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DIREITO PROCESSUAL CIVIL- JULGAMENTO ANTECIPADO DE MÉRITO

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL- JULGAMENTO ANTECIPADO DE MÉRITO
No contexto do julgamento antecipado de mérito, o juiz tem a capacidade de decidir o mérito do caso quando não há mais nenhuma ação necessária. Isso ocorre em situações em que não é mais necessário produzir evidências ou quando o réu é revel (não apresenta defesa) e não há requerimentos adicionais de provas. Basicamente, o juiz resolve o mérito quando não há mais nada a ser feito no procedimento.
É importante destacar que esse tipo de julgamento não é verdadeiramente antecipado, pois ocorre no momento apropriado. Não é uma abreviação do procedimento, mas sim a conclusão do procedimento quando todas as etapas necessárias já foram cumpridas. Se houver requerimentos de provas, o juiz não pode julgar o caso improcedente por falta de provas, a menos que essas provas tenham sido solicitadas de maneira inadequada ou desnecessária.
Uma novidade do Código de Processo Civil é o julgamento antecipado parcial, que permite ao juiz decidir uma parte do mérito, não todo o mérito, para acelerar o processo. Isso é útil quando uma parte do mérito pode ser resolvida imediatamente, seja porque não é contestada (incontroversa) ou porque pode ser julgada sem a necessidade de mais provas. Essa decisão parcial é uma maneira de melhorar a eficiência da jurisdição.
No que se refere ao saneamento do processo, esta etapa ocorre quando o julgamento antecipado não é possível ou não resolve o processo como um todo. O juiz toma várias medidas para organizar o processo daqui para frente:
1. Resolução de questões processuais pendentes, se houver.
2. Delimitação das questões de fato sobre as quais recairá a atividade probatória, especificando os meios de prova admitidos.
3. Definição da distribuição do ônus da prova, observando o artigo 373 do CPC.
4. Identificação das questões de direito relevantes para a decisão de mérito.
Além disso, o juiz pode designar a audiência de instrução e julgamento, se necessário. Essa audiência só é realizada quando as provas precisam ser apresentadas diante do julgador, como no sistema de common law. No Brasil, a audiência de instrução e julgamento é uma etapa essencial apenas se for necessária para a apresentação de provas.
O pedido de esclarecimentos ao juiz após o saneamento não é um recurso, mas as partes têm o direito de solicitar ajustes ou esclarecimentos. Se houver pedido de esclarecimento, o prazo para o recurso começa a contar após a solução do pedido. Se não houver pedido de esclarecimento, o prazo de recurso começa a contar após o término dos cinco dias.
Essas etapas visam tornar o processo mais eficiente, evitando surpresas e garantindo que as partes estejam cientes das questões que serão discutidas no processo. Além disso, a distribuição do ônus da prova é definida antecipadamente, ajudando a organizar a fase probatória. O objetivo é promover uma cooperação eficaz entre as partes e o tribunal no processo.
O principal desafio em relação ao saneamento, que já foi tema de uma renomada monografia do professor gaúcho Galeno Lacerda, amplamente conhecido por seu trabalho no campo do saneamento, é a sua implementação. Tomar essa decisão requer um grande esforço, pois muitas vezes os juízes relutam em conduzir o saneamento, preferindo otimizar seu trabalho para outras questões. Esse dilema tem sido uma fonte contínua de discussão, dividindo aqueles que veem o saneamento como uma solução ideal, enquanto juízes podem considerá-lo uma perda de tempo com custo-benefício insuficiente, alegando que há outras prioridades no processo.
Contudo, recentemente, houve desenvolvimentos legislativos notáveis, como o §2º do art. 357 do Código de Processo Civil, que permite às partes realizar um saneamento consensual e apresentá-lo ao juiz para homologação. Essa disposição coloca parte da responsabilidade nas mãos das partes, desafiando a visão de que o saneamento é exclusivamente uma incumbência dos juízes. Isso representa um negócio processual típico e permite que as partes determinem vários aspectos do saneamento, incluindo o direito aplicável e um calendário processual.
No entanto, persistem dúvidas sobre o grau de vinculação do juiz aos acordos processuais das partes. Enquanto os negócios processuais do artigo 190 não requerem homologação judicial, o saneamento precisa ser submetido ao juiz e homologado, criando uma conexão mais sólida.
