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115 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 8/ 09 /1 7 RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS Unidade II 5 TENSÕES E DEFORMAÇÕES NORMAIS E CISALHANTES 5.1 Introdução Figura 155 Anteriormente analisou-se o efeito da aplicação de forças sobre uma peça ou estrutura, considerando a estática das leis de Newton. Apenas com conhecimento dos efeitos da aplicação dessas leis, o engenheiro não será capaz de projetar uma peça para que ela funcione sem apresentar falha. Um projeto de engenharia deve avaliar a relação entre as forças aplicadas a uma peça, a geometria e o material a ser utilizado. A realização de um projeto que atenda aos quesitos de segurança e à funcionalidade, como de carros, aviões, pontes, edifícios e equipamentos, deve levar em consideração sua resistência, rigidez e estabilidade. É necessário o conhecimento das forças internas e deformações que agem no interior do corpo como um entendimento das características mecânicas do material usado para fazer a peça ou estrutura. Tensão é o resultado da ação de cargas externas sobre uma unidade de área da seção analisada na estrutura submetida a solicitações mecânicas. 116 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 8/ 09 /1 7 Unidade II Força Tensão Área = A tensão pode ser de dois tipos: cisalhante e normal. Te ns ão c isa lh an te Tensão normal Figura 156 – Tensões agindo em uma peça Tensão cisalhante (τ): é provocada por torção e cisalhamento, além de atuar na direção tangencial à área da seção transversal. Tensão normal (Σ): é ocasionada por tração, compressão e flexão que ocorrem na direção normal (perpendicular) à área da seção transversal. 5.2 Tensão normal Matematicamente, quando uma força normal “F”, que atua na peça, origina nela uma tensão normal “Σ” (sigma), que é determinada através da relação entre a intensidade da carga aplicada “F” e a área da seção transversal da peça “A”, temos: Equação: F A σ = 117 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 8/ 09 /1 7 RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS Figura 157 – Tensão normal A unidade de medida no SI é: • F: Newton (N). • A: metros quadrados (m2). • Σ: N/m2 (Pa). Na prática, o pascal torna-se uma medida pequena para tensão; então, usam-se múltiplos desta unidade (MPa, GPa). Exemplo 1 Uma barra de seção circular com 70 mm de diâmetro é tracionada por uma carga 100 kN. Determine a tensão normal atuante na barra: 118 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 8/ 09 /1 7 Unidade II 100 kN Figura 158 3 2 2 2 F 100.10 N d 80mm 0,08m .d .0,08 A 0,005m 4 4 = = = π π= = = 3 6 2 F 100.10 N 20.10 20MPa A 0,005 m σ = = = = 5.3 Deformação na tensão normal Quando uma força é aplicada a um corpo, tende a mudar a forma e o tamanho dele. Tais alterações são denominadas deformação (ε). Matematicamente se expressa a deformação como a relação entre a variação do comprimento da peça (∆L) e comprimento inicial da peça (Lo): Equação: L L Lo Lo Lo ∆ −ε = = Figura 159 – Deformação 119 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 8/ 09 /1 7 RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS A deformação é adimensional, porém algumas literaturas apresentam a unidade como comprimento/ comprimento (por exemplo, mm/mm). Exemplo 1 Uma carga de 25 kN é aplicada a um fio metálico com 500 mm de comprimento e diâmetro de 10 mm, provocando um alongamento de 0,20 mm. Determine a deformação deste fio: Figura 160 Resolução: Dados: L0 = 500 mm ∆L = 0,20 mm Note que o alongamento é a variação de comprimento do fio, não a deformação. Uma maneira de diferenciar as informações é por meio da unidade; lembre-se que a deformação é adimensional. L 0,20 0,0004 Lo 500 ∆ε = = = Como visto, a aplicação de força em um corpo provoca nele tensão e deformação. Pode-se então relacionar a tensão e a deformação através de um gráfico conhecido como diagrama tensão x deformação. 