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Endocrinologia - Diabetes Mellitus Tipo 2 pt1

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A palavra Diabetes, do grego, significa sifão. Mellitus, 
do latim, significa doce e se refere ao acúmulo de 
glicose na urina. Insipidus é o termo latino para “sem 
sabor”, se referindo à falta do excesso de glicose na 
urina, encontrado na diabetes mellitus. 
Diabetes Mellitus 
 
O DM consiste em um distúrbio metabólico 
caracterizado por hiperglicemia persistente, 
decorrente de deficiência na produção de insulina 
ou sua ação, ou em ambos os mecanismos. A 
hiperglicemia persistente está associada a 
complicações crônicas micro e macrovasculares, 
aumento de morbidade, redução da qualidade de vida e 
elevação da taxa de mortalidade. 
• Diabetes mellitus tipo 1 (DM1) 
É uma doença autoimune, poligênica, decorrente de 
destruição das células β pancreáticas, ocasionando 
deficiência completa na produção de insulina. Embora a 
prevalência de DM1 esteja aumentando, corresponde a 
apenas 5 a 10% de todos os casos de DM. É mais 
frequentemente diagnosticado em crianças, 
adolescentes e, em alguns casos, em adultos jovens, 
afetando igualmente homens e mulheres. Subdivide-se 
em DM tipo 1A e DM tipo 1B, a depender da presença 
ou da ausência laboratorial de autoanticorpos 
circulantes, respectivamente. 
• Diabetes mellitus tipo 2 (DM2) 
Corresponde a 90 a 95% de todos os casos de DM. 
Geralmente, o DM2 acomete indivíduos a partir da 
quarta década de vida, embora se descreva, em alguns 
países, aumento na sua incidência em crianças e 
jovens. Trata-se de doença poligênica, com forte 
herança familiar, ainda não completamente esclarecida, 
cuja ocorrência tem contribuição significativa de fatores 
ambientais. Dentre eles, hábitos dietéticos e inatividade 
física, que contribuem para a obesidade, destacam-se 
como os principais fatores de risco. O desenvolvimento 
e a perpetuação da hiperglicemia ocorrem 
concomitantemente com hiperglucagonemia, 
resistência dos tecidos periféricos à ação da insulina, 
aumento da produção hepática de glicose, disfunção 
incretínica, aumento de lipólise e consequente aumento 
de ácidos graxos livres circulantes, aumento da 
reabsorção renal de glicose e graus variados de 
deficiência na síntese e na secreção de insulina pela 
célula β pancreática. 
• Diabetes Mellitus Gestacional 
A gestação consiste em condição diabetogênica, uma 
vez que a placenta produz hormônios hiperglicemiantes 
e enzimas placentárias que degradam a insulina, com 
consequente aumento compensatório na produção de 
insulina e na resistência à insulina, podendo evoluir com 
disfunção das células β. O DMG trata-se de uma 
intolerância a carboidratos de gravidade variável, que se 
inicia durante a gestação atual, sem ter previamente 
preenchido os critérios diagnósticos de DM. O DMG traz 
riscos tanto para a mãe quanto para o feto e o neonato, 
sendo geralmente diagnosticado no segundo ou terceiro 
