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Catalogação na Fonte Elaborado por: Josefina A. S. Guedes Bibliotecária CRB 9/870 F537 2019 Fisiopatologia das doenças: dos aspectos moleculares do câncer de colo do útero às novas perspectivas dos biomarcadores da doença de Alzheimer Maine Virgínia Alves Confessor (Organizadora). - 1. ed. - Curitiba: Appris, 2019. 149 p. ; 21 cm (Multidisciplinaridade em saúde e humanidades) Inclui bibliografias ISBN 978-85-473-2454-4 1. Fisiopatologia. 2. Câncer. 3. Alzheimer, Doença de. 4. Marcadores bioquímicos. I. Confessor, Maine Virgínia Alves. II. Título. III. Série CDD – 611.01851 Livro de acordo com a normalização técnica da ABNT. Editora e Livraria Appris Ltda. Av. Manoel Ribas, 2265 – Mercês Curitiba/PR – CEP: 80810-002 Tel: (41) 3156-4731 | (41) 3030-4570 http://www.editoraappris.com.br/ http://www.editoraappris.com.br/ Editora Appris Ltda. 1ª Edição - Copyright© 2019 dos autores Direitos de Edição Reservados à Editora Appris Ltda. Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei nº 9.610/98. Se incorreções forem encontradas, serão de exclusiva responsabilidade de seus organizadores. Foi feito o Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional, de acordo com as Leis nºs 10.994, de 14/12/2004 e 12.192, de 14/01/2010. FICHA TÉCNICA EDITORIAL Augusto V. de A. Coelho Marli Caetano Sara C. de Andrade Coelho COMITÊ EDITORIAL Andréa Barbosa Gouveia - UFPR Edmeire C. Pereira - UFPR Iraneide da Silva - UFC Jacques de Lima Ferreira - UP Marilda Aparecida Behrens - PUCPR EDITORAÇÃO Bruno Ferreira Nascimento ASSESSORIA EDITORIAL José Bernardo dos Santos Jr. DIAGRAMAÇÃO Jhonny Alves dos Reis CAPA Eneo Lage REVISÃO Natália Mendonça GERÊNCIA COMERCIAL Eliane de Andrade GERÊNCIA DE FINANÇAS Selma Maria Fernandes do Valle COMUNICAÇÃO Ana Carolina Silveira da Silva Carlos Eduardo Pereira Igor do Nascimento Souza LIVRARIAS E EVENTOS Milene Salles | Estevão Misael CONVERSÃO PARA E-PUB Carlos Eduardo H. Pereira COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO MULTIDISCIPLINARIDADES EM SAÚDE E HUMANIDADES DIREÇÃO CIENTIFICA Dra. Doutora Márcia Gonçalves - UNITAU CONSULTORES Lilian Dias Bernardo – IFRJ Taiuani Marquine Raymundo - UFPR Janaína Doria Líbano Soares - IFRJ Rubens Reimao – USP Edson Marques – Unioeste Maria Cristina Marcucci Ribeiro – UNIAN-SP Maria Helena Zamora – PUC-Rio Aidecivaldo Fernandes de Jesus – FEPI Zaida Aurora Geraldes – FAMERP Aos nossos pais, por todo amor e cuidados a nós dispensados. AGRADECIMENTOS Obrigada primeiramente a Deus pela nossa vida e pela companhia de todos aqueles que amamos; pelas oportunidades únicas e maravilhosas proporcionadas e aquelas que ainda estão por vir. Agradecemos aos nossos pais. Quando engatinhamos, ensinaram- nos a andar, quando aprendemos a correr, deixaram-nos voar e, assim, fomos buscar nossos sonhos, sabendo que sempre que precisássemos poderíamos voltar e pousar. Estariam nos esperando com seus braços sempre abertos. Aos nossos primeiros e eternos amores, obrigada. Aos nossos familiares, que sempre nos apoiaram e sempre que possível também nos ajudaram. Obrigada pelo amor e pelo carinho. Aos nossos amores, agradecemos a cada companheiro(a) de jornada por todos os momentos de felicidade proporcionados, por todo amor, por todo apoio, não somente na execução deste trabalho, mas também em todas as etapas das nossas vidas, pelo companheirismo, afeto. Obrigada pela compreensão nas tantas vezes que precisamos abdicar da companhia, almejando um futuro sempre melhor. A todos os nossos verdadeiros amigos, que sempre estiveram por perto apoiando, ou os de longe, que também compartilharam conosco todos os momentos. Histórias nunca faltarão. Muito obrigada, amigos e companheiros de aprendizado. Agradecemos aos professores que nunca mediram esforços em nos ajudar a crescer pessoalmente e profissionalmente. Cada professor que passou por nossas vidas foi único e especial. Quaisquer palavras seriam insuficientes para expressar nosso reconhecimento e admiração por esses profissionais que, além de serem dotados de inesgotável conhecimento, ainda têm grandeza e generosidade em seus corações. Agradecemos ao Centro Universitário Unifacisa / Faculdade de Ciências Médicas de Campina Grande (FCM-CG/Unifacisa), instituição que acredita na capacidade dos discentes e docentes, apoia o progresso destes e incentiva a pesquisa. Por fim, agradecemos ao querido coordenador do Curso de Medicina da Unifacisa, Professor Antônio Henriques, pessoa da mais elevada competência, carisma e dedicação. Obrigada por aceitar com carinho escrever o prefácio deste livro. Essa atitude só demonstra a seriedade e o amor com que somos vistos dentro da Unifacisa, quanto reconhecimento a nós é dispensado. Temos orgulho de fazer parte dessa instituição. A todos vocês, nosso agradecimento eterno! APRESENTAÇÃO Todos os semestres ministro a disciplina de Patologia. Inicio o período letivo com a apresentação do plano de ensino e explicação sobre como funcionará a metodologia avaliativa para aquele semestre. Todas as vezes é lançada a proposta de os alunos escreverem um trabalho na forma de artigo, sobre o tema de sua preferência, desde que englobe a Patologia. A ideia não é que os alunos ganhem pontos extras ou com facilidade, pelo contrário; o percentual atribuído ao trabalho é pequeno: 10% do valor total da nota. A proposta é lançar esses alunos, desde o início de suas formações acadêmicas, no mundo da pesquisa e da produção científica. O mundo das pesquisas me encanta. Desde o início da minha formação, em 2006, conheci esse meio e nunca mais me afastei. Sei da importância das publicações tanto para quem publica quanto para quem recebe os dados e a informação científica; é importante para o currículo e é importante para a sociedade. Dessa forma, sempre quero que meus alunos conheçam esse meio e se beneficiem do que as pesquisas podem trazer para suas vidas. O trabalho de Patologia se enquadra exatamente nesse cenário. Não são todos os trabalhos que resultarão em alguma publicação, pelo contrário; a minoria segue para correções, alterações, melhorias etc. Tudo vai depender do interesse dos alunos, mas a proposta foi lançada. A maioria – quase todos – dos capítulos deste livro foi iniciada dessa forma, como um trabalho de Patologia. Obviamente demandou tempo e muitas alterações para que esses capítulos ficassem prontos. Houve tantas mudanças, tantas trocas de e-mails, tantas correções, que é impossível estimar quanto de vida se gastou para que o livro “nascesse”. Mas uma opinião é unânime: valeu a pena. Obrigada, meus queridos alunos, que acreditaram na proposta, interessaram-se pela pesquisa e foram adiante na pesquisa, mesmo antes de saber que seus trabalhos resultariam em um livro. Cada capítulo deste livro demandou um mínimo de um ano para ser finalizado e ficar pronto para a sociedade. Temos capítulos que tiveram seus dados parciais apresentados em eventos e foram premiados. Quanto orgulho! O capítulo 5, por exemplo, foi premiado na categoria de melhores trabalhos no III Congresso Paraibano Multiprofissional da Saúde, promovido pela ASPEPB, realizado no auditório da Universidade Estadual da Paraíba, em Campina Grande (PB). Dois dos capítulos se tornaram trabalhos de conclusão de curso e fizeram parte da história de acadêmicos de Nutrição, Enfermagem e Biomedicina. Que bom saber que fiz parte da história de vida de vocês. O primeiro capítulo se tornará um projeto extensionista, objetivando disseminar os conhecimentos acerca da fisiopatologia do câncer de colo de útero (CCU) e enfatizando a importância da prevenção, diagnóstico e tratamento das coinfecções para prevenção da manifestação do HPV e, consequentemente, gerando melhoria na qualidade de vida da população local. Pretende-se conscientizar e informar a população feminina atendida em Unidades Básicas de Saúde da cidade de Campina Grande sobre a importância do tema e formas de prevenção do CCU. Não é fácil orientar alunos “de