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7 Roteiro Avaliação Clínica do Coração

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO 
ESCOLA DE ENFERMAGEM DE RIBEIRÃO PRETO 
Departamento de Enfermagem Geral e Especializada - Disciplina: Semiologia e Semiotécnica 
 
ROTEIRO PARA A AULA DE AVALIAÇÃO CLÍNICA DO CORAÇÃO 
 
Anamnese: 
 
- Faixa etária (cardiopatias congênitas na infância, doença reumática na infância e na adolescência e doenças 
degenerativas em adultos e idosos). 
- Sexo (ex.: sexo feminino associa-se à menor incidência de doença coronária no período fértil, elevando-se após a 
menopausa). 
- Etnia (ex.: etnia negra redispõem a distúrbios de hemoglobina e evolução maligna da hipertensão arterial sistêmica). 
- Profissão (ex.: profissões de maior tensão emocional aumentam a probabilidade de ocorrência de doenças 
degenerativas e de hipertensão arterial sistêmica). 
- Local de nascimento, tipo de moradia (ex.: podem favorecer o desenvolvimento de afecções transmissíveis, como a 
doença de Chagas). 
- Antecedentes pessoais e familiares: alergias, imunizações, diabetes mellitus, hiperlipidemia, tabagismo, obesidade, 
estresse, hipertensão, sedentarismo, hormônios, cardiopatia (fatores de risco). 
- Tratamentos anteriores / medicamentos em uso 
- Estado nutricional: dieta usual, peso. 
- Tipo de personalidade: incapacidade de relaxar, tensão constante, explosivo. 
- Prática de atividade física: tipo, frequência, algum desconforto durante ou após a prática de atividade física. 
- Uso de tabaco/álcool: tipo, tempo de uso, quantos cigarros/dia, frequência/doses de bebida alcoólica. 
- Uso de drogas ilícitas 
- Manifestações clínicas atuais: 
 Dor ou desconforto precordial: quando começou? Qual o tempo de duração? Como é a dor (esmagamento, 
apunhalamento, queimação, aperto)? Já teve esse tipo de dor antes? Com que frequência? A dor se irradia para 
outro local? Está relacionada a alguma atividade? Quando é aliviada? Há sintomas associados (sudorese, 
palidez, falta de ar, arritmia, náusea, vômito)? Dor em veias ou artérias MMII/MMSS? Taquicardia? 
 Dispnéia: alguma falta de ar? Em qual tipo de atividade e em que intensidade desperta a falta de ar? É 
constante? Melhora ou piora de acordo com a posição? Acorda você durante a noite? A falta de ar interfere nas 
atividades da vida diária? 
 Ortopneia: quantos travesseiros você usa para dormir ou quando está deitado? 
 Tosse: tem tosse? Há quanto tempo? Qual a frequência? Está relacionada a algum momento do dia? Qual o 
tipo (seca, curta, congesta, rouca)? Elimina catarro (cor, cheiro, presença de sangue)? 
 Edema: edema nos pés e pernas? Quando começou? Ocorre em que momento do dia? O edema desaparece 
com repouso? 
 Fadiga: se cansa facilmente? Está relacionada a algum momento do dia? 
 Nictúria: acorda à noite com urgência de urinar? Há quanto tempo? 
 Síncope? 
 Cefaleia, náuseas e vômitos? 
 Cianose: avaliar mucosa oral e conjuntivas (cianose central: ocasionada pela falha na troca gasosa) e artelhos e 
membros (cianose periférica: ocasionada pela desoxigenação dos tecidos periféricos). 
 Intercorrências recentes: internações prévias, cirurgias prévias, traumas, DTS’s, transfusões, infecção viral 
recente (possível associação com miocardite). 
 
 
 
 
Exame clínico: 
Preparo do ambiente 
- Respeitar a privacidade do paciente, explicar os procedimentos a serem realizados. 
- Aquecer as mãos antes de tocar o paciente. 
Aspecto geral 
- Vestimenta 
- Sinais vitais: FC, FR, P, PA e T 
- Medidas antropométricas: peso, altura, circunferência abdominal (cintura: 80 cm para mulher e 94 cm para homem), 
espessura torácica, IMC, ICQ (perímetro da cintura em centímetros/ perímetro do quadril em centímetros: resultado 
superior a 1 em homens e a 0,8 em mulheres indica excesso de gordura abdominal e pode representar doenças 
coronarianas). 
- Atitude do paciente: observar a linguagem não-verbal (ex.: no caso do infarto do miocárdio, em que o paciente fica 
desconfortável, procurando uma posição antálgica; na pericardite a inclinação do tórax para frente alivia a dor); 
- Febre e icterícia (podem estar presentes em doenças que determinam hemólise); 
- Petéquias (podem acompanhar quadros de endocardite infecciosa); 
- Edema nos membros inferiores (insuficiência venosa); 
- Alterações tróficas (insuficiência arterial). 
 
