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DOUTO JUÍZO DA ... VARA DO TRABALHO DE SANTOS/SP Processo nº... EMPRESA..., já qualificada nos autos em epígrafe da reclamação trabalhista que move em desfavor de X... também já qualificada nos autos, vem respeitosamente, perante Vossa Excelência, por intermédio de seu procurador infra-assinado, nos termos do artigo 895, inciso I, da CLT, interpor RECURSO ORDINÁRIO em face da R. Sentença prolatada nos autos. Informa-se que todos os pressupostos de admissibilidades foram observados. Reclamante intimado da R. Sentença em ..., sendo, portanto, tempestivo. Diante do exposto, requer o recebimento do presente recurso, a intimação da parte contraria para, querendo, apresentar contrarrazões, e após seja o presente recurso remetido ao Egrégio Tribunal do Trabalho da ... Região. Nestes termos, Pede e espera deferimento. Santos, 05 de junho de 2023. Advogado... OAB... RAZÕES DE RECURSO ORDINÁRIO Origem: ...Vara do Trabalho de Santos/SP Processo nº ... Recorrente: EMPRESA... Recorrido: X... Egrégio Tribunal Regional da ... ª Região Eméritos julgadores, Nos autos do processo em epígrafe foi prolatada a R. Sentença que julgou improcedente os pedidos autorais, entretanto não merece ser mantida pelas razões, que passa a expor: I – Da Síntese dos Fatos Foi ajuizada reclamação trabalhista em face da recorrente onde a recorrida laborava como representante comercial, sendo dispensada e recebendo indenização decorrente da ruptura do contrato de trabalho. A recorrida entrou com reclamação trabalhista contra a recorrente, onde requer reconhecimento do vínculo empregatício pleiteando o pagamento de 9/12 de férias acrescidas do terço legal, 2/12 de 13º salário proporcional do ano de 2016, 7/12 de 13º proporcional do ano de 2017 e depósitos fundiários de 14/11/2016 a 25/07/2017, também requer acréscimo de 50% sobre o valor da hora normal de trabalho. Entretanto, a referida decisão não merece prosperar devendo ser reformada, haja vista que houve condenação estabelecida de forma subsidiaria nas verbas supracitadas, conforme os fundamentos que a seguir serão expostos. II – Do Cabimento Do Presente Recurso Ordinário A decisão proferida na ... Vara do Trabalho, trata-se de uma sentença encerrando a atividade jurisdicional do Douto Juízo de primeira instância. Neste contexto, o reexame da decisão supracitada deve ser instaurado através de Recurso Ordinário, conforme estampado o artigo 895 da CLT. Cumpre ressaltar que segue cópia das custas e depósito recursal devidamente recolhidas. Dessa forma, preenchido os pressupostos de admissibilidade requer o devido processamento do presente recurso. III – Da Reforma da Sentença a) Ausência de vínculo empregatício anterior a data do reconhecimento anotado em CTPS O recorrido, antes de assumir o cargo de ..., prestava serviços como Representante Comercial para o recorrente. Extrai-se do art. 3º da Consolidação das Leis do Trabalho que “considera-se empregado toda e qualquer pessoa física que prestar serviços de natureza não eventual a empregador, sob a dependência deste e mediante salário”. Como estampado, desse conceito surgem os requisitos que devem estar presentes para a caracterização do contrato de trabalho, quais sejam: continuidade, subordinação jurídica, onerosidade e pessoalidade. Ocorre que o recorrido não preenche os requisitos legais acima assinalados, padecendo de qualquer direito trabalhista em face de pretenso vínculo laboral. (i) Subordinação jurídica: O Recorrido jamais atuou na forma dos artigos 2º e 3º da CLT, mas, desempenhou suas atividades nos moldes da Lei nº 4.886/65, ou seja, na qualidade de representante comercial. As provas dos autos, em especial a documental, remetem à regularidade da contratação do pretenso obreiro como representante comercial. Ao contrário do que afirmado na peça exordial, inexistiu qualquer espécie de submissão do recorrido ao poder diretivo da recorrente. Existiu a plena autonomia na execução das atividades, assumindo, assim, os riscos da própria prestação de serviços. a. Prova documental Algumas circunstâncias revelam que o Recorrido detinha autonomia, como, manter auxiliares em seu escritório, havia ajustamento de representação com outras empresas, pagamento de impostos, cópia do contrato social da firma do recorrido, mantida a atividade econômica de representação comercial, bem como o registro no Conselho Regional dos Representantes Comerciais (em anexo). Percebe-se pelos documentos anexados que o recorrido percebia comissões em meses alternados e descontínuos, além de clientela variada. Outrossim, o recorrido tinha estrutura empresarial própria, totalmente diversa de um obreiro com vínculo de emprego, comprovando que se trata de autônomo. Trata-se