Outra inovação notável é a possibilidade de um "saneamento conjunto" no §3º do artigo 357, onde juiz e partes conduzem o saneamento juntos, permitindo discussões e esclarecimentos em audiência. Essa abordagem pode ser especialmente benéfica em casos complexos, já que proporciona uma oportunidade para delinear o saneamento de forma mais eficaz.
Ainda há discussões em andamento sobre a preclusão do saneamento, ou seja, se o juiz pode redecidir questões que foram resolvidas durante esse processo. A jurisprudência predominantemente afirma que não há preclusão, permitindo que o juiz reavalie decisões anteriores, mas isso ainda é objeto de debate.
Em resumo, o saneamento desempenha um papel fundamental na organização do processo, apesar das controvérsias sobre sua implementação e eficácia. A busca pela verdade e a convicção do juiz, os estandartes probatórios e o objeto da prova também foram discutidos, fornecendo uma visão geral da importância da prova no sistema jurídico.
Inciso III - Fatos incontroversos, desde que a lei não proíba a incontrovérsia. No entanto, é importante observar que a incontrovérsia é proibida em situações especificadas no artigo 341 do CPC. Fatos incontroversos são aqueles que não exigem prova.
Inciso IV - Fatos presumidos. No entanto, é essencial notar que a presunção de veracidade da declaração de pobreza ou de hipossuficiência econômica é relativa. A parte contrária tem o ônus de provar a falsidade da declaração. Quando alguém apresenta uma declaração dessas, presume-se que seja verdadeira, mas essa presunção é relativa e pode ser refutada.
A produção de provas é um direito e um dever das partes. A parte tem o direito de produzir provas para sustentar suas alegações, mas também tem o dever de fazê-lo, uma vez que não produzir a prova necessária pode resultar em prejuízo para seus interesses no processo. A produção de provas é essencial para o contraditório e a busca pela verdade no processo.
A produção de provas pode ser vista como um dever, especialmente quando o juiz determina a produção de provas, e a parte não pode se recusar, exceto em casos em que isso possa incriminá-la em questões criminais.
A prova pode ser classificada em direta e indireta, pessoal e real:
· Prova direta incide diretamente sobre o fato probando, enquanto a prova indireta requer inferências para chegar ao fato probando.
· Prova pessoal decorre das afirmações de uma pessoa, como testemunhas, enquanto a prova real decorre da análise de objetos, documentos e coisas.
Não há hierarquia entre esses tipos de provas, e sua aceitação e confiabilidade dependerão das circunstâncias do caso.
A análise das provas pelo juiz deve levar em consideração as regras da experiência comum e, quando aplicável, as regras da experiência técnica. O juiz presume que o que é ordinário acontece e que o que é extraordinário requer mais provas. Quanto às provas técnicas, o juiz deve se basear nas regras da experiência técnica, mas a relação entre juízes leigos e peritos pode ser complexa, exigindo cuidadosa consideração. Portanto, o juiz desempenha um papel crucial na análise de todas as provas apresentadas no processo.
3.4.2 - Ônus da Prova: Novas Perspectivas e Princípios Relativos à Atividade Probatória
Olá a todos, estamos de volta para continuar nossa discussão sobre a fase probatória. Agora, vamos explorar os conceitos de ônus da prova, suas inversões e os princípios relacionados à atividade probatória. Isso proporcionará uma visão mais clara e abrangente desse tema fundamental no processo civil.
3.4.2 - Ônus da Prova:
Como já mencionado, o ônus da prova é um conjunto de regras que desempenha um papel crucial no processo civil, atribuindo responsabilidadesàs partes no que diz respeito à produção e comprovação das alegações. Essas regras têm dois principais propósitos:
1. Definir o ônus da inesclarecibilidade: Em casos onde um fato não pode ser provado, o ônus da prova determina quem arcará com as consequências dessa falta de comprovação. Isso é fundamental para a justiça e a tomada de decisão.
2. Orientar as partes: As regras do ônus da prova orientam as partes, indicando quais fatos elas devem provar. Se uma parte não consegue provar os fatos que a beneficiariam, suas reivindicações podem ser prejudicadas.
As regras básicas para o ônus da prova no Brasil estabelecem que o autor deve alegar e provar os fatos que constituem seu direito, enquanto o réu deve alegar e provar fatos impeditivos, modificativos ou extintivos desse direito. No entanto, o legislador percebeu que essas regras podem não funcionar adequadamente em todos os casos, especialmente quando partes são vulneráveis ou enfrentam dificuldades na produção de provas.
