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96 Unidade III Unidade III 7 A TRANSIÇÃO DA MONARQUIA PARA A REPÚBLICA 7.1 O nascimento do novo regime Entre outros aspectos, a significativa piora das relações entre a Monarquia e o Exército culminou na implantação do novo sistema em 15 de novembro de 1889. Vários eram os boatos de que o governo planejava o enfraquecimento das Armas, com atitudes como: • Substituição dos batalhões da Corte pela Guarda Nacional. • Pretensos ataques de escravos fiéis à Princesa Isabel nas instalações militares. • Detenção de Deodoro da Fonseca e de Benjamin Constant, figuras representativas do Exército. Ademais, a adesão de militares às ideias republicanas e os problemas ainda não sanados da Guerra do Paraguai são motivos apontados como os mais fortes para a mudança de regime, o que acabou ocorrendo com a prisão do Visconde de Ouro Preto pelo Marechal Deodoro da Fonseca. Comenta Gomes (2010, p. 279): O Brasil vivia de fato uma situação única na sua história, naquele momento. O derradeiro ministério do governo imperial havia sido deposto pelas armas do Marechal Deodoro, mas a República ainda não estava proclamada. Àquela altura, portanto, o regime não era nem monárquico, nem republicano. As revoltas ocorridas no século tinham a república como um dos seus objetivos, mas tiveram seu ímpeto diminuído a partir da segunda metade daquele período. A constituição do Executivo imediatamente à proclamação da República foi: • Deodoro da Fonseca: chefe do Governo Provisório. • Benjamin Constant: Ministro da Guerra. • Quintino Bocaiúva: Ministro das Relações Exteriores. 97 FORMAÇÃO ECONÔMICA E SOCIAL DO BRASIL • Rui Barbosa: Ministro da Fazenda. • Aristides Lobo: Ministro do Interior. • Campos Salles: Ministro da Justiça. • Eduardo Wandenkolk: Ministro da Marinha. Em 19 de novembro de 1889, o jornal A Federação, de Porto Alegre (RS), dirigido por Júlio de Castilhos, anunciava: Governa nosso Estado e nossa Pátria uma ditadura. É uma necessidade dos tempos que atravessamos. Essa ditadura foi instituída para o bem. Não é a ordem imposta pelo deslumbramento faiscante das baionetas. É a ordem natural, resultado necessário de um movimento que obedece a leis indefectíveis (GOMES, 2010, p. 311). Observação Júlio Prates de Castilhos foi governador do Estado do Rio Grande do Sul no final do século XIX e líder do Positivismo naquele Estado. Ainda segundo Gomes (2010, p. 311), o advogado Martim Francisco Ribeiro de Andrada, sobrinho‑neto do Patriarca da Independência, José Bonifácio, ao explicar, no dia 22 de novembro de 1889, a apatia dos paulistas perante o golpe militar, comentou: Sei que o governo militar agora triunfante discrepa da índole conservadora dos habitantes da zona paulista. Sei que, em região agricultada como a nossa, dificilmente se tolera o mundo de sargentos; cumpre, porém, observar que o governo atual é ótimo, porque é o único possível [...]. A respeito de José Bonifácio de Andrada e Silva: Foi o primeiro brasileiro a ocupar um ministério, o do Reino, em janeiro de 1822. Sua grande capacidade, seus dotes de inteligência e de caráter tornaram‑no, junto a Dom Pedro, o principal obreiro da Independência. 98 Unidade III No Primeiro Reinado, ocupava a Pasta do Império quando, em 1823, com seu irmão Martim Francisco, afastou‑se dos Conselhos da Coroa, iniciando a oposição a D. Pedro I. Foi eleito para a Assembleia Constituinte de 1823. Nesse ano, teve sua prisão e deportação para a Europa, ordenadas por D. Pedro I. Tendo voltado ao Brasil em 1829, foi residir na Ilha de Paquetá, de cujo retiro saiu apenas para assumir a cadeira de Deputado pela Bahia, como suplente, nas sessões legislativas de 1831 e 1832. Reaproximou‑se do Imperador que, ao abdicar à Coroa, em 1831, o indicou para tutor de seu filho – o futuro Dom Pedro II (JOSÉ, 2015). 7.2 Motivos para a implementação da República Embora o Partido Republicano tenha surgido por volta de 1870, sua difusão era bem restrita e defendia o surgimento de reformas que possibilitassem uma gradual mudança de regime. No entanto, o movimento passou a contar também com a adesão da elite rural produtora‑exportadora. Os líderes do movimento desejavam uma transição conservadora, sem grandes sobressaltos políticos e, principalmente, econômicos. Daí muitos estudiosos afirmarem que a implantação da república pegou quase todo mundo de surpresa. Foi pequena a reação ao movimento, restringindo‑se a alguns levantes, como o ocorrido em São Luís (Maranhão), e à publicação de livros e artigos condenando o que chamavam de golpe militar. Obviamente, não foi somente a chamada “questão militar”, mencionada anteriormente, que conduziu à implantação do regime republicano. A questão da abolição, desde a Lei do Ventre Livre, desagradou os ruralistas, que esperavam ser indenizados pela perda do que consideravam ser seus ativos. Também as decisões do Poder Moderador, exercido pelo Imperador, eram motivo de muitas reclamações dos fazendeiros, desgostosos dos aumentos dos impostos e da pouca representatividade política das províncias. Gradativamente, enxergavam a Monarquia como um grande obstáculo para o deslanche de seus projetos de poder. Discutia‑se também a desproporção da representação do Sul em relação a Norte e Nordeste, apesar de o primeiro ser econômica e populacionalmente mais desenvolvido. Havia, ainda, a queixa pela má distribuição dos recursos nacionais entre as diferentes regiões. As oligarquias assumiriam definitivamente o poder com a República, ajudadas pela fraude eleitoral (voto a descoberto e não independência do eleitorado), com retumbantes vitórias dos candidatos da situação. 99 FORMAÇÃO ECONÔMICA E SOCIAL DO BRASIL Mas o descontentamento com o Império atingia também a Igreja, com a nomeação de bispos que se propuseram a realizar mudanças nas instituições e nas atitudes dos religiosos. Priore e Venâncio (2010, posição 3424) comentam: De fato, não há como negar que essas reformas implicaram um retraimento da participação política do baixo clero. Em compensação, geraram uma legião de padres sisudos, conservadores até a medula e muito zelosos quanto às questões religiosas [...] intolerância a outros cultos, inclusive à maçonaria, animosidade que, neste caso, era ainda mais acentuada devido ao fato de os maçons, no Brasil, serem partidários do liberalismo e defensores do casamento civil e da liberdade religiosa. Atitudes como prisões de religiosos levaram ao aumento das pregações críticas do clero contra o Império. Lembrete Os embates contra as elites militares e eclesiásticas figuram, certamente, como grandes motivadores da substituição do regime monárquico. Em contrapartida, era o momento em que o regime anterior era mais prestigioso pelas camadas populares da população, tendo como motivador básico o processo abolicionista. Por isso, vários ex‑escravos alistaram‑se em forças e congregações voltadas à defesa dos interesses monárquicos. Priore e Venâncio (2010, posição 3442) comentam que, na edição de 7 de agosto de 1888, o jornal Gazeta de Notícias trazia impresso: Informam‑nos, diz o Pharol, de Juiz de Fora, de anteontem, que na Vila de Sapucaia os libertos pela lei de 13 de maio, sabendo que seus ex‑senhores fazendeiros estão organizando um clube republicano, têm solenemente declarado não aceitarem trabalho em suas fazendas por preço algum. Muitos republicanos consideravam que a libertação não deveria ser motivada basicamente por aspectos éticos, e sim pela lenta difusão do trabalho livre, de forma que fosse se tornando antieconômica a compra de escravos. Outro aspecto a ser lembrado relaciona‑se com o número de eleitores às vésperas da República – apenas 1% da população – à medida que os critérios colocados pela Monarquia (renda mínima e alfabetização) haviam reduzido significativamente esse contingente. Essa situação contribuiu para certo conformismo com a substituição do regime. 