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A POLUIO VEICULAR AMBIENTAL ASPECTOS LEGAIS

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UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
DIRETORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO LATO SENSU EM DIREITO AMBIENTAL
 A POLUIÇÃO VEICULAR AMBIENTAL: ASPECTOS LEGAI S
ILDO MÁRIO SZINVELSKI
Monografia apresentada como requisito para
obtenção do Certificado de Especialista em
Direito Ambiental.
Canoas, RS, Janeiro de 2005.
2
 
“Levantem os olhos sobre o mundo e vejam o que está
acontecendo à nossa volta, para que amanhã não sejamos acusados
de omissão se o homem, num futuro próximo, solitário e nostálgico
de poesia, encontrar-se sentado no meio de um parque forrado com
grama plástica, ouvindo cantar um sabiá eletrônico, pousando no
galho de uma árvore de cimento armado” (Manoel Pedro Pimentel,
Revista de Direito Penal,Vol. 24, p.91).
 Acrescentaria, modestamente:
 “que o futuro não nos faça sentar a sombra de árvores de
plástico, com veículos automotores na garagem, à espera da
resiliência do ar atmosférico porque a extinção ou a conspurcação
de sua pureza foram-se para sempre.”
3
VIVIR SIN AIRE
“Cómo quisiera 
Poder vivir sin aire
 Cómo quisiera
 Poder vivir sin agua
 Me encantaría
 Quererte um pouco menos
 Cómo quisiera
 Poder vivir sin ti
 Pero no puedo
 Siento que muero
 Me estoy ahojando sin tu amor
 Cómo quisiera
 Poder vivir sin aire
 Cómo quisiera
 Calmar mi aflições
 Cómo quisiera
 Poder viver sin agua
 Me encantaria
 Robar tu corazón
 Como pudiera
 La flor crecer sin tierra
 Cómo quisiera
 Poder vivir sin ti
 Pero no puedo,
 Sinto que muero
 Me estoy ahojando sin tu amor
 Cómo quisiera
 Poder vivir sin aire
 Cómo quisiera
 Calmar mi aflições
 Cómo quisiera poder
 Vivir sin água
 Me encantaria
 Robar ti corazón
 Cómo quisiera
 Lanzarte al olvido
 Cómo quisiera
 Guardarte em un cajón
 Cómo quisieras
 Barrarte de un soplido
 Me encantaria
 Matar esta canción”.
 (To Live Without Air. Letra Y Música: Fler e Warner Chappelli Grupo Manã).
 
4
 
Trabalho realizado sob a orientação do professor
PAULO RÉGIS ROSA DA SILVA, grande mestre,
a quem dedico a minha fraterna homenagem e os
meus sinceros e profundos agradecimentos.
5
Agradecimentos a Valkiria, minha esposa,
pela compreensão, carinho e a paciência; e, ao
Mártin, meu filho querido, pela alegria incontida. 
6
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................8
2 DESENVOLVIMENTO MUNDIAL E A POLUIÇÃO ...................................................16
2.1 O MEIO AMBIENTE ........................................................... ............................................20
2.2 A CRISE MUNDIAL E A EVOLUÇÃO DA LEGISLAÇÃO AMBIENTAL..................24
2.3 DOS PRINCÍPIOS E OS VALORES CORRELATOS ....................................................26
2.3.1 Do Ambiente Ecologicamente Equilibrado ......................................................................29
2.3.2 A Natureza Pública Protetiva .............................................................................................30
2.3.3 Do Controle do Poluidor ....................................................................................................30
2.3.4 Das Variáveis Ambientais .................................................................................................31
2.3.5 A Participação Comunitária ................................................................................................31
2.3.6 O Poluidor Pagador .............................................................................................................31
2.3.7 Da Prevenção .......................................................................................................................32
2.3.8 Da Precaução ... ...................................................................................................................32
2.3.9 Da Função Socioambiental da Propriedade .........................................................................34
2.3.10 Da Garantia do Desenvolvimento Sustentável ...................................................................35
 2.3.11 Da Garantia dos Povos........................................................................................................35
3 O BEM AMBIENTAL ......................................................................................................36
3.1 O AR ATMOSFÉRICO .....................................................................................................37
7
3.2 A POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA ......................................................................................40
 3.2.1 Da Chuva Ácida ................... .............................................................................................42
 3.2.2 Do Efeito Estufa .................................................................................................................42
 3.2.3 Ilhas de Calor .....................................................................................................................44
 3.2.4 Camada de Ozônio .............................................................................................................44
3.3 DA INTERVENÇÃO NAS ATIVIDADES POLUIDORAS ............................................45
3.4 DANO AMBIENTAL .......................................................................................................53
4 A POLUIÇÃO VEICULAR E A INSPEÇÃO TÉCNICA VEICULAR – ITV ................55
4.1 A LEGISLAÇÃO DE TRÂNSITO ...................................................................................60
4.2 A LEGISLAÇÃO AMBIENTAL VEICULAR ................................................................63
4.3 A EXPERIÊNCIA INTERNACIONAL SOBRE A INSPEÇÃO TÉCNICA
VEICULAR .......................................................................................................................64
4.4 A POLÍTICA NACIONAL DE TRÂNSITO(PNT) .........................................................67
4.5 A FROTA DE VEÍCULOS DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL ........................70
5 PROTOCOLO DE KYOTO ..............................................................................................73
6 CONCLUSÃO ...................................................................................................................86
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..............................................................................94
8 APÊNDICES ...................................................................................................................103
8.1 ESTATÍSTICAS ..............................................................................................................103
8.2 MINUTA DE PROJETO DE LEI ...................................................................................145
8.3 MINUTA DE PORTARIA ..............................................................................................149
8
1 INTRODUÇÃO
O presente trabalho de conclusão do Curso de Especialização em Direito Ambiental visa,
primeiramente, abordar tema relacionado com a Poluição Veicular Ambiental com ênfase na
proteção do ar atmosférico e na segurança do trânsito, haja vista as interações com os diversos
ramos do direito, da novel legislação de trânsito, da legislação ambiental e do ordenamento
internacional ambiental, em especial, o Protocolo de Kyoto.
A escolha do tema é oriunda da preocupação com a conspurcação do ar atmosférico,
promovida pela emissão de gases poluentes dos veículos automotores, o crescente aquecimento
da Terra, decorrente da poluição ambiental e suas conseqüências na segurança do trânsito. Isso
tornou propicia uma abordagem técnica e crítica quanto aos seus reflexos, com base no
ordenamento jurídico pátrio vigente, propugnando por caminhos legislativos normatizadores e
mecanismos operacionais para o enfrentamento do presente imbróglio com repercussão social.
9
Também, compromisso com aaprendizagem na área de formação de Técnico Superior em
Trânsito – advogado do Departamento Estadual de Trânsito do Estado do Rio Grande do Sul e
integrante do Conselho Estadual de Trânsito do Estado, tendo como desiderato o presente
trabalho o aperfeiçoamento profissional e a sinergia das áreas do direito de trânsito e direito
ambiental com os princípios ontológicos e finalísticos da lei maior.
 
O meio ambiente afeta a todos. O trânsito, também. Estamos diante de um mundo que, de
uma forma caleidoscópica, se transforma cotidianamente diante de nossos olhos. Impossível
respirar o mesmo ar em duas oportunidades diferentes. Pois de tão nobre, o ato fisiológico de
respirar se dá em um momento único, quando se inspira o oxigênio e se exala o gás carbônico na
atmosfera. Não se trata de ilações melífluas, todavia, o mundo se encontra mergulhado no meio
ambiente: todos completamente envolvidos e interligados num processo de mudanças para a qual
a sociedade parece não ter sido preparada adequadamente. O meio ambiente reconhece o valor
intrínseco de todos os seres vivos e encara o ser humano como apenas um de seus filamentos da
teia da vida. E, inserido na natureza dela depende para viver. O trânsito? O trânsito é o caminho.
O ar? O ar é o oxigênio da vida que não permite resiliências.
Consoante a temática prelecionam com maestria os mestres Celso Antônio Pacheco
Fiorillo e Marcelo Abelha Rodrigues: “(...) o conceito de meio ambiente é amplo, na exata
medida em que se associa à expressão sadia: qualidade de vida.”1
 
1 FIORILLO,Celso Antônio Pacheco e Rodrigues, Marcelo Abelha. Manual de Direito Ambiental e Legislação
Aplicável. São Paulo: Max Limonad, 1997, p.24.
10
O Código de Trânsito Brasileiro2 considera conceitualmente trânsito como a utilização
das vias por pessoas, veículos e animais, isolados ou em grupos, conduzidos ou não, para fins de
circulação, parada, estacionamento e operação de carga e descarga. O trânsito, em condições
seguras, é um direito de todos e dever dos órgãos e entidades componentes do Sistema Nacional
de Trânsito, a estes cabendo, no âmbito das respectivas competências, adotar as medidas
destinadas a assegurar esse direito, sob pena de responderem, objetivamente, por danos causados
em virtude de ação, omissão ou erro na execução e manutenção de programas, projetos e
serviços.
Ocorre que, a lei de trânsito, no artigo 1.º, parágrafo 5.º, do CTB, expressamente definiu:
“Os órgãos e entidades de trânsito pertencentes ao Sistema Nacional de Trânsito darão
prioridade em suas ações à defesa da vida, nela incluída a preservação da saúde e do meio
ambiente”. Dessume-se, então, que todo cidadão deve ter acesso ao meio ambiente equilibrado e
que o Estado tem a obrigação de assegurar o bem-estar coletivo com qualidade de vida no
trânsito.
O escopo deste trabalho é desvendar possibilidades de interação e a relação de tal
proteção. Além de imediata, projeta tal garantia para o futuro. Motivo pelo qual, na Constituição
de 1988, a saúde, o bem-estar, a segurança e as condições ambientais, foram exaustivamente
contempladas como direitos.3 Ademais, a Carta Magna, ao tratar do meio ambiente enfatizou no
artigo 225, como prioridade, estabelecendo que :
 
2 Lei Federal n.º 9.503, de 23 de setembro de 1997, que institui o Código de Trânsito Brasileiro-CTB. DOU de
24.09.1997, retificado em 25.09.1997. Art. 1.º, §1.º ,2º, 3º do CTB. Anexo I, dos Conceitos e Definições.
3 Constituição da República Federativa do Brasil. Arts 6.º, 7.º, 22, XI, 23, VI, XII, 24, VI e VIII, 170, VI, 200, VIII,
220, §3.º e II,e 225 da CF.
11
“Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do
povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o
dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”.
 
