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W BA 11 74 _V 1. 0 DOMÍNIOS DE DESEMPENHO PARTES INTERESSADAS & EQUIPE. 2 Janaina Priscila Rodrigues Firmino São Paulo Platos Soluções Educacionais S.A 2022 DOMÍNIOS DE DESEMPENHO PARTES INTERESSADAS & EQUIPE 1ª edição 3 2022 Platos Soluções Educacionais S.A Alameda Santos, n° 960 – Cerqueira César CEP: 01418-002— São Paulo — SP Homepage: https://www.platosedu.com.br/ Head de Platos Soluções Educacionais S.A Silvia Rodrigues Cima Bizatto Conselho Acadêmico Alessandra Cristina Fahl Ana Carolina Gulelmo Staut Camila Braga de Oliveira Higa Camila Turchetti Bacan Gabiatti Giani Vendramel de Oliveira Gislaine Denisale Ferreira Henrique Salustiano Silva Mariana Gerardi Mello Nirse Ruscheinsky Breternitz Priscila Pereira Silva Coordenador Ana Carolina Gulelmo Staut Revisor Renato Cividini Matthiesen Editorial Beatriz Meloni Montefusco Carolina Yaly Márcia Regina Silva Paola Andressa Machado Leal Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)_____________________________________________________________________________ Firmino, Janaina Priscila Rodrigues Domínios de desempenho partes interessadas & equipe / Janaina Priscila Rodrigues Firmino. – São Paulo: Platos Soluções Educacionais S.A., 2022. 32 p. ISBN 978-65-5356-396-4 1. Gestão de projetos. 2. Equipe. 3. Liderança. I. Título. 3. Técnicas de speaking, listening e wrg. I. Título. CDD 658.404 _____________________________________________________________________________ Evelyn Moraes – CRB: 010289/O F525d © 2022 por Platos Soluções Educacionais S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Platos Soluções Educacionais S.A. https://www.platosedu.com.br/ 4 SUMÁRIO Apresentação da disciplina __________________________________ 05 Engajamento das partes interessadas ________________________ 06 Gestão e liderança da equipe do projeto. ____________________ 17 Habilidades de liderança _____________________________________ 29 Adaptando Estilos de Liderança - Tailoring ___________________ 39 DOMÍNIOS DE DESEMPENHO PARTES INTERESSADAS & EQUIPE. 5 Apresentação da disciplina Esta disciplina é um convite para amplificar a sua visão sobre as estratégias para o engajamento das partes interessadas em gestão de projetos, além de conhecer as melhores práticas de liderança e gestão de equipes, neste contexto. Você conhecerá os conceitos fundamentais das práticas internacionalmente conhecidas da gestão de projetos, e que orientam os conhecimentos, as aplicações e as atitudes das pessoas que participam do gerenciamento de projetos. Os temas abordarão conhecimentos sobre o engajamento das partes interessadas; fundamentos e práticas de liderança, formação e estabelecimento de grupos e equipes de trabalho. O objetivo é que você se sinta mais preparado(a), profissionalmente, para compreender como funciona a atuação das pessoas em um ambiente de projetos, como um colaborador ou como um líder. Além disso, você conhecerá habilidades essenciais para lidar com variadas situações, com perspectiva técnica e humanizada, para que seja capaz de adaptar processos, decisões e até estilos de liderança, sempre que necessário. Diante do aprendizado nesta disciplina, espera-se que você possa construir uma concepção rica de conhecimentos, boas práticas e técnicas para compor seu portfólio profissional. 6 Engajamento das partes interessadas Autoria: Janaina P. R. Firmino Leitura crítica: Renato Cividini Matthiesen Objetivos • Compreender quais são as partes interessadas em um projeto. • Aprender sobre as partes interessadas como princípio e domínio de conhecimento. • Proporcionar a interação e a comunicação assertiva no tratamento com as partes interessadas sempre que necessário. 7 1. Identificando e engajando as partes interessadas As partes interessadas em gestão de projetos também são denominadas stakeholders. São conhecidas como as pessoas físicas ou jurídicas e podem ser também algumas dimensões, como, por exemplo, o meio ambiente, a sociedade, que são afetadas direta ou indiretamente pelas decisões ou ações daquele projeto. (PMI, 2021) O termo afetada, em um contexto explicativo, pode ser compreendido como o tipo de impacto que essa parte proporciona ou sofre pela realização de um projeto, lembrando que impacto pode ser de ordem positive ou negativa (PMI, 2021). Vamos a um exemplo para ilustrar essa ideia: imagine que uma rede de ensino decidiu criar uma unidade de ensino superior e a instalação física da unidade estará localizada em uma região na saída da cidade. Essa região é muito conhecida por ser próxima a muitos bairros que se ligam à cidade pela rodovia e, além disso, sempre acontece uma sobrecarga de trânsito na avenida principal, todas as noites a partir das seis horas da tarde, pois o fluxo é resultante de veículos que se aglomeram, esperando para entrar na rodovia para se dirigirem aos bairros e outros municípios vizinhos. A vinda desta unidade da faculdade promoverá a inclusão de novos alunos que não tinham acesso a uma instituição próxima aos bairros onde moram. Ao mesmo tempo, a instalação da instituição promoverá o aumento do fluxo de veículos na mesma região e isso poderá incomodar mais ainda os problemas decorrentes do trânsito local. Será que você conseguiria identificar stakeholders deste caso? Vejamos a análise: 8 Quadro 1–Stakeholders de um projeto Stakeholders afetados positivamente Stakeholders afetados negativamente Novos alunos da faculdade. Comunidade local (região da faculdade). Colaboradores e professores que serão contratados pelo novo negócio. A comunidade e o trânsito local. Empresas locais que poderão ter mais clientes. Os motoristas que ficarão parados no congestionamento. Os financiadores da faculdade que terão a expansão do negócio. O departamento de trânsito que recebe- rá mais reclamações. Fonte: elaborado pela autora De acordo com o exemplo, é possível perceber que são stakeholders, deste projeto, todas as partes que afetam ou seriam afetadas por ele, de modo positivo ou negativo. Muito provavelmente, o tipo de impacto proporcionará a cada parte um interesse individual, que poderia fortalecer as ações do projeto ou pressioná-la para que não fosse realizada. Segundo a orientação de Coutinho (2019), as partes interessadas podem apresentar classificações diferentes, dependendo do projeto. Alguns são internos ao projeto, como o gerente, as pessoas que compõem as equipes do projeto. Outros são stakeholders externos, mas com relação direta com o projeto, como, por exemplo, o patrocinador (quem financia), os usuários ou clientes do projeto, as empresas ou órgãos que estejam diretamente ligados ao projeto. Em outra dimensão, existem as partes interessadas externas, porém, indiretamente relacionadas ao projeto, mas que de certa forma afetarão ou serão afetadas pelo projeto, por exemplo: a sociedade, o meio ambiente. Além da classificação interna e externa, há também relevância em mapear as relações de poder de influência que essas partes interessadas têm em relação ao projeto. Essa característica poderá influenciar a maneira como o gerente e a equipe do projeto se relacionará com ela. 9 Portanto, influenciam o projeto além do interesse, as preferências, as expectativas, os níveis de contribuição e os níveis de engajamento desses stakeholders (COUTINHO, 2019). Sobre o caso apresentado, seria essencial o levantamento de uma questão: como é que este projeto seria realizado, considerando todos os impactos para stakeholders diferentes e com interesses e níveis de influência diferentes também? Esta pergunta é fundamental para os estudos específicos desta seção,que é o engajamento das Partes Interessadas. 1.1 Stakeholders como princípio e domínio De acordo com o Guia de Conhecimentos em Gestão de Projetos PMBOK (Project Management Body of Knowledge), que é um padrão de Gerenciamento de Projetos elaborado pelo Instituto Project Management Institute (PMI), em sua última atualização, em 2021, a maneira de lidar com stakeholders (ou partes interessadas) em projetos foi aprimorada. Na abordagem tradicional em Gestão de Projetos difundida, pelo guia PMBOK, em versões anteriores, a ideia principal é que as partes interessadas fossem identificadas em primeiro momento. A partir disso, eram mapeados seus interesses em relação ao projeto, sua função em todas as fases do projeto (da concepção inicial, ao planejamento, à execução e ao encerramento) e garantir que sejam comunicados em todas essas etapas. Esses procedimentos não mudaram, porém, foram acrescentadas novas percepções sobre eles. Na abordagem mais recente, a intenção ao gerenciar stakeholders é planejar e garantir que, além da comunicação, sejam envolvidos e que interajam com as equipes e o gerente de projetos desde o primeiro momento, com a intenção principal de engajamento (PMI, 2021). 