100 Unidade III 7.3 O Positivismo As novas ideias oriundas da Europa exerceramforte influência no movimento republicano brasileiro. Os partidários do Positivismo advogavam que a sociedade deveria ser regulada e controlada de modo científico, apesar de o próprio Comte almejar a gestão autoritária: “A ordem, por base, e o progresso, por fim”. Os pensamentos positivistas foram acolhidos principalmente pelos militares, no entanto havia divisão entre eles. Um exemplo foi a Revolta da Armada de 1893‑1894, que apesar das simpatias à Monarquia não a queria de volta, mas revelava os descontentamentos pelas atitudes autoritárias dos primeiros governantes, como Deodoro da Fonseca e, principalmente, Floriano Peixoto. Com base nas ideias positivistas, uma das providências do novo governo foi alterar nomes de ruas, estradas, repartições públicas, cidades, em homenagem aos novos ideais republicanos. Não se pretendia, com isso, apenas enaltecer o regime republicano, mas eliminar as lembranças e os resquícios do antigo regime. Saiba mais Para saber de forma bem mais detalhada sobre esse tipo de movimentação, leia: GOMES, L. Ordem e progresso. In: GOMES, L. 1822: como um homem sábio, uma princesa triste e um escocês louco por dinheiro ajudaram D. Pedro a criar o Brasil – um país que tinha tudo para dar errado. São Paulo: Nova Fronteira, 2010. O Positivismo exerceu fortes influências no Brasil, como pode ser exemplificado pela utilização da frase “Ordem e Progresso” na bandeira nacional. Essa expressão foi extraída da fórmula máxima do Positivismo: “O amor por princípio, a ordem por base, o progresso por fim”, em plena bandeira brasileira. A frase objetiva transmitir a imagem de que cada coisa em seu devido lugar conduziria à perfeita orientação ética da vida social. 101 FORMAÇÃO ECONÔMICA E SOCIAL DO BRASIL Saiba mais Informações mais detalhadas sobre o Positivismo podem ser obtidas em consulta ao livro: LACERDA, G. B. Teoria política positivista: pensando em Augusto Comte. Marília: Poiesis, 2013. (Série Filosofia, Positivismo e Educação, Livro 4). Kindle. 7.4 Os liberais na República O Liberalismo marcou a tônica da Primeira Constituição republicana, em 1891. Mas muitos estudiosos consideram que ele não era associado à ideia democrática, mantendo‑se, como no Império, com uma face conservadora. Nessa visão se constata o privilégio ao direito baseado nas posses e na liberdade de dispor dos recursos naturais, visando à ordem e ao progresso. Isso determinou a ocorrência de diversos conflitos no início da república, em vários pontos do país, incluindo demoradas guerras civis. Revoltas, como a famosa Guerra de Canudos no sertão baiano, não poderiam ser classificadas como antirrepublicanas, mas motivadas por atitudes abusivas e autoritárias das novas lideranças políticas. Saiba mais Informações bibliográficas do líder de Canudos, Antônio Conselheiro, podem ser obtidas em: ANTÔNIO Conselheiro. Uol Educação, São Paulo, 2015. Disponível em: https://bit.ly/3qlZyMI. Acesso em: 9 nov. 2015. 7.5 As heranças do antigo regime O novo regime foi marcado pela maturação de mudanças ocorridas no final do Império. Um dos destaques foi a transição do trabalho escravo para o assalariado, que trouxe muitas mudanças ao ambiente econômico e social. O grande aumento das exportações estimulou a superprodução de café, reforçada com os subsídios à produção oferecidos pelo governo central. 102 Unidade III As mudanças também levaram a problemas de indisponibilidade de moeda para o suporte às transações na economia. A primeira grande preocupação da República foi com a nomeação dos dirigentes tanto em nível federal quanto regional, capazes de participar do novo regime. 7.5.1 A vulnerabilidade externa Crises cíclicas do capitalismo ocorreram no século XIX, que inegavelmente afetaram a economia e a sociedade imperial. Entre os motivos mais significativos dessas crises, podem ser mencionados: • 1847 a 1848 — Constatam‑se dificuldades nas construções de ferrovias no Reino Unido, levando de roldão a construção civil e repercutindo em outras indústrias (como as de mineração e metalurgia), com baixa da produção e dos preços. • 1857 a 1858 — Essa crise se originou da supervalorização das jazidas de ouro recém‑descobertas na Califórnia, nos Estados Unidos, e a partir da quebra de ferrovias naquele país, na Inglaterra e na França. — Também contribuíram a especulação imobiliária e a crise na indústria de transformação. • 1865 a 1866 — O livre‑cambismo, adotado na Inglaterra e na França, permitiu uma tênue e rápida recuperação, que foi interrompida pela Guerra Civil norte‑americana, que ocasionou: – Diminuição do consumo. – Baixa da produção. – Crise monetária. – Crise especulativa. – Desemprego. • 1873 a 1874 — Representantes do governo norte‑americano, para incentivar os investimentos nas bolsas de valores nos papéis das ferrovias, passaram a cobrir os seus prejuízos, gerando um ônus para o governo, que foi descoberto em 1873, no governo Ulysses Grant. 103 FORMAÇÃO ECONÔMICA E SOCIAL DO BRASIL — O porte da economia dos Estados Unidos da América acarretou a contaminação global, dada a redução das importações da Europa e do consumo interno. • 1885 a 1887 — No Brasil da crise de Mauá, de 1875 até 1885, verificou‑se uma grande queda nos preços do café, refletindo a grande depressão mundial. — Em lei promulgada em 1885, o governo liberal institucionalizou a prática de empréstimo de dinheiro público diretamente aos bancos, em épocas de crises. Nessas ocasiões de crises, choques de oferta tendem a reduzir a taxa de lucro da economia. Para aumentar os seus lucros, os capitalistas elevam a produção e mostram‑se dispostos a incrementar os salários dos trabalhadores. A elevação do lucro incentiva a competição, que passa a superar a demanda para o produto. Com isso, diminuem as vendas e ocorre, então, a queda da taxa de lucro. 7.6 A disseminação do trabalho assalariado no campo A abolição da escravidão e a maciça entrada de imigrantes na última década do século XIX originaram essa nova realidade. Lembrete Várias foram as dificuldades, de natureza econômica e social, relacionadas com essas mudanças. O primeiro reflexo econômico já vinha sendo sentido até antes da abolição da escravatura, isto é, a abolição exacerbou o problema que já era sentido em função da quantidade insuficiente de moeda para o atendimento aos bancos e o suporte às transações no campo. 7.7 A dissolução da Assembleia Em 7 de dezembro de 1889, o Governo Provisório destituiu a Câmara Municipal do Rio de Janeiro devido ao que foi considerado estado de decadência, organização deficiente e parcos meios de ação. A Câmara foi substituída um Conselho Municipal de sete membros nomeados pelo novo governo. 7.7.1 Um regime diferente? Gomes (2010, contracapa) comenta: O império brasileiro, até então tido com a mais estável e duradora experiência de governo na América Latina, com 67 anos de história, desabara na manhã de 15 de novembro [de 1889]. 104 Unidade III A Monarquia cedera lugar à República. O austero e admirado imperador D. Pedro II fora obrigado a sair do país. Vivia agora exilado na Europa, banido para sempre do solo em que nascera. Enquanto isso, os destinos da nova República estavam nas mãos de um marechal já idoso e bastante doente, o alagoano Manoel Deodoro da Fonseca, considerado até então um monarquista convicto e amigo do imperador deposto [...]