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Endocrinologia - Hipoparatireoidismo

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O hipoparatireoidismo (HPT) pode ser congênito ou, 
mais frequentemente, adquirido. Trata-se de um 
distúrbio endócrino um tanto raro em todas as suas 
formas, sendo decorrente da secreção e/ou ação 
deficientes do paratormônio (PTH). Como 
consequência, ocorre redução das concentrações de 
cálcio (Ca++) no fluido extracelular, a qual é 
responsável pelo surgimento das manifestações 
clínicas da doença. Laboratorialmente, o HPT 
caracteriza-se por baixos níveis de Ca++ sérico e 
elevação da concentração sérica de fósforo, ao passo 
que o PTH está ausente ou inadequadamente baixo na 
circulação. No entanto, ele pode estar elevado nos raros 
casos de resistência dos órgãos-alvo ao PTH. 
O PTH é um peptídeo com 84 aminoácidos (peso 
molecular 9.300), e seu gene está localizado no 
cromossomo 11. Ele provém de uma molécula 
precursora denominada pré-pró-PTH, cuja clivagem 
origina PTH e pró-PTH (não secretado para a 
circulação). As ações do PTH no osso e no rim são 
mediadas, em grande parte, pelo AMP cíclico (AMPc). 
Este último é produzido em resposta à ligação do PTH 
a seu receptor tipo 1 e à interação do complexo 
hormônio-receptor com uma proteína de ligação 
guanosina nucleotídio-estimuladora (Gs), com 
subsequente ativação da proteína G e da adenilciclase. 
Esse processo é dependente de magnésio e, desse 
modo, inibido na presença de hipomagnesemia. 
As ações conjuntas do PTH em seus tecidos-alvo (osso 
e rim) são fatores determinantes para a manutenção 
dos níveis de cálcio iônico dentro dos valores normais. 
No osso, regula a liberação de cálcio devido à sua ação 
no osteoclasto, ao passo que, nos rins, o PTH aumenta 
a reabsorção tubular de cálcio, diminui a reabsorção 
tubular de fosfato e estimula a conversão da 25(OH)D 
em 1,25(OH)2D3 (forma ativa da vitamina D). 
No hipoparatireoidismo, os efeitos do PTH no osso e 
nos rins estão ausentes ou bastante diminuídos, 
apresentando como resultado final hipocalcemia e 
hiperfosfatemia. 
 
Epidemiologia 
Estudo epidemiológico realizado na Dinamarca mostrou 
uma prevalência de HPT de 24/100.000 habitantes, com 
uma considerável predominância de causas cirúrgicas, 
dados semelhantes aos encontrados nos EUA. O 
estudo também mostrou um aumento do risco de 
insuficiência renal, doenças cardiovasculares, catarata, 
infecções e complicações neuropsiquiátricas entre os 
pacientes com HPT. Não houve, no entanto, aumento 
da mortalidade, de forma que o HPT não parece estar 
relacionado à diminuição da sobrevida. 
 
Etiologia 
O hipoparatireoidismo ocorre como resultado de duas 
situações: secreção deficiente de PTH ou, mais 
raramente, resistência à ação do PTH: 
Produção insuficiente de PTH 
• Distúrbios genéticos 
o Mutações no gene do pré-pró-PTH 
o Mutações ativadoras do gene do receptor 
sensor do cálcio 
o Síndrome de DiGeorge 
o Síndrome HDR 
o Síndrome de Kenny-Caffey 
o Síndrome de Sanjad-Sakati 
o Síndrome de Kearns-Sayre 
o Hipoparatireoidismo familiar ligado ao X 
o Hipoparatireoidismo familiar autossômico 
recessivo ou dominante 
o Hipoparatireoidismo por distúrbios 
mitocondriais 
• Iatrogênico 
o Cirurgia (tireoidectomia e paratireoidectomia) 
o Radioterapia 
o Terapia com 131I 
• Idiopático 
• Autoimune 
o Isolado 
o Síndrome poliglandular autoimune 
• Doenças infiltrativas/destrutivas 
o Hemocromatose 
o Talassemia 
o Doenças granulomatosas 
o Doença de Wilson 
o Amiloidose, sarcoidose 
o Metástases 
• Distúrbio na secreção do PTH 
o Hipomagnesemia e hipermagnesemia 
• Neonatal 
o Secundário a hiperparatireoidismo materno 
o Secundário a hipercalcemia hipocalciúrica 
familiar (HHF) materna 
Resistência à ação do PTH 
• Pseudo-hipoparatireoidismo 
• Hipomagnesemia 
• Condrodisplasia letal de Blomstrand 
 