De outra banda, reclama a adoção de medidas legais que, efetivamente, contribuam para
uma maior proteção ambiental e segurança no trânsito haja vista os índices de acidentalidade,
sinistralidade, poluição do ar atmosférico e poluição sonora decorrentes das emissões expedidas
dos veículos automotores. A partir desse enfoque, passamos a tratar da tutela do ar atmosférico
com ênfase na fiscalização tecnológica que minimizaria os efeitos e dissabores produzidos pelas
fontes geradoras de poluição e traria inegáveis benefícios e profundas implicações positivas na
qualidade ambiental do trânsito desde que precedidos do adequado disciplinamento jurídico.
É absolutamente identificada com esta linha de pesquisa a afirmação do papa do direito
administrativo Hely Lopes Meirelles, que asseverou em sua obra:
As alterações, no meio ambiente, quando normais e toleráveis, não merecem contenção e
repressão, só exigindo combate quando se tornam intoleráveis e prejudiciais à
comunidade, caracterizando poluição reprimível, desde que desrespeitem critério legal
dos índices de tolerabilidade, ou seja, dos padrões admissíveis de alterabilidade de cada
ambiente, para cada atividade poluidora.4
Os atuais índices de poluição do ar atmosférico são toleráveis?
Neste século, o dos direitos,5 importa destacar que a Constituição Federal deu guarida à
proteção ambiental essencial à sadia qualidade de vida como dogma constitucional. É meridiano
 
4 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. São Paulo: Malheiros Editores, 1995. p.170.
5 TAVARES DOS SANTOS, José Vicente. Sociólogo e Professor da Universidade Federal do RGS que defende em
suas aulas e palestras “a quinta geração dos direitos humanos na era das conflitualidades enquanto um conjunto de
direitos nunca efetivados plenamente na modernidade do séc. XXI no sentido de promover o gozo dos frutos do
progresso social como: acesso à Justiça com a informalização; direito à vida, à saúde e à segurança;refere que a única
utopia realista é a ecológica e democrática - dilemas da modernidade tardia.
12
que “somente existirá sadia qualidade de vida se o meio ambiente for ecologicamente equilibrado
e, portanto, não degradado. Vale dizer, que sem a proteção ambiental, não há como cogitar do
direito à saúde, e por sua vez, não há como cogitar do direito de uma vida digna”.6 Todavia, a
realidade se apresenta completamente diferente haja vista que o ar atmosférico conta com a
presença de substâncias estranhas suscetíveis de provocar efeitos prejudiciais aos seres humanos
que além de conspurcar o bem ambiental ainda têm contribuição direta para com as alterações
climáticas.
Diante desses fatos salta, de imediato, a seguinte pergunta: Quais são os agentes
poluidores? As indústrias e os veículos automotores movidos à combustível líquidos e gasosos,
fumaças, vapores, monóxido de carbono, dióxido de enxofre, material particulado,
hidrocarbonetos, aldeídos, dióxido de nitrogênio, fluoretos, cloretos, propiciando esse conjunto
maléfico um verdadeiro flagelo. Não bastasse isso, os dados técnicos de que 90% dos poluentes
são provenientes de combustíveis derivados de petróleo e desses 30% das partículas na atmosfera
são de gás carbônico. Ainda, a cada ano, são fabricados 16 milhões de veículos novos no mundo
que, no ano de 2025, ultrapassarão a casa de um bilhão de veículos. A atual frota circulante lança
mais de 900 milhões de toneladas de gás carbônico na atmosfera por ano. No Rio Grande do Sul,
a frota de veículos cresceu nos últimos 13 anos de 1,58 milhão para 3,5 milhão de veículos e a
taxa de crescimento da população gaúcha aumentou de 8,88 milhões para 10,1 milhões de
habitantes perfazendo a taxa de 13%.7 É essa a propalada qualidade de vida assegurada
constitucionalmente?
 
6 PIOVESAN, Flávia. O Direito ao Meio Ambiente e a Constituição de 1988: Diagnósticos e Perspectivas. In:
cadernos de Direito Constitucional e Ciência Política,p.84.7 Frota do Estado do Rio Grande do Sul. Índice de Motorização. Site: www.detran.rs.gov.br. Apêndices: Estatística
p. 103 usque 143.
13
O planeta vem sofrendo um processo de aquecimento pela emissão de gases causadores
do efeito estufa exercendo considerável pressão sobre os recursos ambientais. Obviamente, não
se pode esperar que o bem ambiental esteja disponível para o futuro, caso a exploração se
mantenha nos atuais patamares haja vista que o ar atmosférico não possui a capacidade de se
regenerar no grau de pureza de acordo com os padrões de qualidade.
 
O singelo trabalho objetiva efetuar um diagnóstico da emissão de poluentes efetuada pelos
veículos automotores que modificam a qualidade do ar atmosférico em sua composição natural
capazes de comprometer suas funções precípuas. Nessa linha, estudar e justificar a
regulamentação e a fixação de padrões levando em conta o resultado do processo de lançamento
dos poluentes por novas fontes de emissão e suas interações na atmosfera do ponto de vista físico
(diluição) e químicos ( reações químicas) comparativamente com grau de exposição que podem
ocasionar doenças na população e a degradação ambiental. O método de pesquisa escolhido é o
do tipo exploratório, de natureza descritiva e explicativa, realizando observação, seleção, análise
e interpretação dos dados coletados relacionados com o trânsito, o meio ambiente e a fonte
formal do direito constitucional para desenvolver um estudo integrador da ordem social, em que
se inserem os valores que objetiva realizar, adotando a metodologia de interligar a vivência do
autor no desempenho de seu labor profissional com os conteúdos ora apresentados.
Por outro lado, optamos pela análise da legislação de trânsito, ambiental e os Protocolos
internacionais, sem nunca perder de vista os Princípios Ambientais relacionados com a tutela
 
SZINVELSKI,Ildo Mário. A Municipalização do Trânsito no Estado do Rio Grande do Sul com o Advento do Novel
Código de Trânsito Brasileiro.Curso de Pós-Graduação em Segurança do Trânsito.Universidade Luterana do Brasil-
14
climática como o de Montreal, sobre substâncias que provocam depleção da camada de ozônio,
pela Convenção Quadro da Organização das Nações Unidas e o Protocolo de Kyoto. Também,
face à importância que remonta ao ano de 1972, a Declaração de Estocolmo, à criação dos
Programas das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e os diversos Tratados
Internacionais como a Conferência da ONU, sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento
(UNCED), a Convenção sobre Diversidade Biológica e a Convenção-Quadro Sobre Mudanças
Climáticas, a Declaração do Rio de Janeiro, a Agenda XXI entre outros fatos julgados
importantes relacionados com o ar atmosférico.
Necessário, também, outro esclarecimento. O viés do trabalho é focado nos mecanismos
de controle do Estado para garantir a integridade do uso adequado do bem ambiental com o fito
único de regular às emissões dos gases de efeito estufa, através da análise dos mecanismos da
legislação, fiscalização e medidas administrativas propositivas, no sentido da concretização do
direito ao meio ambiente equilibrado, entendendo como factíveis para elevar o patamar da
qualidade de vida da população. Desta forma, a abordagem em face à realidade dos requisitos
necessários atinentes ao correto uso do veículo automotor - propriedade particular - quando
utilizar espaço público ao transitar em vias públicas em desacordo com a legislação prejudicando
o meio ambiente e a segurança do trânsito cabível as restrições de uso em nome do interesse
maior da coletividade. Nessa perspectiva, a implantação da Inspeção Técnica Veicular-ITV,
através da polícia administrativa do Estado com a aplicação consentânea dos preceitos da
legislação de trânsito e ambiental será um importante marco capaz de propiciar a harmonização e
a proteção integral ao bem ambiental - tão reclamada pela Carta Constitucional - e as condições
de segurança do trânsito, na preservação do bem mais importante: a vida.
 
ULBRA.2002. p.24 e 41 e Apêndices 5 e 6, p. 104 e 121.
15
Assim, o escopo essencial da presente Monografia começa com a afirmação de seus fins
diante da realidade pragmática incontrastável que pende, por óbvio, de decisão política. Se é
possível resumir tanto em tão poucas linhas diria que a defesa ambiental assemelha-se as viagens
de comboios com destinos pré-determinados: o labirinto preservacionista da vida e não, a mera
visão contemplativa da abóboda celeste - ofertado a todos os seres humanos, indistintamente.
Construir caminhos e abrir perspectivas na defesa ambiental através da hermenêutica
contemporânea iniciando-se pela seara atmosférica. E, esse é o tema proposto no trabalho em
foco.
 