. Em 1889, afinal, nada de muito substancial havia mudado, com a elite fazendeira e cafeeira permanecendo no poder, tal como era no período imperial. Menciona Gomes (2010, p. 379): No fundo, o novo sistema era muito semelhante aos dos velhos tempos da Monarquia. Em vez de um imperador vitalício, governava o país um presidente da república eleito ou reeleito a cada quatro anos, mas a diferença era apenas nominal e de aparência. Os agentes mudavam de nome, mas os papéis permaneciam os mesmos. No lugar da antiga aristocracia escravista do açúcar e do café, figuravam os grandes fazendeiros dooeste Paulista e Minas Gerais. Onde antes havia barões e viscondes, entravam os caciques políticos locais, muitos deles, curiosamente, antigos coronéis da Guarda Nacional, dando origem à expressão “coronelismo”. Com a proclamação da República, o poder foi transferido para a elite econômica, representada, principalmente, pelos fazendeiros de café paulistas. Em seus últimos tempos, a monarquia era crescentemente vista como um obstáculo ao domínio das aristocracias regionais. As medidas adotadas pela Monarquia foram distanciando‑a das elites regionais, que passaram a ansiar por mais descentralização e federalismo. O pacto informal entre o presidente e os governadores, que eram, acima de tudo, representantes dessas oligarquias, assegurava ao governo a maioria no Congresso. Tal como nos Estados Unidos da América, a República foi implantada sob a forma federativa, com soberania central, mas significativa autonomia para os entes subfederais, notadamente os Estados. 105 FORMAÇÃO ECONÔMICA E SOCIAL DO BRASIL O Decreto do Governo Provisório previa: • Art. 1º. Fica proclamada provisoriamente e decretada como forma de governo da Nação Brasileira a República Federativa. • Art. 2º. As províncias do Brasil, reunidas pelo laço da federação, ficam constituindo os Estados Unidos do Brasil (BRASIL, 1889). Saiba mais Obtenha mais informações sobre a forma federativa de governo consultando: MALUF, S. Teoria geral do Estado. 31. ed. São Paulo: Saraiva, 2013. O decreto previa que, oportunamente, cada Estado faria a sua própria Constituição e elegeria os seus representantes para uma Assembleia Constituinte do Brasil. Cada Estado era instado, também, a tomar todas as medidas necessárias à garantia da ordem, à segurança pública, à defesa, à liberdade e aos direitos dos cidadãos. 8 A REPÚBLICA VELHA 8.1 As reações contrárias ao novo regime A proclamação foi seguida de um período de grande agitação, notadamente a partir do Marechal Floriano Peixoto, que atuou com poderes ditatoriais, contrariando os interesses de setores oligárquicos. Observação O Presidente Floriano Peixoto nomeou interventores militares para os governos regionais. Foi a República da Espada, de Deodoro da Fonseca e, principalmente, de Floriano Peixoto, que se encarregou de trazer a calma para o regime, combatendo movimentos revoltosos devido à forma pela qual a república vinha sendo administrada, além de saudosos da monarquia. 106 Unidade III Figura 22 – Deodoro da Fonseca: presidente da República da Espada Figura 23 – Floriano Peixoto: presidente da República da Espada Gomes (2010, p. 349) destaca que, referindo‑se a Floriano Peixoto, Euclides da Cunha comentou no jornal O Estado de S. Paulo: O herói, que foi um enigma para os seus contemporâneos pela circunstância claríssima de ser um excêntrico entre eles, será para a posteridade um problema insolúvel pela miopia completa de atos que justifiquem tão elevado renome. [...] Cresceu, prodigiosamente, à medida que prodigiosamente se lhe operara em torno uma depressão profunda. Destacou‑se à frente de um país, sem avançar – porque era o Brasil quem recuava [...]. E foi assim – esquivo, indiferente e impassível – que ele penetrou na História. 107 FORMAÇÃO ECONÔMICA E SOCIAL DO BRASIL Priore e Venâncio (2010, posição 3490) comentam: Em 1893, ao mesmo tempo em que o Rio de Janeiro era bombardeado por navios da armada, ocorreu, no Sul, a Revolta Federalista, na qual os grupos dominantes locais se dividiram entre facções a favor e contra Floriano Peixoto. Este, por sua vez, com o objetivo de conseguir recursos e milícias suplementares para os combates na capital, assim como no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, aproximou‑se de lideranças republicanas paulistas, abrindo caminho para a transição do poder para as mãos dos civis. Em 1894, com a eleição de Prudente de Morais, foi dado o primeiro passo e, em 1898, com Campos Sales, a transição se consolidou. Inaugura‑se então o que se convencionou denominar de política dos governadores, ou seja, o pleno domínio das oligarquias sobre a república brasileira. 8.2 O papelismo e o câmbio A falta de moeda para o atendimento à nova realidade econômica já era um problema agravado no final do Império e tornou‑se bem mais significativo no início do novo regime. Em fins de 1889, era dramática a solicitação de mais meios monetários. Rui Barbosa tornou‑se o primeiro Ministro da Fazenda da República, e sua gestão ficou marcada por uma expansão monetária que resultou em crise financeira, conhecida como Encilhamento. Figura 24 – Período do Encilhamento, no início da República Logo após assumir sua pasta, o ministro promulgou a Lei Bancária de 17 de janeiro de 1890, que estabelecia que as emissões bancárias, inconversíveis, seriam feitas com base em lastro mantido por títulos da dívida pública. 108 Unidade III Essas emissões correspondiam ao dobro do papel‑moeda em circulação na data da promulgação da nova Lei. Aponta Abreu (2014, posição 1536): Por volta de outubro de 1890, o governo mostra preocupações claras com o andamento da especulação bursátil e chega inclusive a tomar medidas para detê‑la através de um decreto elevando os depósitos mínimos para a constituição de sociedades, o que criaria certa dificuldade na praça. O trabalho de “limpar” a carteira dos Bancos de emissão preservando os empreendimentos viáveis se estenderia, na verdade, por vários anos. Uma maneira de lidar com os problemas foi patrocinar a consolidação dos grandes bancos [...] a intenção do governo era a de [...] constituir uma espécie de banco central nos padrões britânicos [...] com poderes para regular o volume de crédito [...] dotado da faculdade emissora e também destinado a ter posição importante no mercado de câmbio. Sandroni (1999, p. 205‑206), define Encilhamento como: Política financeira de estímulo à indústria, adotada por Rui Barbosa quando ministro da Fazenda. Baseava‑se no incremento do meio circulante com a criação de bancos emissores (tendo como lastro não libras‑ouro, mas títulos da dívida pública), cujos empréstimos teriam de ser aplicados apenas no financiamento de novas empresas industriais (e não na agricultura). Por isso, incentivou‑se intensamente a criação de sociedades anônimas, concitando‑se o público a investir seu capital na indústria e no comércio. Com créditos, garantias oficiais e um ambiente psicológico favorável, a Bolsa de Valores do Rio de Janeiro entrou em intensa atividade e a política do ministro foi popularmente identificada com o encilhamento dos cavalos logo antes da largada na pista dos hipódromos, quando a atividade dos apostadores se torna frenética. As ações em alta rápida e constante faziam a fortuna de uma infinidade de especuladores. Surgiram com isso numerosas empresas inexequíveis e mesmo fictícias. O investimento especulativo na Bolsa tornou‑se um fim em si mesmo e não o que imaginava Rui Barbosa, esperançoso de ver esse dinheiro empregado de fato em atividades industriais produtivas. O resultado foi uma desenfreada espiral inflacionária e de falências. Esses efeitos negativos foram politicamente usados pelos inimigos do Ministro da Fazenda, localizados, sobretudo, na cafeicultura e nas firmas importadoras, que tiveram contratempos em seus negócios. 