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O sistema nervoso origina-se da placa neural, uma área espessada do ectoderma embrionário. A notocorda e o mesoderma paraxial induzem o ectoderma sobrejacente a se diferenciar na placa neural. Moléculas sinalizadoras envolvem membros da família do fator de crescimento transformante β (TGF-β), sonic hedgehog (SHH) e proteínas morfogênicas do osso (BMPs). A neurulação começa durante a quarta semana (22 a 23 dias) na região do 4º ao 6º pares de somitos. A fusão das pregas neurais e a formação do tubo neural começa no 5º somito avançam em direção cranial e caudal até que somente pequenas áreas permaneçam abertas em ambas as extremidades. A luz do tubo neural se torna o canal neural e comunica-se livremente com a cavidade amniótica. A abertura cranial, o neuroporo rostral, fecha- se por volta do 25º dia e o neuroporo caudal fecha-se dois dias mais tarde. O fechamento dos neuroporos coincide com o estabelecimento de uma circulação vascular sanguínea no tubo neural. A proteína syndecan 4 (SDC4) e a proteína semelhante a van gogh-2 (VANGL2) parecem estar envolvidas com o fechamento do tubo neural. As paredes do tubo neural se espessam para formar o encéfalo e a medula espinal, enquanto o canal neural é convertido no sistema ventricular do encéfalo e no canal central da medula espinal. • A hipótese atual sobre o não fechamento do tubo neural é que há múltiplos (possivelmente cinco) locais de fechamento envolvidos na formação do tubo neural. A falha no fechamento do local 1 resulta na espinha bífida cística. Meroencéfalo (anencefalia) resulta da falha do fechamento do local 2. Craniorraquisquise resulta da falha do fechamento dos locais 2, 4 e 1. A não fusão do local 3 é rara. Medula Espinal A medula espinal primordial se desenvolve da parte caudal da placa neural e da eminência caudal. O tubo neural caudal ao quarto par de somitos se desenvolve na medula espinal. As paredes laterais do tubo neural se espessam, reduzindo gradualmente o Neurologia: Defeitos do tubo neural Igor Mecenas tamanho do canal neural até somente um minúsculo canal central da medula existir na 9ª à 10ª semanas. A sinalização do ácido retinoico é essencial no desenvolvimento da medula espinal desde a padronização inicial até a neurogênese. Inicialmente, a parede do tubo neural é composta por um neuroepitélio espesso, colunar e pseudoestratificado. Essas células neuroepiteliais constituem a zona ventricular (camada ependimária), que dá origem a todos os neurônios (neuroblastos) e células macrogliais (glioblastos) da medula espinal. Logo, a zona marginal composta pelas partes externas das células neuroepiteliais se torna reconhecível. Essa zona se torna gradualmente a substância branca conforme os axônios se desenvolvem dos corpos das células nervosas da medula espinal, dos gânglios espinal e do encéfalo. As células embrionárias formam uma zona intermediária (camada do manto) entre as zonas ventricular e marginal. As células de suporte do SNC, chamadas glioblastos (espongioblastos), diferenciam-se principalmente após cessar a formação dos neuroblastos. Os glioblastos migram da zona ventricular para as zonas intermediária e marginal. Alguns se tornam astroblastos e posteriormente astrócitos, enquanto outros se tornam oligodendroblastos e finalmente oligodendrócitos. Quando as células neuroepiteliais cessam a produção de neuroblastos e glioblastos, diferenciam-se em células ependimárias, que formam o epêndima o qual recobre o canal central da medula. A microglia, que está disseminada por toda a substância branca e cinzenta da medula espinal, são pequenas células derivadas das células mesenquimais. A microglia invade o SNC mais tarde no período fetal após os vasos sanguíneos entrarem no SNC e se origina na medula óssea (células fagocíticas mononucleares). A proliferação e a diferenciação das células neuroepiteliais no desenvolvimento da medula espinal produzem o espessamento das paredes e o adelgaçamento das placas do teto e do assoalho. O espessamento diferencial nas paredes laterais produz precocemente um sulco longitudinal raso de cada lado, o sulco limitante. Esse sulco separa a parte dorsal (placa alar) da parte ventral (placa basal). As placas alar e basal produzem protuberâncias longitudinais que se estendem através da maior parte do comprimento da medula espinal em desenvolvimento. Essa separação regional é de importância fundamental porque as placas alar e basal posteriormente estarão associadas às funções aferente e eferente, respectivamente. Os corpos celulares nas placas alares formam as colunas dorsais cinzentas. Nas secções transversais da medula, essas colunas são os cornos cinzentos dorsais e seus neurônios constituem os núcleos aferentes. Conforme as placas alares aumentam, formam-se os septos medianos dorsais. Os corpos celulares nas placas basais formam as colunas cinzentas ventrais e laterais. Axônios das células dos cornos ventrais crescem para fora da medula espinal e formam as raízes ventrais dos nervos espinais. Conforme as placas basais aumentam, elas formam uma protuberância ventralmente em cada lado do plano mediano. Conforme isso ocorre, forma-se o septo mediano ventral, e um sulco longitudinal profundo (fissura mediana ventral) se desenvolve na superfície ventral da medula espinal. A medula espinal no embrião se estende inteira no comprimento do canal vertebral. Os nervos espinais passam através dos forames intervertebrais opostos ao seu nível de origem. Em razão da coluna vertebral e a dura-máter crescerem mais rápido do que a medula espinal, essa relação da posição dos nervos espinais não persiste. As raízes dos nervos espinais, especialmente aqueles dos segmentos lombar e sacral, percorrem obliquamente a medula espinal no nível correspondente da coluna vertebral. As raízes dos nervos inferiores à extremidade da medula (cone medular) formam um feixe de raízes de nervos espinais chamada de cauda equina, que se originam de um alargamento lombossacral (intumescência) e do cone medular da medula espinal. Embora a dura-máter e a aracnoide usualmente terminem na vértebra S2 em adultos, a pia-máter não. Distal à extremidade caudal da medula espinal, a pia-máter forma um feixe fibroso longo, o filamento terminal (filum terminale), que indica o nível de origem da extremidade caudal da medula espinal embrionária. O filamento se estende do cone medular e se liga ao periósteo da primeira vértebra coccígea. Gânglios Espinais Os neurônios unipolares dos gânglios espinais são derivados das células da crista neural. Seus axônios são primeiramente bipolares, mas precocemente os dois processos se unem em formato de T. Ambos os processos nas células dos gânglios espinais apresentam as características estruturais de axônios, mas o processo periférico é um dendrito no qual há condução em direção ao corpo celular. Os processos periféricos das células dos gânglios espinais passam nos nervos espinais às terminações