Prévia do material em texto
Tuberculose Introdução • Doença infecciosa e transmissível, cau- sada pela bactéria Mycobacterium tubercu- losis, também conhecida como bacilo de Koch; • Afeta prioritariamente os pulmões (forma pulmonar), embora possa acometer outros órgãos e/ou sistemas; • Forma extrapulmonar: afeta outros ór- gãos que não o pulmão; • No Brasil são notificados aproximada- mente 70 mil casos novos e ocorrem cerca de 4,5 mil mortes em decorrência da tuber- culose. Quadro clínico • Tosse por 3 semanas ou mais; • Febre vespertina; • Sudorese noturna; • Emagrecimento. • O principal sintoma da tuberculose pulmo- nar é a tosse. Essa tosse pode ser seca ou produtiva (com catarro). Transmissão • Acontece por via respiratória, pela elimi- nação de aerossóis produzidos pela tosse, fala ou espirro de uma pessoa com tubercu- lose ativa (pulmonar ou laríngea), sem tra- tamento, e a inalação de aerossóis por um indivíduo suscetível; • Não se transmite por objetos comparti- lhado; • Bacilos que se depositam em roupas, len- çóis, copos e talheres dificilmente se disper- sam em aerossóis e, por isso, não têm papel importante na transmissão da doença; • Estima-se que uma pessoa com bacilosco- pia positiva infecte de 10 a 15 pessoas em média, em uma comunidade, durante um ano; • Crianças com tuberculose pulmonar, em geral, têm baciloscopia negativa e, por isso, pouca importância na cadeia de trans- missão da doença; • Importante: com o início do tratamento, a transmissão tende a diminuir gradativa- mente, e em geral, após 15 dias, o risco de transmissão da doença é bastante reduzido. Risco de adoecimento • Pessoas vivendo em situação de rua, vi- vendo com HIV, privadas de liberdade, In- dígenas; • A reinfecção pode ocorrer se a pessoa tiver uma nova exposição, sendo mais comum em áreas onde a prevalência da doença é alta; • A infecção prévia pelo M. tuberculosis não evita o adoecimento, ou seja, o adoecimento não confere imunidade e recidivas podem ocorrer. Agente etiológico • A tuberculose pode ser causada por qual- quer uma das sete espécies que integram o complexo Mycobacterium: M. tuberculosis, M. bovis, M. africanum, M. canetti, M. mi- croti, M. pinnipedi e M. caprae; • Em saúde pública, a espécie mais impor- tante é a M. tuberculosis, conhecida tam- bém como bacilo de Koch (BK). • O M. tuberculosis é fino, ligeiramente curvo e mede de 0,5 a 3 μm. É um bacilo álcool-ácido resistente (BAAR), aeróbio. Marianne Barone (T5) DIP – Prof. Elisabeth Dotti Consolo Quadro clínico → • Sintomas clássicos, como tosse persistente seca ou produtiva, febre vespertina, sudo- rese noturna e emagrecimento; • Tuberculose pulmonar primária: nor- malmente ocorre em seguida ao primeiro contato do indivíduo com o bacilo e, por isso, é mais comum em crianças; - As manifestações clínicas podem ser in- sidiosas, com o paciente apresentando-se ir- ritadiço, com febre baixa, sudorese noturna e inapetência; - Nem sempre a tosse está presente; • Tuberculose pulmonar pós-primária ou secundária: pode ocorrer em qualquer idade, mas é mais comum no adolescente e no adulto jovem; - Tem como característica principal a tosse seca ou produtiva; - Nos casos em que a tosse é produtiva, a expectoração pode ser purulenta ou mu- coide, com ou sem sangue; - A febre vespertina, sem calafrios, não costuma ultrapassar os 38,5ºC; - A sudorese noturna e a anorexia são co- muns; • Tuberculose miliar: refere-se a um as- pecto radiológico pulmonar específico, que pode ocorrer tanto na forma primária quanto na forma secundária da tuberculose; - É uma forma grave da doença, que é mais comum em pacientes imunocomprometidos, como pessoas infectadas com HIV em fase avançada de imunossupressão; - Sintomas como febre, astenia, emagreci- mento e hepatomegalia, alterações do sis- tema nervoso central. → • Tuberculose pleural: é a forma mais co- mum de tuberculose extrapulmonar em pes- soas não infectadas pelo HIV; - Ocorre mais em jovens e cursa com dor torácica do tipo pleurítica; - A tríade astenia, emagrecimento e anore- xia pode ocorrer ou febre com tosse seca e dispneia; - O líquido pleural tem características de exsudato, predomínio de linfócitos e baixo rendimento tanto da pesquisa de