5.4 Cisalhamento Anteriormente, estudou-se o efeito das forças normais na peça ou estrutura. No entanto, forças paralelas podem agir na seção transversal, provocando tensões de cisalhamento. 120 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 8/ 09 /1 7 Unidade II Figura 161 – Forças agindo em uma peça Figura 162 – Tensão cisalhante agindo em uma peça A tensão de cisalhamento age sobre rebites, pinos e parafusos, que unem as diversas partes das máquinas e estruturas. O esforço de cisalhamento tende a separar as moléculas por deslizamento de uma face sobre outra ou entre dois planos contínuos. Lembrete Assim como a tensão normal, a tensão de cisalhamento atua na área da seção transversal da peça. 5.5 Tensão de cisalhamento A ação da carga cortante sobre a área da seção transversal da peça causa nessa área uma tensão de cisalhamento, que é definida pela relação entre a intensidade da carga aplicada e a área da seção transversal da peça sujeita a cisalhamento. Equação: V A τ = Onde τ é a tensão de cisalhamento (Pa). V é a força cortante (N). A é a área da seção transversal (m2). 121 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 8/ 09 /1 7 RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS O cisalhamento causado por ação direta de uma carga é chamado de cisalhamento simples e, geralmente, ocorre em acoplamentos simples feitos com parafusos, soldas ou pinos. Figura 163 – Cisalhamento simples No cisalhamento simples, o valor da cortante V é igual à força F. Já no cisalhamento duplo, existem duas superfícies de cisalhamento que devem ser consideradas, sendo que o valor da cortante V é metade da força F, ou seja: V F A 2.A τ = = Figura 164 – Cisalhamento duplo Observação Quando houver mais de um elemento (parafuso ou rebite), utiliza-se: V n.A τ = onde n é o número de parafusos ou rebites. 122 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 8/ 09 /1 7 Unidade II Exemplo 1 Determine a tensão de cisalhamento que ocorre no parafuso de aço SAE 1020 e diâmetro 10 cm, quando a força aplicada às chapas for de 100 kN: Figura 165 Resolução: V A τ = 2 2 2.d .0,1A 0,0078m 4 4 π π= = = 3 6100.10 12,73.10 0,0078 τ = = τ = 12,82 MPa Exemplo 2 Uma guilhotina para cortes de chapas tem mesa com 1,5 m de largura de corte e 500 kN de capacidade. Determine a espessura máxima de corte em chapas de aço (τ= 220 MPa): Figura 166 123 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 8/ 09 /1 7 RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS Resolução: V A τ = 3 6 3 6 900.10 220.10 1,5.e 900.10 e 1,5.220.10 = = e = 2,72 . 103 m = 2,72 mm Saiba mais A norma ABNT NBR 8309:2006 especifica o método para determinação da resistência ao cisalhamento de rebites, barras e arames para recalque a frio, fabricados de alumínio e suas ligas. Para visualizar os detalhes, leia: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR ISO 8309: Alumínio e suas ligas – Rebites, barras e arames para recalque a frio – Determinação da resistência ao cisalhamento. Rio de Janeiro, 2006. Exemplo 3 Determine a tensão de cisalhamento do conjunto mostrado na figura quando a carga for de 6 kN (referente ao parafuso sextavado M12). 4 3 5 2 1 Q Figura 167 Resolução: O parafuso tende a ser cisalhado nas seções AA e BB, ou seja, trata-se de cisalhamento duplo, então: 124 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 8/ 09 /1 7 Unidade II V F A 2A τ = = Parafuso sextavado M12 d = 12 mm = 0,012 m 2 2 4 2.d .0,012A 1,13.10 m 4 4 −π π= = = 3 6 4 6.10 26,54.10 2.1,13.10 τ = = τ = 26,54 MPa Exemplo 4 O conjunto da figura é composto de quatro parafusos. Determine a tensão de cisalhamento em cada um deles. Dados: F= 50 kN; dparafuso = 20 mm. Figura 168 Resolução: Neste exemplo temos quatro parafusos em cisalhamento simples, então: V V A 4.A τ = = 2 2 4 2.d .0,020A 3,14.10 m 4 4 −π π= = = 3 6 4 50.1039,80.10 4.3,14.10− τ = = τ = 39,80 MPa 125 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 