109 FORMAÇÃO ECONÔMICA E SOCIAL DO BRASIL Rui Barbosa procurara responder às necessidades do mercado nacional, que contava, àquela altura, com grande contingente de imigrantes e, em certa medida, fora ampliado também com os negros libertos. Seu projeto objetivava, ainda, limitar os privilégios dos cafeicultores, que não pagavam impostos territoriais e eram beneficiados por um sistema cambial fixo que transferia para o conjunto da população os prejuízos causados pelas baixas dos preços do café. A depreciação cambial em 1891 provocou a deterioração das contas externas boa parte dessa turbulenta variação cambial é atribuída não só aos eventos políticos internos, mas tambémà ocorrências externas, como: • Colapso do Baring Brothers, em Londres. • Moratória da Argentina. De qualquer forma, a crise cambial de 1891 permitiu o encerramento do Encilhamento, fragilizando as contas públicas e as instituições financeiras. A crise cambial seguia paralela ao desarranjo político. Ainda em 1896 e 1897, pouco se notou de alterações em movimentação da taxa de câmbio, não obstante novos empréstimos obtidos junto às instituições financeiras inglesas. As dificuldades com o câmbio passaram a se tornar crônicas, a partir desse período, e a situação tornou‑se mais severa com a queda dos preços do café, ocasionada pelas grandes safras de 1896 e 1897. Os problemas refletiam tanto em nível de orçamento público quanto no equilíbrio externo, dificultando, inclusive, o lançamento de papéis brasileiros nos mercados internacionais. Logo, nova crise cambial leva à moratória do país em 1898. Desde 1898, o país iniciou um Plano Conservador para um forte saneamento monetário e fiscal da economia brasileira. O plano contratado com a Casa Rotschield (Londres) gera o chamado Funding Loan. Abreu (2014, p. 1656) esclarece: O governo brasileiro, ao longo de um período de três anos, saldaria seus compromissos relativos a juros dos empréstimos anteriores [...] com títulos de um novo empréstimo – o Funding Loan – cuja emissão se daria ao par e poderia elevar‑se até 10 milhões de libras esterlinas. As amortizações dos empréstimos incluídos na operação seriam suspensas por 13 anos. FUNDING LOAN: Empréstimo de Financiamento Campos Sales pega empréstimo com Inglaterra para financiar Brasil. Coloca como garantia serviços como saneamento e estradas de ferro. Tem alguns bons anos para pagar a dívida. Aumento de impostos e custo de dívida. Tem como objetivo segurar as rédeas da economia em tempos de crise pós-encilhamento. 110 Unidade III O esquema seria complementado por uma operação, efetuada ao longo de 1901 e 1902, através da qual os contratos de garantias de juros a estradas de ferro seriam trocados por títulos de renda fixa [...]. O Funding Loan gozaria de garantias especiais – uma primeira hipoteca sobre as receitas em moeda forte da Alfândega do Rio de Janeiro –, e a título de condicionalidade apenas se exigia que o governo agisse de forma firme e decisiva no terreno monetário e fiscal. Saiba mais Um maior detalhamento do plano aqui mencionado deve ser visto em: ABREU, M. P. (org.). A primeira década republicana. In: ABREU, M. P. A ordem do progresso: dois séculos de política econômica no Brasil. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014. Kindle. O crescimento do trabalho assalariado é visto, também, como importante mudança na política econômica brasileira, com grandes repercussões financeiras. Abreu (2014, p. 1.388) comenta que a transição para o trabalho pago, dado que os salários aumentavam as necessidades de capital de giro na lavoura, elevou de forma expressiva a demanda por moeda, na economia. Dado o caráter sazonal da atividade agropecuária, houve uma crescente demanda por adiantamentos junto aos bancos, nas épocas de safras. A sazonalidade pela procura de crédito junto aos bancos fazia que estes não conseguissem suprir as demandas por numerários, de acordo com as necessidades ditadas pelos negócios e transações. 8.2.1 Relacionamento mais amistoso com o exterior Um dos subprodutos da implementação do regime republicano foi a mudança do relacionamento com o exterior. Desde os últimos anos do século XIX cresceu bastante o relacionamento externo, com significativo aumento das exportações. Na última década do século XIX, acentuam‑se as bases da grande abertura financeira ocorrida na primeira década do novo século. Um fenômeno relevante foi a crescente importância da conta capital no balanço de pagamentos, inclusive, com a possibilidade de financiamentos em casos de insuficiência comercial. 111 FORMAÇÃO ECONÔMICA E SOCIAL DO BRASIL Abreu (2014) argumenta que a correlação entre os movimentos de capitais e os resultados das contas comerciais é também responsável pela instabilidade macroeconômica durante a fase primário‑exportadora da economia brasileira. 8.3 A política econômica antes da Primeira Grande Guerra Mundial O problema onipresente foi o de evitar ou atenuar a ocorrência de desequilíbrios macroeconômicos provocados por fortes alterações no posicionamento externo do país. Como indicado em Abreu (2014, p. 1868): Os grandes auges e quedas dos fluxos de comércio e investimento ocorridos antes da Primeira Guerra Mundial e na segunda metade dos anos 1920, e o boom e o colapso dos preços internacionais de produtos primários no imediato pós‑guerra [...] tiveram importante influência sobre o comportamento da economia brasileira e condicionaram decisões cruciais de política econômica. Várias experiências monetárias e cambiais foram estudadas e adotadas desde o início do século até a eclosão da crise de 1929. Figura 25 – Presidente Campos Sales, introdutor da Política dos Governadores O período que vai desde o ajuste recessivo do início do século, comandado por Joaquim Murtinho, até 1913, às portas da Primeira Guerra Mundial, revela um grande ciclo de crescimento. Joaquim Murtinho adotou uma série de medidas com base em política deflacionista, entendida como necessária ao equilíbrio orçamentário e monetário do país. Entre essas providências, podem ser mencionadas: 112 Unidade III • Maior incidência do imposto de consumo. • Aumentos dos impostos alfandegários e de taxas sobre importações. • Redução de despesas governamentais. • Limites à concessão de crédito aos agentes econômicos. Essas medidas permitiram a obtenção de superávits orçamentários e acúmulo de ouro com base nos depósitos brasileiros em Londres. Recuperou‑se o crédito externo, e a balança comercial tornou‑se positiva, dada a menor importação de bens e serviços. Todavia, tal remédio recessivo levou à perda do poder aquisitivo e à redução das atividades dos agentes econômicos internos. Nesse período, o produto agregado cresceu em torno de 4% ao ano e aumentou a formação de capital na indústria; houve, também, um reaparelhamento do sistema de transportes e a construção de obras ferroviárias e portuárias. Ademais, houve uma relativa estabilidade de preços. Um problema grave, já mencionado, referiu‑se ao agravamento do desequilíbrio mundial do mercado cafeeiro, gerando a necessidade de implementação de políticas protecionistas para o setor produtor e exportador desse produto. Problemas com o balanço de pagamentos e com os déficits fiscais começaram a tornar‑se mais agudos a partir de 1911. A situação externa deteriorou‑se mais em 1913, afetando a liquidez gerada pela operação do padrão‑ouro, o que seria mantido até o início da Guerra. Saiba mais Informações mais detalhadas sobre o padrão‑ouro no Brasil podem ser obtidas em: MARINGONI, G. História: império de crises. Desafios do desenvolvimento, Brasília, ano 8, n. 67, p. 72‑77, 2011. Disponível em: https://bit.ly/3bhtGEM. Acesso em: 3 nov. 2015. 113 FORMAÇÃO ECONÔMICA E SOCIAL DO BRASIL 8.3.1 Os impactos trazidos pela Primeira Guerra Mundial Os efeitos foram imediatos, notadamente sobre: • Comércio internacional. — Fluxos de pagamentos externos. • Receitas tributárias. — Indústria do café. O governo, de início, fechou a Caixa de Conversão e autorizou uma grande emissão de notas inconversíveis, com a finalidade de alcançar um alívio temporário no atendimento à liquidez e aos compromissos governamentais. Saiba mais O modelo da Caixa de Conversão é, também, conhecido como Currency Board ainda verificado em países como Hong Kong e Cingapura. Obtenha mais informações sobre ele consultando: HADBA, F. A. Caixas de conversão. Ago. 1993. Disponível em: https://bit.ly/3sR7dUX. Acesso em: 3 mar. 2021. A demora no conflito, em relação às expectativas iniciais, fez que o governo adotasse um elenco de medidas mais radicais no que tange aos ajustes na economia. Para adequar as receitaspúblicas foi ampliada a lista de produtos sobre os quais incidia o imposto de consumo. Essas providências, aliadas à redução das despesas, fez o déficit orçamentário diminuir, em termos reais, durante a guerra. O governo autorizou uma nova emissão de Notas do Tesouro e de títulos federais de longo prazo, e boa parte desses recursos foi utilizada para expandir as atividades do Banco do Brasil, admitindo que ele poderia exercer um importante papel estabilizador no crédito. Outro aspecto de grande importância durante o período da conflagração mundial, devido, principalmente, à redução das importações foi a recuperação da produção industrial doméstica. 