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Endocrinologia da reprodução da fêmea – hormônios do controle do desenvolvimento folicular ovariano O controle da reprodução da fêmea é baseado no eixo hipotálamo-hipófise-ovariano, fundamental para o controle reprodutivo da fêmea. A estrutura iniciadora do processo é o hipotálamo, que por meio dos seus hormônios, como o GnRH (hormônio liberador de gonadotrofinas) atua no órgão alvo dele, que é a hipófise. Controle neuroendócrino: O hipotálamo é uma estrutura localizada no cérebro que produz vários hormônios, dentre eles o GnRH (hormônio liberador de gonadotrofinas), que atua na hipófise, que estará envolvida na produção de hormônios gonadotrópicos que regulam as funções das gônadas, estruturas foliculares e corpo lúteo. O GnRH tem meia vida plasmática curta, portanto, deve ser potente para ter resposta. Estima-se que 1000-1200 neurônios no cérebro produzam GnRH. A hipófise é uma glândula localizada na base do cérebro, muito importante no controle da reprodução e de outros processos fisiológicos do organismo. Os hormônios hipofisários (são seis) atuam em vários tecidos e glândulas no organismo. O controle da reprodução não é somente baseado nesse eixo. Hormônios produzidos pelo útero também participam do controle da reprodução, visto que esta estrutura reprodutiva tem um papel importante no controle da vida do corpo lúteo por meio da síntese de prostaglandina F2α. Os produtos finais (hormônios) das estruturas reprodutivas (folículos e corpo lúteo) regulam hipotálamo e hipófise por meio de feedback positivo/ negativo em um eixo integrado. O cérebro é onde as informações são centralizadas, codificadas e transferidas, tendo relações neuroanatômicas importantes que são essenciais para os aspectos reprodutivos. Eminência média: região importante de conexão do hipotálamo com a hipófise. Todas as informações provenientes do exterior ou do interior chegam por vias nervosas e são direcionadas para a região hipotalâmica- hipofisária. É uma região de contato com alta vascularização, sendo banhada pelo sistema porta-hipotalâmico-hipofisário, responsável por transferir hormônios em curtas distâncias. Existem dois sistemas porta no organismo: o porta-hepático e o porta-hipotalâmico-hipofisário. Para evitar que o hormônio caia na circulação geral e seja rapidamente degradado, existe o sistema porta, composto por: Artéria hipofisária superior Primeiro plexo capilar do sistema porta (H-H) eminência média Veias hipofisárias = partem vasos para adenohipófise. Segundo plexo capilar do sistema porta H-H (na adenohipófise). Drenado pela veia que vai para o seio cavernoso. A artéria hipofisária superior se divide em capilares, formando o primeiro plexo capilar do sistema porta H-H, localizado sobre a eminencia média. Os produtos lançados nela são drenados pelas veias hipofisárias que vão em direção à adenohipófise. Sobre a adenohipófise, se encontra o segundo plexo capilar do sistema porta H-H. Esse sistema é drenado via veia que vai em direção ao seio cavernoso. Hipófise: tem duas porções, neurohipófise (porção nervosa) e adenohipófise (porção não nervosa). Amarelo – neurohipófise Rosa – adenohipófise (aparentemente é desconectada do sistema superior) Origem embrionária da hipófise: conforme o desenvolvimento embrionário, a parte nervosa vai em direção inferior e parte do tubo digestório faz uma invaginação em direção à estrutura cerebral, formando a adenohipófise, que se desconecta do tubo digestório e se mantém conectada a parte nervosa. Com a evolução do desenvolvimento essas estruturas ficam alojadas na sella túrcica, no osso esfenoide que é muito resistente. NEUROHIPÓFISE A neurohipófise se mantém permanentemente conectada com o SN, porém, os neurônios que produzem os hormônios armazenados na neurohipófise estão alojados na parte superior acima da eminência média. Com isso, os corpos celulares dos neurônios que produzem esses hormônios estão localizados nas estruturas