Buscar

DOENCA X ENFERMIDADE

Prévia do material em texto

119
IN
T
R
O
D
U
Ç
Ã
O
O
s term
o
s “d
o
ença” e “enferm
id
ad
e” são
 usad
o
s p
o
r antro
p
ó
lo
go
s m
éd
ico
s p
ara 
descrever as diferentes perspectivas da saúde debilitada por parte de m
édicos e seus 
p
acientes. A
 d
istinção
 analítica entre o
s d
o
is term
o
s já fo
i em
p
reend
id
a p
o
r vário
s 
auto
res (Fo
x 1968; Fab
rega 1973, 1975; E
isenb
erg 1977; C
assell 1978; K
leinm
an 
e
t 
a
l. 1978; K
leinm
an 1980); aind
a sim
, eles não
 são
 entid
ad
es sep
arad
as, m
as 
co
nceito
s o
u m
o
d
elo
s exp
licativo
s q
ue, em
 certa m
ed
id
a, se so
b
rep
õ
em
. C
o
m
o
 
E
isenb
erg no
to
u, tais m
o
d
elo
s são
 fo
rm
as d
e co
nstruir a realid
ad
e, d
e im
p
o
r sentid
o
 
so
b
re o
 cao
s d
o
 m
und
o
 feno
m
eno
ló
gico
. N
o
 caso
 d
a saúd
e d
eb
ilitad
a, o
s m
o
d
elo
s 
explicativos que os pacientes usam
 para explicar o que aconteceu e que determ
inam
 
seu co
m
p
o
rtam
ento
 talvez tenham
 p
o
uca relação
 co
m
 aq
ueles d
a p
ro
fissão
 m
éd
ica 
(S
no
w
 e Jo
hnso
n 1977; H
elm
an 1978, 1980; K
leinm
an e
t a
l. 1978; S
no
w
 e
t a
l. 1978; 
B
laxter e P
aterso
n 1980); isto
 talvez guard
e im
p
o
rtantes im
p
licaçõ
es clínicas. 
D
O
E
N
Ç
A
 (D
IS
E
A
S
E
)
N
o paradigm
a científico da m
edicina m
oderna, doença se refere às anorm
alidades da 
estrutura e função dos órgãos e sistem
as corporais (Eisenberg 1977). D
oenças são as 
cham
adas entidades patológicas que com
põem
 o m
odelo m
édico de saúde debilitada, 
co
m
o
 d
iab
etes e tub
erculo
se, e q
ue p
o
d
em
 ser esp
ecificam
ente id
entificad
as e 
descritas pela referência a certa evidência biológica, quím
ica ou outra. D
e certa form
a, 
d
o
enças são
 vistas co
m
o
 “co
isas” ab
stratas o
u entid
ad
es ind
ep
end
entes q
ue têm
 
propriedades específicas e um
a identidade recorrente em
 qualquer configuração em
 
q
ue p
o
ssam
 ap
arecer. Isto
 é, assum
e-se q
ue elas sejam
 universais em
 sua fo
rm
a, 
p
ro
gresso
 e co
nteúd
o
. A
 etio
lo
gia, sinto
m
as e sinais, histó
ria natural, tratam
ento
 e 
Doença versus Enferm
idade na Clínica Geral
1
C
ecil G
. H
elm
an
C
línico G
eral, Stanm
ore, 
M
iddlesex, pesquisador 
assistente honorário em
 
Antropologia, U
niversidade 
de C
ollege, Londres
C
am
pos 10(1):119-128, 2009.
120
C
ecil G
. H
elm
an
TRADUÇÃO
p
ro
gnó
stico
 são
 co
nsid
erad
o
s co
m
o
 sim
ilares em
 q
ualq
uer ind
ivíd
uo
, cultura o
u grup
o
 em
 q
ue o
co
rram
 (Fab
rega 
1973; E
isenb
erg 1977; C
assell 1978; K
leinm
an 1980). A
 universalid
ad
e d
a fo
rm
a d
e um
a d
o
ença está relacio
nad
a 
com
 as definições do m
odelo m
édico de saúde e norm
alidade. Em
 m
uitos casos, assum
e-se que a norm
alidade pode 
ser d
efinid
a p
ela referência a certo
s p
arâm
etro
s físico
s e b
io
q
uím
ico
s, co
m
o
 altura, p
eso
, nível d
e hem
o
glo
b
ina, 
co
ntagem
 sanguínea, nível d
e eletró
lito
s e ho
rm
ô
nio
s, p
ressão
 sanguínea, ritm
o
 card
íaco
 e assim
 p
o
r d
iante. P
ara 
cad
a m
ed
id
a, há um
a faixa num
érica d
entro
 d
a q
ual o
 ind
ivíd
uo
 é saud
ável e no
rm
al. D
o
ença é freq
uentem
ente 
vista co
m
o
 um
 d
esvio
 d
estes valo
res no
rm
ais e aco
m
p
anhad
a p
o
r ano
rm
alid
ad
es na estrutura o
u função
 d
o
s 
ó
rgão
s o
u sistem
as co
rp
o
rais. A
sp
ecto
s d
a p
erso
nalid
ad
e, co
m
o
 a inteligência, tam
b
ém
 p
o
d
em
 ser q
uantificad
o
s 
d
entro
 d
e um
a faixa num
érica d
e no
rm
alid
ad
e, co
m
o
 o
s testes d
e Q
I. P
o
r exem
p
lo
, o
 m
o
d
elo
 d
e d
o
ença p
ressup
õ
e 
q
ue a d
iab
etes em
 um
 p
aciente d
e M
anchester é a m
esm
a d
iab
etes em
 um
 ho
m
em
 d
e um
a trib
o
 d
a N
o
va G
uiné. 
E
nq
uanto
 seus níveis d
e glico
se no
 sangue p
o
d
em
 ser id
êntico
s, o
 significad
o
 d
e d
o
ença p
ara o
s p
acientes e as 
estratégias q
ue eles ad
o
tam
 p
ara lid
ar co
m
 ela p
o
d
em
 ser m
uito
 d
iferentes no
s d
o
is caso
s. O
 m
o
d
elo
 d
e d
o
ença 
não
 co
nsegue lid
ar co
m
 tais fato
res p
esso
ais, culturais e so
ciais d
a saúd
e d
eb
ilitad
a, q
ue são
 m
elho
r p
erceb
id
o
s 
a p
artir d
a p
ersp
ectiva d
a enferm
id
ad
e.
 E
N
F
E
R
M
ID
A
D
E
 (ILLN
E
S
S
)
C
assell (1978) usa “enferm
id
ad
e” co
m
o
 “o
 q
ue o
 p
aciente sente q
uand
o
 ele vai ao
 m
éd
ico
” e “d
o
ença” co
m
o
 “o
 q
ue 
o
 p
aciente tem
 ao
 vo
ltar p
ara casa d
o
 co
nsultó
rio
 m
éd
ico
. D
o
ença, então
, é algo
 q
ue um
 ó
rgão
 tem
; enferm
id
ad
e é 
algo
 q
ue um
 ho
m
em
 tem
”. E
nferm
id
ad
e se refere à resp
o
sta sub
jetiva d
o
 p
aciente ao
 fato
 d
e não
 estar b
em
; co
m
o
 