114 Unidade III Com o fim da guerra, o desempenho da economia brasileira foi bastante influenciado pelo rápido, mas violento, movimento de auge e recessão, então vivido pelas principais economias europeias. Houve um grande aumento dos preços das commodities e a retomada das importações, que gerou superávit comercial, melhorando a situação brasileira. No entanto, essa recuperação teve vida curta, em função das políticas restritivas como resposta às pressões inflacionárias naqueles locais. A recessão mundial de 1920 traria grandes repercussões na condução da política econômica. A grande queda nos preços internacionais do café era um prenúncio do que ocorreria no final da década. O conflito entre as demandas financeiras do Tesouro e o programa de sustentação do café seria resolvido a partir do final de 1921, via crédito externo para financiar esse último. Até 1926, ocorreram melhoras, tanto no equilíbrio externo quanto na indústria cafeeira (com seus programas de apoio). Questões cambiais e monetárias rondaram a economia brasileira na segunda metade dos anos 1920. O governo Washington Luís, imediatamente anterior à Revolução de 1930, foi marcado pela postura ortodoxa em relação à política fiscal e pela intenção de constituir um “banco central moderno”. Inicialmente, Washington Luís propõe o retorno ao padrão‑ouro, com a criação da Caixa de Estabilização, nos moldes da Conversão, existente antes da Guerra. Com a criação da Caixa, o presidente pretendia facilitar a obtenção de empréstimos externos. O cumprimento das regras do padrão‑ouro, contudo, prejudicava o alcance das medidas de esterilização do aumento de moeda decorrentes do influxo de ouro. Apesar da vitória eleitoral do candidato oficial Júlio Prestes à sucessão de Washington Luís, foi grande a agitação trazida pela oposição representada pela Aliança Liberal, tendo à frente Getúlio Vargas. 115 FORMAÇÃO ECONÔMICA E SOCIAL DO BRASIL Figura 26 – Getúlio Vargas, candidato da Aliança Liberal em 1930 8.4 A expansão do café na economia brasileira A transição da Monarquia para a República manteve a característica básica da economia primário‑exportadora com produtos tropicais. Por esse motivo, o café continuou sendo o grande carro‑chefe da economia brasileira. Figura 27 – A primazia do café 116 Unidade III O problema da superprodução do café, favorecida pelos incentivos anteriores ao plantio, era preocupante, assim como o aumento da concorrência internacional. No entanto, continuavam os planos de proteção à cafeicultura, transferidos do governo central para os Estados e, posteriormente, reassumidos pelo primeiro. Entre esses programas de estímulo à cultura cafeeira vale destacar o Convênio de Taubaté, de 1906, que foi um encontro realizado em 1906 pelos governadores de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, para desenhar uma política que garantisse a rentabilidade da cafeicultura brasileira. Desde meados do século XIX, o café havia se tornado o nosso principal produto, garantindo com sua exportação, principalmente para os Estados Unidos, as divisas necessárias à sustentação do Estado e da própria economia brasileira. Esse período foi, portanto, de elevação da produção, via expansão da área plantada. Em 1906, os preços internacionais do café despencaram. Pelo Convênio, os Estados ficariam responsáveis pela compra do café a um preço mínimo, garantindo a renda dos cafeicultores e controlando o volume exportado, de acordo com as variações do mercado, buscando, dessa forma, administrar os preços internacionais. A viabilidade da proposta seria sustentada por um empréstimo de 15 milhões de libras esterlinas. Seria cobrado, adicionalmente, um imposto sobre as sacas de café, com o objetivo de equiparar o valor do empréstimo realizado. Lembrete Posteriormente, criou‑se uma Caixa de Conversão que tinha como função manter o equilíbrio de valorização monetária, com o intuito de não fugir ao controle as consequências da política. O Convênio de Taubaté previa algumas medidas que impediam a expansão desenfreada da produção, evitando custos muito altos aos Estados. Porém, como eram os cafeicultores que controlavam a máquina estatal, tais medidas não foram seguidas, e a produção aumentou consideravelmente, tal como as rendas pagas aos agricultores. Os resultados dessa política foram desastrosos quando o preço do café despencou em 1929, com a quebra da Bolsa de Valores de Nova York. Tal fato ocasionou enorme prejuízo aos cafeicultores e o fim da dominação política exclusiva do Estado brasileiro pelos cafeicultores. 8.5 Os movimentos tenentistas Esses movimentos foram conduzidos por jovens oficiais dos exércitos, originários da classe média urbana, que pretendiam moralizar a república brasileira, pois eram contrários aos poderes oligarcas e, por isso, eram tidos como rebeldes. 117 FORMAÇÃO ECONÔMICA E SOCIAL DO BRASIL Os movimentos não eram organizados, em nível nacional, e não se aliavam a outras classes civis, entretanto foram fundamentais para a derrubada dos governos da Primeira República. Entre esses movimentos destacam‑se: • Os Dezoito do Forte: — Rebelião de julho de 1922, quando tomaram posse do Forte de Copacabana e pretendiam impedir a posse de Artur Bernardes. • A Revolução de 1924: — Ocorreu em 5 de julho em São Paulo e tinha como intuito a desestabilização do governo de Artur Bernardes. — O ponto inicial da revolta foi a expulsão do governador e a tomada da cidade de São Paulo. • Coluna Prestes, de 1925 a1927: — Surgiu em abril de 1925 e percorreu 25 mil quilômetros no interior do Brasil. — Seu objetivo era conseguir o apoio da população para o combate a Artur Bernardes. Figura 28 – Integrantes da Coluna Prestes Os tenentes mostravam‑se insatisfeitos com o apoio e os recursos que eram concedidos ao Exército. Retornando ao Brasil, após o exílio na Bolívia (1927), os tenentes participaram efetivamente da tomada do poder em 1930 pela revolução que conduziu Getúlio Vargas ao poder. 118 Unidade III 8.6 A odisseia da borracha Sem perder a majestade, o café cedeu bom espaço, no início do século XX, a um produto que foi responsável por rápido desenvolvimento do Norte brasileiro: a borracha. Furtado (1985) refere‑se ao grande aumento da demanda da produção de borracha, no final do século XIX e início do XX, comparando a sua evolução com a da indústria têxtil na segunda metade do século XVIII e a construção das estradas de ferro na metade do XIX. Menciona, assim, o dinamismo trazido pela indústria de veículos terrestres a motor de combustão interna a partir do último decênio do século XIX. Estavam os novos demandantes à procura de uma solução de longo prazo para o fornecimento da borracha e viram na Amazônia essa possibilidade. Menciona Furtado (1985, p. 118): A evolução da economia mundial da borracha desdobrou‑se assim em duas etapas: durante a primeira encontrou‑se uma solução de emergência para o problema da oferta do produto extrativo; a segunda se caracteriza pela produção organizada em bases racionais, permitindo que a oferta adquira a elasticidade requerida pela rápida expansão da procura mundial. A primeira fase da economia da borracha se desenvolve totalmente na região amazônica e está marcada pelas grandes dificuldades que apresenta o meio. Com o enorme aumento de preços constatado noinício do século XX, os demandantes procuraram uma solução mais definitiva, optando pela produção asiática, por exemplo, a da Malásia. Tal como no caso do café, o aumento da produção da borracha dependia da disponibilidade de mão de obra, e, no caso da Amazônia brasileira, esse suprimento foi possível principalmente com a utilização de pessoal liberado do Nordeste, com especial alusão ao Ceará, fugindo da privação e da miséria. É ainda Furtado (1985) quem menciona: Aparentemente, a imigração europeia para a região cafeeira deixou disponível excedente de população nordestina para a expansão da produção da borracha. A população do Nordeste, conforme já indicamos, estava ocupada, desde o primeiro século da colonização, em dois sistemas econômicos: o açucareiro e o pecuário. A decadência da economia açucareira, a partir da segunda metade do século XVII, determinou a transformação progressiva do sistema pecuário em economia de subsistência. 