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O Projeto Musibraille – Possibilitando a Inclusão de Cegos Alunos em Cursos de Música 1 Inclusão de Alunos com Deficiência Visual no Brasil: Novos Desafios para o Ensino de Música 1 No Brasil, a inclusão de alunos com deficiência visual em salas de aula convencionais é recente [1]. No entanto, dentro de certos limites, o uso de computadores e tecnologias adaptativas, algumas delas criadas especialmente para uso no contexto brasileiro, associado à formação específica de professores, permitiu superar muitas dificuldades no ensino, especialmente aquelas relacionadas à leitura e escrita em um contexto comum. Destacamos aqui o sistema DOSVOX [2], amplamente utilizado neste país, que oferece bom suporte para as disciplinas em que a produção e consumo de escrita alfabética é suficiente, mas oferece pouco suporte para disciplinas com forte ênfase em representações matemáticas e quase nada relacionado ao ensino de música. Nesse contexto, uma alternativa simplista seria a utilização da Música Braille pelos alunos com deficiência visual dentro da sala de aula. Essa técnica foi desenvolvida a partir de 1829 por Louis Braille, que adaptou a técnica que desenvolveu para transcrever textos, para escrever música. Através desta técnica um texto musical de qualquer complexidade pode ser transcrito para um formato tátil, utilizando uma codificação com 6 pontos semelhante à marcação Braille, facilmente aprendida por uma pessoa com deficiência visual [3]. No entanto, em geral, professores e outros alunos não têm absolutamente nenhum conhecimento sobre essa técnica. José Antonio Borges1 e Dolores Tome2 2 K. Miesenberger et ai. (Eds.): ICCHP 2012, Parte I, LNCS 7382, pp. 100–107, 2012. © Springer-Verlag Berlin Heidelberg 2012 Palavras-chave: Tecnologia assistiva, Educação de cegos, Música Braille. Resumo. O Projeto Musibraille foi criado para enfrentar as dificuldades de inclusão de alunos cegos em cursos de música no Brasil. A estratégia deste projeto envolve o desenvolvimento de um poderoso software para edição de música em Braille, a construção de uma biblioteca online de música em Braille e a aplicação de cursos intensivos de transcrição de música, tanto para cegos como para não cegos. Este projeto está produzindo um efeito extraordinário na revitalização da Música Braille neste país, com centenas de professores e alunos já formados. Instituto Tércio Pacitti, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brazil antonio2@nce.ufrj.br Universidade de Brasília, Brazil dolorestome@terra.com.br Machine Translated by Google O Projeto Musibraille – Possibilitando a Inclusão de Alunos Cegos em Cursos de Música 101 Tocatta e GoodFeel nos EUA, DaCapo na Alemanha e Braille Music Editor (BME) na América Latina, são os programas mais conhecidos para transcrever músicas em Braille. No Brasil, essa transcrição é quase sempre feita de forma textual, por meio de um editor-tradutor gratuito de Texto para Braille (Braille Fácil) – mas esse sistema não produz retorno sonoro. 2 O Projeto Musibraille Além disso, também é muito difícil incluir músicos cegos nas escolas regulares de música. Existem vários bons músicos cegos no Brasil, mas quase todos os músicos não têm formação erudita, e grande parte não sabe ler braile, mesmo em seu formato literário. Além disso, é muito difícil obter partituras em Braille Music no Brasil [4]. • Criação e publicação de uma Biblioteca Online na Internet, contendo as principais obras de O coração do projeto é o software Musibraille (fig. 1) que é distribuído gratuitamente como parte de um kit que contém material didático em CD e em Braille. O software foi desenvolvido para ser operado por cegos e videntes e incorpora um sintetizador de voz e um pequeno leitor de tela para ser independente de outros produtos, aumentando as possibilidades de uso. O Projeto Musibraille [5] visa criar condições que possibilitem o aprendizado musical de pessoas com deficiência visual, equivalentes aos de seus pares videntes. A estratégia deste projeto assenta em: educação musical e incluindo um extenso conjunto de música brasileira. São poucos os locais