8/ 09 /1 7 RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS Exemplo 5 O conjunto da figura é composto de seis parafusos. Determine a tensão de cisalhamento em cada um deles. dparafuso= 20 mm. Figura 169 Resolução: Neste exemplo temos seis parafusos em cisalhamento composto, então: F F F 2A 6.2.A 12A τ = = = 2 2 4 2.d .0,020A 3,14.10 m 4 4 −π π= = = 3 6 4 100.10 26,54.10 12.3,14.10− τ = = 26,54MPaτ = Exemplo 6 A barra rígida mostrada a seguir é suportada por uma haste de aço AB, que tem diâmetro de 25 mm. Os pinos de 20 mm de diâmetro em A e B estão submetidos a um cisalhamento simples. Se a tensão de cisalhamento de ruptura de cada pino for τrup = 600 MPa, determine a carga P que pode ser aplicada à barra. Considere o fator de segurança 2,0 para aplicação. 126 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 8/ 09 /1 7 Unidade II Figura 170 Resolução: Primeiro será determinada a força na barra AB. Figura 171 Mc =∑ 0 AB AB AB F .2 P.1,25 0 1,25.P F 2 F 0,625P − + = = = adm 600 CS 2 ττ = = 127 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 8/ 09 /1 7 RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS τadm = 300 MPa 2 2 4 2.d .0,025A 4,9.10 m 4 4 −π π= = = adm V A τ = 6 4 6 4 0,625P 300.10 4,9.10 300.10 .4,9.10 P 0,625 − − = = P = 235,2 kN Exemplo 7 A um eixo que tem 30 mm de diâmetro pretende-se fixar uma polia por meio de um pino, conforme mostrado na figura. Considerando que o momento de torção (torque) no eixo é de 500 kN.cm, determine o diâmetro do pino (D). τadm= 350 kN/cm 2. Figura 172 O primeiro passo é determinar o valor da força cortante. M M Fxd F d = → = 128 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 8/ 09 /1 7 Unidade II 500 F 100kN 5 = = V A τ = 3 .3 2 100.10 350.10 A A 0,28cm = = 2.d 4.A A d 4 π= → = π 4.0,28 d = π d ≅ 0,6 cm = 6 mm Exemplo 8 Dimensione os parafusos para construir a junta excêntrica representada na figura; τadm=105 MPa. Figura 173 Resolução: Inicialmente, deve-se encontrar as forças aplicadas em cada parafuso. 129 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 8/ 09 /1 7 RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS Tais cargas aplicadas são compostas de dois componentes: divisão força de 60 kN nos quatro parafusos (15 kN em cada) e momento gerado por ela. Figura 174 Chamando a força causada pelo momento de Fm, e fazendo somatória de momentos no centro, tem-se: ∑M0 = 0 4.Fm.0,1 60.0,5 0 60.0,5 Fm 4.0,1 Fm 75kN − = = = Nos parafusos 2, as forças são contrárias, enquanto no parafuso 4 estão no mesmo sentido. Figura 175 130 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 8/ 09 /1 7 Unidade II Nos parafusos 1 e 3, a força aplicada é aquela resultante das forças de 15 kN e 75 kN. Portanto, calculando a força total, tem-se: 2 2F1 F3 Fr Fx Fy= = = + 2 2F1 F3 15 75= = + F1 = F3 = 76,5 kN Ao fazer a análise, percebe-se que a força no parafuso 2 (90 kN) é a maior. Como todos os parafusos devem ter o mesmo diâmetro, ela será usada no cálculo da tensão de cisalhamento. V A τ = 3 .6 4 2 90.10 105.10 A A 8,57.10 m− = = 2.d 4.A A d 4 π= → = π 44.8,57.10 d − = π d ≅ 33 . 10-2 m = 33 mm 5.6 Deformações no cisalhamento Considere uma peça em que todas as forças atuantes dão origem somente a tensões de cisalhamento (τ). Ao receber a ação da carga cortante, o ponto A desloca-se para a posição A’, e o ponto B para a posição B’, gerando o ângulo denominado distorção (γ). 131 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 8/ 09 /1 7 RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS Figura 176 – Deformações cisalhantes em um corpo A distorção é medida em radianos (portanto, adimensional) e determinada através da relação entre a tensão de cisalhamento atuante e o módulo de elasticidade transversal do material. Equação: G τγ = Onde: γ é o ângulo de deformação; τ é a tensão cisalhante; G é o módulo de elasticidade transversal do material. Exemplo 1 Um bloco é solicitado por uma força F = 300 kN. Calcule: a) a tensão cisalhante; b) o deslocamento do ponto A, considerando-se que a face inferior não se move. Dados: E = 90 GPa; ν = 0,25. 