primeira viagem”, como normalmente aconteceao pedir esse trabalho na disciplina de Patologia, que normalmente é ministrada no segundo período de curso. Mas é imensamente prazeroso ver os frutos, ver o crescimento pessoal e profissional de cada aluno. É imensamente gratificante saber que orientei o primeiro trabalho publicado de cada um desses alunos e saber que fiz parte da história de cada um. E, para finalizar, agradeço aos demais autores deste livro pela confiança, pelo empenho e dedicação. Cada autor faz parte da minha história também. O livro é a concretização de esforço mútuo e isso comprova o interesse dos alunos pela pesquisa e em melhorar a qualidade de vida da população. Enfim, foi assim que nasceu o primeiro Fisiopatologia das doenças. A organizadora, Maine Virgínia Alves Confessor PREFÁCIO Recebi de Maine Confessor a honrosa missão de prefaciar seu livro. Conheci a professora Maine na Unifacisa, onde ela leciona, já há algum tempo, a disciplina de Mecanismos de Agressão e Defesa – Patologia. Dinâmica, envolvida, divertida e antenada, ela tem se revelado uma excepcional mestre para nossos alunos do curso de medicina. A iniciativa de redigir um livro é louvável desde a sua concepção. Num país em que cientistas são relegados ao último plano, enfrentar um desafio dessa natureza se constitui numa prova de força e perseverança, pelas quais todos os autores devem ser louvados. Basta lembrar Samuel Johnson, que disse: “A maior parte do tempo de um escritor é passado na leitura, para depois escrever; uma pessoa revira metade de uma biblioteca para fazer um só livro”. Fisiopatologia das doenças: dos aspectos moleculares do câncer de colo do útero às novas perspectivas dos biomarcadores da doença de Alzheimer traz para os interessados em entender os mecanismos fisiopatológicos de diversas doenças uma abordagem prática, objetiva e direta, levando o leitor a uma fácil compreensão dos conteúdos abordados. Esse livro traz, portanto, uma importante contribuição para os alunos dos cursos da área de saúde, devendo ser utilizado como referência nos componentes curriculares que abordem a fisiopatologia das doenças aqui detalhadas. Desejo a você, leitor, o maior proveito em sua leitura e que os conhecimentos adquiridos com ela possam ser úteis em sua vida como estudante e profissional. Antônio Henriques de França Neto Médico Mestre em Tocoginecologia pela Faculdade de Ciências Médicas de São Paulo Coordenador do Curso de Medicina do Centro Universitário Unifacisa - Faculdade de Ciências Médicas de Campina Grande (FCM-CG/Unifacisa) Membro do American College of Obstetrics and Gynecology (ACOG) SUMÁRIO CAPÍTULO 1 MECANISMOS DE DESENVOLVIMENTO DO CÂNCER DE COLO DE ÚTERO (CCU): RELAÇÃO DA INFECÇÃO POR HPV E COINFECÇÕES RESUMO INTRODUÇÃO METODOLOGIA RESULTADOS E DISCUSSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS REFERÊNCIAS CAPÍTULO 2 BIOMARCADORES NO DIAGNÓSTICO DA DOENÇA DE ALZHEIMER: DEFINIÇÃO, CLASSIFICAÇÃO E PERSPECTIVAS ATUAIS RESUMO INTRODUÇÃO METODOLOGIA RESULTADOS E DISCUSSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS REFERÊNCIAS CAPÍTULO 3 KLEBISSIELA PNEUMONIAE CARBAPENEMASE (KPC) E SEUS MECANISMOS DE RESISTÊNCIA ANTIMICROBIANA RESUMO INTRODUÇÃO METODOLOGIA RESULTADOS E DISCUSSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS REFERÊNCIAS CAPÍTULO 4 MECANISMOS MOLECULARES E HORMONAIS ASSOCIADOS À INFERTILIDADE E À SÍNDROME DOS OVÁRIOS POLICÍSTICOS RESUMO INTRODUÇÃO METODOLOGIA RESULTADOS E DISCUSSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS REFERÊNCIAS CAPÍTULO 5 CARACTERIZAÇÃO DAS ALTERAÇÕES NEOPLÁSICAS DE TIREOIDE E SUA RELAÇÃO COM O SEXO FEMININO RESUMO INTRODUÇÃO METODOLOGIA RESULTADOS E DISCUSSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS REFERÊNCIAS CAPÍTULO 6 BASES ETIOLÓGICAS E FISIOPATOLÓGICAS DO HIPOCRATISMO DIGITAL: UM SINAL DE DOENÇAS GRAVES RESUMO INTRODUÇÃO METODOLOGIA RESULTADOS E DISCUSSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS REFERÊNCIAS CAPÍTULO 7 ALEITAMENTO MATERNO EXCLUSIVO: UMA ABORDAGEM DOS MÚLTIPLOS BENEFÍCIOS À SAÚDE MATERNO-INFANTIL RESUMO INTRODUÇÃO METODOLOGIA RESULTADOS E DISCUSSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS REFERÊNCIAS SOBRE OS AUTORES CAPÍTULO 1 MECANISMOS DE DESENVOLVIMENTO DO CÂNCER DE COLO DE ÚTERO (CCU): RELAÇÃO DA INFECÇÃO POR HPV E COINFECÇÕES Anna Maria Moreira Ramos Aristócles Hitallo Bezerra Sávio Nixon Passos Luz Maine Virginia Alves Confessor RESUMO O câncer de colo útero (CCU) é a segunda maior causa de morte por câncer entre as mulheres, configurando-se como um problema de saúde pública. Tem sua etiologia associada à transformação das neoplasias intraepiteliais cervicais (NIC) causadas pela infecção por papilomavírus humano (HPV) e coinfecções causadas por diversos agentes etiológicos. Diante disso, o objetivo deste trabalho foi o de revisar a literatura a respeito da relação entre a infecção por HPV e coinfecções com o CCU. Para tanto, realizou-se um levantamento, entre fevereiro e outubro de 2017, de periódicos indexados nos bancos de dados PubMed/MedLine Lilacs e SciELO, aplicando os descritores: neoplasias do colo do útero, papilomavírus humanos, Trichomonas vaginalis, Chlamydia trachomatis, Candida spp., Herpes simplex 2, Gardnerella vaginalis, vírus da imunodeficiência humana e o correspondente de cada um em inglês. As neoplasias de colo de útero têm como fator preponderante a infecção por HPV, que, embora necessária, não é suficiente para ocasionar o surgimento do CCU. Pôde-se observar, a partir das análises dos artigos, que existe uma relação significativa entre a infecção por HPV e as coinfecções relacionadas, provavelmente por contribuírem com a inflamação e induzir à perda da camada que protege a mucosa, aumentando a virulência e a adesividade do HPV. O CCU tem uma evolução lenta, favorecendo, dessa forma, o prognóstico das mulheres diagnosticadas precocemente com essa lesão, dessa maneira, o exame de Papanicolau, aliado à colposcopia e ao exame histopatológico, é a ferramenta ideal para prevenção e diagnóstico precoce. INTRODUÇÃO O câncer de colo de útero (CCU) mata, por ano, cerca de 266 mil mulheres em todo o mundo segundo a Organização Pan-Americana da Saúde. Essa doença é a principal causa de morte dentre os diversos tipos de cânceres em regiões subdesenvolvidas, como a África Oriental e Central, e configura-se como o tipo mais comum em mulheres de 45 países. No Brasil surgem cerca de 20 mil casos a cada ano.1 Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), o câncer de colo de útero é caracterizado pela replicação desordenada do epitélio de revestimento do órgão, comprometendo o tecido subjacente, o estroma, e podendo invadir estruturas e órgãos contíguos ou à distância. Existem duas principais categorias de carcinomas invasores do colo do útero, dependendo da origem do epitélio comprometido: o carcinoma epidermoide, tipo mais incidente e que acomete o epitélio escamoso (representa cerca de 80% dos casos), e o adenocarcinoma, tipo mais raro e que acomete o epitélio glandular. Ademais, as lesões no colo do útero podem ser únicas ou múltiplas, restritas ou difusas, de tamanho variável, planas ou exofíticas, sendo também conhecidas como condiloma acuminado ou verruga genital. As localizações mais frequentes são a vulva, o períneo, a região perianal, a vagina e o colo do útero e, menos comumente, áreas extragenitais, como conjuntiva e mucosas nasal, oral e laríngea. Dependendo do tamanho e localização anatômica, as lesões podem ser dolorosas, friáveis e/ou pruriginosas.2 O CCU, entre todos os tipos de câncer, é o que apresenta um dos mais altos potenciais de prevenção e cura. Apesar de as lesões precursoras serem assintomáticas, elas apresentam etapas bem definidas, evolução lenta e são facilmente detectadas na fase inicial. Os sintomas no estágio invasor do CCU podem variar desde sangramentos vaginais espontâneos pós-coito ou esforço e leucorreia, até dores pélvicas e queixas urinárias e intestinais.3 As investigações acerca das causas mais prováveis do CCU se iniciaram na década de 1970, quando se observou que a incidência desse tipo de câncer associava-se intimamente com o comportamento sexual das acometidas.Pesquisas iniciais encontraram sequências de DNA do papilomavírus humano (HPV) em amostras de CCU, o que sugeriu uma relação entre a infecção por esse vírus e o surgimento do câncer. Posteriormente, por volta dos anos 1990, diversos estudos epidemiológicos ratificaram essa relação.4 O HPV é um vírus bastante distribuído no mundo inteiro. Na população europeia a incidência estimada de verrugas cutâneas é de 7% a 10%, e na população americana é de 1%. Já em pacientes imunodeprimidos, esses números podem aumentar em 50 a 100 vezes. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), “aproximadamente 291 milhões de mulheres no mundo são portadoras do HPV, sendo que 32% delas são infectadas pelos tipos 16, 18 ou ambos”. Atualmente foram identificados cerca de 200 tipos de HPV. Os genótipos 16, 18, 31 e 45 são os tipos que oferecem maior risco, pois geram lesões intraepiteliais mais graves e cânceres mais invasivos, enquanto os tipos 6 e 11 são considerados de menor risco.5 Apesar de ser essencial para o desenvolvimento do câncer cervical, a infecção pelo HPV não é suficiente para a transformação do epitélio. Fatores como multiparidade, uso de contraceptivos, fumo e, sobretudo, infecções por outros microrganismos, como Trichomonas vaginalis, Herpes simplex 2, Candida, Chlamydia trachomatis e Gardnerella vaginalis, são decisivos para o surgimento desse tipo de câncer. Estudos como o de Kone e colaboradores mostram que mais de um terço das mulheres com resultado positivo para HPV também apresentou vaginoses bacterianas, mais da metade delas possui citologia compatível com a presença de Candida e metade delas de Trichomonas vaginalis.6 Nesse sentido, sabendo do potencial carcinogênico do HPV, observou-se, por meio dessa revisão de literatura, a relação entre a infecção por HPV e coinfecções associadas no desencadeamento do CCU, buscando analisar o que essas coinfecções causam em nível tecidual e imunológico para facilitar o surgimento de lesões intraepiteliais e, consequentemente, o desenvolvimento de CCU. Dessa forma, é possível uma melhor análise dos riscos de morbimortalidade causados por esses microrganismos em associação com o HPV quando transmitidos sexualmente, com o objetivo de fornecer conhecimentos que possam direcionar ações de vigilância e controle no sentido de prevenir o câncer de colo de útero. METODOLOGIA O artigo em questão trata-se de uma revisão literária de caráter qualitativo, descritivo, analítico e retrospectivo abordando a temática do câncer de colo de útero e sua correlação com o HPV e coinfecções. O presente estudo foi desenvolvido entre julho e outubro de 2017 por meio de uma busca sistemática na literatura, a partir dos periódicos indexados nos bancos de dados PubMed/MedLine, Lilacs e SciELO, por serem bases de dados com largo domínio nacional e internacional. Para a busca dos artigos foram aplicados os descritores: neoplasias do colo do útero, papilomavírus humanos, coinfecções, Trichomonas vaginalis, Gardnerella vaginalis, Chlamydia trachomatis, Candida, herpes genital, vírus da imunodeficiência humana, e o correspondente, quando possível, de cada um em inglês, realizando combinações diferentes dos termos de pesquisa. Como critérios de inclusão/exclusão, optou-se pelos ensaios clínicos que foram realizados em humanos e revisões bibliográficas publicadas nos últimos 15 anos. A seleção se realizou em duas etapas. Na primeira etapa os integrantes do grupo analisaram de forma independente os títulos e resumos de todas as referências recuperadas das bases de dados utilizando as estratégias de busca. Depois de uma ampla busca, foram inicialmente encontrados 566 artigos. Destes, segundo os critérios de inclusão/exclusão, foram selecionados 127 artigos para a posterior etapa. Na segunda etapa, os integrantes do grupo analisaram de forma independente todos os textos das referências selecionadas e foram excluídos aqueles que, apesar de surgirem no resultado da busca, não abordavam o assunto de forma adequada com as variáveis de interesse deste estudo. Ao final, 38 artigos foram selecionados efetivamente para compor o presente trabalho. RESULTADOS E DISCUSSÃO A neoplasia intraepitelial cervical (NIC) refere-se a anormalidades encontradas na região do colo do útero, denominada ectocérvice, que é recoberta por epitélio escamoso. A NIC possui três graus de gravidade: NIC 1, NIC 2 e NIC 3. A classificação citológica mais atual do esfregaço cervical é o sistema de Bethesda. Ela incorporou vários conceitos e conhecimentos adquiridos que, resumidamente, são: o diagnóstico citológico deve ser diferenciado para as células escamosas e glandulares; a inclusão do diagnóstico citomorfológico sugestivo da infecção por HPV, devido às evidências do envolvimento desse vírus na carcinogênese dessas lesões, dividindo-as em lesões intraepiteliais de baixo (LSIL) e alto (HSIL) graus, ressaltando o conceito de possibilidade de evolução para neoplasia invasora; e a introdução da análise da qualidade do esfregaço.7 Nesse sentido, a NIC grau 1 é uma LSIL, configurando apenas a presença de células atípicas no terço inferior no epitélio. Os efeitos da infecção por papilomavírus humano (HPV) são frequentes nesse estágio. O grau 2 agrupa alterações celulares atípicas que atinjam os dois terços basais do epitélio, com preservação da maturação epitelial. Já o grau 3 reúne alterações celulares severamente atípicas que alcancem mais de dois terços do epitélio, incluindo lesões de espessura total. Os graus 2 e 3 são compreendidos como HSIL.8 O principal local de carcinogênese causado pelas NIC é a junção escamocolunar, que é a região na qual os epitélios escamoso e colunar do ectocérvice e do endocérvice, respectivamente, encontram-se. A literatura aponta diversos cofatores na patogênese das NIC, dentre eles podemos destacar a imunossupressão causada por vírus da imunodeficiência humana (HIV), por exemplo, o tabagismo, o uso prolongado de contraceptivos orais e, sobretudo, as coinfecções. As coinfecções estão relacionadas com diversos patógenos e diversas doenças por eles causadas. As principais coinfecções relacionadas com o HPV e a manifestação do câncer do colo do útero (CCU) são relacionadas, por diversos mecanismos de desenvolvimento, aos seguintes microrganismos: Trichomonas vaginallis, Candida, Chlamydia trachomatis, Gardnerella vaginallis, Herpes simplex e HIV (Figura 1).9 FIGURA 1: MECANISMOS MOLECULARES DE DESENVOLVIMENTO DO CÂNCER DE COLO DE ÚTERO (CCU) E RELAÇÃO DA INFECÇÃO POR HPV E COINFECÇÕES FONTE: o autor.10 O Trichomonas vaginallis (TV) é um protozoário flagelado cujo único hospedeiro natural é o ser humano, e o local infectado é principalmente o epitélio escamoso do trato urogenital. A infecção causada por ele, denominada tricomoníase, é transmitida principalmente pela via sexual, já que o papel dos fômites nessa transmissão não foi relatado, embora a sobrevivência do TV neles tenha sido comprovada. A coexistência do TV e de outros agentes etiológicos causadores de vaginoses bacterianas é comumente relatada.11 O Candida é um grupo de fungos do tipo levedura que fazem parte da microbiota residente humana. A espécie Candida albicans é a mais prevalente e pode colonizar diversos locais, como a cavidade oral, a circulação sanguínea e os tratos urinário, gastrointestinal e respiratório. Todavia, se houver modificações causadas por fatores fisiológicos, patológicos e mecânicos que intervenham na relação hospedeiro × microbiota natural, a candidíase pode se manifestar. Alguns desses fatores predisponentes à infecção e à reinfecção por C. albicans são o uso de anticoncepcionais e de antibióticos e alguma forma de imunodeficiência.12 Chlamydia trachomatis é uma bactéria gram-negativa que é a causa mais comum de infecções sexualmente