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Direito Tributário Aplicado Prof. Leandro Tripodi 2023.1 2 AULA 1. Teoria do tributo: introdução Histórico do Direito Tributário: ● Tributos e a guerra: imposição tributária aos derrotados e aliados interessados na proteção proporcionada por povos mais desenvolvidos militarmente; ● Tributos nas relações econômicas: Idade Média (talha = imposto sobre terra, banalidades) e Idade Moderna (surgimento de impostos sobre a produção e de taxas por serviços públicos prestados); ● Constitucionalização das relações tributárias: imposição de limites jurídico-políticos ao poder tributário do soberano; ● Cobrança arbitrária (incerteza quanto à quantia a pagar, ao modo de pagamento e à periodicidade; tributação sancionatória = confisco) dando lugar à ascensão do paradigma da racionalidade/justificação; ● Surgimento do Direito Tributário contemporâneo como disciplina jurídica do tributo, entendido como obrigação submetida ao regime da legalidade (tendo sua cobrança cercada de garantias constitucionais pertinentes aos direitos fundamentais). 3 AULA 2. Conceito jurídico-econômico de tributo Elementos do conceito jurídico de tributo: ● Exação compulsória de natureza pecuniária (caráter monetário da obrigação tributária; obrigação ex lege: independe de manifestação de vontade do obrigado); ● Caráter não sancionatório (ser tributado ≠ ser sancionado; sanções tributárias decorrem de descumprimentos e infrações à legislação fiscal); ● Instituição em lei (controle parlamentar sobre a cobrança de tributos e sobre a carga tributária); ● Cobrança vinculada (proibição da violação das garantias da legalidade e isonomia). Funções: fiscal (arrecadatória); extrafiscal (indutora); parafiscal (financiamento de entidades auxiliares do Estado). Diretos: ônus econômico suportado pelo obrigado (não há condições de repassá-lo a terceiros); indiretos: ônus econômico repassado a terceiros (por exemplo, embutido no preço de mercadorias e serviços). 4 AULA 3. Espécies tributárias Tributo é GÊNERO, do qual são ESPÉCIES (de acordo com a teoria pentapartite): ● Impostos, caracterizados pela ausência de contraprestação estatal específica; ● Taxas, caracterizadas pela obrigatoriedade de uma contraprestação estatal específica, dirigida ao contribuinte; ● Contribuições de melhoria, fundadas no benefício econômico que obras públicas podem ocasionar aos proprietários dos imóveis adjacentes; ● Empréstimos compulsórios, exigidos em virtude da necessidade temporária de obtenção de recursos para o atendimento de necessidades públicas prementes; ● Contribuições especiais, caracterizadas pela destinação do produto de sua arrecadação a uma finalidade específica constitucionalmente eleita. 5 AULA 4. Competência tributária ● Competência é a medida do poder que a Constituição atribui a cada segmento do Estado; ● Competência tributária é, portanto, a medida do poder, conferido pela Constituição, de instituir tributos — o que será feito por lei própria de cada ente federativo; ● A cada ente federativo somente é permitida a instituição dos tributos que se encontrarem inseridos na sua esfera de competência, delimitada pela Constituição; ● Como os tributos são instituídos em lei, a fim de exercer a competência tributária é preciso estar dotado da correspondente competência legislativa; ● A competência legislativa em matéria tributária pode ser exercida pela União, Estados, Distrito Federal e municípios, nos termos da Constituição Federal; ● Vide art. 24, inciso I; art. 30, inciso III; e arts. 145 a 149-A, todos da CF/88. 6 AULA 5. Limitações ao poder de tributar ● A Constituição Federal atribui aos entes federativos o poder de tributar, mas impõe condições ao seu exercício, no interesse da segurança jurídica e do respeito aos direitos fundamentais; ● Dentre elas, identificamos os princípios constitucionais tributários; ● O primeiro e mais importante princípio constitucional tributário é o da legalidade, o qual requer que qualquer aumento da carga tributária seja, em regra, veiculado por normas de uma certa hierarquia — quais sejam, as leis em sentido formal; ● Em regra, apenas lei em sentido formal (isto é, lei com iniciativa adequada, aprovada pelo Poder Legislativo, sancionada, promulgada e publicada) pode instituir ou aumentar tributos; ● O intuito é viabilizar o controle parlamentar da carga tributária; ● A referida lei será ordinária ou complementar, conforme dispuser a norma de regência; admite-se a medida provisória, a depender do caso, nos termos da Constituição. 