132 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 8/ 09 /1 7 Unidade II Figura 177 Resolução: a) Cálculo da tensão de cisalhamento. V A τ = A = b . h = 0,2 . 0,05 = 0,01 m2 3 6300.10 30.10 0,01 τ = = τ = 30 MPa b) Deslocamento do ponto A. Figura 178 tg 70 ∆γ ≅ γ = ∆ = 70 . γ 133 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 8/ 09 /1 7 RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS Cálculo do módulo de elasticidade ( ) ( ) 9E 90.10 G 2. 1 2. 1 ,025 = = + ν + G = 36 GPa 6 9 30.10 G 36.10 τγ = = γ = 8,33 . 10-4rad Portanto, ∆ = 70 . γ ∆ = 70 . 8,33 . 10-4 ∆ = 5,83 . 10-2 m = 58,33 mm 6 RELAÇÃO TENSÃO X DEFORMAÇÃO 6.1 Introdução Figura 179 134 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 8/ 09 /1 7 Unidade II Para projetar adequadamente um componente estrutural ou mecânico, o engenheiro deve entender e trabalhar respeitando as características e as limitações do material usado no objeto. Materiais como aço, alumínio, plástico e madeira respondem de maneira diferente a cargas e tensões aplicadas. A fim de determinar a resistência e as características dos elementos, são exigidos ensaios laboratoriais. De acordo com Philpot (2013), um dos mais simples e eficientes modos para se obter informações úteis aos projetos de engenharia sobre um material é denominado ensaio de tração. Ele consiste em aplicar uma força variável em um corpo de prova cujas dimensões são padronizadas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Em se tratando de chapas, pode ser cilíndrico ou chato. Figura 180 – Corpos de prova para ensaio de tração O corpo de prova é colocado em uma máquina de tração, que vai aumentando o valor da carga aplicada ao corpo de prova até seu rompimento. Garra superior Garra inferior Comprimento útil F FA Lo Bordas de lâmina Extensômetro Figura 181 – Esquematização de um ensaio de tração 135 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 8/ 09 /1 7 RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS Atualmente, as máquinas de tração são equipadas com sensores e conectadas a computadores. No início do ensaio de tração, o operador insere os dados de comprimento inicial (Lo) e a área do corpo de prova (A). Os sensores (extensômetros) medem a variação do comprimento inicial, enquanto as células de carga mensuram a variação da força. Esses dados são enviados ao computador, que calcula a tensão (força/área) e a deformação (variação do comprimento/comprimento inicial); a partir daí, cria-se o diagrama tensão x deformação. Figura 182 – Principais pontos do diagrama tensão x deformação No diagrama tensão x deformação, pode-se observar alguns pontos importantes: • Tensão de proporcionalidade: representa o valor máximo da tensão; abaixo deste, o material retorna ao estado inicial. • Tensão limite de resistência: corresponde à máxima tensão atingida no ensaio de tração. • Tensão de ruptura: equivale à ruptura do corpo de prova. • Deformação elástica: refere-se ao trecho da curva tensão x deformação, compreendido entre a origem e o limite de proporcionalidade. • Deformação plástica: trata-se do espaço constante entre o limite de proporcionalidade e a ruptura do material. 136 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 8/ 09 /1 7 Unidade II Saiba mais O ensaio de tração segue normas técnicas determinadas pela ABNT, especificamente a contida em ISO 6892, que estipula o método de ensaio de tração de materiais metálicos e define as propriedades mecânicas que podem ser determinadas à temperaturaambiente. Para mais informações, leia: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR ISO 6892: Materiais metálicos – Ensaio de Tração. Parte 1: Método de ensaio à temperatura ambiente. Rio de Janeiro, 2013. Os materiais, durante o ensaio de tração, podem ser frágeis e dúcteis