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https://cursos.univesp.br/courses/3123/pag es/semana-2?module_item_id=266447 Semana 1 (24/07): Concepções de Gestão Texto-base: Gestão educacional: novos olhares, novas abordagens Teorias da administração e seus desdobramentos no âmbito escolar - Condições básicas para o modelo ou paradigma na teoria organizacional, segundo Guillén: - A nova ordem do mundo capitalista é sua direção não mais por homens e sim por princípios científicos baseados na natureza das coisas; - A expansão da industrialização também correspondeu a expansão escolar, a escola como um agente fundamental na preparação para o trabalho; - Uma função primordial da escola é a socialização para o trabalho; A escola clássica: a perspectiva funcionalista - Aqui a organização é visualizada como autônoma; - Representada por Taylor, Fayol e Gilbreth & Gilbreth; - Tem como preocupação a racionalização e os métodos de trabalho e pelos princípios administrativos que garantem o trabalho mais produtivo, mais afetivo e centralizado no comando da gerência; - Princípios que fundamentam os aspectos técnicos e administrativo desta teoria: - Nesta abordagem é construída a definição do operário-massa, como figura emblemática do taylorismo, sendo ele na visão de Lazzarato e Negri: - A educação aqui será vista como fundamental para a sustentação e perpetuação do processo; - A administração escolar aqui é vista como um conjunto de funções, onde planejamento, organização, coordenação, avaliação e controle são elementos constitutivos; - A reprodução se faz necessária nesta teoria; - A primeira função administrativa da escola é o estudo da aprendizagem, do ensino, do aconselhamento, da supervisão e da pesquisa; https://cursos.univesp.br/courses/3123/pages/semana-2?module_item_id=266447 https://cursos.univesp.br/courses/3123/pages/semana-2?module_item_id=266447 - Fluxo de comunicação ocorre de cima para baixo; - Este paradigma perdurou até meados do século XX, incluindo na escola, a qual a direção era designada hierarquicamente e centralizava as decisões e se reproduzia também na sala de aula, centrada na figura do professor, cujo papel era ensinar e o do aluno aprender. Escola de Relações Humanas e seus desdobramentos - Ocupa-se da seleção, do treinamento, do adestramento, da pacificação e ajustamento da mão de obra para adaptá-los aos processos de trabalhos organizados; - A insatisfação, as faltas, a rotatividade, as hostilidades e agressividades, a negligência e o desinteresse são fenômenos que só podem ser compreendidos e administrados se mantidos no nível de interação entre os indivíduos e os pequenos grupos, escamoteados os aspectos políticos da degradação de homens e mulheres submetidos a um tipo de trabalho fragmentado e sem sentido; - Essa perspectiva procura preservar os modelos já existentes; - Príncipios básicos que configuram esta teoria: - A batalha rotineira, as barganhas salariais, o emaranhado da nova vida, os novos tempos alocados e impostos são escondidos pela visão psicológica, obscurecendo o fato de que estão a serviço do poder econômico; - O modo de produção aqui também se expande para a escola. A adequação do trabalhador deve ser renovada a cada geração, exigindo-se uma matriz que a reproduza e a transforme em um aspecto permanente da sociedade industrial; - Administração escolar centrada na tarefa para uma locação no asseguram a estabilidade e sobrevivência de longo prazo do sistema escolar e por consequência do sistema organizacional; O funcionalismo estrutural - Três contribuições clássicas redirecionam, no período, os estudos organizacionais: a) Primeira: Interpretação estrutural-funcionalista da abordagem sistêmica, que acaba por se tornar hegemonia no campo organizacional; b) Segunda: Os aportes mais consistentes da teoria de Durkheim, vía Parsons, mesclam-se a esta vertente, dando conteúdo diferenciado e de cunho mais sociológico ao entendimento das organizações. - Como premissas fundamentais podemos citar: - No que se refere a prática da administração escolar pode se destacar a visão da escola como organização normativa, na qual os órgãos diretivos utilizam controles normativos como primeira instância e coercitivos como fonte secundária; - Organização burocrática e seus elementos se constituírem no centro da gestão da escola, impactando diretamente a sua administração; - A administração escolar enfatiza sua dimensão sociotécnica, lhe conferindo um caráter neutro e começam a aparecer a associação de pais e mestres como sistema de suporte à escola e à administração; A perspectiva do poder e da política - As ideias de Weber são redescobertas entendidas agora como análise de estruturas de dominação e não mais como modelo organizacional estático; - Reintroduzidos os seus estudos sobre ação social e o desenvolvimento das éticas que se alicerçam em cada sistema de poder legitimado, reorientando a leitura dos conflitos para as suas relações com o poder e a política; - Para alguns autores esta abordagem coloca-se na mesma lógica da abordagem do estrutural-funcionalista clássico, mas englobando de forma diferenciada o poder; - Aqui o conflito é um processo social básico e a sua resolução determina a direção das mudanças; - A sociedade é um produto da história e do produto concreto dos homens, que são aquilo que produzem ou a forma como produzem; - As relações entre indivíduos e sociedade são mediadas pelas relações de classe; - O poder aqui é entendido como uma extensa e complexa rede na sociedade e nas instituições, em seus processos micropolíticos; - Na prática da administração escolar temos a escola como aparelho ideológico. Sendo que sua gestão passa necessariamente pela estrutura do poder necessária a esta dominação; - Mudanças no processo administrativo, como eleição de diretores pela comunidade escolar e participação destas nas decisões. À guisa de conclusão: o paradigma atual é o pós-fordismo? - O desemprego e informalidade botam novos exércitos de reserva no espaço público e institucional; - A perda de emprego tem significado a perda do espaço público e das possibilidades de formação identitária como o coletivo de produtores; - A organização torna-se portadora de conhecimentos sociais, técnicos e de distintas competências por meio dos quais grupos particulares se constituem e se reproduzem organizacionalmente, reproduzindo ao mesmo tempo a organização que se deseja; - Neste reino o gestor aparece como modelador da cultura organizacional e orientador de sua direção; - A prática da administração escolar dilacera-se em duas direções opostas: a) Por um lado: a.1) Necessidade de mobilização da subjetividade dos diferentes atores sociais aí presentes estimula o exercício das principais estratégias hoje disponíveis nesse sentido a participação no processo decisório, socializando para o trabalho em equipe e a produção flexível; a.2) A formação profissional enquanto formação de competências denomina autêntica e a.3) A aprendizagem organizacional que se traduz na proposição e na prática de projetos político-pedagógicos que envolvam a comunidade escolar como um todo, garantindo a sua decisão, o seu envolvimento nos processos e nos resultados educacionais. b) Por outro lado: b.1) Tais estratégias se situam no marco da racionalidade instrumental que permeia a sociedade capitalista, cujo fins concentram-se na acumulação e valorização do capital, o que significa que a escola encontra-se submetida aos mesmos critérios de eficácia e efetividade nos termos desta lógica, e não de uma lógica humanista que muitos educadores prefeririam que a organização escolar contemplasse. Texto-base: A educação, a política e administração: reflexões sobre a prática do diretor de escola Resumo - Apresenta subsídios teóricos para se discutir como se configura a ação administrativa do diretor de escola básica (com enfoque especial no ensino fundamental) diante dos fins da educação e da especificidade do processo de produção pedagógico; - O trabalho traz à discussão uma concepção conservadora, mais identificada com o senso comum educacional, queadvoga métodos e princípios idênticos aos aplicados na administração empresarial capitalista. Introdução - “Nenhum problema escolar sobrepuja em importância o problema de administração”; - Nos meios políticos e governamentais, , uma das questões mais destacadas diz respeito à relevância de sua administração, seja para melhorar seu desempenho, seja para coibir desperdícios e utilizar mais racionalmente os recursos disponíveis; - O ensino não está bom, grande parte da culpa cabe à má administração das nossas escolas, em especial daquelas mantidas pelo poder público; - O ensino é importante, e é por isso que se deve realizá-lo da forma mais racional e eficiente; portanto, é fundamental o modo como a escola é administrada. Essa justificativa, expressa ou tacitamente, supõe a administração como mediação para a realização de fins; - “Administração é a utilização racional de recursos para a realização de fins determinados” (Paro, 2010a, p. 25); - Administração é sempre utilização racional de recursos para realizar fins, independentemente da natureza da “coisa” administrada: por isso é que podemos falar em administração industrial, administração pública, administração privada, administração hospitalar, administração escolar, e assim por diante. Tal conceito diz respeito também a toda a administração, o que inclui os vários “setores” da empresa, ou os vários locais ou momentos do processo a que ela se refere; - De acordo com esse conceito mais abrangente de administração, a mediação a que se refere não se restringe às atividades-meio, porém perpassa todo o processo de busca de objetivos. Isso significa que não apenas direção, serviços de secretaria e demais atividades que dão subsídios e sustentação à atividade pedagógica da escola são de natureza administrativa, mas também a atividade pedagógica em si – pois a busca de fins não se restringe às atividades meio, mas continua, de forma ainda mais intensa, nas atividades-fim (aquelas