trimestres da gestação. Pode ser transitório ou persistir 
após o parto, caracterizando-se como importante fator 
de risco independente para desenvolvimento futuro de 
DM2. 
• Outras formas de DM 
Pertencem a essa categoria todas as outras formas 
menos comuns de DM, cuja apresentação clínica é 
bastante variada e depende da alteração de base que 
provocou o distúrbio do metabolismo glicídico. Estão 
aqui incluídos os defeitos genéticos que resultam na 
disfunção das células β, os defeitos genéticos na ação 
da insulina, as doenças do pâncreas exócrino e outras 
condições. As formas de DM associadas a defeitos 
genéticos na função das células β incluem maturity-
onset diabetes of the young (MODY), diabetes 
neonatal, diabetes mitocondrial e outras. 
MODY é uma forma monogênica de DM e caracteriza-
se por herança autossômica dominante, idade precoce 
de aparecimento (em geral, antes dos 25 anos) e graus 
variáveis de disfunção da célula β. Estima-se que 
represente 1 a 2% de todos os casos de DM; na maioria 
das vezes, é diagnosticado inicialmente como DM1 ou 
DM2. É clínica e geneticamente heterogêneo, e pelo 
menos 13 subtipos de MODY já foram identificados, 
decorrentes de mutações em diferentes genes. 
O diabetes neonatal é uma forma monogênica da 
doença, diagnosticado, normalmente, nos primeiros 6 
meses de vida. Cerca de 50% dos casos são 
transitórios, ocorrendo a remissão em semanas ou 
meses, podendo o diabetes recidivar por volta da 
puberdade, e os demais são permanentes. 
Outras causas de DM incluem defeitos genéticos na 
ação da insulina, decorrentes de mutações no gene do 
receptor de insulina, e doenças do pâncreas exócrino, 
como pancreatite, trauma, pancreatectomia e 
carcinoma pancreático. Além disso, endocrinopatias 
com aumento de hormônios contrarreguladores da ação 
da insulina, entre os quais hormônio de crescimento, 
cortisol e glucagon, podem provocar DM. 
Diferentes medicamentos são associados a alterações 
no metabolismo da glicose por meio de diminuição da 
secreção ou da ação da insulina. Os exemplos mais 
endocrinologia: 
diabetes mellitus tipo 2
Igor Mecenas 
comuns são os glicocorticoides, o ácido nicotínico e os 
antipsicóticos atípicos. 
Diabetes Insipidus 
Caracterizado por polidipsia e poliúria hipo-osmolar, o 
DI resulta de um espectro de doenças congênitas ou 
adquiridas, uso de medicações ou alterações 
fisiológicas. As mudanças no controle osmótico podem 
acometer os núcleos hipotalâmicos, o sistema neuro-
hipofisário (incluindo os neurônios vasopressinérgicos), 
os osmorreceptores centrais e os receptores de 
vasopressina nos ductos coletores renais. Existem 
quatro síndromes de DI, resultantes de diferentes 
mecanismos fisiopatológicos: 
• Diminuição da síntese e secreção de 
vasopressina (DI central ou hipotalâmico) 
• Falta de resposta apropriada dos rins à 
vasopressina (DI nefrogênico) 
• Ingestão excessiva de água (polidipsia primária) 
• Exacerbação do metabolismo de vasopressina 
(DI da gravidez). 
 
