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Isadora Pedreira- Problema 4 intermediária XIX. Ecg: taquicardia sinusal + sobrecarga biatrial + hipertrofia ventricular esquerda A realização de eletrocardiograma (ECG) de 12 derivações é recomendada na avaliação inicial de todos os pacientes com IC, para avaliar sinais de cardiopatia estrutural como hipertrofia ventricular esquerda, isquemia miocárdica, áreas de fibrose, distúrbios da condução atrioventricular, bradicardia ou taquiarritmias, que podem demandar cuidados e tratamentos específicos. Vários destes aspectos são marcadores prognósticos em muitas cardiopatias, como na chagásica crônica. O ECG permite suspeitar da etiologia da IC e da causa da descompensação. A presença de um ECG normal é incomum, próximo de 13%, e praticamente exclui doença miocárdica crônica. Na admissão do paciente, é necessária a avaliação por meio do monitor, com confirmação posterior pelo ECG de taquiarritmias ou bradiarritmias, que demandem intervenção terapêutica imediata. • A taquicardia sinusal secundária à ativação do sistema nervoso simpático é observada com a IC avançada ou durante episódios de descompensação aguda. • A presença de arritmia atrial no ECG, bem como a resposta ventricular, pode originar pistas para a causa da IC e pode também explicar o porquê de um paciente desenvolver sintomas de descompensação; além disso, a identificação da arritmia atrial com uma resposta ventricular rápida fornece um alvo para intervenção terapêutica. • A presença de um aumento da voltagem do QRS pode sugerir hipertrofia ventricular esquerda; na ausência de uma história prévia de hipertensão, este achado pode ser o resultado de doença cardíaca valvar ou de miocardiopatia hipertrófica, em particular se forem notados padrões de repolarização bizarra. • Se hipertrofia ventricular direita estiver presente, hipertensão pulmonar primária ou secundária deve ser considerada. • Uma voltagem do QRS baixa sugere a presença de doença infiltrativa ou derrame pleural. • A presença de ondas Q sugere que a IC pode se dever a doença cardíaca isquêmica; alterações novas ou reversíveis do ST identificam isquemia coronária aguda, que pode estar presente mesmo quando a dor torácica está ausente. • De fato, porque a isquemia coronária aguda é uma causa importante de descompensação aguda de IC, deve-se imediatamente obter um ECG de 12 derivações, neste contexto, para excluir IAM. • O prolongamento do intervalo PR é comum em pacientes nesse contexto e pode ser devido à doença de condução intrínseca, mas também pode ser observado em pacientes com miocardiopatia infiltrativa. • O intervalo QT está frequentemente prolongado em pacientes com IC, o que pode ser devido a anomalias eletrolíticas, doença miocárdica ou efeitos de fármacos utilizados com frequência, como os antiarrítmicos. • Um aumento do intervalo QT pode identificar pacientes em risco para torsades de pointes e é, assim, uma variável importante a considerar com o uso de agentes terapêuticos com efeitos na repolarização ventricular • Sobrecarga biatrial ocorre quando há aumento de ambos os átrios, com consequente aumento combinado da amplitude/voltagem (SAD) e da duração da onda P (SAE) na derivação DII. Acontce quando existe algum fator que leve a sobrecarga do átrio esquerdo associada a algo que leve sobrecarga de átrio direito. Ex: estenose mitral + hipertensão pulmonar; estenose mitral + insuficiência tricúspide; estenose mitral + tricúspide; comunicação interatrial. Ecocardiograma : fe = 39% com marcada hipocinesia difusa; refluxo mitral moderado Isadora Pedreira- Problema 4 intermediária XIX. Fração de ejeção. A principal terminologia usada historicamente para definir IC baseia-se na fração de ejeção do ventrículo esquerdo (FEVE) e compreende pacientes com FEVE normal (≥ 50%), denominada IC com fração de ejeção preservada (ICFEp), e aqueles com FEVE reduzida (< 40%), denominados IC com fração de ejeção reduzida (ICFEr). Por outro lado, pacientes com fração de ejeção entre 40 e 49% sempre foram considerados como “zona cinzenta da fração de ejeção” e não recebiam denominação específica. No entanto, mais recentemente, passaram a ser definidos como IC de fração de ejeção intermediária (mid-range ou ICFEi). A diferenciação dos pacientes de acordo com a FEVE tem particular importância, uma vez que eles diferem em relação às suas principais etiologias, às comorbidades associadas e, principalmente, à resposta à terapêutica. A maioria dos estudos clínicos diferenciam sua população de acordo com a FEVE e, até o momento, somente pacientes com ICFEr têm demonstrado de fato redução consistente da morbimortalidade com o tratamento farmacológico instituído. Tanto o diagnóstico quanto o tratamento de pacientes com ICFEp são desafiadores e merecem atenção especial. Pacientes com ICFEi podem representar diferentes fenótipos, incluindo pacientes em transição da ICFEp para ICFEr, ou vice-versa, quando ocorre recuperação da fração de ejeção após tratamento adequado da ICFEr. Estes pacientes podem ser classificados como ICFEi ou até ICFEp, quando há recuperação total da fração de ejeção, porém devem ser avaliados com cuidado, uma vez que mantêm risco adicional de eventos clínicos adversos. Logo o Sr. Severino é um paciente com com fração de ejeção reduzida do ventrículo esquerdo (FE < 40%), a ICFEr. Hipocinesia difusa Hipocinesia difusa no Ecocardiograma significa que o músculo do coração bombeia com menos força do que seria normal e esta alteração nem sempre causa sintomas. Os possíveis sintomas seriam cansaço exagerado aos esforços, inchaço das pernas, as vezes palpitações e coração acelerado. Em casos graves até desmaios causados por arritmias. Esta alteração pode ter diferentes causas (doenças de Chagas, entupimentos das artérias do coração, hipertensão, dentre outras). Logo é um achado de insuficiência cardíaca já que o coração não está contraindo da forma que deveria. Refluxo (ou regurgitação) mitral A regurgitação mitral é o refluxo de sangue que vaza pela válvula mitral cada vez que o ventrículo esquerdo se contrai. A válvula mitral situa-se na abertura entre o átrio esquerdo e o ventrículo esquerdo. A válvula mitral se abre para permitir que o sangue do átrio esquerdo encha o ventrículo esquerdo e se fecha enquanto o ventrículo esquerdo se contrai para bombear sangue somente para dentro da aorta sem voltar para o átrio esquerdo. Quando a válvula mitral não se fecha completamente, há refluxo de parte do sangue para o átrio esquerdo, o que é chamado regurgitação. A regurgitação da válvula mitral pode surgir repentinamente em decorrência de endocardite infecciosa, uma infecção da válvula, ou por causa de lesão na válvula ou em suas estruturas de apoio. A válvula ou suas estruturas de apoio podem ser danificadas por um ataque cardíaco, doença arterial coronariana ou fraqueza nos tecidos dessas estruturas (degeneração mixomatosa). Mais frequentemente, no entanto, a regurgitação mitral surge lentamente em decorrência da deterioração gradual da válvula (causada por prolapso da válvula mitral ou cardiopatia reumática) ou aumento do ventrículo esquerdo, o que faz a válvula se abrir e a impede de se fechar adequadamente. Este aumento é causado por um ataque cardíaco ou outro distúrbio que enfraqueça o músculo cardíaco (como uma cardiomiopatia). A febre reumática – uma doença infantil que pode ocorrer após infecções de garganta ou escarlatina não tratadas – costumava ser a causa mais comum de regurgitação