superiores, e emitem seus prolongamentos celulares (axônios) em direção à neurohipófise. Então a neurohipófise não produz hormônios, os hormônios são produzidos em áreas hipotalâmicas, transportados pelos axônios e armazenados na neurohipófise. Os principais hormônios armazenados na neurohipófise são: ocitocina e vasopressina (ADH). Quando há qualquer estímulo, eles serão liberados na corrente circulatória. Importância dos hormônios da neurohipófise: ADH → controla diurese atuando na filtração glomerular. Não atua na reprodução. Ocitocina → secretada pela neurohipófise. É um hormônio miocontrátil, age contraindo as células do alvéolo mamário promovendo a ejeção do leite, e também no miométrio facilitando o transporte espermático Exemplos práticos: Vacas na ordenha: ao entrar na sala de ordenha e escutar o barulho há um arco-reflexo de liberação de ocitocina para ejeção do leite. A ocitocina é liberada pela neurohipófise na corrente circulatória, atinge a glândula mamária, realiza uma contração mioepitelial (estrutura muscular lisa dos alvéolos) e promove ejeção do leite. Bezerro mamando ao pé: cria tocando a glândula mamária, provoca reflexo via medula espinhal que vai até o cérebro, fazendo reflexo na neurohipófise de liberação de ocitocina e, consequentemente, ejeção do leite. Massagem clitoriana: IA na vaca – ao final do processo de deposição do sêmen no trato genital feminino deve-se realizar uma massagem clitoriana, gerando um arco-reflexo para liberação de ocitocina que age na musculatura lisa do útero transportando o sêmen depositado no corpo do útero até a tuba uterina onde ocorre a fecundação. 5-alfa-androstenol e 3-androstenona (hormônios presentes na saliva do varrão) são detectados pelo órgão vômeronasal da porca, que traduz as informações dos feromônios. Nosing na barriga da porca: estímulo para liberação de ocitocina na porca (estimula o útero da porca, que é longo). A ocitocina é importante para transportar o alto volume de sêmen. ADENOHIPÓFISE É a porção glandular, responsável por produzir uma serie de hormônios: ACTH (hormônio adrenocorticotrófico) - adrenal participa da reprodução (situação de estresse influencia na reprodução). TSH (hormônio estimulador de T3 e T4) GH Prolactina LH (hormônio luteinizante) FSH (hormônio folículo-estimulante) As células da adenohipófise que produzem hormônios são tireotropos (TSH), corticotropos (ACTH), lactotropos (PRL), somatotropos (GH), gonadotropos (FSH e LH). Na reprodução, estímulos diversos levam os corpos celulares dos neurônios produtores de GnRH liberarem esse hormônio. Esse hormônio é transportado nos neurônios (axônios) e esses produtos são liberados no sistema porta hipotalâmico-hipofisário, sendo transportado nos axônios até as terminações nervosas que estão localizadas em cima do primeiro plexo capilar do sistema porta H-H. depois, é drenado e vai para o segundo plexo capilar do sistema porta H-H, que está por cima da adenohipófise. Lá ele vai estimular as células da adenohipófise para produzir os hormônios que estão ligados a diversas funções do organismo, inclusive a reprodutiva. O GnRH produzido pelos neurônios do hipotálamo é lançado até a região da eminência média. Nesse momento, quando o hormônio GnRH é produzido pelas células nervosas, considera-se ele como um neuro-hormônio. Uma vez drenado até o primeiro plexo capilar pode-se denomina-lo como hormônio. REVISANDO: Uma vez que os corpos celulares dos neurônios localizados na área pré-otica e no órgão vasculoso da lâmina terminal recebem estímulos das mais diferentes formas, as células são estimuladas a produzirem GnRH que será transportado nos axônios dos neurônios produtores de GnRH e vai ser liberado nas terminações nervosas localizadas no primeiro plexo capilar do sistema porta H-H que se encontra sobre a eminência média. O GnRH é então drenado pelas veias hipofisáriasque partem em direção à adenohipófise, onde existe o segundo plexo do sistema porta H-H. Lá o GnRH encontra receptores