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1 1. Procedimento comum e especial: O Código de Processo Civil possui dois tipos de procedimentos para os processos de conhecimento, quais sejam: comum e especial. O 2 procedimento consiste na forma pela qual o processo se exterioriza, isto é, o modo de ser do processo; em outras palavras, trata-se do desencadeamento de atos processuais percorridos pelos 3 sujeitos do processo até a obtenção da tutela jurisdicional. O procedimento especial, como o próprio nome diz, traz em suas ações específicas (nominadas) requisitos 4 próprios. A identificação do uso do procedimento especial está ligada ao tipo de relação jurídica a ser resolvido pelo processo, pois, diante de específica relação, o Código de Processo Civil já 5 indica a ação correta a ser ajuizada e determina os requisitos pelos quais devem constar na petição inicial. Importa ressaltar que no procedimento especial não há exclusão total das regras 6 do procedimento comum, pois, de acordo com o art. 318 do CPC, o procedimento comum será aplicado de forma subsidiária ao especial. 7 Importante: Art. 318. Aplica-se a todas as causas o procedimento comum, salvo disposição em contrário deste Código ou de lei. 8 Parágrafo único. O procedimento comum aplica-se subsidiariamente aos demais procedimentos especiais e ao processo de execução. 9 Assim, ao elaborar a petição inicial de ação judicial constante no procedimento especial, deverá ser observada a estrutura da petição inicial constante no art. 319 do CPC e outros requisitos do 10 procedimento especial, todavia, as regras do procedimento comum são subsidiárias, isto é, somente serão utilizadas na ausência de regra específica do especial. 11 2. Ação de consignação em pagamento: A consignação em pagamento é modalidade de extinção de obrigação e será utilizada quando diante de uma 12 relação jurídica obrigacional, o devedor, atingida a data de vencimento, encontra resistência do credor em receber o pagamento ou a entrega da coisa. 13 Assim, em razão da conduta do credor em não receber a obrigação, com o fim de o devedor se desvincular da obrigação em que está envolvido, por meio da consignação, busca a extinção 14 da obrigação. É comum também a utilização da consignação em situações em que o devedor tem dúvida a quem pagar, há divergência quanto ao valor etc. 15 Portanto, a consignação em pagamento, extrajudicial ou judicial, é o meio pelo qual o devedor busca a extinção da obrigação, seja porque o credor se recusa a receber ou ainda quando o 16 devedor não sabe a quem pagar ou há divergência de valores. Com a extinção da obrigação pela consignação, o devedor evita a mora e seus efeitos 17 decorrentes da obrigação a qual se encontra vinculado. As hipóteses de cabimento da consignação estão previstas no art. 335 do Código Civil: 18 Art. 335. A consignação tem lugar: I – se o credor não puder ou, sem justa causa, se recusar a receber o pagamento, ou dar quitação na devida forma; 19 II – se o credor não for nem mandar receber a coisa no lugar, tempo e condição devidos; III – se o credor for incapaz de receber, for desconhecido, declarado ausente, ou 20 residir em lugar incerto ou de acesso perigoso ou difícil; IV – se ocorrer dúvida sobre quem deva legitimamente receber o objeto do pagamento; 21 V – se pender litígio sobre o objeto do pagamento. Importante: Art. 304. Qualquer interessado na extinção da dívida pode pagá-la, usando, se o credor se opuser, 22 dos meios conducentes à exoneração do devedor. Parágrafo único. Igual direito cabe ao terceiro não interessado, se o fizer em 23 nome e à conta do devedor, salvo oposição deste. Por se tratar de obrigação, é oportuno esclarecer que o terceiro interessado ou não também poderá fazer uso da 24 consignação, caso tenha interesse em extinguir a obrigação em nome do devedor (art. 304 do Código Civil). 25 2.1. Espécies de consignação: O devedor que pretende a extinção da obrigação poderá realizar a consignação de forma extrajudicial ou judicial. 26 a) Extrajudicial: somente é possível quando se tratar de consignação em pagamento de dinheiro. Nesse caso, o devedor comparecerá a uma instituição bancária e depositária a quantia em 27 conta corrente com atualização monetária. Na sequência, o credor será notificado mediante carta com aviso de recebimento para que no prazo de 10 dias a contar do retorno do AR manifeste 28 a recusa por escrito quanto ao depósito. Caso não haja manifestação (aceitação tácita), a obrigação será extinta e o valor depositado ficará à disposição do credor. Havendo a recusa por escrito 29 encaminhada ao estabelecimento bancário, o devedor ou terceiro deverá ingressar com a ação judicial de consignação em pagamento no prazo de 1 mês, juntando como