devido às suas propriedades e diagramas tensão x deformação semelhante. • Materiais frágeis: apresentam pouca ou nenhuma deformação na região plástica, por exemplo: concreto, vidro, giz, ferro fundido, cerâmica. Eles demonstram grande limite de resistência, principalmente quando submetidos à compressão. Suas grandes desvantagens são: não absorvem impacto, por possuírem baixa ductilidade, e ocorrem de fraturas repentinas. • Material dúctil: têm grandes deformações plásticas antes da ruptura, por exemplo: latão, alumínio e aço. Apesar de sua resistência ser menor que a dos materiais frágeis, sua capacidade de deformação o torna mais maleável, fazendo com que a sua ruptura não seja tão brusca. Tensão Frágil Dúctil Deformação Figura 183 – Diagrama tensão x deformação – Materiais dúcteis e frágeis 6.2 Lei de Hooke A disciplina Resistência dos Materiais abrange a parte inicial do diagrama tensão x deformação, ou seja, a peça ou estrutura projetada não deve ultrapassar o limite de escoamento do material. Para efeito de projeto, se a peça iniciar o escoamento plástico por segurança, ela deve ser retirada de uso. 137 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 8/ 09 /1 7 RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS Na região inicial do diagrama, a relação entre tensão e deformação é linear, sendo a tensão diretamente proporcional à deformação. Tem-se pela equação: Σ = E . ε E representa o módulo de elasticidade do material ou módulo de Yong. O módulo de elasticidade é uma propriedade do material, cuja característica vem da força de atração entre os átomos. A tabela a seguir apresenta o módulo de elasticidade de alguns materiais selecionados. Observação A lei de Hooke somente pode ser usada na região elástica, ou seja, antes do limite de escoamento do material. Tabela 5 – Propriedade dos materiais Materiais Limite escoamento (MPa) Módulo de elasticidade (GPa) Aço estrutural ASTM-A36 247 200 Alumínio – Liga 2014-T4 290 73 Latão – C23000 124 115 Bronze – C76100 331 105 Titânio (6Al,4%V) 727 114 Exemplo 1 Uma carga de 250 kN é aplicada a uma barra com 70 cm de comprimento e diâmetro de 10 cm, provocando um alongamento de 0,20 mm. Determine o módulo de elasticidade do material: Figura 184 138 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 8/ 09 /1 7 Unidade II Resolução: Dados: 3 2 2 2 F 250.10 N Lo 80cm 800mm L 0,20mm d 10cm 0,1m .d .0,1 A 0,0078m 4 4 = = = ∆ = = = π π= = = Utilizando as equações apresentadas neste capítulo: F A σ = L L Lo Lo Lo ∆ −ε = = Σ = E . ε Para o cálculo do módulo de elasticidade, será utilizada a lei de Hooke, portanto deve-se determinar a tensão e a deformação da barra. 3 6 2 F 250.10 N 32,05.10 32,05MPa A 0,0078 m σ = = ≅ ≅ L 0,20 0,00025 Lo 800 ∆ε = = = 6 932,05.10E. E 128.10 Pa 128GPA 0,0025 σσ = ε → = = ≅ ≅ ε Exemplo 2 Uma barra de alumínio possui seção transversal retangular com 45 cm de base e 170 cm de altura, e seu comprimento é de 2 m. A carga axial aplicada nela é de 900 kN. Determine seu alongamento. EAl = 70 GPa. 139 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 8/ 09 /1 7 RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS Figura 185 Resolução: F = 900 kN = 900 . 103N LO = 2 m A = b . h = 0,45 . 1,8 = 0,81 m2 E = 70 GPa = 70 . 109Pa Utilizando a lei de Hooke, tem-se: Σ = E . ε Substituindo as equações de tensão e deformação, F L E. A Lo ∆= , isolando o alongamento ∆L tem-se: 3 5 9 F.Lo 900.10 L 1,587.10 m 0,0158mm E.A 70.10 .0,81 −∆ = = ≅ ≅ 140 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 8/ 09 /1 7 Unidade II Exemplo 3 Determine o deslocamento da barra de aço A submetida às forças dadas (Eaço= 220 GPa). Figura 186 Resolução: Diagrama de força normal. Figura 187 O deslocamento será calculado para três regiões, e o deslocamento total será a soma: A1 = A2 = 600 mm 2 = 6 . 10-3m2 A3 = 200 mm 2 = 2 . 