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A palavra límbico significa “em forma de borda ou de anel”. Originalmente, o termo “límbico” foi usado para descrever as estruturas da borda em torno das regiões basais do prosencéfalo, mas, à medida que aprendemos mais sobre as funções do sistema límbico, ele se expandiu com a expressão sistema límbico, utilizada para significar todo o circuito neuronal que controla o comportamento emocional e os impulsos motivacionais. A principal parte do sistema límbico é o hipotálamo, com suas estruturas relacionadas. Além de suas funções no controle comportamental, essas áreas controlam muitas condições internas do organismo, como temperatura corporal, osmolaridade dos líquidos corporais e impulsos para comer, beber e regular o peso do corpo. Essas funções internas são chamadas coletivamente de funções vegetativas do cérebro, cujo controle está intimamente relacionado ao comportamento. Uma importante via de comunicação entre o sistema límbico e o tronco encefálico é o feixe do prosencéfalo medial, que se estende das regiões septal e orbitofrontal do córtex cerebral para baixo, através da região média do hipotálamo, até a formação reticular do tronco encefálico. Esse feixe carrega fibras em ambas as direções, criando um sistema troncular de comunicação. Um segundo modo de comunicação se dá pelas vias curtas entre a formação reticular do tronco encefálico, tálamo, hipotálamo e a maioria das outras áreas contíguas da região basal do encéfalo. Circundando a parte superior do tronco encefálico e o corpo caloso, existe um conjunto de estruturas na face interna do telencéfalo (cérebro) e no assoalho do mesencéfalo que forma o sistema límbico. Os principais componentes do sistema límbico são • O chamado lobo límbico é uma margem de córtex cerebral na face medial de cada hemisfério. Nele estão situados o giro do cíngulo, localizado acima do corpo caloso, e o giro para-hipocampal, localizado no lobo temporal. O hipocampo é uma parte do giro para-hipocampal que se estende até o assoalho do quarto ventrículo • O giro denteado situa-se entre o hipocampo e o giro para-hipocampal • O corpo amigdaloide é composto por vários grupos de neurônios localizados próximo à cauda do núcleo caudado • Os núcleos septais estão localizados na área septal, formada por regiões abaixo do corpo caloso e do giro paraterminal (um giro cerebral) • Os corpos mamilares do hipotálamo são duas massas arredondadas próximas da linha média e dos pedúnculos cerebrais • Dois núcleos talâmicos – o anterior e o medial – participam do sistema límbico (ver as Figura 14.9C, D) • Os bulbos olfatórios são estruturas achatadas pertencentes à via olfatória que estão localizados sobre a lâmina cribriforme • O fórnice, a estria terminal, a estria medular, o fascículo medial do telencéfalo e o fascículo mamilotalâmico são feixes de axônios mielinizados que se conectam entre si. O sistema límbico é por vezes chamado de “cérebro emocional”, pois sua função primária está relacionada com uma série de emoções, tais como dor, prazer, docilidade, afeto e raiva. Ele também está envolvido com o olfato e com a memória. Experimentos mostraram que, quando diferentes áreas de sistemas límbicos de animais são ativadas, as reações dos animais indicam que estão sentido dor intensa ou prazer extremo. A estimulação de outras áreas do sistema límbico de animais gera docilidade e sinais de afeto. A estimulação do corpo amigdaloide ou de certos núcleos hipotalâmicos de um gato produz um padrão comportamental conhecido como raiva – o gato mostra suas garras, eleva sua cauda, abre seus olhos, sibila e cospe. Por outro lado, a remoção do corpo amigdaloide faz com que o animal não sinta medo ou demonstre agressividade. Da mesma maneira, a pessoa cujo corpo amigdaloide está lesado não consegue reconhecer expressões de medo em outros indivíduos ou sentir medo em situações em que isso normalmente seria adequado, como ao ser atacado por um animal. Junto com outras partes do telencéfalo (cérebro), o sistema límbico também parece ter funções na memória; lesões do sistema límbico causam alterações de memória. Uma porção do sistema límbico, o hipocampo parece ter uma característica não vista em outras estruturas da parte central do sistema nervoso – apresentar células que podem passar por mitoses. Assim, a parte do encéfalo que é responsável por alguns