transmissíveis. Nas mulheres, o sintoma mais comum da infecção causada por essa bactéria é a cervicite. Entretanto é importante ressaltar que a maioria dos pacientes infectados é assintomática, permanecendo como reservatório. O desenvolvimento de ectopia cervical,ou seja, de epitélio colunar no colo do útero e no canal endocervical, confere um risco aumentado ao surgimento de infecção por C. trachomatis, e essa infecção tem sido epidemiologicamente relacionada ao risco de neoplasia cervical.13 A Gardnerella vaginallis (GV) é a maior causadora de vaginose bacteriana, que se caracteriza por desbalanço na flora vaginal originado por diminuição na concentração de lactobacilos produtores de peróxido de hidrogênio, que normalmente colonizam essa área, e aumento de outros organismos, especialmente de espécies gram- negativas. A atividade sexual é um fator de risco para a aquisição da vaginose, visto que a literatura mostra que mulheres que nunca tiveram relações sexuais não relataram infecção por GV. A presença de outras infecções sexualmente transmissíveis também parece aumentar o risco para o desenvolvimento de vaginose bacteriana.14 O Herpes simplex (HSV) é um vírus causador de infecções na mucosa oral e genital, que possui dois subtipos principais: Herpes simplex tipo 1 (HSV-1) e Herpes simplex tipo 2 (HSV-2). O subtipo 2 está mais relacionado aos casos de herpes genital, apesar de pesquisas recentes mostrarem que o HSV-1 têm causado uma proporção crescente dessa infecção.15 O HIV/aids é uma das maiores causas de morbidade em adultos em todo o mundo, mas, sobretudo, em países em desenvolvimento. Números crescentes na literatura sugerem que as mulheres HIV- positivas têm maior risco de desenvolverem CCU em comparação às HIV-negativas. Como prova disso, a Organização Mundial da Saúde (OMC) recomenda maior vigilância às mulheres HIV-positivas nos programas de prevenção ao CCU. Ademais, tanto o HIV quando o HPV são infecções sexualmente transmissíveis (IST) e compartilham, portanto, alguns fatores de risco, como idade precoce do início da vida sexual, múltiplos parceiros sexuais e o não uso de preservativos.16 Segundo pesquisas realizadas em diversos países, a eficácia do programa de imunização contra o HPV é alta na prevenção do CCU, sobretudo nos locais onde a cobertura vacinal é alta. Essas vacinas combatem os tipos 16 e 18 de HPV, os quais estão associados com cerca de 70% dos casos de CCU e 50% das lesões graves de colo de útero. A incidência de lesões pré-cancerosas graves costuma declinar substancialmente em mulheres jovens, que são o foco das políticas de vacinação. Essas políticas, associadas a mudanças em comportamentos sexuais considerados de risco, conseguem atingir um grau ainda maior de proteção às lesões epiteliais cervicais, o que demonstra que a introdução e popularização dessas vacinas deve ser encorajada.17 A tricomoníase pode resultar em vaginite ou em inflamação do colo do útero ou do útero como um todo, podendo evoluir para processos hemorrágicos e necróticos do epitélio vaginal e do cérvix uterino, sendo, por isso, fator de risco ao desenvolvimento de neoplasias malignas nessas regiões.18 Num estudo de Lazenby e colaboradores foi encontrado que mulheres infectadas com TV eram 6,5 mais propensas a terem HPV tipo 16 em comparação às possuidoras de HPV, mas sem TV. Esses dados confirmam a importância da detecção dessa coinfecção, já que ela pode intervir na história natural da infecção pelo HPV e no desenvolvimento de lesões causadas pelo próprio vírus. O estudo de Kone e colaboradores mostrou que metade das mulheres que tiveram resultado positivo para o HPV teve citologia positiva para TV.19 Dentre os principais genótipos do HPV associados ao TV podem- se destacar os tipos 18, 45, 66 e 68. Nesse contexto, sabe-se que a imunidade gerada pelo mecanismo invasor, mediada por células, envolve o recrutamento de grande quantidade de leucócitos, que são achados na citologia de esfregaços. Ademais, o parasita pode absorver elementos nutritivos, como ácidos e ferro, por destruição dos glóbulos vermelhos do hospedeiro, que é causada por substâncias citotóxicas semelhantes à tripsina, chamadas Fator CDF e N-nitrosaminas, liberadas durante a infecção, o que também promove atipia epitelial e displasia.20 Tem sido sugerido, ainda, que a metaplasia induzida por IST, como a referida tricomoníase, pode elevar o risco de mutações das células cervicais, ao ativar oncogenes e/ou inativar genes supressores tumorais, especialmente ao estimular, como mecanismo de defesa do indivíduo, a produção de espécies reativas de oxigênio (ERO). Essas ERO são citotóxicas e podem causar instabilidade genética ao provocar a desregulação do ciclo celular, deixando as células mais sensíveis a lesões induzidas por HPV, o que amplifica as possibilidades de desenvolvimento de CCU.21 Há, também, hipóteses que consideram que a liberação de enzimas líticas pelos protozoários leva à perda da camada mucosa que protege a vagina, aumentando a virulência e a adesividade do HPV e elevando, portanto, o risco de carcinogênese. Apesar disso, foi comprovado que essas infecções sozinhas não são tão relevantes para o desenvolvimento das metaplasias, precisando estar associadas ao HPV para aumentarem esse risco.22 Outro importante agente causador de infecções cervicais é o Candida spp. Esse microrganismo é apontado, ainda, por diversos autores, como a segunda causa mais comum das vaginites depois da vaginose bacteriana (VB), de forma que, de acordo com o trabalho de Posser e colaboradores, cerca de 50% das mulheres convivem com esse fungo. É válido ressaltar que essas infecções podem reduzir os fluidos vaginais e bloquear o inibidor da protease leucocitária (SLPI), ou até mesmo causar a liberação de enzimas líticas no epitélio cervical, causando microabrasões e maior facilidade à integração do genoma viral do HPV na zona de transformação.23 Nesse contexto, uma cepa de Candida spp. tem a capacidade de prosperar tanto como um comensal quanto como patógeno. O fato é que essa espécie apresenta mecanismos de virulência altamente desenvolvidos para adaptar-se e infectar rapidamente o ambiente hospedeiro (Figura 1), tais como adesividade e alterações fenotípicas e morfológicas que resultam no sucesso do processo infeccioso. Para isso, tal fungo conta com uma família de genes denominados SAP, os quais codificam um grupo de enzimas aspartil proteases que estão envolvidas, combinando as enzimas catalases e fosfolipases na invasão tecidual pela degradação das proteínas da matriz extracelular do epitélio vaginal e na sobrevivência intracelular. Destarte, essa degradação do epitélio vaginal propiciada pelo fungo é apontada em grande parte da literatura como um importante fator relacionado ao aumento do risco de uma infecção por HPV, uma vez que o vírus poderia acessar diretamente as células da camada basal do epitélio, aumentando a efetividade da infecção e as chances de surgimento de neoplasias.24 Ademais, moléculas da superfície do Candida spp., como mananas e manoproteínas, ativam o sistema imune – por meio da interação com os receptores de reconhecimento de padrões (PRR) das células imunes – e induzem a produção de citocinas e prostaglandinas que deflagram um processo inflamatório, o qual culmina em um mecanismo conhecido como “burst respiratório”, no qual ERO são liberadas na tentativa de debelar o patógeno, mas acabam também por ocasionar lesão tecidual e danos ao DNA das células cervicais, o que – somado aos danos motivados pelos próprios mecanismos pertinentes à infecção do HPV – desencadeia o surgimento de NIC, as quais podem evoluir para um câncer.25 Embora haja grande plausibilidade biológica entre a relação complementar dos mecanismos de patogenicidade do Candida spp. e o surgimento de NIC, os estudos têm apresentado resultados divergentes. Enquanto em 2016, por exemplo, um estudo realizado por Menon e colaboradores com mulheres da República do Quênia assinala uma significativa associação entre