Secreção deficiente de PTH 
A secreção deficiente de PTH pode resultar de causas 
congênitas ou adquiridas (que ocorrem com maior 
frequência). A reserva de secreção paratireóidea é 
ampla, de forma que danos consideráveis devem 
endocrinologia: 
hipoparatireoidismo
Igor Mecenas 
ocorrer antes que o hipoparatireoidismo se desenvolva. 
Estima-se que uma única glândula normal já seja 
suficiente para manter normais os níveis de PTH e a 
homeostase do cálcio sérico. 
Causas adquiridas 
A etiologia mais comum de HPT em adultos são 
cirurgias na região cervical, em especial tireoidectomia, 
paratireoidectomia e ressecção radical do pescoço 
(75% dos casos). 
Causas cirúrgicas 
O HPT pós-operatório em geral ocorre devido à 
remoção acidental ou inevitável das paratireoides e/ou 
em função de dano ao suprimento sanguíneo dessas 
glândulas. A prevalência de HPT vai depender, 
sobretudo, da experiência do cirurgião e da extensão da 
cirurgia. No tocante ao hiperparatireoidismo pós-
cirúrgico, as incidências mundialmente estimadas das 
formas transitórias (< 6 meses de duração) e 
permanentes (> 6 meses) são 25,4 a 83% e 0,12 a 
4,6%, respectivamente. A hipocalcemia, nos pacientes 
que desenvolvem o HPT, costuma ocorrer dentro das 
primeiras 24 horas após a tireoidectomia. No entanto, 
em cerca de 60 a 70% dos casos de HPT pós-cirúrgico, 
os níveis séricos de cálcio costumam voltar ao normal 
após 4 a 6 semanas de evolução. Após este período, o 
risco de HPT crônico aumenta, ocorrendo em 15 a 25% 
dos casos. O número de glândulas paratireóideas 
mantidas in situ após a cirurgia correlaciona-se 
fortemente com o risco de o paciente desenvolver HPT 
crônico, sendo este risco de 16% quando uma ou duas 
glândulas são preservadas, mas de apenas 2,5% 
quando todas as quatro paratireoides são mantidas in 
situ. A dosagem intraoperatória do PTH às vezes pode 
ser útil na identificação dos pacientes mais propensos a 
desenvolver HPT após tireoidectomia. A patogênese do 
HPT transitório é multifatorial: edema, isquemia ou 
hemorragia dentro das paratireoides, síndrome da fome 
óssea (em pacientes com hiperparatireoidismo primário 
grave) e hipomagnesemia pós-operatória. 
Não cirúrgicas 
Infiltrativas/destrutivas. O HPT pode ser consequente 
ao acúmulo nas paratireoides de metais como ferro 
(hemocromatose e talassemia) e cobre (doença de 
Wilson), ou até mesmo ser decorrente de infiltrações 
granulomatosas ou neoplásicas. Depósito de alumínio 
em pacientes submetidos à diálise também pode levar 
à hipofunção paratireóidea. Em geral, o HPT é 
encontrado em pacientes com a rara tireoidite de Riedel. 
Já foram relatados casos em que o HPT precedeu o 
distúrbio tireoidiano. 
Não infiltrativas. É raro a hipofunção paratireoidiana 
surgir após a terapia com iodo radioativo. Também raro 
é o HPT transitório após infarto espontâneo de um 
adenoma paratireóideo. HPT sintomático foi também 
descrito em associação com a infecção pelo HIV. A 
hipomagnesemia pode prejudicar tanto a secreção 
como a ação do PTH e levar a um HPT funcional. A 
suplementação do magnésio corrige o defeito. Entre as 
etiologias de hipomagnesemia estão doenças crônicas 
(p. ex., alcoolismo, desnutrição, má absorção intestinal, 
diabetes melito etc.), fármacos (p. ex., diuréticos, 
cisplatina, antibióticos aminoglicosídeos, anfotericina B 
e ciclosporina), acidose metabólica e distúrbios renais 
(p. ex., pielonefrite crônica, nefropatia pós-obstrutiva, 
acidose tubular renal, perda renal primária de magnésio 
etc.). HPT funcional pode também resultar de 
hipermagnesemia, observada em mulheres submetidas 
à terapia tocolítica ou em pacientes com doença renal 
crônica em uso de suplementos de magnésio, 
antiácidos ou laxantes. Alcalose respiratória crônica 
pode levar a hiperfosfatemia e redução do cálcio iônico, 
associadas a prejuízo da reabsorção renal de cálcio e 
PTH normal. Tais achados sugerem alteração na 
secreção do PTH e resistência renal ao PTH. 
Autoimune. Destruição autoimune das paratireoides 
pode ser um fenômeno isolado ou vir associada a outras 
deficiências endócrinas. A associação mais comum 
inclui HPT, insuficiência adrenal e candidíase 
mucocutânea, o que caracteriza a síndrome 
poliglandular autoimune (SPA) tipo I ou síndrome 
APCED. Nessa síndrome,candidíase mucocutânea 
crônica – em mucosa oral, unhas e esôfago (mais raro) 
– quase sempre é a primeira manifestação a surgir (em 
geral, em torno dos 5 anos de idade). O HPT, presente 
em 80 a 85% dos casos, costuma aparecer ao final da 
primeira década, e a doença de Addison (DA), por volta 
dos 14 anos. Em casos excepcionais, a DA antecede o 
HPT. Outras manifestações endócrinas – diabetes 
melito tipo 1 (DM1), tireoidite e ooforite – podem ser 
vistas em alguns pacientes. Além disso, o HPT ocorre 
em cerca de 5% dos casos de SPA tipo 2 que surgem 
na vida adulta e têm como manifestações mais comuns 
doença autoimune tireoidiana (DAT), DM1 e DA. Em 
cerca de um terço dos pacientes com HPT adquirido 
isolado, são encontrados anticorpos contra o receptor 
sensor de cálcio (CaSR), o que indica uma etiologia 
autoimune para esses casos. Esses anticorpos não 
parecem destruir o CaSR, mas sim estimulá-lo, 
simulando, desta forma, um ambiente de hipercalcemia 
e, consequentemente, inibindo a secreção de PTH. 
Neonatal. Hipocalcemia neonatal pode resultar de 
prematuridade, asfixia ao nascimento, 
hipomagnesemia, diabetes melito materno, aporte 
dietético excessivo de fosfato (decorrente, por exemplo, 
da administração de leite de vaca, o que pode refletir 
uma inabilidade do rim imaturo para secretar fosfato), 
hipovitaminose D ou hipoparatireoidismo neonatal. Este 
último pode ser secundário à hipercalcemia materna 
durante a gestação, com consequente inibição das 
paratireoides do feto. É o caso, por exemplo, de mães 
com hiperparatireoidismo, com hipercalcemia 
hipocalciúrica familiar ou até mesmo com HPT que 
desenvolvem hipercalcemia como efeito adverso de 
uma dose de calcitriol mais elevada do que a necessária 
durante a gestação. 
Causas congênitas 
Agenesia ou hipoplasia congênitas das paratireoides 
causam HPT neonatal, seja como um fenômeno isolado 
(hipoparatireoidismo autossômico recessivo ou ligado 
ao X) ou como parte de síndromes genéticas. 
Síndrome de DiGeorge (SDG). Também denominada 
síndrome velocardiofacial, a SDG ocorre de modo 
esporádico e está associada a um defeito embriológico 
na formação da terceira, quarta e quinta bolsas 
branquiais, o que resulta na ausência de paratireoides. 
A SDG afeta 1 a cada 4.000 a 5.000 nascimentos vivos 
e, na maioria dos casos, resulta de microdeleções no 
cromossomo 22q11.21. A expressão fenotípica da SDG 
é bastante ampla e inclui anomalias cardíacas, 
hipoplasia paratireóidea, fácies anormal, aplasia tímica 
com imunodeficiência, fenda palatina, além de 
alterações renais, oculares e esqueléticas. Por isso, a 
SDG é com frequência citada pelo acrônimo CATCH 22 
(cardiac defects [defeitos cardíacos], abnormal facies 
[anormalidades faciais], thymic hypoplasia [hipoplasia 
tímica], cleft palate [palato em ogiva], hypocalcemia 
[hipocalcemia] e 22q11 deletions [deleções 22q11]). 
Encontrada em 40 a 60% dos casos, a hipocalcemia 
pode ser transitória ou permanente, bem como se 
manifestar apenas na idade adulta. Foi demonstrado 
que a deleção do gene TBX1 é a responsável pelos 
defeitos cardiovasculares na SDG. Contudo, a base 
molecular para o desenvolvimento anormal das 
paratireoides ainda não foi elucidada. Em vários casos 
de SDG, não se verifica anormalidade detectável no 
22q11, mas ocorrem deleções terminais 10p ou 
deleções intersticiais 10p13/10p14, e isso é um 
indicativo de que os dois loci podem ser importantes 
para o desenvolvimento das estruturas da bolsa 
branquial. 
Síndrome hipoparatireoidismo-surdez-displasia 
renal (HDR). Caracteriza-se por hipoparatireoidismo, 
surdez neurossensorial (moderada a profunda) e 
anomalias ou disfunção renais (p. ex., nefrose e acidose 
tubular renal). De transmissão autossômica dominante, 
resulta de mutações ou deleções do fator de transcrição 
GATA3, localizado no cromossomo 10p14-10. 
Síndrome hipoparatireoidismo-retardo mental-
dismorfismo (HRD). Estudos recentes descrevem 
essa síndrome em indivíduos de origem árabe, a qual 
se caracteriza por hipoparatireoidismo congênito (por 
aplasia ou agenesia paratireóidea), retardo mental e 
manifestações dismórficas (p. ex., microcefalia, 
microftalmia, anormalidades auriculares, ponte nasal 
deprimida, lábio superior fino, mãos e pés pequenos 
etc.). Aspectos clínicos adicionais incluem baixa 
estatura, suscetibilidade a infecções graves (sobretudo 
na infância), espessamento do osso cortical, 
osteoesclerose e calcificação dos núcleos da base. A 
síndrome HRD engloba duas síndromes (Kenny-Caffey 
e Sanjad-Sakati) e resulta de uma deleção 12-bp (del52-
55) no segundo éxon que codifica o gene da tubulina 
cofator E (TBCE), localizado no braço longo do 
cromossomo 1q42-1q43. 
Distúrbios mitocondriais. Nesse grupo, estão a 
síndrome de Kearns-Sayre (HPT, oftalmoplegia externa 
progressiva, retinopatia pigmentar, bloqueio cardíaco 
ou cardiomiopatia e diabetes), MELAS com diabetes e 
HPT e MTDPS, um distúrbio da oxidação dos ácidos 
graxos, associado a neuropatia periférica, fígado agudo 
gorduroso na gravidez e HPT. Essas síndromes são 
causadas por defeitos em genes mitocondriais e têm 
transmissão materna. 
Hipoparatireoidismo isolado familiar (HIF). Trata-se 
de uma condição rara, com diferentes tipos de herança 
genética e etiologia, em que sintomas de hipocalcemia 
(p. ex., convulsões) podem se manifestar nos primeiros 
dias de vida. Na maioria dos casos, decorre de 
mutações heterozigotas ativadoras do gene do receptor 
sensor do cálcio (CaSR) nas células paratireóideas. 
Nesses casos, que têm transmissão autossômica 
dominante, encontramos hipocalcemia associada a 
níveis de PTH não normais e hipercalciúria. Defeitos 
heterozigotos no CaSR foram também detectados em 
casos esporádicos de HPT. Além disso, o HIF pode 
resultar de mutação homozigota do fator de transcrição 
GCM2, o qual está expresso nas células secretoras de 
PTH das paratireoides em desenvolvimento. O gene do 
GCM2 (antes referido como GCMB) foi mapeado no 
cromossomo 6p23. A transmissão da doença é 
autossômica recessiva ou, bem mais raro, autossômica 
dominante. O HIF ligado ao X resulta de agenesia 
paratireóidea, supostamente devido à deleção/inserção 
de DNA próximo ao gene SOX3 no cromossomo Xq26-
q27. Existem casos muito raros de hipoparatireoidismo 
de herança autossômica dominante ou recessiva 
causados por mutações no gene PTH que levam a um 
processamento alterado da molécula do pré-pró-PTH 
e/ou a tradução inadequada do mRNA. Da mesma 
maneira, mutações no gene pré-pró-PTH resultam em 
níveis de PTH indetectáveis ou muito baixos, com 
consequentes hipocalcemia sintomática e 
hiperfosfatemia. A despeito das considerações 
anteriores, a base molecular genética da maioria dos 
casos de HIF autossômico recessivo ainda não foi 
identificada. 
 