7 AULA 6. Limitações ao poder de tributar (continuação) ● As limitações constitucionais ao poder tributar também atuam na dimensão temporal; ● No Brasil, o legislador não é livre para escolher o tempo do fato gerador a ser tributado por uma lei recém- publicada; na verdade, existem restrições a essa escolha, as quais decorrem da Constituição Federal; ● Segundo o princípio da irretroatividade, não é permitido ao legislador “tributar o passado”. Isto é, os fatos geradores anteriores à vigência da lei não são alcançados por carga tributária nova; ● De acordo com o princípio da anterioridade, o legislador não pode “tributar o futuro próximo”; deve haver um período de espera antes de que a nova carga tributária produza efeitos em relação a fatos ocorridos após a publicação da lei; ● Há duas regras de anterioridade na Constituição: de exercício e nonagesimal. Quando ambas se aplicarem no mesmo caso, prevalecerá a que for mais benéfica aos contribuintes. 8 AULA 7. Hipótese de incidência tributária ● Por hipótese de incidência tributária, entende-se o conjunto de parâmetros normativos que especificam as condições materiais diante das quais deverá incidir determinado tributo; ● A hipótese de incidência é representada pelo diagrama básico D(H→C), onde D representa um dever-ser, H representa a hipótese (ou antecedente) e C, a consequência (ou consequente): ● Se verificada a hipótese (isto é, sempre que preenchidas certas condições especificadas em lei), deve produzir-se a consequência (qual seja, a incidência do tributo e seu recolhimento aos cofres públicos); ● A regra-matriz de incidência tributária é dividida em cinco critérios ou aspectos: material, espacial e temporal (no antecedente); e pessoal e quantitativo (no consequente); ● De forma simplificada, esses critérios definem, respectivamente: a materialidade tributável; o local e o tempo de ocorrência do fato gerador; a identidade do devedor, ou devedores, e do credor tributário; e o quantum debeatur. 9 AULA 8. Normas gerais de Direito Tributário ● O art. 146 da CF/88 atribui a leis complementares (federais) a incumbência de regular conflitos de competência tributária e disciplinar as limitações constitucionais ao poder de tributar, além de dispor sobre normas gerais em matéria tributária; ● Em seu Livro Segundo, o CTN traz normas gerais, aplicáveis à União, Estados, Distrito Federal e Municípios, sobre legislação tributária, além de dispor sobre obrigação tributária, cobrança e administração de tributos; ● Na origem, o CTN é lei ordinária, mas foi recepcionado pelas Constituições posteriores como lei complementar; ● O CTN conceitua legislação tributária (art. 96) e traz normas sobre sua interpretação e preenchimento de lacunas — o que, porém, não inviabiliza a aplicação das regras comuns da hermenêutica jurídica; ● O CTN trata o Direito Tributário como um direito de sobreposição, dando a entender que não cabe à lei tributária “reescrever” o Direito Privado (arts. 109 e 110); ● O Direito Tributário deve observar os conceitos do Direito Privado a fim de delimitar as competências tributárias. 