documentos 30 indispensáveis a prova do depósito e cópia da correspondência acompanhada da recusa. Não proposta a ação judicial no prazo de 1 mês, o depósito realizado no 31 estabelecimento bancário ficará sem efeito, podendo o devedor levantar a qualquer momento. Importante mencionar que a consignação extrajudicial é uma 32 faculdade do devedor, não sendo assim pressuposto de admissibilidade da ação judicial de consignação em pagamento de dinheiro, se o devedor quiser poderá 33 propor ação judicial independentemente da tentativa de consignação extrajudicial. b) Judicial: sua utilização será para consignar dinheiro e coisa (bem móvel e imóvel). Assim, por se tratar de 34 procedimento especial, a elaboração da petição inicial deverá observar os requisitos constantes nos arts. 540 a 549 do CPC e subsidiariamente o art. 319 do CPC. Vejamos os requisitos específicos 35 constantes no procedimento especial da ação de consignação: Competência: lugar do pagamento (art. 540 do CPC) ou caso exista foro de eleição, no lugar convencionado pelas 36 partes. Não existindo lugar do pagamento e foro de eleição, regra geral do domicílio do devedor para pagamento de dívida (art. 327 do CPC). 37 Legitimidade: devedor da obrigação ou terceiro (autor) e credor da obrigação (réu). Pedido: requerimento do depósito ou da coisa devida, a ser efetivado no prazo de 38 5 dias contado do deferimento (art. 542, I, do CPC), ressalvada a hipótese de ter sido realizada a tentativa extrajudicial anteriormente, ocasião em que o valor já estará depositado e caberá ao autor 39 juntar como documento indispensável a cópia do comprovante de depósito, bem como a correspondência com a recusa do credor. 40 Citação: para levantar o depósito ou oferecer contestação (art. 542, II, do CPC). No caso de consignação de pagamento fundamentada em dúvida de quem 41 pagar, o autor requererá o depósito e a citação dos possíveis titulares do crédito para provarem o seu direito (art. 547 do CPC). 42 Realizada a citação do réu, este poderá apresentar contestação no prazo de 15 dias (aplicação subsidiária do procedimento comum por não haver prazo específico estipulado), podendo 43 alegar as seguintes matérias (art. 544 do CPC): • Não houve recusa ou mora em receber a quantia ou a coisa devida; • Foi justa a recusa; 44 • O depósito não se efetuou no prazo ou no lugar do pagamento; • O depósito não é integral, ocasião em que deverá apontar o valor que entende devido. 45 Após a contestação, se a alegação do réu for de insuficiência do depósito, o autor poderá complementá-lo no prazo de 10 dias, salvo se corresponder a prestação cujo inadimplemento acarrete 46 a rescisãodo contrato e o autor levantar a parte incontroverso, prosseguindo-se o processo apenas quanto à parte controvertida. No julgamento, a sentença que concluir pela insuficiência do 47 depósito determinará, sempre que possível, o montante devido e valerá como título executivo, facultado ao credor promover-lhe o cumprimento nos mesmos autos, após liquidação, se 48 necessária. Por sua vez, se julgado procedente o pedido, o juiz declarará extinta a obrigação e condenará o réu ao pagamento de custas e honorários advocatícios (art. 546 do CPC). 49 Artigos: Arts. 540, 542, 544, 546 e 547 do CPC; Arts. 304 e 335 do CC. Tutela provisória de urgência antecipada: art. 294 e/ou art. 300 do CPC. Não há 50 previsão de liminar no procedimento especial, dessa forma, em casos de urgência, poderá ser requerida tutela provisória de urgência, seria o caso, por exemplo, para evitar/cancelar a inscrição 51 do nome do autor em cadastro de inadimplente. Palavras-chaves: para concessão da tutela provisória: urgência e risco de dano 52 3. Ações possessórias 53 3.1. Introdução As ações possessórias constantes no livro dos procedimentos especiais são aquelas que têm por finalidade sanar, de forma repressiva ou preventiva, a posse 54 de um bem. Nesse contexto, é oportuno esclarecer que a posse é um direito real e segundo o disposto no art. 1.196 do Código Civil: “considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, 55 pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade”. Ressalte-se que por possuidor para fins de ações possessórias entende-se tanto o possuidor direto como o indireto, cujo 56 principal ponto distintivo é a posse de fato. Aquele que realmente tem o bem no momento é o possuidor direto, por exemplo, se João, proprietário de um carro, empresta o carro a Manoel, este 57 último enquanto estiver com o carro emprestado é possuidor direto e João, na qualidade de proprietário, por não estar de fato com o bem, é possuidor indireto. 