aspectos da memória pode desenvolver novos neurônios, mesmo em pessoas idosas. Como esquematizado abaixo, o hipotálamo ocupa uma posição central no sistema límbico, fornecendo um elo de ligação entre as estruturas límbicas telencefálicas (os giros orbitofrontal, do cíngulo e para-hipocampal, o hipocampo, a amígdala e a área septal) e os sítios límbicos mesencefálicos, em especial a substância cinzenta periaquedutal. Hipotálamo e a homeostase comportamental Diversas evidências clínicas e experimentais apontam o hipotálamo como responsável pela integração de diversas respostas endócrinas, autonômicas e comportamentais essenciais para a sobrevivência do indivíduo e da espécie. Desse modo, o hipotálamo é uma peça fundamental no controle da homeostase do meio interno, bem como está criticamente envolvido no controle neural de comportamentos que garantem a preservação do indivíduo ou da espécie (homeostase comportamental) e que são, portanto, cercados de alto teor emocional. O hipotálamo está localizado acima da hipófise e ocupa a posição ventral do diencéfalo ao redor do terceiro ventrículo. Pode ser dividido em três zonas longitudinais (periventricular, medial e lateral) e quatro regiões distintas no sentido rostrocaudal (pré-óptica, anterior, tuberal e mamilar) O hipotálamo, apesar de seu pequeno tamanho de apenas alguns centímetros cúbicos (pesando apenas cerca de 4 gramas), contém vias de comunicação bidirecionais com todos os níveis do sistema límbico. Por sua vez, o hipotálamo e as suas estruturas intimamente conectadas enviam sinais de saída em três direções: (1) posterior e descendente para o tronco encefálico, principalmente nas áreas reticulares do mesencéfalo, ponte e medula, e dessas para os nervos periféricos do sistema nervoso autônomo; (2) ascendente em direção a muitas áreas superiores do diencéfalo e do prosencéfalo, sobretudo para o tálamo anterior e porções límbicas do córtex cerebral; e (3) para o infundíbulo hipotalâmico, a fim de controlar, total ou parcialmente, a maioria das funções secretoras da adeno-hipófise e da neuro-hipófise. Dessa maneira, o hipotálamo, que representa menos de 1% da massa encefálica, é uma das mais importantes vias de controle do sistema límbico. Ele regula a maioria das funções vegetativas e endócrinas do organismo, além de muitos aspectos do comportamento emocional. A zona periventricular do hipotálamo, que contém os núcleos periventricular, paraventricular e arqueado. Exerce papel fundamental no controle do sistema endócrino, tanto através da secreção de hormônios que são liberados para a circulação sistêmica na neuro-hipófise, quanto pela secreção de hormônios reguladores liberados ao nível da eminência mediana, que controlam a síntese e a liberação hormonal na adeno-hipófise. Na zona periventricular, ainda encontramos grupos celulares diretamente envolvidos no controle de neurônios pré-ganglionares das divisões simpática e parassimpática. A zona medial do hipotálamo, que contém os núcleos pré-óptico medial, anterior, ventromedial e dorsomedial, por outro lado, recebe grande contingente de aferências oriundas das regiões límbicas do telencéfalo e está intimamente envolvida na organização de respostas comportamentais críticas para a sobrevivência do indivíduo no meio em que habita (comportamento de defesa), bem como da espécie (comportamentos reprodutores). A zona lateral do hipotálamo, localizada lateralmente às colunas do fórnix, por sua vez, é composta por neurônios dispersos entre as fibras do fascículo prosencefálico medial. Do ponto de vista funcional, a zona lateral parece integrar respostas de alerta generalizado, particularmente evidentes quando da execuçãode comportamentos motivados. A homeostase comportamental é um paralelo que fazemos em relação ao conceito da preservação do meio interno e se refere a uma série de respostas comportamentais que garantem a preservação do indivíduo ou da espécie, tais como a ingestão hídrica e os comportamentos alimentar, de defesa e reprodutor. Alguns estados motivacionais são conhecidos como impulsos e, em geral, têm três propriedades em comum: (1) aumentam o estado de alerta do SNC, (2) geram comportamentos orientados a um objetivo e (3) são capazes de coordenar comportamentos distintos para alcançar tal objetivo. Os comportamentos motivados muitas vezes funcionam em paralelo a respostas autonômicas e endócrinas, como você