10 É com essa perspectiva que as atualizações de stakeholders, no Guia PMBOK, considera que as partes interessadas são consideradas tanto um princípio quanto um domínio de desempenho neste padrão. Vamos entender essa perspectiva, então? Um princípio para o Guia PMBOK, sétima edição, conforme PMI (2021), significa um conjunto de intenções que regula o comportamento das pessoas em relação ao gerenciamento de projetos. Nesta concepção, a postura dos profissionais de projetos em relação às partes interessadas deve considerar questões éticas no relacionamento com stakeholders e uma postura de respeito, honestidade e de transparência aos interesses de todos, inclusive aos que se opõem ao projeto. É importante lembrar que as partes interessadas podem mudar durante um projeto, assim como seus interesses. Por isso, é importante estabelecer um relacionamento franco, de comunicação frequente e assertiva, sempre que possível ou necessário. De acordo com Vargas (2021), os princípios desta metodologia funcionam como uma concepção filosófica e um guia de conduta para o gerenciamento de todas as partes dos projetos. Os domínios de desempenho, neste guia, são os tipos de abordagens que poderiam ser realizadas para engajar as partes interessadas. Na prática, os procedimentos do domínio de desempenho servem para que os profissionais de projetos possam seguir para obter bons resultados no gerenciamento e, consequentemente, entregar valor com o seu projeto. Para o PMBOK, os domínios da nova versão estão listados na Figura 2 a seguir, observe: 11 Figura 1 – Domínios de desempenho do PMBOK 7 Fonte: adaptada de Vargas (2021). Neste padrão, os domínios de performance dos projetos são interdependentes, ou seja, se relacionam sistematicamente, sendo assim, a performance de um influencia a performance do outro. No caso das partes interessadas, o gerenciamento da relação, de todas com o gerente as equipes de projetos, se inicia quando as partes são identificadas e priorizadas (COUTINHO, 2019), pois em cada projeto deve haver uma organização do processo de comunicação e também de participação nas etapas do projeto. Nem todos os stakeholders participarão diretamente de todas as etapas do projeto. A figura a seguir, de acordo com Vargas (2021), informa quais os parâmetros devem ser levados em consideração para a organização do relacionamento com as partes interessadas. Figura 2 – Domínio de desempenho das partes interessadas 12 Fonte: adaptada de Vargas (2021). Como você pode ter observado, a proposta de abordagem dessa nova perspectiva sobre os stakeholders é de aproximá-los e integrá- los em todas as fases, de acordo com o grau de interesse de cada e da necessidade da presença deles nas ações previstas. Isso é o que gera engajamento. 1.2 Aproximando e integrando stakeholders A expressão engajamento é, atualmente, uma das mais requisitadas no mundo corporativo, seja em relação à Gestão de Pessoas, Lideranças ou em nosso caso, a Gestão de Projetos. Engajar, em uma consulta ao Dicionário de Sinônimos (2022), possui diversos sentidos, porém, ficaremos com dois deles que se relacionam diretamente com o que se espera no relacionamento com as partes interessadas: envolvimento e interação. Aproximar do gerenciamento do projeto, às partes interessadas, é algo que pode parecer complexo, porque, de certa forma, estaríamos trazendo para o dia a dia deste gerenciamento as partes que têm interesse direto em suportar e apoiar as ações planejadas, mas também seriam aproximadas as partes que nem sempre estariam de acordo com 13 tudo que está previsto. Ainda assim, nas abordagens recentes da Gestão de Projetos, é reconhecida a importância do envolvimento e da interação com Stakeholders durante todas as etapas do projeto. Um dos benefícios trazidos por esta aproximação está a entrega de valor, que é uma das importantes diretrizes e princípio do PMBOK, sétima edição. Observe o trecho deste guia: “o envolvimento das partes interessadas promove proativamente a entrega de valor.” (PMI, 2021, p. 30). Para tornar essa experiência complexa em algo assertivo, entretanto, é necessária a criação de estratégias de relacionamentos com as partes interessadas, distribuindo as atividades e pontos de contato do stakeholder com aquilo que realmente diz respeito, ou seja, aproximar os stakeholders não significa que estarão a todo momento lidando com as equipes de qualquer atividade realizada, mas com aquilo que seria da sua área ou aptidão. Observe um exemplo: imagine uma situação em que foi solicitado, para uma empresa de Tecnologia de Informação (TI), o desenvolvimento de um software para um caso específico de atendimento a clientes e registro de devoluções de pedidos. A primeira fase do projeto compreende em realizar uma reunião inicial (reunião de Kickoff) com os stakeholders e a equipe de projetos, a fim de compreender e delinear as necessidades apresentadas e o resultado que se espera. Essa fase também é conhecida como fase de conceito do projeto. Encerrando esta etapa, inicia-se a fase do planejamento do projeto e, sempre que necessário, as partes interessadas (no caso, o cliente que pediu o software, o gerente de projetos e as equipes) poderiam participar das reuniões de discussão para que as dúvidas ou contribuições para o desenvolvimento dos softwares sejam apropriadas enquanto se planeja. Na fase de execução e de testes, as partes interessadas poderiam participar de modo a conhecer a evolução do desenvolvimento, 14 mas também simular as funcionalidades e criar ajustes enquanto o desenvolvimento ainda acontece. Nesses casos, as partes interessadas teriam acesso ao que está dando certo e também às falhas e erros de execução projeto, e, por isso, as equipes e o gerente de projetos precisam saber lidar com frustrações e preocupações que a parte poderia demonstrar nesta etapa. Quando se lida com stakeholders, assim tão aproximadamente, é possível, inclusive, que compreenda as limitações ou as restrições que suas ideias iniciais poderiam apresentar, e entenda até que ponto o serviço poderia atender da melhor maneira. Em resumo, geralmente, é mais fácil entender o não, quando você participa do processo que resultou nele, do que receber o não sem saber o porquê ele existe. O engajamento das partes interessadas para a gestão de projetos, então, preconiza um novo posicionamento deste stakeholder, que, em abordagens anteriores, era apenas de consulta ou solicitações de aprovação, para um posicionamento ativo, interativo, e que contribui para inúmeras situações dentro dos projetos. O PMBOK sinaliza algumas destas contribuições, reforçando que o envolvimento das partes interessadas não se limita a isso, apenas: • Podem participar do escopo e definiçãode requisitos. • Podem influenciar positiva ou negativamente os custos do projeto. • Podem influenciar as equipes dos projetos, acrescentando ou restringindo a participação das pessoas nos projetos. • Podem atuar sobre a performance da entrega resultados. • Ainda podem influenciar a qualidade, riscos, e até mesmo o sucesso do projeto. (PMI, 2021, p. 32). 15 Como uma proposta prática de pensar em como engajar stakeholders, conheceremos a ideia de Coutinho (2021, p. 109), em que o autor propõe algumas estratégias para este relacionamento. Tais estratégias são denominadas pelo autor como fatores-chave para o relacionamento com stakeholders e estão representadas na figura a seguir: Figura 3 – Fatores-chave para o relacionamento com stakeholders Fonte: Coutinho (2019, p. 109). Para Coutinho (2019), a inclusão seletiva preconiza escolher os stakeholders mais relevantes ao projeto (por grau de influência e de contribuição, por exemplo). Incluir stakeholders, neste propósito, proporciona às partes interessadas a percepção e a sensação de dono, ou seja, de apropriação e responsabilidade, e isso interfere diretamente na satisfação, na disposição de lidar com conflitos e alinhamento de expectativas, além de auxiliar na manutenção do foco naquilo que está sendo desenvolvido. Já a regularidade, se apoia na frequência com que os contatos com stakeholders é realizado. Para o autor, a regularidade confere um relacionamento produtivo e contínuo, e os benefícios dessa prática proporcionam foco no que é relevante, antecipação de necessidades e também a ratificação de propósitos, ou seja, a confirmação de que há alinhamento entre o que se espera e o que está sendo realizado. 