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1 Resposta Tóxica do Sistema Nervoso Prof. Dr. Antonio Menezes Toxicologia Básica FAR A34 2018.2 2 Programa de aula Introdução e definições Fisiopatologia das neurotoxicidades Características intrínsecas e únicas do S.N. Barreira hemato-encefálica Problema do espaço físico Manutenção de ambiente rico em lípidas Transmissão de informação no espaço extra-celular. Desenvolvimento do Sistema nervoso Neuropatias Doxorubicina Metil-mercúrio Compostos orgânicos de estanho Axonopatias Gama-dicetonas Dissulfeto de carbono Acrilamidas Mielinopatias Hexaclorofeno Chumbo Toxicidade relacionada a neuro-transmissão Nicotina Cocaína 3 Neurotoxicidade Para compreender as doenças neurotoxicológicas: – Anatomia – Fisiologia – Desenvolvimento – Capacidade regenerativa do sistema nervoso Características do SN que estão relacionadas com ações básicas dos neurotóxicos: – Status privilegiado do SN que mantém uma barreira entre si e o sangue. – A importância da demanda energética do cérebro. – A extensão espacial do SN e as necessidades dessas células de manter uma geometria complexa. – A manutenção de um ambiente rico em lípidas – A transmissão de informação através do espaço extracelular. Cada uma dessas características tem necessidade metabólica específica. Portanto, corresponde a um ponto de ação de agentes neurotóxicos. 4 Características do Sistema Nervoso Barreira Hemato-encefálica • Ehrlich (1885) estudando a distribuição de agentes corantes no organismo, observou que somente o cérebro e a medula espinhal não se coravam. • Células endoteliais especializadas na microvascularização do cérebro: justa postas e células gliais. • Nos demais tecidos, o espaço intercelulares tem até 4 nm. • Os agentes neurotóxicos tem que ser altamente lipossolúveis para atravessar as células endoteliais. • Existe certos locais onde esta barreira é incompleta: órgãos circun- ventriculares (endócrinos: corpo pineal e neurihipófise) • Não está completamente formada no neonato. – Bilirrubina não conjugada é neurotóxica para o prematuro e neonato. • Além desta barreira,o SN está recoberto por membrana especializada (SNC: meninges) nervos periféricos (cel. perineurais). – Dura-máter – Pia-máter – Aracnóide. 5 Características do Sistema Nervoso Demanda Energética Cerebral • Neurônios e miócitos cardíacos são altamente dependentes do metabolismo aeróbico. • Dependência da respiração aeróbica enfatiza a alta demanda metabólica associada com a manutenção e reconstituição repetitiva do gradiente iônico. • Ocorrem despolarização e repolarização da membrana muito rapidamente. • Os neurônios devem ser capazes de produzir grande quantidade de fosfatos energéticos (ATP). • Essa dependência de fonte contínua de energia coloca o SN em estado vulnerável na situação de baixa de reserva energética. • O cérebro utiliza a glicólise aeróbica: extremamente sensível a interrupção de glicose e oxigênio. 6 Características do Sistema Nervoso O problema do espaço • Neurônios ao invés de esféricos, são alongados e podem alcançar até um metro. • A manutenção da rede intercelular impõe um metabolismo e geometria complexa dessas células. • Manutenção de um volume celular muito grande e transporte de intra-celular ao longo de grande distâncias. • Transporte de proteina no axônio. – Transporte rápido (proteína associada a vesículas): 400 mm/dia. – Neurofilamentos e microtúbulos: 1 mm/dia – Proteínas estruturais: 2 – 4 mm/dia. 7 Características do Sistema Nervoso Manutenção de um ambiente rico em lípidas Bainha de mielina • É formada no SNC pelos oligodendrócitos e no SNP pelas células de Schwann. – Ambas as células formam camadas concêntricas de mielina rica em gordura, envolvendo o seu citoplasma em volta do axônio. – No desenvimento do SN, essas células eliminam água e íons, formando uma densa camada de mielina. – Essa estrutura necessita de manutenção, há demanda metabólica. – Substâncias que interferem com o metabolismo de lípidas causam MIELINOPATIA. 8 Características do Sistema Nervoso Transmissão de informação através do espaço extracelular • Comunicação intercelular no SN através das sinapses • Liberação de neuro-transmissores de um axônio atua como primeiro mensageiro. • Ligação do neuro-transmissor a um receptor pós-sináptico é seguida de modulação de um canal de íons ou ativação de um segundo sistema. • Na junção neuro-muscular a acetil-colina é liberada. Ativa um receptor colinérgico do miócito: Contração. • Um grande número de agente neurotóxico interage diretamente com o processo de neuro-transmissão. 9 Características do Sistema Nervoso Desenvolvimento do Sistema nervoso • O desenvolvimento do SN é composto dos seguintes processos básicos: – Replicação – Diferenciação – Mielinização – Formação das sinapses 1. Replicação: os precursores neuronais e gliais replicam-se no saco germinal. 2. Camadas sucessivas da córtex cerebral, assim como neurônio, astrócitos estruturais e oligodendrócitos migram do saco germinal em seqüência ordenada ainda na fase uterina e após o nascimento. 3. A mielinização começa no útero e durante a primeira infância. 4. A formação de sinapses é um processo dinâmico que dura toda a vida. A plasticidade cerebral do recém-nascido: deve-se a habilidade dos dendritos de arborizar. Teratogenicidade do álcool etílico: Síndrome alcoólico fetal (SAF). 