que envolvem diretamente o processo ensino-aprendizado); - Essa valorização do diretor de escola segue paralela à valorização da administração no ensino básico, já que ele é considerado o responsável último pela administração escolar. Enfim, é o diretor que, de acordo com a lei, responde, em última instância, pelo bom funcionamento da escola – onde se deve produzir um dos direitos sociais mais importantes para a cidadania; - O diretor ocupa uma posição não apenas estratégica, mas também contraditória na chefia da escola; Administração como mediação - Tradicionalmente, atuação do diretor de escola costumam ater-se a uma concepção de administração diversa do conceito amplo utilizado neste trabalho, restringem a ação administrativa dos diretores apenas às atividades-meio, dicotomizando, assim, as atividades escolares em administrativas e pedagógicas; - Mutuamente exclusivas — como se o administrativo e o pedagógico não pudessem coexistir numa mesma atividade —, encobrindo assim o caráter necessariamente administrativo de toda prática pedagógica e desconsiderando as potencialidades pedagógicas da prática administrativa quando se refere especificamente à educação; - A administração entendida como a utilização racional de recursos para a realização de fins configura-se “como uma atividade exclusivamente humana, já que somente o homem é capaz de estabelecer livremente objetivos a serem cumpridos” (p. 25); quer dizer, só o homem é capaz de realizar trabalho, em seu sentido mais geral e abstrato, como “atividade orientada a um fim” (Marx, 1983, p. 150); - Considerada a escola como uma empresa, sua administração, ao cuidar da utilização racional dos recursos, supõe que tal utilização seja realizada por uma multiplicidade de pessoas, mas sem ignorar que, em cada um dos trabalhos (que concretizam essa realização), está presente o problema administrativo, ou seja, a necessidade de realizá-lo da forma mais adequada para a consecução do fim que se tem em mira; - Os recursos envolvidos na busca dos objetivos de uma empresa podem se apresentar sob as mais variadas formas, podemos considerá-los como parte de dois grupos interdependentes: a) Os recursos objetivos: a.1) os primeiros incluem-se, por um lado, os objetos de trabalho e os instrumentos de trabalho, isto é, os elementos (materiais ou não) que são objeto de manipulação direta para a confecção do produto; a.2) Os recursos objetivos, como o próprio nome sugere, referem-se às condições objetivas presentes na realização do trabalho ou dos trabalhos que concorrem para a realização dos fins da empresa ou organização. b) Os recursos subjetivos: b.1) Os recursos subjetivos dizem respeito à subjetividade humana, ou seja, à capacidade de trabalho dos sujeitos que fazem uso dos recursos objetivos. Capacidade de trabalho ou força de trabalho é toda energia humana disponível para o processo de produção, ou seja, “o conjunto das faculdades físicas e espirituais que existem na corporalidade, na personalidade viva de um homem e que ele põe em movimento toda vez que produz valores de uso” (Marx, 1983, p. 139); b.2) O recurso subjetivo de cada trabalhador consiste, assim, em seu esforço na realização de ações que concorram para a concretização do objetivo; - A aplicação dos recursos objetivos e subjetivos só tem sentido se esses forem considerados integradamente. Empregando os primeiros da forma mais racional possível – em processos que sejam concebidos e executados do modo mais adequado para o fim que se tem em mira e para os recursos de que se dispõe. O segundo campo diz respeito à utilização racional dos recursos subjetivos e pode chamar-se coordenação do esforço humano coletivo, ou simplesmente coordenação; - A coordenação, por mais que se ocupe da utilização do esforço humano coletivo, não pode ignorar que o escopo principal para a realização dos objetivos é a integração desses recursos aos recursos objetivos de que se dispõe; - Um segundo elemento de complexidade é que a ação dos sujeitos não se restringe ao momento do trabalho, mas espalha-se por todas as relações dentro da empresa; - Percebe-se então o caráter nitidamente político da coordenação do esforço humano coletivo no interior de determinada empresa ou organização; - Quando os interesses dos que executam os trabalhos coincidem com os objetivos a serem alcançados, a coordenação pode se revestir de um caráter mais técnico, pois se atém muito mais ao estudo e à implementação de formas alternativas para alcançar objetivos que interessam a todos. Não deixa de ser política, mas pode mais facilmente fazer-se democrática; - Há divergência entre os interesses dos trabalhadores e os objetivos a se realizarem, a coordenação ganha um caráter marcadamente político, tornando-se muito mais complexas suas funções e as formas de empregar o esforço humano coletivo; - contrariamente ao que se acha difundido no senso comum, a coordenação não precisa ser feita sempre a partir de um coordenador unipessoal que determine a conduta de grupos e pessoas; - A coordenação pode também ser realizada coletivamente – em especial por aqueles mesmos que emprestam seu esforço para a realização dos objetivos da empresa —, quer diretamente, quer por meio de conselhos e representantes. Direção e diretor - A palavra direção pode ser utilizada indistintamente como sinônimo de chefia, comando, gestão, governo, administração, coordenação, supervisão, superintendência etc; - Na maioria dos sistemas de ensino, quando se fala em administrador escolar, pensa-se logo na figura do diretor de escola – embora haja exceções, em que existe a figura do diretor e a do administrador com funções distintas; - Parece ser quase unânime a preferência pela expressão “diretor escolar”, quando se trata de denominar oficialmente, por meio de leis, estatutos ou regimentos, aquele que ocupa o cargo hierarquicamente mais elevado no interior de uma unidade de ensino e praticamente ninguém vai à escola à procura do administrador, mas sim do diretor escolar; - a direção se impõe como algo diverso da administração. E não parece descabido que isso aconteça.Quando se trata da direção da escola e do responsável por ela, pretende-se uma maior abrangência de ação e um ingrediente político bastante nítido, que a administração, muito mais técnica, parece não conter: o diretor é aquele que ocupa a mais alta hierarquia de poder na instituição; - Direção X Administração - Esse ponto de vista assume que a direção, em certo sentido, contém a administração e simultaneamente lhe é mais abrangente. A direção engloba a administração nos dois momentos desta, de racionalização do trabalho e de coordenação, mas coloca-se acima dela, em virtude do componente de poder que lhe é inerente. Podemos dizer que a direção é a administração revestida do poder necessário para se fazer a responsável última pela instituição, ou seja, para garantir seu funcionamento de acordo com “uma filosofia e uma política” de educação (Ribeiro, 1952); - . Observe-se que o diretor de determinada empresa está na situação de quem estabelece os fins da organização, ou é investido do poder de fazê-los realizar-se, ou ambas essas atribuições ao mesmo tempo; - O mais frequente em nossa sociedade é que a direção esteja nas mãos de poucos, que estabelecem os objetivos e determinam que eles sejam atingidos, restando à grande maioria executar as ações necessárias ao cumprimento dos fins da empresa por meio de seu esforço. Situação contraditória do diretor escolar - Conceito de direção, não apenas o encarregado da administração escolar, ao zelar pela adequação de meios a fins – pela atenção ao trabalho e pela coordenação do esforço humano coletivo —, mas também aquele que ocupa o mais alto posto na hierarquia escolar, com a responsabilidade por seu bom funcionamento; - O espírito que rege o tratamento dado ao diretor de escola e as expectativas que se tem sobre ele são cada vez mais semelhantes ou idênticos ao modo de considerar o típico diretor da empresa capitalista (Cf. Félix, 1984; Paro, 2010a); - Se a administração (subsumida pela direção) é a mediação para a realização de fins, será razoável que fins tão antagônicos quanto os da empresa capitalista (apropriação do excedente de trabalho pelo capital) e o da escola (construção, pela educação, de sujeitos humano-históricos) sejam obtidos de forma idêntica, ou semelhante, sem levar em conta a especificidade do processo de produção pedagógico, nem questionar os efeitos deletérios de uma coordenação do esforço humano coletivo na escola nos moldes do controle do trabalho alheio inerente à gerência capitalista? - É o responsável último por uma administração que tem por objeto a escola, cuja atividade-fim, o processo pedagógico, condiciona as atividades meio e exige, para que ambas se desenvolvam com rigor administrativo, determinada visão de educação e determinadas condições materiais de realização que não lhe são satisfatoriamente providas quer pelo Estado, quer pela sociedade de modo geral. Educação escolar: fins e meios - A escola brasileira, de modo geral, não logra alcançar minimamente os objetivos a que se propõe; - Trata-se, portanto, da negação do princípio fundamental da boa administração, que requer a adequação entre meios e fins; - Em termos da qualidade do ensino fundamental, mais do que abordar a administração dos meios, é preciso questionar o próprio fim da escola e da educação, quando mais não seja, para saber se ele é de fato factível e até mesmo desejável; - Vigora nos sistemas de ensino e nas políticas públicas educacionais uma concepção estreita de educação, disseminada no senso comum, de que o papel único da escola fundamental é a passagem de conhecimentos e informações às novas gerações; - A educação – meio de formá-lo como humano-histórico – não pode se restringir aos conhecimentos e informações, mas precisa, em igual medida, abarcar os valores, as técnicas, a ciência, a arte, o esporte, as crenças, o direito, a filosofia, enfim, tudo aquilo que compõe a cultura produzida historicamente e necessária para a formação