16 A proximidade propõe que quanto mais próximo, maior o nível de confiança e de abertura entre as partes interessadas no projeto. O autor ainda afirma que quanto maiores são esses níveis, maiores são as oportunidades de participação e de contribuição dos stakeholders com aquilo que desejam obter como valor e resultados do projeto. A partir desta leitura, é esperado que você tenha reconhecido a importância do engajamento das partes interessadas durante todo o projeto, entendendo-os como parceiros que realmente têm sua contribuição para os resultados esperados, em uma postura muito mais colaborativa do que consultiva, que os colocava apenas como atores, porém, nem sempre atuantes para o desenvolvimento do projeto. Referências COUTINHO, H. Da estratégia ágil aos resultados. São Paulo: Saraiva, 2019. DICIONÁRIO DE SINÔNIMOS. Engajar. Disponível em: https://www.sinonimos.com. br/engajar/. Acesso em: 7 nov. 2022. PMI. A Guide to the Project Management Body of Knowledge (PMBOK Guide)– Seventh Edition and The Standard for Project Management. Pensilvania: Project Management Institute, 2021. VARGAS, R. Infográfico Guia PMBOK 7ª edição. Disponível em: https://ricardo- vargas.com/pt/infographic-pmbok-guide-7th-edition/. Acesso em: 7 nov. 2022. VARGAS, R. Podcast. Porque “Partes Interessadas” aparece como Princípio e também como Domínio de Desempenho no PMBOK Guide 7ª edição. 2021. Disponível em: https://rvarg.as/1ck/. Acesso em: 7 nov. 2022. 17 Gestão e liderança da equipe do projeto Autoria: Janaina P. R. Firmino Leitura crítica: Renato Cividini Matthiesen Objetivos • Aprender sobre os fundamentos da liderança e seus estilos tradicionais. • Conhecer as características dos comportamentos individuais e coletivos. • Entender como o diálogo é a estratégia de alinhamento do líder atual. 18 1. Gerenciamento e liderança: cuidando das metas e das pessoas A liderança é um tema instigante para ser estudado, pois apresenta diferentes abordagens e perspectivas a serem entendidas. Existem abordagens teóricas, técnicas, práticas, e todas precisam ser visitadas e revisitadas sempre que houver necessidade de aprimoramento deste assunto. Há pessoas que são líderes por apresentarem características inerentes a essa função. Há outras pessoas, entretanto, que desenvolvem tais características por necessidade própria ou do ambiente que frequentam, por exemplo: na escola, em um grupo social ou na empresa. Há também pessoas que são colocadas em cargos com funções de liderança, porém, não compreendem como lidar com essa responsabilidade. Para iniciar os estudos, então, você está sendo convidado(a) a compreender todos esses aspectos sobre o tema liderança e, a partir desses conhecimentos, será possível entender qual a proposta de desenvolvimento desta função sempre que precisar ser atribuída a um gerente de projetos. O conceito de liderança varia na concepção de muitos pesquisadores que estudam o tema, porém, em algumas leituras, como as obras de Hollembeck e Wagner III (2020); Rossi et al (2021) e Blanchard (2019), existem alguns entendimentos em comum, apresentados na figura a seguir. 19 Figura 1–Conceitos de liderança Fonte: elaborada pela autora. Observando a figura, é possível perceber que a palavra em comum nesses entendimentos é resultado. Por esse motivo, compreende- se, portanto, que um dos objetivos centrais de liderar é apresentar resultados. Nesta perspectiva, a maneira que o líder atua, ou seja, o modo como conduz as situações e as equipes, define o processo para obter tais resultados e este é o cerne deste estudo. Na visão de Blanchard (2019, p. 64), há algumas estratégias que um líder pode adotar para conduzir pessoas a resultados. São algumas delas: a delegação, o apoio, o coaching e a direção. Pensando sobre as perspectivas apresentadas, pode-se compreender que a Liderança trata de uma função. Não é um cargo, ou uma tarefa, mas uma responsabilidade conferida a um profissional, que terá como atribuição assumir um grupo de pessoas que atuarão juntas em prol de um objetivo em comum. Há duas situações interessantes sobre esta abordagem da liderança enquanto uma função (ROSSI et al, 2021): a liderança formal e a liderança informal. 20 É um líder formal quando um profissional assume a função de liderar pessoas a partir de seu cargo ou atribuição a ele conferida explicitamente, como, por exemplo: gerente de projetos. Não está em questão, neste momento, se a pessoa que assumirá este cargo sabe ou não liderar pessoas. Se formalmente terá a responsabilidade de tocar o projeto, então, terá que liderar as pessoas daquela equipe. Um líder informal, sob outra perspectiva, assume a função de liderar sem ter uma atribuição formal a ele atribuída, porém, por conta de suas características pessoais e profissionais, às vezes, as próprias pessoas do time deste profissional atribuem a ele o papel de conduzi-los e orientá- los para o resultado de maneira espontânea, por seu próprio estilo de trabalho. De acordo com o PMBOK 7ª edição (PMI, 2021, p. 40), liderança é diferente de autoridade e, por isso, qualquer pessoa da equipe pode demonstrar comportamentos de liderança. A liderança na área de projetos exigirá, de um profissional, as competências técnicas e humanas necessárias para que, formalmente, os líderes assumam seus papéis e responsabilidades, assim como o gerente de projetos. Para o PMBOK 7ª edição (PMI, 2021, p. 40), é um dos princípios da liderança: “demonstrar e adaptar comportamentos de liderança para apoio individual e necessidades da equipe”. Dentro dos times, porém, podem surgir lideranças informais que podem soar como um ponto de apoio aos líderes formais, se conseguirem trabalhar em conjunto, ou como forças contrárias, se as lideranças informais apresentarem maior poder de influência em relação aos integrantes das equipes em relação ao líder formal. Aos líderes de projetos, cabe compreender alguns fundamentos dos estudos em liderança para que sua prática possa ser aprimorada e adaptada, sempre que necessário. Existem teorias clássicas de liderança 21 para subsidiar esses estudos, você conhecerá algumas delas a partir de agora: Uma das abordagens sobre a prática da liderança é a compreensão de que a atuação de um líder podeestar na variação entre o foco na tarefa e o foco nos relacionamentos com as pessoas. Esta teoria é conhecida como a grade gerencial, de Blake e Mouton (HOLLEMBECK; WAGNER III, 2021). De acordo com esta teoria, um líder poderia ter melhor performance se pudesse encontrar um equilíbrio entre o foco nos resultados e nas pessoas, ao mesmo tempo, tendo em vista que apenas o foco em resultados desconsideraria a maneira como as pessoas estão se sentindo, se relacionando e se engajando na tarefa. O contrário também é considerado por esta teoria: o foco restrito às pessoas sem um devido cuidado ao monitoramento dos resultados interferiria no desempenho do líder juntamente com o da equipe. Partindo deste entendimento, outro assunto muito discutido nos estudos sobre liderança é se um gestor deveria atuar como líder ou chefe. Esse discurso já não deveria ser essencial em debates sobre liderança, até porque o mais importante é reconhecer as funções que um profissional assume quando está ocupando formalmente uma posição na organização ou no projeto. A questão, portanto, é discutir quais são as funções gerenciais e de liderança, que um profissional deve desempenhar para executar suas atribuições. (ROSSI et al., 2021). No caso da gestão de projetos, um profissional deveria compreender e saber lidar com as duas funções. A função de gestão tem relação com a prática dos fundamentos da administração: planejar, organizar recursos, executar e controlar as ações. Esses fundamentos são amplamente conhecidos na área de estudos em administração, como afirma Maximiano (2017, p. 4). 