16
2 DESENVOLVIMENTO MUNDIAL E A POLUIÇÃO
A espécie humana e o meio ambiente trilham por um caminho e um futuro de grandes
imprecisões; de conseqüências nefastas e completamente imprevisíveis; de inovações e de
profundas transformações manifestadas pela aceleração progressiva por que perpassa o Planeta.
Inauguralmente, os recursos naturais são consumidos, dilapidados, destruídos e esgotados,
trazendo, repisa-se, um porvir incerto sobre a Terra e de todas espécies que nela se encontram.
Bem é de ver que a questão ambiental compõe o cenário da humanidade por ações
visíveis e ocultas dos seres humanos que disputam os bens da natureza para satisfação de suas
necessidades, olvidando que tais recursos naturais são limitados cujo poder de autopurificação e
resiliência chegou ao limite do exaurimento natural. Nesse prisma, as questões ambientais
constituirão o cerne e os palcos dos conflitos bélicos globais pela disputa dos recursos naturais
como água, ar, espaço, alimentos, espécies nativas, medicamentos naturais entre outros bens,
tendo como supedâneo - dessa desatenção mundial para com a natureza-, sérias conseqüências,
entre as quais a disseminação de doenças, desastres ecológicos, mudanças climáticas,
desaparecimento de animais, plantas, lixo químico, dejetos orgânicos, contaminação do lençol
17
freático, degradação do patrimônio genético e a conspurcação do ar atmosférico, trazendo
prejuízos irreversíveis a vida.
Sintonizados com essa realidade de desenvolvimento a qualquer preço, a poluição e a
degradação do meio ambiente, ainda são vistos, mundialmente, como um mal menor, inclusive no
Brasil, e repontam desde a época do regime autoritário, onde se pregava o “crescimento a
qualquer custo”, trazendo problemas sociais que transcendiam, em muito, os danos ambientais,
levando a uma impiedosa utilização dos recursos naturais com o enfoque meramente explorativo
em nome do “crescimento econômico”.
Nesse passo, o alerta para a gravidade dos riscos causados pela degradação ambiental e
pelo processo do crescimento econômico, em detrimento da escassez dos recursos naturais, que
não serviam a humanidade, foi dada em 1972, em Estocolmo, na Conferência das Nações Unidas
sobre o Meio Ambiente Humano, promovido pelas Organizações das Nações Unidas - ONU, com
a participação de 114 países, a qual trouxe novos conceitos de desenvolvimento sustentável e de
ecodesenvolvimento, cuja característica principal consistia na desejável conciliação entre o
desenvolvimento, a preservação do meio ambiente e a melhoria da qualidade de vida.8. Em 1982,
a Carta Mundial da Natureza; em 1987, o Relatório BRUNTLAND “Nosso Futuro Comum”; em
1992, no Rio de Janeiro, a Conferência da Terra, mais conhecida como a ECO-92 adotou na
Declaração do Rio e na Agenda 21 o desenvolvimento sustentável9 como meta a ser buscada e
respeitada por todos os países. No caso, o Poder Público seria capaz de conter a degradação8MILARÉ, Édis.DireitodoAmbiente.Doutrina,prática,jurisprudência,glossário. ed. ver. Atual. e ampl.- São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, 2001. pp. 40 e 41.
9 GOFFREDO TELLES JÚNIOR. A Constituição, a Assembléia Constituinte e o Congresso Nacional. São Paulo:
Saraiva.1986. p.19. Apud Édis Milaré. Direito do Ambiente.Ed. Revista dos Tribunais. 2001. São Paulo. P.44.
18
ambiental, através dos instrumentos legais apropriados com leis coercitivas e imposições oficiais
com lastro no velho brocardo “onde há fortes e fracos, a liberdade escraviza, a lei é que liberta”.
 
Nesse cenário, o cientista social Nelson Mello e Souza, na década de 60 já alertava sobre
a temática:
“surge a compreensão do problema em sua inteireza complexa, exibindo a vinculação
estrutural entre quatro variáveis relacionadas entre si:modelo aceito de desenvolvimento
no uso intensivo e extensivo da natureza; sistema desejado de vida, orientado para o
consumo crescente e novas comodidades acumuladas, à custa do desgaste da
biosfera;constelação de valores dominantes, a legitimar este sistema devido à evidência de
avanços dos níveis de vida e dos recursos postos à disposição da sociedade, anestesiando a
consciência do dano por formar utopias tecnológicas quanto ao futuro; e, a desatenção
coletiva para com os aspectos negativos devido ao fascínio da massa pelo positivo
(ilusório). São palavras candentes, sem dúvida; porém, esmeram-se no realismo e na
análise fria da realidade sóciocultural,política e econômica que caracterizam as massas
inconscientes do mundo contemporâneo e, pior ainda, a mentalidade e a cobiça das classes
e pessoas responsáveis”.10
Demais disso, a vida sustentável dos povos deve assentar-se numa clara estratégia
mundial baseado no respeito e cuidado dos seres vivos com a melhoria da qualidade da vida
humana, na conservação da vitalidade na diversidade do planeta Terra, minimizando o
esgotamento de recursos não renováveis a permanecer nos limites da capacidade de suporte do
planeta com a modificação de atitudes e práticas da sociedade permitindo que as comunidades
cuidem de seu próprio meio ambiente.11
 
10 Apud MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente. Ed. Revista dos Tribunais. 2001. São Paulo. P.45.
11 Cuidando do Planeta Terra: uma estratégia para o futuro da vida. São Paulo. Publicação em conjunto da UICN –
União Internacional para a Conservação da Natureza e PNUMA – Programa das Nações Unidas para o Meio
Ambiente e WWF – Fundo Mundial para a Natureza, 1991.
19
Ainda, à guisa de ilustração, vale mencionar que um dos escopos do desenvolvimento
socioeconômico é a produção de bens e serviços à procura de um mercado de consumidores e de
usuários potenciais com o culto efêmero consumista. Daí, as repetidas advertências na Agenda 21
em especial no Princípio VIII, com vistas às mudanças indispensáveis nos padrões de consumo e
nos modelos de produção com tecnologias limpas com menor consumo de matéria, energia e
resíduos. Em suma, já dizia GANDHI, que a “terra é suficiente para todos, mas não para a
voracidade dos consumistas”.12
Com efeito, os padrões de sustentabilidade da produção e consumo têm sido temas das
reuniões da Comissão das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável onde os países
ricos deveriam reorientar a produção de bens e produtos e reduzir os índices de poluição com
implicações radicais nos consumidores – países pobres – que dependem da consciência e repulsa
com a modificação de hábitos e atitudes desencadeadoras de reação de proteção ao meio
ambiente ou melhor ao consumo não-sustentável. Assim, os recursos limitados e finitos da
natureza não podem atender à demanda de necessidades ilimitadas e infinitas pela sociedade
humana, muitas é verdade de preceitos naturais e, outras, geradas artificialmente pelo marketing
distorcido e consumista da sociedade. Portanto, o desenvolvimento sustentável, com as
modificações dos processos produtivos e de consumo, calcados na apropriação de bens e na sua
conservação dos recursos naturais, deveria ser efetivado, nos limites da capacidade natural
permitindo que o meio ambiente pudesse regenerar.
 
12 LEONARDO BOFF. Ecologia: grito da Terra, grito dos pobres. São Paulo: Ática,1995,p.17. Apud. MILARÉ,
Édis. Direito do Ambiente. Op. Cit. P. 49. The Earthworks Group: Cinqüenta Pequenas Coisas que Você pode fazer
para salvar a Terra(1989).
20
Também soa, como injustificável a poluição do ar atmosférico por monóxido de carbono,
causada pelas emissões decorrentes de mais de 550 milhões de automóveis, cujos proprietários e
o próprio Estado, são diretamente responsáveis pela exposição dos poluentes à população,
decorrentes de impactos nos padrões consumistas e, pela inanição dos entes públicos letárgicos,
que, nada, ou pouco fazem, para coibir tais degradações.Também, o poder econômico que não
utiliza os mecanismos tecnológicos hábeis para coibir a poluição com a produção responsável,
pois, tanto a proteção do consumidor como a proteção ambiental são princípios constitucionais.13
Os pressupostos de legitimidade defluem de axiologias idênticas: a qualidade de vida e a
dignidade humana.14
A Administração Pública, nesta perspectiva, através dos atos administrativos, pode e
deve realizar as atividades prederminantes de conteúdo dos atos e controlar a produção, a
comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem riscos para a
vida, a qualidade de vida e ao meio ambiente na forma da Constituição Federal e da legislação
infraconstitucional.
 
 2.1 MEIO AMBIENTE
Ao lume conceitual, o mestre Nelson Mello e Souza leciona em sua obra, Educação
Ambiental:
 
13 Art. 170,V e VI, da Constituição Federal Brasileira.Capitulo VI e VIII – Do Meio Ambiente e Da Ordem Social;
art. 5º,XXXII,CF; Lei n.º 8.078, de 11.09.1990.
14 Art. 225,caput e §1º,da C.F. e art. 2º da Lei n.º 6.938/81.
21
“Ecologia: é a ciência que estuda as relações entre o sistema social, o produtivo e o de
valores que lhe serve de legitimação, características da sociedade industrial de massas,
bem como o elenco de conseqüências que um sistema gera para se manter, usando o
estoque de recursos naturais finitos, dele se valendo para lograr seu objetivo econômico. O
campo de ação da ecologia, como ciência, é um estudo das distorções geradas na natureza
pela ação social deste sistema; seu objetivo maior é identificar as causas no sentido de
colaborar com as políticas no encaminhamento das soluções possíveis à nossa época15.”
Destarte, tal visão ecológica, trouxe aspectos corretivos, educativos ajustados à realidade
local, contribuindo com a consciência preservacionista. Na língua portuguesa, apesar de ser
reduplicativa, a palavra meio ambiente foi pacificada e utilizada pela doutrina, lei e
jurisprudência. Como linguagem técnica, constitui em síntese:
“(...) a combinação de todas as coisas e fatores externos ao individuo ou população”.
Numa visão estrita, o meio ambiente é a expressão do patrimônio natural e as relações
com os seres vivos. Na concepção ampla, que vai além dos limites da Ecologia o meio
ambiente seria: “a interação do conjunto de elementos naturais, artificiais e culturais que
propiciem o desenvolvimento equilibrado da vida em todas as suas formas”.A integração
busca assumir uma concepção unitária do ambiente compreensiva dos recursos naturais e
artificiais.”16
Tais aspectos do meio ambiente natural são constituídos pelo solo, água, o ar atmosférico,
a flora, enfim a interação dos seres vivos e seu meio, onde se dá a correlação entre as espécies e
as relações com o meio físico que ocupam; o meio ambiente cultural que é integrado pelo
patrimônio histórico, artístico, arqueológico, paisagístico, turístico de carga especial; e, por fim,
o meio ambiente artificial, constituído pelo espaço urbano construído.
 
