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Fisiologia Aplicada à Odontologia 1 Fisiologia da Dor: A dor é definida como uma experiência sensorial e emocional desagradável, sendo relacionada a algum dano tecidual real ou em potencial. A dor pode ser dividida em dois tipos: Aguda: funciona como um alerta ao organismo de que algo está acontecendo, durando somente pelo tempo esperado de sua causa (até no máximo três meses). Alguns exemplos são colisões que deixam machucados, pedra nos rins e dor no peito por infarto. A principal forma de tratar esse tipo de dor é tratar as suas causas; Crônica: esse tipo de dor pode ser sintoma de alguma doença ou não ter nenhuma causa aparente, durando bem mais tempo do que o esperado (vai além do tempo necessário para o tratamento). Esse tipo de sintoma requer um tratamento multidisciplinar. Alguns exemplos são a fibriomialgia, enxaqueca e a dor do câncer. Caminho da dor: Esse trajeto possui os deguintes passos: Transdução: Ela é realizada pelos nociceptores (receptores que captam estímulos dolorosos). Eles possuem terminações nervosas livres que se inserem na pele, tecidos profundos e vísceras. Os variados tipos de estímulos são transduzidos em potenciais de receptores e esses se tornam potenciais de ação nas fibras aferentes. Esses receptores vão se originar de corpos celulares dos gânglios e emitem um axônio para a periferia e outro para dentro da medula espinhal (pelo corno dorsal) ou para o tronco encefálico. Esses receptores serão classificados de acordo com as propriedades dos seus axônios. Por transmitirem informações de dor da periferia para o SNC, eles são considerados fibras aferentes. Os estímulos dolorosos serão transmitidos por fibras diferentes de acordo com a sua origem: Fibras A gama: transmite sinais de dor de origem mecânics e térmica; Fibras C: transmite sinais de dor de origem diversa (polimadais); Os nociceptores serão os primeiros neurônios da cadeia de neurônios a receberem os sinais de dor. Primeira dor: percepção mais precoce de dor, dor mais aguda; Segunda dor: uma sensação de dor percebida de forma mais retardada, essa dor é difusa e duradoura. O principal motivo para se gerar um estímulo para a ativação de nociceptores é a lesão tecidual. O processo de reconhecimento do estímulo doloroso: Um estímulos nocivos (químicos, térmicos e mecânicos) provocarão a ativação dos nociceptores e a geração de potenciais de ação nesses neurônios ativados. Quando ocorrem mais lesões simultâneas em células adjacentes, também ocorrerá o estímulo desse nociceptor. Em seguida, esse potencial de ação fará com que os seus terminais livres liberem substância P e o CGRP (peptídeo relacionado à calcitonina), que serão importantes para a promoção da vasodilatação. A vasodilatação é importante, pois é ela que permitirá o maior recrutamento de leucócitos (principalmente mastócitos) para a área lesada. Esses leucócitos, a partir de sua degranulação, liberarão grânulos contendo histamina e serotonina, que se ligarão à receptores presentes nessas terminações livres, aumentando sua sensibilização. Ou seja, esse é um sistema que se retroalimenta. Condução: Depois de realizado o processo de transdução dos sinais, fibras aferentes primárias dos gânglios das raízes dorsais levarão essas informações para o corno dorsal da medula espinhal. Para a chegada na medula espinhal, essas diferentes fibras de nocicepção (A gama e C), vão chegar por lâminas da medula espinhal: as fibras do tipo C chegarão nas lâminas 1 e 2, já as A gama chegarão nas lâminas 1 e 5. Chegando na medula, o axônios de segunda ordem vão cruza a linha média e ascender para os centros superiores. Isso forma o sistema anterolateral. O conceito de “Dor Referida”: A dor referida ocorre quando os sinais de nociceptores vindo de um local, em geral as vísceras, são sentidos em uma outra parte do corpo. Alguns exemplos são: infarto do miocárdio e a angina, que apesar de serem sinais nociceptivos advindos do coração, acabarão gerando uma profunda dor referida no peito e no braço esquerdo. Um fato que poderia explicar esse fenômeno é a convergência de fibras aferentes viscerais com fibras aferentes de outras áreas específicas. Essas fibras vão