Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Ausubel e a teoria cognitiva de aprendizagem SST Siedel, Carolina Cunha Ausubel e a teoria cognitiva de aprendizagem / Carolina Cunha Siedel nº de p. : 11 Copyright © 2019. Delinea Tecnologia Educacional. Todos os direitos reservados. Ausubel e a teoria cognitiva de aprendizagem 3 Apresentação As concepções acerca do aprendizado são definidas como representações sobre o fenômeno da aprendizagem na consciência. Com o advento da globalização, a sociedade está vivendo tempos de incertezas e de profundas mudanças. A tecnologia adiantou e mudou o acesso às comunicações de forma que os conteúdos são distribuídos em um volume muito grande, o que dificulta cada vez mais a sua assimilação. Nesta unidade, pretendemos conhecer os princípios e fundamentos da teoria da aprendizagem proposta por Ausubel, compreender as contribuições dessa teoria para o campo da educação e aprender as características da aprendizagem significativa e seus tipos, como recursos para o desenvolvimento de uma proposta educativa eficiente e humana. A teoria cognitiva de aprendizagem de Ausubel David Paul Ausubel (1918-2008) foi um teórico construtivista de origem norte- americana que escreveu postulados acerca do que chamou de aprendizagem significativa. Ele define essa aprendizagem como aquela que parte dos saberes e experiências do aluno, integrando as novas informações, como conceitos, hipóteses, ideias, e criando significados por meio do que chama de ancoragem. Essa ancoragem ocorre a partir das conexões estabelecidas entre as informações e os conceitos já existentes e estruturados, com determinado nível de clareza, estabilidade e diferenciação. O ponto de partida da teoria de ensino proposta por Ausubel é o conjunto de conhecimentos que o aluno traz consigo, que leva o nome de estrutura cognitiva e, segundo o qual, é a variável mais importante que o professor deve levar em consideração no ato de ensinar. O professor deve estar atento tanto para o conteúdo como para as formas de organização desse conteúdo na estrutura cognitiva. O conteúdo que é assimilado pela estrutura cognitiva assume uma forma hierárquica, onde conceitos mais amplos se superpõem a conceitos com 4 menor poder de extensão (RONCA, 1994). Ausubel afirma que o aprendizado acontece quando o sujeito se comunica com o mundo, acumulando uma riqueza de conteúdos cognitivos que altera sua estrutura e o torna capaz de lidar com o novo de forma cada vez mais abrangente. Para ampliar o seu conhecimento, leia o texto “Teoria da aprendizagem significativa segundo Ausubel”, disponível no link: http://portaldoprofessor.mec.gov.br/storage/ materiais/0000012381.pdf. Saiba mais Assim, a aprendizagem se fortalece na relação entre ideias ou conceitos ao abstrairmos nossas próprias experiências. É possível observar tal abstração quando uma criança está aprendendo a somar, por exemplo: o professor pede que ela faça a soma utilizando palitos; um dia, esse aluno perceberá que não precisa mais dos palitos para somar e, então, começará a fazer as contas “de cabeça”. Processo de aprendizagem Fonte: Plataforma Deduca (2021). #PraCegoVer: Criança de 6 anos de raça negra frente ao quadro, analisando operações de suma que estão desenhadas algumas equações de adição. 5 Esse processo ocorre da mesma forma com adultos, quando, por exemplo, um novo conhecimento em sua área de atuação profissional permite que sua atuação seja mais eficiente, respondendo às demandas precedentes e criando estratégias para soluções de problemas. Esse docente concluirá, portanto, que seu discente terá abstraído o que é a soma por meio de sua vivência com aqueles materiais que manipulou. A aprendizagem é chamada de significativa porque encontra significado nos conceitos já existentes em nossa estrutura cognitiva. Esses pontos de apoio, de ancoragem dos novos saberes, são chamados pelo autor de subsunções de aprendizagem. Ou seja, uma bagagem já enraizada, capaz de trazer ao aluno conexões, sentidos e relações com as novas informações, tornando a aprendizagem significativa. A partir de tal relação, tanto os novos conhecimentos quanto as novas informações sofrem modificações. Aprendizagem significativa: conceitos e caraterísticas Ausubel afirma que as principais condições para que ocorra a aprendizagem significativa são a disposição do indivíduo e o significado lógico e psicológico da informação ou conteúdo. Se o tópico é apenas memorizado, sem sentido ou relevância, o aprendizado será mecânico, chamado pelo autor de aprendizagem memorística, pautada na repetição arbitrária e aleatória. Curiosidade A estrutura da teoria de Ausubel no que tange ao funcionamento da aprendizagem significativa se dá a partir de três características (DISTLER, 2015): • Intenção do aluno para aprender significativamente, isto é, disposição de re- lacionar o novo material não arbitrária e substantivamente à sua estrutura cognitiva. 