Resistência à ação do PTH 
Pseudo-hipoparatireoidismo 
O pseudo-hipoparatireoidismo (PHP) é uma doença 
hereditária, caracterizada por resistência dos órgãos-
alvo à ação do PTH. Laboratorialmente manifesta-se 
por hipocalcemia, hiperfosfatemia e níveis elevados de 
PTH. Existem dois tipos principais de PHP (1a e 1b). 
Mais recentemente foram descritos o PHP tipo 1c e o 
PHP tipo 2. 
 
PHP tipo 1a (PHP-1a) 
O PHP-1a é caracterizado pela presença de atividade 
diminuída (em torno de 50% do normal) da Gsα, a 
subunidade α da proteína G estimuladora, Gs, essencial 
para a ação celular do PTH. O PHP-1a, herdado como 
um traço autossômico dominante, decorre de mutações 
no gene da proteína Gsα (GNAS1), mapeado no 
cromossomo 20q13.3. O gene mutante é herdado da 
mãe. A Gsα acopla o receptor do PTH à adenilciclase. 
Assim, a resposta do AMPc à administração do PTH 
está bastante diminuída ou bloqueada no PHP tipo 1a. 
Como a Gsα também acopla vários outros receptores à 
adenilciclase, pode ocorrer resistência parcial a outros 
hormônios (gonadotrofinas, TSH, GH, GnRh e 
prolactina). 
PHP tipo 1b (PHP-1b) 
A exemplo dos indivíduos acometidos do PHP-1a, 
pacientes com PHP-1b desenvolvem deficiência de Gsα 
aparentemente restritaaos túbulos proximais renais. 
Para o tipo autossômico dominante de PHP-1b, essa 
deficiência é causada por microdeleções herdadas da 
mãe, dentro ou a montante do locus do GNAS1. 
PHP tipo 1c (PHP-1c) 
O PHP-1c é uma variante do PHP-1a, com o mesmo 
modo de herança, porém não há mutações na proteína 
Gsα, mas sim uma inabilidade do PTH de se ligar ao seu 
receptor. Os pacientes apresentam as mesmas 
características de osteodistrofia de Albright, além de 
resistência a múltiplos hormônios. As mutações do gene 
GNAS1 que levam ao PHP-1c em geral residem no 
último éxon codificador da Gs. 
PHP tipo 2 (PHP-2) 
Em indivíduos afetados pelo PHP-2, a resistência ao 
PTH é caracterizada por uma resposta fosfatúrica 
reduzida à administração de PTH, apesar de um 
aumento normal na excreção urinária do AMPc. Essa 
variante genética carece de uma clara base familiar, e 
existe a possibilidade de que seja um defeito adquirido. 
De fato, um quadro clínico e laboratorial similar ocorre 
em pacientes com deficiência grave de vitamina D e, 
portanto, essa hipótese precisa sempre ser excluída em 
pacientes com PHP-2. No entanto, permanece incerto 
se o aumento na secreção de PTH associado à 
deficiência de vitamina D acarreta hiperfosfatemia 
resistente ao PTH.1 Ademais, um subgrupo de 
pacientes com distrofia miotônica exibe os aspectos 
bioquímicos do PHP-2. 
Pseudopseudo-hipoparatireoidismo (PPHP) 
Trata-se de uma rara condição em indivíduos afetados 
que apresentam um fenótipo similar ao do PHP-1a, 
porém não há resistência ao PTH nem hipocalcemia. 
Com frequência, pacientes com PPHP são encontrados 
na mesma família do que aqueles com PHP-1a. Assim, 
ambas as doenças são causadas por mutações no 
GNAS1. As pessoas que herdam o gene mutante de 
seu pai exibem PPHP, ao passo que aqueles que o 
herdam de sua mãe se apresentam com PHP-1a. 
Condrodisplasia letal de Blomstrand 
É um distúrbio raro, caracterizado por letalidade 
precoce, maturação óssea avançada e 
diferenciação de condrócitos acelerada. Crianças 
com BLC em geral nascem prematuras e se apresentam 
com uma síndrome dismórfica grave, caracterizada por 
membros muito curtos. A herança de BLC é recessiva, 
e a síndrome está associada a mutações de perda de 
função, homozigotas ou heterozigotas, no gene que 
codifica o receptor de PTH/PTHrP (PTHR1). Hiperplasia 
secundária das glândulas paratireoides ocorre como 
resultado de hipocalcemia presumida. Estudos 
radiológicos revelam hiperdensidade acentuada de todo 
o esqueleto e ossificação bastante avançada. O 
diagnóstico pode ser feito tão cedo quanto entre a 12a e 
a 13a semana de gestação por ultrassonografia 
transvaginal. A maioria dos bebês com BLC morre logo 
após o nascimento. 
 
