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Sustentabilidade na construção civil, materiais e tecnologias Apresentação O conceito de sustentabilidade está relacionado ao fato de as gerações atuais proverem as suas necessidades, sem comprometer a capacidade de suprimento das gerações futuras. Na construção civil, a efetividade do conceito de sustentabilidade é obtida mediante a redução do consumo de recursos naturais, a minimização no desperdício de materiais construtivos e a utilização de tecnologias que garantam a construção de edificações de melhor qualidade, utilizando menos matéria-prima. Dessa forma, visando ao bem-estar e ao desenvolvimento sustentável, a construção civil deve se adequar às premissas para minimização dos impactos ambientais e à conservação da vida saudável no planeta. Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai conhecer métodos que otimizam o processo construtivo, sem acarretar em danos ao meio ambiente, como o uso de modulação no desenvolvimento do projeto arquitetônico. Vai reconhecer as estratégias aplicadas no Brasil e no mundo para tornar efetivo o desenvolvimento sustentável, com aplicabilidade em projetos de novas edificações ou, até mesmo, em reformas e manutenções, além de identificar edificações que visem à qualidade de vida e à preservação do planeta. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Avaliar os métodos de projetos e a otimização de materiais de construção.• Reconhecer a definição de materiais como diferencial em projetos sustentáveis.• Examinar soluções competentes em projetos sustentáveis.• Desafio A rotina agitada e o estresse cotidiano fazem como que o ser humano consuma maior quantidade de energia elétrica para criar ambientes mais confortáveis, que venham a atender as suas necessidades após um longo dia de trabalho. Para minimizar os impactos ambientais acarretados pelo consumo excessivo, as edificações devem ser desenvolvidas visando ao conforto ambiental e, principalmente, à redução no consumo de recursos naturais. Dessa forma, na Arquitetura deve-se, sempre que possível, apresentar aos clientes soluções que abranjam premissas de sustentabilidade, para garantir que as futuras gerações tenham acesso aos recursos disponíveis atualmente. Você é um arquiteto e está atendendo um cliente que deseja construir sua residência conforme os preceitos de sustentabilidade, abrangendo redução no consumo de recursos naturais e economia de água e energia, fazendo as seguintes indicações e solicitações: De acordo com a demanda da construção e das indicações do cliente, indique pelo menos três soluções que podem ser aplicadas para atender às premissas apresentadas pelo cliente. Justifique- as. Infográfico Edificações existentes podem ser alteradas para receber premissas de sustentabilidade, vindo a se adequar às necessidades dos usuários com o passar dos tempos. Entretanto, projetos que contam com a aplicação de estratégias sustentáveis desde a sua concepção permitem a implantação de maior número de estratégias, sem gerar resíduos desnecessários na sua adequação. Confira neste Infográfico as estratégias que podem ser aplicadas na fase inicial de projeto para elaborar uma residência sustentável. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://statics-marketplace.plataforma.grupoa.education/sagah/f359d6e4-2aff-4103-b76b-bd95232bf6bd/e5d0493c-e8d3-4224-89a4-0a95ad304f53.jpg Conteúdo do livro Antes de iniciar um projeto na construção civil, devem ser analisadas todas as possibilidades de desenvolvimento, materiais a serem utilizados e tecnologias disponíveis para efetivar a execução da obra, de maneira a se adequar às premissas de sustentabilidade. A otimização dos materiais de construção está diretamente ligada às técnicas construtivas a serem empregadas e à minimização de resíduos gerados. Dessa forma, cabe aos profissionais responsáveis pela elaboração de projetos incentivar o uso de alternativas sustentáveis, visando a minimizar os impactos ambientais, sem comprometer a qualidade de vida e as necessidades dos usuários das edificações. No capítulo Sustentabilidade na construção civil, materiais e tecnologias, da obra Arquitetura sustentável, você vai identificar os métodos a serem implantados na fase inicial de projeto, reconhecer os materiais e as técnicas que minimizam os danos ao meio ambiente, além de analisar exemplos de aplicabilidade em seus projetos diários. Bons estudos. ARQUITETURA