esperaria com os comportamentos originados no hipotálamo. Por exemplo, se você come pipoca salgada, a osmolaridade do seu corpo aumenta. Este estímulo atua no centro da sede do hipotálamo, motivando você a procurar alguma coisa para beber. O aumento da osmolaridade também atua no centro endócrino do hipotálamo, liberando um hormônio que aumenta a retenção de água pelos rins. Desse modo, um estímulo provoca tanto um comportamento motivado como uma resposta endócrina homeostática. Regulação da água corporal O hipotálamo regula a água corporal de duas maneiras: (1) criando a sensação de sede, que leva o animal ou a pessoa a beber água; e (2) controlando a excreção de água na urina. Uma área chamada centro da sede está localizada no hipotálamo lateral. Quando os eletrólitos líquidos nesse centro ou em áreas próximas se tornam muito concentrados, o animal desenvolve um desejo intenso de beber água; ele procurará a fonte de água mais próxima e beberá o suficiente para retornar à normalidade a concentração de eletrólitos do centro da sede. O controle da excreção renal de água é realizado principalmente nos núcleos supraópticos. Quando os líquidos corporais ficam muito concentrados, os neurônios dessas áreas são estimulados. As fibras nervosas desses neurônios projetam-se para baixo através do infundíbulo do hipotálamo até a neuro-hipófise, onde as terminações nervosas secretam o hormônio antidiurético (também chamado de vasopressina). Esse hormônio é, então, absorvido pela circulação sanguínea e transportado para os rins, onde atua nos túbulos coletores e nos ductos coletores dos rins para aumentar a reabsorção de água. Essa ação diminui a perda de água na urina, mas possibilita a excreção contínua de eletrólitos, reduzindo, assim, a concentração dos líquidos corporais de volta ao normal. (Guyton) Ingestão hídrica A composição do líquido corporal é defendida em detrimento de praticamente todas as outras funções do organismo. Dois parâmetros são utilizados para sinalizar mudanças na composição do líquido corporal: a osmolalidade do plasma (cuja importância é dada pelo íon sódio) e o volume de líquido extracelular (VEC). Os aumentos na osmolalidade são detectados diretamente por osmorreceptores localizados no órgão subfornical (SFO) e na extremidade rostral do terceiro ventrículo, que inclui o órgão vascular da lâmina terminal e o núcleo pré-óptico mediano Reduções no VEC são detectadas por dois mecanismos. O primeiro envolve as células justaglomerulares renais. A hipovolemia leva a aumento da secreção da renina pelo rim, uma enzima proteolítica que transforma o angiotensinogênio em angiotensina I, a qual é então hidrolisada em angiotensina II nos pulmões. A angiotensina II, por sua vez, induz a liberação de aldosterona no córtex da suprarrenal, atuando na musculatura lisa dos vasos, promovendo vasoconstrição, além de ter efeito fundamental no sistema nervoso central via órgão subfornical O segundo mecanismo envolve barorreceptores do sistema cardiovascular, os quais via nervo vago mandam informações do VEC ao núcleo do trato solitário no tronco encefálico. Importante notar que as informações dos receptores de volume cardiovascular e dos osmorreceptores do fígado e da boca seca são transmitidas via nervo vago e glossofaríngeo, as quais são enviadas ao hipotálamo, via grupamentos catecolaminérgicos do tronco cerebral, como o núcleo do trato solitário Esses mecanismos sensoriais levam a uma série de respostas neuroendócrinas, autonômicas e comportamentais. Destacam-se o núcleo pré-óptico mediano (MePO), o qual desempenha papel central na organização de comportamento de ingestão hídrica. Além de conter osmorreceptores, o MePO recebe projeções de grupos celulares catecolaminérgicos no tronco cerebral, os quais veiculam informações relacionadas aos receptores de volume cardiovasculares, e também do órgão subfornical (SFO). A comunicação entre o SFO e o MePO é mediada por projeções angiotensinérgicas que por si sós são capazes de provocar o comportamento de ingestão hídrica. O controle do MePO no comportamento de beber é mediado por suas projeções para a área hipotalâmica lateral e para a divisão descendente do núcleo hipotalâmico paraventricular (PVHd). (Margarida) Controle cardiovascular A estimulação de diferentes áreas do hipotálamo pode causar muitos efeitos neurogênicos no sistema cardiovascular, incluindo alterações na