mitral. Repetidos ataques de febre reumática aceleram a deterioração da válvula. O Sr. Severino pode ter uma miocardite de origem da febre reumática que causou um refluxo mitral. Hemograma, bioquímica e urina: normais. O hemograma pode revelar anemia e aumento no índice de anisocitose dos eritrócitos,ambos associados a prognóstico reservado nos casos de insuficiência cardíaca crônica por mecanismos mal compreendidos. As provas de função renal podem determinar se a insuficiência cardíaca está associada à azotemia pré-renal. A doença renal crônica é outro fator prognóstico ruim para a insuficiência cardíaca capaz de limitar algumas opções de tratamento. A dosagem dos eletrólitos séricos pode revelar hipopotassemia, com aumento no risco de arritmias; hiperpotassemia, limitando o uso de inibidores do sistema renina-angiotensina; ou hiponatremia, indicando maior ativação do sistema renina-angiotensina é considerada um sinal de mau prognóstico. A função da tireoide deve ser avaliada para detectar tireotoxicose ou mixedema oculto e os testes para avaliação do ferro devem ser realizados para investigar hemocromatose. Em casos sem explicação, biópsias Isadora Pedreira- Problema 4 intermediária XIX. apropriadas podem levar ao diagnóstico de amiloidose. A biópsia miocárdica exclui causas específicas de miocardiopatia dilatada, porém raramente revela diagnósticos reversíveis específicos. O BNP sérico é um poderoso marcador prognóstico que se soma à avaliação clínica na diferenciação da dispneia por insuficiência cardíaca das causas não cardíacas. Dois marcadores – BNP e NT-pró-BNP – fornecem informações diagnósticas e prognósticas similares. O BNP é expresso principalmente nos ventrículos e está elevado quando as pressões de enchimento ventriculares são altas. É bastante sensível nos pacientes com insuficiência cardíaca sintomática – com disfunção sistólica ou diastólica –, mas é menos específico em idosos, mulheres e pacientes com DPOC. Os estudos demonstraram que o BNP pode auxiliar no rastreamento realizado no departamento de emergência para diagnóstico de insuficiência cardíaca aguda descompensada, de forma que um NT-pró-BNP < 300 pg/mL ou um BNP < 100 pg/mL combinados com ECG normal tornam improvável a insuficiência cardíaca. O BNP é menos sensível e específico para o diagnóstico de insuficiência cardíaca crônica, sendo um instrumento valioso para orientar a intensidade do tratamento com diuréticos e outros medicamentos para a monitoração e acompanhamento dos pacientes com insuficiência cardíaca crônica, embora isso não esteja bem estabelecido. A elevação da troponina sérica e, em especial, da troponina de alta sensibilidade, é comum na insuficiência cardíaca aguda e crônica, associando-se a risco maior de desfechos adversos. Os achados normais demonstram um paciente sem acometimento de outros órgãos-alvo. A ausência da anemia faz a exclusão dessa possível etiologia Sorologia para chagas: não reagente. A insuficiência cardíaca pode ter como etiologia o Chagar. Pacientes com insuficiência cardíaca de etiologia chagásica têm pior prognóstico em relação aos não chagásicos. Na evolução, os pacientes sintomáticos e com baixa fração de ejeção apresentam taxas de mortalidade de 50-60% em dois anos, sendo, na atualidade, em nosso meio, uma das causas mais frequentes de insuficiência cardíaca refratária que requerem análise e indicação de transplante cardíaco. Logo todo paciente com suspeita de IC deve ser pesquisado sobre a doença chagásica. Os achados excluem a etiologia chagásica no Sr. Severino Tratamento da ICFER. Drogas que prolongam a sobrevida A base racional da terapia da ICFER consiste no bloqueio da resposta neurohormonal que leva ao remodelamento cardíaco. Assim consegue-se prolongar a sobrevida do paciente, modificando a história natural da doença, além de melhorar a qualidade de vida (ex.: menos sintomas, menor taxa de hospitalização). As duas principais medidas de bloqueio neuro-hormonal são o uso de inibidores da enzima conversora de angiotensina (IECA) e betabloqueadores (BB). Os IECA exercem efeito benéfico enquanto classe, isto é, qualquer IECA pode ser utilizado. Já os BB não, pois alguns membros dessa classe não reduzem mortalidade na ICFER (ex.: drogas com atividade simpatomimética intrínseca, como bucindolol e xamoterol, pelo contrário, aumentam a mortalidade)... Na realidade, a literatura só confirma benefício na ICFER com três BB específicos: (1) carvedilol, (2) metoprolol e (3) bisoprolol. Estes, portanto, são os BB de escolha. Vale ressaltar que os efeitos benéficos dos BB são tardios (em geral levam meses para ser notados). A combinação IECA + BB deve ser prescrita para todo paciente que apresenta queda significativa na FE do VE (< 40%), incluindo aqueles que se encontram ASSINTOMÁTICOS. O tratamento é importante mesmo nestes casos, pois evita a progressão do remodelamento cardíaco e o surgimento de sintomas no futuro. Muito já se discutiu acerca de qual seria a sequência ideal de introdução da terapia. Um grande estudo, porém, deixou claro que não faz diferença começar com IECA ou BB: o importante é que as duas medicações sejam ministradas oportunamente, e que suas doses sejam tituladas até a dose “alvo”, isto é, aquela que mostrou benefício nos ensaios clínicos. Começa-se com uma dose baixa e, se o paciente tolerar, o aumento nas doses pode ser feito a cada duas semanas. O único detalhe para o qual se deve estar atento é: caso o paciente Isadora Pedreira- Problema 4 intermediária XIX. apresente franca congestão pulmonar (ex.: ortopneia, crepitações), antes de iniciar o BB deve-se controlar a hipervolemia com diuréticos de alça ("primeiro damos uma secada no paciente para só depois começarmos o beta"). Os BB, por exercerem ação inotrópica negativa, pioram a congestão pulmonar do paciente cuja função sistólica se encontra gravemente comprometida. A melhora da hipervolemia, ao reduzir a pré-carga excessiva, o que também acaba reduzindo a dilatação ventricular e a pós-carga (pela Lei de Laplace), reduz o impacto do efeito inotrópico negativo dos BB, permitindo sua introdução com mais segurança. Os bloqueadores do receptor AT1 de angiotensina II (“BRA”) podem ser usados no lugar dos IECA caso o paciente apresente intolerância exclusiva a estes últimos (ex.: tosse, presente em até 20% dos usuários; angioedema, presente em < 1%). Estudos mostraram que os BRA também reduzem mortalidade e não são inferiores aos IECA no tratamento da ICFER. Observações: 1. Em relação a paraefeitos como hipotensão arterial, insuficiência renal aguda e/ou hipercalemia, não adianta trocar o IECA por BRA (ou vice-versa), pois tais efeitos acontecem com ambas as classes. Como regra prática tolera-se um aumento da creatinina de até 50% do valor basal, ou até um valor absoluto de 3 mg/dl, ou um ClCr estimado > 25 ml/min sem necessidade de reduzir dose dos IECA ou BRA. Se o K+ sérico ultrapassar 5,5 mEq/L, a creatinina ultrapassar 3,5 mg/dl e/ou o ClCr estimado ficar < 20 ml/min, tais drogas devem ser SUSPENSAS. 