SUSTENTÁVEL Jaqueline Ramos Grabasck Sustentabilidade na construção civil, materiais e tecnologias Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Avaliar métodos de projetos e a otimização de materiais de construção. Reconhecer a definição de materiais como diferencial em projetos sustentáveis. Examinar soluções competentes em projetos sustentáveis. Introdução A importância de estratégias que tenham como objetivo o atendimento das necessidades dos usuários e a redução de impactos ambientais tem sido discutida com afinco no meio acadêmico e vem sendo analisada para criar formas simples e acessíveis de tornar qualquer edificação sustentável. Neste capítulo, você vai conferir métodos de projeto que priorizam a redução no desperdício de materiais e recursos, vendo a importância da elaboração de projetos sustentáveis com exemplos de aplicabilidade no Brasil e no mundo. Os métodos de projeto e a otimização de materiais de construção A construção civil é um dos setores que mais desperdiça matérias-primas, sejam elas processadas ou in natura, assim como descarta materiais que poderiam ser reutilizados em outras obras ou, até mesmo, no próprio canteiro onde foram gerados. Uma das formas mais efetivas de evitar o desperdício de materiais é por meio da concepção de um projeto coerente, em que os seus constituintes são definidos previamente. Ao utilizar blocos, sejam cerâmicos ou de concreto, deve-se priorizar a distribuição dos ambientes com o uso de modulação, evitando que esses blocos sejam cortados desnecessariamente e gerem um resíduo que poderia ser preservado. Além disso, deve-se priorizar a utilização de blocos especiais em locais nos quais devem passar tubulações e ser inseridas caixas de passagem. Além de reduzir o desperdício de materiais, a modulação garante racio- nalização, aumento da produtividade e da precisão no processo construtivo, padronização dos materiais, facilita o controle da execução, reduz problemas de interface entre componentes, elementos e sistemas (COMUNIDADE DA CONSTRUÇÃO, [201-?]). Tão importante quanto a definição da modulação em planta baixa é a sua definição na vertical, pois o desperdício também pode ocorrer com a determinação de pé-direito que não corresponde às dimensões resultantes da utilização dos blocos (Figura 1). Os blocos possuem variação de altura, largura e comprimento, conforme a família à qual pertencem e, até mesmo, em relação ao fabricante que os produziu. Figura 1. Modulação de blocos na horizontal e na vertical em ambiente tridimensional. Fonte: Comunidade da Construção ([201-?], documento on-line). A excelência na execução da edificação também deve ser considerada, pois, ao refazer um trabalho, matérias-primas nobres são descartadas sem necessidade, sendo grande parte do resíduo gerado consequência do traba- lho mal feito ou da falta de alinhamento entre os diferentes profissionais. Sustentabilidade na construção civil, materiais e tecnologias2 A compatibilização de projetos reduz as alterações advindas de tomadas de decisões em obras, que, normalmente, resultam no retrabalho e na geração de resíduos. A busca por profissionais capacitados também ameniza a ocorrência de erros durante a instalação e garante maior vida útil ao produto, pois a aplicação deve ser realizada conforme as definições apresentadas pelo fabricante. O processo de aplicação é definido mediante estudos realizados paracomprovar a eficácia do material, por isso sua aplicação deve seguir as etapas indicadas por quem realizou esses testes. As decisões tomadas na concepção do projeto influenciam diretamente na execução da obra e podem vir a ser as responsáveis pela geração de um maior ou menor volume de resíduos, assim como de consumo de materiais. Tais preocupações devem ser averiguadas quando o objetivo principal é a minimização de impactos ambientais, pois um projeto bem estruturado reduz as divergências encontradas no canteiro de obras. A definição adequada dos materiais é um fator importante quando o ob- jetivo é evitar o desperdício e atender as necessidades dos seres humanos sem comprometer a qualidade do ambiente interno e externo da edificação. Gonçalves e Duarte (2006) apresentam uma série de estratégias que, em conjunto, impactam diretamente no desempenho térmico da edificação, como ventilação natural, reflexão da radiação solar direta, sombreamento, res- friamento evaporativo, isolamento térmico, inércia térmica e aquecimento