22 A função liderar está muito relacionada com o fundamento executarem que o líder mobiliza as pessoas e os recursos em prol da realização e entrega dos resultados. Sabendo equilibrar sua atuação entre gestão e liderança, um líder conseguiria organizar objetivos, metas e ações, de maneira que poderia centralizar ou descentralizar o que é necessário para a realização de projetos. Para isso, há ferramentas que o líder poderia utilizar em sua prática e você conhecerá agora duas delas: a delegação e o empowerment. Quadro 1 – Delegação e empowerment Delegação Empowerment Trata-se de transferir a responsabilidade pela realização da tarefa para um mem- bro da equipe. Para isso, é função do líder conhecer a complexidade da tarefa e a competência da pessoa que receberá a responsabili- dade. Exemplo em projetos: delegar a nego- ciação com uma das partes interessadas sobre um novo prazo de projetos. Neste caso, a negociação foi delegada. A de- cisão sobre qualquer aspecto diferente disso, não está neste processo. Trata-se de transferir o poder de de- cisão sobre algo que o líder decidiria. Diferentemente da delegação, neste caso, a pessoa empoeirada pode de- cidir pelo líder, pois esta responsabili- dade foi atribuída a ela. Do mesmo modo que a delegação, é função do líder conhecer a com- plexidade dos processos decisórios e a competência do profissional em saber lidar com ele. Fonte: adaptado de Cruz (2021). Ainda, para elucidar algumas abordagens tradicionais sobre liderança, segue um quadro que compila as abordagens e suas principais características. 23 Quadro 2–Abordagens tradicionais da liderança Abordagem Principais características Traços do líder. Líderes nascem líderes (por suas características genéticas), e não se formam líderes. Este tipo de abordagem conside- ra apenas traços de personalidade, e não necessariamente a capacidade de aprender, de se relacionar e se desenvolver como líder. Estilos de tomada de decisões do líder. Nessa abordagem, existem alguns estilos de líderes: liberais, que deixa ao grupo a responsabilidade do que deve ser reali- zado; autoritário: que centraliza e decide o que deve ser feito, não trabalha bem em grupo; democrático: compartilha com o grupo o que deve ser realizado, inclusive o processo decisório. Estilo tranformacional. Estilo carismático, regido pela confiança desenvolvida com a equipe e a crença em sua eficácia pessoal. Inspiram e dire- cionam os esforços da equipe para os resultados, às vezes, sacrificando objetivos pessoais das pessoas para isso. Fonte: adaptado de Hollembeck e Wagner III (2021, p. 268-280). Uma observação que precisa estar muito clara, é a compreensãode que a intenção de se conhecer os diversos estudos sobre estilos de liderança, considera como fator primordial a capacidade de adaptação em relação aos estilos e de que não se deve ficar classificando pessoas em um determinado estilo, apenas. Um líder habilidoso tem a consciência e a aptidão para reconhecer nas situações, as características das equipes e o estilo que for conveniente para adotá-lo em cada momento apropriado. Isso quer dizer que um líder poderá agir de diferentes maneiras, muitas vezes, customizadas para cada caso. 1.1 Equipes: o comportamento em grupo e o tratamento individualizado Prosseguindo os estudos sobre liderança, o convite é, neste momento, olhar para o outro lado da liderança: o lado dos liderados. 24 Para que um líder possa se desenvolver, precisa também aprender sobre o comportamento humano, principalmente, no que diz respeito ao comportamento individual e o comportamento em grupo. No cenário atual, a principal estratégia de liderança tem sido a customização da abordagem de pessoas, ou seja, para cada pessoa, há uma maneira de se comunicar, estabelecer metas, acompanhar e oferecer feedbacks. Individualmente, as pessoas possuem interesses e vontades que balizam suas ações. Os motivos para agir (motivação) são diferentes de uma pessoa para outra, pois existe um contexto de necessidades que as colocam em situações variadas. Hollembeck e Wagner III (2020, p. 6), denominam essa abordagem de “comportamento micro- organizacional”. Imagine uma situação em que uma pessoa que tenha vinte e dois anos, tenha iniciado sua carreira profissional recentemente. Ela tem o desejo de morar fora do país e, nos próximos cinco anos, gostaria de constituir sua família. Suponha que esta mesma pessoa trabalhe com outra que tenha, no mesmo momento, quarenta anos, possua filhos em fase de formação profissional, está em ascensão para uma futura liderança e, no momento, oferece suporte para seus pais, que são idosos. Se essas duas pessoas trabalham na mesma equipe com o mesmo líder, como conjugar esforços, orientações, foco em metas e direcionamento de potencial e desempenho com perfis e fases da vida tão diferentes uma da outra? Para que um líder possa compreender o comportamento de uma pessoa, é necessário, portanto, que compreenda que este é um resultado da personalidade do indivíduo. A personalidade é constituída de traços biológicos, temperamento e uma construção social de 25 relacionamentos. Somados a isso, está o desenvolvimento do intelecto e da condição emocional que a pessoa desenvolve ao longo da vida. A Psicologia denomina essa condição humana de “biopsicossocial” (FRANÇA, 2012, p. 7). O ser humano é um ser biológico, psicológico e social. Já o comportamento em grupo, é representado por papéis e funções que cada indivíduo assume em uma organização, ou em um projeto, por exemplo. O grupo é um arranjo social, composto por pessoas com diferentes características e comportamentos, interesses, princípios éticos e valores individuais. A característica fundamental de um grupo é um interesse ou objetivo em comum, que, geralmente, é partilhado por todos, e os esforços desse grupo serão sempre direcionados no sentido de atingir os resultados esperados por sua performance (FRANÇA, 2012). Assim como o indivíduo, o grupo também desenvolve seu comportamento. Na maioria das vezes, a atuação das pessoas em grupo é individualizada, ou seja, cada um tem suas metas para cumprir. Ao cumprir todas as metas, o grupo cumpre a dele. Nem sempre há uma sinergia ou interrelação de esforços, no sentido de uma pessoa complementar a atuação da outra. O relacionamento entre os participantes pode ser até independente,em alguns casos. Algo interessante, portanto, para refletir, é que um dos comportamentos do grupo é denominado de estado de equipe (FIRMINO, 2021). A equipe nem sempre é um tipo de grupo, mas um estado de comportamento dele. Imagine a seguinte situação, denominada neste exemplo como situação 1: você faz parte de um grupo de trabalho na faculdade e, 26 para realizar as pesquisas de um trabalho coletivo, definem que cada integrante ficará responsável por fazer sua parte. Combinam prazos e escolhem uma pessoa para revisar todos os textos e entregar o relatório. Suponha que tudo isso aconteceria em oito dias. Este é um exemplo de trabalho em grupo, que, em uma situação ideal, com cada parte fazendo seu papel com empenho, haverá entrega de um produto final do trabalho coletivo. Agora, imagine o mesmo exemplo, porém, em outra perspectiva, denominada como a situação 2: durante esta pesquisa, as pessoas encontraram dificuldades em lidar com as leituras, há trechos difíceis e que, sozinhos, alguns integrantes não conseguem resolver. Todos resolvem se reunir em um dia (presencial ou remotamente) e decidem estudar juntos, trecho por trecho, um explicando ao outro o que deveria ser compreendido. Enquanto isso, outro já estaria fazendo os registros e outra pessoa reunindo o trabalho. Juntos, fazem a leitura compartilhada e finalizam o relatório. Suponha que esta atividade aconteceu em duas horas. Qual a diferença para a situação 1 e a situação 2? O mesmo grupo de pessoas conseguiu produzir os relatórios, porém, de maneiras completamente diferentes. Na primeira situação, em um comportamento de grupo. Na segunda, em um comportamento de equipe, de maneira interdependente, colaborativa e sinérgica. Essas são características de equipe. Há grupos que necessitarão atuar muito mais vezes como equipes do que outros, como, por exemplo: equipes esportivas, equipes médicas, equipes de projetos. Ainda assim, quando o trabalho em equipe é finalizado, cada um retorna ao estado de grupo e aos seus papeis individuais. 