2. Asmáticos e portadores de DPOC não estão terminantemente proibidos de usar um BB para tratar a ICFER... Se não houver história de intolerância a essas drogas, seu uso cuidadoso pode e deve ser tentado, devido aos benefícios cardíacos. A preferência dentre os BB de primeira linha recai sobre o bisoprolol, que possui maior seletividade para os receptores β-1, logo, tem menos chance de causar broncoespasmo. Antagonistas da aldosterona devem ser associados à dupla IECA (ou BRA) + BB no paciente com ICFER sintomática. A eplerenona (não disponível no Brasil) foi validada para pacientes com ICFER classe funcional NYHA II a IV. Já a espironolactona foi validada para pacientes com ICFER classe funcional NYHA III e IV. Na prática, entretanto, aceita-se a extrapolação do uso da espironolactona para portadores de ICFER a partir da classe funcional NYHA II... Os antagonistas da aldosterona comprovadamente reduzem a mortalidade (especialmente por morte súbita), bem como o número de hospitalizações. Biologicamente, seu principal efeito benéfico éa redução da apoptose e da fibrose miocárdica (relacionadas ao excesso de aldosterona). Dentre seus efeitos colaterais sobressai a hipercalemia, especialmente em pacientes que já possuíam doença renal crônica prévia. Deve-se evitar o uso de espironolactona em pacientes com creatinina > 2,5 mg/dl ou K+ sérico persistentemente elevado. A “vasodilatação balanceada” (arterial e venosa), combinando-se hidralazina com nitrato (dinitrato de isossorbida), é considerada uma opção de terapia modificadora de doença para pacientes que não toleram o uso de IECA ou BRA (ex.: disfunção renal avançada). O benefício da vasodilatação balanceada sobre a mortalidade é comparativamente inferior ao dos IECA (ou BRA). Em negros, porém, o benefício tende a ser maior! De qualquer modo, a vasodilatação balanceada pode ser ACRESCENTADA ao tratamento do paciente que já faz uso de IECA (ou BRA) + BB + antagonista de aldosterona e mesmo assim continua sintomático. Nestes casos observa-se uma redução adicional de mortalidade e do número de hospitalizações, independentemente da etnia. Recentemente uma nova droga mostrou reduzir mortalidade na ICFER. Tratase do sacubitril, um membro da classe dos inibidores da neprilisina (enzima que degrada o BNP e a bradicinina). Seu efeito, portanto, parece ser mediado por um aumento de peptídeos natriuréticos e vasodilatadores. Na realidade, o fármaco que foi validado nos estudos científicos é uma combinação de valsartan (um BRA) com sacubitril, chamado LCZ-696 (nome comercial: Entresto®). Os guidelines mais recentes já recomendam substituir o IECA pelo LCZ-696 caso a ICFER continue sintomática a despeito do uso de IECA em dose plena. Se o paciente estava em uso de IECA e resolve-se trocar por sacubitril/valsartan, é preciso aguardar 36h sem uso de IECA para começar o sacubitril/valsartan. Se, por outro lado, ele estava em uso de BRA, não é preciso aguardar esse período de “wash out”. Por inibir a degradação de bradicinina, o LCZ-696 também acarreta risco de angioedema. Na tabela 6 apresentamos as principais drogas modificadoras de doença, suas doses iniciais e doses “alvo” recomendadas pela literatura médica. Lembre-se que a titulação de doses, se o paciente tolerar, deve ser feita gradualmente a cada duas semanas, até se atingir a dose “alvo”. Caso não seja factível atingir a dose alvo, a maior dose tolerável deve ser utilizada. O diabetes mellitus tipo 2 é uma comorbidade prevalente nos portadores de ICFER. A droga de primeira escolha para controle glicêmico nesses indivíduos é a metformina. Os inibidores do SGLT2 (cotransportador de sódio-glicose no túbulo proximal) também são benéficos, e representam as drogas de segunda linha para associação ou substituição à metformina. A empagliflozina (primeiro representante desta classe) mostrou reduzir mortalidade no paciente diabético portador de ICFER! O exato mecanismo desse benefício é incerto. A canagliflozina, que também é um inibidor do SGLT2, apesar de reduzir internações por ICFER, apresenta como efeito Isadora Pedreira- Problema 4 intermediária XIX. adverso no paciente diabético cardiopata um aumento na chance de amputação de membros inferiores, logo, a empagliflozina é a droga de escolha. Vale lembrar que as tiazolidinedionas ou "glitazonas" (ex.: agonistas do PPAR-gama como pioglitazona, rosiglitazona, etc.) são CONTRAINDICADAS na ICFER NYHA III ou IV! O motivo é que a ativação do PPAR-gama nas células tubulares renais estimula a reabsorção de sódio, o que pode agravar a hipervolemia e descompensar a função cardíaca do paciente. A saxagliptina (um inibidor da DPP-IV) também deve ser evitada, pois se associa a maior taxa de hospitalização por IC. Curiosamente, outros inibidores de DPP-IV não mostraram o mesmo risco. Uma droga de eficácia controversa para redução de mortalidade na ICFER é a ivabradina. Trata-se de um inibidor da corrente I f do nódulo sinusal (corrente elétrica que determina a despolarização espontânea das células do nódulo sinusal). Por este motivo é chamada de “inibidor seletivo do nó sinusal”. A ivabradina diminui a frequência cardíaca sem exercer ação inotrópica negativa. Muitos consideram válido o acréscimo de ivabradina no portador de ICFER que permanece sintomático a despeito do tratamento, desde que a FC seja ≥ 70 bpm em ritmo sinusal. Outra indicação seria no paciente que não tolera os BB. Drogas que NÃO prolongam sobrevida, mas melhoram os sintomas Como a hiperativação neuro-hormonal ininterrupta que caracteriza a ICFER resulta na persistência de um balanço positivo de sal e água (por aumento na reabsorção renal), culminando em hipervolemia (manifesta por congestão pulmonar e sistêmica, com dispneia e edema periférico, respectivamente), muitas vezes é necessário lançar mão de drogas capazes de se contrapor a esse processo e “negativar” o balanço positivo de volume, de modo a manter o paciente euvolêmico. Tais drogas são os diuréticos, com preferência por aqueles que atuam na alça de Henle (“diuréticos de alça”), que representam a classe mais potente. A furosemida é a droga de escolha para combater a hipervolemia, ainda que nunca tenha sido demonstrado qualquer benefício sobre a mortalidade da ICFER. A posologia deve ser individualizada: não há uma única “receita de bolo” que sirva para todos os doentes! A resposta diurética varia conforme a dieta, a absorção intestinal (pior no paciente em anasarca, devido ao edema do tubo digestivo), a função renal e o próprio grau de hipervolemia presente. A administração parenteral, em bolus IV ou IM intermitente, ou em infusão IV contínua, é reservada para os casos mais graves. Como preparar uma solução de furosemida para infusão intravenosa contínua? A fórmula mais empregada é: diluir 10 ampolas de furosemida (1 ampola = 2 ml a 10 mg/ml, ou seja, 1 ampola = 20 mg) em 80 ml de SF 0,9%, constituindo uma solução com 2 mg/ml. Caso o paciente necessite de doses muito altas as ampolas podem ser misturadas sem diluição... Neste caso, cada ml terá 10 mg. Recomenda-se não infundir a uma taxa superior a 4 mg/min. Obs: O nome comercial original da furosemida, Lasix ®, é um acrônimo de "Last Six Hours", uma referência à duração da meia-vida do fármaco, que é de 6h. Isadora Pedreira- Problema 4 intermediária XIX. A refratariedade ao diurético de alça pode ser combatida com a estratégia chamada de bloqueio sequencial do néfron, isto é, acrescentando-se um diurético TIAZÍDICO (ex.: hidroclorotiazida 25-50 mg/dia). Tal conduta “força” os rins a excretar ainda mais sódio e, consequentemente, acentua a contraposição à tendência de balanço positivo de sal e água decorrente da hiperativação neuro- hormonal. Pacientes refratários ao bloqueio sequencial do néfron devem ser abordados com diálise + ultrafiltração para a retirada de sal e água do organismo. O único diurético de alça que não contém radicais de sulfa em sua molécula é o ácido etacrínico, logo, pacientes alérgicos à sulfa só podem