de correspondências trocadas entre ambos, onde a Recorrente direcionava algumas orientações de desenvolverem-se melhores vendas no mercado. Significa dizer que não existia uma relação de subordinação entre o recorrente e a recorrida, mas apenas indicação de melhorias nas vendas. Portanto, a prestação laborativa do recorrido não se deu com ânimo de se vincular à recorrente de forma empregatícia. b. Prova Testemunhal A prova oral colhida apontou para elementos que afastam o vínculo laboral. No depoimento da testemunha ..., o qual dormita às fls..., revela que: “...não havia obrigatoriedade do comparecimento diário, nem horário ou meta a cumprir do reclamante à empresa, por não manter o efetivo registro do vínculo na CTPS”. “...o intervalo para refeição e descanso era combinado entre a equipe de 20 a 25 minutos pelo menos algumas vezes durante o dia, para lanche e https://www.peticoesonline.com.br/topicos-do-direito/lei-4886/65 https://www.peticoesonline.com.br/topicos-do-direito/representante-comercial brincávamos que se não fosse feito o horário de lanche com pressa o chefe iria ligar para brigar”. Há de ressaltar o recorrido atuará, de fato, sob a órbita de características exclusivas do representante comercial, com total autonomia e liberdade. O fato em que a testemunha relata em que fazia horário de lanche algumas vezes por dia afasta mais uma vez o vínculo empregatício entre as partes, que tampouco configura como jornada de almoço em intervalo de interjornada ou intrajornada. O recorrido podia fazer seu intervalo ou almoço e descanso quantas vezes fossem necessárias. Assim, tem-se que o recorrido desenvolvia seu negócio às suas próprias expensas e risco, diferente da figura do empregado, que é definido, principalmente, por estar subordinado ao empregador. Sobre tal aspecto, o magistrado Maurício Godinho Delgado relata que: “Conceito e Caracterização – Subordinação deriva de sub (baixo) e ordinare (ordenar), traduzindo a noção etimológica de estado de dependência ou obediência em relação a uma hierarquia de posição ou de valores. Nessa mesma linha etimológica, transparece na subordinação uma ideia básica de “submetimento, sujeição ao poder de outros, às ordens de terceiros, uma posição de e dependência. A subordinação corresponde ao polo antitético e combinado do poder de direção existente no contexto da relação de emprego. Consiste, assim, na situação jurídica derivada do contrato de trabalho, pela qual o empregado compromete-se a acolher o poder de direção empresarial no modo de realização de sua prestação de serviços. Traduz-se, em suma, na ‘situação em que se encontra o trabalhador, decorrente da limitação contratual da autonomia de sua vontade, para o fim de transferir ao empregador o poder de direção sobre a atividade que desempenhará [ ... ]” É necessário não perder de vista a posição de jurisprudência conforme se depreende dos julgados abaixo transcritos: RECURSO ORDINÁRIO DO RECLAMANTE. VÍNCULO EMPREGATÍCIO.NÃO CARACTERIZADO. REPRESENTANTE COMERCIAL. AUTÔNOMO. Para a caracterização do vínculo empregatício, necessário se faz a prova robusta e eficaz dos requisitos que por Lei definem o contrato de trabalho, quais sejam: subordinação, onerosidade, pessoalidade, não eventualidade e alteridade. No caso em análise, ausentes os requisitos configuradores da relação empregatícia, e patente o trabalho de forma autônoma. Recurso a que se nega provimento [...] REPRESENTANTE COMERCIAL. NÃO-RECONHECIMENTO DE VÍNCULO EMPREGATÍCIO. Não preenchidos os requisitos previstos no art. 3º da CLT, impõe-se a manutenção da sentença que indeferiu o reconhecimento do vínculo de emprego [...] REPRESENTANTE COMERCIAL. VÍNCULO DE EMPREGO. https://www.peticoesonline.com.br/topicos-do-direito/pessoalidade No caso, verifica-se do depoimento pessoal do reclamante que não estava subordinado há quem representava, executando com total autonomia suas atividades, inclusive assumindo o risco de seu negócio (Que as despesas das viagens eram todas por conta do depoente, que viajava com seu próprio veículo. Depoimento pessoal), que detinha liberdade para definir seu horário de trabalho, bem como para visitar outros clientes não vinculados à reclamada. A realidade fática demonstra que o autor não prestava serviços com autonomia, configurando-se a figura do empregado comum, porque: Não recebia ordens diretas de um gerente; não havia controle de jornada e de horário; tinha liberdade em determinar a rota de visitas aos clientes e inclusive escolher quais visitar; o trabalho podia ser executado por outra pessoa. Vale ressaltar que o fato de o reclamante não possuir autonomia plena quanto a conclusão ou não de pedidos e sujeição à tabela de preços fixada pela representada, em