sensoriais nas estruturas somáticas ou viscerais. Os processos centrais entram na medula espinal e constituem as raízes dorsais dos nervos espinais. Meninges espinais As meninges se desenvolvem das células da crista neural e do mesênquima entre o 20° e o 35° dias. As células migram para circundar o tubo neural e formam as meninges primordiais. A camada externa dessas membranas se espessa para formar a dura-máter, e a camada interna, as leptomeninges. Os espaços preenchidos por líquido aparecem nas leptomeninges que em breve coalescem para formar o espaço subaracnoide. A origem da pia-máter e aracnóide a partir de uma camada única é indicada no adulto pelas trabéculas aracnoides, as quais são delicadas e numerosas fibras de tecido conjuntivo que passam entre a pia e a aracnoide. O líquor começa a se formar durante a 5ª semana. Mielinização da medula espinal As bainhas de mielina ao redor das fibrasnervosas na medula espinal começam a se formar na fase final do período fetal e continuam a ser formadas durante o primeiro ano pós-natal. As proteínas básicas de mielina, uma família de isoformas de polipeptídeos relacionados, são essenciais na mielinização; as integrinas-β1 regulam esse processo. Os tratos das fibras se tornam funcionais aproximadamente no período em que se tornam mielinizados. As raízes motoras são mielinizadas antes das raízes sensoriais. As bainhas de mielina ao redor das fibras nervosas na medula espinal são formadas por oligodendrócitos. As membranas plasmáticas dessas células se envolvem ao redor do axônio, formando diversas camadas. A proteína profilina 1 (PFN1) é essencial na polimerização dos microfilamentos que promovem as mudanças no citoesqueleto dos oligodendrócitos. As bainhas de mielina ao redor dos axônios das fibras nervosas periféricas são formadas pelas membranas plasmáticas do neurilema (bainhas de células de Schwann), que são análogas aos oligodendrócitos. As células do neurilema são derivadas das células da crista neural que migraram perifericamente e circundaram os axônios dos neurônios motores somáticos e os neurônios motores autonômicos pré-ganglionares, conforme eles saem do SNC. Essas células também se envolvem ao redor dos processos centrais e periféricos dos neurônios sensoriais somáticos e viscerais, e ao redor dos axônios dos neurônios motores autonômicos pós-sinápticos. Defeitos Congênitos da Medula A maioria dos defeitos resulta da falha de fusão de um ou mais arcos neurais das vértebras em desenvolvimento durante a quarta semana. Os defeitos do tubo neural (DTNs) afetam os tecidos adjacentes à medula espinal: meninges, arcos neurais, músculos e pele. Fatores nutricionais e ambientais sem dúvida desempenham um papel na produção dos DTNs. Interações gene-gene e gene-ambiente provavelmente estão envolvidas na maioria dos casos. A fortificação da alimentação com ácido fólico e os suplementos de ácido fólico antes da concepção e continuados por, no mínimo, 3 meses durante a gestação, reduzem a incidência de DTNs. Certos fármacos (p. ex., ácido valproico) aumentam o risco de meningomielocele. Esse fármaco anticonvulsivante causa DTNs em 1 a 2% das gestações se ingeridas no início da gestação, quando as pregas neurais estão se fusionando. Seio dérmico O seio dérmico é recoberto pela epiderme e anexos cutâneos, estendendo-se da pele às estruturas profundas, geralmente a medula espinal. O seio (canal) está associado ao fechamento do tubo neural e a formação das meninges na região lombossacral da medula espinal. O defeito congênito é causado pela falha de separação do ectoderma de superfície (futura pele) do neuroectoderma e das meninges que a envolve. Como resultado, as meninges são contínuas com um canal estreito que se estende às ondulações da pele na região sacral da coluna. A ondulação indica a região de fechamento do neuroporo caudal ao final da quarta semana e, portanto, representa o último local de separação entre o ectoderma de superfície e o tubo neural. Espinha Bífida Oculta A espinha bífida oculta é um DTN resultante da falha da fusão das metades de um ou mais arcos neurais no plano mediano. Esse DTN ocorre nas vértebras L5 ou S1 em aproximadamente 10% de pessoas normais. Na sua forma mais branda, a única evidência de sua presença pode ser uma pequena ondulação com um tufo de pelos. Um lipoma no seio dérmico ou outra marca de nascimento também pode ocorrer. A espinha bífida oculta usualmente não produz sintomas. Poucas crianças afetadas apresentam defeitos funcionalmente significativos da medula espinal e das raízes dorsais subjacentes. Espinha Bífida Cística Tipos graves de espinha bífida, os quais envolvem a protrusão da medula espinal e/ou meninges através dos defeitos nos arcos vertebrais, são referidos coletivamente como espinha bífida cística, devido ao cisto meningeal (estrutura semelhante a um saco), que está associada a esses defeitos. Esse DTN ocorre em aproximadamente 1 a cada 5.000 nascimentos. • Quando o cisto contém as meninges e LCE, o defeito é espinha bífida com meningocele. A medula espinal e as raízes espinais estão na posição normal, mas pode haver defeitos na medula espinal. • Se a medula espinal ou as raízes nervosas estiverem contidas no cisto meningeal, o defeito é a espinha bífida com meningomielocele. É o defeito mais comum e mais grave do que a espinha bífida com meningocele. Esse DTN pode ocorrer em qualquer lugar ao longo da coluna vertebral; entretanto, é mais comum na região lombar e sacral. Mais de 90% dos casos estão associados a hidrocefalia devido à coexistência da malformação de Arnold-Chiari. A maioria dos pacientes requer o desvio cirúrgico do LCE para evitar complicações relacionadas com a pressão intracranial alta. Alguns casos estão associados a cranio lacunia (defeito do desenvolvimento de calvária), o qual resulta em áreas deprimidas e não ossificadas nas superfícies internas dos ossos chatos da calvária. • Mielosquise é o tipo mais grave de espinha bífida. Neste defeito, a medula espinal na área afetada está aberta porque há falha na fusão das pregas neurais. Como resultado, a medula espinal é representada por uma massa achatada de tecido nervoso. Mielosquise geralmente resulta na paralisia permanente ou fraqueza dos membros inferiores. A espinha bífida cística mostra vários graus de déficits neurológicos, dependendo da posição e da extensão da lesão. Pode ocorrer a perda de sensibilidade em dermátomos, juntamente com a paralisia parcial ou total dos músculos esqueléticos. A paralisia dos esfíncteres (vesical ou anal) é comum com a meningomielocele lombossacral. Uma anestesia em sela ocorre tipicamente quando os esfíncteres estão envolvidos. Casos graves envolvendo várias vértebras estão associados à ausência de calvária, ausência da maior parte do encéfalo e anormalidades faciais; esses defeitos graves são chamados de meroencefalia. Para estes neonatos, a morte é inevitável. O termo anencefalia para estes defeitos graves é inapropriado porque