com pessoal treinado para fazer transcrições, e se uma pessoa deseja obter uma única obra ainda não transcrita, pode ter que gastar centenas de dólares, seja no processo de importação, seja pagando o preço cobrado por uma instituição especializada para transcrevê-lo. • Criação de software gratuito para ensino e edição de Música em Braille, também capaz de executar É importante observar que existem muitos programas para oferecer suporte à transcrição em Braille de partituras musicais1 Hoje, quase todos os professores de música das escolas públicas são videntes e não têm conhecimento de braile, sendo muito comum a recusa deles em ensinar para alunos cegos, por acharem que é impossível para eles ensinar o conteúdo da partitura de forma eficaz. • Formação de professores de música e arte-educadores em todo o país. que utilizam os seguintes meios (não necessariamente todos): digitação direta em Braille, digitação em um Teclado Midi em tempo real e transcrição automática de formatos digitais de música, em particular Music XML e MIDI. No entanto, além de serem muito caros para uso amplo (como no caso do ensino em escolas públicas de ensino fundamental), não foram elaborados com uma perspectiva inclusiva. A interface desses programas ou é destinada à operação por um vidente que produz a transcrição para consumo por cegos, ou é feita exclusivamente em Braille, isolando o colega vidente. transcrições automáticas de tamanho médio. , 1 Machine Translated by Google 3 O Software Musibraille No Musibraille (Fig. 2), as informações musicais podem ser exibidas simultaneamente em Braille e em notação musical convencional, ouvidas como sons musicais e traduzidas para síntese de fala. Durante a criação e edição podem ser realizadas diversas operações, promovendo inserção, exclusão, modificação e movimentação de símbolos musicais, operações que se assemelham um pouco às funções oferecidas por um editor de texto convencional. Fig. 1. Tela inicial e logotipo Musibraille 102 Fig. 2. Musibraille Music Editor – janela principal JA Borges e D. Tomé Machine Translated by Google Concomitantemente à digitação da música – que inclui a digitação direta em Braille – são realizados alguns testes de consistência, garantindo uma transcrição confiável. Ao digitar você pode ouvir as notas musicais criadas ou até mesmo nomear as figuras criadas na partitura em Braille. Essa provável sobrecarga de feedback sonoro pode ser diminuída escolhendo alguns “estilos econômicos” de retorno sonoro. O software também oferece um dicionário interativo de símbolos musicais (Fig. 3) e algumas funções para ajudar na exploração dos símbolos em Braille. Assim, um vidente ou um professor iniciante pode usar o software para aprender música em braile de forma interativa. É ainda possível produzir uma partitura completaclicando diretamente nos símbolos desejados no dicionário. Um teclado de música virtual (Fig. 4) pode opcionalmente ser simulado na tela, permitindo entrada mais fácil para pessoas que não estão familiarizadas com a notação Braille. Fig. 3. Dicionário online de música em braile O Projeto Musibraille – Possibilitando a Inclusão de Alunos Cegos em Cursos de Música Fig. 4. Teclado Virtual para entrada de músicas no Programa Musibraille 103 Machine Translated by Google Os textos (letras, por exemplo) são digitados normalmente em um editor de texto especializado (Fig. 5) que os converte e cola automaticamente na partitura em Braille. Também é possível obter uma tradução inversa de um texto escrito na partitura. A saída pode ser gerada em Midi e Music XML em partitura ou em impressora Braille, ou direcionada para impressão com o Microsoft Word. O texto em Braille pode ser produzido em vários tipos de impressoras Braille, e também pode ser transcrito em notação musical convencional, possivelmente em impressão grande para consumo por deficientes visuais. Os formatos de arquivo aceitos foram escolhidos para permitir trocas com vários programas, tanto para entrada quanto para processamento de dados Braille para outros sistemas. A entrada pode ser feita por teclado alfanumérico, teclado Braille simulado para arquivos Midi ou impressão