Diabetes Mellitus Tipo 2 
Epidemiologia 
Morbidade 
A incidência traduz o risco médio da população em 
adquirir a doença, além de servir de parâmetro para a 
avaliação do impacto produzido por medidas de 
prevenção. A prevalência é um indicador da magnitude 
da carga atual que a doença representa para os 
serviços de saúde e para a sociedade, bem como um 
preditor da futura carga que as complicações crônicas 
do diabetes representarão. Os 10 países com maior 
número de indivíduos com diabetes no ano de 2017 e 
as projeções para o ano de 2045 são: 
 
Nos países desenvolvidos, o aumento da prevalência 
ocorrerá principalmente pela contribuição de indivíduos 
com diabetes nas faixas etárias mais avançadas, em 
decorrência do aumento da expectativa de vida e do 
crescimento populacional, já nos países em 
desenvolvimento, indivíduos de todas as faixas etárias 
serão atingidos, com destaque para a faixa etária de 20 
a 44 anos, em que a prevalência deverá duplicar. 
Estudo recente realizado em seis capitais brasileiras, 
com servidores de universidades públicas na faixa 
etária de 35 a 74 anos, incluindo TOTG, encontrou 
prevalência de 20%, em que aproximadamente metade 
dos casos não tinha diagnóstico prévio. 
Em 2013, a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), 
realizada pelo IBGE e pelo Ministério da Saúde, estimou 
que 6,2% da população brasileira com 18 anos de idade 
ou mais referiu diagnóstico médico de diabetes, sendo 
de 7,0% nas mulheres e de 5,4% nos homens, com 
maior taxa de diabetes (9,6%) nos indivíduos sem 
instrução ou com ensino fundamental incompleto. Não 
foram observadas diferenças com significância 
estatística na prevalência do diabetes quanto à cor da 
pele. Os indígenas norte-americanos apresentam 2,7 
vezes mais diabetes do que a população não indígena; 
entre os índios Pima, do Arizona, praticamente metade 
da população adulta apresenta diabetes. No Brasil, já 
tem sido descrita uma elevada prevalência de diabetes 
(28,2%) entre os índios Xavante do estado de Mato 
Grosso, o que evidencia ser a população nativa das 
Américas um grupo de maior risco para diabetes. 
Tradicionalmente, o diabetes tipo 2 tem sido descrito 
como próprioda maturidade, com incidência após a 
terceira década. Nos últimos anos, entretanto, tem sido 
observada uma crescente incidência de diabetes tipo 2 
em adolescentes, geralmente associada a importante 
história familiar, excesso de peso e sinais de resistência 
insulínica. 
Mortalidade 
Diabetes e suas complicações constituem as principais 
causas de mortalidade precoce na maioria dos países; 
aproximadamente 4 milhões de pessoas com idade 
entre 20 e 79 anos morreram por diabetes em 2015, o 
equivalente a um óbito a cada 8 segundos. Doença 
cardiovascular é a principal causa de óbito entre as 
pessoas com diabetes, sendo responsável por 
aproximadamente metade dos óbitos por diabetes na 
maioria dos países. O diabetes é responsável por 10,7% 
da mortalidade mundial por todas as causas, e isso 
é maior do que a soma dos óbitos causados por 
doenças infecciosas (1,1 milhão por HIV/AIDS, 1,8 
milhão por tuberculose e 0,4 milhão por malária). 
Nas declarações de óbito de indivíduos com diabetes, 
frequentemente o diabetes é omitido pelo fato de serem 
suas complicações, principalmente as 
cardiovasculares, as que figuram como a causa de 
óbito. Na maioria dos países desenvolvidos, quando se 
analisa apenas a causa básica do óbito, verifica-se que 
o diabetes está entre a quarta e oitava principais 
causas. Estudos focalizando esse aspecto, realizados 
nos municípios de São Paulo (SP), Botucatu (SP), São 
Manoel (SP), Salvador (BA) e Recife (PE), mostram 
que, pela análise da mortalidade por causas múltiplas, 
a mortalidade por diabetes aumenta em até 6,4 vezes. 
Nos países ou nas regiões em que existe carência de 
recursos médicos, os indivíduos com diabetes tipo 2 têm 
na doença cerebrovascular (como complicação da 
hipertensão) uma das principais causas de óbito. 
 
Homeostase da Glicose 
A homeostase da glicose reflete um equilíbrio entre a 
produção hepática de glicose e a captação e a utilização 
periférica da glicose. A insulina é o regulador mais 
importante desse equilíbrio metabólico, porém o influxo 
neural, os sinais metabólicos e outros hormônios (p. ex., 
glucagon) resultam no controle integrado do suprimento 
e da utilização da glicose. 
 