27 1.2 O diálogo que alinha objetivos e metas: drivers da liderança Ao líder de projetos, cabe desenvolver soft e hard skills, ou seja, competências humanas e comportamentais, além das competências técnicas em projetos. As soft skills, ou seja, as competências inerentes ao aspecto humano da atuação profissional são de grande relevância para um líder da área de projetos, visto que o seu cotidiano está imerso em comunicação e relacionamento interpessoal, tanto com as equipes quanto com as partes interessadas. Em relação à habilidade de se comunicar, cabe ao líder de projetos desenvolver tecnicamente um modo claro, objetivo e compartilhado, de lidar com as informações de todas as etapas dos projetos. A fase de execução da gestão de projetos é marcada, atualmente, pelas abordagens ágeis e sua principal característica é a realização de diversas modalidades de reuniões para desenvolver e acompanhar os times durante a realização das atividades. Algumas dessas reuniões são apontadas por Camargo e Ribas (2019), como seguem: Reunião de planejamento de entregas (sprints): reuniões iniciais de planejamento em que o time faz a programação das entregas e os prazos para sua realização. Reunião diária (daily Scrum): reuniões diárias curtas, de quinze minutos, para alinhamento diário de rotinas de tarefas. Reunião de revisão de sprints: reuniões pontuais, realizadas ao final de cada pacote de entrega (sprint) para inspeção e adaptação das entregas. 28 A partir desta realidade, uma das práticas fundamentais da liderança é o diálogo, que pressupõe a capacidade de conduzir conversas com temas definidos, em que todos são ouvidos, portanto, também participam com suas percepções e ideias, sem julgamentos e com transparência (CAMARGO; RIBAS, 2019). A prática do diálogo permite, ao líder de projetos, estimular frequentemente a coesão do grupo e a conversão de seu comportamento em equipes, sempre que necessário, levando as pessoas de um pronto programado para outro desejado, oferecendo e recebendo feedbacks durante todo o processo. Referências BLANCHARD, K. Liderança de alto nível: como criar e liderar organizações de alto desempenho. Porto Alegre: Bookman, 2019. CAMARGO, R. A. D.; RIBAS, T. Gestão ágil de projetos. S]ao Paulo: Saraiva, 2019. CRUZ, L. Liderança e empowerment: desenvolvimento gerencial e liderança. Porto Alegre: Grupo A, 2021. FRANÇA, A. C. L. Comportamento organizacional: conceitos e práticas. São Paulo: Saraiva, 2012. FIRMINO, J. P. R. Gestão de equipes de alta performance. São Paulo: Saraiva, 2021. HOLLENBECK, J. R.; WAGNER III, J. Comportamento organizacional. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2020. MAXIMIANO, A. C. A. Teoria Geral da Administração: da revolução urbana à revolução digital. 8. ed. Porto Alegre: Grupo GEN, 2017. PMI. A Guide to the Project Management Body of Knowledge (PMBOK Guide)– Seventh Edition and The Standard for Project Management. Pensilvania: Project Management Institute, 2021. ROSSI, J. de C. et al. Desenvolvimento gerencial e liderança. Porto Alegre: Grupo A, 2021. 29 Habilidades de liderança. Autoria: Janaina P. R. Firmino Leitura crítica: Renato Cividini Matthiese Objetivos • Conhecer diversas abordagens sobre as habilidades de liderança. • Compreender quais são atitudes e comportamentos da liderança eficaz. • Aprender técnicas de feedback pontuais e efetivos. 30 1. As habilidades do líder Em gerenciamento de projetos, as habilidades do líder se desenvolvem constantemente. Este desenvolvimento acontece por conta da aquisição de conhecimentos, da aplicação técnica de suas práticas, das experiências na convivência e relacionamento com as partes interessadas (equipe e demais partes). Cada projeto se torna um laboratório de desenvolvimento profissional, que o líder pode utilizar como propulsor em seu caminho de aprendizagem. No PMBOK 7ª edição (PMI, 2021), a liderança surge como um princípio do gerenciamento de projetos que podem ser reconhecidos por suas características e descrições como demonstra Vargas (2021), na figura a seguir: Figura 1 – Liderança enquanto um princípio Fonte: adaptado de Vargas (2021). Nesta figura, Vargas (2021) aponta conhecimentos e comportamentos da liderança que são essenciais para a condução dos projetos. 31 Observe que, tecnicamente, os conhecimentos a respeito de gestão de projetos não aparecem neste esquema, pois a compreensão é de que as habilidades essenciais da liderança são socioemocionais. As habilidades técnicas em gerenciamento de projetos são relacionadas à função de gerenciamento dos líderes, enquanto as habilidades humanas são relacionadas à função de liderar. As competências socioemocionais são características e comportamentos que podem ser desenvolvidas desde a infância e na fase adulta, e, a partir delas, um indivíduo conseguiria lidar de melhor maneira com as situações ambientais que vivenciamos e que são complexas. A teoria que embasa os estudos das competências socioemocionais é conhecida como Big Five e reúne cinco grandes grupos de macrocompetências (PORVIR, 2022). São elas: • Abertura a novas experiências. • Extroversão. • Amabilidade. • Consciência (também traduzida como conscienciosidade, do inglês, conscientiousness). • Estabilidade emocional. Partindo desses princípios, é necessário que o líder possa desenvolver também o autoconhecimento como uma prerrogativa de seu próprio desenvolvimento. O autoconhecimento preconiza reconhecer seus traços de personalidade, incluindo o comportamento, e perceber como pode se aprimorar em direção à melhor atuação a cada experiência pela qual vivencia. Processos de coaching são eficazes para atender a esta demanda, pois sua metodologia propõe uma aprendizagem para o desenvolvimento 32 profissional (ou pessoal) focalizada em obtenção de resultados, tendo como ponto de partida o autoconhecimento (MARION, 2017). Reconhecendo o ambiente de projetos como um exercícioconstante de relacionamento entre partes interessadas e, consequentemente, de gerenciamento de conflitos, cabe ao líder se conhecer e saber se posicionar frente às mais variadas demandas. Para o PMBOK 7ª edição, “a liderança compreende a atitude, talento, caráter e comportamentos para influenciar os indivíduos, dentro e fora da equipe do projeto em direção aos resultados desejados” (PMI, 2021, p. 40). 1.1 Um modelo para a liderança Para que o líder possa atuar de maneira eficaz, conforme orientação do PMBOK 7ª edição (PMI, 2021), é necessária a compreensão de que não existe uma fórmula ou um modelo pronto para isso. Existem inúmeras teorias sobre frameworks, ou modelos para liderança, e não seria possível escolher um deles e dizer que é o melhor ou mais adequado. Na orientação do PMBOK, cabe ao líder conhecer os variados estilos e conhecer a situação em que está inserido para que consiga compor o melhor arranjo para a sua atuação. No mosaico proposto pela Figura 2, a seguir, foram destacadas algumas ações citadas pelo PMBOK nesta última atualização, e que serviriam como uma referência de habilidades necessárias para liderança em projetos. 33 Figura 2 – Ações da liderança eficaz Fonte: adaptada de PMI (2021, p. 42). A obra O gerente minuto, de Ken Blanchard e Spencer Johnson, publicada na década de 1980, e que, atualmente, é abordada de maneira revisada por Blanchard, no livro Liderança de alto nível: como criar e liderar organizações de alto desempenho, oferece uma proposta de habilidades para o líder que possa desempenhar uma liderança humanizada e de alto nível. Nesta teoria, há uma conexão entre as habilidades essenciais para a liderança de pessoa a pessoa, explicadas pelo autor, com as ações propostas com as orientações do PMBOK. Observe, a seguir, quais são as quatro habilidades essenciais, para Blanchard (2019). Estabelecimento de objetivos-minuto: A intenção desta habilidade é estabelecer metas claras, específicas, mensuráveis e realistas, e distribui-las às pessoas devidamente competentes e que estejam aptas para assumir as responsabilidades das tarefas. O alinhamento das metas é realizado a partir da 34 responsabilidade e de padrões de desempenho acordados entre líder e liderado. Essas características se relacionam às ações citadas pelo PMBOK: focar equipe em metas acordadas; estabelecer e articular uma visão compartilhada; buscar consenso, negociar e gerenciar conflitos”, expostas na Figura 2, apresentada anteriormente. Elogio-minuto: Elogiar é uma das habilidades mais importantes na prática da liderança, segundo Blanchard (2019, p. 118), porque “[…] elogios visam reforçar comportamentos que conduzem as pessoas para mais perto de suas metas”. O elogio tem a proposta de “flagrar as pessoas fazendo a coisa certa” e essa perspectiva alinha as pessoas ao desempenho desejado, direcionando-as para o resultado, além de manter um ambiente de trabalho positivo, pois, estar por perto e acompanhar as pessoas, é uma das atividades da liderança que opta por este propósito. As ações da Figura 2, propostas pelo PMBOK, que se alinham muito à habilidade do elogio-minuto são: adaptar estilos de comunicação; treinar e orientar pessoas; apreciar e recompensar comportamentos e contribuições. Reorientações-minuto: As reorientações são necessárias sempre que o desempenho não é suficiente para atingir metas. No caso das reorientações, Blanchard (2019) aponta duas maneiras de aplicá-las: a repreensão e reorientação. A repreensão, quando o comportamento é oposto ao que se deve fazer ou quando as pessoas apresentam comportamentos inadequados. Neste caso, a repreensão (ou punição) tem como intenção interromper o mau comportamento. 