Impera, desse modo, o seu arcabouço lógico do Principio daLegalidade, como se
depreende da Lei n.º 6.938/81 – Lei da Política Nacional do Meio Ambiente que define meio
 
15 - Apud Édis Milaré. Direito do Ambiente. P. 62.
16 DA SILVA, José Afonso. Direito Ambiental Constitucional.Malheiros Editores. p. 02.
22
ambiente como: “o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química
e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”.17
A Constituição Federal Brasileira apesar de não definir meio ambiente formalizou
expressamente: “todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à
coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para o presente e futuras gerações”.18
É exatamente dessa assertiva que a Carta Magna possibilitou concepções extensas com
grande amplitude possibilitando atingir tudo aquilo que permite, abriga e rege a vida nos seus
amplos aspectos. Além dos recursos naturais como a atmosfera, as águas interiores, superficiais e
subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, a biosfera, a fauna, a flora19; a
própria Constituição Federal cuidou dos recursos naturais como a água, as ilhas, a plataforma
continental, o mar territorial, as cavidades naturais, as florestas, a flora, fauna, as praias, os sítios
arqueológicos, pré-históricos, paleontológicos, paisagísticos, artísticos e ecológicos, os espaços
territoriais especialmente protegidos.20 Portanto, o Direito Ambiental contemplou todos esses
bens, sejam eles naturais, culturais e históricos, que afetam a própria existência dos seres
humanos no Planeta.
 
17 Art. 3.º, I, da Lei 6.938/81.
18 Constituição Federal do Brasil.1988.Art. 225,CF.
19 Art. 3º,V, da Lei n.º 6.938/81 com redação dada pela Lei n.º 7.804/89.
20 Art. 20,III,IV,V,VI,X; Art.23,VII; 24,VI; art. 26,I,III,V; art. 216,V; art. 225,§1º,III e § 4º, da Constituição
Federal.
23
Destarte, podemos afirmar que o meio ambiente é patrimônio público a ser
necessariamente assegurado e protegido, tendo em vista o uso coletivo21, pelo Poder Público,
tendo como critério o interesse maior no âmbito social que ultrapassa o interesse individual, haja
vista que, beneficiam toda a espécie humana. A queima dos combustíveis fósseis e a liberação de
gases prejudiciais à saúde transcendem os posicionamentos individuais dos consumidores e
exigem a mudança comportamental dos indivíduos, dos grupos, da comunidade e também do
Poder Público que legisla, executa, vigia, defende, sanciona, fiscaliza e educa com fulcro na visão
ética da questão ambiental na busca da tão sonhada consciência do pleno exercício da cidadania.
Desnecessário, também, delongas sobre o importante palco da cidadania e da dignidade do ser
humano preceito fundamental assegurado pela Carta Democrática contida no art. 1.º, III, da CF.
No teatro da vida, o Cacique SEATTLE em sua carta ao Presidente do Estados Unidos da
América já verberava o seu truísmo:
“(...) o homem branco trata sua mãe, a terra, e seu irmão, o céu, como coisas que podem
ser compradas, saqueadas, vendidas como carneiros ou enfeites coloridos.Seu apetite
devorará a terra, deixando somente o deserto. Portanto, vamos meditar sobre a sua oferta
de comprar nossa terra. Se decidirmos aceitar, imporei uma condição: o homem branco
deve tratar os animais desta terra como irmãos... e devem dar aos rios a bondade que
dedicaria, a qualquer irmão. Os picos rochosos, os sulcos úmidos nas Campinas, o calor do
corpo do potro, e o homem - todos pertencem à mesma família.Ensinem às suas crianças o
que ensinamos às nossas, que a terra é nossa mãe (...)”.22
Desse modo, o alerta é de que a natureza não faz nada sem propósito e que à exploração
desenfreada do Planeta traria prejuízos à espécie humana e ao ecossistema planetário. Por isso, os
critérios de apropriação, posse, domínio e utilização dos recursos ambientais passam por uma
reformulação tecnológica.
 
21 Art 2º.I, da Lei n.º 6.938, de 31.08.1981.
24
Em reforço, o cientista Frithjof Schuon menciona em sua obra, ad litteram:
“ O mal do Ocidente e a mecanização, posto que a máquina que de forma mais direta
engendra os grandes males de que o mundo hoje está padecendo.A máquina, em linhas
gerais, caracteriza-se pelo uso de ferro, fogo, e forças invisíveis.Falar-se a respeito de uma
sábia utilização de máquinas, de seu serviço ao espírito humano, é positivamente
quimérico.Está na própria natureza da mecanização reduzir os homens à escravidão e
devorá-los inteiramente, deixando-lhes nada de humano, nada acima do nível animal, nada
acima do nível coletivo.O reinado da máquina seguiu-se ao do ferro, ou, antes deu-lhe a
mais sinistra expressão. O homem, que criou a máquina, acaba por tornar-se sua criatura”.
23
Sem outra pretensão, cabe afirmar que o homem, assim, trilha caminhos equivocados de
predador da qualidade de vida olvidando os princípios e posturas éticas para com a sociedade ao
tratar à natureza como mercadoria cujas vicissitudes trarão conseqüências inevitáveis.
2.2 A CRISE MUNDIAL E A EVOLUÇÃO DA LEGISLAÇÃO AMBIENTA L
O processo de desenvolvimento dos países deu-se às custas dos recursos naturais vitais,
provocando a deteriorização das condições ambientais de forma acelerada. A partir do século
XVIII, firmou-se que a natureza era algo distinto do mundo divino, tornando-se objeto dos
experimentos científicos. As conseqüências da imprevisibilidade ambiental e das mudanças
climáticas no planeta trouxeram preocupação à comunidade científica no que tange às limitações
genéticas com restrições ao processo evolutivo e o comprometimento da vida da espécie humana.
Os marcos históricos prendem-se à Convenção das Nações Unidas sobre o Meio
Ambiente Humano denominada de Declaração de Estocolmo em 1972; à Carta Mundial para a
 
22 MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente. idem, ibidem. p. 79. Apud. José de Ávila Aguiar Coimbra, cit.p.134.
23 MILARÉ, Edis. O Direito do Ambiente. Idem, ibidem, p. 80.
25
Natureza de 1982; ao Relatório Bruntland - denominado Nosso Futuro Comum em 1987; em
1992, à Convenção das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, denominada
de ECO-92, realizada no Rio de Janeiro; em 1997, ao Rio + 5, realizado em New York e,
finalmente a Rio + 10, realizado em Joanesburgo no ano de 2002. A razão da crise gira em torno
da apropriação dos recursos naturais - bens finitos versus necessidades infinitas - cuja espoliação
cega dos bens não renováveis e os essenciais nos precipitam aos riscos da sobrevivência
planetária. O equilíbrio entre os interesses para a superação da crise não pode prescindir do
regramento jurídico através da tutela do Estado. No dizer de Miguel Reale, “se antes recorríamos
à natureza para dar uma base estável ao Direito, assistimos, hoje, a uma trágica inversão, sendo o
homem obrigado a recorrer ao Direito para salvar a natureza que morre”.24 Com fulcro nesta
realidade e o caráter global é que a Carta da Terra, aprovada pela Conferência do Rio de Janeiro,
inserido como Princípio 11, referendou que os “Estados deverão promulgar leis eficazes sobre o
meio ambiente” bem como a Agenda 21, que se preocupou com o aperfeiçoamento da capacidade
legislativa dos países em desenvolvimento.Todavia, nem sempre o que se consagra nas normas
encontra correspondência no mundo do presente e do real.
No Brasil, não obstante a imensa gama de diplomas versando sobre temas ambientais
episódicos das Ordenações Afonsinas, em 1446; as Ordenações Manuelinas em 1521; as
Ordenações Filipinas, em 1580; em 1916, o Código Civil Brasileiro (...) somente, a partir da
década de 1980, é que a tutela Meio Ambiente e a responsabilização foicontemplada na
plenitude maior pelos diplomas legislativos, voltados, agora sim, à proteção do patrimônio
ambiental do país, com uma visão sistêmica e global. Os quatro marcos mais importantes do
ordenamento jurídico brasileiro foram constituídos pela edição da Lei n.º 6.938, de 31.08.1981-
 