indica que nenhuma parte do encéfalo está presente. Encéfalo O tubo neural, cranial ao quarto par de somitos, se desenvolve no encéfalo. A fusão das pregas neurais na região cranial e o fechamento do neuroporo rostral formam três vesículas encefálicas primárias, das quais se desenvolve o encéfalo. Durante a quinta semana, o prosencéfalo se divide parcialmente em duas vesículas encefálicas secundárias, o telencéfalo e o diencéfalo; o mesencéfalo não se divide. O rombencéfalo se divide parcialmente em duas vesículas, o metencéfalo e o mielencéfalo. Flexuras Encefálicas Durante a 5ª semana, o encéfalo embrionário cresce rapidamente e se curva ventralmente com o dobramento da cabeça. A curvatura produz a flexura do mesencéfalo e a flexura cervical. Posteriormente, o crescimento desigual do encéfalo entre essas flexuras produz a flexura pontina na direção oposta. Essa flexura resulta no adelgaçamento do cume do teto do rombencéfalo. Inicialmente, o encéfalo primordial tem as mesmas estruturas básicas que a medula espinal em desenvolvimento; entretanto, as flexuras do encéfalo produzem variação considerável no contorno das secções transversais em diferentes níveis do encéfalo e na posição das substâncias cinzenta e branca. O sulco limitante se estende cranialmente na junção do mesencéfalo e prosencéfalo, e as placas alar e basal são reconhecíveis somente no mesencéfalo e rombencéfalo. Rombencéfalo A flexura cervical demarca a divisão do rombencéfalo da medula espinal. Posteriormente, essa junção é arbitrariamente definida como o nível da raiz superior do primeiro nervo cervical, que está localizado grosseiramente no forame magno. A flexura pontina divide o rombencéfalo nas partes caudal (mielencéfalo) e rostral (metencéfalo). MielencéfaloA parte caudal do mielencéfalo (parte fechada do bulbo) se assemelha à medula espinal, tanto no seu desenvolvimento quanto na sua estrutura. Ao contrário daqueles da medula espinal, os neuroblastos das placas alares no mielencéfalo migram para a zona marginal e formam áreas isoladas de substância cinzenta: o núcleo grácil medialmente e o núcleo cuneiforme lateralmente. A área ventral do bulbo contém um par de feixes de fibras (as pirâmides) que consistem em fibras descendentes corticoespinais oriundas do córtex cerebral. A parte rostral do mielencéfalo (parte aberta do bulbo) é ampla e bastante plana, especialmente em frente à flexura pontina. A flexura pontina faz com que as paredes laterais do bulbo se movam lateralmente como as páginas de um livro aberto. Como resultado, a placa de teto é esticada e muito adelgaçada. A cavidade dessa parte do mielencéfalo (parte do futuro IV ventrículo) se torna de algum modo romboide (em formato de diamante). Conforme as paredes do bulbo se movem lateralmente, as placas alares se tornam laterais às placas basais. Como as posições das placas se alteram, o núcleo motor se desenvolve medialmente ao núcleo sensorial. Os neuroblastos formam núcleos e se organizam em três colunas de cada lado. De medial para lateral: • Eferente somático geral, representados pelos neurônios do nervo hipoglosso. • Eferente visceral especial, representado pelos neurônios que inervam os músculos derivados dos arcos faringeanos. • Eferente visceral geral, representado por alguns neurônios dos nervos vago e glossofaríngeo. Os neuroblastos das placas alares do bulbo formam os neurônios que são arranjados em quatro colunas de cada lado. Do sentido medial para o lateral, as colunas são denominadas conforme segue: • Aferente visceral geral. • Aferente visceral especial (fibras gustativas). • Aferente somático geral, que recebe impulsos da superfície da cabeça. • Aferente somático especial, que recebe impulsos da orelha. Alguns neuroblastos das placas alares migram ventralmente e formam os neurônios do núcleo olivar. Metencéfalo As paredes do metencéfalo formam a ponte e o cerebelo, e a cavidade do metencéfalo forma a parte superior do quarto ventrículo. Como na porção rostral do mielencéfalo, a flexura pontina causa divergência das paredes laterais da ponte, que espalha a substância cinzenta no assoalho do quarto ventrículo. Como no mielencéfalo, os neuroblastos em cada placa basal se desenvolvem nos núcleos motores e se organizam em três colunas de cada lado. As células das placas alares também originam os núcleos pontinos, cocleares e vestibulares, e o núcleo sensorial do nervo trigêmeo. O cerebelo se desenvolve de espessamentos das partes dorsais das placas alares. Inicialmente, as intumescências cerebelares se projetam no quarto ventrículo. Conforme as intumescências aumentam e se fundem no plano mediano, encobrem a metade rostral do quarto ventrículo e se sobrepõem à ponte e ao bulbo. Alguns neuroblastos na zona intermediária das placas alares migram para a zona marginal e se diferenciam nos neurônios do córtex cerebelar. Outros neuroblastos dessas placas originam os núcleos centrais, o maior dos quais é o núcleo denteado. A estrutura do cerebelo reflete seu desenvolvimento filogenético (evolucionário): • O arquicerebelo (lobo floculonodular), filogeneticamente mais antigo, tem conexões com o aparelho vestibular, especialmente o vestíbulo da orelha. • O paleocerebelo (verme e lobo anterior), de desenvolvimento mais recente, está associado à informação sensorial dos membros. • O neocerebelo (lobo posterior), filogeneticamente mais novo, relacionado com o controle seletivo dos movimentos dos membros. As fibras nervosas que conectam os córtices cerebral e cerebelar com a medula espinal passam pela camada marginal da região ventral do metencéfalo. Essa região do tronco encefálico é a ponte por causa da banda robusta de fibras nervosas que cruza o plano mediano e forma uma saliência volumosa nos seus aspectos anterior e lateral. Plexo Corióideo e LCR O assoalho delgado do IV ventrículo é coberto externamente pela pia-máter. Essa membrana vascular, em conjunto com o teto ependimário, forma a tela corióidea, uma lâmina da pia que cobre a parte inferior do quarto ventrículo. Por causa da proliferação ativa da pia, a tela corióidea invagina-se no quarto ventrículo, e se diferencia no plexo corióideo, invaginações de artérias corióides da pia. Plexos similares se desenvolvem no teto do terceiro ventrículo e nas paredes mediais dos ventrículos laterais. O plexo corióideo secreta o líquido ventricular, que se torna o LCE já que adições são feitas a ele nas superfícies do encéfalo, da medula espinal e das leptomeninges. Vários morfógenos sinalizadores são encontrados no LCE e no plexo corióideo que são necessários para o desenvolvimento do encéfalo. O teto delgado do quarto ventrículo se evagina em três localizações. Essas evaginações se rompem para formar aberturas, as aberturas mediana e lateral (forame de Magendie e forame de Luschka, respectivamente), que permitem que o LCE entre no espaço subaracnóideo do quarto ventrículo. O revestimento epitelial do plexo corióideo é derivado do neuroepitélio, enquanto o