do ser humano histórico em seu sentido pleno; - Mesmo estando os sistemas de ensino e toda a política educacional supostamente estruturados para esse objetivo, ele não é obtido, o que se pode constatar por meio de contato com os egressos do ensino fundamental que, em geral, retêm apenas uma pequena parcela dos conhecimentos que compõem os currículos e programas das disciplinas escolares; - O componente técnico, refere-se à própria natureza do ato educativo, isto é, ao modo como o educando se apropria da cultura; - O processo pedagógico deve tomar o educando como sujeito, quando mais não seja para não ferir o princípio de adequação de meios a fins: se o fim é a forma; - O educando, que nesse processo forma sua personalidade pela apropriação da cultura, tem necessariamente de ser um sujeito. Portanto, ele só se educa se quiser; - Educar não é apenas explicar a lição ou expor um conteúdo disciplinar, mas propiciar condições para que o educando se faça sujeito de seu aprendizado, levando em conta seu processo de desenvolvimento biopsíquico e social desde o momento em que nasce; - Querer aprender não é uma qualidade inata, mas um valor construído histórica; - Dos próprios professores não se exige (nem se oferecem condições para) um conhecimento razoavelmente profundo de pedagogia e uma prática didática razoavelmente competente; - A ignorância pedagógica e a adoção de um conceito de educação que não se eleva acima do senso comum têm feito com que se tome a educação de crianças e jovens como mera comunicação, análoga à que se dá na leitura de um livro ou jornal, ou no ato de assistir a um filme ou ver televisão; - A escola é vista como mera repassadora de conhecimentos e informações, como acontece com as demais agências de comunicação mais que isso, educar envolve uma relação política entre sujeitos empenhados na construção de personalidades; - Como tal, há o trabalhador, ou produtor, e há o objeto de trabalho a ser transformado em produto. O primeiro é o educador, que mantém uma relação com o segundo, o educando, aquele cuja personalidade se forma ou se transforma como fim da educação. É aqui que entra a peculiaridade da educação como trabalho; - O produtor age sobre o objeto de trabalho, que simplesmente “sofre” aquela ação de transformação; - Por mais que se insista, os conhecimentos e informações não se transmitem sozinhos, isolados de outros elementos da cultura; - Para querer aprender, a criança ou o jovem deve pronunciar-se como sujeito, deve envolver sua personalidade plena, colocando em jogo os demais elementos culturais componentes dessa personalidade (valores, crenças, emoções, visões de mundo, domínio da vontade etc.). - Os sistemas de ensino estruturam suas unidades escolares como agências de comunicação de conhecimentos, ignorando quaisquer medidas que se orientem para fazer da escola um centro educativo com o fim de formar personalidades humano-históricas e em que, por isso, quer nos métodos, quer nos conteúdos, a cultura seja contemplada em sua plenitude; - Em sala de aula, predomina o professor “explicador”, que, só mesmo nessa função minguada, pode ser substituído por computadores ou por meios de comunicação a distância. Administração escolar e o caráter específico do trabalho pedagógico - Temos por um lado a busca de um objetivo extremamente modesto, que omite das novas gerações seu direito de acesso pleno à cultura; - Por outro, uma mediação (administração) inadequada à obtenção mesmo desse modesto objetivo. E isso não é recente, pois a maneira de administrar a escola é praticamente centenária no Brasil; - A escola pública fundamental de hoje, que, por dever constitucional, precisa receber as crianças e jovens de todas as camadas sociais, não pode se esconder atrás do sucesso de poucos; por isso, o seu fracasso aparece; - O problema central é que a escola tem-se estruturado a partir de um equívoco em seu objetivo e na forma de buscá-lo porque adota uma visão estreita de educação. Essa concepção impede que se perceba a especificidade do trabalho escolar e a necessidade de uma administração que correspondaa essa especificidade; - A intenção de aplicar na escola os princípios de produção que funcionam nas empresas em geral não é recente, mas tem-se exacerbado ultimamente, configurando um crescente assalto da lógica da produtividade empresarial capitalista sobre as políticas educacionais e, em especial, sobre a gestão escolar; - A escola básica, em sua estrutura global, continua organizada para formas ultrapassadas de ensino e procura se “modernizar” administrativamente pautando-se no mundo dos negócios, com medidas como a “qualidade total” ou como a formação de gestores – capitaneada por pessoas e instituições afinadas com os interesses da empresa capitalista e por ideias e soluções transplantadas acriticamente da lógica e da realidade do mercado; - É cômodo destacar diretor ou diretores que comandam em nome dos proprietários. Os objetivos a serem perseguidos são os do proprietário, não os dos produtores; - O conceito de autoridade restringe-se à obediência dos comandados, independentemente de suas vontades, a autoridade democrática supõe a “concordância livre e consciente das partes envolvidas” (Paro, 2010b, p. 40). Segundo essa acepção: - A educação formadora de personalidades humano-históricas requer uma relação democrática, aquela em que tem vigência a autoridade democrática. Por isso é tão difícil educar em sociedades (como a capitalista) que não tenham como seu pressuposto básico a democracia em seu caráter radical; - As descobertas das ciências (especialmente a psicologia e a psicologia da educação) têm permitido compreender cada vez melhor no decorrer da história o modo como a criança pensa e aprende, e perceber cada vez mais nitidamente como seu processo de desenvolvimento biopsíquico depende de sua condição de sujeito, de autor; - Os métodos daí decorrentes, desde a Escola Nova (e mesmo antes), exigem relações de colaboração entre quem ensina e quem aprende. Mas esses métodos conflitam com a forma cotidiana de ser de uma sociedade calcada no mando e na submissão; - É preciso estar atento a essa conduta que usualmente compõe a personalidade das pessoas formadas sob uma sociedade autoritária, e que consiste em tratar o outro, o diferente, como inferior. Direção escolar democrática - A relevância de se refletir a respeito da prática do diretor da escola de ensino fundamental. Por isso, devem estar em pauta duas dimensões que se interpenetram mutuamente: a) a explicitação e a crítica do atual papel do diretor, e de como a direção escolar é exercida; e b) a reflexão a respeito de formas alternativas de direção escolar que levem em conta a especificidade político-pedagógica da escola e os interesses de seus usuários. - Essas dimensões se fundamentam em razões técnicas e políticas, embora seja muito difícil distinguir umas das outras; - Comprometido com a construção de personalidades humano-históricas, e que seja a base da formação do cidadão; mas são as razões técnico-administrativas (adequação entre meios e fins) que nos convencem da necessidade do caráter dialógico-democrático (convivência entre sujeitos que se afirmam como tais) das relações que se dão no processo pedagógico, o qual determina e é determinado pela ação do diretor; - Em termos críticos, essa instituição exige, para realização de seu objetivo, uma mediação administrativa sui generis, tanto em termos de racionalização do trabalho quanto de coordenação do esforço humano coletivo; - Como vimos, o processo de trabalho pedagógico, por ser uma relação entre sujeitos que se afirmam como tais, é uma relação necessariamente democrática e assim deve ser tratada em sua concepção e execução; - No que concerne à figura do diretor, trata-se de se questionar a atual situação em que este se acaba constituindo mero preposto do Estado na escola, cuidando para o cumprimento da lei e da ordem ou da vontade do governo no poder; - O dirigente escolar precisa ser democrático no sentido pleno desse conceito, ou seja, sua legitimidade advém precipuamente da vontade livre e do consentimento daqueles que se submetem à sua direção; - Já existem vários estudos e pesquisas que demonstram a importância da participação do pessoal da escola, alunos e pais na escolha democrática do diretor. Um diretor cuja lotação e permanência no cargo depende não apenas do Estado, mas precipuamente da vontade de seus liderados, tenderá com muito maior probabilidade a se comprometer com os interesses destes e a ganhar maior legitimidade nas reivindicações junto ao Estado, porque estará representando a vontade dos que o legitimam e não exercendo o papel de mero “funcionário burocrático” ou de apadrinhado político; - No que concerne a novas alternativas de direção, é preciso contemplar maneiras de conceber a direção escolar que transcendam a forma usual de concentrá-la nas mãos de apenas um indivíduo, que se constitui o chefe geral de todos; - É mais fácil pressionar um indivíduo (o diretor) com processos e outros instrumentos burocráticos do que atingir uma instituição coletiva, formada por coordenadores que representam a vontade dos integrantes da escola que os elegeram e os apoiam; - Em síntese, diante da atual configuração administrativa e didática da escola básica, que se mantém presa a paradigmas arcaicos tanto em termos técnico-científicos quanto em termos sociais e políticos, é preciso propor e levar avante uma verdadeira reformulação do atual padrão de escola, que esteja de acordo com uma concepção de mundo e de educação comprometida com a democracia e a formação integral do ser humano-histórico – e que se fundamente nos avanços da pedagogia e das ciências e disciplinas que lhe dão subsídios. Vídeo-base: Charles Chaplin - Tempos Modernos - Percebe-se nitidamente no vídeo apresentado que existe dois tipos de trabalhadores: o do chão da fábrica que apenas executa a atividade e outro que cuida da parte do pensar a atividade, ou seja, controla os trabalhadores e a forma como cada um irá executar a função