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pesquisa e prática em educação - projeto

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PESQUISA E PRÁTICA EM EDUCAÇÃO - 
PROJETO
A APRESENTAÇÃO E CONTEXTUALIZAÇÃO 
DO PROBLEMA
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Olá!
Ao final desta aula, o aluno será capaz de:
1. Compreender o significado da problematização a ser elaborada sobre o tema;
2. analisar os critérios para a definição de problemas de pesquisa e conhecer as características textuais e formais
dos itens “Apresentação do tema” e “Definição do problema”;
3. fazer uma análise do Memorial Descritivo elaborado em PPEV. Você também será orientado a realizar uma
focalização progressiva do tema até a delimitação de um problema de pesquisa e elaborar o item Apresentação
do Tema, especificando os motivos pessoais para a escolha do tema;
4. avaliar o item Situação-problema, apresentando a origem (antecedentes) do problema, bem como o quadro de
referência conceitual e o contexto que explica o problema de pesquisa, mostrando familiaridade com a literatura
(teoria e/ou estudos anteriores).
1 O projeto de pesquisa
Maria Regina Bortolini
No período passado, vimos que toda pesquisa envolve a problematização de um tema e a delimitação de
um objeto de estudo.
Vimos também que a pesquisa exploratória é etapa importante porque nos coloca em contato com
pesquisadores da área que vão nos dar orientações para a pesquisa, envolve uma observação mais cuidadosa da
realidade e o levantamento das produções no campo de estudos em que nos situamos, permitindo o
amadurecimento de nossas opções teórico-metodológicas e a progressiva delimitação de um objeto de
investigação.
Vimos como esse processo é importante para ampliar a abordagem do tema e desenvolver uma visão menos
ingênua dos fenômenos estudados. Primeiro porque as escolhas teóricas passam a ser resultado do confronto de
diferentes abordagens e teorias que, muitas vezes, têm pontos de partida e opõe explicações distintas para os
mesmos fenômenos. Segundo porque, dessa forma, “enxergamos” elementos, contradições, situações que antes
não considerávamos.
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A problematização do tema é o caminho necessário para a progressiva focalização e delimitação mais precisa de
um problema de investigação. Mas nem todo problema pode ser objeto de estudo científico, ou seja, nem todo
tipo de indagação que formulamos sobre a realidade são “problemas de conhecimento”, passíveis de observação
e análise à luz dos instrumentos próprios da ciência.
“Um problema de pesquisa é um problema que se pode ‘resolver’ com conhecimentos e dados já disponíveis ou
com aqueles factíveis de serem produzidos”. (LAVILLE E DIONNE, 1999)
Dessa forma, segundo Gil (1991), problemas do tipo “Como aumentar a autoestima dos professores?”, “Como
alfabetizar as crianças?” ou “O que precisa ser feito para reduzir os índices de analfabetismo?”
Não são problemas científicos, pois embora a pesquisa e o conhecimento científico possam fornecer dados e
indicar pistas que favoreçam a elaboração de planos de ação, esses problemas não indagam sobre as causas e
características de fenômenos, mas sobre como fazer alguma coisa.
Assim como inquietações do tipo “Qual o melhor jogo para ensinar matemática?”, “De que maneira os
professores devem tratar seus alunos?” não são problemas científicos porque remetem a juízos de valor, a
posicionar-se diante de situações considerando o que é bom ou ruim, certo ou errado, questões de natureza
ética. Não que eles não sejam problemas importantes para educação. Apenas não são problemas cuja resposta
possa ser alcançada pelos métodos de pesquisa científica.
Os problemas científicos, portanto, são aqueles voltados para a compreensão dos processos e elementos
constituintes e das características dos fenômenos e cuja solução possa ser encontrada a partir da coleta e análise
sistemática de dados, e da produção de conhecimentos.
Formular um problema consiste em “dizer, de maneira explícita, clara compreensível e operacional, qual a
dificuldade com a qual nos defrontamos e que pretendemos resolver”. (RUDIO, 1986) Deve ser formulado como
pergunta, pois essa é a forma mais direta e fácil de torná-lo compreensível.