das células produtoras de gonadotropinas (gonadotropos) e ocorrerá a liberação dos hormônios FSH e LH. Esses hormônios são liberados na corrente circulatória para atuarem nos órgãos alvos (ovários). OBSERVAÇÃO: As mesmas células da adenohipófise (gonadotropos) produzem o FS e o LH. Porém, existe uma forma de liberação distinta dos dois. Existe uma produção e liberação contínua de FSH pelas células (por isso o crescimento folicular é ininterrupto durante a vida), mas o LH é produzido e liberado parcialmente, sendo que uma quantidade dele é armazenada nas células – esse armazenamento é importante pois em momentos específicos precisa haver muita quantidade (ovulação). Controle superior na liberação de GnRH Como estímulos externos (ambiente) podem controlar o processo reprodutivo de forma favorável ou desfavorável? Uma análise das relações neuroanatômicas e estudo dos neurônios produtores de GnRH mostrou que corpos celulares de neurônios produtores de GnRH estão espalhados nas regiões hipotalâmicas (área pré ótica e órgão vasculoso da lâmina terminal), porém, além das áreas hipotalâmicas existem axônios e terminações nervosas interconectadas com os corpos celulares dos neurônios produtores de GnRH. Os corpos celulares desses neurônios são denominados centros cerebrais superiores (CCS) ou interneurônios. Os interneurônios são aqueles que fazem a intercomunicação entre áreas superiores do cérebro com corpos celulares das células que produzem GnRH. Sendo assim, participam do controle da reprodução. Alguns produtos são liberados nas terminações nervosas interconectadas aos neurônios de GnRH, como noradrenalina (noradrenérgicos), opióides endógenos (opiodérgicos), dopamina (dopaminérgicos), aminoácidos excitatórios (AAS excitatórios) e óxido nítrico. O cérebro como estrutura decodificadora de estímulos Os estímulos podem ser externos ao organismo ou internos ao organismo. Fotoperíodo: Um dos estímulos externos que podem estar relacionados ao controle da reprodução das fêmeas nas espécies domésticas é a luminosidade/ insolação (quanto a retina capta de estímulo luminoso). Éguas e ovelhas – reprodução fotoperiódica. Os equídeos se reproduzem em épocas cujo período de luminosidade é maior (primavera/verão). Em contrapartida, os ovinos são espécies que se reproduzem durante os períodos de menor fotoperíodo (outono/ inverno – dias mais curtos). Em função da luminosidade diária pode-se ter um maior ou menor período de ação luminosa por captação de retina. Isso traduzirá a produção de hormônios ligados ao fotoperíodo. ● Exemplo: a melatonina é um hormônio que é produzido em maior ou menor quantidade em função do comprimento de luz ou do número de horas diárias que a retina é estimulada pela luminosidade. Espécies fotoperiódicas positivas: Luz aumenta → incide mais luz na retina → produção de melatonina cai → produção de mais GnRH → LH e FSH → estação reprodutiva. Efeito macho: Consiste em introduzir um macho em grupo de fêmeas. Existe um efeito positivo ao processo reprodutivo, devido ao ato de comportamento do macho em relação às fêmeas, odores liberados pelo macho, urina, estimulação quando ele investiga vulva. Com suínos e ovinos a introdução de um macho pode ter um efeito positivo no processo reprodutivo, inclusive reduzindo a idade à puberdade. Agrupamento: Vacas que estão em fase do ciclo estral próxima formam grupos sexualmente ativos, ou seja, é um grupo de animais que estão entrando no cio ou de animais que estão caminhando para o final do estro e entrando no metaestro. Esse grupo de animais é benéfico ao processo reprodutivo. Verifica-se que quanto maior o número de animais que estão em estro simultaneamente, maior é a intensidade das atividades do comportamento e duração do estro. Portanto, agrupamento social pode predispor controle endócrino. Bezerro ao pé: presença da cria ao pé tem uma relação muito grande com a habilidade materna, tendo efeito negativo ao processo reprodutivo. Como que se dá essa relação