dentro da fábrica; - Percebemos ainda que mesmo a parada para um descanso ou ida ao banheiro é proibida levando o trabalhador a fadiga, pois o que importa não é seu bem estar e sim a produtividade e o ganho do empresário; - Na escola, cruzam-se algumas dessas dicotomizações autoritárias. Mas existe uma dominante, da qual a sociedade parece tomar ainda menos conhecimento do que as outras: trata-se da relação da criança diante do adulto, que assume, na maioria dos casos, a do aluno diante do professor: de “quem não sabe” diante de “quem sabe”; - Vídeoaula 1: Concepções de Gestão - Parte I Objetivos desta aula Teorias da administração escolar Escola clássica: a perspectiva funcionalista - Os ideais e fundamentos da revolução industrial foram trazidos também para o campo educacional; - O movimento repetitivo revela a cisão de quem comanda e de quem é comandado; - O trabalhador dessa época era pensando sempre na otimização e por isso este trabalho era parcelado em diversas etapas, ou seja, uma equipe cuida de uma parte da construção de um carro e outra cuida de outra parte; - Aqui temos duas figuras: O pensar (são os que comandam, os especialistas) e o fazer (são os trabalhadores que apenas executam e não podem participar do momento de reflexão sobre seu próprio trabalho). Modelo Taylorista e Fordista - Pensados para a otimização dos processos e a economia de recursos, gerando maior lucro para os empresários. Influências do Taylorismo e Fordismo na Gestão Escolar - A educação traz um modismo da administração empresarial sem pensar esta prática para o conceito escolar; - Temos muitos gestores que ficam presos ao aspecto burocrático e rotineiro que veio da concepção de trabalho da época; - O professor perde a autonomia, pois quem pensa é apenas o especialista; - O professor é apenas o executor, ou seja, abrem um pacote de provas que já vem prontas e ele precisa apenas aplicá-la; - Muitos empresários e governos estão voltando a este pensamento mecânico para o campo da educação. Escola clássica: a perspectiva funcionalista - Esta teoria está voltada para asações descritas e como percebemos na pirâmide, o aluno que deveria ser o centro do processo educativo é colocado lá embaixo e o diretor se torna a figura central. Escola das Relações Humanas - Surge após a primeira teoria e trabalha mais no campo psicológico, mais sutil de manipulação; - Aqui as pessoas são dividas em grupos e umas são incumbidas de controlar as outras; - Tem por objetivo acomodar o trabalhador no lugar em que ele se encontra, fazendo-o pensar se ele pensa diferente dos demais ele é o errado; - Qualquer pensamento político é silenciado e o conflito é posto como algo apenas ruim. Lugar do CONFLITO nas duas teorias da administração - A Escola Clássica está ligada ao tecnicismo. Vídeoaula 2: Concepções de Gestão - Parte II Objetivos desta aula Teorias da administração O funcionalismo estrutural a) Organização e a busca pelo equilíbrio b) O funcionalismo estrutural - Esses sistemas são pensados para o aspecto empresarial e não para a escola, pois é a escola que pega e não pensa sobre o contexto da vida escolar; - Essa teoria nega o imprevisto e a escola é cheia de imprevisto; - Aqui temos o controle não de forma direta, mas sim de uma forma mais sutil de silenciamento; - Os conflitos nesta história não é negado, mas é convertido como apenas questões técnicas, ou seja, poderão ser resolvidos; - Ênfase na neutralidade e no equilíbrio; - A burocracia serve para que alguns conflitos sejam evitados, pois como Foucault dizia a burocracia é uma ferramenta de silenciação de corpos. A perspectiva de poder e da politica - Ancorada no marxismo, ou seja, ela reconhece que as relações de classe existe; - O poder aqui não é negado; - Os conflitos existem e eles devem ser resolvidos e estão sempre ligados a uma questão de classe. Ele se ancora na figura do autoritário e o pensamento contra este autoritarismo; - Tira o poder do campo do autoritarismo e redistribui de uma forma democrática para todos, fazendo-se assim que as classes populares também tenham acesso à educação e ao poder. O paradigma atual seria um pós-fordismo? - O que estamos vivendo hoje é o liberalismo, ou seja, menos estado e mais a empresa, - Esse paradigma atual busca a maior produtividade, porém o busca por meio de outras ferramentas, sendo buscar envolver o trabalhador ao seu trabalho, como se aquele trabalho fosse parte do seu eu e a sua carreira é a sua vida. Administração escolar e Gestão escolar - Diferença dos dois conceitos; - Administração escolar: Utilização racional dos recursos, racional, autoritária e centralizadora; - Gestão escolar: Inclui o aspecto administrativo, pois este é importante, porém a gestão é mais ampliada e inclui também a descentralização do poder. Semana 2 (31/07): Gestão Democrática Texto-base: Concepções e processos democráticos de gestão educacional 1.3 A descentralização do ensino, a democratização da escola e a construção da autonomia da gestão escola - Paradigma corresponde a uma visão de mundo que permeia todas as dimensões da ação humana, não se circunscrevendo a esta ou àquela área, a este ou àquele nível ou âmbito de operação; - É fruto de uma consciência social e coletiva de um tempo, e esta não se dá de modo homogêneo, sobretudo em sua fase de gestação, é possível identificar certa diversidade de orientações e expressões que manifestam graus de intensidade diferente em relação à orientação em torno de um paradigma; - Vivemos em uma condição de transição dialética entre um paradigma e outro. Idealizamos perspectivas diferentes, mais abertas, orientadas pelo novo paradigma; - Encontramos certos sistemas de ensino que buscam o desenvolvimento da democratização da escola, sem pensar na autonomia da sua gestão e sem descentralizar poder de decisão para a mesma; - Observa-se o esforço realizado em alguns sistemas de ensino, no sentido de desenvolver nas escolas os conceitos de democratização e autonomia, a partir de métodos e estratégias centralizadoras, o que implica uma contradição paradigmática muito comum, que faz com que os esforços se anulem (LÜCK, 1987); - A gestão democrática ocorre na medida em que as práticas escolares sejam orientadas por filosofia, valores, princípios e ideias consistentes, presentes na mente e no coração das pessoas, determinando o seu modo de ser e de fazer. 1.3.1 O processo de descentralização do ensino - O movimento de descentralização em educação é internacional e emerge com características de reforma nos países cujo governo foi caracterizado pela centralização, sobretudo aqueles que tiveram regimes autoritários de governo. - Esse movimento está relacionado a vários entendimentos, sendo: - Há três ordens de entendimento na proposição de descentralização: a) Uma de natureza operacional b) Outra de caráter social c) Mais outra, de caráter político - Há sistemas de ensino, como o americano, que emergiram, desenvolveram-se e são mantidos de forma descentralizada, a partir dos esforços e recursos locais e grande participação das famílias. - São as comunidades locais que mantêm a educação e suas escolas e se sentem responsáveis por elas; - O Estado apenas dá algumas diretrizes de caráter extremamente geral e compensações financeiras para as cidades e vilas pobres, enquanto o governo federal apenas promove programas, mobiliza debates e corrige graves desequilíbrios” (CUNHA, 1995: 60); - É necessário toda uma aldeia para educar uma criança; - Diagnósticos realizados sobre a educação brasileira revelam que nela ocorrem problemas crônicos. Esses problemas, conforme apontado por Costa (1997:16), são: - A situação demanda um grande movimento para sua reversão como condição para a superação das condições de baixa qualidade e efetividade do ensino entre nós. - Dada a natureza das problemáticas identificadas, que apenas com uma efetiva participação, envolvimento e comprometimento local é possível promover a efetividade do ensino, tendo em vista não apenas a distância dos governos federal e estadual, e até mesmo dos sistemas municipais de ensino, em relação à escola, mas sobretudo porque são as pessoas com atuação direta ou indireta nas ações que fazem a diferença e sobretudo a partir de sua postura e perspectiva com que realizam o seu trabalho; - A descentralização é, portanto, considerada tendo como pano de fundo tanto, e fundamentalmente, a perspectiva de democratização da sociedade, como também a melhor gestão de processos sociais e recursos, visando a obtenção de melhores resultados educacionais. A relação entre centralização e desconcentração - A democratização da escola fosse plena, seria necessário ocorrer uma verdadeira democratização do sistema de ensino como um todo, envolvendo os níveis superiores de gestão; - Estes deveriam, também, sofrer o processo de gestão democrática, mediante a participação da comunidade em geral e de representantes das escolas, na tomada de decisões a respeito: a) Das políticas educacionais que delineiam; b) Dos programas que propõem para realizá-las; e c) Das normas e regulamentos que definem para sua operacionalização; - Em última instância, que houvesse uma mudança de postura e orientação, mediante a adoção de um relacionamento superador da verticalização e unilateralidade na definição dos rumos da educação; - Observa-se ser comum a adoção por sistemas de ensino, de políticas de descentralização, sem o entendimento das implicações quanto à bidirecionalidade e participação entre o nível de gestão macro (sistema) e o micro (escola), em vista do que se adotam esforços de descentralização, apenas nominais; - Descentralizar, centralizando, isto é, dando algo com uma mão, ao mesmo tempo em que tirando outra coisa com a outra; - O princípio que adotam não seria o da democratização, mas, talvez, o de maior racionalidade no emprego de recursos de maior rapidez na solução dos problemas; - Esse movimento é denominado de desconcentração (e.g. ALVAREZ, 1995; COSTA, 1997) que corresponde aos esforços promovidos pelo Estado para conferir competências que lhe