sugere que esses alimentos devem ser consumidos com moderação, devido ao seu elevado valor calórico que, quando consumidos em excesso, podem resultar no aumento do risco de desenvolvimento da obesidade e doenças crônicas não transmissíveis. 142 UNIDADE 2 — PRESCRIÇÃO DIETÉTICA, OBJETIVOS NUTRICIONAIS E ORIENTAÇÕES ALIMENTARES PARA INDIVÍDUOS SADIOS FIGURA 5 – NÍVEL 1: GRUPO DOS AÇÚCARES E DOCES, ÓLEOS E GORDURAS FONTE: <https://static.todamateria.com.br/upload/pi/ra/piramidealimentar2a-0-cke.jpg> Acesso em 26 de dez. de 2020. O Nível 2 (Figura 6) é uma parte intermediária alta da pirâmide. Compreende o grupo de alimentos fontes de proteínas animais (carnes, ovos, leite e derivados) e proteínas de origem vegetal (feijões e oleaginosas) FIGURA 6 – NÍVEL 2: GRUPO DE PROTEÍNAS: CARNES, OVOS, LEITE E DERIVADOS; FEIJÕES E OLEAGINOSAS FONTE: <https://static.todamateria.com.br/upload/pi/ra/piramidealimentar2a-0-cke.jpg> Acesso em 26 de dez. de 2020. O Nível 3 (Figura 7) é uma parte intermediária baixa da pirâmide, a qual contempla alimentos fontes micronutrientes e fibras. São eles: frutas; legumes verduras. FONTE: <https://static.todamateria.com.br/upload/pi/ra/piramidealimentar2a-0-cke.jpg> Acesso em 26 de dez. de 2020. O Nível 4 é a base da pirâmide, assim, conforme sua representação gráfica, estes alimentos devem ser consumidos em maior volume ao longo do dia. São alimentos fonte de carboidratos: arroz, pão, massa, batata e mandioca (Figura 8). FIGURA 7 – NÍVEL 3: GRUPOS DE FRUTAS; LEGUMES VERDURAS TÓPICO 2 — OBJETIVOS NUTRICIONAIS E ESTRATÉGIAS DE INTERVENÇÃO NUTRICIONAL 143 FIGURA 8 – NÍVEL 4: BASE DA PIRÂMIDE: ARROZ, PÃO, MASSA, BATATA E MANDIOCA FONTE: <https://static.todamateria.com.br/upload/pi/ra/piramidealimentar2a-0-cke.jpg> Acesso em 26 de dez. de 2020. Acadêmico, na Unidade 3 deste livro, você entenderá a aplicação dos grupos de alimentos, suas equivalências e fontes de nutrientes. ESTUDOS FU TUROS Com o objetivo de oferecer uma alimentação balanceada ou equilibrada, composta de alimentos que contenham todos os elementos necessários para atender as demandas do organismo, estes possuem mais uma classificação que corresponde as suas funções fisiológicas. A maioria dos alimentos apresenta diferentes substancias em sua composição, porém, ocorre a predominância de alguns nutrientes em determinados alimentos. Diz-se, então, que o alimento é fonte do nutriente predominante em sua composição. Desse modo, podemos classificar os alimentos quanto a função fisiológica no organismo como, função energética, plástica ou construtora e reguladora, que devem ser consumidos em todas as refeições do dia e que atendam todas as necessidades nutricionais (GOMES; SANTOS; 2014). • Energéticos: representados por carboidratos, fornecem energia ao organismo rapidamente na forma de calorias. Cada grama de carboidrato do alimento é responsável pelo fornecimento de 4 kcal (quilocalorias). Os lipídios contêm maior quantidade de energia contida por grama, sendo responsável pelo fornecimento de 9 kcal (quilocalorias) por grama de lipídios do alimento. Apesar das proteínas não possuírem como função principal, o fornecimento de energia também contribui no fornecimento de calorias ao organismo. Cada grama de proteína do alimento fornece 4 kcal (quilocalorias). • Construtores: representados por proteínas, são responsáveis pela formação dos tecidos, uma vez que a proteína é um nutriente essencial para a síntese celular. Desta classificação podemos ainda, incluir o cálcio, pois este mineral é encontrado em todas as células, e, principalmente, presente em maior concentração nos ossos e dentes. Da mesma maneira, a água, encontrada em todas as células. 144 UNIDADE 2 — PRESCRIÇÃO DIETÉTICA, OBJETIVOS NUTRICIONAIS E ORIENTAÇÕES ALIMENTARES PARA INDIVÍDUOS SADIOS • Reguladores: são encontrados na água, nos minerais, fibras, vitaminas e também nas proteínas e estão associados à regulação do metabolismo e funções corporais. • Energéticos extras: compreende açúcares e doces e óleos e gorduras adicionados. Indica alimentos que devem ser consumidos com moderação. A Figura 9 demonstra a representação gráfica da pirâmide alimentar de acordo com a classificação conforme função orgânica dos nutrientes. FIGURA 9 – REPRESENTAÇÃO DA PIRÂMIDE ALIMENTAR CONFORME FUNÇÃO ORGÂNICA DOS NUTRIENTES FONTE: <https://m.weblaranja.com/nutricao/imagens/piramide-alimentar.jpg>. Acesso em: 3 de jan. 2020. 3 COMO DEFINIR OS OBJETIVOS NUTRICIONAIS Definir os objetivos nutricionais é imprescindível para a identificação da população alvo para fundamentar e elaborar a intervenção nutricional de maneira assertiva. Os grupos populacionais possuem variáveis entre si, nas quais são consideradas características específicas de cada grupo, obtendo-se, assim, uma forma de classificação (FAO, 1999). De modo geral, esta classificação tende a designar e definir grupos de risco específicos, deste modo, reconhecendo as diferenças, a adaptação da intervenção nutricional é destinada a cada grupo de acordo com as suas características individuais. TÓPICO 2 — OBJETIVOS NUTRICIONAIS E ESTRATÉGIAS DE INTERVENÇÃO NUTRICIONAL 145 Porém, o grupo de risco não é necessariamente o mesmo a sofrer a intervenção. Deve-se salientar que, em casos específicos, tomando como exemplo um indivíduo idoso com deficiências funcionais e que necessita de um cuidador para auxílio das atividades diárias, como seleção, aquisição, higienização e preparo dos alimentos, o mesmo é sujeito aos cuidados de quem o está acompanhando. Nesta situação o grupo de risco é o idoso e o público alvo é o cuidador, ou seja, a população, ao ser abordada pela intervenção nutricional, não é a mesma do grupo de risco (FAO, 1999). Como parâmetro para as recomendações de dietas, empregamos os valores de ingestão dietética de referência (DRIs) (veja no Tópico 1 desta unidade), e quotas diárias recomendadas de nutrientes específicos que são instituídos para pessoas saudáveis, mas também são utilizados como base para avaliar a adequação de dietas terapêuticas. Desta maneira, as necessidades nutricionais específicas para a constituição genética do indivíduo, o estado da doença, ou distúrbios apresentados por uma determinada pessoa, são quesitos analisados e considerados no planejamento de uma dieta e definem objetivos nutricionais (MAHAN; SCOTT-STUMP, 2012). 4 ESTRATÉGIAS DE INTERVENÇÃO NUTRICIONAL O nutricionista é o único profissional licenciado que tem por atribuição, elaborar o diagnostico nutricional com base nos dados obtidos do paciente, dos pontos de vista bioquímico, antropométrico e dietético. Também elabora prescrições dietéticas individualizadas e inclusão em prontuários, bem como atua em ações de educação permanentes, no que se refere a temas em nutrição, orientando e influenciando pessoas quanto a hábitos saudáveis, nos quais informam para melhoria da saúde e mudanças de estilo de vida (MAHAN; SCOTT-STUMP, 2012). Para a avaliação de dietas gerais e modificadas,é fundamental ter conhecimento do conteúdo de nutrientes nas diferentes fontes alimentares. Com maior ênfase, devemos ressaltar a importância de reconhecer os alimentos ricos em nutrientes que contribuam para a adequação dietética levando em consideração o equilíbrio e o ponderação dos nutrientes utilizados (MAHAN; SCOTT-STUMP, 2012). A elaboração de dietas modificadas, ou de cunho terapêutico, fundamenta-se primeiramente em uma dieta geral, adequada e equilibrada que, posteriormente, passa por o algum tipo de modificação quanto a sua quantidade e/ou qualidade, de acordo com as necessidades individuais do paciente. A dieta geral pode ser modificada para o tratamento de problemas na capacidade digestiva e absortiva, para minimizar ou conter o processo da fisiopatológico de doenças, e sempre considera fatores psicossociais (MAHAN; SCOTT-STUMP, 2012). 