119 FORMAÇÃO ECONÔMICA E SOCIAL DO BRASIL Nesse tipo de economia, a população tende a crescer em função da disponibilidade de alimentos, a qual depende diretamente da disponibilidade de terras. A produção de algodão é aumentada a partir dos anos 1860, em função da grande elevação de preços provocada pela guerra civil nos EUA, trazendo prosperidade para certas regiões, como o Ceará. As ondas de prosperidade de produtos voltados à exportação determinavam deslocamentos provisórios da produção de artigos de subsistência, voltados ao mercado interno. O problema assumirá extrema gravidade por ocasião da prolongada seca de 1877‑80, quando, praticamente, desapareceu quase todo o rebanho da região e pereceram de 100 mil a 200 mil pessoas. Os governos dos Estados amazônicos interessados organizaram serviços de propaganda e concederam subsídios para gastos de transporte. Formou‑se, assim, a grande corrente migratória que tornou possível a futura expansão da produção de borracha na região amazônica, permitindo à economia mundial preparar‑se para uma solução definitiva do problema. A produção e a exportação da borracha tomariam novo impulso durante a Segunda Guerra Mundial (1939‑1945), com as dificuldades de importação dos países asiáticos. 8.7 Havia indústria na República Velha? Na verdade, havia indústrias mesmo antes desse período, no entanto as dificuldades para o seu surgimento e desenvolvimento eram de grande monta. Reproduzimos, a seguir, texto extraído da obra Formação Econômica do Brasil, de Furtado (1985), relatando essas dificuldades: A industrialização teria de começar por aqueles produtos que já dispunham de um mercado de certa magnitude, como era o caso dos tecidos, única manufatura cujo mercado se estendia inclusive à população escrava. Ocorre, porém, que a forte baixa dos preços dos tecidos ingleses [...] dificultou a própria subsistência do pouco artesanato têxtil que já existia no país. A baixa de preços foi de tal ordem que se tornava praticamente impossível defender qualquer indústria local por meio de tarifas. Teria sido necessário estabelecer cotas de importação. Cabe reconhecer, entretanto, que dificultar a entrada no país de um produto cujo preço apresentava tão grande declínio seria reduzir substancialmente a renda real da população numa etapa em que esta atravessava grandes dificuldades. 120 Unidade III Por último é necessário não esquecer que a instalação de uma indústria têxtil moderna encontraria sérias dificuldades, pois os ingleses impediam por todos os meios a seu alcance a exportação de máquinas. Há ainda muita divergência entre os estudiosos a respeito do desenvolvimento da indústria no país. Parte‑se, assim, de teorias que consideram a agroexportação como empecilho para o desenvolvimento da indústria. Outras, porém, admitem que era possível a indústria se desenvolver utilizando capitais oriundos do café. Conforme Suzigan (1986, p. 5), podem ser classificadas quatro interpretações para o processo de industrialização no Brasil: • Teoria dos Choques Adversos — Surgiu a partir das ideias da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) no período entre 1930 a 1950, defendida por Celso Furtado. — Considera que a industrialização ocorreu em resposta às dificuldades surgidas para a importação de bens em função da Primeira e da Segunda Guerras Mundiais e da Crise de 1929. Saiba mais Mais informações sobre as ideias da Cepal podem ser encontradas em: GIAMBIAGI, F.; ALÉM, A. C. Finanças públicas: teoria e prática no Brasil. 2. ed. São Paulo: Campus, 2001. • Destaque das exportações perante a industrialização — Essa visão admite a existência de uma relação linear entre a expansão do setor exportador (no caso, notadamente o café) e o processo de industrialização. — Assim, para esta teoria, a industrialização cresceu em épocas de expansão dessas exportações, com interrupções nas guerras e na crise de 1929. • Capitalismo Tardio — Neste caso, o desenvolvimento da indústria se deu em consonância com o do capitalismo em geral. 121 FORMAÇÃO ECONÔMICA E SOCIAL DO BRASIL — Considera‑se, pois, que a acumulação de capital no setor cafeeiro, por ocasião do aumento das exportações do produto, permitiu a posterior promoção industrial. • Promoção via intervenções governamentais — Aqui é enfatizado o papel das políticas de governo para a promoção da indústria, como: – Proteção aduaneira, com taxações e barreiras aos concorrentes importados. – Concessão de subsídios à indústria nacional. 8.8 O Crash de Nova York A partir de 1929, a política de valorização do café deixou de surtir os resultados esperados pela sociedade, notadamente, pela elite fazendeira exportadora. Foi grande o crescimento da produção nos anos 1920, mas as exportações mantinham‑se no mesmo patamar, praticamente. Os preços eram mantidos estabilizados a partir da manipulação dos estoques, prática fartamente adotada pelos governos brasileiros, tanto federal quanto estadual (notadamente São Paulo); isso propiciava a garantia da rentabilidade dos produtores. Num círculo vicioso, essa lucratividade incentivava o aumento da produção. Furtado (1985) revela que, no período entre 1927 e 1929, as exportações conseguiam somente cobrir o volume produzido. Dada a inelasticidade da procura, as quantidades exportadas não crescem na mesma proporção da variação de preços, o que dificulta a formação de renda no setor. É novamente Furtado (1985) quem comenta que os Estados Unidos, nosso principal importador, aumentaram sua demanda em cerca de 35% no correr desse decênio. Porém, o consumo de café manteve‑se em torno de 12 libras‑peso. O controle do volume ofertado era, pois, a condição fundamental para a manutenção da renda dos cafeicultores, já que a manutenção de uma oferta elevada trazia à tona a questão estrutural da negociação do produto, dada a fraca resposta da demanda. A política de valorização no Brasil acabava, também, por melhorar as condições para os concorrentes internacionais, que, com menor participação no mercado, mantinham alta a renda do setor, em função dos preços mantidos artificialmente altos. Houve grande crescimento econômico dos países desenvolvidos na década de 1920. Porém, tal crescimento era o prenúncio da crise que afetou a economia capitalista a partir do final da década. 122 Unidade III A crise se esparramou dos desenvolvidos para as nações emergentes, elevando, dramaticamente, o desemprego. Foi Furtado (1985), inspirado pelo pensamento cepalino, do qual fazia parte, quem, ao diagnosticar os efeitos da crise sobre os países emergentes, notadamente os da América Latina, apontou a necessidade de uma mudança de prioridades do setor agrícola exportador para a indústria. A economia mundial somente voltaria a apresentar crescimento mais significativo e redução de desemprego insuflada pelos dispêndios determinados pela Segunda Guerra Mundial. 