são próprias para regiões ou municípios, de modo que estessejam capazes de administrar as escolas sob sua dependência. Esse movimento é em geral praticado como uma reforma educacional, vindo, dessa forma, a constituir um “modelo de gestão decretado” (BARROSO et al. 1995), em vista do que assume um caráter jurídico e normativo, guardando, portanto, uma possibilidade de significado centralizador; - Descentralização propriamente dita, que pressuporia o empoderamento local, de forma organizada e articulada com os sistemas de ensino, e nem à desconcentração; - Mecanismos de gestão colegiada, desconsiderando as experiências locais de desenvolvimento de práticas de participação na gestão da escola; - Tais ações centrais, de certa forma centralizam o que já se encontravam em processo de descentralização e em desenvolvimento de forma autenticamente autônoma, mediante iniciativas locais; - Como em qualquer outro movimento social, a descentralização é um processo sujeito a contradições. Portanto, as contradições registradas na educação brasileira não invalidam a importância da questão e do movimento, uma vez que apenas evidenciam um aspecto natural do processo, que demanda maior atenção, habilidade e determinação para promovê-lo; - A desconcentração se constitui em uma dessas manifestações, no conjunto do movimento pela descentralização; - Descentralização, esta se processa simultaneamente com um processo de desconcentração, isto é, enquanto se descentralizar certos aspectos, centralizam-se outros; - A desconcentração, apesar de constituir um avanço, no sentido político e operacional da gestão, apresenta limitações, dentre as quais se destaca o fato de -que “não provoca o compartilhamento de poder e nem assunção local de responsabilidades” (MARTINS, 2002: 128); - Criam-se, por exemplo, mecanismos centrais de monitoramento e avaliação da escola e suas ações, como controle sobre a escola e seus resultados, sem preocupar-se com a criação, a partir da escola, da cultura de monitoramento e avaliação locais, como estratégias importantes de gestão, em todos os níveis de ação; - Este é o caso, por exemplo, do Programa Sistema Nacional de Acompanhamento da Frequência Escolar Safe; - A Figura, a seguir apresentada, divulgada pela Diretoria de Estatística da Educação Básica, do Inep, ilustra a intenção de centralização, estabelecendo a relação direta da escola com o Inep: - A descentralização do ensino é, por certo, um processo extremamente complexo e, quando se considera o caso do Brasil, a questão se torna mais complexa ainda, por tratar-se de um país continental, com diversidades regionais muito grandes, com distâncias imensas que caracterizam ainda grande dificuldade de comunicação, apesar de vivermos na era da comunicação mundial em tempo real; - Cabe aqui aplicar o princípio da participação proposto por Pedro Demo (2001), no sentido de que participação é conquista; - Desse modo, “a descentralização educacional não é um processo homogêneo e praticado com uma única direção. Ela responde à lógica da organização federativa”; - A descentralização se justifica, dentre outros aspectos, justamente pela diversidade, cujo aproveitamento e consideração se tornam necessários para a maior efetividade do ensino; - A descentralização pressupõe o atendimento a princípios gerais estabelecedores da unidade do sistema. Isso porque o papel da autonomia é o de produzir consonâncias e não dissonâncias, não representa perda de vínculos e de unidade pela dispersão, mas sim a interligação pelo exercício da energia construtiva e vital de toda organização; - Em muitos casos se pratica muito mais a desconcentração, do que propriamente a descentralização; - É apontado que a desconcentração seria mais o caso praticado no Brasil, em nome da descentralização, estando, no entanto, se conduzindo para a descentralização, mesmo que ainda de forma inconsistente; - Da mesma forma, os sistemas estaduais vêm adotando política similar, ou seja, transferem recursos e responsabilidades com a oferta de serviços educacionais tanto para o município quanto diretamente para a escola”; - A descentralização é, pois, um processo que se delineia à medida que vai sendo praticado, constituindo-se, portanto, em uma ação dinâmica de implantação de política social, visando estabelecer, conforme indicado por Malpica (1994), mudanças nas relações entre os sistemas centrais e suas escolas, pela redistribuição de poder, passando, em consequência, as ações centrais, de comando e controle; - Conforme Sander (1995: 67) propõe, “a verdadeira descentralização só ocorre quando o poder de decisão sobre o que é realmente relevante no campo pedagógico e administrativo se instala na escola”; - Os movimentos de democratização da gestão educacional devem focalizar a escola e o desenvolvimento de uma cultura democrática efetiva e eficaz, liderada por um processo de gestão escolar orientada pela autonomia, conforme a seguir analisado. 1.3.2 A democratização da escola - Descentralização, democratização da escola, construção da autonomia, participação são facetas múltiplas da gestão democrática, diretamente associadas entre si e que têm a ver com as estruturas e expressões de poder na escola, tal como indicado por Martins (2002). Cabe destacar também que “democratizar é a conquista de poder por quem não o tem” (GHANEN, 1998: 98); - A proposição da democratização da escola aponta para o estabelecimento de um sistema de relacionamento e de tomada de decisão em que todos tenham a possibilidade de participar e contribuir a partir de seu potencial que, por essa participação, se expande, criando um empoderamento pessoal de todos em conjunto e da instituição; - O que se observa na escola é um ambiente em que o aluno é colocado em uma situação de passividade e de obediência a determinações de professores por entenderem o processo educacional como aquisição de conhecimentos; - Que nesse caso o que ocorreria é a escola estar a serviço do professor e não do aluno, pois se não ocorrer o seu empoderamento, não ocorreu educação e, sim, domesticação; - Na medida, porém, em que o professor considere que o papel do processo educacional é o de levar o aluno a desenvolver seu potencial, mediante o alargamento e aprofundamento de seus conhecimentos, habilidades e atitudes, de forma associada, passa a envolver o aluno em uma participação ativa; - Não pode ser considerada como democrática uma escola em que os alunos fracassam, e que não pode ser democrática uma escola que não o é para todos; - Quando o exercício do poder é orientado por valores de caráter amplo e social, como o são os educacionais, estabelece-se um clima de trabalho em que os profissionais passam a atuar como artífices de um resultado comum a alcançar, de que resulta o aumento do poder para todos; - Como o poder da competência gera novas alternativas para o enfrentamento de desafios, o melhor aproveitamento de oportunidades na superação de dificuldades e criação de novas e mais promissoras perspectivas de ação, ele tende a aumentar gradativamente; - A atuação efetivamente competente dos professores cria uma cultura proativa pela qual se evita o errado comportamento de atribuir ao sistema e a qualquer outra pessoa ou situação a culpa por condições difíceis, em vez de considerá-las como desafios e enfrentá-las com responsabilidade; - A democratização da escola corresponderia, portanto, na realização do trabalho escolar orientado pela realização e desenvolvimento da competência de todos, em conjunto. Três aspectos apontados nas análises de democratização da escola: a) democratização como ampliação do acesso e sucesso do aluno na escola; b) democratização dos processos pedagógicos; e c) democratização dos processos de gestão escolar (HORA, 1994). 1.3.3 A autonomia da gestão escola - Autonomia constitui-se em um dos conceitos mais mencionados, sendo focalizada nos programas de gestão de sistemas de ensino, como também em programas do Ministério de Educação e Desporto, como condição para a realização de princípio constitucional e da legislação educacional, de democratização da gestão escolar;- O conceito de autonomia da escola está relacionado a tendências mundiais de globalização e mudança de paradigma que têm repercussões significativas nas concepções de gestão educacional e nas ações dela decorrentes; - A autonomia da gestão escolar evidencia-se como uma necessidade quando a sociedade pressiona as instituições para que promovam mudanças urgentes e consistentes, em vista do que aqueles responsáveis pelas ações devem, do ponto de vista operacional, tomar decisões rápidas para que as mudanças ocorram no momento certo e da forma mais efetiva, a fim de não se perder o momentum de transformação; - A autonomia é entendida, em última instância, como o resultado de transferência financeira: “a autonomia é financeira, ou não existe”, conforme afirmou uma dirigente do sistema estadual de ensino. Para muitos diretores de escola, a autonomia corresponde à capacidade de agir independentemente do sistema; - A aproximação entre tomada de decisão e ação não apenas garante a maior adequação das decisões e efetividade das ações correspondentes, como também é condição de formação de sujeitos de seu destino e maturidade social. Texto-base: Gestão Democrática da Escola no Brasil: Desafios à Implementação de Um novo Modelo/Sofia Lerche Vieira e Eloisa Maia Vidal Síntese - A gestão democrática é um princípio orientador da escola pública brasileira definido pela Constituição Federal de 1988 e referendado pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996; - O artigo discute avanços da legislação brasileira e iniciativas de políticas visando o fortalecimento da gestão democrática, procurando associá-los a questões tratadas em uma amostra de professores e gestores de escolas da rede pública de modo a compreender os contornos da gestão escolar pública no Brasil. Introdução - A gestão democrática é um princípio orientador da escola pública brasileira; - É oportuno reconhecer, porém, que este convive com formas de condução das políticas públicas que revelam a permanência de traços de um Estado clientelista e patrimonial. 