10 AULA 9. Obrigação tributária ● A obrigação tributária é um liame jurídico cuja existência decorre da lei tributária, ligando o devedor tributário (sujeito passivo) ao respectivo credor (sujeito ativo); ● As obrigações tributárias podem ter por objeto prestações de dar ou prestações de fazer, não fazer ou tolerar que se faça; ● A obrigaçãoprincipal tem por objeto o pagamento do tributo ou da penalidade pecuniária (correspondendo às multas por infração à legislação fiscal além de outros consectários e encargos legais); ● As obrigações acessórias têm por objeto prestações diferentes do pagamento de tributos e são também chamadas de deveres instrumentais, caracterizando-se como medidas de registro e controle necessárias à cobrança dos tributos; ● A relação entre as obrigações acessórias e principais, no Direito Tributário, não coincide com a relação entre acessório e principal no Direito Privado; ● Por essa razão, é perfeitamente possível conceber da existência de obrigações acessórias mesmo na ausência de uma obrigação principal. 11 AULA 10. Obrigação tributária (continuação) ● Sujeito ativo tributário é o credor da obrigação tributária. Normalmente, trata-se do próprio ente federativo que instituiu o tributo; ● Mas, pode ser outra pessoa jurídica de direito público (p. ex., os conselhos de classe, que são autarquias) ou mesmo um ente privado (p. ex., os delegatários do poder público, notários e oficiais registrais, que cobram emolumentos); ● Sujeito passivo da obrigação tributária é a pessoa obrigada ao cumprimento da obrigação principal ou acessória; ● Em relação às obrigações principais, o CTN (art. 121) distingue duas espécies de sujeito passivo, classificando-o de acordo com o grau de proximidade com o fato gerador: ● Contribuinte é o sujeito passivo que realiza o fato econômico descrito em lei como constituidor do critério material da hipótese de incidência; ● Responsável tributário, por sua vez, é pessoa que não pratica o fato gerador, mas tem relação com este e é eleita pelo legislador para adimplir com o pagamento do tributo ou da penalidade pecuniária, em situações nas quais a cobrança ao próprio contribuinte seria inconveniente, injusta ou impossível. 12 AULA 11. Responsabilidade tributária ● O CTN trata da responsabilidade dos sucessores a fim de regular hipóteses nas quais se verifica a existência de débitos tributários pendentes quando da transmissão de bens e direitos; ● É o contribuinte que pratica o fato gerador do tributo. Mas, num segundo momento, o sucessor pratica um outro fato, denominado fato da responsabilidade, contraindo em virtude deste a responsabilidade tributária pelo débito, ficando ou não exonerado da exigência o sujeito passivo original; ● É o caso, por exemplo, da aquisição de bens cuja propriedade dê ensejo à cobrança de impostos, taxas e/ou contribuições de melhoria; ● Ao incorporar o bem ao seu patrimônio, o adquirente deverá responder pelas dívidas “propter rem” que este porventura apresente nos sistemas da Fazenda Pública, ou que venham a ser exigidas, salvo se verificada alguma circunstância que o dispense de tal responsabilidade; ● É também o caso do espólio do contribuinte falecido, assim como dos herdeiros e legatários (os quais responderão, contudo, apenas dentro das forças do patrimônio transferido). 13 AULA 12. Responsabilidade tributária (continuação) ● O CTN também define casos em que terceiros passam a responder por tributos (ou mesmo penalidades) referentes a fatos geradores realizados por pessoas com as quais possuam certos vínculos jurídicos (art. 134); ● É o caso dos pais, tutores e curadores, administradores judiciais ou extrajudiciais e até mesmo tabeliães, escrivães e serventuários, quando incorrerem em culpa no exercício dos deveres dos quais são por lei encarregados; ● Quando vierem a praticar ato doloso, essas pessoas, e além delas os prepostos e administradores das pessoas jurídicas de direito privado, responderão pessoalmente, inexistindo ônus para o sujeito passivo original (art. 135); ● No tocante às infrações, o CTN dispensa o exame da intenção do agente (art. 136), dispondo sobre as hipóteses em que a responsabilidade se concentra naqueles que praticaram a infração, ficando as “pessoas por quem respondem” livres de ônus (art. 137). 