6 • Disponibilidade de elementos relevantes na sua estrutura cognitiva, com os quais o material a ser aprendido possa relacionar-se de modo não arbitrário e substantivo, incorporando-se à estrutura. • Que o material a ser aprendido seja potencialmente significativo para ele, isto é, relacionável de modo não arbitrário e substantivo aos elementos relevan- tes da sua estrutura cognitiva. O autor nos ensina que aprendizagem é ampliação da estrutura cognitiva, podendo ocorrer de forma mecânica ou significativa, sendo a última efetivada quando as ideias novas vão se relacionando na mente do indivíduo de forma não arbitrária e substantiva com as ideias já internalizadas. (DISTLER, 2015) A definição de mapa conceitual proposta por Ausubel O mapa conceitual é uma técnica desenvolvida por Joseph Novak e seus colaboradores na Universidade de Cornell, nos Estados Unidos, com base na hipótese cognitiva de aprendizagem significativa de David Ausubel. Os mapas conceituais, criados por Novak com base na teoria de Ausubel, podem constituir para os alunos uma estratégia pedagógica de grande relevância para a construção de conceitos científicos, ajudando-os a integrar e relacionar informações e atribuir significado ao que estão estudando. [...] A utilização dos mapas constituiu um recurso metodológico relevante por se alinhar a uma formação teórica adequada às necessárias intervenções na realidade estudada e por facilitar a apropriação de conceitos científicos pelos alunos. (CARABETTA JÚNIOR, 2013, p. 441) Considerado um importante recurso pedagógico, o mapa conceitual é utilizado com a intenção de promover a aprendizagem significativa ao representar os conteúdos de forma sistematizada, com a possibilidade de haver uma estruturação hierárquica por meio da qual é provável relacionar teorias, conceitos e informações. Com o apoio desse recurso, o estudante é capaz de visualizar as etapas de seu pensamento, percebendo os caminhos percorridos em um movimento com o qual integrará informações e concretizará o aprendizado. Temos nele os subsunçores prévios, ou seja, os conhecimentos que servirão como pontos de apoio à aprendizagem, dispostos de forma a serem ampliados, incorporados e transformados. 7 Para entendermos melhor como o mapa conceitual é construído, observe a dinâmica de sua estruturação no seguinte esquema: Sequência didática do mapa conceitual Fonte: Carabetta Júnior (2013, p. 444). #PraCegoVer: Quadros em relação sistêmica, indicando as etapas fundamentais da construção de mapas conceituais: identificação das ideias; enumeração dos principais conceitos; avaliação hierarquia dos conceitos; identificação de palavras-chave; determinação dos nexos; leitura do mapa. Conforme disposto, ao mapearmos os conceitos, representando-os de forma esquemática, temos uma importante tomada de consciência, o que concretiza o aprendizado de forma significativa. Vale destacar que existem diversas formas de se construir um mapa conceitual: elencando conceitos-chave, relacionando- os ecriando tópicos e áreas por meio dos quais são apresentadas as possíveis representações de uma estrutura conceitual. Percebemos, com os estudos realizados acerca dos postulados de Ausubel, que, quando o educador (ou mediador da aprendizagem) possui um olhar que privilegia os conhecimentos prévios dos alunos, ajudando-os a estabelecer relações e conexões, o aprendiz consegue alcançar resultados mais profundos de aprendizagem; ele é capaz de resolver problemas de maior complexidade partindo de conceitos mais simples e até chegar a conhecimentos complexos. Leia o artigo “Aprendizagem mecânica e aprendizagem significativa no processo de ensino-aprendizagem de Química”, de Per Christian Braathen, que relata como os pressupostos de Ausubel podem ser trabalhados na educação. Reflita a respeito dessa teoria e de como ela interfere na prática dos educadores. Disponível em: http:// revistaeixo.ifb.edu.br/index.php/RevistaEixo/article/view/53. Reflita 8 Os educadores precisam lidar com