35 No caso da reorientação, a intenção é de gerar aprendizagem, e o foco é orientar, sempre que necessário, desenvolver competências ou conhecimentos da pessoa da equipe. As ações da Figura 2, propostas pelo PMBOK, que se alinham muito à habilidade do elogio-minuto são: “empregar conversas eficazes e escuta ativa; buscar recursos e apoio; empregar conversas eficazes e escuta ativa. Desculpa-minuto: Essa habilidade surgiu recentemente nas abordagens do gerente-minuto, de Blanchard e Johnson (BLANCHARD, 2019), pois é também necessário que o líder se autoavalie e reflita sobre seu comportamento e atitudes quando está conduzindo pessoas. A intenção das desculpas-minuto é de que o líder reconheça seus pontos de aprimoramento pessoal e profissional, e como sua prática de liderança pode evoluir a partir disso. Esta reflexão parte de um momento de rendição ou de reconhecimento do que não está indo bem e de integridade, ou seja, do caráter do líder em buscar a mudança (BLANCHARD, 2019, p. 125). Esta habilidade está em alinhamento com uma ação da Figura 2, proposta pelo PMBOK, que é ter consciência dos próprios preconceitos e comportamentos. Esta habilidade confere ao líder a construção da confiança na relação líder-liderado, principalmente, pelo exemplo que transmite e que é tão importante para que os projetos estejam sempre fundamentados em conhecimentos técnicos e na melhor prática de gerenciamento de pessoas. Muito embora não exista um modelo específico para liderança, como se fosse uma receita, a proposta do gerente minuto é muito alinhada aos preceitos da última atualização do PMBOK 7. edição. 36 1.2 Práticas de feedback O feedback é um dos fundamentais instrumentos da liderança e, em projetos, é essencial para as reuniões com as equipes e partes interessadas. Para Missel (2017): Trata-se de uma técnica que consiste em realizar retornos sistemáticos por meio dos quais os gestores podem ajudar seus funcionários a tornarem-se conscientes de seus próprios desempenhos [...] sejam eles alinhados ou abaixo do esperado em relação às metas. (MISSEL, 2017, p. 11) Tanto nas metodologias preditivas, que é o caso do PMBOK, organizada em um planejamento específico que será a guia para a trajetória do projeto (MAXIMIANO; VERONEZE, 2022), quanto nas metodologias ágeis, que são caracterizadas pelas reuniões periódicas do planejamento à execução e encerramento dos projetos, o feedback é o exercício da liderança e da coesão entre as equipes de trabalho. Para a autora Missel (2017), a prática do feedback nem sempre é algo confortável ou desejável por muitos líderes. Alguns entendem o processo como algo que pode estremecer as relações de trabalho, pois temem “magoar ou ofender” os colaboradores, por exemplo (MISSEL, 2017, p. 16). Isso para evitar esse tipo de situação ou para estruturar o feedback, a fim de que seja um instrumento eficaz de correção ou reorientação de comportamentos e desempenho. Para que você possa conhecer algumas maneiras adequadas para a prática do feedback, seguem duas propostas práticas: uma de Missel (2017), chamado feedback corporativo, que envolve feedback e feedbfoward, que se trata de “olhar para frente” durante um momento de reorientação; e outra de Madruga (2021, p. 46), chamada Feedmentor. 37 Quadro 2 – Modelos de feedback Feedback corporativo (MISSEL, 2017, p. 28) Feedmentor 20 minutos (MADRUGA, 2021, p. 46) 1. 1. Descreva apenas um comporta- mento. 2. 2.Descreva o que isso está cau- sando. 3. 3. Descreva o porquê você se sen- te dessa forma. 4. 4. Exemplifique. 5. 5. Sugira ou pergunte ao taker (quem recebe o feedback), uma solução que será desenvolvida no futuro. 6. 6. Encontre um acordo mútuo para as soluções propostas. 1. Estabeleça rapport (um acolhimento) e expectativas. 2. Fatos, dados e consequências. Apre- sentá-los no contexto atual. 3. Pergunta poderosa. Propor uma ques- tão para instigar a reflexão. 4. Ouvir a resposta atentamente. 5. Pactuação para o presente e para o futuro. Um acordo com uma ação a rea- lizar. Fonte: adaptado de Missel (2017) e Madruga (2021). Nessas duas estratégias, se você observar com atenção, perceberá que a proposta se inicia com um acolhimento ou uma aproximação entre que aplica equem recebe o feedback, passa por um momento passado de apresentação de fatos e exemplos, e finaliza com um plano de ação presente ou futura, prevendo, enfim, um aprimoramento. Nesses dois casos, inclusive, a ideia é de que o feedback seja realizado de maneira pontual, a partir de uma situação por vez, e que não seja uma reunião demorada, mas suficiente para uma conversa franca e transparentes entre as partes. Para Madruga (2021), isso pode acontecer em vinte minutos, apenas. O autor Madruga (2021) destaca, ainda, que aquela ideia ultrapassada de feedback sanduíche, que era praticada por alguns líderes, que previa o início com um elogio, o assunto intermediário com algo a ser corrigido e finalização com outro elogio, já não é algo eficaz para gerar confiança no processo de desenvolvimento de pessoas. 38 Existem diferentes maneiras de se oferecer feedbacks, e Missel (2017, p. 11), destaca que podem ser verbalmente em reuniões presenciais (ou remotas), por escrito ou até mesmo por meio de comunicação não verbal, por gestos, expressões, tom de voz, desde que sejam claros e objetivos sobre o que está sendo afirmado. A eficácia está muito mais relacionada ao verdadeiro desejo do líder estar presente e devidamente comprometido com o aprimoramento do colaborador e na relação de confiança de que as ações acordadas serão cumpridas. Referências BLANCHARD, K. Liderança de alto nível: como criar e liderar organizações de alto desempenho. Porto Alegre: Bookman, 2019. CAMARGO, R. A. D.; RIBAS, T. Gestão ágil de projetos. S]ao Paulo: Saraiva, 2019. MADRUGA, R. Employee experience, gestão de pessoas e cultura organizacional. Porto Alegre: Grupo GEN, 2021. MARION, A. Manual de coaching: guia prático de formação profissional. Porto Alegre: Grupo GEN, 2017. MAXIMIANO, A. C. A.; VERONEZE, F. Gestão de projetos: preditiva, ágil e estratégica. 6. ed. Porto Alegre: Grupo GEN, 2022. MISSEL, S. Feedback corporativo: como saber se está indo bem. Disponível em: Minha Biblioteca, Editora Saraiva, 2017. PMI. A Guide to the Project Management Body of Knowledge (PMBOK Guide)– Seventh Edition and The Standard for Project Management. Pensilvania: Project Management Institute, 2021. PORVIR. Especial Socioemocionais. Disponível em https://socioemocionais.porvir. org/. Acesso em: 7 nov. 2022. ROSSI, J. de C. et al. Desenvolvimento gerencial e liderança. Porto Alegre: Grupo A, 2021. VARGAS, R. Infográfico Guia PMBOK 7ª edição. Disponível em: https://ricardo- vargas.com/pt/infographic-pmbok-guide-7th-edition/. Acesso em: 7 nov. 2022. 39 Adaptando Estilos de Liderança - Tailoring Autoria: Janaina P. R. Firmino Leitura crítica: Renato Cividini Matthiesen Objetivos • Aprender sobre a adaptação em metodologias preditivas, ágeis e híbridas. • Conhecer algumas abordagens sobre estilos de liderança. • Compreender a importância da experiência do colaborador em relação à liderança. 