estroma se desenvolve das células mesenquimais. O local principal de absorção do LCE no sistema venoso é através das vilosidades aracnoides, que são protrusões da aracnoide-máter nos seios venosos durais. As vilosidades aracnoides consistem em uma camada celular delgada derivada do epitélio da aracnoide e do endotélio do seio. Mesencéfalo O mesencéfalo sofre menos alterações do que as outras partes do encéfalo em desenvolvimento, exceto a parte caudal do rombencéfalo. O canal neural se estreita e se torna o aqueduto cerebral, um canal que conecta o terceiro e o quarto ventrículos. Neuroblastos migram das placas alares do mesencéfalo para o teto e se agregam para formar quatro grandes grupos de neurônios, os colículos superior e inferior pareados, que são relacionados com os reflexos visual e auditivo, respectivamente. Os neuroblastos das placas basais podem dar origem a grupos de neurônios do tegumento do mesencéfalo (núcleo rubro, núcleos do III e IV nervos cranianos e núcleo reticular). A substância negra também pode se diferenciar da placa basal; entretanto, algumas autoridades pensam que a substância negra é derivada das células da placa alar que migram ventralmente. Os pedúnculos se tornam progressivamente mais proeminentes conforme os grupos de fibras descendentes (corticopontino, corticobulbar e corticospinal) passam através do mesencéfalo em desenvolvimento no seu caminho ao tronco cerebral e a medula espinal. Prosencéfalo Conforme ocorre o fechamento do neuroporo rostral, surgem duas protuberâncias laterais (vesículas ópticas), uma de cada lado do prosencéfalo. Essas vesículas são o primórdio da retina e dos nervos ópticos. Um segundo par de divertículos, as vesículas telencefálicas, logo surgem mais dorsal e rostralmente. As cavidades do telencéfalo e do diencéfalo contribuem para a formação do terceiro ventrículo, embora a cavidade do diencéfalo contribua mais. Diencéfalo Três intumescências se desenvolvem nas paredes laterais do terceiro ventrículo, que se tornam o tálamo, o hipotálamo e o epitálamo. O tálamo é separado do epitálamo pelo sulco epitalâmico e do hipotálamo pelo sulco hipotalâmico. Esse último sulco não é uma continuação do sulco limitante no prosencéfalo, e não é uma estrutura que divide as áreas sensorial e motora. O tálamo se desenvolve rapidamente de cada lado do terceiro ventrículo e torna-se saliente em sua cavidade. Os tálamos se encontram e se fundem na linha mediana em 70% dos encéfalos, formando uma ponte de substância cinzenta (adesão intertalâmica), que está ausente em cerca de 20% dos encéfalos. O hipotálamo se origina pela proliferação deneuroblastos na zona intermediária das paredes diencefálicas, ventral ao sulco hipotalâmico. A expressão diferencial da sinalização de Wnt/β-catenina está envolvida na padronização do hipotálamo. Posteriormente, desenvolve-se um número de núcleos envolvidos em atividades endócrinas e homeostase. Um par de núcleos forma intumescências do tamanho de uma ervilha (corpos mamilares) na superfície ventral do hipotálamo. O epitálamo se desenvolve do teto e da porção dorsal da parede lateral. Inicialmente, as intumescências epitalâmicas são grandes, mas posteriormente se tornam relativamente pequenas. A glândula pineal se desenvolve como um divertículo mediano da parte caudal do teto do diencéfalo. A proliferação de células em suas paredes logo se converte em uma glândula sólida e cônica. A hipófise se desenvolve de duas fontes: • O desenvolvimento do teto ectodérmico de estomodeu, o divertículo hipofisário (bolsa de Rathke). • Uma invaginação do neuroectoderma do diencéfalo, o divertículo neuro-hipofisário. Essa origem dupla explica porque a hipófise é composta por dois tipos diferentes de tecidos: • A adeno-hipófise (tecido glandular), ou lobo anterior, a partir do ectoderma oral. • A neuro-hipófise (tecido nervoso), ou lobo posterior, a partir do neuroectoderma. Na terceira semana, o divertículo hipofisário se projeta do teto do estomodeu e fica adjacente ao assoalho (parede ventral) do diencéfalo. Pela quinta semana, o divertículo é alongado e sofre constrição em sua ligação ao epitélio oral. Nesse estágio, ele entra em contato com o infundíbulo (derivado do divertículo neurohipofisário. O pedúnculo do divertículo hipofisário passa entre os centros de condrificação dos ossos pré- esfenoide e basisfenoide do crânio em desenvolvimento. Durante a sexta semana, a conexão do divertículo com a cavidade oral se degenera. As células da parede anterior do divertículo hipofisário se proliferam e originam a parte anterior da hipófise. Posteriormente, uma extensão, a parte tuberal, cresce ao redor do infundíbulo. A proliferação extensa da parede anterior do divertículo hipofisário reduz sua luz para uma fenda estreita. A fenda residual usualmente não é reconhecível na hipófise em adultos; entretanto, pode ser representada por uma zona de cistos. Células na parede posterior da bolsa hipofisária não proliferam; originam uma parte intermediária delgada e mal definida. Inicialmente, as paredes do infundíbulo são delgadas, mas a extremidade distal do infundíbulo logo se torna sólida conforme as células neuroepiteliais proliferam. Essas células posteriormente se diferenciam em pituicitos, as células principais do lobo posterior da hipófise, que estão intimamente relacionadas com as células neurogliais. As fibras nervosas se desenvolvem na parte nervosa da área hipotalâmica, à qual o infundíbulo é ligado. • Um remanescente do pedúnculo do divertículo hipofisário pode persistir e formar a hipófise faríngea no teto da orofaringe. Raramente, massas de tecido do lobo anterior se desenvolvem fora da cápsula da hipófise, na sela turca do osso esfenoide. Um remanescente do divertículo hipofisário, o canal basifaríngeo, é visível em secções do osso esfenoide de neonatos em aproximadamente 1% dos casos. Também pode ser identificado em um pequeno número de radiografias do crânio de neonatos. Ocasionalmente, um tumor benigno e raro (craniofaringioma) se desenvolve na sela turca ou superior a ela. Com menos frequência, esse tumor se forma na faringe ou no basiesfenoide (parte posterior do esfenoide) de remanescentes do pedúnculo do divertículo hipofisário. Telencéfalo O telencéfalo consiste em uma parte média e dois divertículos laterais, as vesículas cerebrais. A cavidade da porção média do telencéfalo forma a extremidade da parte anterior do terceiro ventrículo. Conforme os hemisférios cerebrais se expandem, cobrem sucessivamente o diencéfalo, o mesencéfalo e o rombencéfalo. Os hemisférios eventualmente se encontram na linha média, e suas superfícies mediais se tornam achatadas. O mesênquima aderido na fissura longitudinal entre eles origina a foice cerebral, uma dobra mediana da dura-máter. O corpo estriado aparece durante a sexta semana como uma intumescência proeminente no assoalho de cada hemisfério cerebral. O assoalho de cada hemisfério se expande mais vagarosamente do que suas paredes