de habilidade materna? Um órgão dos sentidos importante que a fêmea usa para identificar suas crias é o nariz, por meio do sentido da olfação. Uma vez que ela sente o odor da cria, há um estímulo no órgão vômeronasal, que leva informações às áreas superiores do cérebro e aos neurônios que produtores de peptídeos opioides endógenos. A habilidade materna é dada pela relação entre o órgão vômeronasal e neurônios superiores que produzem opioides (opioidérgicos). Esses opioides (ex: endorfinas, dinorfinas) tem uma função no controle da reprodução. Essa codificação do reconhecimento dada pelos opioides endógenos controla negativamente a reprodução, pois quando ocorre o reconhecimento da cria, o cérebro materno é banhado por substâncias que levam à habilidade materna, como ocitocina e opioides endógenos. Os opioides fazem feedback negativo nos neurônios produtores de GnRH, reduzindo a quantidade FSH e LH produzidos, e menor atividade ovariana. Opioides elevados bloqueiam a dopamina e aumentam a prolactina. Disponibilidade de nutrientes: quando se realiza a estação de monta há a sincronização das épocas de reprodução (melhores épocas de nutrição disponível no ambiente) e faz com que esses animais fiquem gestantes durante a época com menor índice de disponibilidade de alimentos de qualidade. Então existem fêmeas que ficam gestantes durante a época da seca para parir na época das chuvas, e é verificado que a progesterona é um hormônio anabólico (propicia que os animais mesmo consumindo alimentos de qualidade inferior possam transformá-los em tecidos de reserva). Deve-se considerar que uma fêmea gestante tem a produção de progesterona pelo corpo lúteo e de estrógeno pela placenta. Esses dois esteroides fazem um bloqueio ovariano da gestação. Sendo assim, a atividade ovariana é diminuída, ou seja, o crescimento folicular é diminuído durante a gestação (principalmente no final). Os animais fazem o armazenamento de reservas de energia na forma de tecido adiposo ou muscular. Após a parição há o início do processo de lactação que prioriza a produção de leite (todo o organismo deve trabalhar para isso), então os animais entram em um período de balanço negativo de energia. Com isso, os animais começam a perder as reservas e o escore corporal para transformar esses tecidos em leite e sustentar bem a criação do bezerro. Como um animal de baixa condição corporal pode ficar gestante? Espera-se que com o início das chuvas, o animal tenha acesso a um alimento de melhor qualidade energética e com maior disponibilidade. No processo da digestão, verifica-se que a taxa glicêmica do animal é aumentada (alimento de qualidade = mais glicose). A glicose estimula o pâncreas a produzir insulina, que é um hormônio fundamental no processo de crescimento folicular, pois a insulina estimula a resposta dos ovários aos hormônios reprodutivos. O cérebro dos animais possui sensores (gluco-sensores cerebrais) que mostram que o organismo está em melhor condição nutricional. Com isso, o cérebro começa a produzir maior quantidade de hormônios ligados à reprodução (GnRH, LH e FSH). Com isso, o animal pode ciclar sem haver uma reversão de condição corporal. Todos os interneurônios possuem seus produtos que podem ser positivos ou negativos. Esses subprodutos são direcionados aos neurônios produtores de GnRH e se eles forem inibidores, haverá uma menor produção de GnRH, e se forem estimuladores, haverá uma maior produção de GnRH. Esse GnRH em maior ou menor quantidade é transportado pelos axônios até as terminações nervosas na eminência média, onde existe o sistema porta H-H. Lá ele é transportado até a adenohipófise, levando a uma maior ou menor produção de FSH e LH, sendo estimulador ou inibidor da atividadereprodutiva. As gonadotropinas são transportadas até os ovários onde encontrarão as estruturas que possuem receptores (atuam em todas as estruturas foliculares ovarianas, inclusive corpo lúteo).
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