fazer uso desta medicação. Outra classe farmacológica que não reduz mortalidade, mas pode melhorar a sintomatologia da ICFER, é a dos glicosídeos cardíacos, como a digoxina. Trata-se de um agente inotrópico positivo “leve”, que também atua como "simpatolítico" (reduz o tônus adrenérgico ao atenuar a atividade dos barorreceptores carotídeos). O digital diminui a taxa de hospitalizações. Seu índice terapêutico (diferença entre a dose tóxica e a dose terapêutica) é baixo, especialmente em MULHERES e IDOSOS. Assim, sempre que possível, recomenda-se monitorar o nível sérico. Na prática atual, o digital tem sido prescrito somente quando o paciente já está recebendo terapia plena com todas as drogas anteriormente citadas (incluindo diurético) e mesmo assim permanece sintomático. Outra indicação é para o controle da frequência ventricular(associado aos BB) em pacientes que desenvolvem fibrilação atrial. Por fim, nos últimos anos surgiram evidências de que a FERROPENIA, mesmo na ausência de anemia, agrava os sintomas da ICFER, devendo, por conseguinte, ser corrigida com o intuito de melhorar a qualidade de vida e a capacidade de exercício. Cerca de metade dos portadores de ICFER possui ferropenia. Logo, todo paciente com ICFER deve dosar a cinética de ferro no sangue. Considera-se como ferropenia no portador de ICFER a presença de: (1) ferritina sérica < 100 mg/L ou (2) ferritina sérica entre 100-299 mg/L com saturação de transferrina < 20%. A ferropenia TEM QUE ser tratada com ferro parenteral nestes doentes! O ferro oral não mostrou eficácia em ensaios clínicos. Vale lembrar que a causa da ferropenia deve ser esclarecida. Em geral, pacientes com mais de 50 anos de idade e redução das reservas de ferro apresentam algum sangramento no tubo digestivo, sendo mandatório afastar câncer colorretal (colonoscopia) e neoplasia/doença péptica gastroduodenal (EDA). Drogas que não prolongam a sobrevida e nem melhoram os sintomas Antagonistas de canais de cálcio di-hidropiridínicos (vasosseletivos) de longa ação, como anlodipina, controlam de forma segura e eficaz a hipertensão arterial em portadores de ICFER, podendo ser usados se necessário. No entanto, não há qualquer benefício direto sobre a morbimortalidade específica da ICFER. Por outro lado, antagonistas de canais de cálcio não dihidropiridínicos (cardiosseletivos), como verapamil e diltiazem, devem ser EVITADOS nesses doentes, pois sua poderosa ação inotrópica negativa (maior com o verapamil) pode descompensar a função sistólica do ventrículo esquerdo em pacientes previamente estáveis. Antagonistas alfa-1 adrenérgicos (ex.: prazosin, doxazosin) também devem ser evitados na ICFER. Tais drogas, ao promoverem vasodilatação periférica significativa, hiperestimulam a retenção renal de sódio e água, aumentando a volemia, o que pode levar à descompensação da ICFER. As estatinas não exercem qualquer benefício sobre a morbimortalidade da ICFER. Logo, só devem ser prescritas se houver indicação específica, como por exemplo, doença coronariana. O mesmo é válido para o AAS e os anticoagulantes (ex.: AAS se houver doença coronariana; warfarin no paciente com FA, evento tromboembólico prévio e/ou trombo intracavitário documentado pelo ecocardiograma). Logo, na ICFER não isquêmica com o paciente em ritmo sinusal, de um modo geral NENHUMA dessas drogas estará indicada! Alguns estudos sugeriram um discreto benefício com a suplementação de ácidos graxos poli-insaturados ômega-3 (óleo de peixe) no tratamento da ICFER. Muitos Isadora Pedreira- Problema 4 intermediária XIX. autores recomendam seu uso, mas esta não é considerada uma medida imprescindível. Tratamento da ICFEN O tratamento da ICFEN se fundamenta em quatro pilares: (1) controle da congestão pulmonar; (2) controle da pressão arterial; (3) prevenção/tratamento da taquicardia e manutenção do ritmo sinusal; (4) tratamento das comorbidades associadas. Como a ICFEN está fortemente vinculada à disfunção diastólica (em geral por deficit de relaxamento miocárdico), postulou-se que haveria benefício com o uso de agentes lusitrópicos (indutores de relaxamento cardíaco, como os antagonistas de canais de cálcio e os betabloqueadores). Os bloqueadores de aldosterona (ex.: espironolactona) diminuem a fibrose miocárdica e supostamente melhorariam o componente de rigidez tecidual associado à disfunção diastólica. Contudo, diversos ensaios clínicos randomizados não mostraram redução da mortalidade nem melhora na qualidade de vida dos portadores de ICFEN. Um estudo chegou a mostrar redução do número de internações, porém, houve aumento na incidência de hipercalemia, o que contrabalançou qualquer benefício prático que justificasse o uso rotineiro desta classe de medicamentos na ICFEN. A combinação valsartan/sacubitril (aprovada para tratamento da ICFER) está sendo investigada no tratamento da ICFEN como possível estratégia modificadora de doença. O valsartan é um bloqueador do receptor de angiotensina II, e o sacubitril é um inibidor da neprilisina, enzima que degrada peptídeos vasodilatadores e natriuréticos (ex.: bradicinina e BNP). Até o momento não se sabe se este tratamento realmente será benéfico. Os sintomas de congestão pulmonar são abordados com diureticoterapia (ex.: furosemida) conforme a necessidade, devendo-se, no entanto, ter muito cuidado para não espoliar o doente de volume e reduzir a pré-carga ventricular em demasia. O ventrículo “endurecido” depende criticamente da pré-carga para produzir um débito cardíaco satisfatório! O portador de ICFER, por conseguinte, é particularmente mais sensível à hipovolemia, e mesmo uma pequena diminuição nas pressões de enchimento ventricular pode fazer o débito cardíaco “despencar” (causando hipotensão e síncope). Os nitratos também devem ser feitos com muito cuidado, já que seu efeito venodilatador tem grande potencial de reduzir o retorno venoso e a pré-carga (nitratos resultam em menor tolerância ao exercício nos portadores de ICFEN). O controle da hipertensão arterial facilita a ejeção de sangue do ventrículo esquerdo e diminui as pressões intracavitárias desta câmara, o que melhora a congestão venocapilar pulmonar e sintomas correlatos. Qualquer droga antihipertensiva, desde que reduza eficazmente a pressão, é benéfica. Não há preferência por uma classe específica, ainda que se preconize a utilização dos anti- hipertensivos de “primeira linha” (recomendação genérica para todo portador de HAS). O controle da frequência cardíaca, evitando-se a taquicardia, também ajuda no controle das pressões intracavitárias, já que frequências elevadas diminuem o tempo de enchimento diastólico do ventrículo esquerdo, aumentando a pressão do átrio esquerdo (pois “sobra” mais sangue dentro desta câmara) e, consequentemente, a pressão venocapilar pulmonar. Outro objetivo terapêutico é a manutenção do ritmo sinusal (ex.: idealmente deve-se almejar o controle de ritmo em portadores de ICFEN que desenvolvem fibrilação atrial). A preservação de uma contração atrial efetiva ajuda a “esvaziar” o átrio esquerdo, reduzindo suas pressões de enchimento e, consequentemente, a pressão venocapilar pulmonar. Por fim, o tratamento específico das comorbidades identificadas é essencial, especialmente a doença coronariana e a apneia obstrutiva do sono. A isquemia miocárdica, por si só, pode induzir deficit de relaxamento miocárdico, causando ou agravando a disfunção diastólica. A revascularização miocárdica pode reverter este processo... A apneia obstrutiva do sono é uma causa