10 Doenças Neurotóxicas • Neuronopatias – Perda de toda célula, corpo e processos, sem chance de regeneração. • Axonopatias – O dano ocorre no axônio, a porção distal degenera, mas o corpo sobrevive. Pode regenerar-se. • Neuropatias desmielinizantes (mielinopatia) • Doenças relacionadas com a neurotransmissão. 11 Neuronopatias • Certos agentes tóxicos são específicos para os neurônios ou algumas vezes para grupos particulares de neurônios. • Perda neuronal é irreversível. • Degeneração de toda a sua extensão citoplasmática, dendritos, axônio e bainha de mielina. • A expressão do dano neuronal massivo é a ENCEFALOPATIA com disfunção geral. • Se houver seletividade do agente, leva a interrupção de uma função em particular. Estudo RMS in vivo em soldadores Fig. 1. Áreas de Ativação em controles em (a) soldadores (b) em fMRI durante tarefas de memória (Chang et al., 2010) 12 13 Neuronopatias Doxorubicina • Quimioterápico derivado da antraciclina • Propriedade antineuplásica deriva da sua habilidade de intercalar-se na duplas hélice do DNA, inibindo sua transcrição. • Cardiotoxicdade é o fator limitante da dose. • Causa lesão no SNP. Os neurônios são dependentes da síntese de proteínas (transcrição de DNA). • A vulnerabilidade dos neurônios ganglionares é explicada pela falta da barreira hemato-encefálica. 14 Neuronopatias Metil-mercúrio • A neurotoxicidade dos organo-mercuriais foi observado na população do Iraque e do Japão. – Iraque: grãos fumigados com esse pesticida barato, 400 morte e 6.000 hospitalizadas. – Japão: baía de Minamata. • A severidade da intoxicação depende: – Grau de exposição – Idade do indivíduo • Sintomatologia observada: – Nos adultos: afetados neurônios da córtex visual e neurônios cerebelar (ataxia grave). – Crianças: (fase uterina) retardo mental grave e paralisia. • Mecanismo de ação: – Não está claro se é o próprio metil-mercúrio ou devido ao íon mercúrico. – Hg2+ liga-se a radicais sulfidrilas (-SH) de enzimas. • Diminuição da glicólise • Síntese protéica, biossíntese de ácido nucléico. • Respiração aeróbica e liberação de neuro-transmissor. – Morte neuronal difusa: encefalopatia Vítima de Minamata Trigo do Iraque e vítima 15 AxonopatiasSão distúrbios neurotóxicos nos quais os sítios primários de toxicidade são os axônios. • O axônio degenera junto com a bainha de mielina, porém o corpo se mantém íntegro. • Inicialmente pensava-se que o neurônio começava a deteriorar a partir das terminações e progredia ao longo do axônio. • Transecção química: em algum ponto do axônio há a separação biológica e a parte distal degenera. • Neurônio longos são mais susceptíveis a axonopatia: – Axônios ascendentes sensoriais – Axônios descentes motores – São chamadas de axonopatia distal centro-periférica. • No SNP a axonopatia pode regenerar. No SNC não há regeneração. • Neuropatia periférica: degeneração do axônio com perda de sensibilidade e coordenação motora (pés e mãos). 16 Axonopatias g-Dicetonas • Determinados hidrocarbonetos alifáticos que são precursores de cetonas duplas afastadas por dois átomos de carbonos: – N-hexano – Metil-isobutilcetona • Mecanismo de Ação – Baseado na biologia do axônio e na reatividade química das dicetonas. – As g-dicetonas reagem com grupamentos amino, formando pirrols. – As proteínas dos neurofilamentos sofrem ligação covalente cruzada. – Formação de agregados de neurofilamentos, incham e bloqueiam o transporte de nutrientes para a porção distal. 17 Axonopatias Dissulfeto de Carbono CS2 • Exposição ocupacional na vulcanização da borracha e na produção de viscose. Laboratórios de químicos. • Antigamente devido a exposição elevada: psicose maníaca. • Exposição crônica causa axonopatia distal semelhante ao n-hexano. • O próprio CS2 reage com os graupamentos amino das proteínas dos neurofilamentos, formando os adutos de ditiocarbamato. Acrilamida • É um monômero de vinila usada na manufatura de produtos de papel; na floculação no tratamento de água, agente impermeabilizante, na produção do gel de poli-acrilamida usada nos laboratórios de pesquisa. • Induz uma axonopatia tóxica distal, iniciando com degeneração da terminação nervosa. • Exposição continuada, leva a degeneração progressiva do axônio. 18 Mielinopatias • A mielina promove o isolamento elétrico do processo neuronal. • Sua ausência causa uma redução da velocidade de condução, assim como condução aberrante dos impulsos. • O agente tóxico atua provocando a separação da lamela mielínica e edema intra-mielínico. • Outros atuam seletivamente na célula mielínica, causando desmilienização. – No SNP: ocorre a remielinização. As células de Schwann regeneram-se facilmente. – No SNC: a recuperação ocorre em menor extensão. • Hexaclorofeno – Foi usada na profilaxia da infecção estafilocócica em recém-nascidos. – Há absorção dérmica e penetração no SN central e periférico. – Causa edema intra-mielínico. 19 Mielinopatias Chumbo Exposição aguda em crianças muitos novas leva a encefalopatia: edema cerebral severo, devido ao dano às células endoteliais. Adultos: Exposição crônica: neuropatia periférica e manifestações fora dos S.N. – Gastrite – Dor abdominal (cólica) – Anemia – Há envolvimento de axônios motores: neuropatia motora. Manifestação clássica é a mão em forma de garra. 20 Toxicidade relacionada a neuro-transmissão • Nicotina • Cocaína • Inseticidas organofosforados e carbamatos