Os órgãos que regulam a glicose e os lipídeos se 
comunicam por mecanismos neurais e humorais com a 
gordura e o músculo, produzindo adipocinas, miocinas 
e metabólitos que influenciam a função hepática. 
No estado de jejum, os baixos níveis de insulina elevam 
a produção de glicose por promoverem a 
gliconeogênese e a glicogenólise hepáticas e por 
reduzirem a captação de glicose nos tecidos sensíveis 
à insulina (músculo esquelético e gordura), 
promovendo, dessa maneira, a mobilização dos 
precursores armazenados, como aminoácidos e ácidos 
graxos livres (lipólise). O glucagon, que é secretado 
pelas células α do pâncreas quando os níveis de 
glicemia ou de insulina estão baixos, estimula a 
glicogenólise e a gliconeogênese pelo fígado e pela 
medula renal. 
No período pós-prandial, a carga de glicose induz 
elevação na insulina e queda no glucagon, dando 
origem a uma reversão desses processos. A insulina, 
que é um hormônio anabólico, promove o 
armazenamento dos carboidratos e a síntese de 
gorduras e proteínas. A maior parte da glicose pós-
prandial é utilizada pelo músculo esquelético, sendo um 
efeito da captação de glicose estimulada pela insulina. 
Outros tecidos, mais notavelmente o cérebro, utilizam a 
glicose de uma maneira independente da insulina. 
Fatores secretados pelos miócitos esqueléticos (irisina), 
pelos adipócitos (leptina, resistina, adiponectina, etc.) e 
pelo osso também influenciam a homeostase da 
glicose. 
Biossíntese da Insulina 
A insulina é produzida nas células β das ilhotas 
pancreáticas. É sintetizada inicialmente como um 
polipeptídeo precursor de cadeia simples de 86 
aminoácidos, a pré-proinsulina. O processamento 
proteolítico subsequente remove o peptídeo de sinal 
aminoterminal, dando origem à proinsulina. A clivagem 
de um fragmento interno com 31 resíduos e sua 
separação da proinsulina geram o peptídeo C e as 
cadeias A (21 aminoácidos) e B (30 aminoácidos) da 
insulina, que estão conectadas por ligações dissulfeto. 
A molécula madura de insulina e o peptídeo C são 
armazenados juntos e cossecretados pelos grânulos 
secretores das células β. Como o peptídeo C é 
depurado mais lentamente do que a insulina, constitui 
um marcador útil da secreção de insulina e possibilita a 
discriminação das fontes endógenas e exógenas de 
insulina na avaliação da hipoglicemia. 
Secreção de Insulina 
A glicose é o principal regulador da secreção de insulina 
pelas células β pancreáticas; porém, os aminoácidos, 
as cetonas, vários nutrientes, os peptídeos 
gastrintestinais e os neurotransmissores também 
influenciam a secreção de insulina. Os níveis de glicose 
> 3,9 mmol/L (70 mg/dL) estimulam a síntese de 
insulina, principalmente por acelerarem a tradução e o 
processamento das proteínas. A estimulação da 
secreção de insulina pela glicose começa com seu 
transporte para dentro da célula β por um transportador 
facilitador de glicose. A fosforilação da glicose pela 
glicoquinase é a etapa limitante do ritmo que controla a 
secreção de insulina regulada pela glicose. 
O metabolismo adicional da glicose-6-fosfato pela 
glicólise gera ATP, que inibe a atividade de um canal de 
K+ sensível ao ATP. Esse canal consiste em duas 
proteínas separadas: uma é o sítio de ligação para 
certos hipoglicemiantes orais (p. ex., sulfonilureias, 
meglitinidas); a outra é uma proteína que retifica 
internamente o canal de K+ (Kir6.2). A inibição desse 
canal de K+ induz a despolarização das membranas 
das células β, o que abre os canais de cálcio que 
dependem da voltagem (dando origem a um influxo de 
cálcio) e estimula a secreção de insulina. 
As incretinas são liberadas pelas células 
neuroendócrinas do trato gastrintestinal após a ingestão 
de alimentos e amplificam a secreção de insulina 
estimulada por glicose, bem como suprimem a secreção 
de glucagon. O peptídeo 1 semelhante ao glucagon 
(GLP-1), que é a incretina mais potente, é liberado pelas 
células L no intestino delgado e estimula a secreção de 
insulina somente quando a glicose sanguínea está 
acima do nível de jejum. 
 