146 UNIDADE 2 — PRESCRIÇÃO DIETÉTICA, OBJETIVOS NUTRICIONAIS E ORIENTAÇÕES ALIMENTARES PARA INDIVÍDUOS SADIOS Espera-se que a dieta terapêutica se assemelhe ao máximo à dieta normal ou habitual do paciente, isso melhora a adesão do indivíduo ao tratamento e o torna mais assertivo do ponto de vista psicossocial e econômico do paciente. Tendo em vista a importância de considerar os padrões pessoais de alimentação, tais como as preferenciais alimentares ou aversões juntamente a condições socioeconômicas, além de práticas religiosas e ambientais que incluem o reconhecimento do local onde se realiza as refeições, se alimentação é preparada pelo próprio paciente ou por terceiros, fatores estes que participam da formação de hábitos alimentares ao longo da vida e que, consequentemente, influenciem a ingestão de alimentos. (MAHAN; SCOTT-STUMP, 2012). A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda, por meio da Estratégia Global para a Promoção da Alimentação Saudável, Atividade Física e Saúde, que os governos formulem e atualizem periodicamente diretrizes nacionais sobre alimentação e nutrição, levando em conta mudanças nos hábitos alimentares e nas condições de saúde da população e o progresso no conhecimento científico. Essas diretrizes têm como propósito apoiar a educação alimentar e nutricional e subsidiar políticas e programas nacionais de alimentação e nutrição. A elaboração de guias alimentares insere-se no conjunto de diversas ações intersetoriais que têm como objetivo melhorar os padrões de alimentação e nutrição da população e contribuir para a promoção da saúde. Neste sentido, a OMS propõe que os governos forneçam informações à população para facilitar a adoção de escolhas alimentares mais saudáveis em uma linguagem que seja compreendida por todas as pessoas e que leve em conta a cultura local. FONTE: BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Guia alimentar para a população brasileira. 2. ed., 1. reimpr. Brasília: Ministério da Saúde, 2014. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/ guia_alimentar_populacao_brasileira_2ed.pdf. Acesso em: 15 mar. 2021. IMPORTANT E Segundo Boog (2008), pode-se considerar que a conduta alimentar de um indivíduo corresponde não apenas aos chamados hábitos alimentares como também a todas as práticas relacionadas à alimentação, como o local onde realiza refeições, tempo desprendido para a alimentação, acesso aos alimentos, omissão ou não de refeições, dentre outros. As mudanças do comportamento alimentar envolvem diferentes etapas de motivação durante a modificação de um ato identificado como problemático e depende diretamente do grau de comprometimento do indivíduo para realizar estas mudanças, seja com auxílio direto de um profissional nutricionista ou TÓPICO 2 — OBJETIVOS NUTRICIONAIS E ESTRATÉGIAS DE INTERVENÇÃO NUTRICIONAL 147 através de recomendações alimentares oferecidas por guias para a população brasileira. Nesse contexto, temos cinco diferentes estágios: pré-contemplação, contemplação, decisão, ação e manutenção. No estágio de pré-contemplação, o indivíduo não percebe ou identifica o problema a ser solucionado, e, por falta de conhecimento de causa, dificilmente buscará orientação, principalmente quando não há um problema latente que interfira nas atividades normais diárias. Comumente, estes indivíduos buscam auxílio quando já há comprometimento da saúde (LEÃO, et al., 2015). No estágio de contemplação, o indivíduo já tomou conhecimento do problema a ser resolvido, e tem a oportunidade de solucionar os problemas identificados (LEÃO, et al., 2015). No terceiro, o de decisão, é quando o indivíduo já identificou o problema e tomará decisões acerca da resolução. O quarto estágio é o da ação, é quando ocorre a resolução do problema, uma vez que as demais fases já foram contempladas, assim, ocorre a identificação e a tomada de decisão, para ação. A pessoa acometida se submete a transformações de comportamento e utiliza dos conhecimentos e experiências adquiridas de mudanças de comportamentos anteriores. No quinto e último estágio, o de manutenção, tem-se a estabilização do comportamento problema, o que reduz significativamente a chances de recidiva do problema solucionado (LEÃO, et al., 2015). Observando os estágios envolvidos na modificação de comportamentos alimentares, vê-se a importância da constante avaliação para definir a melhor estratégia terapêutica e a que melhor se aplica na situação causal. Fazendo escolhas adequadas, como estratégia de intervenção nutricional e de hábitos de vida, é possível promover uma manutenção efetiva, capaz de motivar o indivíduo para práticas saudáveis e torna essas mudanças hábeis para serem mantidas ao longo da vida (LEÃO, et al., 2015). 5 DESAFIOS DA INTERVENÇÃO NUTRICIONAL Segundo Vitolo (2008), na pratica clínica, facilmente pode-se considerar as mudanças de comportamento como a maior dificuldade no que se refere ao âmbito da saúde, independente da área de atuação. A obesidade é um dos grandes problemas de saúde pública no Brasil devido a sua larga abrangência na população. Ainda que fatores genéticos e fisiológicos possam estar relacionados ao consumo alimentar e, quando descompensados, envolvidos no desenvolvimento desta condição, acredita-se que o ponto chave 148 UNIDADE 2 — PRESCRIÇÃO DIETÉTICA, OBJETIVOS NUTRICIONAIS E ORIENTAÇÕES ALIMENTARES PARA INDIVÍDUOS SADIOS para seu desenvolvimento está no consequente consumo exagerado de energia combinado a tabus alimentares, transtornos alimentares, assim como diversos hábitos de consumo alimentar que podem ser inadequados e que, normalmente, são de difícil modificação, já que comumente acompanham o indivíduo por longos períodos de tempo, até que a obesidade esteja estabelecida (BRASIL, 2006c). Pode ser indicada como preconizadora de incapacidade funcional, uma vez que reduz a qualidade e a expectativa de vida e, ainda, aumento da mortalidade. Sendo caracterizada como uma condição crônica, é capaz de desencadear doenças como o diabetes tipo II (DMII), apneia do sono, hipertensão arterial sistêmica (HAS), doenças cardiovasculares (DCV), distúrbios respiratórios e demais comorbidades (MELO, 2011). É visto que, diante das condições que permeiam a obesidade e que influenciam fortes mudanças do estilo de vida, hábitos alimentares e sociais, o seu tratamento deve ser concretizado por uma equipe multiprofissional composta por nutricionista, médico, psicólogo e, ainda, um profissional de atividade física, mas, sobretudo, pelo próprio paciente, que necessita de grande determinação para que o resultado do tratamento seja efetivo e não redicivante (CUPPARI, 2005). 149 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • Os guias alimentares são continuamente atualizados baseados em pesquisas realizadas de tempos em tempos, visando adequar-se às características da população. • Houve a modificação do dia alimentar para a população brasileira, visto o aumento do consumo de alimentos industrializados.• Os guias alimentares são portadores de diretrizes e elaborados para o diagnóstico, prescrição e elaboração planos alimentares. • A pirâmide alimentar é um gráfico que serve como ferramenta para nutricionistas, e para a população serve como guia para a distribuição de alimentos. • A pirâmide alimentar divide os alimentos em oito grupos alimentares classificados em subníveis, de acordo com a sua participação no consumo diário. • Os alimentos ainda podem ser classificados de acordo com a sua contribuição funcional ao organismo, como: energéticos extras, energéticos, construtores ou plásticos e reguladores. • Os objetivos nutricionais são metas estabelecidas para a elaboração de planos alimentares. • Os objetivos nutricionais iniciais não são necessariamente permanentes, podendo passar por modificações no decorrer do tratamento nutricional. • Os principais grupos de risco para o desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis são crianças, adolescentes e jovens adultos. • As estatísticas com base em pesquisas populacionais acerca de doenças associadas a má alimentação, sendo elas, a desnutrição, sobrepeso e a obesidade e suas consequências nutricionais. • O conceito em estratégias para a intervenção nutricional e sua importância na recuperação de hábitos de vida e comportamentos alimentares pouco saudáveis. 150 1 Segundo o Guia Alimentar para a População Brasileira (2014), podemos classificar os alimentos segundo seu nível de processamento. Analise a afirmativa a seguir: São formulações inteiramente ou majoritariamente industrializadas, com pouco ou nenhum alimento inteiro. Sua composição inclui aditivos que aumentam a durabilidade do produto e resultam em modificações da qualidade nutricional e organoléptica do alimento. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Alimentos in natura. b) ( ) Alimentos minimamente processados. c) ( ) Alimentos processados. d) ( ) Alimentos ultraprocessados. 2 No processo de adaptação da pirâmide alimentar, no ano de 2013, os alimentos foram distribuídos em oito grupos alimentares e subdivididos em quatro diferentes níveis de acordo com o nutriente predominante em cada grupo. Foi também determinado um número de porções para maior controle e adequação da ingestão de nutrientes (PHILIPPI, 2013). Sobre os quatro níveis da pirâmide alimentar, analise as afirmativas a seguir: I- Grupo dos açúcares e doces, óleos e gorduras. II- O quarto nível é a base da pirâmide, que inclui arroz, pão, massa, batata e mandioca. III- O segundo nível da pirâmide alimentar apresenta um grupo de alimentos ricos em micronutrientes e fibras. IV- No segundo nível da pirâmide estão as proteínas compostas apenas por leite e derivados. V- O terceiro grupo é formado por alimentos ricos em vitaminas, minerais e fibras, composto pelos grupos de frutas; legumes verduras. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Somente as sentenças I e V estão corretas. b) ( ) Somente a sentenças III e IV estão corretas. c) ( ) As sentenças I e II e V estão corretas. CORRETA d) ( ) Somente a sentenças IV e V estão corretas. e) ( ) Somente a sentença II e III estão corretas. 3 A modificação de hábitos alimentares é determinada por cinco estágios: pré- contemplação; contemplação; decisão; ação; e manutenção. Dê a definição de cada estágios para modificação de comportamentos alimentares. AUTOATIVIDADE 151 UNIDADE 2 TÓPICO 3 — COMPORTAMENTO ALIMENTAR 1 INTRODUÇÃO Caro acadêmico, neste tópico, vamos conhecer os componentes envolvidos no comportamento alimentar e possíveis fatores de risco que possam vir a comprometer a saúde de indivíduos e da população, bem como métodos de ação para elaboração de estratégias de educação nutricional como alternativa para manter ou recuperação de estado nutricional, bem-estar e saúde. As alterações de comportamento alimentar sofrem diversas influencias que, unidas, formam o modo de consumo de um indivíduo ou grupos de pessoas. Fatores afetivos, psicológicos, sociais, socioeconômicos e culturais, atuam no comportamento alimentar como componentes formadores de hábitos alimentares e de vida, partindo das bases familiares, fatores psicológicos e afetivos do comportamento alimentar, seguido do entendimento dos componentes biológicos envolvidos na ingestão, assim como os fatores cognitivos e econômicos na formação de comportamentos alimentares. Acadêmico, no Tópico 3, abordaremos a conceituação do comportamento alimentar e seus fatores desencadeantes e alterações de hábitos de consumo, com base nos componentes envolvidos no comportamento alimentar e possíveis fatores de risco que podem vir a comprometer a saúde de indivíduos e da população. Conheceremos, ainda, o conceito em educação alimentar e nutricional e a sua aplicabilidade através de estratégias e ferramentas que atuam na transmissão de mensagens educativas para orientar e melhorar hábitos da população considerando os componentes do comportamento alimentar. 2 ALTERAÇÕES DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR O comportamento alimentar, ou hábitos alimentares, são determinados por diversos fatores que, associados, resultam no que definimos como dieta habitual. Todas as ações envolvidas nas práticas alimentares são determinantes para a saúde de um indivíduo ou população, que incluem influências psicológicas, sociais e culturais, uma vez que, neste sentido, a alimentação pode basear-se 152 UNIDADE 2 — PRESCRIÇÃO DIETÉTICA, OBJETIVOS NUTRICIONAIS E ORIENTAÇÕES ALIMENTARES PARA INDIVÍDUOS SADIOS nas experiências, pensamentos, crenças e emoções, e, ainda, carregando fatores ambientais aos quais o indivíduo está inserido (ALVARENGA et al., 2019). O Guia Alimentar da População Brasileira descreve os aspectos envolvidos no ato de se alimentar: Alimentação diz respeito à ingestão de nutrientes, mas também aos alimentos que contêm e fornecem os nutrientes, a como alimentos são combinados entre si e preparados, a características do modo de comer e às dimensões culturais e sociais das práticas alimentares. Todos esses aspectos influenciam a saúde e o bem-estar. (BRASIL, 2014, p. 15). A seguir, conheceremos os diferentes componentes formadores do comportamento alimentar. 3 BASES FAMILIARES DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR As bases familiares e socioculturais são responsáveis pelos princípios alimentares, desencadeantes das ações, que envolvem o poder aquisitivo, a disponibilidade do alimento, a importância social, mudanças no nível de escolaridade, exposição aos meios de comunicação, bem como as necessidades psicológicas e de identificação das preferencias alimentares, aprovação social e bem-estar (COELHO; PIRES, 2014) É com a família que os primeiros hábitos alimentares são inseridos na rotina de uma pessoa. Os pais são ou responsáveis, são incumbidos de prover a aquisição e o preparo dos alimentos e transmitem, dessa maneira, suas próprias escolhas e comportamentos alimentares para os filhos. Além da influência familiar, também participam deste processo, a escola e as mídias, pois desempenham um importante papel na concepção dos hábitos alimentares e no consumo alimentar de crianças e adolescentes (ZANCUL; DAL FABBRO, 2007). Há décadas, existe uma forte preocupação com o consumo alimentar da população brasileira, principalmente para indivíduos jovens, devido às características específicas desta fase da vida, que envolvem um período de crescimento rápido e de rápidas modificações que requerem um amplo fornecimento de energia e de nutrientes. Porém, é visto que as alterações de estilo de vida que este grupo populacional vem passado, demonstra comportamentos alimentares preocupantes uma vez que envolvem fatores psicológicos, sociais (associados à formação de grupos de amigos), socioeconômicos, rebeldia contra os controles exercidos pela família, busca de autonomia e identidade, aumento do poder de compra, urbanização e o hábito de comer fora de casa, que, juntos,influenciam hábitos de consumo, muitas vezes, pouco saudáveis (VITOLO, 2008). As modificações da rotina dos pais e a omissão no momento das refeições são condições que podem culminar para a ascendência do consumo e hábitos inadequados (MAHAN; SCOTT-STUMP, 2005). TÓPICO 3 —COMPORTAMENTO ALIMENTAR 153 Segundo Machado (2009), comumente, os jovens podem ser classificados como grupo de risco para o desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs), devido a características alimentares comuns nesta fase da vida, com a omissão de refeições (principalmente o desjejum), a substituição de alimentos saudáveis por lanches de baixo aporte nutricional, consumo excessivo de produtos industrializados e refrigerantes, aliados à baixa ingestão de produtos in natura, acabam resultando em uma alimentação, por muitas vezes, de alto teor calórico e pobre em nutrientes. Neste contexto, existe predominância visível de produtos de alto teor de gorduras e calorias e pouca disponibilidade de fibras, vitaminas e minerais, de maneira que a diminuição simultânea no consumo de frutas e verduras, cereais e leguminosas, necessárias para garantir a oferta de nutrientes essenciais para o estabelecimento e manutenção da saúde. A maior oferta e demanda desses produtos consumidos por todo o núcleo familiar, resulta em alterações no modo de se alimentar, no qual a introdução da alimentação rápida, prática e barata torna-se por muitas vezes o foco das refeições diariamente (BRASIL, 2008a). Outro fator observado entre adolescentes, assim como na população de modo geral, é a omissão da atividade física, o que demonstra uma crescente preocupação com a qualidade de vida e bem-estar. Uma pesquisa realizada em 2009, na cidade de Caxias do Sul-RS, com adolescentes entre 11 a 17 anos, demonstrou características sedentárias e que devem ser levadas em consideração já que a pouca, ou a ausência, da atividade física, também implicam em comprometimentos à saúde. O mesmo estudo evidenciou que adolescentes cujos pais possuem renda familiar mais elevada, tem maior probabilidade de apresentarem comportamentos sedentários, principalmente para àqueles que possuem televisão no quarto, correlacionando o tempo frente à televisão, vídeo games e computador, em contraponto à atividade física (VASQUES, 2009). Considerado um fator desestimulante para a prática esportiva, o aumento do tempo em frente à TV, computador e videogame podem provocar o sobrepeso e obesidade. Esse tempo está associado ao consumo de alimentos calóricos, refrigerante e baixo consumo de frutas e vegetais, além de pouco gasto de energia, alerta a pesquisa (VIEIRA, 2009). Para Monteiro e Camelo (2007), a conduta no cuidado com a própria saúde entre adolescentes é, por vezes, muito pequena, isso demonstra ser comum entre os jovens a falta de preocupação com possíveis problemas futuros de saúde, de tal maneira que implica na displicência dos jovens em relação à qualidade dos alimentos consumidos. 