de HAS secundária, devendo ser diagnosticada e especificamente tratada (ex.: CPAP noturno) para que se obtenha um melhor controle da pressão arterial. ICFER Isadora Pedreira- Problema 4 intermediária XIX. Exercícios físicos O portador de ICFER controlada com o tratamento pode e deve realizar um programa gradual de exercícios físicos supervisionados, de preferência numa clínica especializada de reabilitação cardíaca. Tal conduta é segura e comprovadamente melhora a sensação de bem-estar e a capacidade física. Contudo, não há benefício documentado sobre a mortalidade. Na ICFER não controlada ou refratária ao tratamento recomenda-se o repouso com forma de preservar o débito cardíaco para a perfusão de órgãos nobres (coração, cérebro e rins). A melhora na perfusão renal eventualmente pode melhorar a resposta à diureticoterapia. Outras medidas não farmacológicas O portador de ICFER deve ter uma dieta com limitação na ingesta de sódio (2- 3g de sódio/dia ou NÃO MAIS DO QUE 7 g de NaCl/dia). Restrição de líquidos (1,5-2 litros de água/dia) é indicada somente na presença de hiponatremiae/ou ICFER avançada refratária ao tratamento farmacológico (estágio D). Recomenda-se abstenção do tabagismo/etilismo/drogas ilícitas, bem como a aplicação de todas as imunizações preconizadas, incluindo a vacinação anual contra influenza e o uso da vacina anti-pneumocócica conforme seu esquema específico. Tratamento das arritmias A fibrilação atrial é a arritmia mais comum na ICFER, e de um modo geral aparece na doença mais avançada, servindo como marcador de pior prognóstico. A contração atrial contribui para a pré-carga do ventrículo esquerdo, e sua perda na FA pode reduzir o débito cardíaco em 20-30%, o que pode levar à descompensação aguda da ICFER. Ademais, o aumento da FC aumenta o consumo miocárdico de oxigênio, além de encurtar o tempo diastólico (reduzindo a perfusão no leito coronário), o que pode deprimir ainda mais a função contrátil ventricular. Como consequência da piora da ICFER ocorre aumento da ativação neuro-hormonal que, se persistente, acaba sendo deletéria. Assim, na ICFER, o ideal é seguir a estratégia de controle de ritmo, isto é, sempre que possível deve-se tentar restaurar e manter o ritmo sinusal (cardioversão elétrica e/ou química + antiarrítmico profilático)! Isso é particularmente verdadeiro quando a FA é desencadeada por fatores reversíveis, como tireotoxicose, infecções, intoxicações, etc. Seja como for, a primeira medida terapêutica é sempre o controle da FC (alvo < 100-110 bpm). Pacientes muito sintomáticos (com critérios de “instabilidade”) devem ser submetidos à cardioversão elétrica imediata. No paciente NYHA I-II a escolha recai sobre os betabloqueadores. A associação de digoxina é aceitável quando a meta de FC não for atingida com BB em monoterapia (ou quando estes forem contraindicados), devendo-se monitorar o nível sérico do digital, pois valores > 1,2 ng/ml se associam a aumento de mortalidade na ICFER. Pacientes refratários ao controle de ritmo e de FC podem ser submetidos à ablação do nódulo AV, com implante de marca-passo definitivo associado ao dispositivo de ressincronização cardíaca. Outro ponto importante: mesmo que a FA seja paroxística é preciso avaliar a necessidade de anticoagulação ad aeternum. Recomenda-se, com este intuito, o uso dos escores CHADS-VASC (risco tromboembólico) e HAS-BLED (risco hemorrágico). A presença de IC já confere 1 ponto no CHADS-VASC, logo, a maioria dos portadores de ICFER e FA terá indicação de anticoagulação. As drogas de escolha são os novos anticoagulantes orais de ação direta, exceto no portador de prótese valvar mecânica ou doença mitral reumática (nestes deve-se utilizar warfarin, pois os novos anticoagulantes são contraindicados). O único antiarrítmico que pode ser utilizado na presença de cardiopatia estrutural é a amiodarona (todos os demais devem ser evitados, pois deprimem a função ventricular esquerda). Seu uso, porém, não reduz mortalidade em portadores de ICFER (apenas diminui sintomas arrítmicos e o número de disparos nos portadores de CDI). Terapia de Ressincronização Cardíaca (TRC) O assincronismo na contração das paredes do ventrículo esquerdo (intraventricular) ou entre os ventrículos esquerdo e direito (interventricular) é prejudicial para a eficiência mecânica do coração, reduzindo o débito sistólico. O enchimento diastólico também piora, assim como a insuficiência mitral funcional. O implante de um cabo de marca-passo na parede lateral do ventrículo esquerdo (através do seio coronário) e outro no interior do ventrículo direito permite “ressincronizar” a contração de paredes opostas, o que melhora o desempenho da bomba cardíaca e comprovadamente reduz não apenas os sintomas, mas também a própria mortalidade da ICFER, revertendo o remodelamento cardíaco!Os modernos dispositivos de ressincronização também funcionam como marca-passo e/ou cardiodesfibrilador implantável, o que ajuda a prevenir a morte súbita cardíaca. A principal indicação da TRC é: ICFER sintomática (NYHA ≥ II) refratária aotratamento farmacológico otimizado, em ritmo sinusal, com FE ≤ 35%, complexo QRS ≥ 150 ms e morfologia de bloqueio completo de ramo esquerdo. Indica-se também a TRC quando o paciente tem ICFER sintomática refratária, em ritmo sinusal, com FE ≤ 35%, morfologia de bloqueio completo de ramo esquerdo e QRS entre 130-150 ms. Pacientes que apresentem todos os critérios acima, exceto um QRS com morfologia de bloqueio completo de ramo esquerdo, também podem se beneficiar da TRC se possuírem um QRS > 160 ms. Se QRS ≤ 160 ms, a TRC é contraindicada nestes casos! Outra indicação de TRC é quando o portador de ICFER grave e refratária apresenta bloqueio atrioventricular total (BAV de 3º grau). O Isadora Pedreira- Problema 4 intermediária XIX. benefício, neste caso, é uma diminuição do número de descompensações, sem efeito sobre a mortalidade. Alguns estudos sugerem que os benefícios da TRC são anulados pela presença de fibrilação atrial permanente, devido à dificuldade em se produzir uma estimulação biventricular sincronizada nestes pacientes. A indicação de TRC na ICFER grave e sintomática e presença de FA deve ser individualizada (se for possível garantir uma estimulação biventricular adequada, pode-se implantar o dispositivo)! A TRC está contraindicada na vigência de infecção da corrente sanguínea, bem como no paciente cuja expectativa de sobrevida seja < 1 ano. Prevenção da morte súbita cardíaca A Morte Súbita Cardíaca (MSC), geralmente por taquiarritmias ventriculares malignas como a fibrilação ventricular, representa o mecanismo de óbito em cerca de metade dos portadores de ICFER. Um dispositivo chamado cardiodesfibrilador implantável (CDI) – que como vimos pode estar incorporado no dispositivo de ressincronização cardíaca ou num marca-passo convencional – permite realizar a prevenção primária ou secundária deste evento. Portadores de ICFER que sobreviveram a um episódio de MSC encontram-se sob risco extremamente alto de novos episódios. A não ser que o episódio tenha sido desencadeado por um fator agudo reversível (ex.: intoxicação; isquemia com indicação de revascularização), indica-se o implante de um CDI para estes indivíduos (prevenção secundária = ICFER + episódio prévio de MSC espontânea abortada). Portadores de ICFER que apresentam documentação de taquicardia ventricular espontânea (instável ou estável) também se beneficiam do implante de um CDI. O mesmo é válido para a TV induzida, por exemplo: ICFER com palpitações/síncopes recorrentes + TV ou FV induzida no estudo eletrofisiológico. As principais indicações de CDI para a prevenção primária da MSC (isto é, antes que um episódio aconteça) são as seguintes na tabela. Tratamento cirúrgico A cirurgia de restauração ventricular, um procedimento onde se resseca uma grande cicatriz de infarto anterior no VE, remodelando artificialmente o coração (de modo a reduzir a dilatação e a esfericidade do ventrículo) NÃO mostrou benefício em ensaios clínicos randomizados e controlados. Outros procedimentos destinados à preservação da geometria ventricular (como o envelopamento do coração com uma rede externa) também não mostraram benefício sobre a mortalidade, apesar de efetivamente impedirem a dilatação cardíaca... A aneurismectomia (ressecção de uma grande área discinética da parede ventricular), apesar de não ter mostrado reduzir mortalidade, é indicada para os portadores de aneurismas do VE que apresentam refratariedade ao tratamento clínico, taquiarritmias ventriculares e/ou episódios cardioembólicos (a estase sanguínea no interior de um aneurisma ventricular é fator de risco para a formação de trombos). Dispositivos de Assistência Circulatória Mecânica (DACM) e transplante cardíaco . Portadores de ICFER no estágio D geralmente não toleram o bloqueio neurohormonal farmacológico, apresentando sintomas incapacitantese hospitalizações recorrentes, associado a grande morbimortalidade. Esta é a chamada insuficiência cardíaca avançada, uma síndrome clínica diferenciada... Nestes casos, deve-se considerar medidas como o uso de DACM e o transplante cardíaco! Os DACM são subdivididos em dispositivos de curta permanência (< 30 dias) e longa permanência (> 30 dias). Como os DACM de curta permanência geralmente são empregados no tratamento da IC aguda (tema não estudado neste capítulo), abordaremos aqui somente os dispositivos de longa permanência. Os DACM de longa permanência com fluxo contínuo (preferíveis aos de fluxo pulsátil) são implantados cirurgicamente para auxiliar o coração a bombear o sangue. Podem servir de “ponte” até a realização de um transplante cardíaco, ou podem ser a proposta terapêutica final (“terapia de destino”) em pacientes não candidatos ao transplante. Estudos recentes têm mostrado sobrevida > 70% em 2 anos com os novos aparelhos. A sobrevida em longo prazo, no entanto, ainda não é conhecida. As principais complicações dos DACM são: (1) disfunção de VD; (2) hemorragias; (3) AVE (isquêmico ou hemorrágico, por insuficiência ou excesso de anticoagulação, respectivamente); (4) infecções; (5) mau funcionamento do dispositivo (falha mecânica, elétrica, manutenção inadequada); (6) hemólise intravascular (pela fragmentação mecânica de hemácias, gerando hemoglobinemia e hemoglobinúria, principalmente nos DACM mais antigos, que possuem sistemas de rolamento); (7) arritmias; (8) doença de von Willebrand adquirida (depleção dos multímeros de alto peso molecular do fvWb). Esta última pode causar sangramento, Isadora Pedreira- Problema 4 intermediária XIX. especialmente digestivo (na presença de malformações arteriovenosas na mucosa intestinal). A chance de sangramento é potencializada pelo fato de o usuário de DACM precisar ser antiagregado e anticoagulado (AAS + warfarin, mantendo o INR entre 2-3). Isto é necessário a fim de evitar a trombose no interior do dispositivo... Os primeiros indícios de trombose são o aumento dos níveis sanguíneos de LDH (hemólise) e o maior consumo da bateria do aparelho. Se não reconhecida e tratada logo (intensificação da anticoagulação ou trombólise química), a trombose pode levar ao colapso hemodinâmico (baixo débito cardíaco e congestão pulmonar), além de poder causar acidentes tromboembólicos (ex.: AVEi). A melhor opção terapêutica diante de colapso hemodinâmico é a troca do dispositivo, o que é feito com mortalidade perioperatória relativamente baixa (~ 6.5%) e boa sobrevida (65% em 2 anos). As principais CONTRAINDICAÇÕES aos DACM estão elencadas na tabela. Cuidados paliativos O prognóstico da ICFER sempre deve ser discutido com o paciente e familiares de forma clara e objetiva. A ICFER “avançada” possui prognóstico adverso, mesmo com o uso dos DACM e do transplante cardíaco. É no usuário de DACM como terapia de destino que este tópico adquire maior relevância, já que invariavelmente chega um momento em que o surgimento de complicações associadas ao dispositivo esgota o rol de possibilidades terapêuticas. O planejamento e o preparo para este momento devem ser antecipados. O principal objetivo passa a ser amenizar a dispneia, a dor e o delirium. Estando a paliação instituída, pode-se optar pelo desligamento do DACM, permitindo ao paciente uma morte digna, sem prolongar futilmente seu sofrimento. O que a SBC diz sobre o tratamento não farmacológico. Programas multidisciplinares de cuidados Pacientes com IC se beneficiam da orientação multiprossional, principalmente quando engajados em programas de cuidados da doença. Os principais componentes desse programa incluem uma equipe multiprofissional integrada e comprometida. A educação dos pacientes e dos cuidadores é considerada um componente fundamental, com impacto positivo em desfechos clínicos. Devem ser enfatilizados, para pacientes e cuidadores, as causas da IC, seu tratamento, o potencial de progressão clínica e a importância do autocuidado diário (peso, atividade física, cuidados com dieta, uso regular dos medicamentos, monitorização Isadora Pedreira- Problema 4 intermediária XIX. dos sinais e sintomas de descompensação, como piora do cansaço, flutuações de peso e limitação funcional). A educação face a face, com reforços, entrega de material escrito, telemonitorização e seguimento é indicada para os pacientes se manterem estáveis e livre de internações. Todas estas estratégias já foram testadas e validadas, inclusive no cenário brasileiro, com impacto em morbidade e mortalidade, como desfechos isolados ou combinados. Recentemente, ensaio clínico randomizado reforçou o efeito do envolvimento dos familiares ou cuidadores no autocuidado de pacientes com IC e o risco de readmissão hospitalar. Uma equipe multidisciplinar é o padrão-ouro para acompanhamento de pacientes com IC e suas multiplas comorbidades. Os profissionais considerados fundamentais na equipe multidisciplinar são médicos e enfermeiros especialistas em IC, além do médico comunitário de Atenção Primária. Outros profissionais, como nutricionista, fisioterapeuta, farmacêutico, educador físico, psicólogo e assistente social, são fortemente recomendados, para serem agregados à equipe multidisciplinar. Em pacientes internados, o planejamento de alta deve começar tão logo o paciente esteja com a volemia estável. Durante a internação, paciente e familiares/ cuidadores devem receber orientações sobre a síndrome e o autocuidado. Recomenda-se que pacientes que tiveram internação por IC descompensada sejam seguidos em clínicas de IC ou em programas de manejo da doença − especialmente aqueles com alto risco de readmissão. Recomendações de qualidade assistencial, respaldadas por diretrizes internacionais, sugerem visita clínica precoce após hospitalização, com avaliação médica/multidisciplinar em 7 a 14 dias após alta hospitalar. Considerando estes preceitos, cada instituição deve se adequar e propor o melhor manejo possível a seus pacientes. Atividades como facilitação do agendamento de consultas e acompanhamento de cuidados, além de aconselhamento sobre saúde financeira