Quadro Clínico 
As manifestações do hipoparatireoidismo (HPT) de 
qualquer etiologia ocorrem devido ao aumento da 
excitabilidade neuromuscular, tanto da musculatura 
esquelética quanto da miocárdica, decorrente de 
hipocalcemia. Em geral, quanto menores os níveis de 
cálcio, maiores a riqueza e a intensidade dos sintomas. 
Os sintomas mais característicos da hipocalcemia são 
cãibras e parestesias (periférica e perioral). Nos casos 
mais graves, podem surgir tetania, espasmo 
carpopedal, laringospasmo, broncospasmo, convulsões 
e arritmias cardíacas, o que em alguns casos pode 
resultar em morte do paciente. 
 
Uma crise convulsiva pode ser a apresentação inicial 
do HPT, e essa hipótese, diante de convulsões sem 
causa aparente, deve ser sempre cogitada. A doença 
deve também ser considerada em pacientes sem 
tetania, mas com evidências de miopatia (mialgias e 
fraqueza muscular). A hipocalcemia crônica pode 
também propiciar o surgimento de disfunção 
extrapiramidal (parkinsonismo, coreia, disartria etc.) e 
cerebelar (anormalidades da marcha, instabilidade 
postural etc.). Sintomas extrapiramidais estão em geral 
associados à calcificação dos núcleos da base e 
costumam ser detectados pela tomografia 
computadorizada. Podem também ocorrer alterações 
cutâneas, dentárias, oculares e alopecia. 
Características clínicas associadas à hipocalcemia: 
• Irritabilidade neuromuscular 
o Sinal de Chvostek 
o Sinal de Trousseau 
o Parestesias 
o Tetania 
o Convulsões (focais, petit mal, grand mal) 
o Cãibras musculares 
o Mialgias (inclusive, dor torácica) 
o Fraqueza muscular 
o Polimiosite 
o Espasmos laríngeos 
o Broncospasmo 
• Status mental 
o Confusão 
o Desorientação 
o Psicose 
o Fadiga 
o Ansiedade 
• Envolvimento do músculo liso 
o Disfagia 
o Dor abdominal 
o Cólica biliar 
o Dispneia 
o Chiado 
• Cardíacas 
o Prolongamento do segmento ST e 
intervalo QT 
o Alterações no ECG indicativas de IAM; 
arritmias etc. 
o Insuficiência cardíaca 
o Cardiomiopatia 
• Sinais e sintomas neurológicos 
o Sinais extrapiramidais devido à 
calcificação dos gânglios da base 
o Calcificação do córtex cerebral ou 
cerebelo 
o Distúrbios da personalidade 
o Irritabilidade 
o Habilidade intelectual prejudicada 
o Mudanças inespecíficas do EEG 
o Pressão intracraniana aumentada 
o Alterações da marcha 
o Instabilidade postural 
o Parkinsonismo 
o Disartria 
o Coreoatetose; espasmos distônicos 
• Mudanças ectodérmicas 
o Pele seca 
o Cabelos grosseiros 
o Unhas frágeis 
o Queda de cabelo; alopecia 
o Hipoplasia do esmalte; defeitos da 
dentina 
o Raízes pré-molares encurtadas 
o Lâmina dura espessada 
o Erupção dentária retardada 
o Cáries dentárias 
o Perda de todos os dentes (bastante rara) 
o Eczema atópico 
o Dermatite esfoliativa 
o Psoríase 
o Impetigo herpetiforme 
• Manifestações oftalmológicas 
o Catarata subcapsular 
o Papiledema 
 
O risco de desenvolvimento de catarata encontra-se 
aumentado, mas não em pacientes com HPT pós-
cirúrgico. Algumas vezes, depressão crônica, reversível 
com a correção da hipocalcemia, pode ser uma 
manifestação adicional do HPT. Ansiedade, fadiga e 
fraqueza muscular também têm sido associadas. 
As alterações dentárias dependem da época do 
aparecimento da hipocalcemia. Em crianças, pode 
causar hipoplasia do esmalte, defeitos da dentina, 
retardamento na erupção dentária, aumento da 
frequência de cáries e encurtamento das raízes dos 
molares e pré-molares. Em certos casos, pode haver 
perda de todos os dentes. 
HPT crônico, seja autoimune ou pós-cirúrgico, ocorre 
junto a aumento da densidade mineral óssea, sobretudo 
na coluna lombar. Pode acontecer, ainda, de o HPT 
simular uma espondilite anquilosante. 
As manifestações cardíacas da hipocalcemia podem se 
restringir a prolongamento do segmento ST e do 
intervalo QT ao eletrocardiograma, às vezes 
acompanhado de episódios de síncope após atividade 
física. Ondas T anormais podem ser encontradas em 
cerca de 50% dos casos. Entretanto, diante de queda 
acentuada da calcemia, poderão ocorrer taquicardia, 
insuficiência cardíaca (incomum e refratária ao 
tratamento convencional, mas reversível com a 
reposição de cálcio) e, o que é mais raro, fibrilação atrial 
ou ventricular. Além disso, encontra-se miocardiopatia 
dilatada, reversível com a correção da hipocalcemia. 
Por fim, há casos descritos de HPT com dor torácica e 
alterações eletrocardiográficas indicativas de infarto 
agudo do miocárdio (IAM). O risco de doença cardíaca 
isquêmica, no entanto, parece ser aumentado apenas 
nos casos de HPT não cirúrgico. 
Complicações renais também têm sido relatadas em 
pacientes com HPT crônico, como insuficiência renal 
crônica, litíase renal e aumento do risco de tratamento 
dialítico, provavelmente em decorrência do aumento do 
produto cálcio-fósforo. 
Convulsões ocorrem em 30 a 79% dos pacientes 
hipoparatireóideos. Em geral são do tipo grande mal, 
mas também podem ser do tipo pequeno mal, focais ou 
psicomotoras. Algumas aparecem até meses ou anos 
após a tireoidectomia. Calcificações dos núcleos da 
base e cerebelo são mais comuns nos tipos idiopático 
ou autoimune. 
 