8.9 A guinada para o mercado interno Com a crise de 1929, a atenção da economia brasileira voltou‑se mais ao mercado internodo que ao mercado externo. Tornou‑se impraticável manter as medidas relacionadas com a política de valorização do café, praticadas desde o início da República, principalmente no Convênio de Taubaté (na verdade, desde o fim do Império). A própria crise contribuiu de forma decisiva para “enxugar” as fontes de crédito externo e ainda ajudou a diminuir o ímpeto da demanda internacional do produto. As exportações caíram, assim como a capacidade de importar reduziu bastante. Entretanto, o governo manteve a sua política de compra de café de forma a tentar reduzir a queda da renda da cafeicultura, mas, apesar disso, houve um crescimento da demanda de produtos domésticos, dadas as dificuldades de importação. De certa forma, isso pode ser entendido como uma proteção ao produtor nacional, que foi incentivado a incrementar sua produção (notadamente de manufaturados). Houve, então, como aponta Furtado (1985), o deslocamento do centro dinâmico da economia. Boa parte do crescimento da indústria nacional deveu‑se à capacidade ociosa nela disponível. Além de bens de consumo, começou apesar de ser ainda tímida, a produção de bens de capital no país. Seria doravante o mercado doméstico o que ditaria as mudanças do emprego e de ritmo de crescimento da economia. A principal variável responsável pelo crescimento econômico passou a ser a taxa de investimento, mas as exportações ainda eram muito importantes, até para que fossem geradas divisas que permitissem a geração de renda para a indústria. A taxa de câmbio aumentou o seu poder estratégico de regularização da economia e das variadas políticas de crescimento econômico. 123 FORMAÇÃO ECONÔMICA E SOCIAL DO BRASIL Deu‑se partida ao processo de industrialização por substituição de importações, atendendo inclusive a orientações emanadas da Cepal, que havia diagnosticado a perda comparativa dos países emergentes em relação aos desenvolvidos, pela sua especialização na produção de produtos primários destinados fundamentalmente às exportações. Como indica Pires (2010, p. 59): A industrialização feita a partir desse processo de substituição de importações esteve voltada ao mercado doméstico e caracterizou‑se pela seguinte sequência: • Estrangulamento externo – a queda do valor das exportações com manutenção da demanda interna, mantendo a procura por importações gerando escassez de divisas. • Ante a escassez de divisas, o governo toma medidas que acabam por proteger a indústria local preexistente, aumentando a competitividade e a rentabilidade da produção doméstica. • Tais medidas geram uma onda de investimentos nos setores produtores de bens substitutos dos importados. Passa‑se à produção interna do que antes era importado, o que aumenta a renda doméstica e a demanda agregada. • O próprio crescimento da procura agregada pode causar novo estrangulamento, que então resulta em aumento das importações e de parte dos investimentos que se materializam em nova importação de insumos (extração de matérias‑primas e importação de maquinário). • Retoma‑se o processo. Saiba mais Informações mais detalhadas e analíticas a respeito da origem e do desenvolvimento do processo de substituição de importações podem ser obtidas em consulta ao livro: TAVARES, M. C. Da substituição de importações ao capitalismo financeiro: ensaios sobre economia brasileira. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1981. 124 Unidade III 8.10 A Revolução de 1930 Houve uma significativa mudança na orientação política, econômica e social brasileira com o governo de Getúlio Vargas. Era o final da antiga política dos Governadores, denominada Café com Leite, dado que objetivavam revezar no poder Executivo os representantes de São Paulo e de Minas Gerais. Observação A política dos governadores foi, na verdade, um sistema político não oficial, idealizado e colocado em prática pelo presidente Campos Salles (1898‑1902). Pode ser entendida como a troca de favores políticos entre o presidente da República e os governadores dos Estados da Federação. O presidente da República não interferia nas questões estaduais e, em troca, os governadores davam apoio político ao Executivo federal. Saiba mais Mais detalhes sobre tal política podem ser obtidos consultando: O QUE foi a política dos governadores na República Velha, resumo, características, história, coronelismo, definição, funcionamento, “degola”. História do Brasil.Net, 2015. Disponível em: https://bit.ly/3ec9VQN. Acesso em: 5 nov. 2015. Indica Abreu (2014, posição 1811): [...] o grosso da historiografia pós‑1930 explica candidamente a condução da política econômica na Primeira República como sendo basicamente movida pelos interesses corporativos da cafeicultura. O exercício alegadamente irrestrito do poder político dos interesses do café na formulação da política econômica ilustra‑se, segundo esta visão tradicional, pelos “fatos” de que (i) o Executivo sempre ter‑se‑ia mostrado disposto a apoiar programas de valorização do café; e que (ii) a depreciação secular experimentada pelo mil‑réis entre 1889 e 1930 teria resultado de decisões politicamente motivadas pelo interesse em beneficiar o setor líder da burocracia exportadora. 125 FORMAÇÃO ECONÔMICA E SOCIAL DO BRASIL Essa interpretação foi atacada por historiadores econômicos que entendiam que a política econômica teria sido influenciada por princípios ortodoxos, em termos de política monetária, fiscal e cambial. Fausto (2010), contudo, considera que a historiografia política qualificou como ingênua a percepção da força hegemônica da aristocracia rural paulista. Getúlio Vargas, que liderou a Revolução de 1930, permaneceu no poder até 1945, podendo seu governo ser classificado/dividido em três etapas: • Governo provisório: 1930‑1934. • Governo eleito: 1934‑1937. • Ditadura (Estado Novo): 1937‑1945. Muitas mudanças marcaram os períodos de Vargas à frente do país. Foram criadas diversas leis, entre essas, leis trabalhistas que ocasionaram maiores direitos aos trabalhadores, surgindo a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho). Saiba mais Mais informações sobre esse período podem ser obtidas nos volumes da coleção de Lira Neto: NETO, L. Getúlio (1882‑1930): dos anos de formação à conquista do poder. São Paulo: Companhia das Letras, 2012. v. 1. NETO, L. Getúlio (1930‑1945): do Governo Provisório à ditadura do Estado Novo. São Paulo: Companhia das Letras, 2013. v. 2. NETO, L. Getúlio (1945‑1954): da volta pela consagração popular ao suicídio. São Paulo: Companhia das Letras, 2014. v. 3. O período Vargas foi marcado também por embates ideológicos como a luta contra o Comunismo. Internamente, os eventos da Revolução Paulista de 1932 marcaram o descontentamento dos grandes produtores pela perda da hegemonia política. Reclamavam, também, a instalação de uma Constituição para o país, pendente desde o início da Revolução de 1930. O nacionalismo econômico tornou‑se referência ideológica‑política a partir da Revolução de 1930. Podem ser identificados como motivos para essa mudança a crise verificada no setor agroexportador e a necessidade de atender às aspirações dos setores sociais urbanos. 126 Unidade III A crise mundial de 1929 afetou diretamente as exportações brasileiras, que, por sinal, já apresentavam problemas antes mesmo de sua eclosão. Os períodos pós‑1930 foram marcados pelo recrudescimento da intervenção do Estado na economia, inclusive com a instalação de muitas empresas públicas que participaram ativamente do processo de desenvolvimento do país. Resumo Inicialmente, apresentamos vários fatores que foram elencados como justificativas da substituição da Monarquia pelo regime republicano. De pronto, mencionam‑se as escaramuças entre o Exército e a Corte, com base em boatos que minavam o apoio ao regime. Foram significativas, também, as divergências em função do encaminhamento e dos resultados com a Guerra do Paraguai. Pode‑se dizer que foi nula a participação popular na implementação da República.Nesse momento, é importante destacar a influência das ideias positivistas de Augusto Comte e seus seguidores, originadas na Europa. As divergências com o clero também representaram um importante papel na mudança do regime. Mas crescia também o descontentamento dos fazendeiros, de café principalmente, que reclamavam de atitudes e medidas do governo imperial que os prejudicavam. A libertação dos escravos, sem a indenização dos seus proprietários, como diziam, foi particularmente criticada pelos ruralistas. A República atravessou um momento inicial de grandes conflitos, em que se destacou a participação do segundo presidente (Floriano Peixoto), que teve de enfrentar conflitos com militares. Particularmente difíceis foram os ajustes que se fizeram necessários em termos de política monetária, resultando, de início, sob a liderança do primeiro ministro da Fazenda, Rui Barbosa, em grave crise financeira. Pressionado pelo clamor contra a falta de dinheiro, notadamente em função do desenvolvimento urbano e da agregação de ex‑escravos às transações monetárias, Rui Barbosa adotou medidas voltadas à ampliação da oferta de moeda. 