e emocional, devem ser realizadas. Programas de transição de cuidados podem reduzir a taxa de hospitalização, melhorar escores de qualidade de vida e reduzir os custos hospitalares. A IC está associada a prognóstico reservado e frequentes morbidades, tratamentos complexos e polifarmácia, que implicam em alterações do estilo de vida, e em comprometimento da qualidade de vida do paciente e da família, demandando acompanhamento permanente da equipe de saúde. Esta deve, especialmente, identificar e compreender o início dos sintomas depressivos e alterações cognitivas, que são fatores que podem afetar diretamente na adesão ao tratamento. O surgimento de alterações psicológicas pode ocorrer no início ou no curso da doença. Restrição de sódio O nível ideal de ingesta de sódio na dieta de pacientes com IC crônica é ainda assunto controverso. Não há estudos prospectivos randomizados com amplo número de pacientes, testando diferentes regimes de ingesta de sódio, avaliando desfechos relevantes para embasar recomendações detalhadas. Apesar disso, há evidências de que o consumo excessivo de sódio e o de fluidos associa-se ao agravamento da hipervolemia, constituindo fator de descompensação e risco de hospitalização em pacientes com IC crônica sintomática. Estudos clínicos de pequeno porte também sugerem que a restrição excessiva de sódio (< 5 g de sal por dia), em comparação com dieta com teor normal de sódio (~ 7 g de sal por dia), pode associar-se a efeitos deletérios nos pacientes com IC crônica, incluindo exacerbação da ativação neuro-hormonal, maior número de hospitalização e maior mortalidade. Por outro lado, em pacientes com IC gravemente sintomática ou avançada (estágio D),há relatos sugerindo que a restrição mais intensa de ingesta de sódio possa ter benefícios em reduzir sintomas congestivos e reinternações.150 Considerando os achados expostos, parece prudente recomendar que se evite ingesta excessiva de sódio (em níveis > 7 g de sal cloreto de sódio por dia) para todos pacientes com IC crônica. Restrição hídrica É marcante a carência de estudos avaliando o efeito da restrição de ingesta de fluidos em pacientes com IC, particularmente naqueles já recebendo tratamento medicamentoso moderno, incluindo os bloqueadores neuro-hormonais. O assunto foi recentemente abordado em revisão sistemática de seis estudos, concluindo-se que a ingesta liberal de fluidos não exerceu efeito desfavorável sobre hospitalizações ou mortalidade nos pacientes com IC. Estudo de porte moderado demonstrou redução de hospilizações em pacientes randomizados para restrição hídrica de 1.000 mL por dia quando comparado à ingesta de 2.000 mL por dia. Outros estudos de menor porte mostram resultados inconsistentes. Portanto, com base nas evidências disponíveis, não é possível estabelecermos recomendações específicas e detalhadas sobre o emprego de restrição hídrica em pacientes com IC crônica. Dieta e perda de peso na insuficiência cardíaca Existe um conceito bem estabelecido no cenário da prevenção primária das doenças cardiovasculares de que o aumento do índice de massa corporal (IMC) acima de 25 kg/m2 é acompanhado do aumento do risco de complicações médicas. Vários estudos têm mostrado que a obesidade e a sua duração têm correlação com desenvolvimento de remodelamento e queda da função sistólica ventricular esquerda, potencialmente reversíveis com a perda de peso. No cenário da IC grave e avançada, há ainda relatos de casos sugerindo efeitos benéficos da perda de peso em obesos mórbidos. Parece razoável propor que, em indivíduos com risco de desenvolver IC, deva-se buscar a manutenção de peso adequado por dieta saudável e que, na coexistência de IC e obesidade mórbida (IMC > 40 kg/m2 ) é preciso almejar redução de peso com o uso de estratégias preconizadas em diretrizes internacionais. Relatos de casos e pequenas séries sugerem que diferentes modalidades de cirurgia bariátrica podem ser seguras em pacientes selecionados com disfunção ventricular grave, desde que realizadas por equipes multiprofissionais Isadora Pedreira- Problema 4 intermediária XIX. altamente treinadas. Estudos observacionais sugerem a existência de um fenômeno caracterizado como “paradoxo da obesidade” nos pacientes com IC. IMC entre 30 e 35 kg/m2 associa-se paradoxalmente com menor mortalidade e taxas de hospitalização quando comparado a IMC considerados normais (entre 20 e 25 kg/m2 ). Outros estudos sugerem distribuição em forma de “U” para a correlação entre mortalidade e IMC nos pacientes com IC, em que a máxima mortalidade ocorre em pacientes com caquexia (IMC < 20 kg/m2), mortalidade comparativamente mais baixa nos pacientes com IMC nas faixas do normal, sobrepeso e obesidade leve (entre 20 e 35 kg/m2 ), e aumento da mortalidade quando o IMC ultrapassa 35 kg/m2. Considerando as limitações metodológicas destes estudos, os integrantes da diretriz optaram por não recomendar orientações formais de dieta para pacientes com sobrepeso e obesidade leve. Ácidos graxos poli-insaturados n-3 O estudo multicêntrico randomizado e controlado GISSI-HF mostrou pequeno benefício do emprego de ácidos graxos poli-insaturados n-3 (1 g ao dia) em pacientes com ICFEr ou ECFEp. Os resultados mostraram discreta, porém significante, redução na mortalidade por qualquer causa e no desfecho combinado de morte ou hospitalização por causa cardiovascular. Coenzima Q10 A coenzima Q10 (CoQ10) é um suplemento alimentar com efeitos potenciais benéficos no sistema cardiovascular. Uma metanálise incluindo 914 pacientes investigados nesses estudos sugeriu ausência de efeitos benéficos da CoQ10 em pacientes com IC. Estudo recente de pequeno a moderado porte sugere efeitos benéficos da CoQ10 sobre desfechos cardiovasculares maiores. Os integrantes da diretriz brasileira consideram que novos estudos são necessários para confirmar estes resultados, antes que se possa fazer recomendação do uso de CoQ10 na IC. Vitamina D Estudos observacionais têm mostrado que a deficiência de vitamina D tem alta prevalência em pacientes com IC, e que ela está associada a pior prognóstico. Alguns estudos clínicos testaram a reposição de vitamina D em pacientes com IC produzindo resultados contraditórios. Recente metanálise mostrou efeito neutro da suplementação de vitamina D em pacientes com IC, não demonstrando melhora da função ventricular esquerda ou da tolerância ao exercício. Tabagismo e drogas ilícitas Todos os pacientes com IC devem ser encorajados a parar de fumar, preferencialmente com o auxílio de serviços especializados, para cessação do tabagismo, podendo utilizar terapias de reposição de nicotina e/ou fármacos moduladores, de acordo com recomendações universalmente aceitas. Uso de bebidas alcoólicas Pacientes com miocardiopatia dilatada de origem alcoólica devem ser aconselhados a se absterem completamente do uso de bebidas alcoólicas, o que pode se traduzir em melhora substancial da função ventricular. Naqueles que não conseguem abstinência completa, a redução na ingesta pode trazer benefícios parciais. O uso permissivo de bebidas alcoólicas em pequena quantidade (≤ 10 mL de alcool para mulheres e ≤ 20 mL de alcool para homens) em pacientes com IC crônica estável de outras etiologias (não relacionada com uso de alcool) é controvertido. Os potenciais riscos devem ser explicados ao paciente, e a decisão de uso pode ser compartilhada. Vacinação Vacina para influenza e pneumococo Recomendamos a vacinação anual contra influenza para todos os pacientes com IC. Estudo