Ao exame físico, as alterações mais características da 
hipocalcemia são os sinais de Trousseau e Chvostek. 
Este último é obtido pela rápida percussão sobreo 
nervo facial em seu trajeto (cerca de 2 cm anterior ao 
lobo da orelha), o que resulta na contração dos 
músculos faciais ipsolaterais e do lábio superior. Em 
torno de 10% das pessoas normocalcêmicas 
apresentam esse sinal. O sinal de Trousseau é mais 
específico (observado em 1 a 4% dos indivíduos 
normais) e é obtido inflando-se um esfigmomanômetro 
de pressão cerca de 20 mmHg acima da pressão 
sistólica, durante 3 minutos. Começa por adução do 
polegar, seguida da flexão das articulações 
metacarpofalangianas, extensão das articulações 
interfalangianas e flexão do punho, produzindo a 
postura da main d’accoucheur (mão de obstetra). 
Ambos os sinais podem ser mascarados pelo uso de 
hidantoína. 
 
É importante salientar que um significativo número de 
pacientes com HPT é completamente assintomático e 
tem sua doença diagnosticada ao acaso, seja pela 
dosagem da calcemia em exames de rotina, seja pela 
detecção, ao exame físico, dos sinais de Trousseau e 
de Chvostek. Da mesma maneira, sintomas do HPT 
podem se tornar evidentes apenas durante períodos de 
aumento de demanda do sistema homeostático do 
cálcio (gestação e lactação, ciclo menstrual e estados 
de alcalose) ou durante o uso de substâncias que 
reduzam a calcemia (p. ex., bisfosfonatos). 
A tetania pode ser vista, também, em pacientes com 
hipomagnesemia, alcalose metabólica ou alcalose 
respiratória por hiperventilação (causa mais comum). 
 
Manifestações clínicas do pseudo-
hipoparatireoidismo 
Pacientes com PHP tipo 1a em geral têm face 
arredondada, pescoço curto, baixa estatura, 
calcificações ou ossificações subcutâneas e 
braquidactilia (dedos curtos das mãos, sobretudo o 
quarto e o quinto dedo), características essas 
denominadas osteodistrofia hereditária de Albright. 
 
 
Conforme mencionado, esse fenótipo pode ser herdado 
de modo separado, sem resistência ao PTH nem 
hipocalcemia, o que caracteriza o pseudopseudo-
hipoparatireoidismo (PPHP). No PHP tipos 1b, 1c e 2, 
há hipocalcemia, mas não as citadas anormalidades. No 
PHP-1a, são comuns hipotireoidismo primário e 
anormalidades na função reprodutiva (oligomenorreia 
em mulheres e infertilidade masculina). 
Paradoxalmente, foram relatados dois casos de 
puberdade precoce em meninos com PHP-1a. Em um 
estudo, 69% dos pacientes com PHP-1a tinham 
deficiência de GH. Recentemente, foi descrita em nosso 
meio a associação familiar de PHP-1a e psoríase. 
Vários pacientes com PHP têm alterações esqueléticas 
condizentes com hiperparatireoidismo. Tal fato levou 
alguns autores a postularem que a resistência do osso 
ao PTH no PHP seria relativa. 
 
Diagnóstico 
A história e o exame clínico são dados importantes para 
a avaliação de uma suspeita de hipocalcemia. O 
diagnóstico da doença de base depende da história (p. 
ex., cirurgia do pescoço), dos achados físicos 
(constituição corpórea anormal, alopecia, cicatriz no 
pescoço, candidíase mucocutânea, vitiligo etc.) e de 
testes laboratoriais adicionais (p. ex., evidência para 
hipoadrenalismo, dosagem de autoanticorpos anti-21-
hidroxilase, antiparatireoide ou antitireoperoxidase, 
testes genéticos, testes de surdez, imagem renal etc.). 
A aparência física pode ajudar a distinguir o pseudo-
hipoparatireoidismo (PHP) tipo 1a do tipo 1b, uma vez 
que a osteodistrofia hereditária de Albright, conforme 
mencionado, não ocorre no PHP-1b. 
Os marcadores bioquímicos do hipoparatireoidismo 
(HPT) são hipocalcemia e hiperfosfatemia, na 
presença de função renal normal. As concentrações 
de cálcio sérico com frequência se situam entre 6 e 7 
mg/dℓ (VR: 8,6 a 10,3), e as do fósforo, entre 6 e 9 mg/dℓ 
(VR: 2,7 a 4,5). Concentrações de cálcio ionizado < 1 
mmol/ℓ (VR: 1,11 a 1,40) também são observadas. 
Na avaliação de um paciente com hipocalcemia, é 
indispensável medir a concentração da albumina 
sérica, uma vez que cerca de 40% do cálcio circulante 
está ligado à albumina. Assim, hipoalbuminemia 
reduzirá a calcemia em cerca de 0,8 mg/dℓ para cada 1 
g/dℓ de redução na albumina sérica. Esses pacientes 
não são de fato hipocalcêmicos, já que os níveis do 
cálcio fisiologicamente importantes (cálcio livre ou 
ionizado) estão normais. Em pacientes com 
hipoalbuminemia ou em situação muito grave, deve-se, 
portanto, medir o cálcio ionizado. Como alternativa, 
pode-se corrigir o cálcio pela concentração sérica 
da albumina, de acordo com a fórmula descrita a 
seguir: Cálcio sérico corrigido = cálcio sérico 
encontrado + [0,8 × (4 – albumina sérica 
encontrada)] 
No HPT, os níveis séricos de PTH em geral estão baixos 
ou indetectáveis. Contudo, podem ser normais quando 
houver alguma função paratireóidea preservada. Nos 
casos de resistência ao PTH, os valores desse 
hormônio se encontram no limite superior da 
normalidade ou elevados. O nível da 1,25(OH)2D3 é 
baixo ou normal-baixo, porém a fosfatase alcalina 
permanece inalterada. A calciúria de 24 horas encontra-
se reduzida, com exceção dos raros casos resultantes 
de mutação do receptor do cálcio, que cursam com 
hipocalcemia e hipercalciúria. Como rotina, durante 
investigação do HPT, recomenda-se dosar também os 
níveis séricos de magnésio, uma vez que a 
hipomagnesemia pode reduzir tanto a secreção 
quanto a ação do PTH. Orienta-se, portanto, que, na 
vigência de baixas concentrações de magnésio no soro, 
essa condição seja corrigida antes da confirmação 
diagnóstica do HPT. A excreção urinária de fosfato e do 
AMP cíclico apresenta aumento significativo após a 
administração de PTH exógeno, exceto em casos de 
PPHP. A resposta do AMPc urinário baixa ou ausente à 
administração parenteral do PTH (teste de Ellsworth-
Howard) ocorre no PHP-1a, PHP-1b e PHP-1c, ao 
passo que, no PHP tipo 2, ela está normal. Do mesmo 
modo, a resposta fosfatúrica ao PTH está bastante 
diminuída em todos pacientes com os citados tipos de 
PHP. No PPHP e no hipoparatireoidismo, ambas as 
respostas encontram-se normais, uma vez que não há 
resistência ao PTH nos túbulos renais proximais. Em 
pacientes com HPT autoimune, tanto no modo isolado 
como na SPA, é comum o achado de autoanticorpos 
contra o receptor sensor do cálcio (em até 49% dos 
casos). A presença de vitiligo ou candidíase, bem como 
a positividade para autoanticorpos, aponta para 
hipocalcemia de etiologia autoimune (síndrome 
poliglandular autoimune). 
 