as variáveis que constantemente se fazem presentes no espaço escolar, haja vista que também fazem parte do processo. Desse modo, para que uma boa aprendizagem aconteça, o professor deve disponibilizar recursos capazes de desencadear situações que favoreçam o processo educativo. Assim, de forma objetiva e clara, seu pensamento precisa estar voltado às estratégias e/ou ações que possam atingir seus alunos a fim de que o caminho até o conhecimento seja facilitado. Diante disso, ao planejar e preparar um percurso de aprendizagem, é importante considerar os objetivos que se deseja atingir, quais trajetórias já foram trilhadas, que pontos de apoio existem na estrutura cognitiva já consolidada, qual o real desejo dos indivíduos naquele aprendizado e quais estratégias serão adotadas, de modo a garantir um aprendizado que seja efetivamente significativo. Os alunos, acima de tudo, precisam aprender a aprender, movimento que deve ser compreendido por todos os atores da escola – professores e alunos – e a criatividade deve ser estimulada para que o conhecimento seja transferido para as questões práticas do dia a dia. Aprender a aprender Fonte: Plataforma Deduca (2021). #PraCegoVer: Criança de 5 anos sentado frente a um livro, em gesto de leitura em alta voz, com um globo terrestre ao lado. 9 O ensino, tal como estruturado por Ausubel, contribui significativamente para que os alunos possam agir com autonomia, fazendo escolhas de acordo com suas aspirações e seus valores individuais para se tornarem indivíduos capazes de contribuir coletivamente em vez de serem apenas espectadores da sociedade. O processo de ensino-aprendizagem possui um papel de destaque em nossas reflexões, pois é esse processo que permitirá ao homem passar de geração a geração seus conhecimentos, métodos e técnicas para transformar a realidade natural, que antecede sua existência, em uma realidade histórica e cultural, modificada e marcada diretamente por sua atividade no mundo. (NOGUEIRA, 2018, p. 13) Desse modo, ao identificar as peculiaridades de cada aluno envolvido no processo, bem como suas experiências e repertório, o educador terá facilidade para ensinar conteúdos, ministrar aulas e alcançar, de fato, a aprendizagem eficaz. Contudo, devemos considerar que o discente não é o único que conhece os objetos de ensino e está preparado para ensinar. Os pais, os colegas de sala, os irmãos, entre outros, fazem parte do processo de desenvolvimento de um indivíduo e, consequentemente, de sua aprendizagem; mais que isso, os alunos não chegam à escola sem conhecimento – eles já possuem uma bagagem pessoal, familiar e comunitária que pode, e deve servir como ancoragem dos conteúdos que virão. 10 Fechamento As ideias de Ausubel permitem construir um olhar alternativo ao espaço de ensino e aprendizagem. O reconhecimento de diversos fatores que participam no aprendizado, é um elemento central para qualquer intervenção educativa que se pretenda desenvolver. O educador, ao compreender a estrutura cognitiva do educando, com a noção de que seu aluno detém conhecimentos que podem sustentar novos conceitos formulados, pode contribuir para que a aprendizagem se torne significativa. É necessário, também, que o docente treine sua observação atenta para privilegiar o que cada um de sua turma de estudantes já sabe, pois é a partir desse repertório que poderá planejar os caminhos que devem ser trilhados na sequência. 11 Referências CARABETTA JÚNIOR, V. A utilização de mapas conceituais como recurso didático para a construção e inter-relação de conceitos. Revista Brasileira de Educação Médica, Rio de Janeiro, v. 37, n. 3, p. 441-447, 2013. Disponível em: http://www. scielo.br/scielo.php?pid=S0100-55022013000300017&script=sci_abstract&tlng=pt. Acesso em: 23 jul. 2021. DISTLER, R. R. Contribuições de David Ausubel para a intervenção psicopedagógica. Revista Psicopedagogia, São Paulo, v. 32, n. 98, p. 191- 199, 2015. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S0103-84862015000200009. Acesso em: 23 jul. 2021. NOGUEIRA, M. O. G.; LEAL, D. Teorias da aprendizagem: um encontro entre os pensamentos filosófico, pedagógico e psicológico. 3. ed. Curitiba: Intersaberes, 2018. RONCA, A. C. C. Teorias de ensino: a contribuição de David Ausubel. Temas em Psicologia, Ribeirão Preto, v. 2, n. 3, p. 91-95, 1994. Disponível em: http://pepsic. bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-389X1994000300009. Acesso em: 23 jul. 2021.
Compartilhar