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PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO Registro: 2017.0000982482 ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº 1000783-11.2017.8.26.0444, da Comarca de Pilar do Sul, em que é apelante ALICE MEIRELES DE JESUS (ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA), é apelada JOANA MACORI RAMOS (ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA). ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 5ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão:Negaram provimento ao recurso. V. U., de conformidade com o voto do relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Desembargadores A.C.MATHIAS COLTRO (Presidente) e FERNANDA GOMES CAMACHO. São Paulo, 18 de dezembro de 2017. Fábio Podestá Relator Assinatura Eletrônica PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO Apelação nº 1000783-11.2017.8.26.0444 - Voto 18044 PP 2 APELAÇÃO nº 1000783-11.2017.8.26.0444 APELANTE: ALICE MEIRELES DE JESUS APELADO: JOANA MACORI RAMOS COMARCA: PILAR DO SUL VOTO Nº 18044 DANOS MORAIS – Sentença de improcedência – APELO DA AUTORA – Pretensão à reversão do julgado – Inadmissibilidade - Ré que empreendeu desforço imediato para defesa de sua posse, turbada por ato de familiares da autora – Tutela da posse permitida, consoante art. 1.210, § 1º, do CC – Ausência de excesso indenizável (art. 186, CC). Sentença mantida – RECURSO DESPROVIDO. ALICE MEIRELES DE JESUS ajuizou “ação de indenização por danos morais” em face de JOANA MACORI RAMOS, a afirmar que no dia 14.02.2017 foi chamada de “vagabunda” e acusada de colocar bilhetes no portão da casa da ré (fls. 02). A r. sentença a fls. 50/51, cujo relatório é adotado, julgou improcedente o pedido, sem condenar qualquer das partes em custas ou honorários. Irresignada, apela a autora, a sustentar: a) ficou devidamente demonstrado o abalo sofrido, consoante boletim de ocorrência, termo circunstanciado de fls. 13/18 e pelo depoimento pessoal da requerida (fls. 57); b) jamais teria deflagrado procedimento PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO Apelação nº 1000783-11.2017.8.26.0444 - Voto 18044 PP 3 no JECrim se tivesse entendido que o ocorrido era sem importância (fls. 57); c) a informante Selice detalhou o ocorrido e relatou que a apelada xingou a apelante de vagabunda (fls. 57); d) conta já com 60 anos de vida, tendo trabalhado arduamente e se sentiu humilhada (fls. 57). O recurso é tempestivo, isento de preparo (fls. 51) e foi contra-arrazoado (fls. 61/63). É o relatório. O recurso não comporta acolhimento. Isso porque os elementos coligidos aos autos evidenciam que houve discussão acalorada, motivada, como esclareceu a informante Sra. Selice (depoimento constante de mídia de CD recebida neste gabinete), arrolada pela própria autora, por ato do Sr. João, membro de sua família que cortou pé de mexerica que se encontrava próximo à cerca que divide as propriedades, mas do lado da propriedade da ré. A soma dos depoimentos da autora e da ré, cada qual contendo uma fração da verdade, evidenciam que o Sr. João, membro da família da autora, ao cortar árvore frutífera de propriedade da ré, desencadeou o primeiro (e, espera-se, único), conflito entre os vizinhos. Na verdade, a requerida pretendia advertir o Sr. João de que não deveria mais cortar suas árvores e, ao final, a esposa de PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO Apelação nº 1000783-11.2017.8.26.0444 - Voto 18044 PP 4 João que foi discutir com a ré, e, após solicitação da filha da ré, Sra. Selice, a autora também se imiscuiu no entrevero, que sequer lhe dizia respeito. Deveras, a vida quotidiana está permeada de relações de causa e efeito, ação e reação, de modo que, para um convívio pacífico é essencial que se evite perturbar a propriedade alheia, não se podendo negar ao proprietário o direito de “usar, fruir, dispor e reivindicar” a coisa, direito que a lei lhe assegura (art. 1.228, CC), permitindo, inclusive, o desforço imediato para defesa da posse turbada, consoante estatui o art. 1.210, § 1º, do Código Civil: “§ 1o O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter- se ou restituir-se por sua própria força, contanto que o faça logo; os atos de defesa, ou de desforço, não podem ir além do indispensável à manutenção, ou restituição da posse.” Se a lei permite até a defesa física da coisa, mediante a violência necessária à manutenção da posse, quem dirá a defesa verbal, mediante advertência ao turbador. Logo, o legítimo desforço, em defesa da posse, não constitui ato ilícito, e não pode ensejar direito a qualquer indenização. Em casos relativamente semelhantes, guardadas as devidas peculiaridades, já se manifestou esta Corte: “Direito de vizinhança. Reparação de danos. Inexistência PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO Apelação nº 1000783-11.2017.8.26.0444 - Voto 18044 PP 5 da prova da culpa da ré. Indício da existência de agressões mútuas. Dano moral inocorrente. Sentença mantida. Recurso não provido.” (Apel 0003574-61.2011.8.26.0320, 34ª Câm. Direito Privado, rel. Des. Rosa Maria de Andrade Nery, j. 24.02.2014). “Ação de Indenização por danos morais Discussão entre os litigantes, que são vizinhos. Agressões mútuas sem definição clara da iniciativa. Ausência de caracterização de conduta lesiva capaz de causar os danos descritos na inicial. Testemunhas confirmam que as partes se ofenderam reciprocamente. Afastamento do dever de indenizar. Sentença de improcedência. Redução dos honorários advocatícios devidos ao patrono do réu em razão da sucumbência. Melhor adequação à hipótese legal Recurso provido em parte. Dá-se parcial provimento ao recurso.” (Apel 0505223-28.2010.8.26.0000, 10ª Câm. Direito Privado, rel. Des. Maria Dalla Déa Barone, j. 20.08.2013). Assim, não há qualquer excesso na conduta da ré a autorizar a procedência do pedido indenizatório, porquanto ausente ato ilícito, elemento essencial à reparação civil, consoante art. 186, do CC. Não comporta, pois, nenhum reparo a r. sentença. Deixa-se de condenar a autora em honorários sucumbenciais recursais, a par do que estatui o art. 85, § 11, do NCPC, porquanto a sentença (que não foi objeto de embargos declaratórios) deixou de estipular a verba, inviabilizando a majoração prevista no PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO Apelação nº 1000783-11.2017.8.26.0444 - Voto 18044 PP 6 dispositivo legal. Anota-se, a propósito, que não é necessário que o julgador se pronuncie expressamente sobre todos os dispositivos legais invocados pelos apelantes para que tenham acesso aos Tribunais Superiores, pois “o prequestionamento consiste na apreciação e na solução, pelo tribunal de origem, das questões jurídicas que envolvam a norma positiva tida por violada, inexistindo a exigência de sua expressa referência no acórdão impugnado”1. Ante ao exposto, NEGO PROVIMENTO ao recurso. FABIO HENRIQUE PODESTÁ Relator 1 EDCL nº 0001698-06.2006.8.26.0075, 7ª Câm. Direito Privado, rel. Des. Coimbra Schimidt, j. 31.05.2010. 2017-12-18T10:03:37+0000 Not specified
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