Ação da Insulina 
Depois que a insulina é secretada e lançada no sistema 
porta venoso, cerca de 50% são removidos e 
degradados pelo fígado. A insulina que não é extraída 
penetra na circulação sistêmica, onde se liga aos 
receptores nos locais-alvo. A ligação da insulina a seu 
receptor estimula a atividade intrínseca da tirosina-
quinase, levando à autofosforilação do receptor e ao 
recrutamento de moléculas sinalizadoras intracelulares, 
como os substratos do receptor de insulina (IRSs, de 
insulin receptor substrates). Os IRSs e as outras 
proteínas adaptadoras iniciam uma complexa cascata 
de reações de fosforilação e de desfosforilação, 
resultando nos efeitos metabólicos e mitogênicos 
generalizados da insulina. Como exemplo, a ativação da 
via fosfatidilinositol-3’-quinase (PI-3-quinase) estimula a 
translocação de um transportador facilitador da glicose 
(p. ex., GLUT4) para a superfície celular, um evento que 
é de primordial importância para a captação da glicose 
pelo músculo esquelético e pela gordura. A ativação de 
outras vias sinalizadoras do receptor de insulina induz a 
síntese de glicogênio, a síntese de proteínas, a 
lipogênese e a regulação de vários genes nas células 
que respondem à insulina. 
 
Fisiopatologia 
A maior parte de nossa compreensão atual da 
fisiopatologia e da genética baseia-se em estudos de 
indivíduos de origem europeia. Fica cada vez mais 
evidente que o DM em outros grupos étnicos (asiáticos, 
africanos e latino-americanos) possui uma fisiopatologia 
diferente, mas que ainda não foi definida. Em geral, os 
latinos apresentam maior resistência à insulina, 
enquanto os indivíduos no Leste e no Sul da Ásia têm 
mais disfunção das células β, embora ambos os defeitos 
sejam observados em ambas as populações.Os 
indivíduos do Leste e do Sul da Ásia parecem 
desenvolver DM tipo 2 em uma idade mais jovem e com 
IMC mais baixo. Em alguns grupos, observa-se a 
ocorrência de DM em indivíduos propensos à cetose 
(com frequência obesos) ou resistentes à cetose (com 
frequência magros). 
O DM tipo 2 caracteriza-se por menor secreção de 
insulina, resistência à insulina, produção hepática 
excessiva de glicose e metabolismo anormal das 
gorduras. A obesidade, particularmente visceral ou 
central (conforme evidenciada pela relação quadril-
cintura), é muito comum no DM tipo 2 (80% ou mais dos 
pacientes são obesos). 
• Nos estágios iniciais do distúrbio, a tolerância à 
glicose continua sendo quase normal (TGN), 
não obstante a resistência à insulina, pois as 
células β pancreáticas realizam uma 
compensação aumentando a produção de 
insulina. 
 