154 UNIDADE 2 — PRESCRIÇÃO DIETÉTICA, OBJETIVOS NUTRICIONAIS E ORIENTAÇÕES ALIMENTARES PARA INDIVÍDUOS SADIOS Outra peculiaridade deste grupo é a sua forte relação com indivíduos da mesma faixa etária que compartilham das mesmas vontades e necessidades, formando um padrão alimentar comum entre eles. Por vezes, a interferência deste novo padrão de consumo alimentar vem alterar padrões familiares que, desde a infância, exercem influência em sua conduta dietética. Fatores ambientais como o convívio familiar e social, novas responsabilidades, assim como definição da personalidade e, ainda, hábitos adquiridos em decorrência do desenvolvimento tecnológico, somam-se e resultam na geração de mudanças nos hábitos alimentares e de vida da população. Esses novos padrões alimentares podem refletir nas fases posteriores da vida influenciando nas futuras escolhas alimentares (FONSECA, et al., 1998 apud ANDRADE et al., 2003) Devido aos diversos fatores citados, as alterações decorrentes da infância e adolescência, bem como influencias ocorridas nessas fases, são capazes de designar o comportamento alimentar e hábitos de vida, e devem ser observadas pelo profissional nutricionista, a fim de prever esses fatores, tendo em vista a importância da realização de uma alimentação adequada durante as fases de desenvolvimento como medida de nutrição defensiva, evitando futuros problemas a saúde que podem vir a afetar as demais fases da vida (VITOLO, 2008). 4 FATORES PSICOLÓGICOS E AFETIVOS DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR As práticas alimentares de um indivíduo acarretam, dentre muitos fatores, nas experiências vivenciadas desde a infância, incluindo a sua história cultural e o meio social onde está inserido. Estes fatores geram influencias sobre os processos de escolha de determinados alimentos, a forma de preparação da matéria prima, bem como o seu modo consumo. O comportamento alimentar de um indivíduo, busca não somente a suprir as necessidades fisiológicas, mas também resulta de atos satisfatórios como necessidades psicológicas, sociais e culturais, de forma que o comportamento alimentar individual norteia os aspectos biológicos, cognitivos, situacionais e afetivos (SANTOS, 2011). Dentro do contexto de concepção de hábitos de consumo alimentar, entende-se reconhecidamente que o ato da repetição de comportamentos alimentares e o tempo que o indivíduo mantém estas condutas, possibilitam a formação de hábitos alimentares que se firmam no dia a dia do consumidor. TÓPICO 3 —COMPORTAMENTO ALIMENTAR 155 Quando falamos em comportamento alimentar, podemos referir uma maneira específica de alimentação que pode ser influenciada por elementos da rotina de uma pessoa, como os horários de trabalho, estudo, meio social, deslocamento, atividades de lazer, dentre outros (CARVALHO, 2012). Para Freitas et al. (2012), os hábitos de consumo relacionam-se com o vínculo emocional criado sobre determinados alimentos, no qual, memórias acerca de situações de vida associadas ao consumo alimentar, geram lembranças afetivas de forma que o indivíduo cria um significado próprio sobre o seu consumo. Cascudo (2011), em sua obra sua visão à respeito da formação de hábitos alimentares, lembra que a alimentação, além de uma necessidade básica, é um direito de todos, assim como o acesso à cultura, e completa concluindo que alimentação é de amplo sentido, já que abrange escolhas, ocasiões e rituais observados ao longo da história da humanidade, tendo relação com a história da alimentação, com fatos históricos sobre a migração de vegetais e animais, troca de alimentos por outros alimentos ou mercadorias, guerras por territórios com abundância de alimentos ou solo fértil, fatos estes associados à fome: “No princípio foi a fome” (CASCUDO, 2011, p. 340). A alimentação é assim um fato da cultura material, da infraestrutura da sociedade; um fato da troca e do comércio, da história econômica e social, ou seja, parte da estrutura produtiva da sociedade. Mas também é um fato ideológico, das representações da sociedade – religiosas, artísticas e morais – ou seja, um objeto histórico complexo, para o qual a abordagem científica deve ser multifacetada. (CARNEIRO, 2003, p. 166). Assim, Cascudo (2011) define a alimentação, psicologicamente falando, como um ato social, e não ato autônomo e solitário. Essa afirmação é, de certa forma, palpável, visto que comer, além de ser um veículo de nutrição, também é um meio de socialização para o ser humano, no qual podemos verificar em todas as espécies que se alimentam em conjunto dentro da mesma espécie. “O comer é uma ação concreta de incorporação tanto de alimentos como de seus significados, permeada por trocas simbólicas envolvendo uma infinidade de elementos e de associações capazes de expressar e consolidar a posição de um agente social em suas relações cotidianas” (CARVALHO, LUZ, 2011, p. 147). IMPORTANTE 156 UNIDADE 2 — PRESCRIÇÃO DIETÉTICA, OBJETIVOS NUTRICIONAIS E ORIENTAÇÕES ALIMENTARES PARA INDIVÍDUOS SADIOS 5 COMPONENTE BIOLÓGICO DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR O comportamento alimentar atua como requisito básico do metabolismo celular, uma vez que a alimentação fornece ao organismo a matéria prima necessária para o seu funcionamento, ofertando fontes energéticas e nutricionais adquiridas na ingestão de alimentos, de modo que precede todas as reações fisiológicas do corpo humano. Como condição essencial à vida, através da alimentação, deve-se obter do seu meio a quantidade de energia suficiente para o seu consumo calórico, bem como todos os nutrientes necessários para atender os processos corporais. Dessa maneira, mecanismos envolvidos no consumo alimentar, influenciam no comportamento relacionado à ingestão de substancias, mecanismos estes, capazes de ditar sensações vinculadas a alimentação (BRANDÃO, 2005) Do ponto de vista genético e fisiológico, o comportamento alimentar de um indivíduo é estabelecido por mecanismos envolvidos na regulação do apetite, fome e saciedade, armazenamento de energia, ou seja, fatores neuronais, endócrinos, adipocitários e digestivos, que podem influenciar no surgimento de doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs), sobretudo em decorrência da obesidade, quando as necessidades energéticas são ultrapassadas ao seu limite de consumo individual (HALPERN; RODRIGUES; COSTA, 2004). A obesidade é determinada como uma condição multifatorial, envolvendo fatores genéticos, fisiológicos, ambientais e socioeconômicos. A principal particularidade é o balanço energético positivo, com alto consumo calórico em relação as necessidades energéticas, que, por sua vez, resulta no excesso de peso corporal (BRASIL, 2006a). Entre fatores endógenos envolvidos na nutrição, os neuropeptídios Y (NPY), substancias químicas produzidas e liberadas pelas células cerebrais, presentes principalmente no hipotálamo, agem na regulação do apetite, que, por sua vez, relaciona-se ao controle do balanço energético. Este promove o aumento da ingestão alimentar, redução do gasto calórico e aumento da concentração de ácidos graxos nas células adiposas. A leptina, um hormônio peptídico, junto com a insulina são os precursores de sua ação, ativando os neurônios produtores de NPY no hipotálamo. (HALPERN; RODRIGUES; COSTA, 2004). O hormônio leptina é secretado pelo tecido adiposo e está relacionado ao controle da saciedade pós-prandial, e, consequentemente, no controle de peso corporal a partir da transmissão de informação de saciedade ao hipotálamo e, portanto, ao NPY, de maneira que a leptina leva à redução da ingestão alimentar e ao aumento o gasto energético. Por outro lado, este hormônio tende a ser produzido excessivamente em indivíduos obesos, a chamada hiperleptinemia, uma vez que a sua produção cresce proporcionalmente às células adiposas (RODRIGUES; SUPLICY; RADOMINSKI, 2003). TÓPICO 3 —COMPORTAMENTO ALIMENTAR 157 Segundo Silva (2006), embora a leptina seja um hormônio cujo objetivo é o controle da saciedade, sua ação em obesos não é elevada, visto que não é observada maior saciedade em pessoas obesas, ou seja, os níveis elevados de leptina em indivíduos obesos não possuem uma relação proporcional a sua quantidade produzida. Mesmo parecendo contraditória, a origem para a deficiente ação da leptina em obesos, denominada leptino-deficiência, ainda não possui uma explicação concreta, porém, acredita-se que a relação da sua quantidade produzida e, consequentemente, seus níveis séricos, na obesidade, cause a resistência do hormônio nestes indivíduos, resultando em um defeito de transporte deste hormônio ao hipotálamo. Outra possível explicação do efeito contraditório de níveis de leptina em obesos se dá por uma provável falta do seu transporte, esclarecido por saturação ou um defeito intrínseco dos transportadores, ou, ainda, por defeito pós-receptor, levando à falha na ativação dos mediadores neuroendócrinos reguladores do peso corporal. A hiperleptinemia, ocorrida em indivíduos obesos, é causada por alterações no receptor hipotalâmico para leptina ou pode ser atribuída a uma carência em seu transporte na barreira hemato-cefálica, fenômeno denominado resistência à leptina (Figura 10) (ROMERO; ZANESCO, 2006). FIGURA 10 – DEMONSTRAÇÃO DA BARREIRA HEMATO-CEFÁLICA NA RESISTÊNCIA À LEPTINA FONTE: <https://www.scielo.br/img/revistas/rn/v19n1/28802f2.jpg>. Acesso em: 21 nov.2020 Além da leptida, outro hormônio envolvido no controle de consumo alimentar deve ser observado. A grelina ou, como é comumente conhecido, "hormônio da fome" é produzida principalmente pelo epitélio estomacal e em menor proporção em outros órgãos e tem como função promover a sensação de apetite. Quando em níveis elevados, promove sensação de fome, que decai posteriormente ao início do consumo alimentar. Estima-se que, após 20 minutos do início da alimentação, incide sobre o hipotálamo, tendo sua ação concluída. Além da função de produzir a fome, a grelina atua em outros setores do organismo, age como liberador do hormônio do crescimento (GH), estimulação da secreção lactotrófica e corticotrófica, atividade orexígena acoplada ao controle do gasto energético; controle da secreção ácida 158 UNIDADE 2 — PRESCRIÇÃO DIETÉTICA, OBJETIVOS NUTRICIONAIS E ORIENTAÇÕES ALIMENTARES PARA INDIVÍDUOS SADIOS e da motilidade gástrica, influência sobre a função endócrina pancreática e metabolismo da glicose e ações cardiovasculares e efeitos antiproliferativos em células neoplásicas (ROMERO; ZANESCO, 2006). FIGURA 11 – MECANISMOS DE AÇÃO DA GRELINA FONTE: <https://www.scielo.br/img/revistas/rn/v19n1/28802f3.jpg>. Acesso em: 21 nov.2020 Níveis exacerbados de grelina desencadeiam uma síndrome, denominada Síndrome de Prader Willi, a qual induz o indivíduo ao aumento do consumo alimentar favorecendo o desenvolvimento da obesidade. Esta síndrome possui caráter genético que advém de um defeito cromossômico. A Síndrome de Prader Willi é de baixa incidência e acomete cerca de 1:15.000 e a prevalência de 60:1.000.000 indivíduos, segundo Kuo et al. (2007). Assim, vemos a importância de estudos acerca da produção e utilização tanto de leptina como da grelina pelo organismo, como mecanismos envolvidos no consumo alimentar, já que possuem forte influência sobre os aspectos envolvidos na alimentação. Além das influencias hormonais sobre o comportamento alimentar, não devemos esquecer de mecanismos envolvidos na sensorialidade como o paladar, olfato, visão e audição, que podem afetar diretamente as escolhas alimentares e, consequentemente, o estado nutricional do indivíduo. Os aspectos sensoriais dos alimentos por muitas vezes ultrapassam os aspectos fisiológicos de controle alimentar, de modo que o padrão alimentar individual venha a ser afetado por algumas propriedades dos alimentos (CLERGET, 2011). De acordo com Ornelas (2018), cada alimento possui características sensoriais próprias em relação ao aspecto, cor, sabor, aroma e consistência. Os sentidos de gustação e olfato são sensações provocadas por processos químicos quando seus receptores são estimulados. O estimulo de gustação decorre de substâncias químicas presentes nos alimentos, enquanto os receptores olfativos são excitados por substâncias químicas do ar. Esses sentidos trabalham conjuntamente na percepção dos sabores (Figura 12), de modo que as informações de gosto e cheiro enviadas ao sistema nervoso central, formam uma combinação de informações sensoriais entre a da língua e nariz. TÓPICO 3 —COMPORTAMENTO ALIMENTAR 159 FIGURA 12 – MECANISMOS DE PERCEPÇÃO DE GOSTO E OLFATO FONTE: <https://afh.bio.br/imgs/sistemas/sensorial/Sentid7g.gif>. Acesso em: 21 nov. 2020 De acordo com Strapasson et al. (2011), a percepção dos sabores está intimamente ligada à qualidade de vida. Quando ocorrem distúrbios desta percepção, o consumo alimentarpode ser afetado, levando ao consumo demasiado de alimentos ou, do contrário, à redução do consumo alimentar. Desta maneira, problemas a saúde em consequência dessas alterações podem ser desencadeados promovendo doenças ou interferindo no tratamento dietético de patologias já instaladas. Como exemplo clássico, temos o sal em casos de hipertensão e os açúcares em situação de diabetes. A identificação dos sabores ocorre pela junção dos sentidos químicos de gosto e olfato, somados às sensações táteis, como a percepção da consistência de um alimento e a sua temperatura. O órgão responsável pela detecção do paladar é a língua, formada em sua camada epitelial por papilas gustativas que identificam os sabores: amargo, azedo ou ácido, salgado e doce, quando essa percepção é somada ao olfato, completam a identificação do sabor do alimento. Além de modificações do paladar em decorrência de doenças, essa sensação pode variar em decorrência de fatores psicológicos, afetivos e culturais relacionados aos alimentos e possui grande relevância na formação de comportamentos alimentares (STRAPASSON et al., 2011). Sinal do olfato Centro do olfato e do paladar Sinal do paladar Detecção do odor Bulbo olfatório Nervo olfatorio Odor Cílios Receptor do olfato Epitélio olfatório Receptor do paladar Fibra nervosa Detecção do gosto AlimentoEpitélio da língua Cílios 160 UNIDADE 2 — PRESCRIÇÃO DIETÉTICA, OBJETIVOS NUTRICIONAIS E ORIENTAÇÕES ALIMENTARES PARA INDIVÍDUOS SADIOS 6 FATORES COGNITIVOS DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR A cada indivíduo cabe a conduta de realizar suas escolhas alimentares para o acesso aos nutrientes. Ao escolher um alimento, opta-se diretamente aos nutrientes nele contido. Porém, para que se obtenha o aporte nutricional necessário à manutenção e saúde individuais, é preciso haver cognição do conteúdo nutricional dos alimentos (VITOLO, 2008). O fator cognitivo do comportamento alimentar é um componente na formação de hábitos de consumo que se desenvolveram desde a infância. Os conhecimentos acumulados em alimentação, ao longo da vida, tornam- se enraizados e de difícil mudança. Impactar na alimentação para a promoção de mudanças nas escolhas alimentares exige uma boa comunicação entre o profissional e o paciente para que a transferência das informações fornecidas pelo nutricionista seja transferida maneira efetiva. Contextualizar essas informações à realidade do paciente, favorece a comunicação e apresenta resultados positivos no processo de modificação de hábitos alimentares. Por exemplo, falar ao paciente para “consumir três porções de frutas ao dia”, pode ser considerada uma informação vaga, já que, para quem não está inserido no campo da nutrição, comumente, não convive com o termo “porção” e desconhece as quantidades representadas para cada tipo de alimento (PHILLIPI, 2015). Teorias acerca do componente cognitivo do comportamento alimentar, auxiliam no entendimento do contexto alimentar de indivíduo, já que vários são os fatores a serem interpretados e que culminam no comportamento alimentar que o paciente habita. Essas teorias, oferecem ajustes esquematizados da identificação do agente formador do problema para a definição do objetivo e aplicação de intervenção nutricional (PHILLIPI, 2015). O recente aumento da transmissão de informações a partir do crescente desenvolvimento tecnológico, infelizmente gera um paradoxo entre conhecimentos concretos e de confirmação científica, e aqueles sem idoneidade comprovada, de modo que a velocidade de transferência de informações tanto reais como não confiáveis em relação à alimentação, são transmitidas rapidamente. Da mesma maneira, a grande exigência sob a aparência física, envelhecimento e o seu contexto, norteia a evasão de informações em diferentes meios de comunicação, gerando, por muitas vezes, um ponto de partida para a formação de transtornos alimentares e psicológicos que afetam diretamente o consumo alimentar e atinge públicos de todas as idades, entretanto, mais fortemente na fase da adolescência (GOMES, 2001). TÓPICO 3 —COMPORTAMENTO ALIMENTAR 161 Tendo em vista que a população adolescente representa uma porção significativa da população, é possível verificar a importância da identificação do consumo alimentar de adolescentes, a qual permite antecipar o aumento de índices de DCNTs em adultos, uma vez que a alimentação destes jovens vai determinar a alimentação da população para os próximos anos. Na fase adulta, a alimentação deve dar suporte para a manutenção e bem- estar, e para a prevenção de doenças até o envelhecimento, porém, nesta fase, a alimentação já acarreta consigo fatores financeiros, emocionais, culturais e hábitos de vida já estabelecidos, preocupação com o peso corporal, atenção as atividades de trabalho e família, e uso de alimentos processados ou ultraprocessados em larga escala. Por outro aspecto, há também indivíduos que buscam por conta própria sanar as dúvidas em relação a sua alimentação, porém, por diversas vezes, essas informações podem trazer informações errôneas ou distorcidas que influenciam no processo cognitivo do entendimento (COELHO et al., 2016) Segundo Coelho et al. (2016), durante a fase adulta, a busca pelo corpo saudável, preocupação excessiva com a aparência e metas praticamente impossíveis de serem atingidas estão relacionadas a um novo panorama em transtornos alimentares, a ortorexia nervosa, condição na qual o indivíduo desenvolve uma fixação pela saúde, criando expectativas pouco realistas sobre a alimentação e desencadeia hábitos alimentares, por vezes, com limitações de alimentos e nutrientes específicos. A autora dá a sua descrição para o comportamento alimentar na ortorexia nervosa: A ortorexia nervosa é um comportamento caracterizado por uma preocupação demasiada com a alimentação saudável. Os indivíduos que a possuem não estão preocupados com seu peso corporal nem com a quantidade de alimentos que ingerem, seu principal foco está nos tipos de alimentos fazem parte das suas refeições. Mediante isso, tais indivíduos passam a ter uma alimentação seletiva e direcionada a certos alimentos considerados saudáveis, puros e com a ausência de determinados elementos (COELHO et al., 2016p. 160) Dessa forma, seja qual for a fase da vida, os problemas relacionados aos fatores cognitivos do comportamento alimentar evoluem e necessitam de estratégias de intervenção nutricional que se adaptem às novas formas de consumo alimentar, para assim atender aos diferentes públicos e demandas da população. 