convergir para um mesmo neurônio de projeção no corno dorsal da medula espinhas e, por isso, o encéfalo não será capaz de reconhecer a origem real do estímulo, associando equivocadamente o sinal de um órgão visceral a uma determinada área da pele, por exemplo. Para que os neurônios nociceptivos de primeira ordem consigam ativar os neurônios secundários do corno dorsal da medula, esses nociceptores vão liberar os neurotransmissores glutamato e os neuropeptídeos CGRP (peptídeo relacionado ao gene da calcitonina) e substância P. As propriedades e ações fisiológicas dos neuropeptídios e do glutamato nos neurônios do corno dorsal da medula espinhal são distintos, mas agirão de forma coordenada para regular as propriedades de disparo dos neurônios dessa região. Uma informação relevante é que os neuropeptídios se difundirão a distâncias maiores que o glutamato. Kandel, 7ª ed. Princípios da neurociência – Adaptado de Basbaum Depois de decussar na medula, essas vias aferentes vão ascender para o encéfalo. Transmissão do estímulo ao córtex somatossensorial: Depois que os neurônios primários fazem sinapse com neurônios aferentes secundários no corno dorsal da medula espinhal, esses secundários vão seguir seu trajeto nas áreas laterais da medula espinal até chegar ao tálamo. No tálamo esses neurônios aferentes secundários farão uma sinapse com neurônios aferentes terciários. O processamento desse estímulo doloroso é complexo e as vias aferentes terciárias poderão ter diferentes destinos no encéfalo: córtex somatossensorial (localização da dor) e sistema límbico (correlacionar os aspectos emocionais da dor). Esse trajeto constitui o trato espinotalâmico. Esse sistema é responsável pela transmissão do estímulo doloroso propriamente dita. Trato espinorreticular: Antes de chegar no tálamo, as vias aferentes ascendentes vão realizar uma sinapse na formação reticular no bulbo e de lá ascendem para o tálamo. Essa via é responsável pela associação dos sinais secundários da dor: aumento da frequência cardíaca, aumento do fluxo sanguíneo, queda da pressão arterial, náusea. Trato espinomesencefálico: Ocorrerá uma sinapse no mesencéfalo, permitindo com que várias dessas fibras das vias nociceptivas ascendentes se comuniquem com o sistema límbico, dando os aspectos emocionais relacionados à dor. Depois disso ascendem para o tálamo. Processamento da informação: Esse sistema anterolateral será importante para o envio de informações a diferentes partes do tronco encefálico e prosencéfalo, sendo importante pela discriminação sensorial da dor e pelas respostas afetivas e emocionais relacionadas a ela. Para o estabelecimento dos aspectos motivacionais relacionados à dor, as projeções anterolaterais poderão ter os seguintes alvos: subdivisões da formação reticular, camadas profundas do colículo superior, substância cinzenta central, hipotálamo e amígdala. Alguns núcleos talâmicos (núcleos talâmicos da linha média) serão importantes na transmissão de sinais nociceptivos à região do córtex cingulado e ínsula. A dor é sentida de forma diferente por cada pessoa, sendo modulada de acordo com a experiência pessoal, elementos psicológicos e atuais circunstâncias dela.Alguns elementos que merecem destaque nesse contexto são: comorbidades, experiência prévia, expectativas, aspectos culturais, catastrofização e fatores genéticos. Modulação dolorosa: Facilitação/Sensibilização periférica e central: Nada mais é do que o estado de amplificação dos sinais nociceptivos no SNC e SNP, expressando-se como uma hipersensibilidade dolorosa. Essa sensibilização periférica será resultante da maior liberação de substâncias que hiper-estimularão os nociceptores quando um tecido é lesado. Esses compostos que interagem com os terminais de nocicepção constituem a sopa inflamatória (ácido arquidiônico, metabólitos lipídicos, histamina, serotonina, bradicinina e prostaglandinas). Na sensibilização central, o que vai ocorrer é um aumento da excitabilidade dos neurônios do corno dorsal da medula espinhal de forma imediata e dependente de atividade, sendo essa oriunda de altos níveis de atividade dos neurônios aferentes nociceptivos. Com o aumento da sensibilidade central, esses efeitos começam a