14 AULA 13. Crédito tributário. Lançamento ● O crédito tributário, no nosso ordenamento, equivale ao valor devido do tributo; ● O crédito é, portanto, o objeto já concretizado da relação jurídico-tributária, a qual como visto possui cunho obrigacional (estamos falando da obrigação principal, é claro, pois é essa que possui natureza de obrigação de dar); ● Para se chegar ao valor do tributo devido, isto é, ao importe monetário do crédito tributário, pode ser necessária uma série de operações matemáticas, mais ou menos complexas, a cargo do sujeito passivo ou do fisco, conforme o caso; ● Em alguns casos, o tributo possui valor fixo ou tabelado, não sendo necessários quaisquer cálculos; ● Quando o fisco formaliza a exigência do tributo, por meio de um documento circunstanciado, diz- se que ocorreu o lançamento tributário (o qual constitui ato privativo da autoridade administrativa tributária, nos termos do art. 142 do CTN); ● No caso do lançamento por homologação, o CTN entende que houve ato de autoridade, porém na prática apenas o sujeito passivo arca com as providências de apuração e liquidação do crédito tributário — na maior parte dos casos. 15 AULA 14. Crédito tributário: suspensão da exigibilidade ● O crédito tributário é, em regra, exigível ao sujeito passivo, uma vez que tenha ocorrido a constituição formal pelo lançamento, ou a respectiva confissão; ● Porém, em alguns casos, interessa (ou é necessário) ao sujeito passivo obstar, temporariamente, a exigibilidade do crédito tributário, ainda que o tenha confessado; ● O credor tributário tem a prerrogativa de tornar o crédito tributário inexigível pro tempore, por ato de ofício, como nas hipóteses em que concede moratória geral, pela qual se posterga o cumprimento da obrigação na presença de circunstâncias excepcionais (ex.: emergência de saúde pública da COVID-19) ou estende ao sujeito passivo a faculdade de parcelamento independente de pedido formal (ex.: IPTU); ● Situações de suspensão de iniciativa do sujeito passivo são aquelas em que este solicita, ao sujeito ativo, a concessão de pagamento parcelado do tributo, transaciona acerca do cumprimento da obrigação tributária ou contesta o lançamento, seja pela via administrativa ou judicial, observados os termos do art. 151 do CTN. 16 AULA 15. Crédito tributário: extinção ● A obrigação, em geral, surge visando ao seu próprio adimplemento e consequente extinção. Esse preceito também se aplica ao Direito Tributário; ● O tributo, como relação obrigacional, tende a se resolver na apropriação, pelo erário, de parte da riqueza privada; a esse fenômeno o CTN denomina de extinção do crédito tributário; ● Contudo, a obrigação tributária também pode ser extinta por causas que não acarretem o enriquecimento do Estado à custa do particular, como ocorre nos casos de remissão, prescrição, decadência, etc.; ● Admite-se a transação como causa extintiva da obrigação tributária, além da dação em pagamento de bens imóveis e a compensação, desde que previstas em lei (não basta a previsão genérica dessas modalidades no CTN); ● O pagamento do tributo pode ser consignado em juízo, quando presente causa de pedir idônea. 17 Aula 16. Crédito tributário: extinção (continuação) e exclusão ● O CTN estabelece um prazo, de natureza decadencial, para que a administração tributária exerça seu poder- dever de formalizar a exigência do tributo, quantificando-o e notificando o devedor ou devedores; ● O tributo deve ser lançado dentro do prazo decadencial; ● Também estipula o prazo prescricional para a pretensão de cobrança dos créditos já constituídos, o qual está sujeito à suspensão de sua fluência, bem como à interrupção; ● O tributo ( já lançado) deve ser cobrado dentro do prazo prescricional; ● O CTN diz que fica “excluído” o crédito tributário nas hipóteses de isenção e anistia (art. 175), querendo dizer que embora fosse possível a exigência do tributo (isenção) ou da penalidade pecuniária (anistia), o legislador optou por não realizá-la; ● Embora o resultadoseja similar, a conceituação jurídica dessas figuras exige aprofundamento teórico para a sua diferenciação, já que a isenção opera prospectivamente (por ser instituída previamente ao fato gerador), enquanto a anistia opera retrospectivamente (sendo estabelecida após o cometimento da infração). 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