ele e aq
ueles ao
 seu red
o
r p
erceb
em
 a o
rigem
 e o
 significad
o
 d
esse evento
; co
m
o
 isso
 afeta seu co
m
p
o
rtam
ento
 
o
u relacio
nam
ento
s co
m
 o
utras p
esso
as; e o
s p
asso
s q
ue ele to
m
a p
ara rem
ed
iar essa situação
 (E
isenb
erg 1977; 
K
leinm
an e
t a
l. 1978, 1980). E
nferm
id
ad
e inclui não
 so
m
ente sua exp
eriência d
e saúd
e d
eb
ilitad
a, m
as o
 significad
o
 
q
ue ele co
nfere àq
uela exp
eriência. 
E
nferm
id
ad
e, p
o
rtanto
, é a p
ersp
ectiva d
o
 p
aciente so
b
re sua saúd
e d
eb
ilitad
a, a p
ersp
ectiva q
ue é m
uito
 
d
iferente d
o
 m
o
d
elo
 d
e d
o
ença. E
la d
ep
end
e d
e um
 núm
ero
 d
e fato
res. Fo
x (1968) no
to
u q
ue: “as p
articularid
ad
es 
e nuances d
o
 significad
o
 em
o
cio
nal d
e um
a enferm
id
ad
e p
ara um
 ind
ivíd
uo
 e a natureza d
e sua resp
o
sta afetiva ao
 
seu estad
o
 e sinto
m
as são
 p
ro
fund
am
ente influenciad
o
s p
elo
 seu b
a
c
k
g
ro
u
n
d so
cial e cultural, assim
 co
m
o
 p
elo
s 
seus traço
s d
e p
erso
nalid
ad
e”. A
té m
esm
o
 resp
o
stas p
ara sinto
m
as físico
s, co
m
o
 a d
o
r, p
o
d
em
 ser influenciad
as 
p
elo
s fato
res so
ciais e culturais (Z
b
o
ro
w
ski 1952); estes fato
res p
o
d
em
, p
o
r sua vez, afetar a ap
resentação
 d
o
s 
sinto
m
as e d
o
 co
m
p
o
rtam
ento
 d
o
 p
aciente e sua fam
ília (G
uttm
acher e E
linso
n 1971; C
hrism
an 1977). 
M
O
D
E
LO
S
 P
O
P
U
LA
R
E
S
 D
E
 E
N
F
E
R
M
ID
A
D
E
A
s teorias populares sobre as causas da saúde debilitada são parte de m
odelos conceituais m
uito m
ais am
plos usados 
p
ara exp
licar a info
rtúnio
 em
 geral (Fab
rega 1973; H
elm
an 1980). E
nferm
id
ad
e é ap
enas um
a fo
rm
a esp
ecializad
a 
121 TRADUÇÃO
D
o
ença versus E
nferm
id
ad
e na clínica geral
d
e info
rtúnio
 o
u m
á so
rte d
entro
 d
esse m
o
d
elo
 m
aio
r. A
ssim
, ela co
m
p
artilha d
as d
im
ensõ
es p
sico
ló
gicas, m
o
rais 
e so
ciais asso
ciad
as co
m
 o
utras fo
rm
as d
e ad
versid
ad
e, esp
ecialm
ente ao
 resp
o
nd
er à p
ergunta: “P
o
r q
ue isso
 
aco
nteceu co
m
igo
?”. 
D
iante d
e um
 ep
isó
d
io
 d
e saúd
e d
eb
ilitad
a, p
acientes tentam
 exp
licar o
 q
ue aco
nteceu, p
o
r q
ue aco
nteceu 
e d
ecid
ir o
 q
ue fazer a esse resp
eito
. A
 fo
rm
a d
a enferm
id
ad
e e o
 co
m
p
o
rtam
ento
 d
o
 p
aciente – e d
aq
ueles ao
 seu 
red
o
r – d
ep
end
erão
 d
as resp
o
stas d
ad
as às seis p
erguntas seguintes: 
O
 q
ue aco
nteceu? 
P
o
r q
ue aco
nteceu? 
P
o
r q
ue co
m
igo
? 
P
o
r q
ue ago
ra? 
O
 q
ue aco
nteceria se nad
a fo
sse feito
 a resp
eito
? 
O
 q
ue eu d
everia fazer so
b
re isso
 – o
u q
uem
 eu d
everia co
nsultar em
 b
usca d
e ajud
a? 
C
o
m
o
 as p
erguntas são
 resp
o
nd
id
as e o
 co
m
p
o
rtam
ento
 q
ue se segue co
nstituem
 um
 “m
o
d
elo
 p
o
p
ular d
e 
enferm
id
ad
e”. 
N
ão há som
ente um
 m
odelo popular, m
as m
uitos deles. D
e certa form
a, cada paciente tem
 seu próprio m
odelo
 
leigod
e so
frim
ento
 e o
 q
ue fazer so
b
re a m
esm
o
, em
b
o
ra um
 m
o
d
elo
 p
o
p
ular p
articular p
o
ssa ser co
m
p
artilhad
o
 
p
o
r um
a fam
ília, um
a área o
u um
 grand
e grup
o
 d
e p
esso
as (S
no
w
 e Jo
hnso
n 1977; H
elm
an 1978). C
hrism
an 
(1977) e D
ingw
all (1977) ap
o
ntam
 q
ue tais m
o
d
elo
s fo
lk – m
esm
o
 q
ue b
asead
o
s em
 p
rem
issas cientificam
ente 
falsas – p
o
d
em
 ter um
a ló
gica e co
erência internas e d
evem
 ser levad
o
s a sério
 p
elo
 clínico
 p
o
r serem
 as fo
rm
as 
co
m
 as q
uais o
 p
aciente tenta d
ar sentid
o
 e lid
ar co
m
 a sua saúd
e d
eb
ilitad
a no
s term
o
s d
e sua p
ró
p
ria visão
 d
a 
realid
ad
e. A
s resp
o
stas às seis p
erguntas d
eterm
inam
 co
m
o
 essa m
á saúd
e é interp
retad
a e co
m
o
 se lid
a co
m
 