razão de haver metas preestabelecidas, prestar contas dos serviços por ele desempenhados e entregar relatórios, assim como participar de reuniões em um dia determinado com as equipes de vendas e fazer as cobranças não são determinantes para reconhecer subordinação, vez que são decorrentes da aplicação dos artigos 28 e 29 da Lei n. 4.886/65. No que diz respeito a algumas orientações emanadas da gerência da reclamada, impende ressaltar que a própria Lei que regula as atividades dos representantes comerciais autônomos admite algumas ingerências na prestação de serviços do representante comercial, a fim de zelar pela transparência da atividade mercantil e porque existe um mínimo de coordenação da atividade. Dessa forma, não verificada a presença de todos os elementos configuradores da relação de emprego preconizados pelo art. 3º da CLT, forçoso reconhecer que, de fato, a natureza jurídica da relação de trabalho seguiu os moldes da versão informada pela reclamada, qual seja, representação comercial autônoma, de forma que outra não pode ser a solução dada senão a improcedência da pretensão do autor. Recurso da reclamada provido[...] IV – Prejudicial do Mérito a) Saldo de Salário: Todas as faturas das vendas realizadas pela empresa do recorrido foram devidamente quitadas, inclusive a do mês em que ele rescindiu o contrato de representação, o que se comprova pelo depósito realizado na conta corrente nº..., da agência ..., do Banco ..., no dia .... (em anexo). b) Horas Extras: A exceção do inciso I do artigo 62 da CLT aplica-se ao recorrido. Delimitou-se, com a inicial, que o recorrido, como pretenso empregado externo. As atividades descritas como desempenhadas, portanto, são totalmente incompatíveis com a fixação de horário, ou seja, sem ingerência da reclamada em sua “jornada” informada. Em momento algum o recorrido foi submetido a qualquer espécie de controle de jornada de trabalho. Nesse sentido: JORNADA DE TRABALHO. ARTIGO 62, I, CLT. TRABALHO EXTERNO. VENDEDOR. HORAS EXTRAS. Nos termos do art. 62, I, da CLT, não fazem jus a horas extras os empregados que desenvolvam atividade externa incompatível com a fixação de horário. Dessa forma, resta evidente que, em se tratando de jornada externa, é preciso verificar a existência ou não de incompatibilidade entre a natureza da atividade exercida e a fixação do seu horário de trabalho. Não basta, portanto, a empresa optar por não controlar os horários de seus funcionários, porque tal prerrogativa não lhe é assegurada pela legislação em vigor; é preciso que o controle mostre-se inviável ou impossível de ser exercido. Se o empregado, mesmo trabalhando externamente, estiver subordinado a horário e for possível mensurar o tempo à disposição da empresa, deve receber pelas horas extraordinárias eventualmente prestadas. Recurso da reclamada a que se nega provimento neste particular [...] https://www.peticoesonline.com.br/topicos-do-direito/relacao-de-trabalho https://www.peticoesonline.com.br/topicos-do-direito/horas-extras De outra banda, considere-se que a sentença, ao destacar a condenação da Recorrente ao pagamento de verba de prestação de serviços em horário extraordinário e seus reflexos, justificou que “. . . o Reclamante trabalhava sempre em horários além do labor previsto em Lei. “Percebe-se, destarte, um vazio completo nessa delimitação. Inexistindo a habitualidade na percepção de horas extras, não há que falar-se em reflexos nas demais verbas trabalhistas e rescisórias. A propósito, vejamos o conteúdo da Súmula 376 do TST: TST - Súmula 376. Horas extras. Limitação. Art. 59 da CLT. Reflexos. I – A limitação legal da jornada suplementar a duas horas diárias não exime o empregador de pagar todas as horas trabalhadas. II – O valor das horas extras habitualmente prestadas integra o cálculo dos haveres trabalhistas, independentemente da limitação prevista no caput do art. 59 da CLT. c) Férias e 13° salário O recorrido se caracteriza como representante comercial autônomo, não sendo considerado como direito férias e 13° salário. V – Dos Pedidos Diante do exposto, requer o conhecimento e provimento do presente recurso para; 1) Reformar a R. Sentença para: a) julgar improcedente o pedido de retificação do registro da CTPS; b) julgar improcedente o pedido de pagamento de horas extras, das férias e 13° salário e proporcional do recorrido, uma vez que seu vínculo se caracteriza por autônomo, ocupando cargo de Representante Comercial; c) Condenar o recorrido aos honorários de sucumbência em favor do advogado da recorrente. Nestes termos, Pede e espera deferimento. Santos, 05 de junho de 2023. Advogado... OAB... https://www.peticoesonline.com.br/topicos-do-direito/clt-art-59
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