40 1. Liderando projetos preditivos e adaptativos Tailoring, também conhecida como a capacidade de adaptação, em alguns casos sob medida em projetos, sempre foi uma proposta do PMBOK, em outras versões do guia de conhecimentos (PMI, 2021). A intenção do planejamento em projetos na metodologia PMBOK é de predizer, ou seja, de planejar o que deve ser executado e entregue como resultados dos projetos esperados. Embora exista uma forte dedicação em planejamento, a proposta desta abordagem é de não tornar engessada a execução do projeto, e isso significa que, sempre que for necessário ajustar, alterar ou adaptar algo durante o projeto, que isso seja feito (VARGAS, 2021). A adaptação é uma necessidade frequente em gestão de projetos e, nas duas principais abordagens ou metodologias deste gerenciamento, é possível perceber como e quando deverá acontecer. Aos líderes de projetos, compete conhecer qual é seu cenário metodológico para guiar as equipes da maneira mais adequada possível a esta necessidade. Observe no Quadro 1, a seguir, algumas considerações sobre as duas metodologias: a preditiva e a ágil. Quadro 1 – Metodologias preditiva e ágil Preditiva Ágil “A gestão preditiva de projetos consiste na execu- ção baseada no planejamento exaustivo do projeto e da definição exaustiva do produto final. […] o projeto não começa enquanto o produto e as dimensões do desempenho não estiverem de- finidos. No entanto, as circunstâncias ao longo do ciclo de vida podem determinar a mudança nas de- finições iniciais – tanto o produto quanto o planeja- mento. Isso ocorre quando se constrói uma casa e a falta de recursos financeiros força a interrupção do projeto, alargando o prazo, ou quando o proprietário resolve alterar as especificações do imóvel.” (MAXI- MIANO; VERONEZE, 2022, p. 24). “[…] enfatizam o desenvolvimento e a entrega de produtos, em detrimento de documentação e pla- nejamento exaustivo. A comunicação constante entre as partes interes- sadas, principalmente entre a equipe, o cliente e os gestores, produzindo um mínimo de planos de escopo e atividades, assegura que o projeto realize e entregue os produtos esperados. (MAX- IMIANO; VERONEZE, 2022, p. 19). Fonte: adaptado de Maximiano e Veroneze (2022). 41 Entre as duas metodologias, a principal diferença está na maneira como o projeto é elaborado e no modo como os resultados são entregues. Na preditiva, a elaboração do projeto é guiada pelo ciclo de vida do projeto, composto pelas fases de iniciação, planejamento, execução, monitoramento e encerramento. O planejamento considera predizer todas as áreas do projeto, ou seja, tudo o que deverá ser realizado durante a execução. Geralmente, são abordadas dez áreas de conhecimentos dos projetos: escopo, cronograma, custo, qualidade, recursos, aquisições, partes interessadas, riscos, comunicação e integração. O resultado é entregue ao final da execução do projeto (MAXIMIANO; VERONEZE, 2022). Já na abordagem ágil, a elaboração do projeto é organizada por uma relação de entregas a cumprir, constituindo uma espécie de estoque de entregas a realizar, denominada Product Backlog. Desse backlog são organizados pacotes de entregas denominadas Sprints. Esses pacotes de entregas são gerenciados por meio das cerimônias, chamadas de Sprint, termo derivado da metodologia Scrum, conforme Sutherland e Sutherland (2019). O produto resultante do projeto vai sendo elaborado e entregue em etapas, portanto, ao longo do projeto, já é possível acompanhar o resultado tomando forma. Geralmente, as Sprints são definidas em prazos curtos, como, por exemplo, uma semana, quinze dias, trinta dias, e o que faz a dinâmica da gestão de projetos acontecer é a comunicação intensa e frequente, por meio de variadas tipologias de reuniões (de planejamento, diárias, de acompanhamentos e de retrospectiva – Retrospective Meeting) entre as equipes e as partes interessadas do projeto (MAXIMIANO; VERONEZE, 2022). Você consegue perceber que a atuação da liderança em cada uma das abordagens teria nuances diferentes? Enquanto na preditiva, tanto a gestão quanto o líder de projetos trabalham com o foco no ciclo de 42 vida preditivo do projeto e o acompanhamento do planejado versus o executado, na abordagem ágil, o foco é o ciclo adaptativo do projeto, pois as lideranças focam em comunicação e nas reuniões. Na preditiva, é relevante a documentação como a guia das ações (os registros fase a fase), enquanto na ágil, o foco é nas entregas e as documentações representam a consequência da execução. Há situações em que alguns projetos podem requerer uma abordagem híbrida, ou mista, sendo preditiva e ágil ao mesmo tempo, cabendo às lideranças o conhecimento necessário para adaptar seu estilo de liderança às abordagens adotadas. Para o PMBOK 7ª edição, o Tailoring, portanto, tem esta conotação de adaptar o estilo de liderança sempre que o contexto, ou o cenário, requisitar. Observe na Figura1 a seguir, o resumo do Tailoring enquanto um princípio do PMBOK 7ª edição. Figura 1–Tailoring como um princípioem projetos Fonte: adaptada de Vargas (2021). 43 Hollembeck e Wagner III (2020, p. 273), apresentam, em seus estudos, um “modelo integrado de liderança” desenvolvido por Edward Hollander, que propõe ao líder como poderia atuar de modo que consiga lidar com a complexidade que cada situação apresenta. Neste modelo, a ideia é que, para liderar, o líder deve considerar suas próprias características (pessoais e profissionais); deve considerar também a capacidade e competências da equipe e a complexidade da situação em que estão trabalhando, em nosso caso, o projeto. Com essa proposição, somadas às orientações de Tailoring, cidadas por Vargas (2021), é possível concluir, portanto, que não existe uma fórmula ou um roteiro pré-definido para que o líder siga uma metodologia e que isso garantirá o sucesso do projeto. O que poderá facilitar este sucesso é a capacidade de conduzir adaptações pela liderança. Segundo o PMBOK 7ª edição, “a seleção dos processos a serem usados, abordagem de desenvolvimento, métodos e artefatos necessários para entregar os resultados do projeto. Adaptar decisões pode ser uma ação implícita de aceitar uma metodologia estabelecida” (PMI, 2021, p. 45, seção 3). 1.1 Estilos de liderança Os estudos sobre liderança abrangem teorias clássicas e também abordagens mais modernas e que culminam em possibilidades de atuação para os líderes, conhecidas por estilos de liderança. A intenção de conhecer os estilos é de oferecer um repertório de comportamentos que poderiam ser adotados de acordo com cada situação ou, até mesmo, com o perfil do líder e de cada equipe que ele conduz. 44 Alguns desses estilos se baseiam em traços do líder, conforme as tendências de seu comportamento e características pessoais, e podem ser adotados de acordo com as circunstâncias. Segundo o PMBOK 7ª edição: Os estilos de liderança documentados variam de autocrático, democrático, laissez-faire, diretivo, participativo, assertivo, solidário e autocrático ao consenso. De todos esses, nenhum estilo de liderança único provou ser a abordagem universalmente melhor ou recomendada. Em vez disso, a liderança eficaz é mostrada quando melhor se adapta a uma determinada situação. (PMI, 2021, p. 41, seção 3) Ainda, na perspectiva do PMI (2021) e de Blanchard (2019), há uma teoria dentre as clássicas, conhecida por liderança situacional, que poderia coincidir com a proposta de Tailoring, por considerar a situação como o ponto de adaptação. Esta teoria foi atualizada por Blanchard (2019) e é denominada em sua obra Liderança de alto nível, e recentemente é denominada Situational Leadership II (SLII). Neste modelo, para tornar eficaz o líder, é preciso desenvolver três habilidades: estabelecer metas; diagnosticar a situação; e adequar a liderança, sempre que necessário (BLANCHARD, 2019, p. 69). No modelo situacional, o líder precisa compreender se deve centralizar mais ou delegar responsabilidades, ou se deveria desenvolver competências necessárias a algum ou alguns participantes da equipe, utilizando coaching como técnica, por exemplo. Em outras situações, o líder precisa identificar se precisa ser mais diretivo em relação às decisões ou democrático nos momentos de resolução de problemas. De acordo com o PMBOK 7ª edição, a adaptação dos estilos de liderança pode agregar valor aos projetos, que, se por acaso não fossem adaptados, poderiam se manter fiéis ao planejamento e distante da realidade do momento. 