pressão arterial e na frequência cardíaca. Em geral, a estimulação nas regiões posterior e lateral do hipotálamo aumenta a pressão arterial e a frequência cardíaca, ao passo que a estimulação na área pré-óptica costuma ter efeitos opostos, causando diminuição na frequência cardíaca e na pressão arterial. Esses efeitos são transmitidos principalmente por meio de centros de controle cardiovascular específicos nas regiões reticulares da ponte e da medula. Seção coronal do hipotálamo Regulação da temperatura corporal A porção anterior do hipotálamo, especialmente a área pré-óptica, está relacionada à regulação da temperatura corporal. Uma elevação na temperatura do sangue que flui por essa área aumenta a atividade dos neurônios sensíveis à temperatura, enquanto uma diminuição na temperatura reduz sua atividade. Por sua vez, esses neurônios controlam os mecanismos para elevar ou baixar a temperatura corporal Regulação da contratilidade uterina e da ejeção de leite pelas mamas A estimulação dos núcleos paraventriculares faz com que suas células neuronais secretem o hormônio ocitocina. Esse hormônio, por sua vez, causa aumento da contratilidade do útero, bem como a contração das células mioepiteliais ao redor dos alvéolos das mamas, fazendo os alvéolos esvaziarem o leite pelos mamilos. No final da gravidez, há secreção de quantidades especialmente grandes de ocitocina, e essa secreção ajuda a promover as contrações do parto que expelem o feto. Então, sempre que o neonato sugar a mama da mãe, um sinal reflexo do mamilo para o hipotálamo posterior causará nova liberação de ocitocina, que agora tem a função necessária de contrair os ductos mamários, expelindo assim o leite pelos mamilos para que o neonato possa alimentar-se. Regulação gastrointestinal e alimentar A estimulação de diversas áreas do hipotálamo faz com que o animal experimente fome extrema, apetite voraz e desejo intenso de busca por alimento. Uma região associada à fome é a área hipotalâmica lateral. Por outro lado, quando danificada em ambos os lados do hipotálamo, o animal perde o desejo por comida, podendo chegar à inanição letal. Um centro que se opõe ao desejo por comida, denominado centro de saciedade, está localizado nos núcleos ventromediais. Quando ele é estimulado eletricamente, um animal que está comendo interrompe de repente a ingestão de alimento e mostra completa indiferença à comida. No entanto, se essa área for destruída bilateralmente, o animal não pode ser saciado; em vez disso, seus centros hipotalâmicos de fome tornam-se hiperativos, fazendo-o ter um apetite voraz, resultando em obesidade significativa. O núcleo arqueado do hipotálamo contém pelo menos dois tipos diferentes de neurônios que, quando estimulados, aumentam ou diminuem o apetite. Outra área do hipotálamo que entra no controle geral da atividade gastrointestinal são os corpos mamilares, os quais controlam, ao menosparcialmente, os padrões de muitos reflexos alimentares, como lamber os lábios e deglutir. Controle hipotalâmico da secreção de hormônios pela adeno-hipófise A estimulação de certas áreas do hipotálamo também faz com que a adeno-hipófise secrete seus hormônios. Em relação ao controle neural das glândulas endócrinas. De maneira resumida, os mecanismos básicos são os seguintes. A adeno-hipófise recebe seu suprimento sanguíneo principalmente do sangue que flui primeiro pela parte inferior do hipotálamo e, em seguida, pelos sinusóides da adeno-hipófise. À medida que o sangue percorre o hipotálamo, antes de irrigar a adeno-hipófise, hormônios liberadores e hormônios inibitórios são secretados no sangue por vários núcleos hipotalâmicos. Esses hormônios são, então, transportados pelo sangue para a adeno-hipófise, onde atuam nas células glandulares para controlar (estimular ou inibir) a liberação de hormônios adeno-hipofisários específicos. Controle hipotalâmico do ritmo circadiano | Núcleo supraquiasmático. O núcleo supraquiasmático (NSQ) do hipotálamo contém cerca de 20.000 neurônios e está localizado acima do quiasma óptico, onde os nervos ópticos se cruzam sob o hipotálamo. Os neurônios do NSQ servem como um “relógio mestre”, com uma frequência de disparo do marca-passo que segue um ritmo circadiano. Essa função de marca-passo é fundamental para a organização do sono em um padrão circadiano recorrente de sono e vigília de 24 horas. As lesões do NSQ causam muitos