BAAR; - Alteração visível na radiografia de tórax além do derrame pleural; • Empiema pleural tuberculoso: é conse- quência da ruptura de uma cavidade tuber- culosa para o espaço pleural e, por isso, além de líquido no espaço pleural, muitas vezes ocorre também pneumotórax secun- dário à fístula broncopleural, o rendimento da baciloscopia direta e da cultura para tu- berculose no líquido do empiema tubercu- loso é alto; • Tuberculose ganglionar periférica: é a forma mais frequente de tuberculose extra- pulmonar em pessoas vivendo com HIV (PVHIV) e em crianças, sendo mais comum abaixo dos 40 anos; - Cursa com aumento subagudo, indolor e assimétrico das cadeias ganglionares cervi- cais anterior e posterior, além da supracla- vicular; - Em PVHIV, o acometimento ganglionar tende a ser bilateral, associado com os gân- glios podem apresentar-se endurecidos ou amolecidos, aderentes entre si e aos planos profundos, podendo evoluir para flutuação e/ou fistulização espontânea; - O diagnóstico é obtido por meio de aspi- rado por agulha e/ou ressecção ganglionar, para realização de exames bacteriológicos e histopatológicos; • Tuberculose meningoencefálica: é res- ponsável por 3% dos casos de tuberculose; • Tuberculose pericárdica: Tem apresen- tação clínica subaguda e geralmente não se associa à tuberculose pulmonar, embora possa ocorrer simultaneamente com a tuber- culose pleural; - Os principais sintomas são dor torácica, tosse seca e dispneia; - Pode haver febre, emagrecimento, aste- nia, tontura, edema de membros inferiores, dor no hipocôndrio direito (congestão hepá- tica) e aumento do volume abdominal (as- cite); • Tuberculose óssea: atinge mais a coluna vertebral e as articulações coxofemoral e do joelho, embora possa ocorrer em outros lo- cais; - Tuberculose de coluna (mal de Pott): 50% de todos os casos de tuberculose óssea. Ela afeta mais comumente a coluna torácica baixa e a lombar e seu quadro clínico apre- senta-se com a tríade: dor lombar, dor à palpação local e sudorese noturna. Diagnóstico laboratorial → • A pesquisa do bacilo álcool-ácido resis- tente (BAAR), pelo método de Ziehl-Niel- sen, é a técnica mais utilizada no meio; • A baciloscopia do escarro é muito impor- tante devido esses indivíduos serem os mai- ores responsáveis pela manutenção da cadeia de transmissão; • Indicação: no sintomático respiratório, durante estratégia de busca ativa, em caso de suspeita clínica e/ou radiológica de tu- berculose pulmonar, independentemente do tempo de tosse, para acompanhamento e controle de cura em casos pulmonares; • A baciloscopia de escarro deve ser reali- zada em duas amostras; • Nos casos em que houver indícios clínicos e radiológicos de suspeita de tuberculose e as duas amostras de diagnóstico apresenta- rem resultado negativo, podem ser solici- tadas amostras adicionais; • A baciloscopia de outros materiais bioló- gicos (líquor, urina, biopsias) também está indicada na suspeição clínica de tubercu- lose extrapulmonar; • Baciloscopia positiva e quadro clínico compatível com tuberculose fecham o diagnóstico e autorizam o início de trata- mento da tuberculose; • Diagnóstico de certeza bacteriológica só é obtido com a cultura (que é o padrão-ouro) e/ou testes moleculares. → • O TRM-TB é um teste de amplificação de ácidos nucleicos utilizado para detecção de DNA dos bacilos do complexo M. tuber- culosis e triagem de cepas resistentes à ri- fampicinapela técnica de reação em ca- deia da polimerase (PCR) em tempo real. • Pode ser realizado em: escarro, escarro induzido, lavado broncoalveolar, lavado gástrico, líquor, gânglios linfáticos, urina e outros tecidos; • Cultura para micobactéria, identifica- ção e teste de sensibilidade: a cultura é um método de elevada especificidade e sensibi- lidade no diagnóstico da tuberculose; • Nos casos pulmonares com baciloscopia negativa, a cultura do escarro pode aumen- tar em até 30% o diagnóstico bacterioló- gico da doença. → • Realizado para diagnóstico laboratorial da infecção latente pelo M. tuberculosis; • Está indicado para o rastreio da ILTB nas seguintes populações: - PVHAcom CD4 > 350 cél/mm³; - Crianças (entre 2 e 10 anos de idade) con- tato de casos de tuberculose ativa; - Pessoas