passivo. Para que sejam efetivas, essas estratégias devem ser definidas ao serem relacionadas com as condições climáticas, as exigências de uso e os parâmetros de desempenho. Para que a sustentabilidade abranja os conceitos de desempenho ambiental, conforto e eficiência energética, ao realizar um projeto, devem ser analisa- dos os seguintes tópicos: orientação solar e dos ventos; forma arquitetônica, arranjos espaciais, geometria e zoneamento interno; condições ambientais e tratamento do entorno imediato; materiais que considerem o desempenho térmico e as cores; adequar as fachadas e coberturas conforme a proteção solar necessária; áreas envidraçadas e de aberturas, considerando a edificação como um todo; detalhamento dos protetores solares; e detalhamento das esquadrias (GONÇALVES; DUARTE, 2006). O estudo da incidência solar pode garantir economia de energia, conforto térmico, iluminação natural e aquecimento de água. A disposição das aber- turas e os materiais aplicados na execução da edificação devem ser definidos conforme a incidência solar desejada e a variação térmica que os ambientes devem apresentar. 3Sustentabilidade na construção civil, materiais e tecnologias Materiais como cimento, vidro, aço, alumínio, componentes cerâmicos, louças e metais sanitários necessitam de um consumo de energia elevado du- rante o seu processo produtivo e, consequentemente, o seu valor também será mais alto, se comparado ao uso de materiais da região, no qual, ao necessitar de menores quantidades de combustíveis no transporte, são emitidos menos poluentes e reduzidos os impactos ambientais (FLORIM; QUELHAS, 2005). Além de necessitar de quantidades menores de combustíveis para o seu transporte, materiais da região tendem a atender com maior efetividade as condições climáticas do local, favorecendo o conforto ambiental e incentivando o comércio local. A arquitetura sustentável não está relacionada apenas com o conforto ambiental e a energia: deve relacionar-se, também, com os fatores sociais, econômicos, urbanos e de infraestrutura, ou seja, deve abranger todas as questões que compõem o problema de projeto. Assim, a arquitetura sus- tentável compreende, principalmente, o contexto no qual a edificação se encontra, juntamente com as decisões iniciais de projeto (GONÇALVES; DUARTE, 2006). A definição de materiais: um diferencial em projetos sustentáveis A ecoefi ciência é uma ferramenta do desenvolvimento sustentável, integrante do conceito de pensar globalmente e agir localmente, considerando os as- pectos econômicos e ecológicos ligados à responsabilidade social, sendo obtida com o fornecimento de bens e serviços a um preço justo, capaz de satisfazer as necessidades humanas com qualidade de vida, mas reduzindo os impactos ambientais e o consumo de recursos progressivamente (FLORIM; QUELHAS, 2005). Na fase inicial de projeto, deve-se ter como critério principal a escolha de materiais e tecnologias adequados ao meio ambiente, considerando o uso da edificação, privilegiando materiais que apresentem baixos níveis de energia incorporada, que sejam fáceis de desmontar, apresentando um processo de separação facilitado para incentivar a reutilização quando o edifício vier a ser demolido. Dessa maneira, a construção civil apresentaria índices de redução nos impactos ambientais (NEIVA; MATEUS; BRAGANÇA, 2012). Antes de iniciar um projeto, o profissional deve realizar o estudo do clima e o levantamento do terreno no qual a edificação deverá ser implantada, Sustentabilidade na construção civil, materiais e tecnologias4 para, juntamente com os dados levantados na entrevista com os usuários, poder elaborar o programa de necessidades da edificação, indicando todas as premissas e estratégias a serem abordadas na construção. Como as variáveis climáticas influenciam diretamente o conforto am- biental, o projeto arquitetônico deve considerar alguns elementos de controle, como: proximidade do local de intervenção à água, devido ao fato de a terra apresentar variações de temperatura com maior rapidez que a água; a altitude, pois a cada 100 m de altitude, a temperatura tende a diminuir -1ºC; barreiras montanhosas e correntes oceânicas (LAMBERTS; DUTRA; PEREIRA, 2009). As variações climáticas mudam de região para região. No Brasil, essas informações podem ser obtidas por meio das Normais Climatológicas, apre- sentadas pelo Instituto Nacional de Meteorologia (INMET). As Normais Climatológicas trazem