10-3m2 Lo1 = Lo2 = 400 mm = 0,4 mm Lo3 = 500 mm = 0,5 m F.Lo L E.A ∆ = 3 1 6 3 F.Lo 330.10 .0,4 L 0,100m E.A 220.10 .6.10− ∆ = = = 141 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 8/ 09 /1 7 RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS 3 2 6 3 F.Lo 70.10 .0,4 L 0,021m E.A 220.10 .6.10− −∆ = = = − 3 3 6 3 F.Lo 180.10 .0,5 L 0,204m E.A 220.10 .2.10− ∆ = = = ∆Ltotal = ∆L1 + ∆L2 + ∆L3 = 0,100 - 0,021 + 0,204 ∆Ltotal = 0,283 m = 283 mm 6.3 Tensão admissível No projeto de uma peça ou estrutura, o engenheiro deve garantir que a carga limite do material não seja atingida, ou seja, tal objeto deverá suportar, em condições normais de utilização, um carregamento menor que esse limite. O carregamento menor é chamado de admissível, de projeto ou trabalho. Ao usar a carga admissível, somente uma parte da capacidade do material está sendo aplicada, a outra é reservada para garantir ao produto condições seguras de utilização. Σesc Σadm Deformação Trabalho Segurança Tensão Figura 188 – Tensão admissível Para materiais dúcteis, a tensão admissível é determinada pela relação entre a tensão de escoamento do material (Σe) e o coeficiente de segurança (CS). Em materiais frágeis, utiliza-se a tensão de ruptura em vez da tensão de escoamento. e admMaterial ductil CS σ→ σ = 142 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 8/ 09 /1 7 Unidade II r admMaterial frágil CS σ→ σ = A escolha do coeficiente de segurança adequado para diferentes aplicações requer uma análise cuidadosa. Sua determinação é feita com base nas normas de cálculo, muitas vezes pelo próprio projetista, baseado em experiências e de acordo com seu critério. Os principais fatores que devem ser levados em consideração são: • material a ser utilizado; • tipos de carregamento; • ambiente de utilização; • grau de importância da estrutura projetada. Este último item deve ser sempre classificado como essencial para o aumento na segurança. Quanto maior o risco à vida humana, maior deve ser o conhecimento da peça ou estrutura projetada. Exemplo 1 A barra circular mostrada tem seções de aço, latão e alumínio. São aplicadas cargas axiais nas partes transversais A, B, C e D. Se as tensões normais são 250 MPa no aço, 100 MPa no latão e 170 MPa no alumínio, determine os diâmetros para cada uma das seções. Considere o fator de segurança (CS) igual a 2 para aplicação. Figura 189 Resolução: Diagrama de força normal. Figura 190 143 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 8/ 09 /1 7 RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS Alumínio: 6 adm 170.10 85MPa 2 σ = = Latão: 6 adm 100.10 50MPa 2 σ = = Aço: 6 adm 250.10 125MPa 2 σ = = 2 adm adm adm adm F F d F 4.F A d A 4 . πσ = → = = = → = σ σ π σ 3 alum alum6 4.370.10 d d 0,0744m 74,4mm .85.10 = → = = π 3 lat lat6 4.130.10 d d 0,0573m 57,3 mm .50.10 = → = = π 3 aço aço6 4.280.10 d d 0,0534m 53,4mm .125.10 = → = = π 6.4 Tensão x Deformação de Cisalhamento Para determinar as propriedades dos materiais sujeitos ao cisalhamento, é feito um ensaio de cisalhamento. Este ensaio apresenta as mesmas características do ensaio de tração, assim determina-se o diagrama tensão x deformação de cisalhamento. 144 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 8/ 09 /1 7 Unidade II γp γ τp τ Deformação Região elástica Tensão G Figura 191 – Diagrama tensão x deformação de cisalhamento Lembrete Da mesma maneira que se determina o módulo de elasticidade longitudinal (E) no ensaio de tração, estabelece-se o módulo de elasticidade transversal (G). Na região elástica, a relação entre tensão de cisalhamento e deformação de cisalhamento é linear:tg τα = γ G τ= γ A relação entre o módulo de elasticidade longitudinal (E) e o módulo de elasticidade transversal (G) é dada por: E = 2 . G(1 + υ) ( ) E G 2. 