candidatas à transplante de célu- las tronco; - Pessoas candidatas à transplante de ór- gãos sólidos; - Pessoas que farão ou estão em uso de imunobiológicos e/ou imunossupressores com infecção latente de tuberculose (ILTB). → • A prova tuberculínica (PT) também é re- comendada para o diagnóstico da infecção latente de tuberculose (ILTB); • Baseia em uma reação de hipersensibili- dade cutânea após a aplicação do PPD por via intradérmica, em que a leitura é reali- zada 48 a 72 horas após a aplicação, po- dendo ser estendido até 96 horas; • Ela é indicada para as seguintes situa- ções: - Na investigação de infecção latente em crianças, adolescentes e adultos (investiga- ção de contatos); - Na investigação de tuberculose ativa em crianças, por meio do escore pediátrico; - Na avaliação periódica anual de profissi- onais da saúde; • PPD: - 0-4 mm: não reator 10mm = reator forte; - 5-9 mm: reator fraco. Diagnóstico por imagem → • A radiografia de tórax deve ser solicitada para todo paciente com suspeita clínica de tuberculose pulmonar; Classificação Achados Normal Sem alterações sugestivas de atividade de tuberculose Suspeito Alterações sugestivas de ativi- dade de tuberculose, como ca- vidades, nódulos, consolida- ções, massas, processo inters- ticial (miliar), derrame pleural e alargamento de mediastino Sequela Imagens sugestivas de lesões cicatriciais, como bandas, re- trações parenquimatosas e cal- cificações Outras doenças Imagens sugestivas de pneu- mopatias não tuberculosas, como Doença Pulmonar Obs- trutiva Crônica (DPOC) e ou- tras doenças respiratórias • A presença do bacilo no parênquima pul- monar promove a formação de um processo inflamatório granulomatoso, que pode se manifestar radiologicamente como opaci- dade parenquimatosa (nódulo ou conso- lidação), denominada foco primário ou nódulo de Ghon; • Em adultos, a forma primária acomete mais os lobos superiores. A partir desse foco inicial, pode ocorrer a progressão para necrose caseosa, eliminação do material ne- crótico e disseminação broncogênica; • As apresentações radiológicas dessa são as cavidades, consolidações, nódulos, massas ou opacidades retículo-nodulares; • Biopsias: a identificação histológica de granuloma com necrose de caseificação é compatível com o diagnóstico de tubercu- lose. → Sinais sugestivos de tuberculose ativa: • Cavidades de paredes espessas; • Nódulos; • Nódulos centrolobulares de distribuição segmentar; • Nódulos centrolobulares confluentes; • Consolidações; • Espessamento de paredes brônquicas; • Aspecto de “árvore em brotamento”; • Massas; • Bronquiectasias. Sinais sugestivos de sequela de tuberculose: • Bandas; • Nódulos calcificados; • Cavidades de paredes finas; • Bronquiectasias de tração; • Espessamento pleural. Tuberculose em crianças • Os sintomas nas crianças geralmente são inespecíficos e se confundem com infec- ções próprias da infância, o que dificulta a avaliação. • Na suspeita de tuberculose deve-se procu- rar a tríade clássica: redução do apetite, perda de peso e tosse crônica (mais de 2 semanas), febre persistente, sudorese no- turna, hepatoesplenomegalia e linfono- domegalia; • A prova tuberculínica (PT) deve ser in- terpretada como sugestiva de infecção por M. tuberculosis, independentemente do tempo de vacinação pela BCG. Considerar positivo quando ≥5mm e negativa quando <5 mm; • Outro teste empregado para detectar a in- feção pelo M. tuberculosis é a dosagem sanguínea de interferon gama (denomina- dos IGRAs); • Adenosina deaminase (ADA) (enzima de linfócito ativado): ADA positiva, au- mento da atividade da ADA no líquido pleu- ral, sobretudo se associado a alguns parâ- metros clínicos, pode auxiliar no diagnós- tico da tuberculose ativa; • Pesquisa de BAAR em lavado gástrico. Infecção latente • Definição de infecção latente pelo M. tu- berculosis: quando uma pessoa saudável é exposta ao bacilo da tuberculose, tem 30% de chance de infectar-se, dependendo do grau de exposição (proximidade, condi- ções do ambiente e tempo de convivência), da infectividade do caso índice (quanti- dade de bacilos eliminados, presença de ca- verna na radiografia de tórax) e de fatores imunológicos individuais; • As pessoas infectadas, em geral, permane- cem