ela. P
o
r exem
p
lo
: 
1. O
 q
u
e
 a
c
o
n
te
c
e
u
? “E
u p
eguei um
a grip
e”. Isso
 inclui no
m
ear a co
nd
ição
 o
u lhe atrib
uir um
a id
entid
ad
e 
d
entro
 d
o
 q
uad
ro
 leigo
 d
e referências e aninhad
o
 em
 seu p
ró
p
rio
 vo
cab
ulário
. M
esm
o
 q
ue term
o
s em
p
restad
o
s d
o
 
m
o
d
elo
 m
éd
ico
 (co
m
o
 “vírus”) sejam
 usad
o
s p
elo
s p
acientes, p
o
d
em
 ser co
nceitualizad
o
s d
e um
a fo
rm
a d
iferente 
(H
elm
an 1978). 
2, 3 e 4. P
o
r q
u
e
 a
c
o
n
te
c
e
u
?
 P
o
r q
u
e
 c
o
m
ig
o
?
 P
o
r q
u
e
 a
g
o
ra
? “P
o
rq
ue eu saí na chuva d
ep
o
is d
e um
 b
anho
 
q
uente, q
uand
o
 eu estava m
e sentind
o
 p
ara b
aixo
”. Isto
 inco
rp
o
ra teo
rias leigas d
e etio
lo
gia b
asead
as em
 crenças 
sobre a causação da enferm
idade e a estrutura e funcionam
ento do corpo hum
ano. Fisher (1968) e S
now
 e Johnson 
(1977) notaram
 que as crenças populares sobre o corpo podem
 ter pouca relação com
 aquelas da profissão m
édica. 
C
hrism
an (1977) o
b
serva q
uatro
 catego
rias co
m
uns d
e etio
lo
gia d
entro
 d
o
 m
o
d
elo
 p
o
p
ular d
e enferm
id
ad
e: 
In
v
a
s
ã
o, co
m
o
 um
 “germ
e”, “câncer”, “algum
a co
isa q
ue eu co
m
i” o
u a intrusão
 d
e um
 o
b
jeto
; 
D
e
g
e
n
e
re
s
c
ê
n
c
ia, co
m
o
 “estar m
o
íd
o
” o
u acum
ulação
 d
e “to
xinas”;
M
e
c
â
n
ic
o, co
m
o
 “b
lo
q
ueio
” d
o
 trato
 gastro
intestinal o
u d
as artérias;
B
a
la
n
ç
o, com
o m
anter “um
a dieta apropriada”, “vitam
inas suficientes”, “sono suficiente”, assim
 com
o m
anter 
a harm
o
nia na vid
a e no
s relacio
nam
ento
s d
o
 p
aciente. 
122
C
ecil G
. H
elm
an
TRADUÇÃO
E
stas quatro categorias etiológicas tendem
 a se sobrepor. H
á, usualm
ente, um
 c
o
n
tin
u
u
m
 das crenças leigas, 
d
esd
e crenças m
ais trad
icio
nais até aq
uelas m
ais científicas, d
erivad
as d
o
 m
o
d
elo
 m
éd
ico
. 
5. O
 q
u
e
 a
c
o
n
te
c
e
ria
 s
e
 n
a
d
a
 fo
s
s
e
 fe
ito
 a
 re
s
p
e
ito
?
 “Poderá descer para m
eu peito”. A
qui, incluem
-se crenças 
p
o
p
ulares so
b
re o
 significad
o
, p
ro
gnó
stico
 e p
ro
vável histó
ria natural d
a co
nd
ição
. 
6. O
 q
u
e
 d
e
v
o
 fa
z
e
r s
o
b
re
 is
s
o
 –
 o
u
 q
u
e
m
 d
e
v
o
 c
o
n
s
u
lta
r e
m
 b
u
s
c
a
 d
e
 a
ju
d
a
?
 “T
o
m
ar um
a asp
irina” o
u “Ligar 
p
ara o
 m
éd
ico
”. E
ssa estratégia o
u co
m
p
o
rtam
ento
 d
e saúd
e d
eco
rre lo
gicam
ente d
o
 m
o
d
elo
 anterio
r. C
o
m
 b
ase 
nestas p
rem
issas, o
s p
acientes p
o
d
em
 agir d
e várias m
aneiras: 
a) A
u
to
m
e
d
ic
a
ç
ã
o. V
ários estudos m
ostram
 que a m
aior parte dos sintom
as nunca são trazidos para qualquer 
instância m
éd
ica, m
as são
 tratad
o
s p
elo
s p
acientes, o
u suas fam
ílias, co
nfo
rm
e seu p
ró
p
rio
 m
o
d
elo
 p
o
p
ular d
e 
enferm
id
ad
e. Levitt (1976) estim
o
u q
ue, na Inglaterra, cerca d
e 75%
 d
o
s sinto
m
as são
 tratad
o
s p
elo
s p
ró
p
rio
s 
pacientes. M
uito disso é feito pela autom
edicação. Pacientes que se sentem
 m
al frequentem
ente recorrem
 a tônicos, 
“am
argo
s” o
u asp
irinas co
m
p
rad
as em
 farm
ácias (C
larid
ge 1970); farm
acêutico
s são
 freq
uentem
ente co
nsultad
o
s 
p
ara um
a am
p
la varied
ad
e d
e co
nd
içõ
es, d
e q
ueixas so
b
re a p
ele até hem
o
rró
id
as (S
harp
e 1979). Jefferys e seus 
co
legas (1960) e D
unnell e C
artw
right (1972) d
esco
b
riram
 q
ue entre d
o
is terço
s e três q
uarto
s d
o
s p
acientes 
entrevistad
o
s tinham
 to
m
ad
o
 algum
a auto
m
ed
icação
, esp
ecialm
ente analgésico
s, nas últim
as sem
anas antes d
e 
suas entrevistas. O
 uso
 leigo
 d
e m
ed
icam
ento
s auto
p
rescrito
s – tanto
 rem
éd
io
s m
o
d
erno
s q
uanto
 trad
icio
nais – 
lo
gicam
ente aco
m
p
anha as crenças d
o
s p
acientes so
b
re a natureza d
estes p
rep
arad
o
s e as co
nd
içõ
es em
 q
ue 
são
 úteis. 
b
) 
C
o
n
s
u
lta
 