infecções pelos tipos 16 e 53 de HPV e o Candida spp., trabalhos como o de Ghosh e colaboradores sugerem que o risco de desenvolvimento de NIC em infecções HPV positivas com ou sem Candida é o mesmo. Entretanto, apesar dessas divergências entre alguns autores, é evidente a relação entreas infecções e a maior suscetibilidade para o desenvolvimento de lesões de colo de útero.26 A Chlamydia trachomatis é a principal IST nos Estados Unidos. A infecção se dá pelo contato sexual íntimo, sendo incidente em indivíduos que têm mais de um parceiro sexual. A bactéria gram- negativa C. trachomatis causa uma infecção que está fortemente relacionada com displasias e metaplasias cervicais, aumentando em cerca de oito vezes o risco de doenças no colo do útero. Seus efeitos incluem dano à mucosa cervical e prejuízo à resposta imunitária, o que favorece a persistência da infecção pelo HPV, conforme observado na Figura 1. Além disso, a C. trachomatis parece causar uma inflamação crônica, perturbando o sistema imune local, o que gera um declínio do número de células apresentadoras de antígeno envolvidas com o processo de expulsão do HPV.27 A idade é um importante fator predisponente para a infecção por C. trachomatis, sendo a faixa etária abaixo dos 30 anos a mais acometida. Quase a metade das mulheres infectadas pelo C. trachomatis apresenta coinfecção pelo HPV, o que configura a idade como um considerável fator de risco demográfico, já que em boa parte dos estudos analisados os dados epidemiológicos mostraram maior incidência dessa e de outras infecções em mulheres mais jovens. Além disso, existem evidências de que C. trachomatis é associada à persistência do HPV.28 A C. trachomatis parece causar alterações na imunidade mediada por células, o que pode estimular a replicação viral. Outros trabalhos sugerem que a inflamação causada pela infecção por C. trachomatis tanto aumenta os níveis de proteínas associadas ao estresse oxidativo (ERO), que também podem aumentar a replicação do vírus, quanto causa quebras de DNA, que podem facilitar a integração deste.29 Outra bactéria comumente associada à atividade sexual e causadora de VB é a Gardnerella vaginalis (GV), que é um bacilo gram-negativo causador de infecção comum em mulheres em idade fértil, e talvez possa facilitar nas mulheres a infecção pelo HPV devido aos produtos resultantes da flora anormal, como as enzimas sialidases, com pH ótimo entre 4.5 e 5.5, que funcionam como fator de virulência que podem promover microabrasão na mucosa vaginal, possivelmente contribuindo para o surgimento de alterações malignas, ao facilitar o processo de incorporação dos oncogenes do HPV no genoma das células da zona de transformação (ZT).30 Outrossim, a alteração na flora vaginal causada pela VB pode exercer influência na história natural da infecção do colo do útero por HPV, contribuindo para o surgimento de NIC ao modificar sinais imunes do hospedeiro, diminuindo a quimiotaxia de neutrófilos, por conta dos efeitos dos ácidos succínico e acético, gerados em condições de anaerobiose, além de estimular a produção de prolidase, que degrada imunoglobulina A (IgA), e de citocinas, como a IL-1β (pró-inflamatória) e a IL-10 (função supressiva), conforme ilustrado na Figura 1.31 Apesar da associação entre HPV e VB ser controversa na literatura, duas metanálises conduzidas por Gillet e colaboradores sugeriram uma associação positiva entre a VB e infecção do colo de útero por HPV, e a conexão entre VB e NIC, respectivamente, mesmo que a VB esteja diminuída à medida que as lesões de NIC progridam, como mostra Castro-Sobrinho e colaboradores. Tendo em vista que essas são duas condições frequentes entre as mulheres de todo o mundo, é de fundamental importância levá-las em consideração para a prevenção do CCU.32 Segundo Mongelos e colaboradores, os tipos de HPV mais frequentes associados com a VB foram 16, 58, 45, 53 e 11, em ordem decrescente de associação, já em relação à faixa etária, Caixeta e colaboradores encontraram que a VB é mais prevalente em mulheres com idade entre 25 e 30, concordando com os estudos de Kalantari e colaboradores e Lu, que acharam valores semelhantes.33 Além de protozoários, fungos e bactérias, os vírus também podem ser responsáveis por infecções no colo do útero. Dois representantes principais desse grupo de seres são os Herpes simplex e o vírus da imunodeficiência humana (HIV). Em se falando de Herpes simplex, existem dois genótipos: 1 e 2. O contato com secreções infecciosas presentes em mucosas como a oral e a genital consiste na forma de transmissão desse vírus. Embora os estudos sobre o impacto da infecção por Herpes simplex 2 (HSV 2) na gênese do CCU datem dos anos 1960, o impacto desse agente etiológico nas células cervicais infectadas pelo HPV ainda não está claro.34 Enquanto alguns estudos relatam que a coinfecção HPV-HSV 2 aumenta os níveis de lesões no colo do útero, outros não encontraram sequências de DNA do HSV 2 nos tecidos cervicais oncogênicos. Essas discrepâncias entre os estudos se dão por uma série de fatores, dentre eles a variação geográfica da soropositividade para o HSV2, visto que algumas populações parecem ter anticorpos para o vírus. Além disso, a diferença entre os métodos sorológicos utilizados nos diferentes estudos também pode influenciar, uma vez que os exames não diferenciam infecções atuais e passadas, nem genitais e extragenitais.35 Já o HIV, pela ação da enzima transcriptase reversa, integra-se ao núcleo de células como os linfócitos TCD4 na forma de DNA. Segundo Bonilha, “após a formação do provírus, o HIV perverte a maquinaria celular ao seu próprio benefício, passando a se replicar e destruindo a célula hospedeira”. A molécula CD4 é o principal receptor do HIV nas células linfocitárias, o que permite sua entrada nas células hospedeiras. Isso causa uma depleção de linfócitos TCD4, o que explica a imunodeficiência e a maior propensão ao surgimento de infecções oportunistas.36 A imunodeficiência causada pelo HIV tem forte impacto no que se refere a aumentar a incidência e a prevalência da infecção por HPV, alterando significativamente a história natural da doença de um indivíduo com NIC. O HIV age de forma diferente sobre diferentes tipos de HPV. Exemplo disso é que pacientes acometidas por lesões de colo de útero causadas pelo HPV tipo 16 são menos afetadas pelo HIV. Vários estudos mostram que as pacientes com HIV têm um risco aumentado de serem infectadas pelo HPV e, com isso, terem resultados alterados em seus exames de Papanicolau. Embora as mulheres mais jovens tenham menos propensão ao desenvolvimento de CCU, as soropositivas podem ser mais propensas, podendo ter o diagnóstico de lesões invasivas de baixo grau mais precocemente.37 Nos casos de coinfecção HPV-HIV, parece ocorrer alterações na carga genética do HPV pela combinação do gene TAT-1 (proteína regulatória do HIV) com a proteína E2 do DNA dos HPV oncogênicos. Essa união causaria a exacerbação da transativação da região da sequência regulatória do HPV, o que estimula a expressão dos genes do papilomavírus. Infecções persistentes pelo HPV são predisponentes para o surgimento de lesões cervicais em pacientes soropositivas, que apresentam recidivas mais frequentes, doença mais rapidamente progressiva e maior insucesso terapêutico (Figura 1). Além disso, as pacientes HIV-soropositivas cursam com alta carga viral, sobretudo dos tipos de HPV oncogênicos (16 e 18).38 Ademais, no Brasil, o rastreamento do CCU ocorre de forma predominantemente oportunista, visto que as mulheres realizam o exame na medida em que buscam os serviços de saúde por outros motivos. Por questões do contexto sociocultural de algumas mulheres há, ainda, pouca adesão à realização do exame Papanicolau. Há um desequilíbrio no contingente de realizações de exames da faixa etária em que é preconizada o rastreio, apresentando mulheres super-rastreadas, bem como um grupo sem qualquer exame de rastreamento.39 A realização do exame de prevenção do CCU