• Com a progressão da resistência à insulina e da 
hiperinsulinemia compensatória, as ilhotas 
pancreáticas de certos indivíduos tornam-se 
incapazes de preservar o estado 
hiperinsulinêmico. 
• Instala-se a seguir uma tolerância à glicose 
diminuída (TGD), caracterizada por elevações 
da glicose pós-prandial. 
• Um declínio adicional na secreção de insulina e 
um aumento na produção hepática de glicose 
resultam em diabetes manifesto com 
hiperglicemia de jejum. 
• Por fim, instala-se falência das células β. 
Embora tanto a resistência à insulina quanto a secreção 
diminuída de insulina contribuam para a patogênese do 
DM tipo 2, a contribuição relativa de cada uma varia de 
um indivíduo para outro. 
Alteração na secreção de insulina 
No início, o defeito secretor da insulina é leve e envolve 
seletivamente a secreção de insulina estimulada pela 
glicose, incluindo uma acentuada redução da primeira 
fase secretora. A resposta a outros secretagogos 
diferentes da glicose, como a arginina, é preservada, 
porém a função β global está reduzida em até 50% no 
início do DM tipo 2. As anormalidades no 
processamento da proinsulina refletem-se por um 
aumento da secreção de proinsulina. Por fim, o defeito 
secretor da insulina é progressivo. 
As razões para o declínio da capacidade secretora de 
insulina no DM tipo 2 são desconhecidas. A conjectura 
é que um segundo defeito genético – que se sobrepõe 
à resistência à insulina – resulta em falência das células 
β. A massa de células β está diminuída em cerca de 
50% nos indivíduos portadores de diabetes tipo 2 de 
longa duração. 
O polipeptídeo amiloide das ilhotas ou amilina é 
cossecretado pela célula β e forma o depósito fibrilar 
amiloide encontrado nas ilhotas de indivíduos com DM 
tipo 2 de longa duração. Ainda não foi esclarecido se os 
depósitos amiloides das ilhotas constituem um evento 
primário ou secundário. O ambiente metabólito do 
diabetes também pode exercer um impacto negativo 
sobre a função das ilhotas. Por exemplo, 
paradoxalmente, a hiperglicemia crônica prejudica a 
função das ilhotas (“toxicidade da glicose”) e induz um 
agravamento da hiperglicemia. Uma melhora do 
controle glicêmico com frequência está associada a 
uma função aprimorada das ilhotas. Além disso, uma 
elevação dos níveis de ácidos graxos livres 
(“lipotoxicidade”) e da gordura dietética também pode 
prejudicar a função das ilhotas. 
A ação reduzida do GLP-1 pode contribuir para a 
secreção diminuída de insulina. 
Aumento na produção hepática de 
glicose e lipídeos 
No DM tipo 2, a resistência à insulina no fígado reflete a 
incapacidade da hiperinsulinemia de suprimir a 
gliconeogênese, o que resulta em hiperglicemia de 
jejum e menor armazenamento de glicogênio pelo 
fígado no estado pós-prandial. A maior produção 
hepática de glicose ocorre no início da evolução do 
diabetes, porém provavelmente após o início das 
anormalidades secretoras da insulina e da resistência à 
insulina no músculo esquelético. Como resultado da 
resistência à insulina no tecido adiposo, a lipólise e o 
fluxo de ácidos graxos livres a partir dos adipócitos 
aumentam, levando a um aumento da síntese de 
lipídeos (VLDL e triglicerídeos) nos hepatócitos. Esse 
armazenamento lipídico ou esteatose hepática pode 
levar à esteatose hepática não alcoólica e a provas de 
função hepática anormais. Isso também é responsável 
pela dislipidemia observada no DM tipo 2 (triglicerídeos 
elevados, HDL reduzida e maior número de pequenas 
partículas densas de LDL). 
Metabolismo anormal do músculo e da 
gordura 
A resistência à insulina, a menor capacidade da insulina 
em agir efetivamente sobre os tecidos-alvo (em especial 
músculo, fígado e gordura), constitui uma característica 
proeminente do DM tipo 2 e resulta de uma combinação 
de suscetibilidade genética e obesidade. No entanto, a 
resistência à insulina é relativa, pois os níveis 
supranormais de insulina circulante acabarão 
normalizando a glicose plasmática. 
A resistência à insulina prejudica a utilização da glicose 
pelos tecidos sensíveis à insulina e aumenta a produção 
hepática e glicose; ambos os efeitos contribuem para a 
hiperglicemia. O maior débito hepático de glicose é 
responsável predominantemente pelos maiores níveis 