24 REALE, Miguel. Memórias. São Paulo: Saraiva, 1987.vol. 1. p.297.
26
Política Nacional do Meio Ambiente; a Lei n.º 7.347, de 24.07.1985 - Ação Civil Pública como
instrumento processual para provocar a atividade jurisdicional sempre alavancadas pelo
Ministério Público; a Constituição Federal de 05 de outubro de 1988 – com intensa preocupação
ecológica; a Lei n.º 9.605, de 12.02.1998, denominada a Lei dos crimes ambientais – que
inaugurou a sistematização das sanções administrativas e os crimes ecológicos.
Todavia, além do aparato legiferante, foram editados diversos instrumentos legais de
caráter técnico-normativo-pragmáticos e promovidas ações de educação e conscientização da
população guiadas pelas luzes dos interesses sociais impulsionados pelo Poder Público que
carece, ainda, para a implementação de ações preventivas, fiscalizatórias e punitivas, de forma
concreta, aguda e efetiva, um eficiente controle do sistema ambiental.
2.3 DOS PRINCÍPIOS E OS VALORES CORRELATOS
A hermenêutica jurídico-ambiental permite interpretar o ordenamento jurídico dando-lhe
uma roupagem muitas vezes não prevista pelo legislador. Cabe reconhecer os valores que estão
subjacentes à letra fria da lei e, mais do que isso, cuidar para a axiologia continue direcionada
para as causas nobres do homem, da sociedade, e da natureza. Esse a função normativa da lei
responsável pela sinergia hodierna e vetusta que exige a pré-compreensão que o fim da norma é,
nada mais, que o tão alardeado bem-comum. Vale ressaltar, assim, o esplêndido conceito de bem-
comum delineado pelo Papa João XXIII como didaticamente ensinou: “o conjunto de todas as
condições de vida social que consista e favoreça o desenvolvimento integral da pessoa
27
humana”.25 A lei ambiental vai ao encontro de sua própria essência – o bem-comum - com
qualidade, com desenvolvimento e com respeito à pessoa humana, o ser humano; se perder o seu
meio ambiente, perderá o que tem de mais legitimo: sua cultura, a convivência, a sua ideologia e
será um excluído, no dizer de Darcy Ribeiro, haja vista que “o homem deixa de ser no mundo
para ser um “ser” no nada”. Muito mais do que aplicar a lei ao caso concreto, saber interpretá-la
de modo que considere a causa do homem condizente com sua finalidade original e a “lei deve
existir para servir ao homem e não o homem à lei”.26
À míngua de qualquer restrição, cabe esclarecer que os sistemas jurídicos não são
perfeitos, completos, acabados, o que está de conformidade com a natureza mutável e suas
concepções integrativas e universais com outros sistemas jurídicos, alguns deles, inclusive,
desaparecendo nesta trajetória. Concorrem para a formação das normas os fatos sociais que
passam a regrar os grupos sociais através do Estado. Por não ser estático, hipostasiado, produto
de intelecção cerebrina, donde possam ser extraídos todos os reclames sociais, mas, sim, algo
dinâmico, adaptável às realidades sociais de forma concreta e real com base nos princípios.
Assim é o Direito Ambiental, no sentido da crescente adaptação, experimentando recuos e
desvios, mas sempre a avançar em direção do aperfeiçoamento, da inovação e da evolução. Por
isso, “o sistema jurídico resultou da captação e exame de necessidades sociais, mas o homem não
poderia dispensar a logicidade das regras jurídicas, que ele lançou e lança, nem, se necessário, o
recebimento do que o meio lhe mostra com os dados do ambiente espacial-temporal, inclusive
 
25 Encíclica Mater et Magistra. 1980. n.º 07. Papa João XXIII.
26 Tomás de Aquino, Santo.1225-1274. Escritos Políticos de Santo Tomás de Aquino. Trad. de Francisco Benjamim
de Souza Neto. 1ª Ed. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 1997. p.172.
28
histórico”.27 A lei é simples pauta normativa dirigida ao comportamento humano, sem, no
entanto, abarcar todas as manifestações que possam exsurgir do agir social. O apego estreito ao
legalismo exacerbado no diletantismo eufórico ou na dramaturgia letrada, mutila a realidade
social que é suprida, como regra, pelos princípios. Entretanto, sempre que os fatos apontarem
outra solução, deverá ser operada a adequação, correção e adaptação do sistema jurídico às novas
circunstâncias. Aliás, as Fontes do Direito onde “as concepções mecânica, biológica, sociológica
e técnica tornam compassáveis a revelação de direito não compreendendo nas fontes formais
colheita de valores, não somente produzidos pela investigação, mas, também, pelo sentimento e
pela intuição, e o relativo respeito da lei. De onde se tira que a pesquisa rigorosamente científica,
a metodologia objetiva, oferece, não somente garantia da segurança da ordem jurídica, como,
também, da ordem social, a que não provê o método tradicional, nem as tentativas conciliantes, a
que faltou o ânimo de romper com os processos clássicos de reconhecimento de fontes e de
interpretação (...)”.28 Toda ascensão depende de acertos evolutivos e o contato com a realidade é
o apoio necessário para a adaptação social normativa. Ora, “...se el hombre de hoy usa y abusa de
la naturaleza como si hubiera de ser el último inquilino de este desgraciado planeta, como si
detrás de él no se anunciara um futuro. La naturaleza se convierte así en el chivo expiatório del
progresso”.29 O direito estuda realidades e não fórmulas ocas e sem conteúdos, não podendo ser
deduzidos por ditames apriorísticos ou axiomas, mas sim, da concretude travada na tecitura social
através das regras e preceitos, resultado de ditames racionais adequados ao direito à vida - do
pulsar na realidade social-, livres da misantropia e do abstracionismo dogmático. O direito
 
27 MIRANDA, Pontes de. Sistema de Ciência Positiva do Direito.2ª ed.Rio de Janeiro.Editora Borsoi, 1972. Tomo
IV, p.247.
28 Ibidem. Tomo III. P. 312 e 313.
29 MATEO, Ramón Mártin. Derecho Ambiental. Instituto de Estúdios de Administración Local. 1977. p.21.
29
ambiental é concebido como processo de adaptação à realidade social cujas bases estão
comprometidas com a vida no seu sentido lato.
Da mesma forma que a palavra Princípio, em sua razão última, significa “aquilo que se
torna primeiro, primum capere, designando início, começo”, analisaremos doravante, mesmo que
perfunctoriamente, alguns dos princípios contidos no arcabouço jurídico vigentes.
2.3.1 Do Ambiente Ecologicamente Equilibrado
Topograficamente, o meio ambiente situa-se fora do art. 5.º, da Constituição Federal,
Título II – Dos Direitos e Garantias Fundamentais e Capítulo I – Dos Direitos e Deveres
Individuais e Coletivos- sendo contemplado no caput do art. 225, da Constituição Federal.
Alguns doutos, trazem a discussão sobre a temática da fundamentalidade do meio ambiente e da
“qualidade de vida, ecologicamente equilibrado”; outros, não menos doutos, levantam ao bojo
interpretações decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados
internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte na forma do art. 5º, §2º da
Constituição Federal e, de que, a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente de
1972, a Carta Mundial para a Natureza de 1982, a Carta da RIO sobre o Meio Ambiente e
Desenvolvimento de 1992, Pela Carta da Terra de 1997, a Conferência de Johanesburgo, de 2002,
vem conquistando espaço nas Constituições e na legislação infraconstitucional. De um lado, o
reconhecimento de um ambiente sadio, configurando-se, como extensão do direito à vida, sob o
enfoque existencial e, de outro lado, o aspecto da qualidade de vida, nesse estágio, o Estado
detém a obrigação de evitar os riscos quepossam interferir no equilíbrio ambiental.
30
2.3.2 Da Natureza Pública Protetiva
O caráter jurídico do meio ambiente ecologicamente equilibrado, como bem de uso
comum do povo, decorre da previsão legal que considera como um valor a ser necessariamente
assegurado e protegido para uso de todos para a fruição humana coletiva.30 Esse interesse
coletivo permitirá o exsurgimento de um novo direito com instrumentos legais de acordo com os
objetivos do Estado. Nesse sentido, é a manifestação do Professor Michel Prieur, ao referir-se que
“à proteção da natureza influi na organização da Sociedade e das suas atividades, associado à
saúde pública e não se restringindo ao simples controle da poluição, ponto fundamental do
interesse público.31 A vinculação com o princípio geral de Direito Público e administrativo,da
primazia do interesse público e a indisponibilidade do interesse público, se fazem sentir como
forma prevalente sobre os direitos individuais cuja norma de natureza pública é concretamente
qualificadora dos interesses públicos - de natureza indisponível- que tutela o meio ambiente ou
seja os superiores interesses da sociedade como dever do Estado.
2.3.3 Do Controle do Poluidor
A ação dos órgãos e entidades públicas se concretiza através do exercício do poder de
polícia administrativa inerente à Administração Pública que possui a faculdade de limitar o
 
30 DA SILVA, José Afonso. Direito Ambiental Constitucional. 2ª ed. São Paulo: Malheiros, 1997. p4;
31
exercício dos direitos individuais em prol do interesse público buscando em última análise a
mantença do bem-estar coletivo.
2.3.4 Das Variáveis Ambientais
Todos os impactos ambientais devem ser levados em considerações com o fito de prevenir
a poluição e agressões à natureza, com avaliação prévia dos efeitos conforme regulamentação
infraconstitucional. No âmbito internacional, dele se ocupou a Carta Mundial da Natureza de
1982 e o constante do Princípio 17 da Declaração do Rio de 1992.
2.3.5 A Participação Comunitária
O texto legal foi contemplado no art 225 da Constituição Federal ao prescrever ao Poder
Público e à coletividade o dever de defender e preservar o meio ambiente para as presentes e
futuras gerações, inserindo no texto constitucional mecanismos capazes da garantia desse
exercício.32
2.3.6 O Poluidor Pagador
Na conjuntura atual, se inspira tal princípio, na teoria econômica de que os custos
externos do processo produtivo devem ser internalizados, com o fito de imputar, ao poluidor, o
 