corticais delgadas, pois contém o corpo estriado bastante amplo, e os hemisférios cerebrais se tornam em formato de C. O crescimento e a curvatura dos hemisférios cerebrais afetam o formato dos ventrículos laterais, que se tornam cavidades em formato de C preenchidas por LCE. A extremidade caudal de cada hemisfério se curva ventralmente e então rostralmente, formando o lobo temporal; ao fazê-lo, traz o ventrículo lateral e a fissura corióidea com ele. A parede medial delgada do hemisfério é invaginada ao longo da fissura corióidea pela pia-máter vascular para formar o plexo corióideo do corno temporal. Conforme o córtex cerebral se diferencia, as fibras que percorrem de e para ele passam através do corpo estriado e o dividem em núcleos caudado e lentiforme. Essa via de fibras (cápsula interna) se torna em formato de C conforme os hemisférios assumem este formato. O núcleo caudado se torna alongado e em formato de C, em conformidade com o contorno do ventrículo lateral. Comissuras Cerebrais Conforme o córtex cerebral se desenvolve, grupos de fibras nervosas se conectam a áreas correspondentes dos hemisférios cerebrais umas com as outras. A mais importante destas comissuras cruza a lâmina terminal, que é a extremidade rostral do prosencéfalo. Essa lâmina se estende do teto do diencéfalo ao quiasma óptico. A lâmina terminal é a via natural de um dos hemisférios ao outro. As primeiras comissuras a se formarem são a comissura anterior e a comissura hipocampal. São pequenos feixes de fibras que filogeneticamente conectam partes mais antigas do encéfalo. A comissura anterior conecta o bulbo olfatório e áreas relacionadas de um hemisfério com aquelas do lado oposto. A comissura hipocampal conecta as formações hipocampais. A maior comissura cerebral é o corpo caloso, que conecta áreas neocorticais. O corpo caloso inicialmente se situa na lâmina terminal, mas são adicionadas fibras a ele conforme o córtex aumenta, e gradualmente se estende além da lâmina terminal. O restante da lâmina terminal se situa entre o corpo caloso e o fórnice. Ela torna-se estirada para formar o septo pelúcido, uma placa delgada de tecido cerebral que contém células nervosas e fibras. Ao nascimento, o corpo caloso estende-se sobre o teto do diencéfalo. O quiasma óptico, que se desenvolve na parte ventral da lâmina terminal, consiste em fibras das metades medianas da retina que cruzam para se juntar ao trato óptico no lado oposto. As paredes dos hemisférios cerebrais em desenvolvimento inicialmente mostram três zonas típicas do tubo neural: ventricular, intermediária e marginal; posteriormente, aparece uma quarta, a zona subventricular. Células da zona intermediária migram à zona marginal e dão origem às camadas corticais. A substância cinzenta está localizada perifericamente, e os axônios de seus corpos celulares passam centralmente para formar um grande volume de substância branca (centro medular). Inicialmente, a superfície dos hemisférios cerebrais é lisa; entretanto, conforme o crescimento ocorre, desenvolvem-se os sulcos entre os giros. Os giros ocorrem por movimentos do córtex cerebral. Os sulcos e giros permitem um aumento considerável da área de superfície do córtex cerebral sem a exigência de um aumento extenso do tamanho do neurocrânio. Conforme cada hemisfério cerebral cresce, o córtex que recobre a superfície externa do corpo estriado cresce relativamente mais devagar e logo é coberto. Esse córtex recoberto, oculto da visão na profundidade do sulco lateral, é a ínsula.Defeitos Congênitos do Encéfalo Devido à complexidade de seu histórico embrionário, o desenvolvimento anormal do encéfalo é comum (aproximadamente 3 em cada 1.000 nascimentos). A maioria dos principais defeitos congênitos resulta do fechamento defeituoso do neuroporo rostral durante a quarta semana e envolve os tecidos sobrejacentes (meninges e calvária). Os defeitos congênitos do encéfalo podem ser causados por alterações na morfogênese ou histogênese do tecido nervoso, ou podem resultar de falhas do desenvolvimento de estruturas associadas (notocorda, somitos, mesênquima e crânio). A histogênese anormal do córtex cerebral pode resultar em convulsões e vários graus de deficiência mental. O desenvolvimento intelectual abaixo do normal pode resultar da exposição do embrião ou do feto durante o período da 8ª à 16ª semanas a vírus, como o da rubéola, e altos níveis de radiação. Fatores de risco pré-natal, tais como infecção materna ou alterações da tireoide, incompatibilidade do fator Rh e algumas condições hereditárias e genéticas, causam a maioria dos casos de paralisia cerebral, mas os déficits motores centrais podem resultar de eventos durante o nascimento. Encefalocele Encefalocele é uma herniação do conteúdo intracranial resultante de um defeito do crânio (crânio bífido). Encefaloceles são mais comuns na região occipital. A hérnia pode conter meninges (meningocele), meninges e parte do encéfalo (meningoencefalocele), ou meninges, parte do encéfalo e do sistema ventricular (meningo-hidroencefalocele). A encefalocele ocorre em aproximadamente 1 em cada 2.000 nascimentos. Meroencefalia Meroencefalia é um defeito grave da calvária e do encéfalo. O prosencéfalo, o mesencéfalo e a maior parte do rombencéfalo e calvária estão ausentes. A maior parte do encéfalo do embrião está exposta ou lançada para fora do crânio (exencefalia). Por causa da estrutura e vascularização anormal do encéfalo exencefálico embrionário, o tecido nervoso passa por degeneração. O restante do encéfalo tem o aspecto de uma massa esponjosa e vascular consistindo em sua maior parte de estruturas do rombencéfalo. Meroencefalia é um defeito letal comum, que ocorre em pelo menos 1 em cada 1.000 nascimentos. É de 2 a 4 vezes mais comum em meninas do que meninos, e sempre está associada a acrania (parcial ou completa). Pode estar associada à raquisquise (falha da fusão dos arcos neurais) quando o fechamento defeituoso do tubo neural é extenso. Meroencefalia é o defeito sério mais comum visto em fetos natimortos. Neonatos com esse DTN grave podem sobreviver brevemente. Excesso de líquido amniótico (polidrâmnio) está frequentemente associado a meroencefalia, possivelmente porque o feto não tem o controle neural para engolir o líquido amniótico. O líquido não passa pelos intestinos para absorção e a subsequente transferência para a placenta para eliminação. Microcefalia Microcefalia é um distúrbio do neurodesenvolvimento. A calvária e o encéfalo são pequenos, mas a face tem tamanho normal. Esses neonatos apresentam uma deficiência mental ampla porque o encéfalo é subdesenvolvido. A pressão inadequada do crescimento do encéfalo leva ao tamanho pequeno do neurocrânio. Na microcefalia primária autossômica recessiva, o crescimento embrionário do encéfalo é reduzido sem afetar a sua estrutura. Exposição à grande quantidade de radiação ionizante, agentes infecciosos (p. ex., citomegalovírus, vírus da rubéola, Toxoplasma gondii), e certos