de GPJ, enquanto a menor utilização periférica da 
glicose resulta em hiperglicemia pós-prandial. 
No músculo esquelético, observa-se maior deterioração 
da utilização não oxidativa da glicose (formação de 
glicogênio) do que no metabolismo oxidativo da glicose 
pela glicólise. O metabolismo da glicose nos tecidos 
independentes da insulina não é alterado no DM tipo 2. 
O mecanismo molecular preciso que resulta em 
resistência à insulina no DM tipo 2 ainda não foi 
elucidado. Os níveis do receptor da insulina e a 
atividade da tirosinaquinase no músculo esquelético 
são reduzidos, mas essas alterações são mais 
provavelmente secundárias à hiperinsulinemia e não 
constituem defeito primário. Por conseguinte, os 
defeitos “pós-receptor” na fosforilação/desfosforilação 
regulada pela insulina parecem desempenhar um papel 
predominante na resistência à insulina. 
Outras anormalidades incluem o acúmulo de lipídeos 
dentro dos miócitos esqueléticos, o que pode prejudicar 
a fosforilação oxidativa das mitocôndrias e reduzir a 
produção de ATP mitocondrial estimulada pela insulina. 
A oxidação prejudicada dos ácidos graxos e o acúmulo 
de lipídeos dentro dos miócitos esqueléticos também 
podem gerar espécies reativas do oxigênio, como os 
peróxidos lipídicos. Convém assinalar que nem todas as 
vias de transdução dos sinais para insulina são 
resistentes aos efeitos da insulina (p. ex., aqueles que 
controlam o crescimento e a diferenciação celulares 
utilizando a via da proteína-quinase ativada por 
mitógenos). Consequentemente, a hiperinsulinemia 
pode exacerbar a ação da insulina por meio dessas 
vias, acelerando potencialmente as condições 
relacionadas com o diabetes, como aterosclerose. 
Acredita-se que a obesidade que acompanha o DM tipo 
2, em particular de localização central ou visceral, seja 
parte do processo patogênico. Além desses depósitos 
de gordura branca, sabe-se atualmente que os seres 
humanos possuem gordura marrom, a qual apresenta 
uma capacidade termogênica muito maior. A maior 
massa de adipócitos leva a níveis elevados de ácidos 
graxos livres circulantes e de outros produtos dos 
adipócitos. Por exemplo, os adipócitos secretam 
inúmeros produtos biológicos (ácidos graxos livres não 
esterificados, proteína 4 fixadora do retinol, leptina, 
TNF-α, resistina e adiponectina). Além de regularem o 
peso corporal, o apetite e o dispêndio de energia, as 
adipocinas também modulam a sensibilidade à insulina. 
A maior produção de ácidos graxos livres e de algumas 
adipocinas pode acarretar resistência à insulina no 
músculo esquelético e no fígado. Por exemplo, os 
ácidos graxos livres prejudicam a utilização de glicose 
no músculo esquelético, promovem a produção de 
glicose pelo fígado e afetam a função da célula β. Em 
contrapartida, a produção pelos adipócitos de 
adiponectina, um peptídeo sensibilizador da insulina, é 
reduzida na obesidade e isso pode contribuirpara a 
resistência hepática à insulina. Os produtos dos 
adipócitos e as adipocinas produzem também um 
estado inflamatório e podem explicar por que certos 
marcadores da inflamação, como a IL-6 e a proteína C-
reativa, com frequência estão elevados no DM tipo 2. 
Além disso, foram encontradas células inflamatórias 
infiltrando o tecido adiposo. A inibição das vias 
sinalizadoras inflamatórias, como a via do fator nuclear 
κB (NF-κB), parece reduzir a resistência à insulina e 
melhorar a hiperglicemia em modelos animais, de modo 
que está sendo testada em seres humanos. 
Considerações Genéticas 
O DM tipo 2 tem um poderoso componente genético. A 
concordância do DM tipo 2 em gêmeos idênticos fica 
entre 70 e 90%. Os indivíduos com um progenitor com 
DM tipo 2 correm maior risco de diabetes; se ambos os 
pais sofrem de DM tipo 2, o risco aproxima-se de 40%. 
A resistência à insulina está presente em muitos 
parentes de primeiro grau não diabéticos de indivíduos 
com DM tipo 2. A doença é poligênica e multifatorial, 
pois além da suscetibilidade genética, fatores 
ambientais (como obesidade, nutrição e atividade física) 
modulam o fenótipo. 
O ambiente in útero também contribui, e o peso ao 
nascer aumentado ou reduzido eleva o risco de DM tipo 
2 na vida adulta. 
 
