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@anabea.rs | Ana Beatriz Rodrigues 1 LEISHMANIOSE INTRODUÇÃO Leishmaniose é uma zoonose infecciosa, não contagiosa e de alta letalidade. É de notificação compulsória. AGENTE ETIOLÓGICO: protozoário Leishmania. MODO DE TRANSMISSÃO: picada de insetos infectados (fêmea). PERÍODO DE INCUBAÇÃO: 2-3 meses EPIDEMIOLOGIA MUNDIAL − OMS: 350 milhões de pessoas estejam expostas ao risco; − 2.000.000 de novos casos das diferentes formas clinicas; − Segundo lugar entre as protozooses transmitidas por vetores, superada apenas pela malária; BRASIL Em 2021, até 23 de julho − 790 casos de leishmaniose; − 79 óbitos pela doença. Estados que mais apresentaram óbitos: Maranhão (16), Pará (13), Bahia (11) e Minas Gerias (11). 2020 2019 2.529 casos da doença; 207 óbitos 2.032 casos; 165 óbitos PADRÃO EPIDEMIOLÓGICO Silvestre − A transmissão acorre de áreas de vegetação primária onde tem animais silvestres Ocupacional e relacionado a laser − Ocorre quando o homem entra na mata para explorar a floresta, para construção de estradas/usinas, atividades agropecuárias ou para turismo também Padrão rural e periurbano. ETIOLOGIA FILO Sarcomastigophora SUB-FILO Mastigophora ORDEM Kinetoplastida FAMÍLIA Trypanosomatidae GÊNERO Leishmania *Protozoário flagelado As espécies de Leishmania causadoras das leishmanioses são divididas em dois SUBGÊNEROS, LEISHMANIA E VIANNIA, e agrupadas em complexos. @anabea.rs | Ana Beatriz Rodrigues 2 Podem ser diferenciadas pela forma de desenvolvimento no mosquito: − Leishmania: intestino anterior e médio do mosquito; − Viannia: intestino anterior, médio e posterior do mosquito. A espécie de Leishmania juntamente com o estado imunológico do indivíduo acometido implica em diferentes manifestações clínicas da doença, que variam de formas localizada e benigna até lesões mucocutâneas e resistentes. FORMAS ENCONTRADAS NO BRASIL − Leishmania (Viannia) braziliensis (todos os estados); − L. (V) guuyanensis (Amapá, Roraima; Amazonas, Pará, Acre); − L. (V) naiffi (Pará e Amazonas); − L. (V) lainsoni (Pará, Acre, Roraima); − L. (V) shawi (Piaui, Maranhão e Pará) − L. (V) lindenbergi (Pará) − L. (V) amanonensis (Amazonas, Acre, Pará, Bahia ...) *L. Braziliensis é a principal. MODO DE TRANSMISSÃO A Leishmaniose é transmitida por meio da picada de insetos conhecidos popularmente como mosquito palha, asa-dura, tatuquiras, birigui, dentre outros. Estes insetos são pequenos e têm como características a coloração amarelada ou de cor palha e, em posição de repouso, suas asas permanecem eretas e semiabertas. A transmissão acontece quando fêmeas infectadas picam cães ou outros animais infectados, e depois picam o homem, transmitindo o protozoário causador da doença. PERÍODO DE INCUBAÇÃO Dura de 2 a 3 meses, podendo dar um falso negativo na reação de Montenegro se a doença estiver no início. CICLO BIOLÓGICO *Reprodução por divisão binaria O protozoário é polimórfico: − No inseto: ele começa com Promastigota depois desenvolve para Paramastigota e depois para Promastigota Metacíclico (é a forma infecciosa). − No hospedeiro mamífero: Amastigota MACRÓFAGO RODEADO POR LEISHMANIA *não existe tratamento para o cachorro., normalmente é a eutanásia. Explicação do 1º CICLO 1. A leishmaniose é transmitida pela picada de flebotomíneas infectadas. Ao se alimentarem de sangue, as flebotomíneas injetam promastigotas metacíclicos (o estágio infeccioso) de sua probóscide. 2. Os promastigotas são fagocitados pelos macrófagos e outras células mononucleares fagocíticas. 3. Nessas células, os promastigotas se transformam em amastigotas (o estágio tecidual). 