31 PRIEUR, Michel. Faculdade de Direito e de Ciências Econômicas de Limoges. 3ª Ed. Paris: Dalloz,1996, p. 52 e
53.
32 Art. 5.º, XIV, XXXIII, XXXIV, LXXI, LXXIII, art. 1 29,III e §1º; arts. 220,225, §1º, VI e seguintes, todos da CF;
32
custo social gerado como mecanismo de responsabilidade pelo dano ecológico produzido como
efeito pedagógico preventivo. A legislação infraconstitucional e a própria Constituição têm
previsão no sentido de que sejam responsabilizados os infratores independentemente da
existência de culpa causados a natureza e a terceiros, afetados por sua atividade.33 Também o
Princípio 16, da Declaração do RIO de 1992, tem previsão similar a responsabilização pelos
custos.
2.3.7 Da Prevenção
De outro ponto, trata-se da antecipação prioritária de medidas que evitem os atentados ao
meio ambiente de modo a reduzir ou eliminar as ações suscetíveis de alterar as qualidades
intrínsecas haja vista que os danos ambientais sob a ótica da ciência e da técnica são irreparáveis.
Como trazer o grau de pureza do ar atmosférico aos níveis palatáveis que não comportem riscos
para a qualidade de vida e ao meio ambiente?
2.3.8 Da Precaução
O princípio da precaução emergiu há duas décadas na cena internacional, fruto de um
movimento de desmistificação do poder absoluto da ciência e da tecnologia como reflexo da
crescente sensibilização para os riscos inerentes à complexificação constante e vertiginosa da
realidade social e da demanda de segurança.
 
 
33 art. 4º,VII e 14,§1º, da Lei n.º 6.938, de 31.08.1981.art. 225,§ 3º, da CF.
33
Como sintetizado, é o cuidado antecipado e a cautela para que uma ação não venha
desencadear efeitos indesejados, decorrentes da incerteza científica. As atividades potencialmente
poluidoras deverão cessar ou minimizar suas ações quando a amplitude ou dimensão forem
irreversíveis. O princípio da precaução vem transcender a passagem do modelo clássico “reaja e
corrija” para o modelo “preveja e previna”, visando satisfazer o imperativo racional, filosófico,
social e política da gestão e controle dos riscos ambientais – de forma antecipativa. A
Conferência sobre Mudanças do Clima da ECO 92, refere que “as partes devem adotar medidas
de precaução para prever, evitar ou minimizar as causas da mudança do clima e mitigar seus
efeitos negativos. Quando surgirem ameaças de danos sérios e irreversíveis, a falta de plena
certeza científica não deve ser usada como razão para postergar essas medidas, levando em conta
que as políticas adotadas para enfrentar a mudança do clima devem ser eficazes em função dos
custos, de modo a assegurar benefícios mundiais ao menor custo possível”, tendo sido ratificada
pelo Congresso Nacional.34 Com fulcro nesse Princípio no Estado de São Paulo restringiu à
circulação de veículos automotores na região metropolitana de 1997 a 1998, obedecendo-se os
dígitos finais de placas.35
Gizar, ainda, que em prol da segurança jurídica a Carta Magna acolheu no seu seio
diversos princípios entre os quais o suso, ao consagrar a proteção do ambiente como uma
incumbência do Estado e um direito e dever dos cidadãos. Apresentam-se indubitáveis os
impactos ambientais cuja magnitude são deveras incalculáveis diante da gravidade ambiental
irreversível. As antecipações das medidas preventivas e da opção pela adoção do estágio de
proteção equivalem à assunção do imperativo do dever constitucional de proteção e de defesa
 
34 Princípio 15 ; Decreto Legislativo n.º 01, de 03 de fevereiro de 1994.
35 Lei n.º 9.690. de 02.06.1997 e o Decreto n.º 41.858/97.
34
ambiental e da não preterição do princípio “in dúbio pró-ambiente” ou até mesmo da inversão do
ônus da prova face à ameaça de produção de danos graves e irreversíveis. O professor português
Freitas Martins, ao comentar o Princípio em tela, referiu-se que:
“não se trata de um princípio aberto e sujeito a um aperfeiçoamento permanente e sim,
ultrapassada largamente a esfera jurídica, projetando-se nos campos sociológicos,
econômico e filosófico. Em certa medida, esclarece as limitações de uma abordagem
jurídica nos termos clássicos e manifesta as tendências da evolução do Direito do
Ambiente e da auto-regulação e controle privado para a perspectiva dinâmica orientada
para o acompanhamento permanente e abertura das situações jurídicas constituídas assente
nas regras sociais e nas normas legais e regulamentares como regras de segurança”.36
2.3.9 Da Função Socioambiental da Propriedade
A propriedade é condicionada, na forma da Carta Magna, ao bem estar social.37 Nessa
concepção, contempla a função social da propriedade que deve ser exercitada em consonância
com suas finalidades econômicas e sociais com ênfase na preservação da flora, fauna, os recursos
naturais, o equilíbrio ecológico, o patrimônio histórico e cultural, evitando-se a poluição.
Portanto, nada é ilimitado ou inatingível presente o interesse público, haja vista que “a
propriedade, sem deixar de ser privada, se socializou, com isso significando que deve oferecer à
coletividade uma maior utilidade, dentro da concepção de que o social orienta o individual”, em
especial nas questões ambientais38. No atual ordenamento jurídico, comobem analisa Álvaro
Luiz Valery Mirra, “a função social e ambiental não constitui um simples limite ao exercício do
direito de propriedade, como aquela restrição tradicional, por meio da qual se permite ao
proprietário, no exercício de seu direito, fazer tudo que não prejudique a coletividade e o meio
 
36 MARTINS, Freitas e Ana Gouveia. O Principio da Precaução no Direito do Ambiente.Associação Acadêmica da
Faculdade de Direito de Lisboa. Portugal.1999 - 2000.p.93 a 98.
37 Art. 5º,XXII e XXIII, da CF.art. 182,§2º e 186, da CF.
35
ambiente. Diversamente, a função social e ambiental vai mais longe e autoriza até que se
imponha ao proprietário comportamentos positivos, no exercício de seu direito, para que a sua
propriedade concretamente se adeqüe à preservação do meio ambiente”.39 O uso da propriedade
pode e deve ser controlado, impondo-se as restrições que forem necessárias para a garantia dos
bens maiores da coletividade de modo a conjurar qualquer ameaça ou lesão à qualidade de vida.
Inexiste direito adquirido contra o dano ambiental em decorrência da função social e a garantia
constitucional da tutela ambiental, cujas restrições de direito conseqüentemente são facultados à
Administração em nome do interesse público superior.
 2.3.10 Da Garantia do Desenvolvimento Sustentável
O desenvolvimento e a fruição dos bens da natureza pelos seres humanos e a preservação
aos seus pósteros como um Planeta habitável, além de ser um direito impostergável, compreende
um dever do Poder Público.A preservação ambiental e o desenvolvimento socioeconômico
harmonizado integram o bojo da legislação do Brasil, cujas melhorias da qualidade de vida
humana dentro dos limites da capacidade de suportabilidade do ecossistema, com a integração
das questões ambientais na satisfação das necessidades básicas, na qualidade de vida digna,
conservação e manejos dos ecossistemas e um futuro mais promissor com a parceria global e o
desenvolvimento sustentável.40
Para Bill Gates: “O futuro pertence às sociedades que não se contentam em promover o
atendimento horizontal e vertical dos anseios do homem, mas que se esmeram em também criar
 
38 CARVALHO, Kildare Gonçalves. Direito Constitucional Didático. 5ª Ed. Belo Horizonte: Del Rey, 1997. p.217.
39 Apud. MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente.p. 121.
36
necessidades desnecessárias que se tornam absolutamente imprescindíveis a partir do lançamento
de cada uma delas”.41 Eis o paradoxo do consumo sustentável, ao revés, das necessidades
insaciáveis dos seres humanos diante do repertório de opções consumistas.
A rigor, a sociedade não se limita às gerações presentes nem termina em nossos dias, uma
vez que sob o ponto de vista biológico a propagação da espécie como garantia da sociedade do
amanhã - das gerações futuras - de poder usufruir os recursos naturais.
2.3.11 Da Cooperação entre os Povos
A cooperação entre os povos para o progresso da humanidade encontra lastro na Carta
Maior.42 Um dos temas de interdependência mundial é a proteção ambiental haja vista que a
degradação ambiental não se circunscreve ao limite territorial, pois o meio ambiente não tem
fronteiras, denominadas por Álvaro Mirra como “dimensão transfronteiriça e global das
atividades degradadoras”.43 Não importa, também, em renúncia à soberania do Estado ou à
autodeterminação dos povos, uma vez que os Estados têm o direito soberano de explorar seus
próprios recursos segundo as políticas ambientais e de desenvolvimento, de responsabilidade
eminentemente de caráter interno.44 Assim, é de se ver que a Lei n.º 9.605/98, em seu art. 77,
dedicou inteiramente o Cap. VII à “cooperação internacional”, visando a sinergia entre os entes já
que a globalização dos problemas ambientais deu-se no campo pragmático. Diante desse quadro,
 
40 Declaração do RIO – Principio 4; Agenda 21 – preâmbulo.
41 O Estado de São Paulo. 29.12.2002. Coluna do Joelmir Beting.
42 Art. 4.º,IX da CF.
43 Apud.Édis Milaré,
37
a fruição humana coletiva há de ser protegida independentemente dos indivíduos relacionados
com a denominação de nacionais ou estrangeiros, haja vista que a coletividade deve ser
sobejamente protegida em todos os sentidos, como direito difuso de terceira geração.45
3. O BEM AMBIENTAL
Em outro giro, o Direito reconhece o patrimônio ambiental como um bem especial,
enquanto essenciais à sadia qualidade de vida e vinculado ao interesse coletivo. O bem
juridicamente protegido é a qualidade ambiental em sua dimensão global - o meio ambiente -
 