1 = + υ Onde: 145 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 8/ 09 /1 7 RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS ν é conhecido como coeficiente de Poisson. Desta forma, se o valor de um dos módulos for conhecido, o outro pode ser estimado. A tabela a seguir apresenta os módulos para alguns materiais. Tabela 6 – Propriedade dos materiais Material Módulo de elasticidade longitudinal E (GPa) Módulo de elasticidade transversal G (GPa) Coeficiente de Poisson ν Aço 207 73 0,30 Latão 97 370 0,34 Alumínio 69 25 0,33 Cobre 110 46 0,34 Chumbo 13,5 5,6 0,44 Estanho 44,3 17 0,33 Resumo Nesta unidade foram demonstrados os conceitos de tensão e deformação, destacando a geometria e as propriedades dos materiais, iniciando assim o dimensionamento de peças e estruturas, sujeitas a cargas que geram tensões normais de tração e compressão e cisalhamento. Foi estudado um dos principais ensaios para determinar as propriedades de um material, o ensaio de tração, e então apresentamos as características de materiais dúcteis e frágeis. Através da tensão admissível, mostrou-se a importância de se trabalhor com um coeficiente de segurança adequada para cada cituação, sempre respeitando a norma ABNT. Exercícios Questão 1. (Enade 2014, adaptada) Um vaso de pressão de uma linha hidráulica para pressão de 4,0 N/mm², conforme ilustra a figura, tem seu bocal de inspeção com diâmetro interno de 200 mm fixada por oito parafusos de cabeça sextavada M10 x 40 com porca. Considere que tanto a tampa quanto o espelho de fixação são confeccionados em aço e que a espessura total da junta (espelho + tampa) é de 28 mm. Sabe-se que o parafuso é feito de um material cujo limite de escoamento é 540 MPa. 146 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 8/ 09 /1 7 Unidade II Figura 192 Na situação descrita, qual o coeficiente de segurança dos parafusos? A) 2,00. B) 1,35. C) 5,40. D) 2,70. E) 1,00. Resposta correta: alternativa D. Análise das alternativas A) Alternativa incorreta. Justificativa: parece ser um número aleatório colocado como alternativa. B) Alternativa incorreta. Justificativa: esse valor ocorre caso o valor da tensão no parafuso seja o dobro. C) Alternativa incorreta. Justificativa: esse valor ocorre caso a tensão que atua no parafuso seja a metade. D) Alternativa correta. Justificativa: o problema informa que a pressão interna (p) é 4,0 n/mm2, que a tampa possui um diâmetro (d) de 200 mm e que o número de parafusos que prende a tampa ao tanque é oito. 147 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 8/ 09 /1 7 RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS Com estes dados é possível obter a força de solicitação (F) que irá atuar em cada parafuso, que é a força desenvolvida pela pressão na área da tampa (At) dividida pelo número de parafusos (n), isto é: p At F n ⋅= → 2d p 4F n π ⋅⋅ = ( )2 2 200mmN 4,0 4mmF 8 π ⋅ ⋅ = F = 5 . π . 103N Sabe-se que a tensão em cada para fuso é: ( ) 3 2 F 200MPa A . 5 . .1 10mm 4 0 Nσ = = = π π O coeficiente de segurança (FS) é obtido pelo quociente entre a tensão de escoamento (σe) e a tensão que aparece nas seções dos parafusos (σ). e 540MPaFS 2,7 200MPa σ= = = σ E) Alternativa incorreta. Justificativa: um fator de segurança igual à unidade indica que a tensão nas seções dos parafusos é igual à de escoamento do material. Questão 2. (Enade 2011, adaptada) Um acoplamento rígido tipo flange, conforme mostrado na figura, será usado para acoplar um motor elétrico de 135 kW e 900 rpm a um redutor de engrenagens do sistema de tração de uma esteira de transporte de calcário moído. Cada um dos flanges é fixado à respectiva ponta de eixo por meio de chaveta e o acoplamento é realizado utilizando-se oito parafusos igualmente espaçados, distribuídos segundo um círculo de diâmetro d = 300 mm, conforme mostrado na figura a seguir. 148 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 8/ 09 /1 7 Unidade II Chaveta Parafuso d = 300 mm Figura 193 Nesta configuração, qual é a força cisalhante agindo sobre cada parafuso? A) 30,0 kN π . B) 3,75 kN π . C) 15,0 kN π . D) 7,50 kN π . E) 1,85 kN π . Resolução desta questão na plataforma.
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