1. INSPEÇÃO (Estática e Dinâmica) 
Panorâmica e Localizada 
 Abaulamentos: pode ser avaliado frontal ou tangencial. 
 A presença de abaulamento no precórdio pode ser indicativo de aneurisma da aorta, cardiomegalia, derrame 
pericárdico e alterações da própria caixa torácica. 
 Frêmitos 
 - estase / ingurgitamento jugular - (decúbito dorsal a 45°) 
 - pulsações epigástricas e supraesternais 
 Inspeção de veias jugulares: deve ser feita com o paciente em decúbito dorsal, com a cabeceira elevada entre 
30 e 45 graus. Duas veias jugulares podem ser identificadas – a jugular interna (se inicia no terço medial da 
clavícula e corre cranialmente até desaparecer atrás do músculo esternocleidomastóideo) e a jugular externa 
(cruza o músculo esternocleidomastóideo). Coloque os dedos indicadores sobre um segmento da veia jugular, e 
depois mova um dedo cranialmente e o outro caudalmente, mantendo uma pressão constante, assim retirando o 
sangue e fazendo com que aveia fique vazia. A seguir, retire o dedo que estiver mais próximo ao coração, 
enquanto mantém pressão na veia jugular com o outro dedo. Se a pressão venosa central estiver elevada, a veia 
se encherá de maneira retrógrada, isto é, “de baixo para cima”. 
OBS: Estase jugular (distensão jugular): pode indicar alterações no átrio direito. 
 Reflexo (ou refluxo) hepatojugular (é observado na insuficiência cardíaca direita, tamponamento cardíaco, 
insuficiência tricúspide e síndrome de veia cava inferior): deve-se exercer uma pressão sobre o abdome, região 
umbilical ou hipocôndrio direito, sendo que as veias jugulares devem ser observadas após 1 minuto de pressão, 
com o paciente respirando normalmente pela boca (a manobra de Valsalva pode causar elevação “falso-
positiva” da pressão venosa na jugular). 
1.2. Precordial 
 IC (pulso apical): choque do ápice do coração na parede torácica, representa a contração do ventrículo 
esquerdo. Pode ser percebido em cerca de 25% dos pacientes. 
- Posição do paciente: decúbito dorsal ou lateral esquerda. 
 - localização: linha hemiclavicular com 5º espaço intercostal; 
 - extensão: normal (1 a 2 polpas digitais) ou difuso (>); 
 - mobilidade: 1 a 2 cm em diferentes posições ou fixo; 
 - intensidade: média / propulsivo (eleva a mão que o palpa). 
 Pulsações 
- Em decúbito dorsal: pode ser percebido no 4º ou 5º espaço intercostal esquerdo, na linha hemiclavicular. 
- Em decúbito lateral esquerdo: pode sofrer um deslocamento de cerca de 2 cm, lateralmente, em direção a 
axila. 
Tamanho – normalmente 2 a 2,5 cm ( ou duas polpas digitais) 
Amplitude – normalmente uma sensação curta e suave 
Duração – curta 
 
2. PALPAÇÃO 
 A palpação é realizada para a avaliação do IC, do ventrículo direito, da artéria pulmonar e dos movimentos 
ventriculares esquerdos. É realizada em geral com a eminência hipotênar e tênar da mão, com a finalidade de localizar 
frêmitos (sensação tátil de um sopro) e suas irradiações ou bulhas palpáveis. É realizada na região paresternal esquerda, 
com a mão do examinador em direção à base do coração e ao longo do quinto espaço intercostal, em direção à linha 
axilar anterior. 
 Palpação do IC: decúbito dorsal, tórax descoberto, respiração tranquila 
- IC com diâmetro maior que 2 cm provavelmente é anormal indicando cardiomegalia; 
- IC desviado inferiormente (abaixo do quinto espaço intercostal) e/ou lateralmente (em relação à linha 
hemiclavicular) sugere aumento das câmaras cardíacas. 
- O examinador deve ficar do lado direito do paciente, com o leito em um nível que seja confortável para o 
examinador. A palpação do IC é mais facilmente realizada com o paciente na posição sentada. Apenasas pontas 
dos dedos devem ser aplicadas ao tórax no quinto espaço intercostal, linha hemiclavicular, pois elas são as mais 
sensíveis para a avaliação de um movimento localizado. O IC deve ser anotado. Se o impulso apical não for 
palpado, o examinador deve mover as pontas dos dedos para a área do ápice cardíaco. O IC geralmente encontra-se 
até 10 cm a partir da linha mesoesternal e não é maior do que 2 a 3 cm de diâmetro (o aumento pode indicar 
dilatação do ventrículo esquerdo). 
 Palpação do IC do ventrículo direito: ocasionalmente, durante a palpação da borda esternal esquerda, pode-se 
sentir um impulso sistólico, que geralmente se estende por vários espaços intercostais e indica hipertrofia e/ou 
dilatação do ventrículo direito. 
 Certifique-se de que suas mãos estejam aquecidas. Com o paciente em posição supina, utilizando as metades 
proximais dos quatro dedos, toque suavemente o precórdio procurando sentir os movimentos cardíacos. 
Comece pelo ápice, movendo-se para a borda esquerda do esterno, em seguida, passar para a base, indo para a 
borda esternal direita e na região epigástrica ou axilas. Enquanto palpa o precórdio, use a outra mão para 
palpar a artéria carótida, assim é possível descrever o pulso carotídeo em relação ao ciclo cardíaco. 
 Dificuldades de palpar: pacientes obesos com tórax muito espesso, musculatura muito desenvolvida e em casos 
de grandes mamas. 
 