fármacos (p. ex., uso abusivo de álcool materno) durante o período fetal são fatores que contribuem em alguns casos. Agenesia do Corpo Caloso Na agenesia do corpo caloso, há uma ausência completa ou parcial. A condição pode ser assintomática, mas são comuns convulsões e deficiência mental. Está associada a mais de 50 síndromes congênitas humanas. Hidrocefalia O significativo alargamento da cabeça resulta de um desequilíbrio entre a produção e absorção do LCE; como resultado, há um excesso de LCE no sistema ventricular. A hidrocefalia resulta da circulação e absorção prejudicada do LCE e, em casos raros, da produção aumentada do LCE por um adenoma do plexo corióideo (tumor benigno). O neonato prematuro pode desenvolver hemorragia intraventricular provocando hidrocefalia pela obstrução da abertura lateral e abertura mediana. Raramente, a circulação prejudicada do LCE resulta da estenose aquedutal congênita; o aqueduto cerebral é estreito ou consiste em vários canais minúsculos. Em poucos casos, a estenose resulta da transmissão de um traço recessivo ligado ao X, mas a maioria dos casos parece resultar de uma infecção viral fetal (p. ex., citomegalovírus) ou Toxoplasma gondii. Sangue no espaço subaracnoide pode causar obliteração das cisternas ou das vilosidades aracnoides (membrana limitante, delgada). O bloqueio da circulação do LCE comprime o encéfalo entre o líquido ventricular e o neurocrânio. Nas crianças, a pressão interna resulta em uma taxa acelerada de expansão do encéfalo e do neurocrânio porque a maioria das suturas fibrosas não está fundida. A hidrocefalia usualmente se refere a hidrocefalia obstrutiva ou não comunicante, na qual todo ou parte do sistema ventricular está aumentado. Todos os ventrículos estão aumentados se as aberturas do quarto ventrículo ou dos espaços subaracnoides estiverem bloqueados, enquanto o terceiro ventrículo e os ventrículos laterais estão dilatados quando somente o aqueduto cerebral está obstruído. A obstrução de um forame interventricular pode produzir a dilatação de um ventrículo. A hidrocefalia resultante da obliteração das cisternas subaracnoides ou defeitos das vilosidades aracnoides é chamada de hidrocefalia comunicante ou não obstrutiva. Embora a hidrocefalia possa estar associada a espinha bífida cística, o alargamento da cabeça pode não ser óbvio ao nascimento. A hidrocefalia frequentemente produz adelgaçamento dos ossos da calvária, proeminência da testa, atrofia do córtex cerebral e substância branca e compressão dos núcleos da base e do diencéfalo. Holoprosencefalia Holoprosencefalia (HPS) resulta da separação incompleta dos hemisférios cerebrais e a maioria está associada a anormalidades faciais. Fatores genéticos e ambientais têm sido implicados nesse defeito relativamente comum e grave (1 em cada 250 fetos e 1 em cada 15.000 neonatos). O diabetes materno e os teratógenos (p. ex., álcool) podem destruir as células embrionárias no plano mediano do disco embrionário durante a terceira semana, produzindo uma ampla variedade de defeitos congênitos resultante da formação defeituosa do prosencéfalo. Na holoprosencefalia alobar familiar, o prosencéfalo é pequeno, e os ventrículos laterais frequentemente se fundem para formar um ventrículo grande. Defeitos no desenvolvimento do prosencéfalo causam anomalias faciais resultantes de uma redução no tecido na proeminência frontonasal. A HPS é geralmente indicada quando os olhos estão anormalmente juntos (hipotelorismo). Estudos moleculares identificaram diversos genes relacionados com a holoprosencefalia, incluindo SHH. Hidranencefalia A hidranencefalia é uma anomalia rara. Os hemisférios encefálicos estão ausentes ou representados por sacos membranosos com remanescentes do córtex encefálico dispersos sobre as membranas. O tronco cerebral está relativamente intacto. Esses neonatos parecem normais ao nascimento, mas depois a cabeça cresce excessivamente por causa do acúmulo do LCE. Um desvio ventriculoperitoneal usualmente é feito para prevenir o alargamento posterior do neurocrânio. Há falha do desenvolvimento mental, e há pouco ou nenhum desenvolvimento cognitivo. A causa dessa anomalia incomum e grave é incerta, mas evidências indicam que pode resultar de uma obstrução precoce do fluxo sanguíneo para as áreas supridas pelas artérias carótidas internas. Malformação de Chiari A malformação de Chiari é um defeito estruturaldo cerebelo. É caracterizada por uma projeção semelhante a língua do bulbo e deslocamento inferior da tonsila cerebral através do forame magno no canal vertebral. A fossa craniana posterior geralmente é anormalmente pequena, causando pressão no cerebelo e tronco cerebral. A condição pode levar a um tipo de hidrocefalia não comunicante que obstrui a absorção e o fluxo do LCE; como resultado, todo o sistema ventricular é distendido. A ressonância magnética é utilizada para diagnóstico. Diversos tipos de malformações de Chiari têm sido descritos. No tipo I, a parte inferior do cerebelo é herniada através do forame magno. Essa é a forma mais comum. Usualmente é assintomática e detectada na adolescência. No tipo II, também conhecida como malformação de Arnold-Chiari, o tecido cerebelar e o tronco cerebral sofrem herniação através do forame magno, frequentemente acompanhado por Encefalocele occipital e mielomeningocele lombar. No tipo III, a forma mais grave, há herniação do cerebelo e do tronco cerebral através do forame magno no canal vertebral, que apresenta consequências neurológicas sérias. No tipo IV, o cerebelo está ausente ou subdesenvolvido; estes neonatos não sobrevivem. Deficiência mental Os prejuízos na inteligência podem resultar de várias condições determinadas geneticamente (p. ex., síndrome de Down [trissomia do 21], síndrome da trissomia do 18). Deficiência mental também pode resultar da ação de um gene mutante ou uma anomalia cromossômica (p. ex., cromossomos 13, 17 ou 21 extras). Aproximadamente 25% dos casos possuem uma causa demonstrável. O uso abusivo materno de álcool é uma causa identificável comum. Da 8ª à 16ª semanas do desenvolvimento também é um período de maior sensibilidade para o dano encefálico fetal resultante de altas doses de radiação. Doenças do metabolismo de proteínas, carboidratos ou de gorduras também podem causar deficiência mental. Infecções maternas e fetais (p. ex., sífilis, vírus da rubéola, toxoplasmose, citomegalovírus) e hipotireoidismo congênito comumente são associados a deficiência mental. O desenvolvimento da deficiência mental ao longo do crescimento pós-natal pode resultar de lesões ao nascimento, agentes tóxicos (p. ex., chumbo), trauma cerebral por lesões na cabeça e intoxicação. Sistema Nervoso Periférico O SNP consiste em nervos cranianos, espinais e viscerais, e os gânglios cranianos, espinais e autonômicos. O SNP se desenvolve de várias fontes, mas principalmente da crista neural. Todas as células sensoriais (somáticas e viscerais) do SNP são derivadas das células da crista