c
o
m
 
o
u
tro
s. E
xceto
 nas co
nd
içõ
es m
uito
 iso
lad
as, a enferm
id
ad
e é um
 evento
 so
cial. E
la 
envo
lve p
esso
as além
 d
o
 p
aciente, já q
ue ela “p
erturb
a sua p
articip
ação
 naq
uelas co
letivid
ad
es d
as q
uais ele é 
m
em
b
ro
” (D
ingw
all, 1977). E
stas co
letivid
ad
es incluem
 fam
ília e red
es d
e am
izad
e, assim
 co
m
o
 o
 lo
cal d
e trab
alho
 
e o
utras o
rganizaçõ
es. O
 p
aciente q
ue se ro
tula co
m
o
 d
o
ente é cap
az d
e ad
o
tar o
 s
ic
k
 ro
le
22, assim
 rem
o
ver-se 
tem
p
o
rariam
ente d
e m
uitas o
b
rigaçõ
es d
a vid
a d
iária. S
e auto
rro
tular, no
 entanto
, freq
uentem
ente não
 é suficiente 
p
ara p
erm
itir q
ue o
 p
aciente ad
o
te o
 s
ic
k
 ro
le e co
lha seus b
enefício
s, esp
ecialm
ente q
uand
o
 p
arece q
ue a m
aio
ria 
d
as p
esso
as está d
o
ente d
e algum
a fo
rm
a, a m
aio
r p
arte d
o
 tem
p
o
. N
o
 estud
o
 d
e D
unnell e C
artw
right (1972), 
91%
 d
o
s ad
ulto
s, em
 um
a entrevista aleató
ria, rep
o
rtaram
 q
ue eles haviam
 tid
o
 um
 o
u m
ais sinto
m
as ano
rm
ais 
nas d
uas sem
anas q
ue p
reced
eram
 a entrevista. A
 m
aio
r p
arte d
estes sinto
m
as é tratad
a p
elo
s p
acientes – e p
o
r 
aq
ueles ao
 seu red
o
r – em
 term
o
s d
e suas crenças p
o
p
ulares so
b
re a causação
 e tratam
ento
 d
as enferm
id
ad
es. 
U
m
 p
aciente q
ue se sente enferm
o
 segue um
a cad
eia d
e co
nselho
s e tratam
ento
s – d
a auto
m
ed
icação
 até a 
co
nsulta, p
rim
eiro
, à sua fam
ília, d
ep
o
is ao
s seus am
igo
s, ao
s vizinho
s, ao
 farm
acêutico
 lo
cal e assim
 p
o
r d
iante. O
 
p
o
nto
 em
 q
ue estas p
esso
as reco
nhecem
 a saúd
e d
eb
ilitad
a d
o
 p
aciente e lhe co
nfirm
am
 o
 s
ic
k
 ro
le varia co
nfo
rm
e 
o
s grup
o
s so
ciais e culturais. A
 p
ercep
ção
 d
a fam
ília so
b
re a enferm
id
ad
e, p
o
r exem
p
lo
, p
o
d
e ser d
iferente d
a d
o
 
paciente (D
ingw
all 1977; K
leinm
an e
t a
l. 1978), especialm
ente no caso das desordens psicológicas (Laing 1967). A
lém
 
disso, o que é considerado com
o um
a enferm
idade genuína (e, assim
, dem
andando tratam
ento) em
 um
a sociedade 
o
u grup
o
 cultural talvez não
 seja co
nsid
erad
a co
m
o
 tal em
 o
utras so
cied
ad
es e grup
o
s (Fo
x 1968). C
erto
s tip
o
s d
e 
123 TRADUÇÃO
D
o
ença versus E
nferm
id
ad
e na clínica geral
enferm
id
ad
e, p
o
r exem
p
lo
, um
a infecção
 p
o
r um
 germ
e, tend
em
 a m
o
b
ilizar um
a co
m
unid
ad
e d
ed
icad
a ao
 red
o
r 
d
o
 p
aciente – q
ue é co
nsid
erad
o
 livre d
e culp
a p
o
r sua co
nd
ição
 – q
ue o
utras, em
 q
ue a culp
a p
ela enferm
id
ad
e 
é atrib
uíd
a ao
 co
m
p
o
rtam
ento
 irresp
o
nsável d
o
 p
aciente co
m
o
, p
o
r exem
p
lo
, o
 co
nsum
o
 excessivo
 d
e álco
o
l o
u 
“sair na chuva d
ep
o
is d
e um
 b
anho
 q
uente” (H
elm
an 1978). 
S
o
m
ente q
uand
o
 o
 p
aciente e aq
ueles ao
 seu red
o
rse sentem
 incap
azes p
ara lid
ar co
m
 a enferm
id
ad
e é 
q
ue a trazem
 p
ara um
 clínico
 geral, p
ara ser co
nvertid
a em
 d
o
ença. O
ferecer um
a receita o
u um
 atestad
o
 m
éd
ico
 
co
nfirm
a essa m
ud
ança d
e p
arad
igm
a e legitim
a o
 p
aciente no
 s
ic
k
 ro
le. 
c) D
e
p
o
is
 d
a
 c
o
n
s
u
lta. C
renças p
o
p
ulares so
b
re a enferm
id
ad
e afetam
 as atitud
es e o
 co
m
p
o
rtam
ento
 d
o
s 
p
acientes ap
ó
s a co
nsulta, esp
ecialm
ente a ad
esão
 co
m
 as instruçõ
es d
e seu m
éd
ico
 (S
tim
so
n 1974; S
tim
so
n e 
W
eb
b
 1975; E
ato
n 1980). O
s p
acientes to
m
am
 d
ecisõ
es – so
b
re se vão
 to
m
ar a m
ed
icação
 p
rescrita e tam
b
ém
 