162 UNIDADE 2 — PRESCRIÇÃO DIETÉTICA, OBJETIVOS NUTRICIONAIS E ORIENTAÇÕES ALIMENTARES PARA INDIVÍDUOS SADIOS 7 FATORES ECONÔMICOS DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR Além de fatores psicológicos do comportamento alimentar, fatores econômicos também diferenciam as escolhas alimentares em diferentes classes sociais, delineando estilos e modos de alimentação que por muitas vezes, correspondem ao poder de aquisitivo e acesso aos alimentos (CASCUDO, 2011). Embora as escolhas alimentares não se baseiem apenas em fatores econômicos, conforme vimos nos itens anteriores deste livro, devemos considerar o fator financeiro como um dos pontos determinantes de comportamentos alimentares, já que pessoas de renda mais favorável possuem maiores possiblidades para a escolha de alimentos. Ainda pode-se dizer que, no ponto de vista da aprendizagem sobre a comida, também existe uma relação com diferenças entre as classes sociais, e que são influenciadas de acordo com a organização das unidades familiares da sociedade (CANESQUI, 2005) Segundo pesquisa realizada, entre de 2001 e 2005, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com mulheres na faixa etária de 25 a 49 anos, que atuam no mercado de trabalho e possuem filhos pequenos em casa, constatou-se que a quantidade de filhos em famílias de baixa renda é superior às famílias com melhorescondições financeiras (SOARES; SABÓIA, 2007). Através desta pesquisa, observou-se ainda que a maior parcela do grupo analisado era de mulheres entre 20 e 29 anos, e que essas mães não estão aptas para atenderem as necessidades nutricionais dos filhos, já que não apresentam conhecimentos suficientes sobre alimentação adequada devido às poucas condições de recursos. Esse dado é considerado importante na formação de hábitos alimentares da família, pois traz reflexos negativos na qualidade nutricional da alimentação, podendo provocar o desenvolvimento de problemas a saúde, desde desnutrição à obesidade (SOARES; SABÓIA, 2007). Para o acompanhamento populacional da disponibilidade de alimentos nos domicílios brasileiros é imprescindível a realização periódica e contínua de pesquisas que acerca desta temática, de modo a verificar o consumo alimentar e o estado nutricional da população. As pesquisas realizadas pelo IBGE, como as Pesquisas de Orçamentos Familiares, ajudam na identificação desses fatores, assim como a observação sobre a saúde e nutrição materna e infantil, como Pesquisas Nacionais de Demografia e Saúde (PNDS), indicam os pontos a serem observados na alimentação do brasileiro. O Programa Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN) propõe lidar com o perfil nutricional da população, o qual atua sobre quadros de desnutrição, deficiência de micronutrientes, excesso de peso e doenças crônicas não transmissíveis. Dessa forma, indica programas e ações em diferentes âmbitos, que vão desde a promoção da saúde ao cuidado integral as consequências e agravos nutricionais (BRASIL, 2013). TÓPICO 3 —COMPORTAMENTO ALIMENTAR 163 Os indicadores de alimentação e nutrição deverão ser reforçados nos sistemas de acompanhamento da situação de saúde da população, com a inclusão nas salas de situação em saúde e a constituição de centros de informação em alimentação e nutrição, destacando sua utilização nos instrumentos de planejamento e pactuação do SUS (BRASIL, 2013). ATENCAO 8 ESTRATÉGIAS EM EDUCAÇÃO NUTRICIONAL A educação nutricional pode ser caracterizada como a prática de transferência de informações, buscando melhorar a conduta da população em relação à alimentação saudável, podendo usar de diversos artifícios para tal, como programas de Educação em Saúde e Nutrição, utilização de meios de comunicação, palestras, oficinas, material educativo virtual ou físico, participação em feiras culturais na comunidade, projetos em escolas e unidades de saúde, dentre outros (RAMALHO, SAUNDERS, 2000). A educação nutricional é a parte da nutrição aplicada que orienta seus recursos para o aprendizado, adequação e incorporação de hábitos nutricionalmente adequados, de acordo com as crenças, valores atitudes e representações que se estabelecem em torno do ato de se alimentar (DUTRA; MARCHINI, 2008, p. 103). Para Gouveia (2001), a formação de hábitos alimentares saudáveis deve levar em consideração aspectos como a fase da vida e classe social, com a finalidade de promover uma alimentação que atenda as possibilidades de cada população. O papel do nutricionista na educação nutricional está relacionado à promoção de hábitos alimentares saudáveis, de forma que este é capacitado e habilitado para constituir atitudes que possibilitem melhor qualidade de vida e saúde (BOOG, 1999). A educação alimentar e nutricional (EAN) é um processo educativo desenvolvido a partir do conhecimento técnico e habilidades e experiências do profissional nutricionista juntamente às experiências alimentares pessoais do paciente, que objetiva trazer autonomia nas decisões alimentares de pessoas leigas no âmbito da nutrição para que realizem opções mais adequadas e que promovam a saúde e bem-estar do paciente, de forma a transmitir conhecimentos à cerca das necessidades fisiológicas, psicológicas e sociais que tanto influenciam na alimentação (LIMA, 2004). O profissional nutricionista tem como auxílio, materiais educativos desenvolvidos por órgãos competentes, que servem de alicerce de tais informações, como programas de Educação em Saúde e Nutrição, utilização de meios de comunicação, palestras, dentre outros. 164 UNIDADE 2 — PRESCRIÇÃO DIETÉTICA, OBJETIVOS NUTRICIONAIS E ORIENTAÇÕES ALIMENTARES PARA INDIVÍDUOS SADIOS Segundo Boog (2008), a educação alimentar e nutricional não tem o intuito de prescrever formas ideais de se alimentar, mas de direcionar a população a raciocinar a respeito da alimentação, auxiliando nas escolhas alimentares e, ainda, o significado dos alimentos e da necessidade de lembrar que os mesmos devem ser identificados para que, assim, possam ser produzidos ajustes mais assertivos na conduta alimentar. Sugerimos a leitura do livro Princípios e Práticas para Educação Alimentar e Nutricional, disponível em: https://www.cfn.org.br/wp-content/uploads/2018/08/CADERNO_ EAN_semmarca.pdf DICAS Sobre a implantação da educação nutricional desde a infância, para Monteiro (2000), a promoção de uma educação nutricional introduz o saber, uma vez que, nesta fase, inicia o desenvolvimento de hábitos alimentares e de vida, logo que podem persistir ao decorrer de toda sua existência. Sobretudo, para a alimentação ser considerada adequada, esta deve ser completa em quantidade e em qualidade, variada e agradável ao paladar para a promoção da saúde, quando todos os nutrientes necessários e pertinentes a cada ciclo da vida apresentem-se em valores de consumo suficientes, e que ainda seja capaz de prevenir e controlar possíveis enfermidades ocasionadas por má alimentação e comportamentos alimentares pouco adequados. Dessa forma, vê-se a importância da implantação de medidas de educação nutricional desde a infância, visando inserir esses comportamentos ao longo do desenvolvimento de hábitos e costumes, favorecendo o aprendizado e incluindo aspectos positivos à saúde já nos primeiros anos de vida. Para Linden (2005), o conhecimento em alimentação e nutrição, torna-se válido a partir do momento em que aspectos teóricos científicos em nutrição passam a ser cultivados na prática, ou seja, é um processo de ensino-aprendizagem combinado à vivencia de experiências individuais somadas a informações pertinentes. 