Tratamento 
No manuseio do hipoparatireoidismo, devem ser 
considerados o tratamento do quadro agudo de 
hipocalcemia e a terapia crônica. Os principais agentes 
farmacológicos utilizados são sais de cálcio e 
preparações de vitamina D. 
Tratamento da hipocalcemia aguda 
• Crise hipocalcêmica (tetania, convulsões, 
laringospasmo, broncospasmo): 1 ampola (10 
ml) de gliconato de cálcio (GC) a 10% IV diluída 
em 100 mℓ de SG 5% (em 10 min) + 10 ampolas 
de GC em 1ℓ de SG 5% (50 mℓ/h) 
Embora o valor real do Ca++ sérico corrigido seja quase 
sempre considerado um limiar para o manuseio agudo 
(ou seja, 7,5 mg/dℓ [1,9 mmol/ℓ]), são os sintomas que 
em geral ditam a decisão de se administrar ou não 
cálcio por via intravenosa (IV). Assim, pacientes com 
sintomas graves (p. ex., tetania, laringospasmo, 
broncospasmo, convulsões, insuficiência cardíaca ou 
status mental alterado) requerem a administração 
imediata de cálcio IV, mesmo se o Ca++ sérico estiver 
apenas um pouco reduzido (p. ex., 7 a 8 mg/dℓ [1,75 a 
2 mmol/ℓ]). Gliconato de cálcio a 10% (90 mg de cálcio 
elementar/10 mℓ) é a opção mais indicada. Cloreto de 
cálcio deve ser evitado porque é irritante e 
potencialmente esclerosante para as veias. Assim, 10 
mℓ de gliconato de cálcio a 10%, diluídos em 100 mℓ de 
solução glicosada a 5% (SG 5%), são infundidos por via 
intravenosa durante 10 minutos. Essa infusão fornece 
90 mg de cálcio elementar e pode ser seguida por uma 
infusão contínua de maior quantidade que se baseia no 
peso corporal: 15 mg/kg de cálcio elementar em geral 
correspondem a cerca de 10 ampolas (900 mg de cálcio 
elementar) diluídas em 1 ℓ de SG 5%, na velocidade de 
50 mℓ/h. Em até 8 horas, esse protocolode infusão irá 
elevar o nível do Ca++ sérico em cerca de 2 mg/dℓ. 
O ideal é manter a infusão IV de cálcio até que o 
paciente receba um esquema efetivo de reposição oral 
de cálcio e vitamina D. Calcitriol, na dose de 0,25 a 0,5 
mg/dia, é a preparação preferida de vitamina D em 
pacientes com hipocalcemia aguda grave, devido ao 
seu rápido início de ação. Se a hipocalcemia for 
causada por depleção de magnésio, deve-se corrigir a 
hipomagnesemia. A administração isolada de cálcio não 
funciona. O magnésio pode, também, ser utilizado 
quando se suspeita de hipomagnesemia como fator 
causal. Nesses casos, pode ser infundido sulfato de 
magnésio a 10% do seguinte modo: 2 g (16 mEq) de 
sulfato de magnésio a 10% durantecerca de 10 minutos, 
seguidos de 1 g (8 mEq), em 100 mℓ de solução 
fisiológica ou glicosada a cada hora. 
Tratamento da hipocalcemia crônica 
• Hipocalcemia crônica: Carbonato de cálcio (1,5 
a 3 g/dia de cálcio elementar, em doses 
divididas) + calcitriol (0,25 a 1 μg/dia VO) ou 
vitamina D2/D3 (25.000 a 100.000 UI/dia VO) 
O cálcio e a vitamina D servem de suporte principal da 
terapia crônica. O valor de referência (VR) para o cálcio 
sérico é de 8,5 a 10,5 mg/dℓ. As metas do tratamento 
são controlar os sintomas e manter os níveis de 
Ca++ sérico total corrigido pela albumina próximo 
ao limite inferior da normalidade (algum valor entre 8 
e 8,5 mg/dℓ), o fósforo sérico próximo ao limite superior 
da normalidade (normal, 2,7 a 4,5 mg/dℓ), o cálcio 
urinário < 300 mg/24 h (normal, 55 a 220) e o produto 
cálcio × fósforo < 55 mg2/dℓ2 (4,4 mmol2/ℓ²). Níveis de 
Ca++ sérico > 9 mg/dℓ não são necessários e aumentam 
o risco de hipercalciúria (devido à deficiência do PTH, a 
reabsorção tubular de cálcio está prejudicada), 
predispondo os pacientes a nefrolitíase, nefrocalcinose 
e insuficiência renal. Valores < 8 mg/dℓ deixam o 
paciente assintomático, mas aumentam o risco para o 
surgimento futuro de catarata. Valores do produto cálcio 
× fósforo > 55 mg2/dℓ² podem levar a precipitação de 
sais de cálcio-fósforo em partes moles (p. ex., rins, 
cristalino e gânglios da base). Os níveis séricos de 
cálcio, fósforo e creatinina devem ser dosados a cada 7 
a 30 dias durante os ajustes iniciais do tratamento. Após 
a estabilização, essa avaliação passa a ser semestral. 
Níveis séricos de 25-hidroxivitamina D e calciúria devem 
ser dosados anualmente. Avaliações oftalmológicas 
anuais para monitorar o desenvolvimento de catarata 
estão indicadas para todos os pacientes. 
Reposição de cálcio 
Recomenda-se usar o cálcio na dose diária de 1,5 a 3 g 
de cálcio elementar. Essas doses altas podem reduzir a 
dose diária da vitamina D, necessária para uma 
absorção intestinal adequada do cálcio. No entanto, a 
quantidade necessária varia muito entre os pacientes (1 
a 9 g/dia). A dieta deve ser rica em Ca++ e com baixo 
teor de fosfato, para minimizar a hiperfosfatemia. Entre 
os sais de cálcio, o carbonato de cálcio (CaCO3) é o 
mais empregado, por ser o de menor custo e apresentar 
maior conteúdo de cálcio elementar (40%). Cada 1.000 
mg de CaCO3 fornecem 400 mg de cálcio elementar. 
Como requer acidificação para ter uma absorção eficaz, 
o CaCO3 deve ser ingerido durante ou após uma 
refeição ou com bebidas cítricas. Esse composto é 
menos absorvido em pacientes idosos, pacientes com 
acloridria ou naqueles em uso de inibidores da bomba 
de prótons (p. ex., omeprazol, lansoprazol). Nesses 
casos, tem preferência o citrato de cálcio, a menos que 
o paciente tenha insuficiência renal (contraindicação 
para o citrato). Caso se opte pelo CaCO3, o paciente 
deve receber uma dieta rica em proteínas para 
assegurar uma absorção adequada. Citrato de cálcio é, 
também, a melhor opção em pacientes com nefrolitíase. 
Indica-se que os suplementos de cálcio sejam tomados 
em doses fracionadas de 1 g ou menos, considerando 
a provável saturação da capacidade absortiva intestinal 
de cálcio a cada refeição. 
Formulação Conteúdo 
de cálcio 
elementar 
Miligramas de sal para 