com
o ela deve ser tom
ada – com
 base no conhecim
ento leigo derivado da fam
ília, am
igos, livros, m
ídia, experiência 
p
esso
al e, em
 m
eno
r grau, d
o
 clínico
 geral em
 si (S
tim
so
n e W
eb
b
 1975; E
ato
n 1980). S
o
m
ente se o
s tratam
ento
s 
p
rescrito
s fazem
 sentid
o
 p
ara o
 p
aciente é q
ue serão
 to
m
ad
o
s segund
o
 a o
rientação
. P
erceb
er a não
 ad
esão
 a 
p
artir d
a p
ersp
ectiva d
as crenças p
o
p
ulares d
o
 p
aciente so
b
re a enferm
id
ad
e p
o
d
e o
ferecer in
s
ig
h
ts úteis so
b
re 
o
 p
ro
b
lem
a (S
tim
so
n 1974). 
IM
P
LIC
A
Ç
Õ
E
S
 C
LÍN
IC
A
S
 D
A
S
 C
R
E
N
Ç
A
S
 P
O
P
U
LA
R
E
S
: A
LG
U
N
S
 E
X
E
M
P
LO
S
1. B
laxter e P
aterso
n (1980) estud
aram
 as crenças e o
s co
m
p
o
rtam
ento
s em
 saúd
e d
e d
uas geraçõ
es d
e m
ulheres 
d
e classe trab
alhad
o
ra em
 A
b
erd
een (Inglaterra). E
m
 m
uito
s caso
s, as m
ulheres tinham
 b
aixas exp
ectativas p
ara 
sua p
ró
p
ria saúd
e, assim
 co
m
o
 p
ara as d
e suas fam
ílias. A
 saúd
e era d
efinid
a em
 um
 sentid
o
 funcio
nal, so
cial, 
isto
 é, a hab
ilid
ad
e d
e co
ntinuar a vid
a d
iária, ap
esar d
a exp
eriência d
e enferm
id
ad
e. E
las, p
o
rtanto
, d
efiniam
-se 
co
m
o
 saud
áveis, ap
esar d
a evid
ência m
éd
ica em
 co
ntrário
, e isso
 o
b
viam
ente afetava sua atitud
e em
 relação
 à 
necessid
ad
e d
e cuid
ad
o
 m
éd
ico
. M
uitas d
as jo
vens m
ães igno
ravam
 o
u ad
iavam
 p
ro
curar ajud
a p
ara suas crianças 
co
m
 infecção
 crô
nica d
e o
uvid
o
 e o
utras co
nd
içõ
es q
ue não
 causavam
 um
 d
istúrb
io
 d
e função
; estas co
nd
içõ
es 
eram
 tid
as co
m
o
 co
nectad
as à saúd
e geral d
as crianças ao
 invés d
e sinto
m
as d
e um
a enferm
id
ad
e agud
a tratável. 
P
o
r exem
p
lo
, “[...] m
as isso
 não
 é o
 q
ue vo
cê cham
aria d
e enferm
id
ad
e – é só
 um
a co
isa q
ue aco
nteceu. E
la tem
 
p
ro
b
lem
as no
s o
uvid
o
s, m
as isso
 está além
 d
a q
uestão
 d
a saúd
e”. 
2. S
no
w
 e seus co
legas (1978) estud
aram
 crenças leigas so
b
re m
enstruação
 e gravid
ez entre m
ulheres 
em
 um
a clínica urb
ana estad
unid
ense. M
uitas d
estas crenças p
o
d
eriam
 ter um
 efeito
 ad
verso
 so
b
re sua saúd
e 
e no
 resultad
o
 d
e suas gestaçõ
es. P
o
r exem
p
lo
, 16%
 acred
itavam
 q
ue o
 feto
 não
 seria afetad
o
 p
o
r um
a d
o
ença 
venérea d
a m
ãe já q
ue, d
urante a gravid
ez, “o
 útero
 fica fechad
o
 e germ
es não
 p
o
d
em
 entrar”. E
m
 o
utro
 estud
o
 
so
b
re crenças m
enstruais (S
no
w
 e Jo
hnso
n 1977), m
uitas m
ulheres acred
itavam
 q
ue elas só
 p
o
d
eriam
 engravid
ar 
antes, d
urante o
u lo
go
 d
ep
o
is d
o
 p
erío
d
o
 em
 q
ue seus útero
s “estivessem
 ab
erto
s”. E
ntend
ia-se q
ue nenhum
a 
124
C
ecil G
. H
elm
an
TRADUÇÃO
co
ntracep
ção
 era exigid
a no
s o
utro
s m
o
m
ento
s d
o
 m
ês, já q
ue, então
, o
 útero
 estaria “firm
em
ente fechad
o
” e o
 
esp
erm
a não
 p
o
d
eria entrar. 
3. K
leinm
an e seus co
legas (1978) co
ntam
 o
 caso
 d
e um
a m
ulher d
e 60 ano
s co
m
 ed
em
a p
ulm
o
nar ad
m
itid
a 
no
 H
o
sp
ital G
eral d
e M
assachusetts (E
stad
o
s U
nid
o
s). Info
rm
ad
a d
e q
ue tinha água em
 seus p
ulm
õ
es, ela co
m
eço
u 
a agir d
e fo
rm
a b
izarra, vo
m
itand
o
 e urinand
o
 co
m
 freq
uência em
 sua cam
a. U
m
a co
nsulta p
siq
uiátrica revelo
u q
ue 
a m
ulher, filha e esp
o
sa d
e b
o
m
b
eiro
s hid
ráulico
s, tinha um
a co
ncep
ção
 p
o
p
ular d
a anato
m
ia d
o
 co
rp
o
 hum
ano
 
na q
ual o
 p
eito
 era co
nectad
o
 p
o
r cano
s q
ue levavam
 à b
o
ca e à uretra. E
la vinha tentand
o
 rem
o
ver a m
aio
r 
q
uantid
ad
e p
o
ssível d
e água d
o
s p
ulm
õ
es p
elo
 vô
m
ito
 e a freq
uente m
icção
. D
ep
o
is d
e exp
licaçõ
es ap
ro
p
riad
as 
so
b
re a estrutura e a função
 d
o
 co
rp
o
, seu co
m
p
o
rtam
ento
 p
o
uco
 usual term
ino
u im
ed
iatam
ente. 
R
E
LA
Ç
Ã
O
 E
N
T
R
E
 D
O
E
N
Ç
A
 E
 E
N
F
E
R
M
ID
A
D
E
A
 m
aior parte das doenças, em
bora não todas, é acom
panhada de enferm
idades, isto é, por um
a reação psicológica, 
so
cial e cultural ao
 p
ro
cesso
 d
e d
o
ença. C
o
m
o
 m
encio
nad
o
, essa reação
 p
o
d
e variar entre ind
ivíd
uo
s, grup
o
s e 
unid
ad
es culturais. M
em
b
ro
s d
e co
m
unid
ad
es étnicas m
ino
ritárias, p
o
r exem
p
lo
, d
iante d
e ep
isó
d
io
s sim
ilares 
d
e d
o
ença p
o
d
em
 variar m
arcad
am
ente so
b
re o
s sinto
m
as d
o
s q
uais se q
ueixam
 e em
 co
m
o
 estes últim
o
s são
 
co
m
unicad
o
s p
ara o
utras p
esso
as (Z
b
o
ro
w
ski 1980; M
acC
o
rm
ack 1980). 
C
o
m
o
 K
leinm
an (1980) ressalta, p
o
d
e haver um
a relação
 circular entre enferm
id
ad
e e d
o
ença. P
o
r exem
p
lo
, 
em
 um
a neurose crônica de ansiedade, um
 episódio de ansiedade aguda pode se m
anifestar por um
a taquicardia (o
 