Quando dizemos... “As teorias sobre aprendizagem”, quem nos ouve não tem como saber quais são nossas
dúvidas, inquietações, acerca desse tema. A frase em caráter afirmativo indica uma certeza e não uma
dificuldade. Ao contrário, se formulamos como pergunta “Quais as várias teorias de aprendizagem que orientam
as práticas dos professores na escola?”, imediatamente somos remetidos à necessidade de investigar, de
pesquisar para poder encontrar respostas e solucionar a questão.
O rigor necessário à geração de resultados confiáveis exige a delimitação de um objeto específico e de um campo
de observação (universo). Por exemplo:
“O que pensam os professores”? é um problema cuja formulação não está clara e precisa.
O que definimos por “pensar”?
Queremos saber sobre processos fisiológicos ou cognitivos?
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Queremos saber o que pensam os professores, mas em relação a quê?
Ou seja, o objeto não está precisamente definido. Os termos usados na sua formulação não se referem a
conceitos, mas a expressões de linguagem cotidiana, são ambíguos, passíveis de múltiplas interpretações. Os
problemas de pesquisa devem ser formulados de forma clara, precisa e interrogativa, evidenciando uma dúvida
teórica ou empírica. Se não temos clareza do que estamos querendo saber, não será possível decidir sobre os
fundamentos teóricos e os instrumentos para coletar e analisar os dados.
Além disso... De que professores estamos falando? De ensino fundamental ou médio? De Recife, São Paulo ou de
Buenos Aires? O problema precisa estar delimitado a uma dimensão viável, ou seja, a um campo de observação,
um universo de estudo, compatíveis com os meios de investigação. Quantos pesquisadores estão envolvidos no
estudo, quais os recursos e tempo disponíveis?
Estudos que trabalham com um universo muito amplo exigem equipes numerosas e muitos recursos. Estudos
documentais ou experimentais podem requerer instrumentos que exigem conhecimentos técnicos mais
elaborados.
A elaboração de um problema de pesquisa não se encerra na delimitação de um objeto e de um universo. A partir
de um quadro teórico de referência, vamos assumir uma determinada abordagem para o problema. Não é
preciso dizer que a escolha desse quadro de referência e da abordagem do tema/problema deve ser expressão
dos desejos e interesses do pesquisador, mas também deve levar em conta as condições para o desenvolvimento
da pesquisa.
Assim, a primeira questão que se coloca ao aluno(a) em processo de elaboração de seu projeto diz respeito ao
desejo. Todo projeto de pesquisa deve partir de uma inquietação que de fato mobiliza o estudante. O projeto de
pesquisa e o TCC, como trabalho que encerram um ciclo de formação, são reais oportunidades para a aplicação
dos conhecimentos adquiridos ao longo do curso na análise e reflexão de problemas que se colocam na prática
pedagógica.
A problematização da experiência vivida no estágio ou na prática docente geralmente resulta em processo
estimulante porque ressignifica a formação e a prática docente.
O que me chamou a atenção no estágio?
Quais as dificuldades que enfrento na minha prática?
O que mais me interessa?
O que quero conhecer melhor?
O que posso conhecer através da pesquisa?
Meu tema de interesse tem origem em que experiência vivida?
Meus valores orientaram minha escolha do tema/problema?
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Quais são minhas motivações para esse estudo?
Sobre a segunda questão é preciso considerar que, em nosso caso, a pesquisa é um empreendimento sem muitos
recursos e que se dá dentro de um campo específico de formação/pesquisa. Assim, uma consideração importante
é a que se refere à abordagem de seu tema de interesse.
Antes de tudo, é preciso ultrapassar a abordagem meramente pessoal e buscar dar a amplitude e profundidade
necessária ao tema/problema de modo que ele tenha relevância social. Não se faz pesquisa apenas para atender
aos nossos desejos, mas para contribuir para o avançodo conhecimento e do enfrentamento de problemas
realmente significativos, importantes para o campo.
Para além do meu interesse pessoal, é um problema relevante para os profissionais e estudiosos no campo
educacional?
Sua solução daria contribuições importantes?
Quais?
Além disso, frequentemente os temas/problemas eminentemente educacionais podem ser tomados a partir da
perspectiva de outras ciências, de um olhar que se afina com outros campos de estudo que não a Pedagogia. No
entanto, é preciso ter clareza de que não é razoável que um(a) estudante de Pedagogia assuma uma abordagem
médica ou psicológica, por exemplo, na formulação de seu problema de pesquisa, pois, obviamente, ele não tem a
formação adequada ao tratamento do problema nesses termos.