obter 1.000 mg de cálcio 
elementar 
Carbonato 40% 2.500 
Fosfato 38% 2.631 
Cloreto 27% 3.700 
Citrato 21% 4.762 
Lactato 13% 7.700 
Gliconato 9% 11.111 
A suplementação de cálcio em indivíduos com HPT tem 
o potencial de causar hipercalciúria, o que é 
preocupante considerando o risco aumentado de o 
indivíduo desenvolver cálculos renais. Por outro lado, os 
suplementos de cálcio podem funcionar como quelantes 
intestinais do fósforo, sendo, desta forma, úteis em 
evitar a hiperfosfatemia inerente à reduzida função das 
paratireoides. 
Vitamina D e seus análogos 
A vitamina D endógena, chamada de vitamina D3 ou 
colecalciferol, é produzida na pele após exposição a 
raios ultravioleta. A vitamina D2 (ergocalciferol), 
utilizada como enriquecedor alimentar, é produzida de 
modo artificial e é equipotente ao colecalciferol. Para se 
tornar ativa, a vitamina D3 precisa sofrer 25-hidroxilação 
no fígado e, depois, 1α-hidroxilação no rim. No 
tratamento do hipoparatireoidismo permanente, além do 
cálcio, em geral é preciso administrar a vitamina D. 
Como no hipoparatireoidismo a 1α-hidroxilação está 
prejudicada, a preferência é para metabólitos que não 
requeiram essa modificação: calcitriol (fármaco de 
escolha) e alfacalcidol. As doses devem ser ajustadas 
de acordo com a sintomatologia e a calcemia. 
Calcitriol (Rocaltrol® – cápsulas de 0,25 µg) 
Trata-se do tipo mais ativo da vitamina D 
(1,25[OH]2D3). É considerada a opção de escolha em 
virtude de apresentar maior rapidez de ação, curta 
meia-vida biológica (cerca de 4 a 6 horas), baixo risco 
de intoxicação, além de não requerer a hidroxilação 
renal, prejudicada no hipoparatireoidismo. O principal 
inconveniente é seu custo elevado. A dose em geral 
necessária varia de 0,25 a 1 μg/dia, 1 a 2 vezes/dia. 
Alguns pacientes podem requerer até 3 μg ou mais por 
dia. Aumento significativo no Ca++ sérico pode ocorrer 
no prazo de 3 dias.1 Recomenda-se aumentar 
progressivamente a dose do calcitriol em 0,25 μg/dia 
caso o paciente não atinja os níveis desejados de cálcio 
sérico e/ou permaneça sintomático, podendo-se realizar 
aumentos maiores da dose de uma única vez caso o 
paciente desenvolva hipocalcemia mais grave. Calcitriol 
mantém os níveis séricos de cálcio, sobretudo por 
melhorar a eficiência da absorção intestinal de cálcio. 
Contudo, o calcitriol também promove a remodelação 
óssea, por meio da sinalização da via RANKL. Os 
indivíduos em uso de calcitriol devem ser orientados a 
manter uma dieta pobre em fósforo, uma vez que o 
análogo de vitamina D aumenta também a absorção 
intestinal desse mineral, o que pode facilitar o 
desenvolvimento de hiperfosfatemia e o aumento do 
produto cálcio-fósforo, com consequente aumento do 
risco de calcificações extraesqueléticas. Portanto, 
naqueles pacientes que cursam com níveis de fósforo 
acima do normal em vigência do tratamento com 
calcitriol, deve-se diminuir a sua dose diária e aumentar 
a suplementação oral de cálcio (considerando o efeito 
dos suplementos de cálcio em diminuir a absorção 
intestinal de fósforo). 
Vitamina D3 (colecalciferol) ou vitamina D2 
(ergocalciferol) 
A dose comum para manutenção da calcemia normal 
com o uso da vitamina D3 é de 25.000 a 100.000 UI, em 
tomada única. Em relação ao calcitriol, tem a vantagem 
do custo mais baixo. As desvantagens incluem a 
necessidade do metabolismo hepático e renal, bem 
como início de ação mais lento (10 a 14 dias) e duração 
de ação mais prolongada. Assim, caso aconteça 
hipercalcemia, o efeito dessas vitaminas pode persistir 
por várias semanas (14 a 75 dias) após a interrupção do 
tratamento. Portanto, uma vez existindo a 
disponibilidade do tratamento com calcitriol, seu uso em 
altas doses não tem sido mais necessário. No entanto, 
colecalciferol ou ergocalciferol são, muitas vezes, 
usados em conjunto com o calcitriol. A meia-vida deles 
(2 a 3 semanas) ajuda a propiciar um controle mais 
suave, em função da meia-vida muito curta do calcitriol,que é medida em horas. Além disso, a reposição com o 
calcitriol não assegura a manutenção de níveis séricos 
adequados de 25-hidroxicolecalciferol, que devem ser 
mantidos acima de 20 ng/mℓ, mesmo em pacientes com 
HPT. O racional para essa recomendação baseia-se no 
fato de que a ativação celular do colecalciferol, a partir 
de hidroxilases teciduais, ocorre em alguns tecidos 
extrarrenais, sendo importante para determinadas 
funções celulares. Portanto, recomenda-se iniciar 
reposição de colecalciferol nos pacientes com 
hipoparatireoidismo e deficiência de vitamina D 
associada (níveis abaixo de 20 ng/mℓ), 
independentemente do uso concomitante de calcitriol. 
Alfacalcidol (1α-hidroxivitamina D3; Alfad® – 
cápsulas de 0,25 e 1 µg) 
Esse análogo é rapidamente convertido in vivo a 1,25 
(OH)2D3. Sua ação inicia-se com 1 a 2 dias e perdura 
por 5 a 7 dias após sua suspensão. A dose comum é de 
0,5 a 3 μg/dia, porém em alguns casos são necessárias 
doses de até 5 μg/dia. Estudos clínicos comparando a 
eficácia do alfacalcidol com o calcitriol no tratamento do 
HPT não foram ainda realizados, embora o segundo 
pareça ser duas vezes mais potente em causar 
elevação da calcemia. 
Di-hidrotaquisterol 
Disponível em comprimidos de 0,125, 0,2 e 0,4 mg, tem 
início de ação em 4 a 7 dias, a qual perdura por 7 a 21 
dias após suspensão da medicação. A dose padrão é 
de 0,2 a 1 mg/dia. O uso do di-hidrotaquisterol (DHT) 
fica limitado por sua menor potência. Além disso, já não 
está mais disponível em nosso meio, nem nos EUA. Os 
principais efeitos colaterais da terapia com vitamina D 
são a hipercalcemia e a hipercalciúria (sinal mais 
precoce de toxicidade), as quais, quando crônicas, 
podem levar à insuficiência renal. 
 