saudáveis por muitos anos, com imuni- dade parcial ao bacilo; • Essa condição é conhecida como infecção latente pelo Mycobacterium tuberculosis (ILTB); • A OMS estima que um quarto da popula- ção mundial tenha ILTB. Esses indivíduos não apresentam nenhum sintoma e não transmitem a doença, mas são reconheci- dos por testes que detectam a imunidade contra o bacilo. Tratamento • No Brasil, o esquema básico para trata- mento da tuberculose em adultos e adoles- centes é composto por quatro fármacos na fase intensiva e dois na fase de manutenção; • Fases do tratamento: - Intensiva (ou de ataque): reduzir rapi- damente a população bacilar e a eliminação dos bacilos com resistência natural a algum medicamento. São associados 4 medica- mentos com alto poder bactericida, e a con- sequência da redução rápida da população bacilar é a diminuição da contagiosidade; - Manutenção: eliminar os bacilos laten- tes ou persistentes e a redução da possibili- dade de recidiva da doença, são associados dois medicamentos com maior poder bacte- ricida e esterilizante, ou seja, com boa atua- ção em todas as populações bacilares; • Apresentação farmacológica: - Comprimidos em doses fixas combina- das com a apresentação tipo 4 em 1 (RHZE) (intensiva) ou 2 em 1 (RH)(manutenção); - O esquema básico em crianças (< de 10 anos de idade) é composto por três fármacos na fase intensiva (RHZ), e dois na fase de manutenção (RH), com apresentações far- macológicas individualizadas (comprimi- dos e/ou suspensão); • R (Rifampicina), H (Isoniazida), Z (Pira- zinamida) e E (Etambutol). → → • Quando existir concomitância entre a forma meningoencefálica ou osteoarticu- lar e quaisquer outras apresentações clí- nicas, utilizar o esquema para tubercu- lose por: 2 meses (fase intensiva) + 10 me- ses (fase de manutenção), o mesmo se aplica a crianças; • Quando a baciloscopia for positiva ao final do segundo mês do tratamento: deve-se solicitar cultura para micobactéria com teste de sensibilidade, prolongando a fase de ataque (RHZE) por mais 30 dias; • Sem melhora clínica e/ou persistência de baciloscopia associada ou não, com as- pecto radiológico evidenciando atividade de doença devem ser encaminhados para uma referência terciária de tuberculose para avaliação de resistência à rifampi- cina. → • O tratamento da tuberculose em PVHIV tem a duração de seis meses, independen- temente da fase de evolução da infecção vi- ral; • Em casos individualizados, quando a tu- berculose apresentar evolução clínica não satisfatória, o tratamento poderá ser prolon- gado na sua segunda fase, de quatro para setemeses; • O esquema básico pode ser administrado nas doses habituais para gestantes e, dado risco de toxicidade neurológica ao feto atribuído à isoniazida, recomenda-se o uso de piridoxina (50mg/dia); • Gestantes e lactantes devem utilizar os es- quemas preconizados, com especial atenção ao monitoramento das reações adversas; • O tratamento da tuberculose em pessoas vivendo com HIV (PVHIV) segue as mes- mas recomendações para os não infectados, tanto na utilização dos fármacos quanto na duração total do tratamento. → • Atualmente estão disponíveis no Sis- tema Único de Saúde (SUS) três esque- mas de tratamentos para a infecção la- tente de tuberculose: - Isoniazida por 6 meses (6H) ou 9 meses (9H) (preferencialmente 9 meses pela maior eficácia); - Rifampicina por 4 meses (4R); - Rifapentina associada à isoniazida por 3 meses (3HP); • Crianças menores de 10 anos é reali- zado com: - Rifampicina(R): na dose de 10mg/Kg de peso até a dose máxima de 600mg por dia. idealmente em 4 meses, podendo-se prolon- gar até 6 meses; - Isoniazida (H): no esquema de trata- mento com isoniazida é adotada a dose de 5 a 10 mg/kg de peso, até a dose máxima de 300mg/dia, de nove a doze meses. → • A vacina BCG (bacilo Calmette-Gué- rin), ofertada no Sistema Único de Saúde (SUS), protege a criança das formas mais graves da doença, como a tuberculose mi- liar e a tuberculose meníngea; • A vacina está disponível nas salas de vaci- nação das unidades básicas de saúde e em algumas maternidades; • Importante: essa vacina deve ser minis- trada às crianças ao nascer, ou, no máximo, até os quatro anos, 11 meses e 29 dias.