Quadro Clínico 
Os sintomas clássicos do DM (poliúria, polidipsia e 
polifagia, associadas à perda ponderal) são bem mais 
característicos do DM1, no qual são quase sempre 
encontrados. No entanto, a obesidade não descarta 
esse diagnóstico. 
No DM2, cerca de 50% dos pacientes desconhecem ter 
a doença por serem assintomáticos ou 
oligossintomáticos, apresentando mais comumente 
sintomas inespecíficos, como tonturas, dificuldade 
visual, astenia e/ou cãibras. Vulvovaginite de repetição 
e disfunção erétil podem ser, também, os sintomas 
iniciais. Cerca de 80% dos pacientes têm excesso de 
peso. 
Complicações 
Metabólicas 
• Hipertensão Arterial Sistêmica 
• Doença Coronariana 
DM2 traz risco 2-4 vezes maior que os não diabéticos. 
 
• Alteração de Perfil Lipídico 
 
• Cetoacidose diabética 
A descompensação glicêmica costuma ser mais 
prolongada e mais grave em pacientes com DM1 
recém-diagnosticados e idosos com diabetes associado 
a processos infecciosos ou com limitações no 
autocontrole físico ou psíquico. Os estados infecciosos 
são a etiologia mais comum da CAD. Dentre as 
infecções, as mais frequentes são as do trato 
respiratório superior, as pneumonias e as infecções de 
vias urinárias. 
Doença Renal 
Valores de albuminúria para diagnóstico de Doença 
Renal do diabetes: 
 
 
 
Neurológicas e psiquiátricas 
• Pé diabético 
Favorecem ao aparecimento: Neuropatia + Limitação de 
mobilidade articular + deformidades com aumento da 
pressão plantar + traumas. Testar com monofilamento 
de 10g, diapasão 128Hz e bio/neuroestesiômetro. 
 
Tratar a infecção com antibióticos se presente por 1 a 2 
semanas. Pode necessitar de biópsia óssea. 
• Neuropatias 
Neuropatias difusas (polineuropatia diabética; 
neuropatia autonômica cardiovascular, gastrintestinal e 
urogenital; disfunção sudomotora), Mononeuropatia e 
radiculopatias. 
• Depressão e Demências 
Oftalmológicas 
• Catarata 
• Retinopatia 
São recomendados exames oftalmológicos periódicos. 
A otimização dos níveis glicêmicos e da hipertensão 
reduzem o risco de progressão. O tratamento pode ser 
feito com fotocoagulação a laser, farmacomodulação 
com antiangiogênico (padrão ouro), implante intravítreo 
de polímero farmacológico de liberação controlada 
(dexametasona) e cirurgia de vitrectomia via pars plana. 
Ortopédicas 
• Quiroartropatia diabética: Deformidade em fle-
xão dos dedos das mãos, com espessamento da 
pele, tecido conjuntivo periarticular e da fáscia 
palmar. Sinal da Prece: 
 
• Contratura de Dupuytren: Espessamento len-
tamente progressivo da fáscia palmar, com ade-
rência à pele e aos tendões flexores, sobretudo 
do 4º e 5º quirodáctilos. Em diabéticos afeta prin-
cipalmente 3º e 4º. 
• Tenossinovite de flexor palmar (dedo em ga-
tilho): A extensão ativa do dedo ocorre de ma-
neira abrupta. Mais comum no 4º. 
• Síndrome do túnel do carpo 
• Síndrome da dor complexa regional tipo 1 
• Capsulite adesiva do ombro 
• Periatrite calcária do ombro 
• Espôndilo-hiperostose difusa idiopática 
• Piomiosite e artrite séptica 
• Infarto muscular diabético: 80% na coxa 
• Sarcopenia 
Infecções 
• Pneumonia pneumocócica e infecção por in-
fluenza: Apresentam tipos mais graves de pneu-
monia. Devem ser vacinados para as duas. 
• Infecções urinárias e bacteriúria assintomá-
tica 
• Mucormiose: infecção fúngica grave, aguda-
mente fatal, com rápida disseminação e propa-
gação dentro de vasos sanguíneos, resultando 
em infarto isquêmico do tecido. 
• Colecistite gangrenosa: formação de gás den-
tro da vesícula. 
• Infecções de pele e partes moles: Candidíase, 
onicomicose, etc. 
• Hepatite viral 
• Tuberculose 
• Por H. pylori 
• Infecções perioperatórias 
 
 
Referências: 
Diretrizes Brasileiras de Diabetes Mellitus 2019-2020 
VILAR – Endocrinologia Clínica 
HARRISON – Medicina Interna

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