valores médios e extremos de temperatura, pressão atmosférica, insolação, evaporação, evapotranspiração, umidade, vento, pre- cipitação e nebulosidade (LAMBERTS; DUTRA; PEREIRA, 2009). A radiação solar pode ser classificada como direta e difusa. A radia- ção direta é considerada a fonte de luz mais intensa e, ainda, influencia diretamente nos ganhos térmicos das edificações. Já a radiação difusa é resultante do espalhamento da radiação que incide na atmosfera, sendo mais intensa em dias com maior nebulosidade (LAMBERTS; DUTRA; PEREIRA, 2009). A radiação solar é essencial para o funcionamento de sistemas como aque- cimento de água e painéis fotovoltaicos (Figura 2), com aplicabilidade em residências, comércios, indústrias e instituições. Além de gerar economia de energia, esses sistemas também minimizam os impactos ambientais ocasio- nados pelos mecanismos mais difundidos e utilizados atualmente. Leitores do material impresso, para visualizar as figuras deste capítulo em cores, acessem o link ou o código QR a seguir. https://qrgo.page.link/g1kbz 5Sustentabilidade na construção civil, materiais e tecnologias Figura 2. Painéis fotovoltaicos no telhado de uma edificação. Fonte: Photomdp/Shutterstock.com. A iluminação natural também é resultante da radiação solar, podendo ser direta ou indireta. Ao penetrar em uma edificação, a luz é absorvida e convertida em calor. Ao incidir em uma superfície refletora, resultará em uma fonte indireta de iluminação. Além de atuar na iluminação natural e no aquecimento dos ambientes, a radiação solar aquece o solo, que retém o calor por mais tempo que uma edificação. O solo ganha ou perde calor mais lentamente que o ar exterior, e essa característica é denominada inércia térmica (LAMBERTS; DUTRA; PEREIRA, 2009). Assim como o solo, os fechamentos e a utilização de materiais isolantes podem beneficiar-se das vantagens da inércia térmica devido ao fato de que temperatura se utiliza do calor armazenado na estrutura térmica da edificação durante o dia e o libera durante a noite, pois é nesse momento que a temperatura externa começa a diminuir. Consequentemente, ao ser resfriada durante o período da noite, a estrutura térmica da edificação irá manter-se fria durante um longo período do dia (LAMBERTS; DUTRA; PEREIRA, 2009). Locais nos quais há grandes variações de temperatura do dia para a noite também podem beneficiar-se da inércia térmica com a utilização de edificações semienterradas,taludes e coberturas vegetadas (Figura 3), possibilitando a absorção de temperatura do solo para a edificação e resul- tando em um ambiente confortável termicamente (LAMBERTS; DUTRA; PEREIRA, 2009). Sustentabilidade na construção civil, materiais e tecnologias6 Figura 3. Cobertura vegetada. Fonte: Josefkubes/Shutterstock.com. O conforto térmico é definido pela associação da temperatura, da umidade e dos ventos existentes no local; para uma mesma temperatura, pode haver variação de umidade e ventos, o que leva a uma sensação térmica diferenciada (LAMBERTS; DUTRA; PEREIRA, 2009). O talude corresponde a um plano do terreno inclinado, realizado com o objetivo de prover estabilidade e sustentação ao solo (Figura 4). Figura 4. Talude. Fonte: Nestor Cardona Cardona/Shutterstock.com. 7Sustentabilidade na construção civil, materiais e tecnologias A velocidade e a direção dos ventos podem ser alteradas conforme a disposição de elementos construtivos, edificações vizinhas, vegetações e o perfil topográfico do terreno. Todos esses elementos devem ser cuida- dosamente analisados antes de se definir a localização da edificação no terreno, assim como onde serão instaladas as aberturas em cada fachada dessa edificação. A velocidade do vento aumenta conforme a altitude e os obstáculos que ele encontra. Nas áreas urbanas, a velocidade média dos ventos tende a ser mais baixa que nas zonas rurais devido às edificações que configuram o espaço (LAMBERTS; DUTRA; PEREIRA, 2009). Na Figura 5, é possível observar que o tamanho dos obstáculos influencia diretamente na velocidade e no direcionamento dos ventos. Figura 5. Interferência dos obstáculos no direcionamento e na velocidade dos ventos. Fonte: Lamberts, Dutra e Pereira (2009, documento on-line). O Brasil apresenta uma grande variação climática por estar posicionado entre dois trópicos e devido ao seu imenso território. Na Figura 6, Lamberts, Dutra e Pereira (2009) apresentam a variação climática no território nacional