neural. Os corpos celulares dessas células sensoriais estão localizados fora do SNC. Com exceção das células no gânglio espiral da cóclea e o gânglio vestibular do NC VIII (nervo vestibulococlear), todas as células sensoriais periféricas são bipolares inicialmente. Posteriormente, os dois processos se unem para formar um único processo com componentes periféricos e centrais, resultando em um tipo de neurônio unipolar. As células sensoriais nos gânglios do NC VIII permanecem bipolares. O corpo celular de cada neurônio aferente está intimamente revestido por uma cápsula de células de Schwann modificadas (células satélites), que são derivadas de células da crista neural. Essa cápsula é contínua com o neurilema (bainha de Schwann) que circunda os axônios dos neurônios aferentes. Externamente às células satélites está a camada de tecido conjuntivo, que é contínua com o endoneuro das fibras nervosas. Esse tecido conjuntivo e o endoneuro são derivados do mesênquima. Células da crista neural no encéfalo em desenvolvimento migram para formar os gânglios sensoriais somente em relação aos nervos trigêmeo, facial, vestibulococlear e vago. As células da crista neural também se diferenciam dos neurônios multipolares dos gânglios autonômicos, incluindo os gânglios dos troncos simpáticos; gânglios colaterais (pré-vertebrais) nos plexos do tórax e do abdome (p. ex., plexos cardíaco, celíaco e mesentérico); e gânglios parassimpáticos (terminais) nas/ou próximos às vísceras (p. ex., plexo submucoso ou Meissner). As células dos paragânglios (células cromafins) também são derivadas da crista neural. O termo paragânglios inclui diversos grupos de células amplamente disseminadas, que são similares de muitas formas às células medulares da glândula suprarrenal. Os grupos de células em grande parte se localizam no retroperitônio, frequentemente em associação com os gânglios simpáticos. Os corpos carótido e aórtico também apresentam pequenas ilhotas de células cromafins a eles associados. Esses grupos de células amplamente disseminados constituem o sistema cromafim. As células da crista neural também originam os melanoblastos (precursores dos melanócitos) e células da medula da glândula suprarrenal. Nervos Espinais Fibras dos nervos motores originadas da medula espinal começam a aparecer no final da quarta semana. As fibras nervosas surgem das células nas placas basais da medula espinal em desenvolvimento e emergem como uma série contínua de filamentos radiculares ao longo de sua superfície ventrolateral. As fibras destinadas a um grupo particular de músculos em desenvolvimento se arranjam em um feixe, formando uma raiz nervosa ventral. As fibras nervosas da raiz dorsal são formadas das células da crista neural que migram para o aspecto dorsolateral da medula espinal, na qual se diferenciam nas células dos gânglios espinais. Os processos centrais dos neurônios dos gânglios espinais formam um feixe único que cresce em direção à medula espinal em oposição ao ápice do corno dorsal da substância cinzenta. Os processos distais das células dos gânglios espinais crescem em direção à raiz nervosa ventral, e finalmente se unem a ele para formar um nervo espinal. Imediatamente após ser formado, um nervo espinal misto se divide nos ramos dorsais e ventrais primários. O ramo primário dorsal, a divisão menor, inerva a musculatura axial dorsal, vértebras, articulações intervertebrais posteriores e parte da pele das costas. O ramo primário ventral, a divisão principal de cada nervo espinal, contribui para a inervação dos membros e das regiões ventrolaterais da parede corporal. Os plexos nervosos principais (cervical, braquial e lombossacral) são formados pelos ramos primários ventrais. Conforme os brotos dos membros se desenvolvem, os nervos dos segmentos da medula espinal na altura do broto se alongam e crescem em direção ao membro. As fibras nervosas são distribuídas aos seus músculos, que se diferenciam das células miogênicas originadas dos somitos. A pele dos membros em desenvolvimento também é inervada em um padrão segmentar. No início do desenvolvimento, os ramos primários ventrais sucessivos são unidos por alças de conexão de fibras nervosas, especialmente aquelas que suprem os membros (p. ex., plexo braquial). A divisão dorsal dos troncos desses plexos inerva os músculos extensores e a superfície extensora dos membros. As divisões ventrais do tronco inervam os músculos flexores e a superfície flexora. Nervos Cranianos Doze pares de nervos cranianos se formam durante a quinta e a sexta semanas. São classificados em três grupos, de acordo com sua origem embrionária. Nervos Cranianos Somáticos Eferentes Os nervos IV, VI, XII e grande parte do NC III são homólogos com as raízes ventrais dos nervos espinais. As células de origem desses nervos estão localizadas na coluna eferente somática, que é derivada das placas basais do tronco encefálico. Seus axônios estão distribuídos aos músculos derivados dos miótomos da cabeça (pré-óptico e occipital). O nervo hipoglosso (NC XII) se assemelha a um nervo espinal mais do que os outros nervos cranianos somáticos eferentes. O NC XII se desenvolve pela fusão das fibras da raiz ventral de três ou quatro nervos occipitais. Estão ausentes as raízes sensoriais, que correspondem às raízes dorsaisdos nervos espinais. As fibras motoras somáticas se originam do núcleo do nervo hipoglosso, consistindo em células motoras que se assemelham àquelas do corno ventral da medula espinal. Essas fibras deixam a parede ventrolateral do bulbo em diversos grupos, as raízes do nervo hipoglosso, que convergem para formar o tronco comum do NC XII. Eles crescem rostralmente e finalmente inervam os músculos da língua, que acredita- se serem derivados dos miótomos occipitais. Com o desenvolvimento do pescoço, o nervo hipoglosso começa a se localizar em um nível progressivamente mais alto. O nervo abducente (NC VI) se origina das células nervosas da placa basal do mesencéfalo. Ele passa pela sua superfície anterior para a posterior dos três miótomos pré-ópticos dos quais se acredita que o músculo reto lateral do olho se origina. O nervo troclear (NC IV) se origina das células nervosas da coluna eferente somática na parte posterior do mesencéfalo. Embora seja um nervo motor, surge do tronco encefálico dorsalmente e passa ventralmente para suprir o músculo oblíquo superior do olho. O nervo oculomotor (NC III) supre a maior parte dos músculos do olho, incluindo os músculos reto superior, inferior, medial e oblíquo inferior. São derivados dos primeiros miótomos pré-ópticos. Nervos dos Arcos Faríngeos Os NC V, VII, IX e X inervam os arcos faríngeos embrionários. O nervo trigêmeo (NC V) é o nervo do primeiro arco, mas tem uma divisão oftálmica que não é um componente do arco faríngeo. O NC V é, sobretudo, sensorial e é o principal nervo sensorial da cabeça. O gânglio trigeminal maior se localiza abaixo da extremidade rostral da ponte, e suas células são derivadas da