A maior ou menor afinidade e domínio do estudante-pesquisador a uma teoria ou metodologia também devem
ser considerados nesse processo. Nada impede que em outro momento de sua trajetória acadêmica ele faça um
investimento de estudo que permita isso, mas, nesse momento, considerando os outros compromissos a que
geralmente está comprometido(a) é mais prudente restringir as dimensões do estudo para poder desenvolver o
trabalho sem apuro e com qualidade.
Quais são, dentre os conhecimentos que possuo, os que se relacionam com meu tema de interesse e que podem
me ajudar a delimitar o meu problema?
Com quais linhas de pesquisa e teorias, concepções e autores que trabalham com esse tema me afino e como elas
podem contribuir para delimitar melhor meu objeto e universo de estudo?
Outra questão é a das condições efetivas em que se desenvolve a pesquisa. A realização do TCC é um
empreendimento quase sempre solitário, sem recursos que apoiem a sua realização, onde o aluno-pesquisador
tem que conciliar tempo de estudo e trabalho, desenvolver novas competências, entre outros desafios.
Por isso, também é preferível trabalhar com uma delimitação mais restrita do universo que permita o
aprofundamento no tratamento dos dados, a buscar ampliar sobremaneira o campo de observação e
comprometer a adequação dos instrumentos e o rigor metodológico.
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Ainda que o problema seja interessante, são adequadas as minhas competências e condições reais para sua
investigação?
Os recursos e tempo que tenho disponíveis são compatíveis para realizar a investigação?
Ao longo dessa aula, discutimos critérios para a formulação de problemas de pesquisa. Em qualquer pesquisa, a
definição do problema de investigação é processo fundamental, sem o qual a pesquisa não existe. Assim, num
projeto de pesquisa, é preciso apresentar o tema e a formulação do problema.
Agora, então, você deve começar a construir seu projeto de pesquisa científica. Lembre-se: na “Apresentação do
tema”, deve-se procurar contextualizar/situar o objeto de estudo na realidade educacional e no campo de
conhecimento onde se insere. O texto da apresentação deve ser iniciado por um panorama geral sobre o assunto
e progressivamente focar o objeto de estudo. É importante mostrar diferentes ângulos da questão, pois é o
confronto de diferentes perspectivas que vai permitir a sua problematização. Em um outro item, o problema será
colocado.
A “Definição do problema” deve ser iniciada com a exposição da inquietação, dúvida teórica ou da dificuldade
prática que fomentou a busca pela compreensão do fenômeno e culminar com a formulação de uma pergunta
central que irá orientar todo o estudo.
Algumas perguntas podem ajudar sua revisão e, se necessário, a reformulação do texto iniciado em PPE- Projeto:
A apresentação do tema se inicia por uma exposição mais geral sobre o assunto situando-o na realidade
(nacional, regional, local)?
Essa contextualização do objeto, na realidade, é seguida de discussão teórica que situe o objeto no campo de
estudo?
Há referência às principais teorias explicativas do objeto, suas aproximações e divergências?
A definição do problema é iniciada pela exposição das inquietações e dúvidas que motivaram a busca pela
compreensão do fenômeno através da pesquisa?
O problema está formulado como pergunta?
Está claro e preciso quanto ao que se refere?
Os termos utilizados são adequados?
Conduz a julgamento de valor?
Exige a implementação de uma ação para sua solução?
Pode ser observado e analisado com os instrumentos da pesquisa científica?
Sua abordagem é pertinente ao campo dos estudos pedagógicos?
Está limitado a uma dimensão viável?
O universo delimitado está ao meu alcance?
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O que vem na próxima aula
•Definição e tipos de hipóteses;
•conceito e tipos de variáveis;
•a operacionalização de hipóteses;
•enunciação de hipóteses ou questões?;
•características textuais e formais do item “Hipóteses/questões de estudo” do TCC.
CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
• compreendeu o significado da problematização a ser elaborada sobre o tema;
• analisou os critérios para a definição de problemas de pesquisa e conheceu as características textuais e 
formais dos itens “Apresentação do tema” e “Definição do problema”;
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	Olá!
	1 O projeto de pesquisa
	O que vem na próxima aula
	CONCLUSÃO

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