2. Gestão Democrática - Um princípio orientador - A ideia de gestão democrática foi um marco importante na legislação do país; - Movimentos de educadores lutaram por fazer valer a defesa de seus interesses e inscrever esses e outros princípios nos documentos que passariam a orientar as políticas de educação; - Não é simples precisar o momento exato em que ocorreram os primeiros movimentos em defesa de uma gestão escolar mais participativa; - Surgiram as Conferências Brasileiras de Educação (cbe), as quais assinalaram uma ruptura com formas de pensar anteriores: a) A primeira dessas conferências foi realizada em 1980, em São Paulo; e b) A mais significativa para a defesa da gestão democrática foi a IV CBE, realizada em 1986, em Goiânia. Nela foram firmadas as linhas gerais das bandeiras dos educadores a ser defendidas na Assembleia Nacional Constituinte (ANC), instalada em início em 1987 e que resultou na Constituição aprovada em 5 de outubro de 1988. - O conhecimento sobre gestão democrática disseminou-se no campo educacional; - A Constituição Federal (cf) de 1988 define a “gestão democrática” como um dos princípios orientadores “do ensino público” e “na forma da lei” (Art. 206, VI); - A educação pública como espaço por excelência de sua aplicação, remetendo à autonomia das unidades federadas a legislação sobre a matéria; - A ldb referenda a gestão democrática entre os princípios da educação brasileira (Lei nº 9.394/96, Art. 3º, VIII), ao afirmar a “gestão democrática do ensino público, na forma desta Lei e da legislação dos sistemas de ensino”; - O tema da gestão democrática é detalhado no artigo transcrito a seguir, no art. 14: - Responsabilidade dos sistemas de ensino pela regulamentação das normas da gestão democrática, sendo a participação de dois atores considerados neste processo: dois profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola, da comunidade escolar e local nos conselhos escolares; - Dois Planos Nacionais de Educação (pne) foram aprovados: o primeiro deles, sancionado por lei em 2001 (Lei nº 10.172, de 9 de janeiro de 2001) e o segundo, em 2014 (Lei nº 1305, de 25 de junho de 2014); - A gestão democrática mantém-se como foco das políticas de educação. O segundo PNE define como uma das suas diretrizes (Art. 2o , VI); - Duas metas do pne 2014 focalizam a gestão democrática: a meta 7 e a meta 19. A primeira trata da “qualidade da educação básica em todas as etapas e modalidades” e elege como uma de suas estratégias “apoiar técnica e financeiramente a gestão escolar mediante transferência direta de recursos financeiros à escola, garantindo a participação da comunidade escolar no planejamento e na aplicação dos recursos, visando à ampliação da transparência e ao efetivo desenvolvimento da gestão democrática”. A outra meta tem foco específico sobre o tema indicando a necessidade de, meta 19: a) À formação de conselheiros (19.2), incluindo processos participativos de planejamento, com fóruns específicos de coordenação nas unidades federadas (19.3). Também são feitas recomendações sobre a “constituição e o fortalecimento de grêmios estudantis e associações de pais, assegurando-lhes, inclusive, espaços adequados e condições de funcionamento nas escolas e fomentando a sua articulação orgânica com os conselhos escolares, por meio das respectivas representações” (19.4). 3. Iniciativas de Política - A última década foi marcada por iniciativas que registram uma ampliação da participação na gestão educacional e escolar. Duas estratégias nessa direção registram a preocupação com o aumento da presença de diferentes e novos sujeitos na educação: a) A realização de fóruns coletivos de discussão sob os auspícios do Poder Público (União, Estados e Municípios); e b) O estímulo à formação de conselhos e conselheiros no fortalecimento da gestão democrática. 3.1 Fóruns coletivos de planejamento - E consultas feitas à sociedade civil sobre os rumos necessários à melhoria da educação brasileira, sob a forma de conferências realizadas em etapas municipais e estaduais, que culminaram com a realização de conferências nacionais de educação (Conae); - “A Conferência Nacional de Educação (Conae) é um espaço democrático aberto pelo Poder Público e articulado com a sociedade para que todos possam participar do desenvolvimento da Educação Nacional”: a) A Conae 2010 teve como tema “Construindo o Sistema Nacional de Educação: O Plano Nacional de Educação, Diretrizes e Estratégias de Ação”; b) A Conae 2014 também focalizou o Plano Nacional de Educação, tendo como tema central “O pne na Articulação do Sistema Nacional de Educação: Participação Popular, Cooperação Federativa e Regime de Colaboração”. 3.2 Fortalecimento de Conselhos Escolares - Recebeu forte estímulo na última década foi o fortalecimento dos conselhos que reúne a comunidade escolar. A origem dessas organizações é bastante antiga no Brasil; - Tornaram compulsórias a exigência de instâncias de gestão coletiva nos estabelecimentos de ensino; - O governo federal criou o Programa Nacional de Fortalecimento dos Conselhos Escolares, iniciativa que resultou na produção de materiais didáticos pedagógicos diversos, formação de técnicos de secretarias estaduais e municipais de educação e de conselheiros escolares; - E as estratégias formativas: os Encontros Municipais de Formação de Conselheiros Escolares, Cursos de Extensão a Distância, Formação Continuada em Conselhos Escolares e Curso de Formação para Conselheiros Escolares; - Além dos Conselhos Escolares, outra importante instância de tomada de decisão coletiva é o Projeto Político Pedagógico (PPP), instrumento orientador dos rumos da escola; - Considerando que a gestão democrática envolve outros sujeitos, de modo específico as famílias dos estudantes e a comunidade em torno da esfera de abrangência geográfica da escola, o PPP requer a presença de outros atores além dos profissionais da educação. 4. Gestão democrática na escola - Explorando dados de pesquisa -A gestão democrática da escola pública no Brasil, como se viu, faz-se presente como princípio na Constituição Federal de 1988 e na ldb. A legislação educacional posterior, entretanto, pouco avança no sentido de definir conceitualmente o termo e também de estabelecer atribuições e competências para os gestores escolares; - Têm proliferado modalidades distintas de processos para a escolha de cargos nas escolas; - A literatura brasileira na área de gestão escolar tem enfatizado a organização desta por meio de um conjunto de dimensões, entre as quais podemos citar: - A organização da escola a partir dessas dimensões tem se feito presente nos cursos de formação oferecidos aos gestores escolares, seja pelo Poder Público, ou por organizações não governamentais. 4.1 Formas de Acesso ao Cargo - As formas predominantes de acesso ao cargo são: seleção 9,7%, eleição, 19,9% e seleção mais eleição, 13,2%; e indicação técnica, 11,4%, indicação política, 21,7%, ou outra forma de indicação, 12,8%; - Quase a metade das escolas públicas têm seus gestores escolhidos por processos de indicação, o que fere princípios democráticos e republicanos, na medida em que esses procedimentos não envolvem critérios claramente definidos, publicidade e transparência; - Procurou-se estratificar os dados observando a dependência administrativa dos estabelecimentos de ensino como mostra a tabela 1: - As escolas municipais aquelas que possuem os maiores percentuais de ocupação dos cargos por algum tipo de indicação (59,7%) e as escolas estaduais, as que têm a maioria dos seus cargos ocupados por processo de seleção e/ou eleição (60,7%). Noutras palavras, o princípio da gestão democrática não tem representado obstáculo à indicação política ao cargo de diretor, informação que salta aos olhos no exame dos números absolutos apresentados na tabela 1. 4.2 Gestão participativa - Conselho escolar e comunidade na escola; - A constituição do Conselho Escolar e revelam que este organismo conta com a participação efetiva de professores, funcionários e pais (85,7%, 83,6%, 83,8%, respectivamente) enquanto a participação dos alunos é de 65,4%, valor que pode ter influência de escolas que oferecem apenas as séries iniciais do ensino fundamental: - A tabela 3 apresenta dados sobre a quantidade de reuniões anuais do Conselho Escolar: - A participação e envolvimento da comunidade com as atividades da escola podem ser observadas a partir dos dados apresentados nas tabelas 4 e 5: 4.3 Gestão de pessoas - Procurou-se investigar aspectos relacionados às relações interpessoais entre direção escolar e docentes, bem como a articulação entre o coletivo de professores e demais equipes escolares; - Mais de 50% dos docentes afirmam concordar totalmente ou concordar, evidenciando que para parte expressiva dos docentes, as relações entre os professores e o(a) diretor(a) são construídas com base no respeito, na confiança, no comprometimento, na motivação, possibilitando um clima amistoso de trabalho e cooperação mútua entre os que trabalham no estabelecimento de ensino: - Esses dados, no entanto, também revelam uma significativa omissão por parte dos docentes, uma vez que a média de respostas em branco é da ordem de 25%. 4.4 Gestão pedagógica - Segundo os defensores da organização da gestão escolar em dimensões, a gestão pedagógica é a mais relevante, “pois está mais diretamente envolvida com o foco da escola que é o de promover a aprendizagem e a formação dos alunos”; - A tabela 7 mostra dados referentes a indagações sobre a forma de desenvolvimento do Projeto Politico Pedagógico (PPP) da escola, a partir de uma questão presente nos Questionários do Diretor e do Professor: - 40,7% dos diretores afirmaram ter o PPP sido concebido por professores, pais, outros servidores, estudantes e direção, enquanto 24,6% dos professores afirmam que este foi elaborado por uma equipe de professores e o diretor da escola e 26,5% não respondeu às indagações; - A tabela 8 apresenta informações referentes ao grau de envolvimento do diretor com duas dimensões da gestão escolar: a pedagógica e a administrativa, vistas na perspectiva dos professores: - Na visão dos professores, a gestão escolar sobrepõe as preocupações administrativas às pedagógicas. 