p
ro
cesso
 d
e d
o
ença). A
 p
ercep
ção
 d
o
 p
aciente d
este sinto
m
a físico
 e d
e seu significad
o
 é p
arte d
e sua exp
eriência 
d
e enferm
id
ad
e – neste caso
, um
a sensação
 d
e excesso
 d
e ansied
ad
e em
 relação
 ao
 sinto
m
a. Isto
 p
o
d
e, p
o
r sua 
vez, p
ro
vo
car m
ais taq
uicard
ia, m
ais ansied
ad
e e assim
 p
o
r d
iante. E
sta retro
alim
entação
 p
o
sitiva, co
m
 um
 círculo
 
vicioso e ascendente de doença e enferm
idade, é frequentem
ente notada em
 outros casos de excesso de ansiedade, 
co
m
o
 asm
a, hip
erventilação
 e o
utras q
ueixas p
sico
sso
m
áticas. 
A
 doença pode acontecer na ausência da enferm
idade. E
m
 condições agudas severas, com
o traum
a m
assivo
 
o
u infecção
 esm
agad
o
ra, p
o
d
e não
 haver tem
p
o
 p
ara m
o
d
elar a d
o
ença d
entro
 d
a exp
eriência d
e enferm
id
ad
e 
(K
leinm
an 1980). E
m
 alguns caso
s, co
m
o
 a hip
ertensão
 assinto
m
ática o
u um
 carcino
m
a cervical inicial, p
acientes 
p
o
d
em
 ser info
rm
ad
o
s d
e q
ue têm
 um
a d
o
ença, em
b
o
ra eles não
 a sintam
. C
o
m
o
 resultad
o
, eles p
o
d
em
 não
 ver 
a necessid
ad
e d
e tratam
ento
 m
éd
ico
. P
acientes q
ue têm
 um
a d
o
ença assinto
m
ática, m
as não
 um
a enferm
id
ad
e, 
talvez p
o
ssam
, p
o
rtanto
, relutar em
 co
nsultar seu clínico
 geral p
ara um
 
c
h
e
c
k
-u
p regular, rep
etir p
rescriçõ
es, 
eco
grafia cervical e assim
 p
o
r d
iante. Isto
 p
o
d
e ajud
ar a exp
licar o
 fenô
m
eno
 d
a não
 ad
esão
 às instruçõ
es d
e um
 
m
éd
ico
 (S
tim
so
n 1974). 
A
 enferm
id
ad
e tam
b
ém
 p
o
d
e aco
ntecer na ausência d
e um
a d
o
ença (E
isenb
erg
 1977; C
assell 1978). 
H
ip
o
co
nd
ria é um
 exem
p
lo
, em
b
o
ra este grup
o
 co
ntem
p
le um
a am
p
la varied
ad
e d
e sensaçõ
es sub
jetivas d
e m
al-
125 TRADUÇÃO
D
o
ença versus E
nferm
id
ad
e na clínica geral
estar q
ue são
, geralm
ente, d
e o
rigem
 p
sico
ló
gica e p
ara o
 q
ual nenhum
a causa física p
o
d
e ser enco
ntrad
a. U
m
 
clínico geral que enfatiza som
ente o tratamento da doença, sem
 considerar a dim
ensão da enferm
idade, pode parecer 
ind
iferente p
ara um
 p
aciente no
 q
ual nenhum
a d
o
ença física é enco
ntrad
a. Isto
 p
o
d
e causar d
esco
ntentam
ento
 
p
o
r p
arte d
o
 p
aciente e p
o
d
e levar à não
 ad
esão
, à auto
m
ed
icação
 o
u à co
nsulta d
e p
ro
fissio
nais não
 q
ualificad
o
s, 
m
as q
ue estão
 m
ais d
isp
o
sto
s p
ara lid
ar co
m
 a enferm
id
ad
e. A
 m
aio
r p
arte d
o
s clínico
s gerais, no
 entanto
, tratará 
tanto
 d
a enferm
id
ad
e q
uanto
 d
a d
o
ença. 
É
 b
o
m
 lem
b
rar tam
b
ém
 q
ue alguns tratam
ento
s m
éd
ico
s, co
m
o
 m
ed
icam
ento
s e o
p
eraçõ
es, p
o
d
em
 causar 
enferm
id
ad
es e, em
 alguns caso
s, d
o
enças. 
D
O
E
N
Ç
A
 E
 E
N
F
E
R
M
ID
A
D
E
 N
A
 C
IR
U
R
G
IA
N
a Inglaterra, a p
rincip
al interface entre o
s m
o
d
elo
s m
éd
ico
s e leigo
s p
ara a saúd
e d
eb
ilitad
a é a co
nsulta à clínica 
geral. E
nq
uanto
 o
s p
ró
p
rio
s p
acientes lid
am
 co
m
 a m
aio
r p
arte d
o
s sinto
m
as, o
 clínico
 geral é o
 p
rim
eiro
 p
o
nto
 
d
e co
ntato
 p
ara cerca d
e 90%
 d
aq
ueles q
ue d
e fato
 p
ro
curam
 tratam
ento
 m
éd
ico
 p
ro
fissio
nal (Levitt 1976). N
a 
co
nsulta, m
éd
ico
 e p
aciente d
evem
 co
nco
rd
ar co
m
 a interp
retação
 d
o
s sinto
m
as d
o
 p
aciente e co
m
 o
 tratam
ento
 
a ser o
ferecid
o
. A
 visão
 d
o
 m
éd
ico
 so
b
re o
 p
ro
cesso
 d
a d
o
ença d
eve ser reco
nciliad
a co
m
 a visão
 sub
jetiva q
ue 
o
 p
aciente tem
 d
e sua p
ró
p
ria enferm
id
ad
e e as co
ntrad
içõ
es entre o
s d
o
is m
o
d
elo
s d
evem
 ser reso
lvid
as p
elo
 
p
ro
cesso
 d
e nego
ciação
 (S
tim
so
n e W
eb
b
 1975). T
anto
 o
 d
iagnó
stico
 q
uanto
 o
 tratam
ento
 p
rescrito
 d
evem
 fazer 
sentid
o
 no
s term
o
s d
o
s m
o
d
elo
s leigo
s d
e enferm
id
ad
e d
o
 p
aciente o
u, então
, não
 serão
 aceito
s. P
o
r esta razão
, 
clínico
s gerais geralm
ente usam
 co
nceito
s e vo
cab
ulário
 em
p
restad
o
s tanto
 d
o
 m
o
d
elo
 leigo
 q
uanto
 d
o
 m
éd
ico
 