é reconhecida mundialmente pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma estratégia segura e eficiente para a prevenção e detecção precoce do CCU e tem causado modificações efetivas nas taxas de incidência e mortalidade por esse tipo de doença.40 Uma excelente forma para a detecção precoce do CCU é o exame preventivorealizado com o intuito de identificar alterações celulares pré-malignas, esse exame citopatológico, também conhecido como Teste de Papanicolau (citologia oncótica), permite a visualização de tumoração, ulceração e necrose no colo do útero, nas células coletadas da região da ectocérvice e no canal endocervical, e tais alterações são confirmadas pela colposcopia (técnica de magnificação) e exame histopatológico que contribuem para um diagnóstico rápido e preciso, para dar sequência a um tratamento adequado (BRITO-SILVA, 2014; INCA, 2016; WRIGHT, 2017). Ademais, a prevenção às coinfecções é a melhor alternativa para que se diminuam os riscos do desenvolvimento de CCU. Antes de tudo, é necessário que haja uma avaliação de risco e sejam feitos projetos de educação e aconselhamento às pacientes que estejam supostamente expostas a esse risco, a fim de que estas possam conhecer as formas de evitar as IST. Uma das alternativas possíveis, até então, para diminuir a disseminação dessas infecções, seria a promoção da educação preventiva, como, por exemplo, um maior estímulo à utilização de preservativos, bem como outras medidas preventivas, considerando que a abstinência sexual não é algo simples de ser proposto e conquistado para prevenir a transmissão desses agentes. Pela gravidade dessa associação, recomenda-se que haja aconselhamento quanto ao comportamento sexual com múltiplos parceiros e encorajem-se mudanças desse comportamento. A vacinação pré-exposição, no caso de IST evitáveis por vacina, deve ser encorajada igualmente. No caso do Trichomonas vaginalis, o uso de preservativos reduz os riscos de infecções e deve ser, portanto, incentivado. Além disso, a identificação de pacientes assintomáticas, mas infectadas, e de pacientes sintomáticas precocemente é de fundamental importância para que o tratamento, o aconselhamento e o acompanhamento sejam efetivos e tanto a progressão quanto a propagação da infecção sejam evitadas.41 CONSIDERAÇÕES FINAIS É possível observar que existem relações significativas entre vários tipos de coinfecções com o HPV no desenvolvimento do câncer de colo de útero (CCU), considerando-se que elas podem causar processos inflamatórios, hemorrágicos e necróticos associados ao aumento da adesividade do papilomavírus humano ao epitélio cervical e à maior facilidade de ele causar infecção. Ademais, foi verificado que esses microrganismos causadores de infecção podem induzir atipia epitelial, displasia, elevação do risco de mutações das células cervicais, ativação de oncogenes, inativação de genes supressores tumorais, o que acelera o desenvolvimento do CCU. O fato de que, muitas vezes, essas coinfecções permanecem assintomáticas, ratifica a importância de diagnosticá-las precocemente, a fim de se determinar um bom prognóstico. Para tanto, faz-se necessário que medidas de prevenção contra esses agentes, bem como o incentivo ao exame de rotina, sobretudo nas faixas etárias mais acometidas, sejam adotadas pelos órgãos governamentais com a finalidade de reduzir a incidência desse câncer, que é responsável, todos os anos, pela morte de milhares de mulheres no Brasil e em todo o mundo. REFERÊNCIAS ADLER, D. H. et al. Cervical Dysplasia and High-Risk Human Papillomavirus Infections among HIV-Infected and HIV-Uninfected Adolescent Females in South Africa. 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Nesse sentido objetiva-se averiguar a viabilidade do uso de biomarcadores como forma de diagnóstico da DA. Foi realizada uma revisão bibliográfica nas bases dados PubMed/MedLine, SciELO, Lilacs, Google Scholar, Cochrane Library e a base de dados Alzheimer Disease Neuroimaging Initiative (ADNI). Foram selecionados 19 artigos. Há vários biomarcadores promissores para ajudar no manejo da DA. Na DA, os biomarcadores são detectados em fluidos corporais, comumente líquido cérebro-espinhal (LCE) e o sangue. Quando consideramos biomarcadores já estabelecidos para diagnóstico, apenas a análise de Aβ (1-42), Tau-Total e Fosfo-Tau-181 do LCE são consideradas para um diagnóstico confiável, sensível e específico da DA, mas não de outras formas de demência. Conclusão: devido ao importante progresso no estudo de biomarcadores nos últimos anos, novos alvos diagnósticos estão disponíveis e devem tornar a doença mais facilmente detectável. INTRODUÇÃO A doença de Alzheimer (DA) é uma doença neurodegenerativa progressiva e, atualmente, irreversível, caracterizada como demência e/ou perda de funções cognitivas. Suas causas ainda não são completamente conhecidas, porém existe uma forte correlação entre lesões cerebrais e o quadro da DA que são características para o diagnóstico da doença. As duas principais alterações que se apresentam são o acúmulo de placas senis decorrentes do depósito da proteína beta-amiloide (Aβ) e a apresentação de emaranhados neurofibrilares, frutos da hiperfosforilação da proteína Tau.42 Em decorrência desses eventos, pode ser observada a redução do número das células nervosas (neurônios) e das ligações entre elas (sinapses), tendo, portanto, uma redução progressiva do volume cerebral. Essas perdas neuronais não ocorrem de forma homogênea, de forma que as áreas responsáveis pela memória e pelas funções executivas que envolvem planejamento e execução de atividades complexas são as mais prejudicadas.43 A manifestação da doença varia de acordo com as características do indivíduo e o seu estágio de comprometimento. O paciente na fase inicial pode viver de forma independente, convivendo apenas com uma perda leve de memória, mas com raciocínio relativamente preservado, sendo classificado como comprometimento cognitivo leve (CCL). No estágio intermediário da DA, a vida independente começa a ser comprometida; há uma perda de memória moderada e prejuízo no raciocínio. Esses sintomas ainda são acompanhados de dificuldade para comunicar- se e dificuldade de orientação espacial. Nessa fase ele é classificado com comprometimento cognitivo moderado.44 Com a progressão da doença, há comprometimento cognitivo grave. No estágio avançado o paciente é incapaz de levar uma vida independente, além de ser impossibilitado de realizar tarefas de vida diária sem a presença de um cuidador. A doença, em seu desenvolvimento, não passa de um estágio para o outro diretamente, podendo o paciente se encontrar no nível da doença entre um estágio e outro.45 O principal fator de risco da doença é a idade: após os 65 anos, o risco de desenvolver a doença dobra a cada cinco anos, além disso, mulheres que fazem terapia hormonal têm apresentado sinais da DA.46 Os familiares de pacientes com DA têm um risco maior de desenvolver a doença no futuro, comparados com pessoas com parentes sem a doença, no entanto isso não significa que ela seja hereditária.47 Estima-se que os casos em que os determinantes genéticos influenciam o aparecimento da DA representam apenas 10% do total de doentes. Além disso, outros fatores que estimulam o desenvolvimento da doença estão relacionados com o estilo de vida, sendo tidos também como fatores de risco hipertensão, obesidade, diabetes, tabagismo e sedentarismo, uma vez que, se esses fatores forem controlados, o aparecimento da DA pode ser retardado.48 Os principais sintomas apresentados na DA são distúrbios comportamentais, como agressividade, alucinações, hiperatividade, irritabilidade e depressão.49 Outros sintomas, como a apatia, a lentificação (da marcha ou do discurso), a dificuldade de concentração, a perda de peso, a insônia e a agitação podem ocorrer como parte da síndrome demencial.50 A DA é uma doença de grande incidência no Brasil, existindo cerca de 1,2 milhão de casos, sendo que a maioria desses ainda