distúrbios fisiológicos e comportamentais, incluindo a perda dos ritmos circadianos de sono-vigília. Assim, o NSQ direciona os ciclos diários de nossa fisiologia e comportamento que definem o ritmo de nossa vida. O núcleo supraquiasmático (NSQ) do hipotálamo serve como um “relógio mestre” para muitas atividades fisiológicas, mentais e comportamentais. O NSQ recebe inervação direta da retina por meio do trato retino-hipotalâmico (TRH) para entrar em atividade nos ciclos diurnos e noturnos. Os neurônios do NSQ se projetam para vários centros cerebrais, os quais contêm relógios circadianos locais que regem os ritmos circadianos autônomos e neuroendócrinos de alimentação-jejum, sono-vigília. Esses sinais sistêmicos sincronizam nos tecidos periféricos os relógios moleculares locais, os quais, então, direcionam a expressão gênica circadiana que regula os ritmos fisiológicos, incluindo aqueles relacionados a alerta mental e cognição, regulação cardiovascular, metabolismo e função renal. O NSQ é organizado em grupos funcionais específicos que controlam os padrões rítmicos dos relógios biológicos em outras partes do corpo. Esses relógios biológicos são compostos por um conjunto complexo de fatores de transcrição gênica, proteínas/enzimas e outros agentes reguladores que operam para estabelecer ritmos circadianos na maioria dos organismos vivos, incluindo mamíferos, micróbios e até plantas. Esses relógios biológicos, encontrados em quase todos os tecidos e órgãos do corpo, são capazes de manter seus próprios ritmos circadianos, embora estes sejam geralmente mantidos por apenas alguns dias na ausência de sinais do NSQ Depois que o relógio NSQ estabelece seu ritmo circadiano, essa informação é transmitida a outras regiões do cérebro por potenciais de ação e a vários órgãos e tecidos por meio de sinais nervosos e hormonais. Os axônios do NSQ projetam-se para outras regiões do hipotálamo, que são especialmente importantes para as variações circadianas da temperatura corporal, do ciclo sono-vigília e de várias alterações hormonais. Embora endógenos e autossustentados, os ritmos circadianos do NSQ são alterados (“arrastados”) por mudanças ambientais, como temperatura e tempo do ciclo claro-escuro. O NSQ recebe aferência neural de células ganglionares intrinsecamente fotossensíveis da retina, que são altamente especializadas, contêm o fotopigmento melanopsina e transmitem sinais através do trato retino-hipotalâmico. A importância dessa via na alteração da sincronização dos ritmos circadianos é ilustrada pela observação de que uma pessoa que viaja por vários fusos horários pode experimentar dessincronia circadiana (jet lag), mas seu relógio circadiano acaba sendo sincronizado com o horário diurno local. Resumo. Várias áreas do hipotálamo controlam funções vegetativas e endócrinas específicas. As funções dessas áreas não são compreendidas em sua totalidade, de modo que a especificação apresentada anteriormente de diferentes áreas para diversas funções hipotalâmicas ainda é, em parte, provisória. FUNÇÕES COMPORTAMENTAIS DO HIPOTÁLAMO E ESTRUTURAS LÍMBICAS ASSOCIADAS Efeitos causados pela estimulação do hipotálamo. Além das funções vegetativas e endócrinas do hipotálamo, a estimulação ou a ocorrência de lesões no hipotálamo frequentemente tem efeitos profundos no comportamento emocional de animais e seres humanos. Alguns dos efeitos comportamentais da estimulação são os seguintes: 1. A estimulação no hipotálamo lateral não apenas causa sede e fome, conforme discutido anteriormente, mas também aumenta o nível geral de atividade do animal, levando-o, algumas vezes, à ira e a brigas, como será abordado adiante. 2. A estimulação no núcleo ventromedial e em áreas adjacentes causa principalmente efeitos opostos aos ocasionados pela estimulação hipotalâmica lateral – isto é, sensação de saciedade, diminuição da alimentação e tranquilidade. 3. A estimulação de uma zona estreita de núcleos periventriculares, localizada imediatamente adjacente ao terceiro ventrículo (ou também a estimulação da área cinzenta central do mesencéfalo, que é contínua com essa porção do hipotálamo), geralmente leva a reações de medo e punição. 