Outros medicamentos 
Diuréticos tiazídicos 
Em função de aumentarem a reabsorção de cálcio no 
túbulo distal, os tiazídicos podem ser úteis para reduzir 
ou evitar a hipercalciúria causada pela terapia com 
cálcio e vitamina D. Quando a excreção urinária de 
cálcio nas 24 horas se aproximar de 250 mg, 
recomenda-se utilizar um diurético tiazídico (p. ex., 
hidroclorotiazida ou clortalidona, 25 a 100 mg/dia) junto 
com dieta hipossódica. O efeito sobre a calciúria é dose-
dependente, podendo ser necessário chegar a uma 
dose 100 mg/dia, dividida em duas tomadas diárias. 
Durante o tratamento, distúrbios hidreletrolíticos e a 
pressão arterial devem ser monitorados. A associação 
com amilorida pode reduzir o risco de hipocalemia, além 
de diminuir ainda mais a excreção urinária de cálcio. 
Antiácidos 
Um antiácido não absorvível pode ser adicionado ao 
esquema terapêutico habitual para pacientes que 
atinjam normalização da calcemia, mas persistam com 
níveis séricos de fósforo > 6 mg/dℓ. Uma medida 
adicional contra a hiperfosfatemia é instruir os pacientes 
a reduzir a ingestão de alimentos ricos em fosfatos, 
como carnes, ovos, produtos lácteos e certos 
refrigerantes (p. ex., Coca-Cola® e Pepsi-Cola®). A 
redução da hiperfosfatemia visa à prevenção de 
calcificações metastáticas. 
Novas Perspectivas 
PTH 
O tratamento de hipoparatireoidismo (HPT) com PTH 
sintético é atraente porque propicia a reposição do 
hormônio que está faltando. Além disso, essa terapia 
permite uma redução significativa nas necessidades 
diárias de cálcio e calcitriol, o que potencialmente 
diminui o risco de hipercalcemia e hipercalciúria. Uma 
suposta vantagem adicional é que, por causa de suas 
propriedades fosfatúricas, o uso do PTH pode reduzir o 
risco de deposição de cálcio nos rins (nefrocalcinose, 
nefrolitíase) e, possivelmente, em outras partes moles. 
Diversos estudos clínicos recentes têm avaliado a 
eficácia do PTH (1-34) [teriparatida, Forteo®] ou PTH 
intacto (1-84) no tratamento do HPT, aplicados por via 
subcutânea. Constatou-se que ambos seriam 
superiores ao calcitriol em estabilizar o cálcio sérico, 
normalizar o fosfato sérico e reduzir a excreção urinária 
de cálcio. Também diminuem os requerimentos de 
vitamina D e aumentam os marcadores de remodelação 
óssea. Além disso, parece que alguns pacientes com 
HPT experimentam melhor qualidade de vida, em 
comparação ao tratamento convencional com calcitriol 
e cálcio. Existem também alguns relatos do sucesso da 
terapia com PTH (1-34) em crianças com HPT. As 
principais limitações do uso de PTH (1-34) e PTH (1-84) 
são o custo elevado do tratamento e a ausência de 
dados definitivos sobre a segurança do uso prolongado 
do medicamento em adultos e, sobretudo, em crianças. 
Em modelos animais, tem sido demonstrado um 
aumento do risco de osteossarcoma com o uso 
prolongado do PTH, embora não se saiba ainda se o 
mesmo ocorre em seres humanos. Além disso, faltam 
evidências sobre algum papel benéfico do tratamento 
em reduzir o risco de complicações futuras associadas 
ao HPT. O uso do PTH intacto (1-84) foi, no entanto, 
aprovado para tratamento do HPT nos EUA, mas com 
restrições, em decorrência do potencial aumento do 
risco de osteossarcoma. Deste modo, deve ser apenas 
introduzido naqueles pacientes nos quais a 
hipocalcemia não consegue ser controlada com uso 
apenas da suplementação de cálcio associada a 
análogos da vitamina D e desde que os benefícios 
superem os riscos (a substância deve ser evitada em 
indivíduos com risco aumentado para osteossarcoma, 
como naqueles com doença de Paget, com elevações 
inexplicáveis da fosfatase alcalina ou com história de 
radiação externa envolvendo o esqueleto). A dose 
aprovada para uso é de 50 μg em dose única diária, 
devendo-se reduzir em 50% a dose de calcitriol no início 
do tratamento. A dose diária pode ser, então, diminuída 
para 25 μg/dia ou aumentada até 75 e 100 μg (dose 
máxima diária), dependendo da resposta terapêutica.56 
Na ausência de resposta com a dose inicial, o aumento 
deve ser de 25 μg a cada 4 semanas. 
Referências: 
VILAR – Endocrinologia Clínica 
HARRISON – Medicina Interna

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