se generalizar para outras entradas aferentes, como os mecanorreceptores de baixo limiar. Dessa forma, a chegada de estímulos que, em condições normais, seriam inócuos, com a sensibilização central, serão o suficiente para ativar os neurônios aferentes nociceptivos presentes no corno dorsal da medula espinhal por eles estarem hipersensibilizados, interpretando esses sinais como sensação de dor. Receptores pós-sinápticos dos neurônios do corno dorsal serão importantes para essa sensibilização (fibras aferentes periféricas estarão envolvidas nesse processo). Com a sensibilização central e periférica o indivíduo estará mais predisposto a um estado de dor, sendo sua capacidade inerente de lidar com ela prejudica. Nesse sentido, estabelecem-se duas situações: Hiperalgesia: é quando um estímulo que, em condições normais, seria percebido de forma levemente dolorosa, acaba sendo sentido como muito doloroso; Alodinia: quando um estímulo inócuo/não nocivo induz à dor; Dor neuropática: Ocorre quando as estruturas lesadas são as próprias fibras aferentes ou vias centrais de transmissão. Essa condição é muito comum em patologias como: AIDS, esclerose múltipla, diabetes, herpes-zóster e acidentes vasculares cerebrais. Nesse caso, ocorre a lesão na fibra e a infiltração de células inflamatórias com secreção de citocinas inflamatórias nelas, provocando uma grande e constante sensibilização dos nociceptores periféricos ou do corno dorsal da medula, gerando uma dor crônica muito intensa e de difícil tratamento com analgésicos tradicionais. Mecanismos de inibição da dor: Teoria do Portão: É um mecanismo no qual a ativação de neurônios sensoriais não nociceptivos, como mecanorreceptores de baixo limiar, vai fechar a passagem de transmissão do sinal central dos nociceptores para a redução da sensação de dor aguda. É por isso que quando batemos a perna temos a ação natural de esfregar o local da lesão para que esses mecnorreceptores sejam ativados e, pelo sistema de “fechamento do portão”, ocorra a redução da sensação de dor advinda daquela lesão. Purves, 7ª ed. Neurociências Controle descendente da percepção de dor: Esse é um mecanismo de ativação de vias descendentes moduladoras de dor, que irão se projetar e atuar principalmente no corno dorsal da medula espinhal e no núcleo espinhal do trigêmeo, impedindo a transmissão dos sinais de dor dessas regiões para centros superiores. A principal estrutura do SNC que será responsável pela produção dos moduladores de atuação descendente é a substância periaquedutal cinzenta (SPC) no mesencéfalo. Os sinais da SPC vão chegar por sinapses ao locus ceruleus (ponte) e ao núcleo magno da rafe dorsal (bulbo)¸para a formação das vias noradrenérgica e serotonérgica, respectivamente. Isso explica o motivo pelo qual os soldados em guerra ou pessoas em acidentes automobilísticos (estresse pós-traumático) têm a sua dor inibida por um tempo em decorrência da liberação desses moduladores descendentes para atuarem no corno dorsal da medula. Peptídeos opióides endógenos: As substâncias que têm a sua liberação estimulada pela ativação da substância periaquedutal cinzenta pertencem aos grupos das encefalinas, endorfinas e dinorfinas. Esses compostos se fazem presentes na SPC, no bulbo e em determinadas regiões da medula espinhal. Ao chegarem no corno dorsal da medula espinhal, as encefalinas, por exemplo, atuaram inibindo a liberação de neurotransmissores que ativam neurônios nociceptores de projeção para os centros superiores que estão ali presentes, inibindo a sensação dolorosa. Para que isso seja possível, é preciso que nas superfícies desses nociceptores de projeção ascendente no corno dorsal da medula tenham receptores opióides. Os fármacos de efeito analgésico vão atuar principalmente no corno dorsal da medula espinhal, no bloqueio dos canais de sódio que permitem a passagem de potenciais de ação dos nociceptores ou atuarão no córtex para inibir a interpretação daquele sinal como dor. O intuito é eliminar, ou ao menos reduzir, a sensação dolorosa. Livros utilizados como fonte de conteúdo e imagens para a aula na faculdade e que consequentemente fundamentaram esse resumo:
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