4. O impulso sexual pode ser estimulado de diversas áreas do hipotálamo, sobretudo das porções mais anteriores e posteriores. Efeitos causados por lesões hipotalâmicas. Lesões no hipotálamo em geral, causam efeitos opostos aos ocasionados pela estimulação, como os seguintes: 1. Lesões bilaterais no hipotálamo lateral reduzem a ingestão de bebidas e alimentos quase a zero, geralmente levando à inanição letal. Essas lesões também causam extrema passividade do animal, com perda de muitos de seus impulsos motivacionais. 2. Lesões bilaterais das áreas ventromediais do hipotálamo causam efeitos que são, principalmente, opostos aos ocasionados pelas lesões na região do hipotálamo lateral: bebida e comida em excesso, bem como hiperatividade e acessos frequentes de ira extrema à menor provocação. Estimulação ou ocorrência de lesões em outras regiões do sistema límbico, especialmente na amígdala, na área septal e nas áreas do mesencéfalo, com frequência, produzem efeitos semelhantes aos provocados pelo hipotálamo. Discutiremos alguns desses efeitos com mais detalhes adiante. FUNÇÃO DE “RECOMPENSA” E “PUNIÇÃO” DO SISTEMA LÍMBICO As estruturas límbicas estão associadas à natureza afetiva das sensações sensoriais – isto é, se as sensações são agradáveis ou desagradáveis. Essas qualidades afetivas também são chamadas de recompensa ou punição, ou satisfação ou aversão. A estimulação elétrica de certas áreas límbicas agrada ou satisfaz o animal, enquanto a estimulação elétrica de outras regiões causa terror, dor, medo, defesa, reações de fuga e todos os outros elementos de punição. Os graus de estimulação desses dois sistemas de resposta oposta afetam muito o comportamento do animal. Centros de recompensa Por meio de estudos experimentais usando estimuladores elétricos para mapear os centros de recompensa e punição do cérebro, os principais centros de recompensa foram encontrados ao longo do fascículo prosencefálico medial, especialmente nos núcleos lateral e ventromedial do hipotálamo. É interessante que o núcleo lateral esteja incluído entre as áreas de recompensa, porque estímulos fortes nessa área podem, na verdade, causar ira. No entanto, esse fenômeno ocorre em muitas áreas, com os estímulos mais fracos dando uma sensação de recompensa, e os mais fortes, uma sensação de punição. Centros de recompensa menos potentes, que talvez sejam secundáriosaos principais no hipotálamo, são encontrados na área septal, na amígdala, em certas partes do tálamo e nos núcleos da base e estendendo-se para baixo no tegmento basal do mesencéfalo Centros de punição As regiões mais potentes para tendências de punição e fuga foram encontradas na área cinza central ao redor do aqueduto cerebral, no mesencéfalo, e estendendo-se para cima nas zonas periventriculares do hipotálamo e do tálamo. Áreas de punição menos potentes encontram-se em alguns locais na amígdala e no hipocampo. É muito interessante o fato de a estimulação nos centros de punição poder frequentemente inibir por completo os centros de recompensa e prazer, demonstrando que a punição e o medo são capazes de prevalecer sobre o prazer e a recompensa. Associação da ira com centros de punição Um padrão emocional que não só envolve os centros de punição do hipotálamo e de outras estruturas límbicas, mas também foi bem caracterizado é o padrão da ira, descrito a seguir. A forte estimulação dos centros de punição do cérebro, especialmente na zona periventricular do hipotálamo e no hipotálamo lateral, faz com que o animal: (1) desenvolva uma postura de defesa; (2) estenda suas garras; (3) erga sua cauda; (4) silve; (5) babe; (6) rosne; e (7) desenvolva piloereção, olhos arregalados (retração palpebral) e pupilas dilatadas. Além disso, até a menor provocação causa um ataque selvagem imediato. Esse comportamento – próximo do que seria esperado de um animal em grave punição – é um padrão comportamental denominado ira. Felizmente, no animal normal, o fenômeno da ira é controlado sobretudo por sinais inibitórios dos núcleos ventromediais do hipotálamo. Além disso, porções do hipocampo e do córtex límbico anterior, em especial, no giro cingulado anterior e no giro subcaloso, ajudam a suprimir o fenômeno da ira. Placidez e docilidade. Os padrões de comportamento emocional exatamente opostos à ira ocorrem quando os centros de recompensa são estimulados. A estimulação desses centros produz placidez e mansidão. IMPORTÂNCIA DA RECOMPENSA OU PUNIÇÃO NO COMPORTAMENTO Quase tudo o que fazemos está relacionado, de algum modo, com recompensa e punição. Se estamos fazendo algo gratificante, continuamos a fazê-lo; se for punitivo, paramos