4. Os amastigotas se multiplicam por divisão simples e infectam outras células fagocíticas mononucleares. 5–6. Ao se alimentarem do sangue de um hospedeiro infectado, as flebotomíneas são infectadas pela ingestão de macrófagos infectados por amastigotas. 7. No intestino médio das flebotomíneas, os amastigotas se transformam em promastigotas. 8. Se multiplicam, se desenvolvem e migram para a probóscide. Inseto Promastigota Paramastigota Promastigota metacíclico Forma infecciosa Hospedeito mamífero Amastigota @anabea.rs | Ana Beatriz Rodrigues 3 CLASSIFICAÇÃO LEISHMANIOSE TEGUMENTAR − Não contagiosa; − Crônica; − Atinge ambos os sexos; − Exclusiva de pele e mucosa. CRONOLOGIA 1. Lesão inicial (picada/inoculação) a. Pápula eritematosa b. Papulocrostosa / papulovesiculosa / papulopustulosa 2. Ulcera 3. Lesão vegetante ou cicatrização CARACTERÍSTICAS DA LESÃO: − Úlcera típica: contornos circulares; bordas elevadas, bem delimitadas (moldura de quadro); fundo granuloso, cor vermelho vivo; presença de exsudato seroso ou seropurulento. − Desenvolve uma lesão vegetante ou cicatriza. Pode ter várias lesões e várias formas em um paciente só? Sim, um paciente pode apresentar uma lesão inicial, outra ulcerada ou outra cicatrcial. DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS: tuberculose cutânea e paracoco. Leishmaniose mucocutânea: ulcera de inoculação com a típica borda em moldura, apresentando ao fundo granulações grosseiras, com localização característica (perna) Le is h m an io se Visceral ou calazar Vísceras Calazar grave L. Tegumentar americana L. Cutânea Difusa Tegumentar Pele e mucosa + 20 espécies L. Visceral Neotropical ou Americana @anabea.rs | Ana Beatriz Rodrigues 4 Leishmanio tegumentar: placa infiltrada, verrucosa e ulcerada LEISHMANIOSE MUCOSA Exclusivamente em mucosa. Ocorre 1 a 2 anos após o surgimento da pápula de inoculação. Acomete especialmente o nariz. Úlceras grandes nas áreas de mucosa oral ou nasal (mucocutâneas) se desenvolvem em diversos pacientes após a invasão inicial das células reticuloendoteliais. Pode haver lesões cutâneas grandes, lesões mucosas ou uma combinação de ambas. Uma lesão cutânea pode cicatrizar espontaneamente. Entretanto, casos não tratados de lesões mucosas podem resultar, por exemplo, em destruição do septo nasal. Os lábios, o nariz e outras partes moles circunjacentes também podem ser afetadas nessas infecções. Edema e infecções bacterianas secundárias, combinadas com lesões mucosas numerosas ou extensas, podem causar desfiguramento da face do paciente. A morte é frequentemente atribuída à infecção bacteriana secundária. *Óbito devido a obstrução das vias aéreas É uma doença mutilante, onde se tem deformação e, geralmente, o paciente apresenta vergonha pelo seu quadro necessitando um acompanhamento com o psicólogo. Leishmaniose mucocutânea: infiltração nasal. Leishmaniose mucocutânea – rinofaringite mutilante, com lesões no palato “em paralelepípedo”. Leishmaniose tegumentar americana: ulceração, aunmento de volume do nariz e área de eritema e infiltração do lábio superior. Eritema / edema Infiltração no septo nasal, asas do nariz e mucosa Lesao ulcerovegetante, que pode se estender para regioes laterais, labios superiores e inferiores Orofaringe pode ser acometida com lesoes no palato, gengiva, laringe e faringe Pode comprometer ossos da face produzindo quadros destruitivos @anabea.rs | Ana Beatriz Rodrigues 5 Leishmaniose tegumentar americana – extensas lesões ulcerovegetantes na face. Leishmaniose tegumentar americana – úlcera leishmaniótica típica no pé, bordas emolduradas e fundo granuloso. *moldura de quadro Leishmaniose tegumentar americana – lesões ulcerovegetantes com destruição do septo nasal e infiltração do lábio superior. Lesão cutânea localizada em estágio inicial, com característica de placa infiltrativa (observar a ausência de ulceração nesta fase) Lesão cutânea localizada, ulcerada franca com bordas elevadas, infiltradas com hiperemia ao seu redor – Estagio inicialda ulceração. LEISHMANIOSE DISSEMINADA Múltiplas lesões. COMPROMETIMENTO GERAL: calafrios, febre, mialgia. Lesões aumentam rapidamente, atingindo até centenas de lesões em um mesmo indivíduo. 