não possui um diagnóstico. Existe uma expectativa de que no mundo haja cerca de 35,6 milhões de portadores da doença. Apesar de ainda não haver possibilidade de cura, os avanços da medicina têm permitido aos pacientes uma melhor qualidade de vida, mesmo no estágio de maior gravidade da doença, por isso os tratamentos têm como objetivo aliviar os sintomas existentes, estabilizando-os ou fazendo com que suas progressões ocorram de forma mais lenta.51 Assim como o tratamento, ainda não existe nenhum método que, isoladamente, permita o diagnóstico preciso da DA, o qual só é completado com certeza com o exame microscópico do tecido cerebral do paciente post mortem. Devido a isso, o diagnóstico é realizado pela identificação do quadro clínico característico e pela exclusão de outras causas da demência por meio de exames complementares, como os laboratoriais e os de imagem.52 É, portanto, necessária a avaliação profunda das funções cognitivas e dos dados proporcionados por essa avalição. Essas avaliações serão essenciais para identificar a intensidade das perdas e o perfil de funcionamento, possibilitando a indicação de hipóteses sobre a doença. Devido à dificuldade de diagnóstico, atualmente tem-se buscado novos métodos para associar os níveis de algumas moléculas com a DA. Estudos têm sido realizados para fazer a relação entre os níveis dessas moléculas com o quadro clínico da doença, além da associação com os exames já existentes. De tal forma, o objetivo deste estudo foi revisar o uso de biomarcadores como forma de diagnóstico para a doença de Alzheimer com análise descritiva das abordagens atuais, auxiliando, assim, no diagnóstico preciso dos pacientes. METODOLOGIA A pesquisa foi constituída por estudos previamente selecionados, seguindo os critérios de inclusão: ensaios clínicos controlados randomizados, estudos quase-experimentais e revisões sistemáticas que registraram a utilização de biomarcadores como diagnóstico na doença de Alzheimer. Foram considerados como critérios de exclusão estudos que analisaram a utilização de biomarcadores para outras doenças neurológicas, que utilizaram outros tipos de abordagens terapêuticas para diagnosticar a doença de Alzheimer, que utilizaram modelos animais e publicados há mais de 15 anos. Realizou-se uma busca sistemática por artigos publicados em revistas indexadas nas bases de dados PubMed/MedLine, SciELO, Lilacs, Google Scholar, Cochrane Library e a base de dados Alzheimer Disease Neuroimaging Initiative (ADNI), que é um centro de estudos de desenvolvimento de biomarcadores clínicos, de imagem, genéticos e bioquímicos para detecção precoce e acompanhamento da doença de Alzheimer. Os descritores utilizados para a busca seguiram a descrição dos termos MeSH/DeCS. As palavras-chave foram combinadas utilizando-se os operadores booleanos OR e AND, Biologic Marker OR Biomarkers AND Biochemical Markers AND Immunologic Markers AND Alzheimer Syndrome OR Alzheimer Disease AND Diagnostic. Não houve restrição linguística. A primeira fase da revisão consistiu em análise dos títulos e resumos, que foram identificados e avaliados independentemente por dois revisores(AJ, IV) na tela do computador, para selecionar aqueles que atendessem aos critérios de elegibilidade. Os estudos elegidos como relevantes que geraram dúvidas foram retidos para uma análise posterior do texto na íntegra. Em casos de discordância no processo de seleção e na análise dos artigos, um terceiro e um quarto avaliador (RA e MC) participaram da avaliação. A segunda fase constituiu na extração de dados dos estudos selecionados por três avaliadores independentes. Todos os registros elegíveis foram lidos integralmente e dados disponíveis no texto foram extraídos considerando autor, desenho do estudo, ano de publicação e tipos de biomarcadores utilizados, a fim de compor o presente estudo. RESULTADOS E DISCUSSÃO Inicialmente foram identificados 7241 artigos por meio das bases de dados pesquisadas. Devido aos critérios de inclusão e exclusão, 647 foram retirados para uma avaliação, sendo 429 deles excluídos pela análise de resumos. Foram selecionados, portanto, para elegibilidade, 218 textos completos, dos quais 199 foram excluídos por não preencherem os critérios de inclusão. Ao final foi utilizado efetivamente um total de 19 estudos. A partir dos artigos selecionados percebe-se que os biomarcadores são definidos como indicadores biológicos, patológicos e farmacológicos capazes de medidas, qualitativas e quantitativas, que podem ser utilizados para analisar a homeostase fisiológica com o objetivo de identificar quadros fisiopatológicos ou mesmo predizer sinais que apontam o risco para uma enfermidade. Os biomarcadores podem ser divididos em dois grupos: biomarcadores de exposição (passiveis de análise para apontar os fatores de risco da doença) e biomarcadores de doença (monitorados no decorrer da enfermidade).53 Segundo Henriksen et al.,54 esses biomarcadores ainda podem ser classificados e descritos em categorias segundo sua ação específica e capacidade diante das diferentes abordagens. Os biomarcadores da classe de carga de doença têm o objetivo de avaliar a gravidade ou extensão da doença. Os biomarcadores de investigação, apesar de ainda não estabelecerem uma relevância patológica clara, têm sido usados em cenários exploratórios. Os biomarcadores da classe de prognóstico são usados para prever o início futuro da doença. Para fornecer informações sobre a eficácia do tratamento, os biomarcadores são classificados como sendo de intervenção e, para classificar os indivíduos como apresentando ou não a doença, são usados biomarcadores de diagnóstico. Atualmente os estudos com biomarcadores e DA têm crescido e sua utilização tem se tornado imprescindível, pois tem contribuído para a especificidade e a velocidade do diagnóstico. Na DA, os biomarcadores são detectados em fluidos corporais, comumente sendo usados o líquido cérebro-espinhal (LCE) e o sangue. Há pesquisas que têm analisado biomarcadores oculares que correlacionam a catarata e o risco de desenvolver DA.55 Outro estudo buscou relacionar biomarcadores orais e o risco de desenvolver DA, uma vez que já se sabe que DA não é apenas uma doença restrita à patologia e biomarcadores dentro do cérebro.56 Alguns estudos têm colocado à prova a análise de saliva, urina e suor, as células bucais humanas, por exemplo, que, apesar de requererem métodos bastantes sensíveis para detectar proteínas, são acessíveis de uma maneira minimamente invasiva e exibem morfologias citológicas e nucleares que podem sugerir envelhecimento acelerado ou distúrbios neurodegenerativos tais como na DA.57 Para que um biomarcador seja realmente eficiente, é necessário que ele atenda a alguns critérios. São eles: a) refletir os processos de envelhecimento fisiológico; b) refletir os processos fisiopatológicos básicos do cérebro; c) reagir após intervenção farmacológica; d) mostrar alta sensibilidade; e) apresentar alta especificidade para a doença em comparação com distúrbios relacionados; f) permitir medições repetidas ao longo do tempo; g) permitir reprodutibilidade; h) não deve causar danos aos indivíduos avaliados; i) as amostras devem ser estáveis para permitir transporte fácil; j) definir bons valores de corte para distinguir doenças.58 Além disso, os candidatos a biomarcadores são considerados bem-sucedidos quando as pesquisas incluem pacientes com sinais do processo patológico da DA e também indivíduos que não apresentam esses sinais.59 Porém, muitas vezes encontramos falta de conexão entre laboratórios de pesquisa e a indústria, dificultando o movimento de importantes descobertas científicas para a prática clínica e a geração de métodos padronizados para uniformizar as descobertas.60 Os biomarcadores utilizados na identificação da DA são classificados em dois principais grupos: marcadores bioquímicos (mais utilizados para enxergar a degradação neural no decorrer do tempo) e marcadores de imagem (processo de rastreamento