com a respectiva nomenclatura. Diante de toda a variação climática existente, alternativas implantadas em uma residência na região Sul podem não ser tão eficientes quando replicadas na região Norte, por exemplo. Nesse sentido, o profissional deve estudar cuidadosamente o local de implantação da edificação antes de iniciar os estudos projetuais, garantindo que as estratégias a serem utiliza- Sustentabilidade na construção civil, materiais e tecnologias8 das serão efetivas para atender as necessidades dos usuários. O Quadro 1 apresenta as variáveis que definem as zonas climáticas apresentadas na Figura 6, trazendo informações pertinentes para a definição das estratégias projetuais. Figura 6. Variação climática no Brasil. Fonte: Lamberts, Dutra e Pereira (2009, documento on-line). Fonte: Adaptado de Lamberts, Dutra e Pereira (2009). Zona climática Temperatura média (ºC) Amplitude térmica anual (ºC) Chuvas (mm/ano) Tropical Acima de 20 7 1.000–1.500 Equatorial 24–26 3 Acima de 2.500 Semiárido 27 5 Menos de 800 Subtropical Abaixo de 20 9–13 1.500–2.000 Tropical atlântico 18–26 Variável 1.200 Tropical de altitude 18–22 Variável 1.000–1.800 Quadro 1. Características climáticas brasileiras 9Sustentabilidade na construção civil, materiais e tecnologias As variações climáticas ocorrem devido à região onde cada zona está situada. Na zona climática tropical, o verão é quente e chuvoso, enquanto o inverno é quente e seco. Já o clima equatorial caracteriza-se pelas chuvas abundantes e bem distribuídas. No subtropical, as chuvas também são abundantes, bem distribuídas, e o inverno é rigoroso, com possibilidade de neve nas áreas mais elevadas. No semiárido, as chuvas são muito escassas, caracterizando essa zona como a mais seca do país. Na zona de clima tropical atlântico, as chuvas são abundantes nas regiões ao sul no período do verão, enquanto nas próximas ao Equador apresentam maior ocorrência no inverno e outono — essa zona cli- mática apresenta as estações do ano bem definidas. O clima tropical de altitude é caracterizado por chuvas intensas durante o verão e massas frias durante o inverno, com possibilidade de geadas (LAMBERTS; DUTRA; PEREIRA, 2009). Soluções competentes em projetos sustentáveis Ao elaborar edifi cações mais seguras e saudáveis, obtém-se: redução da polui- ção; economia de água e energia; redução da pressão relacionada ao consumo de matérias-primas naturais; aprimoramento das condições de segurança e saúde de todos os envolvidos (FLORIM; QUELHAS, 2005). Apesar de não sanar todos os problemas ambientais, uma edificação sus- tentável deve, segundo Keeler e Vaidya (2018): tratar das questões de demolições no terreno e dos resíduos gerados; buscar eficiência na utilização dos recursos; minimizar os impactos acarretados pela extração e produção de materiais; reduzir o consumo de solo, água e energia durante todo o ciclo de vida dos materiais; planejar o transporte dos materiais ao terreno, visando baixos índices de energia incorporada; projetar visando o consumo consciente de energia e, consequentemente, a redução das emissões de CO2; planejar um ambiente interno saudável; evitar o uso de materiais que emitam compostos orgânicos voláteis (VOCs); evitar o uso de equipamentos ineficientes no controle da emissão de particulados; controlar a entrada de poluentes externos na edificação; favorecer a ventilação natural, a iluminação diurna e a visualização do exterior. Sustentabilidade na construção civil, materiais e tecnologias10 Os compostos orgânicos voláteis (VOCs) são substâncias químicas orgânicas que apresentam alta pressão de vapor em condições normais, como, por exemplo, os aldeídos, cetanos, hidrocarbonetos leves, metano, solventes, gasolina e gás veicular. A Ecohouse de Oxford (Figura 7), de propriedade de Sue Roaf, foi pro- jetada pelos arquitetos Sue Roaf, Robert Toland e David Woods. Situada em zona climática temperada, é composta por três pavimentos, foi localizada no terreno afastada das divisas, tendo como principal objetivo ser uma residência saudável e silenciosa, com baixas emissões de CO2. Figura 7. Ecohouse de Oxford. Fonte: Roaf, Fuentes e Thomas (2014, p. 295). A Ecohouse foi projetada com altos níveis de isolamento, paredes duplas, acabamentos naturais, grande massa térmica, iluminação natural, estanque ao ar, vidros triplos, telhado fotovoltaico, sistema solar de aquecimento de água, eletrodomésticos com alta eficiência energética e com baixa energia incorporada (ROAF; FUENTES; THOMAS, 2014). 