127 FORMAÇÃO ECONÔMICA E SOCIAL DO BRASIL É desse período, também, a maior percepção da vulnerabilidade externa, em função das crises econômicas do Capitalismo no século XIX que culminaram na Grande Recessão do final dos anos 1920. As repercussões da 1ª Guerra Mundial naturalmente afetaram a economia brasileira. Afinal, enfrentamos problemas com o Balanço de Pagamentos e os déficits fiscais dos primeiros governos. Ao fim da Guerra, o desempenho da economia brasileira foi bastante influenciado pelo rápido, mas violento movimento de auge e recessão então vivido pelos Estados Unidos da América e pelas principais economias europeias. No final do período, sofremos as repercussões da Crise de 1929, reconhecida como a maior já ocorrida no sistema capitalista. Devido à crise pioraram drasticamente as condições do mercado cafeeiro, mostrando a menor eficácia das políticas protecionistas para o produto. A política cambial foi também agitada nesse período, em boa parte, em função da situação do café no comércio internacional. Destacamos, também, o ciclo da borracha, cujo auge ocorreu no final do século XIX e início do XX, na região amazônica. Por fim, foram apresentadas as teorias que procuram justificar as razões que levaram ao desenvolvimento da indústria no país, como: • Teoria dos Choques Adversos. • Destaque para as exportações. • Capitalismo tardio. • Promoção com base em intervenções governamentais. De fato, a Crise de 1929 e a Revolução de 1930, que levou Getúlio Vargas ao poder, alteraram o eixo dinâmico da economia brasileira, direcionando‑a para o atendimento ao mercado interno. E essas mudanças trazidas pela revolução de 1930 deram um fim à chamada Política dos Governadores, iniciada com Campos Sales. 128 Unidade III Exercícios Questão 1. (MPE‑GO/2020, adaptada) A chamada Política do Café com Leite, existente na República Velha, pode ser caracterizada como a: A) aliança entre os estados de São Paulo e Goiás, sendo que o primeiro escolhia o Presidente da República, enquanto o vice deveria ser um político goiano. B) aliança política entre os estados de São Paulo e Minas Gerais, a fim de controlar a política em nível nacional, revezando‑se na Presidência da República. C) aliança econômica entre os estados de São Paulo, Minas Gerais e Goiás, com o objetivo de impulsionar a exportação de café e de produtos derivados do leite. D) exportação de café dos estados do Paraná e Minas Gerais, aliada à exportação de leite pelo Estado do Rio Grande do Sul. E) aliança das oligarquias locais com as oligarquias estaduais para eleger governadores favoráveis à exportação de café e de produtos lácteos. Resposta correta: alternativa B. Análise da questão A constituição de 1891 garantia o direito ao voto universal masculino aos alfabetizados e preconizava o voto aberto (não secreto). Por isso, era comum na República Velha (1889‑1930) o voto de cabresto, ou seja, a prática do constrangimento das elites locais sobre os eleitores para que votassem em políticos do interesse delas. Esse sistema eleitoral viabilizava o coronelismo, uma aliança política entre os governadores e as elites locais. Enquanto os governadores concediam favores e obras públicas aos coronéis locais, as elites locais, em troca, asseguravam que os eleitores votassem nos candidatos apoiados pelos governadores. As relações entre governo estadual e federal também eram marcadas pela troca de favores sob a chamada política dos governadores, pois os governadores locais cediam apoio político à presidência em troca de benefícios econômicos. Por fim, havia a Política do Café com Leite, isto é, a aliança política entre os dois estados então mais importantes economicamente, São Paulo e Minais Gerais (produtores, respectivamente, de café e de leite), que se revezavam na presidência da República. 129 FORMAÇÃO ECONÔMICA E SOCIAL DO BRASIL Questão 2. Leia o texto a seguir, que trata das políticas de defesa de preço do café nas primeiras três décadas do século XX. “As desastrosas consequências da defesa permanente são bastante conhecidas. Os preços mantidos num nível alto estimularam mais e mais a produção e, com isso, aumentaram desmesuradamente os estoques. Além disso, essa política aumentou a concorrência com outros países exportadores favorecidos pela manutenção dos altos preços. Tudo isso encerrava um círculo vicioso: os estoques aumentavam os preços, que aumentavam a produção, o que impunha, por sua vez, o aumento dos estoques. Não demorou para que se formassem estoques sem qualquer viabilidade econômica a curto prazo. Com o crack da Bolsa de Nova York em 1929, houve uma brutal queda da demanda, fazendo com que os preços caíssem imediatamente em 30%. Os estoques perderam o valor e os fazendeiros ficaram sem dinheiro para pagar os empréstimos recebidos.” Fonte: Perissinotto, R. M. Classe dominante e política econômica na economia cafeeira (1906‑1930). Perspectivas: Revista de Ciências Sociais, v. 16, 1993. Adaptado. Tendo em consideração o trecho lido e seus conhecimentos, avalie as afirmativas: I – Durante o século XX, o subsídio público à economia cafeeira incentivou os cafeicultores a aumentarem a produção de café, mesmo em períodos de baixa demanda. II – A hegemonia da cafeicultura do Sudeste brasileiro impediu o sucesso de outras atividades econômicas, como as da borracha e do algodão. III – Com a crise da Bolsa de Nova York em 1929, houve queda das exportações de café do Brasil e declínio da hegemonia cafeeira paulista. É correto o que afirma apenas em: A) I. B) I e II. C) I e III. D) II e III. E) III. Resposta correta: alternativa C. 130 Unidade III Análise das afirmativas I – Afirmativa correta. Justificativa: o texto lembra que as políticas de subsídio ao café, por manterem preços elevados, “estimularam mais e mais a produção e, com isso, aumentaram desmesuradamente os estoques”. Por isso, mesmo em períodos de baixa demanda, os produtores não reduziam a oferta de café. II – Afirmativa incorreta. Justificativa: ainda que haja ciclos de ascendência e decadência de certos produtos econômicos, nunca algum produto foi o único item de exportação do Brasil. Embora a cafeicultura fosse hegemônica no século XX, isso não suprimia a existência de outras atividades econômicas importantes. A borracha, por exemplo, teve uma relevância econômica no norte do país por conta do aumento da demanda estrangeira no fim do século XIX e no início do século XX provocado pela Segunda Revolução Industrial. III – Afirmativa correta. Justificativa: com a queda da demanda estrangeira por café decorrente da crise de 1929, os produtores de café tiveram prejuízos e não conseguiam sequer pagar os empréstimos contraídos. Os cafeicultores paulistas perderam sua hegemonia, o que pode ser notado, por exemplo, pela ascensão do gaúcho Getúlio Vargasà presidência por meio da Revolução de 1930, que depôs o presidente paulista Washington Luís e impediu a posse do presidente paulista eleito Júlio Prestes. 131 FIGURAS E ILUSTRAÇÕES Figura 1 010.JPG. Disponível em: https://bit.ly/3c5srYr. Acesso em: 22 set. 2015. Figura 2 MAPA_1.JPG. Disponível em: https://bit.ly/3sRhFMb. 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