Braille padrão (BRL) ou XML musical. O programa também possui recursos para autoavaliação e ajuda online com exemplos que podem ser copiados para o software e experimentados. O treinamento também pode ser feito tanto em salas de aula convencionais quanto a distância. Ser fácil de usar e focado no aprendizado é um de seus maiores pontos fortes e o que o diferencia de sistemas semelhantes. A concepção do programa Musibraille teve uma forte orientação pedagógica que permite a difusão da cultura musical Braille num país de dimensões continentais como o Brasil, associada às características dos seus professores de música [6]. Assim, torna-se possível para um músico não cego (um professor, provavelmente), sem alfabetização anterior em Braille, ser capaz de ler e escrever música em Braille com o mínimo de orientação humana. Também é fácil criar estratégias interessantes para ensinar os conceitos musicais básicos (notas, durações, andamento, etc.) usando o feedback simultâneo que o Musibraille produz: som, notas com notação convencional e símbolos musicais em Braille. 4 Características Sócio-Técnicas do Programa Musibraille 104 JA Borges e D. Tomé Fig. 5. Editor-conversor de texto para Braille Machine Translated by Google 5 A Biblioteca Online Musibraille 2 O Projeto Musibraille – Possibilitando a Inclusão de Alunos Cegos em Cursos de Música 105 O sintetizador de voz LianeTTS, distribuído junto com o Musibraille, é exclusivo para o português. No entanto, o Musibraille é capaz de produzir síntese de fala usando qualquer sintetizador SAPI 5 e, portanto, normalmente é fácil usar o leitor de tela do Musibraille com outros idiomas. Também é importante mencionar que o leitor de tela é destinado para ser utilizado apenas no ambiente Microsoft Windows, e que quando o Musibraille é executado em outros ambientes, ele se torna inoperante. http://www.musibraille.com.br 3 Muitas escolas onde o software está instalado possuem equipamentos com vários anos de uso. Para ser disseminado para todas as escolas, o software deve manter a complexidade computacional sob controle, podendo oferecer um bom desempenho mesmo em computadores muito modestos. Há duas ideias principais por trás da criação desta biblioteca: Esse feedback também deve ser muito preciso para permitir que a geração do Braille seja feita com segurança, mesmo em situações em que a codificação se torne ambígua (como no Braille, dependendo do contexto, os símbolos podem ter significados diferentes). ÿ a síntese de voz do nome do símbolo; ÿ o som musical associado; ÿ a representação gráfica. O programa foi compilado com Borland Delphi 6/7, e foi construído com 45 módulos, que representam cerca de 12000 linhas de código. O código-fonte está disponível gratuitamente para instituições acadêmicas diretamente dos autores. O software é gratuito e pode ser baixado diretamente da página inicial do Projeto Musibraille.3 exibido em tempo real junto com: Uma característica inovadora do software é a inclusão de alguns recursos projetados para dar acesso total ao usuário cego, em particular um sintetizador de fala embutido e um pequeno leitor de tela embutido.2 A razão para essas inclusões é o fato de que não todas as escolas têm este tipo de instalações pré-instaladas. Assim, ter nosso software instalado em um determinado computador significa que, dentro de certos limites, um leitor de tela razoável (e gratuito) também estará disponível para qualquer usuário. Também devemos enfatizar que nosso leitor de tela foi construído especificamente para se adaptar bem às características do feedback de edição de música em Braille. Nas aulas que realizamos, o feedback deste leitor de tela é superior em qualidade e precisão, quando comparado ao feedback de alguns leitores de tela profissionais. A qualidade do feedback é importante: cada símbolo musical inserido pode ser 1. Gerar e disponibilizar na Internet uma quantidade razoável de partituras e textos didáticos relacionados à educação musical, para que o aluno cego tenha acesso imediato a eles, facilitando sua interação com professores de escolas convencionais de música. Machine Translated by Google 4 JA Borges e D. Tomé Obrigado a Natalia Luna por revisar cuidadosamente o idioma inglês deste texto. 