11Sustentabilidade na construção civil, materiais e tecnologias Para definir os materiais, os arquitetos consultaram as empresas fabricantes para garantir que todos os sistemas empregados apresentassem alta durabi- lidade e baixos índices de energia incorporada no seu processo produtivo, buscando uma vida útil de 500 anos para a edificação (ROAF; FUENTES; THOMAS, 2014). O Quadro 2 apresenta um comparativo do desempenho da Ecohouse de Oxford com uma residência comum. Fonte: Adaptado de Roaf, Fuentes e Thomas (2014). Tipo kWh/m² comprados da rede por ano Custo da eletricidade por ano (US$) Custo do gás por ano (US$) Custo total por ano (US$) Emissões de CO2 (kg por ano) Custo de construção (US$) (por m²) Ecohouse Oxford 27 240 350 595 721 1.080 Casa comum 90 600 1.270 1.865 6.776 1.080 Economias 63 360 915 1.275 6.055 0 extra Quadro 2. Desempenho da Ecohouse de Oxford comparada a uma residência comum Ao comparar a Ecohouse com uma residência comum, é possível observar a efetividade dos sistemas aplicados para torná-la sustentável. Observa-se economias na utilização da rede elétrica e de gás, além de uma redução sig- nificativa nos índices de emissões de CO2, sendo que para ambos os tipos de construções utilizou-se o mesmo valor na sua execução. No Brasil, a Casa das Guaracemas, em Florianópolis, de propriedade do arquiteto José Ripper Kós,com autoria sua e de sua equipe, traz como premissas a boa implantação, a iluminação e a ventilação naturais, buscando o conforto térmico e a boa eficiência (Figura 8). Sustentabilidade na construção civil, materiais e tecnologias12 Figura 8. Casa das Guaracemas. Fonte: Barreto (2017, documento on-line). Para se privilegiar da incidência solar na fachada norte, a residência foi implantada na lateral do terreno, garantindo, assim, que o máximo de ambientes recebesse a radiação solar direta. Contudo, para que não fossem prejudicados com as altas temperaturas, criou-se uma zona intermediária entre o externo e o interno no segundo pavimento com a utilização de brises móveis. O conforto térmico também é garantido pelo uso de materiais isolantes e em seu estado natural, o que mantém a taxa de transferência de calor, além de ventilação cruzada (BARRETO, 2017). Sistemas de energia solar, aquecimento de água e reuso de água foram implantados na residência. O sistema de energia solar atende a 50% da de- manda energética da residência e, ainda, possibilita o aquecimento de água. O excedente da água da piscina é encaminhado para um reservatório no subsolo, que a distribui para usos não potáveis (BARRETO, 2017). O arquiteto priorizou a permeabilidade do solo, utilizando decks, concre- grama e jardins, além de criar uma cobertura verde composta por areia da região e plantas nativas, visando atrair a fauna local e direcionar as águas das chuvas (BARRETO, 2017). 13Sustentabilidade na construção civil, materiais e tecnologias A Figura 9 traz uma análise da residência, indicando as diferenças en- tre temperaturas internas e externas, na qual é possível observar que os sistemas utilizados na sua construção tornam os ambientes internos mais confortáveis termicamente, além de produzir mais energia elétrica do que a residência consome. Figura 9. Casa das Guaracemas. Fonte: Barreto (2017, documento on-line). Analisar e compreender o local permitiu à equipe arquitetônica elaborar um projeto que atendesse as necessidades dos usuários, sem gerar um consumo excessivo de energia elétrica. Priorizando a vida em contato direto com a natureza e reutilizando os recursos disponíveis no meu ambiente, possibilitou a criação de uma residência sustentável. Sustentabilidade na construção civil, materiais e tecnologias14 Elementos simples, implantados de forma a atender as necessidades dos usuários no local em que a edificação deve ser implantada, permitem a elabo- ração de um projeto que alcance a eficiência energética, o consumo reduzido de recursos naturais e que ainda seja vantajoso para a região. No link a seguir, você encontra uma casa 100% sustentável, desenvolvida na cidade de Blumenau mediante uma parceria entre o Instituto SENAI de Tecnologia e Inovação, um instituto italiano, a FURB e o Sinduscon. https://qrgo.page.link/84HFr BARRETO, A. M. Casa de Guaracemas: casa sustentável premiada no Brasil. In: GREEN- TOPIA. [S. l.: s. n.], 2017. Disponível em: http://greentopia.com.br/casa-das-guaracemas/. COMUNIDADE DA CONSTRUÇÃO. Alvenaria estrutural: modulação. [S. l.: s. n., 201-?]