(E
isenb
erg 1977; H
elm
an 1978), a fim
 d
e estab
elecer “um
 co
nsenso
 p
ara o
 p
ro
p
ó
sito
 d
a ação
” (Fab
rega 1975). 
S
em
 este co
nsenso
, p
o
d
e-se resultar em
 um
a relação
 m
éd
ico
-p
aciente m
ed
ío
cre, na não
 ad
esão
 e em
 p
ro
b
lem
as 
m
éd
ico
-legais. 
C
O
N
C
LU
S
Õ
E
S
O
 m
o
d
elo
 d
o
ença/enferm
id
ad
e d
esenvo
lvid
o
 p
o
r antro
p
ó
lo
go
s m
éd
ico
s o
ferece um
a p
ersp
ectiva útil so
b
re o
 
diagnóstico e o tratam
ento da saúde debilitada na clínica geral e em
 fenôm
enos com
o a não adesão, a autom
edicação
 
e o
 d
esco
ntentam
ento
 co
m
 o
 cuid
ad
o
 m
éd
ico
. P
ara q
ue o
 cuid
ad
o
 m
éd
ico
 seja m
ais efetivo
 – e aceitável p
ara 
o
s p
acientes –, clínico
s gerais d
evem
 tratar tanto
 a enferm
id
ad
e q
uanto
 a d
o
ença em
 seus p
acientes. E
 tam
b
ém
 
d
evem
 estar atento
s p
ara co
m
o
 as p
ersp
ectivas d
o
s m
o
d
elo
s leigo
s e m
éd
ico
s d
e saúd
e d
eb
ilitad
a se d
iferenciam
 
e d
evem
 reco
nhecer as im
p
licaçõ
es clínicas d
estas d
iferenças. 
126
C
ecil G
. H
elm
an
TRADUÇÃO
T
R
A
D
U
Ç
Ã
O
S
o
raya Fleischer (P
ro
fesso
ra d
o
 D
ep
artam
ento
 d
e A
ntro
p
o
lo
gia d
a U
nB
)
R
E
V
IS
Ã
O
A
m
and
a Frenkle (grad
uand
a, U
N
B
) 
A
G
R
A
D
E
C
IM
E
N
T
O
S
E
u go
staria d
e reco
nhecer o
 ap
o
io
 d
a senho
ra E
. P
ackter, b
ib
lio
tecária, P
ó
s-G
rad
uand
a d
o
 C
entro
 M
éd
ico
, H
o
sp
ital 
G
eral E
d
gw
are. 
N
O
TA
S
1 
 ©
 Journal of the R
oyal C
ollege of G
eneral P
ractitioners, 1981, 31: 5
4
8
-552.
2 
N
.T. O
ptam
os p
or deixar o term
o no original p
orque, em
b
ora não cite neste artigo, é b
astante p
rovável que o autor se rem
eta 
diretam
ente à categoria sick role (p
ap
el do doente) tornad
a clássica na sociologia m
édica p
or Talcott P
arsons, no início d
a décad
a 
de 1950.
127 TRADUÇÃO
D
o
ença versus E
nferm
id
ad
e na clínica geral
R
E
F
E
R
Ê
N
C
IA
S
 B
IB
LIO
G
R
Á
F
IC
A
S
B
LA
X
T
E
R
, M
. &
 P
A
T
E
R
S
O
N
, E
. 1980. A
ttitu
d
e
s
 to
 h
e
a
lth
 a
n
d
 u
s
e
 o
f h
e
a
lth
 s
e
rv
ic
e
s
 in
 tw
o
 g
e
n
e
ra
tio
n
s
 o
f w
o
m
e
n
 in
 s
o
c
ia
l 
c
la
s
s
e
s
 4
 a
n
d
 5. R
ep
o
rt to
 D
H
S
S
/S
S
R
C
 Jo
int W
o
rking P
arty o
n T
ransm
itted
 D
ep
rivatio
n. U
np
ub
lished
.
C
A
S
S
E
LL, E
. J. 1978. T
h
e
 H
e
a
le
r’s
 A
rt: A
 N
e
w
 A
p
p
ro
a
c
h
 to
 th
e
 D
o
c
to
r-P
a
tie
n
t R
e
la
tio
n
s
h
ip. H
arm
o
nd
sw
o
rth: P
enguin 
B
o
o
ks. 
C
H
R
IS
M
A
N
, N
. J. 1977. “T
he health seeking p
ro
cess: an ap
p
ro
ach to
 the natural histo
ry o
f illness”. C
u
ltu
re
, M
e
d
ic
in
e
 
a
n
d
 P
s
y
c
h
ia
try 1: 351-377.
C
LA
R
ID
G
E
, G
. 1970. D
ru
g
s
 a
n
d
 H
u
m
a
n
 B
e
h
a
v
io
u
r. Lo
nd
o
n: A
llen Lane.
D
IN
G
W
A
LL, R
. 1977. A
s
p
e
c
ts
 o
f Illn
e
s
s. Lo
nd
o
n: M
artin R
o
b
ertso
n. 
D
U
N
N
E
LL, K
. &
 C
A
R
T
W
R
IG
H
T
, A
. 1972. M
e
d
ic
in
e
 T
a
k
e
rs
, P
re
s
c
rib
e
rs
 a
n
d
 H
o
a
rd
e
rs. Lo
nd
o
n: R
o
utled
ge and
 K
egan P
aul. 
E
A
T
O
N
, G
. 1980. “N
o
n-co
m
p
liance”. In
 M
ap
es, R
 (ed
.) P
re
s
c
rib
in
g
 P
ra
c
tic
e
 a
n
d
 D
ru
g
 U
s
a
g
e. Lo
nd
o
n: C
ro
o
m
 H
elm
, p
p
. 
201-213.
E
IS
E
N
B
E
R
G
, L. 1977. “D
isease and
 illness: d
istinctio
ns b
etw
een p
ro
fessio
nal and
 p
o
p
ular id
eas o
f sickness”. C
u
ltu
re
, 
M
e
d
ic
in
e
 a
n
d
 P
s
y
c
h
ia
try 1: 9-23.
FA
B
R
E
G
A
, H
. 1973. 
Illn
e
s
s
 