recente sugere redução nas internações por doença cardiovascular dos pacientes que foram vacinados. A evidência de benefícios cardiovasculares com a vacinação para pneumococos é menos consistente, mas, na avaliação dos riscos e dos benefícios, os integrantes desta diretriz mantêm a recomendação desta imunização. Reabilitação cardiovascular Programas de exercício na IC estão protocolados há mais de duas décadas e promovem progressivo aumento da capacidade funcional, requerendo aumento gradual da carga de trabalho de 40 a 70% do esforço máximo, por 20 a 45 minutos, três a cinco vezes por semana, por 8 a 12 semanas. Quando se dispõe do teste cardiopulmonar, o limiar anaeróbico é o ponto ideal para o treinamento aeróbico, que deve ser associado a exercícios de resistência por grupos musculares, com benefícios funcionais, na qualidade de vida, no balanço autonômico e no perfil neuro-humoral. No entanto, os efeitos em longo prazo ainda não estão completamente estabelecidos, mas há indícios de ação favorável no remodelamento ventricular esquerdo. Estudos randomizados pequenos, revisões sistemáticas e metanálises têm demonstrado que o treinamento físico regular é seguro, aumenta a tolerância aos exercícios, melhora a qualidade de vida e reduz hospitalizações por IC. Um único e grande estudo randomizado multicêntrico, o HF- ACTION (Heart Failure: A Controlled Trial Investigating Outcomes of Exercise Training), mostrou modesta, mas não significante redução nos desfechos primários de morte e hospitalizações por todas as causas, mas demonstrou benefícios significativos na qualidade de vida e nas hospitalizações por IC, concluindo que a aderência à meta prescrita foi irregular ao longo do estudo. A aderência aos programas de exercícios foi reavaliada em estudo subsequente, como um fator determinante para os benefícios a médio prazo. Análise do Cochrane Heart Group sobre treinamento físico Isadora Pedreira- Problema 4 intermediária XIX. em pacientes com ICFEr mostrou tendênciade redução de mortalidade com exercício após 1 ano de seguimento. Comparado ao controle, o grupo de treinamento físico teve menor taxa de hospitalização por IC, melhorando a qualidade de vida. Para pacientes com sintomas avançados (classe IV da NYHA), ainda não há dados suficientes para indicar programas de exercício. Apenas um estudo randomizado realizado em nosso meio testou programa de exercícios diários com ventilação não invasiva para pacientes internados com IC descompensada, demonstrando benefícios funcionais. Na ICFEp há também evidências recentes que mostram benefícios funcionais avaliados pelo VO2 pico medido pelo teste cardiopulmonar, pela qualidade de vida e pela função diastólica avaliada pelo ecocardiograma. Independente da FEVE, preservada ou reduzida, a reabilitação cardiovascular com exercícios físicos personalizados é recomendada. Internacionalmente, os programas de reabilitação cardíaca são realizados em vários formatos, utilizando modalidades isoladas ou associadas. Os treinamentos aeróbicos recomendados podem ser contínuos, geralmente com intensidade de 60 a 70% da frequência cardíaca máxima (FCmax) ou limitado ao limiar anaeróbico identificado no teste cardiopulmonar, ou os treinamentos aeróbicos intervalados (High Intensity Interval Training − HIIT). Estudo multicêntrico recentemente publicado comparou as duas modalidades e concluiu que os benefícios são semelhantes. A associação do treinamento físico aeróbico aos exercícios resistidos com pesos de 40 a 60% da contração voluntária máxima (CVM), maior peso elevado voluntariamente ao menos uma vez, tem sido sugerida por revisão sistemática, com benefícios adicionais. Também os exercícios respiratórios têm sido encorajados para serem incorporados aos programas com treinamento aeróbico. Entretanto, exercícios extenuantes ou puramente isométricos devem ser desencorajados. Atividade laborativa O retorno ao trabalho é importante, tanto financeiramente, quanto para o estado emocional e a autoestima, em pacientes com doenças crônicas. Dúvidas quanto às condições de permanecerem trabalhando, ou o retorno ao trabalho devido aos sintomas, aumentam o risco de depressão. Dados de um estudo conduzido com pacientes que tiveram sua primeira internação por IC indicam que aproximadamente dois terços dos pacientes que estavam trabalhando antes da hospitalização continuavam atuando profissionalmente 1 ano após a alta hospitalar. Além disso, o aumento da capacidade funcional após o diagnóstico e a implementação de intervencões terapêuticas têm contribuindo para manter a capacidade de trabalho. Nos trabalhadores com tarefas laborativas de força, a troca de função deve ser avaliada de modo individual somente após otimização do tratamento farmacológico e não farmacológico. Situações específicas (profissões consideradas de alto risco e/ou pacientes com implantes de Cardiodesfibrilador Implantável − CDIs) devem ser individualizadas. Atividade sexual Pacientes com IC frequentemente relatam problemas sexuais, e aproximadamente 25% referem completa suspensão da vida sexual. Muitos pacientes relatam que a atividade sexual não é realizada devido aos sintomas da IC, e relacionam impotência e falta de desejo aos medicamentos utilizados para seu tratamento. Diversos fármacos comumente administrados na IC podem, de fato, estar associados com alterações de função sexual, como os diuréticos tiazídicos, alguns betabloqueadores (BB), a digoxina e os antagonistas dos receptores mineralocorticoides. O nebivolol, BB de terceira geração, parece ter perfil de ação e farmacodinâmica que reduzem substancialmente o risco de disfunção erétil. A AHA publicou posicionamento científico sobre atividade sexual e doença cardiovascular, atestando segurança para pacientes com IC em classes funcionais I a II da NYHA, mas sugere que pacientes com IC descompensada ou avançada não devem ter atividade sexual até que sua condição esteja estabilizada. Os inibidores da fosfodiesterase tipo 5 (iF-5) são geralmente seguros e eficazes para o tratamento da disfunção erétil em pacientes com IC compensada. Estudo clínico randomizado pioneiro utilizando o sildenafil foi realizado em pacientes masculinos com IC, e a medicação foi bem tolerada e eficaz para a disfunção erétil, com incremento na capacidade funcional avaliada pelo teste cardiopulmonar. Isadora Pedreira- Problema 4 intermediária XIX. Planejamento familiar A orientação de métodos contraceptivos deve ser individualizada com base na gravidade clínica, na classe funcional, na etiologia, no estilo de vida, nos valores e nas preferências. As recomendações de contracepção na IC devem considerar os riscos de gravidez, bem como os riscos relativos à eficácia dos métodos anticoncepcionais disponíveis. Além disso, devem ser abordados os efeitos da terapia medicamentosa para o feto. Pacientes com fração de ejeção gravemente reduzida e em classes funcionais III e IV devem ser desencorajadas a engravidar. REFERÊNCIA: Comitê Coordenador da Diretriz de Insuficiência Cardíaca. Diretriz Brasileira de Insuficiência Cardíaca Crônica e Aguda. Arq Bras Cardiol. v.111, n. 3, p. 436-539, 2018 MANN, D.L, et al. Braunwald – tratado de doenças cardiovasculares. 10. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2018. PASTORE, C.A., et al. III Diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia sobre Análise e Emissão de Laudos Eletrocardiográficos. Arq Bras Cardiol; v.106, (4Supl.1), p.1-23, 2016
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