. Disponível em: http://www.comunidadedaconstrucao.com.br/sistemas-construtivos/1/ modulacao/projeto/16/modulacao.html. Acesso em: 18 ago. 2019. FLORIM, L. C.; QUELHAS, O. L. G. Contribuição para a construção sustentável: característi- cas de um projeto habitacional eco-eficiente. Revista Produção, v .5, n. 2, 2005. Disponível em: https://producaoonline.org.br/rpo/article/view/332. Acesso em: 18 ago. 2019. GONÇALVES, J. C. S.; DUARTE, D. H. S. Arquitetura sustentável: uma integração entre ambiente, projeto e tecnologia em experiências de pesquisa, prática e ensino. Ambiente Construído, v. 6, n. 4, 2006. Disponível em: https://www.seer.ufrgs.br/ambientecons- truido/article/view/3720/2071. Acesso em: 18 ago. 2019. KEELER, M.; VAIDYA, P. Fundamentos de projeto de edificações sustentáveis. Porto Alegre: Bookman, 2018. 15Sustentabilidade na construção civil, materiais e tecnologias LAMBERTS, R.; DUTRA, L; PEREIRA, F. O. R. Eficiência energética na arquitetura. 3. ed. Rio de Janeiro: Eletrobrás, 2009. Disponível em: http://www.labeee.ufsc.br/sites/default/ files/apostilas/eficiencia_energetica_na_arquitetura.pdf. Acesso em: 18 ago. 2019. NEIVA, S.; MATEUS, R.; BRAGANÇA, L. Utilização do método LCA no projeto de edifícios sustentáveis. In: CONGRESSO CONSTRUÇÃO, 4., 2012. Anais [...]. Coimbra, 2012. Disponível em: http://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/22291/1/CC2012_Neiva_Ma- teus_Braganca.pdf. Acesso em: 18 ago. 2019. ROAF, S.; FUENTES, M.; THOMAS, S. Ecohouse: a casa ambientalmente sustentável. Porto Alegre: Bookman, 2014. Leitura recomendada PROJETO constrói e inaugura casa 100% sustentável em cidade catarinense. Blumenau: FIESC, 2017. 1 vídeo (3 min). Publicado pelo canal FIESC. Disponível em: https://www. youtube.com/watch?v=cqua3v9iiq0.pdf. Acesso em: 18 ago. 2019. Dica do professor O consumo desenfreado e a constante poluição gerada pelo ser humano acarretam impactos ambientais irreversíveis. Visando à redução dos impactos ambientais, a construção civil deve se adequar às necessidades do meio ambiente para garantir a sobrevivência dos seres vivos e, principalmente, do planeta. Veja na Dica do Professor premissas que devem ser analisadas antes de se iniciar um projeto, para garantir o mínimo de impactos ao meio ambiente e a priorização da qualidade de vida. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/cee29914fad5b594d8f5918df1e801fd/084f8079c439efe9d43a1861cdecc22b Exercícios 1) O desperdício de materiais e, até mesmo, matérias-primas é um dos fatores que torna a construção civil um dos setores que mais polui o planeta. Para reduzir o desperdício e minimizar os impactos ambientais, pequenas iniciativas podem ser aplicadas desde a fase inicial do projeto arquitetônico. Nesse contexto, relacione as colunas a seguir e indique a ordem correta de respostas. I – Modulação II – Compatibilização de projetos III – Arquitetura sustentável ( ) Reduz as alterações em obra, o retrabalho e a geração de resíduos. ( ) Abrange a questão problema de projeto, o conforto ambiental e os fatores sociais, econômicos e de contexto. ( ) Aumenta a produtividade e a precisão no processo produtivo, garantindo racionalização e reduzindo o desperdício. A) I – II – III. B) II – I – III. C) III – I – II. D) II – III – I. E) I – III – II. A análise ambiental é essencial para a elaboração de um projeto de qualidade, que esteja associado às necessidades dos usuários e ao contexto no qual se encontra, sem acarretar impactos significativos ao meio ambiente. Analise as informações a seguir e indique quais são verdadeiras (V) e quais são falsas (F) e indique a ordem correta de respostas. ( ) Para a realização de uma edificação sustentável, deve-se relacionar as condições climáticas, o uso e o desempenho a estratégias como: ventilação natural, sombreamento, isolamento térmico e aquecimento passivo. 