 Op. Cit. P. 124.
44 Princípios da ECO 92 de n.ºs 2,7,9,12,13,14,18 e 27.
45 STF.Mandado de Segurança n.º 22.164. Relator Ministro Celso de Mello.Votação datada de 30.11.95”...o direito à
integridade do meio ambiente- típico de terceira geração – constitui prerrogativa jurídica de titularidade coletiva,
refletindo, dentro do processo de afirmação dos direitos humanos, a expressão significativa de um poder atribuído,
não ao individuo identificado em sua singularidade, mas, num sentido verdadeiramente mais abrangente, à própria
coletividade social...”.
38
elevado à categoria de jurídico essencial à vida, à saúde e à felicidade do homem”. É necessário
que a lei faça remissão às disposições externas, a normas e conceitos técnicos”.46 A vida não está
a serviço dos conceitos, mas sim estes ao serviço da vida, no dizer de Erich Danz. De qualquer
forma, um novo horizonte se descortinou uma vez que “não se pode esquecer jamais que a lei é
farol que ilumina e aponta horizontes, não é barreira para simplesmente impedir a caminhada”.47
Em suma, é difuso o direito transindividual, de natureza indivisível, de que sejam titulares
pessoas indeterminadas, ligadas entre si por circunstâncias de fato.O dano ambiental, em regra,
integra esta categoria, salvo em havendo pluralidade de vítimas, individual ou homogêneo.48
3.1 O AR ATMOSFÉRICO
Didaticamente, podemos dizer que o ar atmosférico integra o meio ambiente natural. É
formado por uma mistura de vários elementos e componentes distintos. A biosfera é a parte da
Terra em que existe vida. A atmosfera é a massa de ar que envolve a Terra, composta de 78% de
nitrogênio, de 21% de oxigênio, de 0,9% de argônio e de 0,03% de anidrido carbônico, entre
outras substâncias e vapor d’água. O ar é a mistura gasosa que envolve a Terra e integra ao
processo vital de respiração e fotossíntese, à evaporação, à transpiração, à oxidação além dos
fenômenos climáticos e meteorológicos necessários a mantença da vida, pois, além de ser a
matéria-prima da respiração dos seres vivos, filtra os raios solares, arrefece o calor, equilibra os
ecossistemas. A disponibilidade é ampla e o seu uso insere-se imperceptivelmente nos seres que o
 
46 DE FREITAS, Vladimir Passos. Do crime de Poluição. Direito Ambiental em Evolução. Curitiba,PR: Juruá,
1998,p. 108.
47 MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente. Op. Cit.p.463.
48 Art. 81, da CDC.
39
utilizam, malgrado sua intangibilidade e seu caráter etéreo cujo controle da qualidade
desempenha, repisa-se, no contexto da vida terrestre. Se faltar, a vida se extinguirá. Se sua pureza
for comprometida sua função ecológica perecerá.49
A massa gasosa denominada de ar atmosférico é insuscetível de apropriação e de natureza
indisponível. Não sendo propriedade de ninguém, mas um bem de uso comum de todos -
patrimônio público - de uso irrestrito de todos; ninguém, mas ninguém mesmo, tem o direito de
conspurcá-lo por ser questão de sobrevivência.Cabe ao Poder público proteger o seu grau de
pureza indispensável à sua finalidade essencial. É falsa a tese de que o ar é um bem livre e,
podendo qualquer um dispor dele como bem entender; é livre, sim, para ser utilizado na sua
finalidade essencial. A poluição do ar resulta na alteração das características físicas, químicas ou
biológicas normais da atmosfera, produzindo danos aos seres vivos, à fauna, à flora e aos meios
abióticos. Assim, vultosas quantidades de elementos químicos estão relacionados com as
condições produzidas pelas condições topográficas, climáticas, meteorológicas; também,
toneladas de poluentes, são lançadas no meio ambiente decorrentes das atividades produtivas que
afetam o bem estar da população e necessitam de mecanismos de controle do seu uso, gozo e
fruição desses bens poluentes da atmosfera que deverão ser restringidos para níveis suportáveis.
Muitas são as fontes poluidoras do ecossistema planetário. No contexto estacionário, as indústrias
e as fontes móveis, representadas pelos veículos automotores. Esta análise sistêmica é
indispensável para que se assegure qualidade ambiental do entorno com o zelo para que não se
inviabilize atividades produtivas.
 
49 DA SILVA, José Afonso. Direito Ambiental Constitucional. Malheiros Editores. p. 76 e 77.
40
Assim, os mecanismos malfeitores da saúde humana são constituídos por elementos
químicos como o monóxido de carbono (CO2), o dióxido de enxofre (SO2), o dióxido de
nitrogênio (NO2), os hidrocarbonetos, o ozônio (O3), o material particulado (MP), cujo leque de
incômodos e doenças é amplo, dependendo do grau de exposição e intensidade. Os males
respiratórios, redução da oxigenação, leucemia, leucopenia, anomalias e demais seqüelas. A
poluição atmosférica é atentatória ao patrimônio ecológico, econômico, natural, físico, cultural e
memória. Por sua vez, os riscos globais produzem ainda as chuvas ácidas, com a redução da
camada de ozônio e o efeito estufa, entre outros fenômenos.
Nessa vereda, o ar atmosférico integra o meio ambiente, em seu aspecto natural. O meio
ambiente tem natureza jurídica de bem difuso, pertence a todos e, ecologicamente equilibrado, é
pressuposto do exercício do direito à vida como bem ambiental por ser essencial à sadia
qualidade de vida, quer sob os aspectos materiais, quer sob os aspectos imateriais.50
3.2 A POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA
Analisando a etimologia do vocábulo Poluição, temos: “Poluição provém do latim
polluere. Significa sujar, macular, manchar, contaminar por impureza ou imundície”.51 
 A Poluição do Ar, por sua vez é assim definido:
“A presença de materiais estranhos no ar. Tudo que pode ser vaporizado ou transformado
em pequenas partículas, de modo que possa flutuar no ar, deve ser classificado como
poluente potencial. Considera-se o ar como normal quando mais de 99,99% do volume de
ar se compõem de apenas quatro moléculas gasosas, nitrogênio(78,09%), oxigênio(20,94),
 
50 Art. 5.º, caput c/c art. 1.º,III e 6.º; art. 225 caput da Constituição Federal.
51 MAIA FILHO, Roberto. A Tutela Material Civil do Ar Atmosférico. Dissertação apresentada na PUC-SP,São
Paulo.1999.
41
argônio(0,95%) e dióxido de carbono(0,03%), além de uma dúzia de outros constituintes
que se encontram em quantidades microscópicas, geralmente expressos em partes por
milhão”.52
A despeito de opiniões em sentido contrário, a poluição caracteriza-se como qualquer
mudança nas propriedades físicas, químicas ou biológicas de um determinado ecossistema,
ocasionada ou não pela ação humana, a que acarreta prejuízos ao desenvolvimento das
populações ou cause desfiguração da natureza. Para fins legais, a degradação proveniente de
atividade que degrade a qualidade ambiental em desacordo com os padrões estabelecidos.53
 De toda a forma, as causas principais da poluição atmosférica são a queima de
combustíveis fósseis e a indústria. Nas cidades, em geral, os veículos são os principais
responsáveis pela poluição do ar. Na zona rural, a poluição atmosférica é causada pelas
queimadas. A atmosfera recebe, anualmente, milhões de toneladas de gases tóxicos, como
monóxido de carbono, dióxido de enxofre, óxido de nitrogênio e hidrocarbonetos, além das
partículas que ficam em suspensão. As fontes geradoras de poluição atmosférica são os motores
dos automóveis, as indústrias, a incineração de lixo e as queimadas.
 Mister registrar que o Monóxido de Carbono (CO) é um gás contaminante, incolor,
inodoro, mais leve que o ar e extremamente tóxico. Esse é o principal poluente dos grandes
centros urbanos, causando efeito danoso ao sistema nervoso central, inclusive com perda de
consciência e visão.Exposições curtas podem causar dores de cabeça e tontura.Também, o
Dióxido de Enxofre, causa irritação aos olhos, desconforto na respiração, doenças respiratórias e
cardiovasculares, causa corrosão aos materiais e danos à vegetação.
 
52 FIALHO, Rodrigo Coelho. Dissertação apresentada no Instituto de Biociências na USP ao citar o professor
42
Dissertando a respeito, o ambientalista americano James Gustave Speth, diretor e
professor do Departamento de Estudos do Meio Ambiente e Florestas da Universidade de Yale
dos Estados Unidos, afirma que:
“a concentração de dióxido de carbono na atmosfera é a mais alta que nos últimos 420 mil
anos. E esse acúmulo só tende a aumentar. O gás carbônico, responsável pelo aquecimento
global, é emitido pela queima de combustíveis fósseis. Na era pré-industrial, a
concentração de gás carbônico na atmosfera ficava em torno de 280 partículas por milhão.
Hoje, 370 partículas por milhão. A previsão é de 600 partículas por milhão. Isso é o
equivalente a colocar cobertores sobre a terra”.
Aduz, por fim, que é um futuro que não dá vontade de visitar.54 
3.2.1 Da Chuva Ácida
As chuvas são sempre ácidas, pois com a combinação de gás carbônico (CO2) e água
(H2O) presentes na atmosfera produzem ácido carbônico (H2CO3). A elevação exagerada dos
níveis de acidez é resultado da ação antrópica.55
 A chuva ácida é causada pela emissão de poluentes das industrias, dos transportes e
demais atividades que queimam combustíveis fósseis. Os principais responsáveis por esse
fenômeno são o dióxido de enxofre (SO2) e o dióxido de nitrogênio (NO2). Esses gases, ao
serem lançados na atmosfera, se combinam com a água em suspensão, transformando-se em
ácido com elevada capacidade de corrosão (ácido sulfúrico).
 