8.1 PRINCÍPIOS PARA AS AÇÕES DE EAN As estratégias em educação nutricional têm sido empregadas como fator decisivo na prevenção e controle das doenças crônicas não transmissíveis, e na redução das carências nutricionais. Estratégias bem articuladas em educação nutricional promovem o desenvolvimento do conhecimento, trazem abordagens que permitem identificar problemas alimentares em sua complexidade, tanto do ponto de vista biológico, como no social e cultural (RIGO et al., 2010). TÓPICO 3 —COMPORTAMENTO ALIMENTAR 165 O Marco de Referência de Educação Alimentar e Nutricional para as Políticas Públicas trata-se de um documento que traz a definição e o conceito de EAN e institui diretrizes para a elaboração de iniciativas públicas. O objetivo desse documento é promover o uso de práticas educativas como parte contígua de iniciativas em educação alimentar e nutricional, unindo diferentes setores ligados ao processamento de alimentos, distribuição, abastecimento e do próprio consumo alimentar. O documento busca auxiliar os diferentes setores de governo nas ações educacionais visando atingir resultados em EAN, de modo a desenvolver estratégias capazes de colaborar para a qualidade de vida da população em sua maior abrangência (BRASIL, 2012). Ele também apresenta nove princípios para as ações de educação alimentar: • Sustentabilidade social, ambiental e econômica. • Abordagem do sistema alimentar, na sua integralidade. • Valorização da cultura alimentar local e respeito à diversidade de opiniões e perspectivas, considerando a legitimidade dos saberes de diferentes naturezas. • A comida e o alimento como referências; valorização da culinária enquanto prática emancipatória. • A promoção doautocuidado e da autonomia. • A educação enquanto processo permanente e gerador de autonomia e participação ativa e informada dos sujeitos. • A diversidade nos cenários de prática. • Intersetorialidade. • Planejamento, avaliação e monitoramento das ações. Acadêmico, veja na íntegra o Marco de Referência de Educação Alimentar e Nutricional para as políticas públicas, em: https://www.cfn.org.br/wp-content/uploads/2017/03/ marco_EAN.pdf DICAS 166 UNIDADE 2 — PRESCRIÇÃO DIETÉTICA, OBJETIVOS NUTRICIONAIS E ORIENTAÇÕES ALIMENTARES PARA INDIVÍDUOS SADIOS FIGURA 13 – OS NOVE PRINCÍPIOS PARA AS AÇÕES DE EAN FONTE: Brasil (2013, p. 18) O Marco de Referência de Educação Alimentar e Nutricional para as Políticas Públicas tem por referência os mesmos preceitos do Guia Alimentar para a Pulação Brasileira para a formação dos princípios que regem as ações de EAN, no âmbito do conceito alimentação adequada e saudável, o direito humano básico e as “Leis da Alimentação” da quantidade, da qualidade, da adequação e da harmonia (BRASIL, 2012). Para o desenvolvimento de uma ação de EAN, é necessário um planejamento prévio que pode auxiliar na execução e identificação de possíveis dificuldades ou imprevistos que possam resultar no insucesso da EAN, e, consequentemente, possibilita a realização de soluções para os problemas encontrados. Planejar uma ação em educação nutricional exige identificar o público alvo da ação, identificação da situação problema, nos métodos utilizados e nas metas de resultados esperados a partir das ações de EAN. Além dos aspectos já citados, a Figura 14 apresenta as demais características a serem seguidas para o planejamento de ações educacionais (BRASIL, 2018). TÓPICO 3 —COMPORTAMENTO ALIMENTAR 167 FIGURA 14 – PLANEJAMENTO DE AÇÕES DE EAN FONTE: Brasil (2013, p. 39) O próprio Guia Alimentar para a População Brasileira (2014), dispõe de informações que podem ser repassadas à população de maneira a atingir diferentes níveis de abrangência em EAN, de modo que essas informações são fundamentadas por órgãos competentes, podendo, assim, serem caracterizadas por um material de cunho educativo, ou seja, podem ser consideradas ferramentas de EAN. Temos como exemplo os dez passos para uma alimentação adequada e saudável, descritos na Figura 15. 168 UNIDADE 2 — PRESCRIÇÃO DIETÉTICA, OBJETIVOS NUTRICIONAIS E ORIENTAÇÕES ALIMENTARES PARA INDIVÍDUOS SADIOS FIGURA 15 – DEZ PASSOS PARA UMA ALIMENTAÇÃO ADEQUADA E SAUDÁVEL FONTE: Brasil (2014 p. 125-128) DEZ PASSOS PARA UMA ALIMENTAÇÃO ADEQUADA E SAUDÁVEL 1. Fazer de alimentos in natura ou minim am ente processados a base da alimentação; 2. Utilizar óleos, gorduras, sal e açúcar em pequenas quantidades ao temperar e cozinhar alimentos e criar preparações culinárias; 3. Limitar o consumo de alimentos processados; 4. Evitar o consumo de alimentos ultraprocessados; 5. Comer com regularidade e atenção, em ambientes apropriados e, sempre que possível, com companhia; 6. Fazer compras em locais que ofertem variedades de alimentos in natura ou minimamente processados; 7. Desenvolver, exercitar e partilhar habilidades culinárias; 8. Planejar o uso do tempo para dar à alimentação o espaço que ela merece; 9. Dar preferência, quando fora de casa, a locais que servem refeições feitas na hora; 10. Ser crítico quanto a informações, orientações e mensagens sobre alimentação veiculadas em propagandas comerciais. Um estudo realizado para analisar a relação entre a autopercepção alimentar e a adesão aos dez passos para uma alimentação adequada e saudável, contido no Guia Alimentar para a População Brasileira (BRASIL, 2014), entre estudantes universitários de Porto Alegre/RS, observou uma considerável baixa adesão a oito dos dez passos para uma alimentação adequada e saudável. Sobre considerar a alimentação saudável, demonstrou-se relação inversa com a adesão aos passos do Guia Alimentar, pois apenas três passos foram seguidos por mais de 60% dos alunos que avaliaram positivamente a própria alimentação. Esse contexto sugere que a população pode possuir uma visão distorcida da sua própria alimentação e necessita de uma estratégia de educação nutricional para melhor esclarecer dúvidas quanto à alimentação adequada e saudável (SOUZA; BACKES, 2020). A observação desse estudo demonstra resultados negativos, ao observamos sua conclusão, porém, vale salientar que o sucesso de uma estratégia de educação nutricional não depende apenas da qualidade das informações fornecidas, mas também da forma como está sendo aplicada em determinada população. Entende- se que a estratégia de educação nutricional deve ser executada de modo a atingir efetivamente o público alvo objetivado e, para tal, pode ser necessário utilizar-se de atuações alternativas para o sucesso da ação educacional promovida. TÓPICO 3 —COMPORTAMENTO ALIMENTAR 169 LEITURA COMPLEMENTAR REDESENHO DA PIRÂMIDE ALIMENTAR BRASILEIRA PARA UMA ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL Sonia Tucunduva Philippi A pirâmide alimentar adaptada para a população brasileira (PHILIPPI et al., 1999) foi desenvolvida com o objetivo de transformar e reunir os conhecimentos científicos sobre a ingestão alimentar em um instrumento que facilitasse a seleção e o consumo de todos os grupos de alimentos. Para tanto, foram utilizados alimentos habituais e tradicionais da população brasileira, sugerindo modificações a partir da proposta do Guia Alimentar americano na década de 1990 e incluindo, por exemplo, o feijão como parte do hábito alimentar brasileiro para consumo juntamente com o arroz. Após algumas modificações, os alimentos estão distribuídos na Pirâmide Alimentar em oito grupos de alimentos e em quatro níveis, de acordo com o nutriente que mais se destaca na sua composição. Para cada grupo são estabelecidos valores energéticos, fixados em função da dieta e das quantidades dos alimentos, permitindo estabelecer os equivalentes em energia (kcal). Os nomes dos grupos de alimentos foram definidos para a pirâmide Brasileira a partir da identidade da população com o nome do alimento presente no grupo, considerando o hábito alimentar e o valor nutritivo do alimento. Os valores dos alimentos nas porções foram apresentados em gramas, quilocalorias (kcal) e medidas usuais para facilitar o entendimento da população e a transmissão das orientações. As porções são estabelecidas com base nas medidas usuais, ou seja, a quantidade de alimento em sua forma de consumo, expressa em medidas como xícaras, fatias colheres de sopa ou unidades (4 gomos de laranja, 1 fatia de mamão, 4 unidades de biscoitos, 1 copo de leite). A adoção da medida usual de consumo permite um melhor entendimento da quantidade do alimento, uma vez que está presente na prática alimentar diária do indivíduo e na cultura do país. Para o planejamento de uma dieta adequada com base nos grupos dos alimentos da pirâmide alimentar deve-se considerar “dieta” o conjunto de preparações culinárias, alimentos e bebidas consumidos nas 24 horas a fim de atender às necessidades nutricionais