4.5 Gestão de recursos - Outro aspecto investigado se refere à autonomia do gestor escolar; - Os dados da tabela 9 mostram que mais de 90% afirma contar com o apoio da comunidade e trocar informações com diretores de outras escolas, 87,8% informam ter apoio de instâncias superiores e 36,1% revela que há interferências externas em sua gestão: - Quanto ao apoio financeiro, 88,4% dos diretores de escolas afirmam receber recursos do Governo Federal, 44,0% do Governo Estadual e 43,1% dos Governos Municipais, como mostra a tabela 10: - Esses dados mostram que as escolas possuem algum tipo de autonomia financeira para gerenciar seu cotidiano. Mostram também que o poder central atua de forma direta nas escolas pertencentes às redes públicas estaduais e municipais, com isso, exercendo algum tipo de controle direto sobre os sistemas de ensino, colocando em cheque os princípios do federalismo.; - O exame desses dados revela avanços da gestão democrática e, ao mesmo tempo, algumas contradições relativas à sua implementação, sobretudo no que diz respeito à permanência de práticas de indicação que ferem a essência deste princípio constitucional. 5. Gerencialismo na escola - Contraponto à Gestão Democrática - O princípio da gestão democrática estabelecido pela Constituição de 1988, tem se traduzido em medidas legais e iniciativas de política com vistas a seu fortalecimento; - Evidencia que diretores têm buscado alternativas para a construção de uma gestão democrática no cotidiano de seu trabalho nas escolas; - Escolas cultivam práticas em flagrante descompromisso com os dispositivos da ldb, expressas pela inexistência de Conselhos Escolares e pela presença de formas segregacionistas de elaboração do Projeto Político Pedagógico, conforme apontam os dados analisados; - Nesse cenário propício à gestão democrática, práticas que têm sido associadas a modelos gerencialistas ganham força; - A principal estratégia para concretizar tal redirecionamento tem sido a avaliação de larga escala, cujas raízes no país remontam à década anterior, “quando o governo federal e alguns governos estaduais (Brooke e Cunha, 2010) começam a desenvolver iniciativas diversas visando aferir resultados de estudantes em provas aplicadas em escolas da rede pública” (Vieira, 2014, p. 7) ; - A gestão das políticas de avaliação de larga escala envolve diferentes instâncias e responsabilidades, desde o Ministério da Educação (mec), passando por secretarias estaduais e municipais, até chegar às escolas, com participação de incalculável contingente de instituições e sujeitos; - Neste contexto, aquilo que deveria representar mera radiografia de um momento da vida escolar (a avaliação externa), passa a ser vivido como se fosse sua essência; - As iniciativas de premiação adotadas por grande número de Estados e Municípios, por sua vez, têm gerado padrões de conduta que se distanciam do princípio da gestão democrática, impondo uma cultura de gestão por resultados. Videoaula 3: Gestão democrática: centralização versus descentralização - Parte I Objetivos desta aula Concepção atual/ideal(izada) de gestão - Ter a democracia como pilar desta gestão; - A ação descentralizadora procura garantir a transparência dos processos e visa fortalecer os municípios, procurando superar a visão de dependência dos outros entes federativos. O que é uma Gestão Centralizadora X Gestão Descentralizadora? - Gestão centralizadora: Ocorre quando o poder está concentrada apenas em uma pessoa ou entidade; - Gestão descentralizadora: O poder está sendo democratizado e distribuído entre as pessoas. Constituição Federal de 1988 e a descentralização - O regime de colaboração que traz o conceito de descentralização do poder; - A legislação traz esse imediatismo para que a haja a descentralização do poder,o que, infelizmente, não ocorria em leis anteriores. Lei de Diretrizes e Bases da Educação e a descentralização - Ela aprofunda um pouco mais o aspecto da descentralização e fala da distribuição dos poderes, por exemplo, as incubencias de cada ente: a) União: Prestação de auxílio técnico e financeiro a Estados e Municípios; b) Estados: Cuidaram do Ensino Fundamental e Médio. Podendo ter universidades, desde que atendido o primeiro requisito; c) Municípios: Cuidaram da Educação Infantil e Fundamental, ciclo inicial, podendo ter Fundamental II ou Médio e Universidades, desde que atendido o primeiro requisito. - Os papéis de cada ente federativo fica muito nítido e ao menos em nível de legislação eles estão em prática. Argumento utilizados para a descentralização - Otimização de recursos, pois os recursos vão chegar às mãos do diretor e ele saberia o que realmente a unidade e a comunidade escolar precisam. Mas seria tão simples assim? Desafios que levam a concentração. a) Gestão descentralizada (desconcentração) - Um dos desafios é quando uma autoridade que manda mantém o poder para si de mandar e desmandar e apenas a responsabilidade que aquele poder leva junto é repassada. Ou seja, é a desresponsabilização do órgão central; - Desconcentração: É a delegação ou transferência do poder, porém mantendo para si o bônus e apenas passando o ônus e responsabilidades daquele poder, ou seja, transferência de tarefas e ordens. b) Associação construída - A descentralização de poder se liga a democracia, enquanto o autoritarismo se liga a centralização e ineficácia dos serviços. c) Contradições à perspectiva emancipatória e participativa da descentralização - Graças ao neoliberalismo a descentralização ganha contornos opostos, ou seja, na verdade não temos uma descentralização e sim uma desconcentração como visto anteriormente; - Todas as responsabilidades recaem sobre os menores, ou seja, nas mãos do diretor e municípios. d) Descentralização da educação ( na ótica do ideário neoliberal) - Uberização na educação, falta de concursos públicos, desinvestimentos e cada vez mais o currículo é atrelado a avaliações externas; - Nesta ótica neoliberal cada vez mais o governo lava as mãos sobre suas responsabilidades e chama isso de descentralização e autonomia, mas na verdade está ocorrendo uma desconcentração de responsabilidades. e) A descentralização na educação, sob a ótica emancipadora - Ela se justifica pela diversidade das realidades de seus participantes; - Consonância na distribuição de poder e tarefas; - Bidirecional, ou seja, não acontece de cima para baixo, mas na horizontalidade; - Busca a construção de um projeto verdadeiro de educação; - Gestão compartilhada; - Realiza a gestão dos recursos de forma colegiada, ou seja, não está apenas na figura do diretor. Vídeoaula 4: Gestão democrática - Parte II Objetivos desta aula - Ela não está dada e precisa ser construída diariamente; - É a base da gestão escolar a gestão democrática. Gestão democrática anunciada na legislação (Constituição de 1988 e na LDBEN 9394/1996 - Desde de 1988 a constituição traz o conceito de gestão democrática no ensino público; - A LDBEN traz quase o mesmo texto da Constituição apresentando apenas um desdobramento; - Como não possuímos ainda muita expertise com a democracia, sendo a nossa relativamente nova, vivemos ainda naquele pensamento de hierarquia na escola pública o que deve ser enfrentado e quebrado cotidianamente. Autonomia da Gestão, segundo a LDBEN - Essa autonomia não ocorre de fora imediata, mas de maneira progressiva. O que a gestão democrática influencia? - Coletividade são todos as pessoas que fazem parte da escola e não apenas de professor e aluno. A educação tem muita falta ainda de olhar para todos os profissionais que dela fazem parte como educadores e não apenas os professores. Autonomia é inerente á uma gestão democrática - A autonomia é a base da gestão democrática; - O PPP tem como exigência a gestão democrática que por sua vez exige autonomia. Mecanismos de Construção da Autonomia da Gestão Escolar - Eleição de diretores (apenas essa eleição não garante a gestão democrática, mas ela é necessária), descentralização de recursos financeiros e formação de órgãos colegiados; - A eleição de diretores é o ideal que a legislação traz e precisamos lutar para que isso realmente faça parte da educação em todas as escolas. a) Como deve ser essa eleição de diretores? - Esse diretor deve ter competência técnica em gestão, o ideal seria se tivesse experiência de sala de aula, mas se não tiver tudo bem; - Cada município e ente irá desenhar os seus critérios para essa eleição e quem pode participar. Autonomia na gestão - Essa autonomia demanda confiança recíproca, ou seja, confiança de todos os que elegeram o diretor; - Amadurecimento, aqui todos devem se sentir pertencentes àquele espaço em seu bônus e suas responsabilidades, ou seja, não basta fazer a eleição de diretores é necessário também fazer-se presente nesta gestão, cobrar e cumprir com as responsabilidades; - É necessário ser uma gestão transparente; - Os gestores precisam fazer a separação de seus desejos particulares e coletivos. Algumas contradições… - Precisamos pensar melhor qual é o papel da escola e dar um suporte para essa escola exercer de fato esse poder. Autonomia se constitui na medida em que... - Se vence os medos, se vence esse medo no cotidiano, na vivência; - Criar espírito de equipe frente às condições deficitárias; - Conquistar a gestão compartilhada, reforçando o trabalho colaborativo. Escola democrática inclui o sucesso escolar, segundo Luck - Uma escola inclusiva é aquela que inclui a todos e dá de fato voz a todos. Escola democrática inclui o sucesso escolar, segundo Luck - A gestão democrática não é apenas a atuação do diretor, mas também é com todos os sujeitos que discutem e conseguem soluções em conjunto para os problemas vivenciados; - Esse tipo de gestão não é algo orgânico, mas construído com o tempo e com