parte mais anterior da crista neural. Os processos centrais das células nesse gânglio formam uma grande raiz sensorial do NC V, que entra na porção lateral da ponte. Os processos periféricos das células nesse gânglio se separam em três grandes divisões (oftálmico, maxilar e mandibular). Suas fibras sensoriais inervam a pele da face e o revestimento da boca e do nariz. As fibras motoras do NC V se originam de células da parte mais anterior da coluna eferente visceral especial no metencéfalo. O núcleo motor do NC V se localiza no nível médio da ponte. As fibras deixam a ponte no local de entrada das fibras sensoriais e passam para os músculos da mastigação e outros músculos que se desenvolvem na proeminência mandibular do primeiro arco faríngeo. O núcleo mesencefálico do NC V se diferencia de células do mesencéfalo que se estendem rostralmente a partir do metencéfalo. O nervo facial (NC VII) é o nervo do segundo arco faríngeo. Consiste principalmente em fibras motoras que se originam majoritariamente de um grupo nuclear na coluna eferente visceral especial, na parte caudal da ponte. Essas fibras são distribuídas para os músculos da expressão facial e a outros músculos que se desenvolvem no mesênquima do segundo arco. O menor componente eferente visceral geral do NC VII termina nos gânglios autonômicos periféricos da cabeça. As fibras sensoriais do NC VII surgem de células do gânglio geniculado. Os processos centrais dessas células entram na ponte, e os processos periféricos passam para o nervo petroso superficial maior e, através do nervo corda do tímpano, aos corpúsculos gustativos nos dois terços anteriores da língua. O nervo glossofaríngeo (NC IX) é o nervo do terceiro arco faríngeo. Suas fibras motoras se originam da coluna eferente visceral especial e, em menor grau, da coluna eferente visceral geral da parte anterior do mielencéfalo. O NC IX se forma de diversos filamentos radiculares que se originam do bulbo quase caudal à orelha interna em desenvolvimento. Todas as fibras da coluna eferente visceral especial são distribuídas ao músculo estilofaríngeo, que é derivado do mesênquima do terceiro arco. As fibras eferentes gerais são distribuídas para o gânglio óptico, do qual as fibras pós- ganglionares passam às glândulas parótida e lingual posterior. As fibras sensoriais do NC IX são distribuídas como fibra aferente sensorial geral e visceral especial (fibras gustativas) à parte posterior da língua. O nervo vago (NC X) é formado pela fusão de nervos do quarto e do sexto arcos faríngeos. Ele possui grandes componentes viscerais eferentes e viscerais aferentes que estão distribuídos para o coração, intestino anterior e seus derivados, e uma grande parte do intestino médio. O nervo do quarto arco se torna o nervo laríngeo superior, que supre o músculo cricotireóideo e os músculos constritores da faringe. O nervo do sexto arco se torna o nervo laríngeo recorrente, que supre vários músculos laríngeos. O nervo acessório espinal (NC XI) emerge como uma série de filamentos radiculares dos segmentos cervicais craniais cinco e seis da medula espinal. As fibras da raiz cranial tradicional agora são consideradas como parte do NC X. As fibras do NC X suprem os músculos esternocleidomastóideo e trapézio. Nervos Sensoriais Especiais O nervo olfatório (NC I) surge do órgão olfatório. Os neurônios receptores olfatórios se diferenciam de células no epitélio de revestimento do saco nasal primordial. Os processos centrais dos neurônios olfatórios bipolares são recolhidos em feixes para formar aproximadamente 20 nervos olfatórios ao redor dos quais a placa cribriforme do osso etmoide se desenvolve. Essas fibras nervosas amielínicas terminam no bulbo olfatório. O nervo óptico (NCII) é formado por mais de um milhão de fibras nervosas que se desenvolvem no encéfalo de neuroblastos da retina primordial. Pelo fato de a retina se desenvolver de uma parede evaginada do prosencéfalo, o nervo óptico representa um trato de fibras do encéfalo. O nervo vestibulococlear (NC VIII) consiste em dois tipos de fibras sensoriais em dois feixes; estas fibras são conhecidas como os nervos vestibular e coclear. O nervo vestibular se origina nos ductos semicirculares, e o nervo coclear procede do ducto coclear, no qual se desenvolve o órgão espiral (de Corti). Os neurônios bipolares do nervo vestibular têm seus corpos celulares no gânglio vestibular. Os processos centrais dessas células terminam no núcleo vestibular no assoalho do quarto ventrículo. Os neurônios bipolares do nervo coclear têm seus corpos celulares no gânglio espiral. Os processos centrais destas células terminam nos núcleos coclear dorsal e ventral do bulbo. Sistema Nervoso Autônomo Sistema Nervoso Simpático Durante a quinta semana, as células da crista neural na região torácica migram ao longo de cada lado da medula espinal, na qual formam massas celulares pareadas (gânglios) dorsolaterais à aorta. Todos estes gânglios simpáticos segmentalmente organizados estão conectados a uma cadeia bilateral pelas fibras nervosas longitudinais. Esses cordões ganglionares (troncos simpáticos) estão localizados em cada lado dos corpos vertebrais. Algumas células da crista neural migram ventralmente à aorta e formam neurônios nos gânglios pré-aórticos, tais como os gânglios celíaco e mesentérico. Outras células da crista neural migram à área do coração, pulmões e trato gastrointestinal, nos quais formam gânglios terminais dos plexos simpáticos dos órgãos, localizados próximos ou dentro desses órgãos. Após os troncos simpáticos serem formados, axônios dos neurônios simpáticos, que estão localizados na coluna celular intermediolateral (corno lateral) dos segmentos toracolombares da medula espinal, passam através da raiz ventral do nervo espinal de um ramo comunicante branco para um gânglio paravertebral. Aqui eles podem realizar sinapse com neurônios ou ascender ou descender no tronco simpático para fazer sinapses em outros níveis. Outras fibras pré-sinápticas passam através dos gânglios paravertebrais sem fazer sinapse, formando os nervos esplâncnicos para as vísceras. As fibras pós- sinápticas cursam através de ramos comunicantes cinzentos, passando de um gânglio simpáticopara um nervo espinal. A sinalização pela BMP regula o desenvolvimento do sistema simpático através das vias SMAD4. Sistema Nervoso Parassimpático As fibras parassimpáticas pré-sinápticas surgem dos neurônios no tronco encefálico e na região sacral da medula espinal. As fibras do tronco encefálico saem através dos nervos oculomotor (NC III), facial (NC VII), glossofaríngeo (NC IX) e vago (NC X). Os neurônios pós-sinápticos estão localizados nos gânglios periféricos ou plexos próximos, ou dentro das estruturas inervadas (p. ex., pupila do olho, glândulas salivares). Referência: MOORE, K. L.; PERSAUD, T. V. N.; TORCHIA, M. G. Embriologia Clínica 10.Ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2016.
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