a
n
d
 
S
h
a
m
a
n
is
tic
 
C
u
rin
g
 
in
 
Z
in
a
n
c
a
n
ta
n
: 
A
n
 
E
th
n
o
m
e
d
ic
a
l 
A
n
a
ly
s
is. S
tanfo
rd
: S
tanfo
rd
 
U
niversity P
ress.
FA
B
R
E
G
A
, H
. Jr. 1975. T
he need
 fo
r an ethno
m
ed
ical science. S
c
ie
n
c
e 189: 969-975.
FIS
H
E
R
, S
. 1968. “B
o
d
y Im
age”
. In
 S
ills, D
. L (ed
.) In
te
rn
a
tio
n
a
l E
n
c
y
c
lo
p
a
e
d
ia
 o
f th
e
 S
o
c
ia
l S
c
ie
n
c
e
s
. N
ew
 Y
o
rk: Free 
P
ress/M
acM
illan. V
o
l. 2, p
p
. 113-116
FO
X
, R
. 1968. “Illness”
. In S
ills, D
. L (ed
.) In
te
rn
a
tio
n
a
l E
n
c
y
c
lo
p
a
e
d
ia
 o
f th
e
 S
o
c
ia
l S
c
ie
n
c
e
s
. N
ew
 Y
o
rk: Free P
ress/
M
acM
illan. V
o
l. 7, p
p
. 90-96. 
G
U
T
T
M
A
C
H
E
R
, S
. &
 E
LIN
S
O
N
, L. 1971. “E
thno
-religio
us variatio
ns in p
ercep
tio
ns o
f illness. T
he use o
f illness as an 
exp
lanatio
n o
f d
eviant b
ehavio
r”. S
o
c
ia
l S
c
ie
n
c
e
 a
n
d
 M
e
d
ic
in
e 5: 117-125. 
H
E
LM
A
N
, C
. G
. 1978. “‘Feed
 a co
ld
, starve a fever’: fo
lk m
o
d
els o
f infectio
n in an E
nglish sub
urb
an co
m
m
unity, and
 their 
relatio
n to
 m
ed
ical treatm
ent”. C
u
ltu
re
, M
e
d
ic
in
e
 a
n
d
 P
s
y
c
h
ia
try 2: 107-137.
H
E
LM
A
N
, C
. G
. 1980. “Lay and
 m
ed
ical attitud
es to
 illness”. M
IM
S
 M
a
g
a
z
in
e 15: A
p
ril, 51-59.
JE
FFE
R
Y
S
, M
., B
R
O
T
H
E
R
S
T
O
N
, J. H
. F. &
 C
A
R
T
W
R
IG
H
T
, A
. 1960. “C
o
nsum
p
tio
n o
f m
ed
icines o
n a w
o
rking-class estate”. 
B
ritis
h
 J
o
u
rn
a
l o
f P
re
v
e
n
tiv
e
 a
n
d
 S
o
c
ia
l M
e
d
ic
in
e 14: 64-76.
K
LEIN
M
A
N
, A
. 1980. P
a
tie
n
ts
 a
n
d
 H
e
a
le
rs
 in
 th
e
 C
o
n
te
x
t o
f C
u
ltu
re
. A
n
 E
x
p
lo
ra
tio
n
 o
f th
e
 B
o
rd
e
rla
n
d
 b
e
tw
e
e
n
 A
n
th
ro
p
o
lo
g
y
, 
M
e
d
ic
in
e
 a
n
d
 P
s
y
c
h
ia
try. B
erkeley: U
niversity o
f C
alifo
rnia P
ress.
K
LE
IN
M
A
N
, A
., E
IS
E
N
B
E
R
G
, L. &
 G
O
O
D
, B
. 1978. “C
ulture, illness and
 care: clinical lesso
ns fro
m
 anthro
po
lo
gic and
 cro
ss-
cultural research”. A
n
n
a
ls
 o
f In
te
rn
a
l M
e
d
ic
in
e 88, 251-258.
LA
IN
G
, R
. D
. 1967. T
h
e
 P
o
litic
s
 o
f E
x
p
e
rie
n
c
e
 a
n
d
 T
h
e
 B
ird
 o
f P
a
ra
d
is
e. H
arm
o
nd
sw
o
rth: P
enguin. 
LE
V
IT
T
, R
. 1976. T
h
e
 R
e
o
rg
a
n
is
e
d
 N
a
tio
n
a
l H
e
a
lth
 S
e
rv
ic
e. Lo
nd
o
n: C
ro
o
m
 H
elm
.
M
A
C
C
O
R
M
A
C
K
, C
. P
. 1980. “H
ealth care p
ro
b
lem
s o
f ethnic m
ino
rity gro
up
s”. M
IM
S
 M
a
g
a
z
in
e 15: July, 53-60.
S
H
A
R
P
E
, D
. N
. 1979. “T
he p
attern o
f o
ver-the-co
unter p
rescrib
ing”. M
IM
S
 M
a
g
a
z
in
e 15: S
ep
tem
b
er, 39-45.
S
N
O
W
, L. F. & JO
H
N
S
O
N
, S
. M
. 1977. “M
odern day m
enstrual folklore: som
e clinical im
plications”. J
o
u
rn
a
l o
f th
e
 A
m
e
ric
a
n
 
M
e
d
ic
a
l A
s
s
o
c
ia
tio
n 237: 2736-2739.
128
C
ecil G
. H
elm
an
TRADUÇÃO
S
N
O
W
, L. F., JO
H
N
S
O
N
, S
. M
. &
 M
A
Y
H
E
W
, H
. E
. 1978. “T
he b
ehavio
ural im
p
licatio
ns o
f so
m
e o
ld
 w
ives’ tales”. O
b
s
te
tric
s
 
a
n
d
 G
y
n
a
e
c
o
lo
g
y 51: 727-732.
S
T
IM
S
O
N
, G
. V
. 1974. “O
b
eying d
o
cto
r’s o
rd
ers: a view
 fro
m
 the o
ther sid
e”. S
o
c
ia
l S
c
ie
n
c
e
 a
n
d
 M
e
d
ic
in
e 8: 97-104.
S
T
IM
S
O
N
, G
. V
. &
 W
E
B
B
, B
. 1975. 
G
o
in
g
 to
 s
e
e
 th
e
 D
o
c
to
r: T
h
e
 C
o
n
s
u
lta
tio
n
 P
ro
c
e
s
s
 in
 G
e
n
e
ra
l P
ra
c
tic
e. Lo
nd
o
n: 
R
o
utled
ge and
 K
egan P
aul.
Z
B
O
R
O
W
S
K
I, M
. 1952. “C
ultural co
m
p
o
nents in resp
o
nses to
 p
ain”. J
o
u
rn
a
l o
f S
o
c
ia
l Is
s
u
e
s 8(4): 16-30.

Continue navegando