de indivíduos e grupos. Os grupos de alimentos devem ser distribuídos ao longo dia e os alimentos de um grupo não podem ser substituídos por alimentos de outros grupos, pois, todos são importantes e necessários, e nenhum grupo deve ser excluído ou inadequadamente substituído. A pirâmide alimentar adaptada para a população brasileira (PHILIPPI et al., 1999) publicada em 1999, evoluiu para a atual com 2000 170 UNIDADE 2 — PRESCRIÇÃO DIETÉTICA, OBJETIVOS NUTRICIONAIS E ORIENTAÇÕES ALIMENTARES PARA INDIVÍDUOS SADIOS kcal (Quadro 1), proposta após a modificação da recomendação energética média diária para a população brasileira pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) em 2005. QUADRO 1 – VALOR ENERGÉTICO E NÚMERO DE PORÇÕES POR GRUPO DE ALIMENTOS DA PIRÂMIDE ALIMENTAR NO EXEMPLO DA DIETA DE 2000 KCAL Uma dieta adequada deve ser baseada em alimentosde todos os grupos alimentares da pirâmide, principalmente em alimentos em sua forma natural, reforçando o consumo dos grupos das frutas e dos legumes e verduras). As informações nutricionais obrigatórias presentes nos rótulos dos alimentos devem ser objeto de orientação, para que a população desenvolva a prática da busca e do entendimento destas informações. Utilizando-se corretamente o número de porções de cada grupo da pirâmide alimentar, mantendo sua proporção e variedade, a dieta deve ser distribuída entre os macronutrientes conforme a recomendação da Organização Mundial da Saúde, ou seja, 55 a 75% do VET proveniente de carboidratos, 10 a 15% de proteínas e 15 a 30% de lipídios (FAO, 1999) e um consumo adequado, segundo as recomendações para vitaminas, minerais e fibras (DRIs). Box • Valor Energétivo Total (VET). • Carboidratos 55 a 75%. • Proteína 10 a 15%. • Lipídio 15 a 30%. TÓPICO 3 —COMPORTAMENTO ALIMENTAR 171 Planejamento das refeições segundo os grupos de alimentos A alimentação deve ser composta por 4 a 6 refeições diárias, distribuídas em três refeições principais (café da manhã, almoço, jantar), com 15 a 35% das recomendações diárias de energia, e em até três lanches intermediários (manhã, tarde e noite), com 5 a 15% das recomendações diárias de energia. Ao compor a refeição principal, pode-se considerar a participação de uma preparação básica, como por exemplo, arroz com feijão ou massa (ou outro alimento do grupo do arroz) e outro alimento do grupo dos feijões (feijão, lentilha, grão de bico ou soja). Às preparações básicas são acrescidas de acompanhamentos, que devem ser: • Carne, peixe, frango ou ovos em suas diferentes formas de preparo (cozido, assado, grelhado e outras). • Verduras e/ou legumes cozidos, refogados, grelhados, no vapor, servidos em temperatura quente. • Verduras e/ou Legumes, crus ou cozidos servidos em temperatura fria. Recomenda-se o consumo antes da preparação básica, na forma de salada. Para o planejamento da dieta, deve-se levar em consideração o seguinte esquema, que poderá variar conforme o padrão alimentar do indivíduo: • Café da manhã: 1 porção do grupo do arroz, 1 porção do grupo do leite e 1 porção do grupo das frutas. Exemplo: pão integral, café com leite, banana • Almoço e Jantar: 1 porção do grupo do arroz; 1 porção do grupo das verduras e legumes; 1 porção do grupo das frutas; 1 porção do grupo dos feijões e oleaginosas e 1 porção do grupo das carnes e ovos. Exemplo: arroz com feijão, 1 bife, salada de alface e tomate, couve à mineira, salada de fruta • Lanches e outras refeições intermediárias: 1 porção do grupo do arroz, 1 porção do grupo do leite ou 1 porção do grupo das frutas. Exemplo: iogurte, fruta, pães. • Uso moderado dos grupos de óleos e gorduras e açúcares e doces (escolher entre um doce ou uma bebida adoçada por dia). Escolhas alimentares inteligentes Para auxiliar na seleção dos alimentos pode-se utilizar a abordagem de escolhas alimentares inteligentes, que implica na seleção mais adequada baseada no conhecimento e na preservação sobre o valor nutritivo. Visa também 172 UNIDADE 2 — PRESCRIÇÃO DIETÉTICA, OBJETIVOS NUTRICIONAIS E ORIENTAÇÕES ALIMENTARES PARA INDIVÍDUOS SADIOS escolher alimentos e/ou preparações com a finalidade de diminuir o consumo de gorduras e açúcares, aumentando o consumo de frutas, legumes, verduras, grãos integrais, leite, queijo e iogurte. Além disso, visa o estímulo ao consumo dos alimentos regionais e locais, pois além da valorização cultural, provavelmente serão consumidos alimentos com melhor valor nutritivo e mais saborosos, além de reduzir o consumo de alguns alimentos com maior teor de gordura (principalmente trans e saturada), sódio e açúcares. O redesenho da pirâmide dos alimentos e o papel dos lácteos na alimentação A pirâmide é um marco referencial e um ícone ilustrativo dos grupos de alimentos. Faz parte dos desenhos que a população reconhece como guia alimentar pelo seu uso em vários materiais instrucionais desde seu lançamento por Philippi em 1999. Apresenta visibilidade, clareza e nomenclatura apropriada. Existe por parte da população identificação com as figuras dos alimentos, considerando os hábitos alimentares regionais e a diversidade cultural da população brasileira. Apresenta os alimentos, dos diferentes grupos, com seu peso em gramas e na sua forma usual de consumo. Após todos estes anos a figura da pirâmide alimentar é facilmente reconhecida e apresenta fixação de conceitos importantes como variedade dos grupos alimentares e tamanho das porções de alimentos. A proposta do redesenho foi para inclusão e destaque de alimentos importantes na dieta do brasileiro. As alterações foram: No Grupo do arroz, pão, massa, batata, mandioca destacou-se a presença do arroz integral, pão de forma integral, pão francês integral, farinha integral, biscoito integral, aveia, e inclusão da quinoa e do cereal tipo matinal. • No Grupo das frutas houve o realce maior para as frutas regionais: caju, goiaba, graviola e a inclusão dos sucos e salada de frutas. • No Grupo das verduras e legumes foram inclusas as folhas verdes escuras, repolho, abobrinha, berinjela, beterraba, brócolis, couve flor, cenoura com folhas, e a salada com diferentes vegetais. • No Grupo do leite, queijo e iogurte maior visibilidade a todos os alimentos do grupo como fonte importante de riboflavina (B2) e principal fonte de cálcio na alimentação. • No Grupo das carnes e ovos maior destaque para os peixes do tipo salmão e sardinha e peixes regionais e para os cortes mais magros e grelhados, frango sem pele e ovos. • No Grupo dos feijões e oleaginosas o feijão e a soja como preparação culinária, a lentilha e o grão de bico, e as oleaginosas como castanha do brasil e castanha de caju. • No grupo dos óleos e gorduras houve destaque para o azeite e no Grupo de açúcares e doces colocou-se o chocolate e o açucareiro. TÓPICO 3 —COMPORTAMENTO ALIMENTAR 173 Foram incluídas as mensagens sobre a importância das 3 refeições principais (café da manhã, almoço e jantar) e das intermediárias chamadas de lanches da manhã, lanche da tarde e lanche da noite. O destaque para a necessidade da prática da atividade física diária foi mantido considerando-se a importância do binômio alimentação saudável e atividade física diária, tanto para prevenção como para promoção de uma boa qualidade de vida. Compare as duas pirâmides Antiga Pirâmide: Nova Pirâmide: 174 UNIDADE 2 — PRESCRIÇÃO DIETÉTICA, OBJETIVOS NUTRICIONAIS E ORIENTAÇÕES ALIMENTARES PARA INDIVÍDUOS SADIOS As recomendações sobre a utilização dos grupos de alimentos, da Pirâmide Alimentar Brasileira, para o planejamento de uma alimentação saudável, estão baseadas no conceito de segurança alimentar e nutricional e em práticas alimentares saudáveis, Deve-se garantir a todos os indivíduos condições de acesso aos chamados alimentos básicos, com qualidade, em quantidade suficiente, de modo permanente e sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais que contribuam com uma existência digna em um contexto de desenvolvimento integral e saudável . A pirâmide alimentar no processo de educação alimentar e nutricional, apresenta-se como um guia eficaz para o cumprimento destas recomendações. FONTE: <https://doczz.com.br/doc/106083/redesenho-da-pir%C3%A2mide-alimentar-brasileira- -para-uma-alime...>. Acesso em: 15 mar. 2021. 175 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você aprendeu que: • O comportamento alimentar possui diversos fatores desencadeantes das alterações alimentares ao longo da vida. • O ato de se alimentar é essencial à vida humana e que a alimentação é uma atividade rotineira e complexa, uma vez que envolve diversos aspectos, tais como aspectos sociais, econômicos, culturais, preferências e aversões individuais, e, ainda, as experiências alimentares vivenciadas ao longo da vida. • Os mecanismos biológicos envolvidos