3. PERCUSSÃO 
A percussão é usada para delinear as bordas do coração, mas em grande parte tem sido substituída pelo estudo 
radiológico do tórax. 
 Posição: decúbito dorsal; 
 Tórax descoberto; 
 Percutir face anterior do tórax, de cima para baixo, junto à borda E do esterno, em linhas paralelas ao esterno 
até linha hemiclavicular; 
 Geralmente se observa som maciço no tórax na região de projeção do coração (T.esquerdo). 
 
4. AUSCULTA 
- Ambiente da ausculta: deve ser silencioso, pois os ruídos cardíacos são de pequena intensidade e para ouvi-los é 
necessário completo silêncio. 
- Posição do paciente: decúbito dorsal, sentado ligeiramente para a frente e em decúbito lateral esquerdo (área mitral). 
- Instrução do paciente de maneira adequada: as solicitações feitas ao paciente devem ser claras. 
- Técnica: escolha correta do estetoscópio. 
- Aplicação correta do estetoscópio: deve-se pousar de forma correta a campânula (em ruídos 
 de baixa frequência) ou diafragma sobre a pele (em toda área). 
 
 Ausculta direta ou indireta (estetoscópio) 
SONS: 
- Bulhas: identificar as bulhas presentes; frequência; ritmo - binário 
- Comparar FC com FP radial (déficit de pulso) 
- Estalidos e cliques cardíacos- ruídos anormais apresentados pela abertura das válvulas (sons de timbre agudo, seco e 
de curta duração) 
- Atrito pericárdico (roçar dos folhetos pericárdicos) (atrito do coração contra um pericárdio inflamado) 
- Sopros: por vibrações decorrentes de alterações do fluxo sanguíneo (normal = laminar) 
 
LOCAIS DE AUSCULTA CARDÍACA: 
 Área valvar aórtica: segundo espaço intercostal direito; 
 Área valvar pulmonar: segundo espaço intercostal esquerdo; 
 Área valvar tricúspide: borda esternal esquerda inferior; 
 Área valvar mitral: quinto espaço intercostal próximo da linha hemiclavicular esquerda. 
OBS: Não limite a ausculta somente às 4 localizações. Os ruídos produzidos pelas valvas podem ser auscultados em 
todo o precórdio. O estetoscópio deve ser movido na forma de um Z, desde a base do coração, transversalmente e para 
baixo, depois sobre o ápice. Ou comece no ápice e desloque-o para cima. 
 
Bulhas cardíacas: avaliá-las quanto à fonese: normofonese, hipofonese, hiperfonese 
 
 Primeira bulha cardíaca (B1 – TUM): 
- Causada pelo fechamento V. Mitral e Tricúspide; 
- Assinala o início da sístole; 
- Coincide com o IC e com o pulso carotídeo; 
- É de timbre mais grave; 
- O tempo de duração é maior que B2; 
- É possível escutá-la em todo o precórdio, embora seja mais audível no foco mitral. 
 
 Segunda bulha cardíaca (B2 – TÁ): 
- Está associada ao fechamento das V. Aórtica e Pulmonar (final da sístole e início da diástole). 
- É possível auscultá-la com o diafragma, em todo o precórdio, embora seja mais alta no foco aórtico. 
- Podem estar desdobrados ou não; 
- Aparece após um breve silêncio após B1; 
- Seu timbre é mais agudo, soa mais seca. 
 
 Terceira bulha cardíaca (B3 - TU) (ocorre no período de enchimento ventricular rápido): 
- Ruído protodiastólico de baixa frequência; 
- É observada normalmente em crianças e adultos jovens; 
- É melhor auscultada no foco Mitral com o cliente em DLE (campânula); 
 
 Quarta bulha cardíaca (B4): 
- É um ruído débil; 
- Ausculta-se ao final da diástole; 
- Raramente presente em crianças ou adultos jovens e sadios. 
 
 Sopros: ruído que ocorre com fluxo sanguíneo turbulento no coração ou grandes vasos. 
- Verificar se o sopro ocorre no início, meio ou final da sístole ou da diástole; descrever a intensidade (quase 
inaudível, raramente inaudível, alto, muito alto). 
- Avaliar: situação no ciclo cardíaco, localização, intensidade, timbre e tonalidade, modificações com respiração ou 
posição.

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