3.4.2.1 - Inversão do ônus da prova:
Uma das primeiras regras de inversão do ônus da prova foi estabelecida no artigo 6º, inciso VIII, do Código de Defesa do Consumidor (CDC). Essa regra permite a inversão do ônus da prova em casos de consumo quando o juiz considerar verossímil a alegação do consumidor ou quando o consumidor for hipossuficiente, ou seja, quando não tiver acesso às provas necessárias. Importante notar que a inversão pode ocorrer com base na verossimilhança ou na hipossuficiência, não sendo necessário ambos os critérios. O juiz deve avaliar cada caso individualmente.
É crucial não confundir a inversão do ônus da prova com situações em que a própria lei atribui o ônus da prova de maneira diferente da regra padrão. Por exemplo, o artigo 38 do CDC estabelece que o ônus da prova da veracidade e correção de informações publicitárias recai sobre quem as patrocina. Isso não é uma inversão, pois a regra já está na própria lei.
Além disso, o Código de Processo Civil (CPC) também prevê a possibilidade de inversão do ônus da prova, mas com critérios mais rigorosos. Isso pode ocorrer nos casos previstos em lei ou quando as peculiaridades do caso demonstrarem que a prova é excessivamente difícil ou impossível de ser produzida pelo seu detentor original.
3.4.2.2 - Alteração consensual do ônus da prova:
As partes podem, antes ou durante o processo, estabelecer um acordo consensual para alterar o ônus da prova. Isso pode ser aplicado a direitos disponíveis, não indisponíveis, desde que não torne excessivamente difícil para uma das partes o cumprimento desse encargo probatório. Esse tipo de acordo é geralmente feito fora do contexto de um litígio, uma vez que raramente as partes têm incentivos para assumir o ônus da prova durante o curso do processo.
3.4.2.3 - Poderes do Juiz na produção de provas:
O artigo 370 do CPC estabelece que cabe ao juiz, de ofício ou a pedido das partes, determinar as provas necessárias para o julgamento do mérito. Isso significa que o juiz tem a autoridade para solicitar a produção de qualquer tipo de prova que seja relevante para o caso. Isso ocorre porque é responsabilidade do juiz proferir uma sentença baseada em fatos esclarecidos, mesmo que isso implique a necessidade de novas provas. Isso não deve ser interpretado como uma intervenção excessiva do juiz, pois as partes ainda têm o direito de se manifestar sobre as provas a serem produzidas.
3.4.2.4 - Princípios relativos à atividade probatória:
a) Princípio da Comunhão da Prova: O juiz avalia as provas independentemente do sujeito que as produziu no processo, indicando as razões para seu convencimento. Isso implica que a prova é do processo, e não de uma parte específica.
c) Princípio da Atipicidade dos Meios de Prova: O CPC prevê meios de prova regulamentados, mas isso não impede a utilização de outros meios, desde que sejam relevantes para o caso, mesmo que não haja regulamentação específica.
d) Princípio da Proibição da Prova Ilícita: Embora a discussão sobre prova ilícita seja mais comum no processo penal, a distinção entre prova ilícita e ilegítima é importante no processo civil. A discussão gira em torno da possibilidade de exceções à regra que proíbe provas ilícitas, especialmente em casos que envolvem direitos fundamentais e questões sensíveis, como ações de família.
É importante observar que, embora as discussões sobre prova ilícita no processo civil sejam menos frequentes do que no processo penal, os princípios e as diretrizes aplicados no processo penal também têm relevância na esfera civil, especialmente quando as partes e os juízes precisam equilibrar a proibição de provas ilícitas com a busca pela justiça e equidade.
Assim, esses princípios e regras relacionados ao ônus da prova, à produção probatória e à avaliação de provas desempenham um papel fundamental no sistema de justiça civil, garantindo que as partes tenham a oportunidade de apresentar suas alegações e que o juiz possa decidir com base em fatos esclarecidos e justos.
Vamos continuar nossa discussão, agora abrindo espaço para perguntas e comentários. Quais são as suas dúvidas ou reflexões sobre o ônus da prova, as inversões e os princípios relacionados à atividade probatória no processo civil brasileiro?

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