45 Alguns benefícios citados por esse guia de conhecimentos, quando há a prática do Tailoring, são: • Maior comprometimento dos membros da equipe do projeto porque eles participaram da definição a abordagem. • Redução de desperdícios em termos de ações ou recursos. • Foco orientado para o cliente, pois as necessidades do cliente e de outras partes interessadas são um importante fator de influência na adaptação do projeto. • Uso mais eficiente dos recursos do projeto, pois as equipes de projeto estão conscientes do peso dos processos do projeto. (PMI, 2021, p. 46) Além dos benefícios, o Tailoring também aponta como resultados: “aumento da inovação, eficiência e produtividade; Lições aprendidas e Aprimoramento da metodologia de uma organização, e a descoberta de melhores resultados”. (PMI, 2021, p. 46) A necessidade de adaptação está também diretamente relacionada com a complexidade das variáveis externas aos projetos, como, por exemplo, a economia, a situação política, as questões ambientais, tecnológicas, demográficas e até da preferência dos consumidores ou clientes. Os cenários complexos não tratam de um novo assunto na área dos projetos, porém, em meados de 2018, um novo conceito sobre a complexidade do mundo surgiu na compreensão de Jamais Cascio, um dos principais pensadores do mundo, conhecido como mundo BANI. Na concepção de Cascio (2021, p. 102), o acrônimo BANI significa Brittle, Anxious, Nonlinear and Incomprehensible, e tem como tradução: frágil, ansioso, não linear e incompreensível. 46 Acrônimo, é uma palavra formada pelas letras iniciais de um grupo de palavras, em nosso caso, BANI é um acrônimo de Brittle, Anxious, Nonlinear and Incomprehensible (DICIO, 2022). Nessa proposta, Cascio explica que o mundo e suas variáveis, atualmente, deixam um status complexo e assumem um status caótico, em relação às previsões e planejamentos. Alguns aspectos mundiais são frágeis, como, por exemplo, situações de tensões políticas (guerras iminentes ou ameaças democráticas) ou de saúde coletiva, como exemplo, a pandemia da Covid-19 (CASCIO, 2021). A ansiedade está relacionada com a falta de controle sobre mudanças, principalmente, por jovens, e a não linearidade, relacionada ao caos, ou seja, a ausência de ordem ou de relações lineares de causa e efeito. A incompreensibilidade está relacionada à capacidade do cérebro humano conseguir lidar com tantas informações, nem sempre relacionáveis, e que a inteligência artificial tem como campo de atuação para abordá-la (CASCIO, 2021). Diante desta abordagem, do mundo BANI (Brittle, Anxious, Nonlinear and Incomprehensible), ou seja, frágil, ansioso, não linear e incompreensível, você percebe como é necessária a capacidade de adaptação aos líderes de projetos? De acordo com o PMBOK 7ª edição, “a complexidade pode surgir a qualquer momento durante o projeto. A complexidade pode ser introduzida por eventos ou condições que afetam valor, escopo, comunicações, partes interessadas, risco e inovação tecnológica” (PMI, 2021, p. 50). O Tailoring e a adaptação dos estilos de liderança precisam ser a prática de todos os líderes de projetos, independentemente das metodologias utilizadas. 47 1.2 Employee experience e liderança A proposta de conhecer o conceito de employee experience, ou experiência do colaborador (MADRUGA, 2021), tem como objetivo a compreensão da importância de promover experiências positivas para um colaborador em relação aos pontos de contato que ele tenha durante sua jornada de trabalho em uma organização. Sempre que um colaborador precisa tomar contato com algum serviço interno em uma organização, por exemplo, ser atendido pela equipe de Gestão de Gente, a intenção é de que mesmo que seus objetivos não sejam atendidos naquele momento, sua experiência com o tratamento recebido seja positiva. Durante a jornada do colaborador em uma organização, ele passará por diversos momentos (ou pontos de contato): será recrutado e selecionado, receberá sua remuneração e benefícios, conhecerá a cultura da empresa e viverá no contexto do clima organizacional dela, poderá ser avaliado, treinado, desenvolvido e até desligado. As experiências positivas podem ser criadas (assim como as negativas) em cada momento de sua vivência naquele ambiente. Não seria diferente, então, pensar em como seria a experiência do colaborador com suas lideranças? Com esse propósito, o assunto employee experience surge neste texto, para que você possa refletir não só em como o líderprecisa se desenvolver ou atuar, mas também sobre a importância de como as pessoas de sua equipe percebem suas experiências na condução deste profissional. O líder em projetos estará o tempo todo, individualmente ou coletivamente, em contato com sua equipe de trabalho, seja por escrito, presencialmente ou virtualmente. 48 Pensar em como sua liderança pode ser adaptada às necessidades do projeto, poderia, portanto, gerar experiências positivas e, como consequência, obter o engajamento e a confiança necessária para alcançar os resultados esperados, como também poderia produzir o efeito contrário. Uma metodologia conhecida para medir a experiência do colaborador é conhecida como ENPS. Segundo Madruga (2021, p. 115), “o Employee Net Promoter Score (ENPS), indicador derivado do Net Promoter Score (NPS)”, é uma adaptação do método que mede a satisfação de clientes em relação a um produto ou serviço. ENPS, portanto, é um indicador de satisfação do colaborador em relação à sua experiência durante sua jornada em uma organização. Em nosso caso, seria possível conhecer o ENPS de um colaborador em relação à sua experiência em um determinado projeto, ou até ser relacionada à sua experiência em ser conduzido por um líder especificamente. Como funciona o ENPS: Geralmente, é proposta uma questão única para que o colaborador responda em uma escala numérica o seu grau de satisfação como resposta a ela. Veja um exemplo: “De zero a 10, quanto você indicaria a liderança do projeto ‘X’ para um novo projeto?” A escala utilizada pelo ENPS varia de: zero a 6; 7 e 8; 9 e 10, assim organizadas pelo Quadro 2: Quadro 2–Proposta de ENPS para liderança em projetos Nota atribuída Significado Observações 0 a 6. Avaliação detratora, ou negativa. Compreende pessoas insatisfeitas e que não recomendam o líder. Há necessidade urgente de ações de aprimoramento ou até desligamento do líder do projeto, em caso extremo. 49 7 e 8. Avaliação neutra. As pessoas não reconhecem como negativa nem positiva a atuação do líder. Portan- to, não recomendam. Há necessidade imediata de desenvol- vimento (coaching, mentoria ou mesmo acompanhamento) deste líder para que a experiência não se torne negativa. 9 e 10. Avaliação positiva. As pessoas re- conhecem a liderança e indicam a atuação deste profissional. Ações de valorização e de reconheci- mento podem ser aplicadas aos líderes que apresentam tal resultado, que pro- vavelmente impactam positivamente o resultado do projeto. Fonte: adaptado de Madruga (2021). A partir das experiências positivas o líder poderá conhecer seus pontos de melhoria e de adaptação necessários para o seu desenvolvimento, ou até reconhecer sua performance positiva em relação à sua dedicação ao projeto, às equipes e às partes interessadas. Referências BLANCHARD, K. Liderança de alto nível: como criar e liderar organizações de alto desempenho. Porto Alegre: Bookman, 2019. CASCIO, J. A educação em um mundo cada vez mais caótico. Boletim Técnico do SENAC, v. 47, n. 1, p. 101-105. São Paulo: SENAC, 2021. https://doi.org/10.26849/bts. v47i1.879. Acesso em 23 out. 2022. DICIO. Acrônimo. Disponível em: https://www.dicio.com.br/acronimo/. Acesso em: 7 nov. 2022. HOLLENBECK, J. R.; WAGNER III, J. Comportamento organizacional. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2020. MADRUGA, R. Employee experience, gestão de pessoas e cultura organizacional. Porto Alegre: Grupo GEN, 2021. MAXIMIANO, A. C. A.; VERONEZE, F. Gestão de projetos: preditiva, ágil e estratégica. 6. ed. Porto Alegre: Grupo GEN, 2022. PMI. A Guide to the Project Management Body of Knowledge (PMBOK Guide)– Seventh edition and the standard for project management. Pensilvania: Project Management Institute, 2021. SUTHERLAND, J.; SUTHERLAND, J. J. Scrum: a arte de fazer o dobro do trabalho na metade do tempo. Rio de Janeiro: Sextante, 2019. VARGAS, R. Infográfico Guia PMBOK 7ª edição. Disponível em: https://ricardo- vargas.com/pt/infographic-pmbok-guide-7th-edition/. Acesso em: 7 nov. 2022. 50 BONS ESTUDOS! Sumário Apresentação da disciplina Engajamento das partes interessadas Objetivos 1. Identificando e engajando as partes interessadas Referências Gestão e liderança da equipe do projeto Objetivos 1. Gerenciamento e liderança: cuidando das metas e das pessoas Referências Conceitos e bases legais da LGPD Objetivos 1. As habilidades do líder Referências Adaptando Estilos de Liderança - Tailoring Objetivos 1. Liderando projetos preditivos e adaptativos Referências