que se vale da utilização de aparelhos eletrônicos complementares).61 Quando consideramos biomarcadores já estabelecidos para diagnóstico, apenas as análises de Aβ (1-42), Tau-Total e Fosfo- Tau-181 do LCE são consideraras para um diagnóstico confiável, sensível e específico da DA, mas não de outras formas de demência.62 A β-amiloide é um peptídeo sintetizado pela enzima BACE1 que pode ter dois destinos: permanecer em forma solúvel no meio extracelular e se movimentar livremente no LCE e também no cérebro ou agregar-se, tornando-se insolúvel e sendo depositada na forma de placas senis exclusivamente no cérebro. Os fragmentos mais tóxicos da proteína amiloide são os Aβ (1-42): sua acumulação no cérebro diminui a concentração no LCE, e ao mesmo tempo vai estimular a fosforilação da proteína Tau, formando emaranhados neurofibrilares entre os neurônios, desorganizando a comunicação interneural.63 Embora os biomarcadores de imagem e do LCE sejam as ferramentas mais promissoras para detectar a DA, essas modalidades têm a desvantagem de custo e invasividade com potenciais efeitos colaterais.64 Alguns estudos têm sido propostos para descobrir biomarcadores confiáveis de sangue para que o diagnóstico precoce, rápido e barato ajude a diagnosticar a DA e diferenciá-la de outras formas de demência.65 Apesar das sucessivas falhas nos ensaios clínicos, que têm como objetivo clarear as medições e associações da de Aβ, existem muitos biomarcadores promissores baseados no sangue da DA, e vários deles estão se aproximando de uma utilidade clínica mais geral.66 Muitos estudos examinaram a Aβ do plasma como marcadores para DA com resultados conflitantes. Esses desfechos insatisfatórios podem ser explicados pelo fato de que a Aβ plasmática pode também originar-se de tecidos periféricos e, assim, não refletir os valores do metabolismo Aβ do cérebro.67 Já os níveis séricos da Tau têm sido explorados até certo ponto. A Tau é indetectável em CCL e/ou DA. Por outro lado, os níveis plasmáticos de Tau também podem estar elevados em uma série de outras patologias, como acidente vascular cerebral isquêmico, mas dados preliminares também mostram aumento em cerca de o dobro dos níveis séricos de Tau em indivíduos com DA quando comparados com idosos cognitivamente normais.68 No entanto, ainda é preciso cautela, uma vez que o sangue é um sistema biológico de alta complexidade. Existem alguns fatores de confusão que podem influenciar a aplicação e a interpretação dos resultados dos ensaios de marcadores bioquímicos no sangue.69 Em relação aos biomarcadores de imagem, os mais utilizados e com mais confiabilidade e precisão no diagnóstico são os de ressonância magnética, que têm uma boa visualização e discriminação. Sua identificação aponta para atrofia cerebral (principalmente na região temporal) e dilatações ventriculares. A progressão da doença pode ser vista com a alteração na substância branca e envolvimento do giro cingulado e no córtex temporoparietal. As alterações mais determinantes para a discriminação da DA são: a espessura do giro supramarginal e do córtex entorrinal, além do volume hipocampal. Outro biomarcador de imagem é a tomografia por emissãode prótons (PET), que se vale da análise do metabolismo cerebral de glicose (via fluordeoxiglicose). Essa síntese de glicose vai ser reduzida principalmente na região temporal e no cíngulo, ou da disposição da proteína BETA-amiloide. Alguns estudos atuais de biomarcadores genéticos na doença de Alzheimer apontam quatro genes como principais, que são: APP, apoE, PSEN1 e PSEN2, sendo o alelo de APOEε4 o fator de risco genético mais promissor para de desenvolver DA.70 Entretanto, as análises têm revelado métodos de identificação gênica diferentes, o que tende a caracterizar a DA como doença poligênica multifatorial, assim, com o aumento da amplitude de formas de identificação da patologia e revelação de vasta população de genes ou alterações moleculares que possam estar associadas à doença.71 A DA e seu estabelecimento devem-se por meio de acúmulos de eventos genéticos e ambientais. Esses, por sua vez, contribuem com pequenos efeitos que resultam, quando unidos, em diferentes graus, no estabelecimento da doença. Sabe-se que mutações nos genes codificadores para a proteína β-amiloide (APP) são consistentemente associadas ao surgimento da doença. Esses genes situam-se em diferentes cromossomos e alguns deles devem participar de uma via neuropatogênica comum, para que, dessa forma, desencadeiem a doença. Esses, portanto, são os principais e mais consistentes genes marcadores para a DA, contudo as alterações sofridas por eles não são suficientes para explicar todos os casos da doença.72 A identificação de genes envolvidos com a DA se dá pela procura de regiões cromossômicas que sejam adquiridas junto com a doença, o que faz com que essas regiões estejam “ligadas” à doença, carregando genes de efeito causal.73 A apoE é uma das primeiras moléculas a ser identificadas na DA, quando se trata de uma análise genética, por meio do seu polimorfismo na variante ε4. Essa associação de identificação ocorreu por análise de casos esporádicos em várias famílias, incluindo estudos que analisaram a população do Brasil. Ainda foi verificado que a associação entre a apoE e seu alelo ε4 em excesso pode aumentar o risco em cinco vezes de os indivíduos apresentarem DA. Entretanto não é fator determinante, pois existem indivíduos que apresentam polimorfismo nas duas variantes e não apresentam DA.74 Alterações na apoE podem ser identificadas em amostras cerebrais e nos linfócitos sanguíneos correspondentes, além do potencial de serem hipermetiladas as regiões que concentram grande quantidade dessa molécula em pacientes com DA, quando comparados com indivíduos normais.75 Outros marcadores, APP, PSEN1 e Psen2, são identificados nas formas raras e precoce de doença de Alzheimer. Os fragmentos de APP são neurotóxicos, e seu acúmulo mostra uma formação de fibras amiloides, formando as placas senis. A redução do nível desses fragmentos associados ao acumulo de Aβ tem papel importante para as funções cognitivas da DA. No entanto, alterações genéticas nesses genes correspondem a apenas a 5% do total de casos confirmados.76 Mutações na PSEN1 são responsáveis por 18% a 50% dos casos de DA com início precoce. Mais recentemente foi identificado um gene parecido com esse, o Psen2, que, quando apresenta mutação, também é ligado à DA.77 Além do nível de metilação do DNA, há evidências de que a diminuição dos telômeros nas células do sangue periférico também é um marcador potencial para DA. De outra forma, esses estudos indicam que a metilação anormal de genes pode ter um efeito pronunciado na DA e, se houver sua medição em células derivadas do sangue, como linfócitos, isso pode ser relevante como um biomarcador da DA no futuro.78 CONSIDERAÇÕES FINAIS Existem muitos biomarcadores promissores para ajudar no manejo da doença de Alzheimer. Uma consideração cuidadosa sobre como o diagnóstico é definido consiste em levar em consideração a importância das morbidades e medicações simultâneas do paciente, já que dentro dessas condições a interpretação dos resultados ainda é tida como crítica. Enquanto se busca um biomarcador na DA é importante ter um diagnóstico clínico completo. O médico deve coletar todos os critérios intrínsecos e extrínsecos para permitir um diagnóstico correto (devendo incluir anamnese, história familiar, marcadores sanguíneos gerais, neuropsicologia, neuroimagem e exclusão de outras doenças). O diagnóstico seguro da DA só pode ser definido pela análise cerebral pós-morte, e ainda vale ressaltar que, até o presente momento, o diagnóstico do LCE só apoia o diagnóstico clínico (não post-mortem). A principal e inerente limitação de biomarcadores de fluidos é a falta de precisão anatômica nas medições além da escassez de estudos que ligam o trabalho humano e experimental. REFERÊNCIAS ALMEIDA, R. P. et al. 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