58 Importante: Tanto o possuidor direto como o indireto podem fazer uso das ações possessórias. Portanto, as ações possessórias constantes no Código de Processo Civil 59 buscam tão somente a proteção da posse e não da propriedade (domínio ou título de proprietário). Assim, poderão fazer uso das ações possessórias os proprietários (a posse é atributo inerente 60 à propriedade) e aqueles que detêm apenas a posse, mas não a propriedade. 3.2. Diferença de possessória (reintegração, manutenção ou 61 interdito proibitório), reivindicatória e imissão na posse: Tema de bastante controvérsia é a distinção entre possessória, reivindicatória e imissão na posse, já que 62 pode o proprietário, na qualidade de possuidor direto ou indireto, fazer o uso dessas três ações judiciais. 63 64 3.3. Modalidades das ações possessórias: São três as modalidades das ações possessórias, quais sejam: reintegração, manutenção e interdito 65 proibitório. A diferença entre elas decorre da situação em que se encontra a posse, pois cada tipo de alteração da posse requer uma proteção possessória específica. 66 3.3.1. Reintegração de posse: A reintegração de posse será proposta quando houver esbulho, ou seja, haverá a perda total da posse pelo possuidor, 67 ocasião em que tanto o possuidor direto como o indireto terão legitimidade para ajuizar ação de reintegração de posse. 3.3.2. Manutenção de posse: 68 A manutenção da posse será proposta quando o possuidor tiver a limitação da sua posse, isto é, não poder exercê-la por completo. Nesse caso não houve a perda total da posse, mas esta sofreu 69 restrição, foi turbada, razão pela qual o possuidor faz uso da ação de manutenção de posse para cessar a limitação. 3.3.3. Interdito proibitório: 70 O interdito proibitório ocorre quando o possuidor está na iminência de ter sua posse molestada, ou seja, ameaça de sofrer turbação ou esbulho. Assim, por se tratar de uma ameaça, evento futuro, 71 o possuidor faz uso de proteção possessória de forma preventiva. 72 73 Considerando as três possessórias tipificadas no nosso ordenamento: reintegração, manutenção e interdito proibitório, é importante mencionar 74 primeiramente os aspectos processuais que se aplicam às três, quais sejam: a) Princípio da fungibilidade: previsto no art. 554 do Código de Processo Civil, 75 o princípio da fungibilidade autoriza o magistrado a admitir uma ação possessória em vez de outra. A título de exemplo, é possível citar a propositura de ação de manutenção da posse que no 76 momento em que o juiz for analisar a liminar já tenha ocorrido a perda total da posse, nesse caso o juiz receberá a manutenção como se reintegração fosse. Assim, com fundamento no princípio da 77 fungibilidade, ao abordar os requerimentos da petição inicial, deverá constar o requerimento de aplicação do princípio da fungibilidade: “requer, ainda, a aplicação do princípio da fungibilidade, 78 caso a situação de fato se altere, conforme previsto no art. 554 do Código de Processo Civil”. b) Litígio coletivo: no caso de ação possessória em que figure no polo 79 passivo grande número de pessoas, o Ministério Público atuará obrigatoriamente (arts. 178, III, e 554, § 1º, do CPC) e, se envolver pessoas em situação de hipossuficiência econômica, 80 também será intimada a Defensoria Pública. 81 Tipos de citação em ações possessórias de litígio coletivo (art. 554, § 2º, do CPC): - Oficial de justiça: dos que forem encontrados no local. 82 - Edital: daqueles que não forem encontrados no local. c) Cumulação de pedidos: o art. 555 do Código de Processo Civil prevê a 83 possibilidade de cumulação de pedidos pelo autor, assim, além da própria proteção possessória, o autor poderá cumular os seguintes pedidos: - Condenação em perdas e danos; 84 - Indenização dos frutos; - Imposição de medida necessária e adequada para evitar nova turbação ou esbulho ou para cumprir-se a tutela provisória ou final. 85 d) Pedido contraposto: de acordo com o art. 556 do Código de Processo Civil, o réu, na contestação, poderá realizar pedido contraposto, o qual consiste em o réu demandar a proteção possessória e 86 a indenização pelos prejuízos resultantes da turbação ou do esbulho cometido pelo autor. É daí que vem o caráter dúplice das ações possessórias, isto é, além de se defender em sede de contestação, 87 o réu poderá na mesma peça processual buscar sua proteção possessória alegando que é o autor que causa problemas na posse, seja resultante de esbulho ou turbação, podendo ainda 88 cumular pedido de indenização a seu favor na ação judicial em que a princípio poderia tão somente se defender das alegações trazidas na petição inicial. 89 3.5. Procedimento da reintegração e manutenção de posse: liminar ou tutela provisória de urgência antecipada? 90 As ações possessórias de reintegração e manutenção da posse podem seguir o procedimento especial ou comum (art. 558, caput e parágrafo único, do CPC), sendo de extrema importância a análise 91 da data em que ocorreu o esbulho ou a turbação. 