40% tem comprometimento de mucosa. A maior parte dos números registrados são na região do Nordeste. Leishmaniose disseminada – múltiplas pápulas eritematosas com centro ulcerado na face. @anabea.rs | Ana Beatriz Rodrigues 6 Leishmaniose disseminada – lesões acneiformes em grande quantidade na região dorsal. DIAGNÓSTICO Clínico e laboratorial LABORATORIAL − Exame do esfregaço; − Exame histopatológico (biópsia); − Cultura e inoculação; − PCR: importante para excluir tuberculose, Hanseníase, fungos; − Reação de Montenegro: mais utilizada até hoje. Pode dar falso negativo no início da doença; − Sorologia: não é mais utilizada porque é pouco sensível. TRATAMENTO Antimoniais: n-metil-glucamina (Glucantime é mais usada). − Ampolas de 5 mL: aplicado de 10 a 20 mg/kg/dia em lesões cutâneas por 20 a 30 dias; − Em crianças usa-se 15 mg/kg/dia por 20 dias. Gestante não pode usar antimoniais, é usada Anfotericina B (sempre em hospital, pois é venoso diluído com soro). O acompanhamento desse tratamento é com exames laboratoriais (função renal, sódio, potássio e eletro). Tratamentos alternativos para infecções por Leishmania incluem anfotericina B lipossomal e medicamentos antifúngicos orais, como fluconazol, cetoconazol e itraconazol. LEISHMANIOSE VISCERAL Áreas de clima quente e semiárido Agente etiológico: Leishmania chagasi O Brasil é o principal foco, sendo responsável por mais de 90% dos casos registrados, e desses a maioria dos casos registrados é no Nordeste. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS − Febre e calafrios (estágios iniciais); − Anorexia e perda de peso; − Adenopatias; − Hepatomegalia e esplenomegalia exuberante; Nas crianças: diarreia e retardo no crescimento; Manifestações cutâneas: são mais inespecíficas como madarose (perda de cílios ou sobrancelha), rarefação e descoloração dos cabelos, palidez, icterícia e púrpuras. Estágios avançados da doença resultam em dano renal (p. ex: glomerulonefrite, inflamação dos glomérulos renais) e áreas granulomatosas da pele. Um escurecimento característico da pele pode ser notado. Este sintoma é referido pelo nome comum da doença, calazar, o qual significa febre negra. Casos crônicos geralmente levam à morte em um ou dois anos, enquanto a doença aguda debilita o paciente e se torna letal em questão de semanas. TRATAMENTO O mesmo da Leishmaniose tegumentar − Antimoniais: 1ª escolha − Anfotericina B: quando paciente não responde a 1ª escolha; gestante; ou quando tem um comprometimento generalizado precisando de internação hospitalar. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA Aula administrada por Naiara (dermatologista) ELIZABETH A. ZEIBIG. Parasitologia clínica: uma abordagem clínico-laboratorial. 2ª Ed, Elsevier; MANUAL MSD: Ciclo de vida da Leishmania. DE MORAIS, Rayana C. S, et al. Diferenciação de espécies de Leishmania pertencentes ao mesmo subgênero (Viannia) por PCR em tempo real. Disponível em: http://www.sbmt.org.br/medtrop2016/wp- content/uploads/2016/10/8067- Diferenciac%CC%A7a%CC%83o-de-espe%CC%81cies- de-Leishmania-pertencentes-ao-mesmo- subge%CC%82nero-Viannia-por-PCR-em-tempo- real.pdf. Acesso em: 21 de abril de 2022.