2) ( ) Ao realizar um projeto sustentável, deve-se empregar conceitos de desempenho ambiental, conforto e eficiência energética. ( ) A disposição das aberturas em uma edificação deve ser definida pela distribuição do mobiliário, para garantir economia de energia e conforto térmico. ( ) A utilização de materiais regionais reduz a sua efetividade às condições climáticas e não favorece os conceitos de sustentabilidade. A) V – F – F – F. B) V – F – F – V. C) V – F – V – F. D) V – V – V – F. E) V – V – F – F. 3) Qual ferramenta abrange os aspectos econômicos e ecológicos vinculados aos aspectos sociais, a fim de reduzir os impactos ambientais e o consumo de recursos, sem comprometer as necessidades humanas que visam à qualidade de vida? A) AutoCad. B) Revit. C) Ecoeficiência. D) ACV. E) Gestão. A execução de uma edificação sustentável está vinculada a fatores externos,critérios de projeto e qualidade de vida. Indique quais afirmações são verdadeiras (V) e quais são falsas (F), apresentando a ordem correta de resposta. ( ) O desenvolvimento sustentável relaciona-se ao conceito de pensar globalmente e agir localmente. ( ) A fase inicial do projeto não deve considerar o fim da vida útil da edificação, sendo que a etapa pós-ocupação não está vinculada à redução de impactos ambientais. 4) ( ) Elementos de controle podem ser considerados no projeto arquitetônico, visando o conforto ambiental, mediante a influência das variáveis climáticas. ( ) Edificações semienterradas podem se privilegiar da inércia térmica, a fim de gerar ambientes confortáveis termicamente, em regiões onde há grandes variações de temperatura do dia para a noite. A) V – F – V – V. B) F – F – V – V. C) V – F – F – V. D) V – F – V – F. E) F – V – F – V. 5) O conceito de sustentabilidade está em alta e visa à preservação não somente dos seres humanos, mas principalmente do planeta e de todos os seres vivos que o habitam. Para ressaltar a importância do desenvolvimento sustentável, relacione as colunas a seguir e indique a ordem correta de respostas. I – Normais climatológicas II – Radiação solar direta III – Radiação solar ( ) Composta por informações que indicam as variações climáticas para cada região. ( ) Gera economia de energia, sendo essencial para utilizar equipamentos como painéis fotovoltaicos e aquecimento de água. ( ) Influencia nos ganhos térmicos da edificação, sendo considerada a fonte de luz mais intensa. A) I – II – III. B) II – III – I. C) III – II – I. D) I – III – II. E) III – I – II. Na prática Um projeto sustentável deve apresentar a definição de todos os seus constituintes antes de se iniciar a obra, para evitar o desperdício de materiais e, até mesmo, o retrabalho. A definição dos constituintes projetuais pode ser efetivada mediante a utilização de modulação, que reduz o desperdício de materiais, garante a racionalização, aumenta a produtividade e a precisão no decorrer do processo construtivo, a padronização dos materiais e a facilidade de controle durante a execução e reduz significativamente os problemas decorrentes da interface entre elementos e sistemas. Confira um exemplo de aplicação de modulação em uma residência, com a indicação das suas particularidades e as vantagens que esse método pode trazer ao ser aplicado em uma edificação. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://statics-marketplace.plataforma.grupoa.education/sagah/1a99d9e2-2ad2-4e97-b17e-ea2efe8add55/1a0e512d-fc25-454e-a8da-bcc97c27381a.jpg Saiba + Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Fundamentos de engenharia de edificações – materiais e métodos Confira nesta leitura as contribuições do telhado em edificações sustentáveis, com indicações de materiais para isolamento térmico e demais especificações para o desenvolvimento de diversos tipos de telhados sustentáveis (leitura recomendada da página 692 a 697). Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! SURGE: um hub urbano que combina tecnologia, sustentabilidade e tradição Um oásis de grande valor ecológico foi projetado em Abu Dhabi, com o objetivo de melhorar o fluxo de ar na cidade e reduzir a demanda de água para irrigação do parque, com estrutura composta por materiais reciclados e renováveis. Ainda, apresenta unidades para coleta de energia. Confira esse projeto inovador no link a seguir. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. Projeto constrói e inaugura casa 100% sustentável em cidade catarinense Desenvolvida na cidade de Blumenau, mediante uma parceria entre o Instituto SENAI de Tecnologia e Inovação, um instituto italiano, a FURB, e o Sinduscon, esta residência apresenta estratégias sustentáveis. Confira mais detalhes no vídeo a seguir. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://www.archdaily.com.br/br/922044/surge-um-hub-urbano-que-combina-tecnologia-sustentabilidade-e-tradicao https://www.youtube.com/embed/cqua3v9iiq0
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