106 6 Avaliação do Projeto integração de crianças cegas e videntes em aulas de iniciação musical. • Perspectivas educacionais muito melhoradas em cursos de educação básica, permitindo que o Até o momento, a Biblioteca Musibraille possui um acervo de 600 partituras, quase todas transcritas por nós ou por um de nossos alunos. A coleção inclui principalmente material clássico básico (em particular estudos para instrumentos), muitas canções folclóricas brasileiras e algumas músicas não clássicas do Brasil e de outros países. Inclui também muitas partituras de João Tomé, importante compositor brasileiro cego (patrono da biblioteca). Este projeto conta com o apoio de diversas entidades, principalmente do Instituto Tércio Pacitti da Universidade Federal do Rio de Janeiro, da Universidade de Brasília, da Secretaria de Estado de Cultura do Distrito Federal, do Governo do Distrito Federal, do Ministério da Cultura e do Governo Federal Governo. Os principais recursos foram obtidos da Petrobras por meio de recursos da Lei Rouanet.4 A avaliação deste projeto mostrou: Esta biblioteca contém música em Braille, pronta para editar e imprimir. Os textos musicais estão disponíveis em formato adequado ao programa Musibraille, mas sendo representados computacionalmente diretamente no American Braille Code, podemser facilmente lidos por outros sistemas (que incluem impressão direta nas principais impressoras Braille). Quase todos os textos são livres de direitos autorais ou têm permissão para copiar (com algumas exceções, acessadas por meio de senhas). • Melhor formação educacional dos músicos eruditos. • Integração de músicos cegos e não cegos, mediada por este software. O projeto já foi implantado em oito estados brasileiros e mais de 500 pessoas foram capacitadas, entre professores e alunos, videntes e cegos em salas de aula inclusivas, provocando de certa forma a revitalização da Música Braille no Brasil. A facilidade de aprendizado e a rapidez na transcrição permitiram que cada aluno em cada curso de dois dias, gerasse em torno de cinco transcrições musicais, o que é um resultado muito positivo para pessoas sem conhecimento prévio da Música Braille. As transcrições poderiam ser publicadas automaticamente em nossa biblioteca digital pública, a partir do próprio software. 2. Oferecer um conjunto de músicas brasileiras em vários estilos e origens que possam ser consumidas por cegos de todo o mundo (o que, claro, inclui músicos brasileiros). • Aumentar a qualidade e a quantidade de partituras disponíveis para a educação musical convencional de cegos. Machine Translated by Google Referências 5 6 4. Bonilha, F.: Leitura musical na ponta dos dedos: caminhos e desafios do ensino de musicografia Braille na perspectiva de alunos e professores6 . 107 em Braille no século XXI, Leipzig, Alemanha (2011) 3. Marsan, C.: Louis Braille: Uma Breve Visão Geral. Associação Valentin Haüy, Paris (2009) 2. Borges, J.A.: Do Braille ao Dosvox – diferenças nas vidas dos cegos brasileiros5 PhD in Computer Engineering Thesis (in Portuguese). COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro, Brazil (2009), http://teses2.ufrj.br/Teses/COPPE_D/ JoseAntonioDosSantosBorges.pdf O Projeto Musibraille – Possibilitando a Inclusão de Alunos Cegos em Cursos de Música 5. Tomé, D., Borges, JA: O Projeto Musibraille - Congresso Mundial Braille21 - Inovações 6. Mateiro, T.: Formação de professores de música: Um estudo dos cursos superiores brasileiros. Jornal Internacional de Educação Musical 29(1), 45–71 (2011) 1. Kaiado, K., Laplaine, A.: O programa Educação Inclusiva: o direito à diversidade – uma análise do ponto de vista dos gestores de um município polo. Educação e Pesquisa 35(2) (2009) Tradução: Do Braille ao Dosvox – diferenças na vida dos cegos brasileiros. Master in Music Thesis (in Portuguese). Universidade de Campinas, Brazil (2006) Tradução: Ler música na ponta dos dedos: desafios e formas de ensinar música em Braille na perspectiva de alunos e professores. Machine Translated by Google
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