92 93 Atenção: Em litígio coletivo pela posse, em ação de força velha (mais de ano e dia), antes de o juiz analisar a tutela provisória de urgência antecipada, 94 designará audiência de mediação, intimando para tanto: - Ministério Público; - Defensoria Pública; - Órgãos da política urbana e agrária. 95 Importante: Contra as pessoas jurídicas dedireito público, não será deferida a manutenção ou a reintegração liminar sem prévia audiência dos respectivos representantes judiciais. 96 Competência: • Bens móveis (art. 46 do CPC): domicílio do réu. • Bens imóveis (art. 47, § 2º, do CPC): situação da coisa. 97 Liminar (art. 562 do CPC) – se a agressão da posse ocorreu dentro de ano e dia; 98 Tutela provisória de urgência antecipada (art. 300 do CPC) – se a agressão da posse ocorreu há mais de ano e dia. Artigos relevantes: 99 • Reintegração e manutenção de posse: arts. 558, 560, 561 e 562; • Litígio coletivo: arts. 554, §§ 1º e 2º, e 565 do CPC; • Interdito proibitório: art. 567 do CPC. 100 Ação de exigir contas: 101 Introdução: Importante verificar que no CPC de 2015 houve a modificação da nomenclatura da Ação de Prestação de Contas para Ação de Exigir Contas. Por meio desse 102 procedimento especial, previsto nos arts. 550 a 553 do CPC, aquele que afirmar ser titular do direito de exigir contas requererá a citação do réu para que as preste ou ofereça contestação no prazo 103 de 15 (quinze) dias. Nesse caso, a peça prática será uma petição inicial, na qual o Autor (aquele que afirma ser titular do direito) pretenderá do Réu (aquele que tem o dever de prestar contas) a 104 apresentação das contas a respeito da relação jurídica existente entre as partes. Procedimento: 105 O procedimento da ação de exigir contas se desenvolve em duas fases, quais sejam: 1ª Fase: o juiz verifica se há, ou não, a obrigação de que o réu preste as contas 106 exigidas pelo autor. Nessa etapa, não se discute os valores a serem apurados. 2ª Fase: o juiz analisa as próprias contas prestadas, ou seja, se estão corretas ou incorretas. Nesse momento, o juiz 107 verifica os valores e se, eventualmente, existe saldo remanescente em favor de uma das partes. O procedimento se inicia, na 1ª Fase, com a propositura de uma petição inicial, 108 com fundamento no art. 550, § 1º, do CPC, na qual o autor especificará, detalhadamente, as razões pelas quais exige as contas, instruindo-a com 109 documentos comprobatórios dessa necessidade, se existirem. Julgado procedente o pedido, reconhecendo o direito do autor de exigir as contas e o dever do réu de prestá-las, 110 também condenará o réu a prestar as contas no prazo de 15 dias, sob pena de não lhe ser lícito impugnar as que o autor apresentar (art. 550, § 5º, do CPC). 111 Inicia-se, assim, a 2ª Fase, tendo o autor duas opções nesse caso: a) Apresentadas as contas: terá o autor 15 dias para se manifestar. 112 b) Não apresentadas as contas: serão apresentadas pelo autor, sem direito de impugnação por parte do réu. No entanto, tal impedimento não obsta ao 113 juiz a determinação de exame pericial nas contas apresentadas, se necessário. Ao final da 2ª Fase, o juiz sentenciará, apurando o saldo devedor, se existente, em favor de uma das partes (natureza 114 dúplice), constituindo título executivo judicial, cuja execução seguirá o procedimento do cumprimento de sentença, nos termos dos arts. 513 e s. do CPC. 115 Identificação da peça: 116 A principal dica para que se possa identificar se efetivamente trata de petição inicial em Ação de Exigir Contas será a apresentação pelo enunciado de um vínculo jurídico 117 existente entre as partes, no qual uma delas terá o direito de exigir que a outra preste as contas relativas à relação. Note que esta relação jurídica pode ser verificada quando determinadas pessoas 118 possuem o dever legal de administrar determinados bens e interesses juridicamente relevantes, possuindo a responsabilidade de prestar as contas de sua gestão. 119 São exemplos desse dever: o sucessor provisório de ausente que não seja descendente, ascendente ou cônjuge (art. 33, caput, do CC); 120 os mandatários quanto aos atos praticados em função do contrato de mandato (art. 668 do CC); o síndico de condomínio (art. 1.348 do CC); 121 a empresa de administração de condomínios; o advogado para seu cliente no que se refere às quantias recebidas para 122 patrocínio da causa ou aquelas levantadas durante o feito. Principais artigos de direito processual e direito material: • Art. 550 do CPC; 123 • Art. 551 do CPC; • Art. 552 do CPC; • Art. 1.348 do CC; • Art. 1.349 do CC; • Art. 1.350 do CC.
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