vários embates. Vídeo-base: Gestão Escolar Democrática: resumo da entrevista com Vitor Henrique Paro - Conceito de administração: Utilização racional de recursos para atingir determinados fins; - Administração é mediação, esse conceito corrige dois equívocos: a) Quando se fala em administração parece que as pessoas pensam que precisa necessariamente tem um administrado e os seus administrados; b) Administração como mediação, é a administração é a preocupação com todos os tipos de recursos, seja ele humano, material, financeiro. - A administração permeia todo o processo; - Qualquer administração somente é bem sucedida se o objetivo final é atingido e caso não for essa administração não vale de absolutamente nada. Por exemplo, não adianta ter merendeira, secretário da educação, diretor se não tiver no processo o aluno que está aprendendo de fato; - Gestão ou administração significa todo tipo de mediação; - A racionalização do trabalho é o uso consciente e de maneira equilibrada dos recursos; - Não basta ser eficiente administrativamente, mas ser eficiente para atingir um objetivo, no caso da escola, a produção de um ser humano histórico; - Tudo o que é produção do homem é chamado de cultura. O homem a cada nova geração não precisa ficar reinventando tudo de novo, ele pode se apropriar da cultura dos nossos antepassados e modificá-la; - O ser humano não aprende, mas ele se apropria da cultura produzida; - O sujeito somente aprende se ele quiser; - O fundamental do educador é exatamente propiciar para o aluno que ele queira aprender; - Você não nasce querendo aprender, você aprende a querer a saber; - Ninguém educa ninguém, o sujeito educa-se a si mesmo, o professor vai propiciar para o aluno momentos e oportunidades de incentivo para que ele queira aprender; - A escola não precisa ter apenas uma pessoa na direção mandando nos outros e sim um grupo diretivo, por exemplo uma equipe de coordenadores; - A melhor forma de ensinar não é obrigando o aluno a estudar, mas fazer com que o alunoqueira estar ali; - Existem duas formas de eu conviver com o outro: de maneira autoritária (mandando no outro), a dominação é sempre abominável. Outra forma de conviver com o outro é democraticamente, dialogando, um cede e ou outro também; - O principal papel do professor é propiciar oportunidades para que os alunos queiram aprender; - O mais importante do administrativo é aprender que temos que aprender a dialogar com o outro. Semana 3 (07/08): Gestão Participativa Texto-base: A gestão participativa na escola 2- Valores, objetivos, princípios e dimensões da participação - A participação se manifesta como um processo fluido, dinâmico e não linear, nem sempre lógico, correspondente à democratização da tomada de decisões e da respectiva atuação comprometida de profissionais e pessoas em geral na dinamização da organização escolar; - Aspectos de modo a caracterizar perspectivas com as quais se pode analisar e avaliar as práticas atuais da escola. 2.1 - Valores orientadores da ação participativa - Ação participativa, depende de que seja realizada mediante a orientação por certos valores substanciais: a) Ética: b) Solidariedade: c) Equidade: d) Compromisso: 2.2 - Objetivos da participação como ação social - A participação não se constitui um fim em si mesma; - A promoção da participação deve ser orientada e se justifica na medida em que seja voltada para a realização de objetivos educacionais claros e determinados, relacionados à transformação da própria prática pedagógica da escola e de sua estrutura social, de maneira a se tornar mais efetiva na formação de seus alunos e na promoção de melhoria de seus níveis de aprendizagem; - Objetivos gerais na promoção da participação: * Estas são condições fundamentais para que a escola realize o objetivo por ela assumido e presente na proposição de seu projeto pedagógico, que é a formação de seus alunos para a cidadania. - Objetivos específicos: * São importantes condições para o estabelecimento da qualidade de ensino. 2.3 - Princípios da participação - Esses princípios são: 2.3.1. A democracia é vivência social comprometida com o coletivo - Embora a democracia seja irrealizável sem participação, é possível observar a ocorrência de participação sem espírito democrático; - A democracia, como processo e não como ideário estabelecido a priori, aparece e se desenvolve incessantemente (re)construída, mediante o dinamismo específico da estrutura e funcionamento organizacional da comunidade escolar/educacional que se efetiva a partir das pessoas e do espírito humano da cultura organizacional da comunidade, mobilizando-os e sendo por estes elementos mobilizada; - No contexto democrático, direito e dever não são conceitos fixos e estabelecidos a serem adotados e seguidos, mas, sim, ideias que se desdobram e se transformam continuamente pela própria prática democrática que, por si, é criativa e dinâmica; - O postulado democrático de orientação dos processos sociais da escola implica, portanto, o construir juntos, vivenciado no plano interpessoal, do respeito ao outro como sujeito, como ser humano (CARDOSO, 1995); - A participação constitui uma forma significativa de, ao promover maior aproximação entre os membros da escola, reduzir desigualdades entre eles; - Define-se, pois, a gestão democrática como o processo em que se criam condições para que os membros de uma coletividade não apenas tomem parte, de forma regular e contínua, de suas decisões mais importantes, mas assumam responsabilidade por sua implementação; - Democracia pressupõe muito mais que tomar decisões: envolve a consciência de construção do conjunto da unidade social e de seu processo de melhoria contínua como um todo. 2.3.2 - A construção do conhecimento sobre a realidade escolar é resultado da construção dessa realidade - É necessário haver além da intuição e da observação empática e receptiva sobre os fatos e dados da realidade uma organização sistemática desses aspectos, de modo a se poder, a partir de sua análise e interpretação objetiva, construir conhecimento significativo e inspirador para a promoção de avanços educacionais; - Os processos sociais participativos promovidos na escola constituem-se em campo fértil e rico de construção de conhecimento social; - Construir conhecimentos a partir das práticas escolares coletivas constitui-se, portanto, em um processo fundamental a ser promovido na escola, e que sustenta e faz avançar a gestão da escola e a qualidade de seu trabalho educacional; - Conflitos e dificuldades das situações de participação e interação social, é a condição fundamental para permitir-lhe a construção de conhecimentos de seus processos sociais e educacionais; - O conhecimento complexo exige-nos: 2.3.3 - A participação é uma necessidade humana - Entende-se que a natureza humana básica - sua vocação primeira - consiste na necessidade de a pessoa ser ativa em associação com seus semelhantes, desenvolvendo seu potencial; - O ser humano se torna uma pessoa e desenvolve sua humanidade na medida em que, pela atuação social, coletivamente compartilhada, canaliza e desenvolve seu potencial, ao mesmo tempo que contribui para o desenvolvimento da cultura do grupo em que vive, com o qual interage e do qual depende para construir sua identidade pessoal; - “Nenhum homem vive, pensa, sente ou julga independentemente do grupo social a que pertence” (CARVALHO, 1979: 15), nenhum grupo social tem vida independente dos indivíduos que o constituem; - À medida que um alcança, por sua dinâmica de ação, estágios mais elevados de desenvolvimento, constrói condições para que o outro também o alcance; - É pela participação que o indivíduo desenvolve a consciência do que é como pessoa, mobilizando suas energias e sua atenção como parte efetiva de sua unidade social e da sociedade como um todo; - Quanto mais nos dedicamos a atuar em nosso meio participativamente, mais nos conduzimos para nossa realização como seres humanos plenos. 2.3.4 - A participação implica uma visão global do processo social - Não se pode pensar em estabelecer o processo de participação na escola apenas parcialmente. Ou ele é considerado como um processo que atinge a todos os segmentos do estabelecimento de ensino, ou corresponderá a simples ativismo utilizado para camuflar um esforço no sentido da manutenção da condição vigente na escola como um todo, em que uns decidem e outros executam, uns se omitem, outros ocupam o espaço da decisão, ou em que ninguém decide e o que todos fazem é continuar atuando como sempre fizeram, sem consideração a resultados e possibilidades de melhoria e desenvolvimento; - Participação é um princípio a permear todos os segmentos, espaços e momentos da vida escolar e dos processos do sistema de ensino, de acordo com os postulados democráticos, orientadores da construção conjunta; - Participação, portanto, não é privilégio, ou idiossincrasia de determinados grupos, e sim condição geral, caracterizada pela reciprocidade expressa em todos os segmentos; - A realidade social é socialmente construída, ela não preexiste, mas é criada cotidianamente pela ação coletiva, a partir das intenções e propósitos que a orientam. 2.4 - Dimensões da participação - Manifesta três dimensões convergentes entre si e interinfluentes: política, pedagógica e técnica; - Nenhuma ocorre independentemente da outra e não representa a realidade como um todo, visto que se entrecruzam, formando um todo dinâmico pela força de sua associação. 2.4.1 - Dimensão política - Refere-se ao sentido do poder das pessoas de construírem a sua história e a história das organizações de que fazem parte, para torná-las mais significativas e mais produtivas; - Quistam-se os direitos correspondentes que, gradativamente, aumentam o direito da participação; - Desenvolvendo-se a prática de cidadania no interior na escola; - Constrói-se a autonomia e o empoderamento pelo alargamento de consciência social e desenvolvimento de competências sociais. 2.4.2 - Dimensão pedagógica - Refere-se ao fato natural de que a prática é, em si, um processo