GRANVILLE H. SEWEL. CETESB,1985.
53 Art. 3.º, inc. III, da Lei n.º 6.938/81.
54 SPETH, James Gustave. Red Sky ar Morningt(O Céu Vermelho pela Manhã). Yale University Press (sem tradução
para o português). New York. 2004.
43
3.2.2 Do Efeito Estufa
É um fenômeno natural que pode ocorrer em qualquer parte do planeta, no entanto, sua
ocorrência é maior nos centros urbano-industriais. Costuma acontecer no inverno, nos dias
frios.56
 Em situações normais o ar, aquecido pela irradiação da superfície, por ficar menos denso
(mais leve), eleva-se dando lugar ao ar frio, dessa maneira formam-se correntes de convecção do
ar, que estabelecem uma dinâmica favorável à dispersão de poluentes. Ou seja, a radiação solar
(ondas curtas - ultravioleta), atravessa a atmosfera e chega ao planeta, trazendo o aquecimento.
A radiação terrestre resultante (ondas longas infravermelho), ou ondas de calor, não conseguem
seu desenvolvimento pleno no espaço, pois os gases-estufa (principalmente CO2) absorvem e
emitem esta radiação de volta para o planeta, o que permite a manutenção da temperatura média
do globo em certos níveis.
Portanto, o efeito estufa é um fenômeno absolutamente natural, e sem ele não haveria vida
na Terra. Entretanto, a emissão em larga escala dos gasesestufas (gerados principalmente pela
queima de combustíveis fósseis e pela atividade industrial) geram uma intensificação do
fenômeno aumentado à temperatura média global e provocando variações climáticas. Como
conseqüências, poderiam provocar, além da alteração de padrões agrícolas e de diversos
processos ecológicos, alterações no ciclo hidrológico e derretimento das geleiras e plataformas de
gelo, provocando o aumento do nível dos mares. Porém, não há como prever com certeza estas
 
56 COELHO, Marcos de Amorim; Terra, Lygia. Geografia Geral: o espaço natural e socioeconômico. 4ª edição. São
Paulo: Moderna, 2001.Série Sinopse.p.423.
44
conseqüências. O que se sabe é que a temperatura da Terra cresceu cerca de 0,6ºC nos últimos
cem anos, o que não é anormal. A intensificação da emissão dos gases-estufas, que vem desde a
Revolução Industrial, é que preocupa os cientistas, pois aumenta a temperatura global em até 2ºC
nos próximos cem anos.
3.2.3 Ilhas de Calor
É o aumento da temperatura nos centros urbanos. Ocorre principalmente, em virtude da
grande área asfaltada, das imensas massas de concreto, da intensa emissão de gases poluentes e
da ausência de vegetação. Esses fatores provocam o aumento da média térmica, intensificado
pelo grande número de edifícios que impendem ou dificultam a penetração dos ventos. A
diferença de temperatura do ar atmosférico entre a cidade e seus arredores pode atingir de 6 a
8ºC.
3.2.4 Camada de Ozônio
O ozônio (O3) na baixa atmosfera é extremamente prejudicial, principalmente para o
desenvolvimento das plantas. Mas em estado puro e livre na estratosfera (entre 15 e 30Km de
altitude), ele protege os seres vivos da radiação proveniente do Sol, filtrando os raios
ultravioletas.57
 
 
45
 A emissão de clorofluorcarbono (CFC) na atmosfera, resultante da utilização de
condicionadores de ar, refrigeração, e no processo de fabricação de aerossóis, isopor e solventes,
provocando a diminuição das moléculas de ozônio, uma vez que o cloro presente no CFC, reage
com estas, destruindo-as ou causando sua depleção.
Como conseqüência da maior incidência de radiação solar (ultravioleta) na superfície
terrestre, pode-se citar o aumento do número de casos de câncer de pele, perturbações na visão e
diminuição na velocidade da fotossíntese dos vegetais.
Diante da gravidade e a preocupação governamental, foi criado o Comitê Executivo
Interministerial para a proteção da Camada de Ozônio, com a finalidade de estabelecer diretrizes
e coordenar ações relativas a proteção da camada de ozônio58 bem como a aprovação do acordo
internacional do Protocolo de Montreal.
3.3 DA INTERVENÇÃO NAS ATIVIDADES POLUIDORAS
O ar, com certos padrões de pureza e de qualidade, é indispensável à vida humana. Não
sendo propriedade de ninguém, mas um bem de uso comum de todos, patrimônio da coletividade,
ninguém tem o direito de conspurcá-lo.59
 
57 SENE, Eustáquio de; MOREIRA, João Carlos. Geografia Geral e do Brasil:especo geográfico e globalização. São
Paulo: Scipione, 1998. p.391.
58 Decreto Federal de 06.03.2003, publicado no DOU de 07.03.2003.Decreto n.º 5.280/2004.Acordo Internacional-
Protocolo de Montreal.
59 DA SILVA, José Afonso. Direito Ambiental Constitucional. Malheiros Editores. P. 81 e 82.
46
 A intervenção sobre as atividades poluidoras com vistas a preservar ou recuperar a
qualidade atmosférica e conseqüentemente a qualidade ambiental deve ser efetuado através de
monitoramento com de medidas em níveis federal, estadual e municipal. A Constituição Federal,
estabelece que a proteção ao meio ambiente e o combate à poluição em qualquer de suas formas é
da competência comum da União, dos Estados e dos Municípios60; prevê a competência
concorrente da União, dos Estados e do Distrito Federal para legislar sobre a proteção do meio
ambiente e o controle da poluição;61 aos Municípios, cabe suplementar a legislação no que
couber.62 Destarte, a Constituição Federal conferiu amplíssima proteção ao ar atmosférico e o
poder de controle sobre as atividades capazes de poluí-lo, vez que “todos têm direito ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado – insere-se neste contexto o ar – bem de uso comum do
povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever
de defendê-lo”63. Os titulares do bem jurídico denominado de meio ambiente são as atuais
gerações mas, por igual, aqueles que ainda não nasceram ou seja, as futuras gerações. Tal
proteção legal configura-se como pressuposto superior para o atendimento de um valor
fundamental – o direito à vida.
Para tanto, foi editado pelo governo federal um programa energético alternativo, de
energia limpa para substituir o combustível fóssil, denominado de Proálcool. Também, parte da
solução da poluição nas grandes cidades do Rio Grande do Sul, foi minorada pelos laboratórios
de química da Fundação da Universidade (FURG) com a criação e o desenvolvimento do
combustível biodiesel. A fórmula do combustível é bastante simples: óleo vegetal e álcool para se
 
60 Art, 23,VI,da CF;
61 Art, 24,VI, da CF;
62 Art. 30,II, da CF;
63 Art. 225, caput, da CF;
47
obter o biodiesel, um combustível barato, com matéria prima renovável e reduzida taxa de
poluentes. As vantagens do biodiesel são enormes, uma vez que, com a utilização desse
combustível, inexiste emissão de compostos aromáticos (agentes cancerígenos), com reduzida
emissão de gás carbônico, hidrocarbonetos, enxofre e da fumaça preta.64 Com empeque, também,
o Gás Natural Veicular-GNV, utilizado na frota de táxis e veículos automotores como uma
solução limpa, barata e segura para melhorar a qualidade de vida da população pela grau ínfimo
de poluente e apresentar as características de combustível seco e não diluente do óleo lubrificante
do motor. Com a queima completa do combustível inexiste a formação de depósitos de carbono
nas partes internas do equipamento aumentando a vida útil do motor e os intervalos das trocas de
óleo, com custo percentual de 60% menor referente ao combustível.65
 
Ainda, através do Programa Nacional de Controle da Poluição do Ar por Veículos
Automotores – PRONCOVE, foi expedida a Resolução n.º 18/86, do Conselho Nacional do
Meio Ambiente – CONAMA-, para fins de redução de emissões de poluentes. O Programa
Nacional de Controle da Qualidade do Ar estabelecendo padrões primários e secundários da
qualidade do ar e têm suas emissões reguladas pelo CONAMA66. A Resolução n.º 007/93,
estabeleceu padrões de emissão de gás carbônico e similares, diluição, velocidade angular do
motor e ruídos para os motores dos veículos automotores de ciclo Otto e, a capacidade de
fumaça preta e ruído para o ciclo diesel. Os limites servem de parâmetros para o estado de
manutenção de veículos em circulação e ao atendimento dos Programas de Inspeções e
Manutenção para os veículos automotores em uso, previsto na Resolução n.º 018/86-CONAMA;
 
64 Zero Hora.Caderno: Ambiente.26.02.2004.p.7;
65 SULGAS. Gás Natural.Jornal Zero Hora de 21.07.2004.p.2 a 6. Matriz energética extremamente baixa apenas
7,5%; média mundial 23%; Argentina- 50%, ainda consta como o país com a maior frota de veículos com Gás
Natural do Mundo.
48
também, a Resolução n.º 018/95, disciplinou a implantação do Programa de Inspeção e
Manutenção para Veículos em Uso – I/M. A Portaria do IBAMA n.º 085/96 de adotou o
Programa Interno de autofiscalização da manutenção da frota

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