de fazê-lo. Portanto, os centros de recompensa e punição, sem dúvida, constituem um dos mais importantes dentre todos os controladores de nossas atividades corporais, nossos impulsos, nossas aversões e nossas motivações. Efeito de fármacos sedativos nos centros de recompensa ou punição A administração de um fármaco com ação sedativa, como a clorpromazina, geralmente inibe os centros de recompensa e punição, diminuindo a reatividade afetiva do animal. Portanto, presume-se que os tranquilizantes funcionem em estados psicóticos, suprimindo muitas das importantes áreas comportamentais do hipotálamo e de suas regiões associadas do cérebro límbico. Importância da recompensa ou punição no aprendizado e na memória | Hábito versus reforço Experimentos com animais mostraram que uma experiência sensorial não causadora de recompensa nem de punição dificilmente é lembrada. Registros elétricos do cérebro evidenciam que um estímulo sensorial recém-experimentado quase sempre excita múltiplas áreas do córtex cerebral. No entanto, se a experiência sensorial não desencadear uma sensação de recompensa ou de punição, a repetição contínua do estímulo levará à extinção quase completa da resposta do córtex cerebral – isto é, o animal se tornará habituado a esse estímulo sensorial específico e, a partir de então, passará a ignorá-lo. Se o estímulo causa recompensa ou punição (em vez de indiferença), a resposta do córtex cerebral torna-se progressivamente mais e mais intensa durante a estimulação repetida, em vez de desaparecer, sendo então a resposta considerada reforçada. Um animal constrói fortes traços de memória para sensações recompensadoras ou punitivas, mas, de maneira inversa, desenvolve uma habituação completa a estímulos sensoriais indiferentes. É evidente que os centros de recompensa e punição do sistema límbico têm muito a ver com a seleção das informações que aprendemos, geralmente descartando mais de 99% delas e selecionando menos de 1% para retenção. Hipocampo O hipocampo é a porção alongada do córtex cerebral que se dobra para dentro a fim de formar a superfície ventral de grande parte do interior do ventrículo lateral. Uma extremidade do hipocampo faz contato com os núcleos amigdaloides e, ao longo de sua borda lateral, funde-se com o giro para-hipocampal, que é o córtex cerebral na superfície ventromedial externa do lobo temporal. O hipocampo (e as suas estruturas adjacentes do lobo temporal e parietal, conjuntamente chamadas de formação hipocampal) tem inúmeras conexões, mas principalmente indiretas, com muitas porções do córtex cerebral, bem como com as estruturas basais do sistema límbico – amígdala, hipotálamo, septo e corpos mamilares. Quase todos os tipos de experiência sensorial causam ativação de pelo menos alguma parte do hipocampo, que, por sua vez, distribui muitos sinais eferentes para o tálamo anterior, hipotálamo e outras partes do sistema límbico, sobretudo através do fórnice, que é uma importante via de comunicação. Assim, o hipocampo é um canal adicional por meio do qual os sinais sensoriais que chegam podem iniciar reações comportamentais para diferentes propósitos. Como em outras estruturas límbicas, é possível que a estimulação de diferentes áreas do hipocampo leve a quase qualquer um dos diferentes padrões de comportamento, como prazer, ira, passividade ou excesso de desejo sexual. Outra característica do hipocampo é que ele pode tornar-se hiperexcitável. Por exemplo, é possível estímulos elétricos fracos provocarem convulsões epilépticas focais em pequenas Áreas do hipocampo. Essas convulsões geralmente persistem por muitos segundos após o término da estimulação, o que sugere que o hipocampo é capaz, talvez, de emitir sinais de saída prolongados, mesmo em condições normais de funcionamento. Durante as crises convulsivas de origem no hipocampo, a pessoa experimenta vários efeitos psicomotores, incluindo olfatórios, visuais, auditivos, táteis e outros tipos de alucinações que não podem ser suprimidas enquanto a crise persistir, mesmo que o indivíduo não tenha perdido a consciência e saiba que essas alucinações são irreais. Provavelmente, uma das razões para essa hiperexcitabilidade dos hipocampos é que eles apresentam um tipo diferente de córtex (com apenas três camadas de células nervosas em algumas de suas áreas), em relação a outras partes do cérebro, em que são encontradas seis camadas.