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MITO A PARTIR DAS TEORIAS JUNGUIANAS PROF. DAVID PESSOA DE LIRA DISCIPLINA: Introdução à Literatura Greco-Romana LE1036 CURSO: Letras TURMA TB Conteúdo: 1. Classificação da Humanidade; 2. Teoria Junguiana sobre o Mito; 3. Conceitos. Jung divide a humanidade em 4 estágios: o homem primitivo, o homem antigo, o homem moderno e o homem contemporâneo (SEGAL, 1986, p. 104- 105). Ele analisa esses estágios a partir da percepção que o indivíduo possui do consciente. O ponto inicial do consciente é o ego (herói). O ego do homem primitivo é fraco. O consciente e o inconsciente não são totalmente distintos, havendo constantes projeções de si mesmo no mundo. Esse estágio não distingue deuses de seres humanos (participação mística) Classificação da Humanidade A diferença entre o homem primitivo e o homem antigo está no fato de que este possui um ego mais resistente. Este não se identifica mais com os deuses, mas com o mundo. Nesse estágio, o homem adora os deuses, mas não se identifica com eles (SEGAL, 1986, p. 105-106). O homem antigo é um homem religioso (homo religiosus). Isso pode incluir: egípcios, mesopotâmios, gregos, romanos, judeus e cristãos. No terceiro estágio, o homem moderno apresenta o ego mais independente, separando a si mesmo do inconsciente, mas rejeita o inconsciente. Ele rejeita, mas não elimina. Ele ainda se projeta para o mundo com superstições e crendices, perpetuando uma participação mística. Neste estágio, o homem projeta seu inconsciente em outras pessoas (SEGAL, 1986, p. 107). Ao mesmo tempo que ele projeta o inconsciente, sua dispensa consciente diz que isso se trata de um lado não racional. Onde o primitivo e o antigo reconhecem o lado irracional com deuses, heróis, anjos e demônios, o ateísmo do moderno nega o que ele projeta irracionalmente. O homem contemporâneo é consciente de seu lado não racional, mas ele não está satisfeito com sua vida racional escrupulosa. Ele não sabe como se reconectar com esse lado irracional, buscando uma certa transcendência. Diferente do homem moderno, o contemporâneo não rejeita o inconsciente (SEGAL, 1986, p. 110) – ele tem uma sensação de vazio, de falta de entendimento. Como o homem moderno, o contemporâneo é cortado do lado inconsciente, mas procura superar esse corte, e não sabe reconectar. 1. Para Jung, o mito é uma realidade profunda mais do que uma realidade última. A realidade existe dentro do homem. 2. Essa realidade se manifesta no cotidiano. 3. Para Jung, o mito tem várias funções, mas uma dela é revelar o inconsciente. Os mitos são revelações da pisique pré-consciente ou da psique coletiva. 4. Os motifs mitológicos, Jung chamou de mitologemas. Os arquétipos não são mitos em si (SEGAL, 1986, p. 97-98). Teoria Junguiana sobre o Mito 5. Os mitos descrevem o nascimento do ego, de um inconsciente primordial, por seu divino criador. 6. O herói é o desenvolvimento desse ego, que emerge do inconsciente. O herói mítico é macho, superman, Ubermensch (SEGAL, 1986, p. 98-99). Wojciech Siudmak, Genesis A divindade assume simbolicamente a dimensão do inconsciente que forma as coisas e de onde todas as coisas emanam. Segundo Jung, o assunto principal do mito é o próprio homem, mesmo que seja a criação do mundo. Para ele, os mitos mais ricos trabalham com personalidades, não necessariamente com o mundo. Os mitos são mitos heroicos, apresentando um quadro do comportamento de cada pessoa (SEGAL, 1986, p. 99). Conceitos 1. As personagens do mito simbolizam partes da psique, não pessoas. 2. O inconsciente é uma parte da psique da pessoa. 3. Essa parte é composta de indefinidos números de arquétipos. 4. Onde os instintos são físicos, os arquétipos são irredutivelmente psicológicos. 5. Os arquétipos são sentidos (significados) emocionais e intelectuais de ações. 6. Os instintos são reflexos de ação. 7. Embora sejam distintos, instintos e arquétipos são conectados. 8. O inconsciente coletivo é composto de instintos e arquétipos. 9. Os símbolos são meios pelos quais os arquétipos, desconhecidos, manifestam-se. 1. Os arquétipos são os mesmos para todos, os símbolos são culturais e contextuais. Onde os arquétipos são universais, os símbolos são particulares. 2. Existem tantos arquétipos quanto existem situações na vida. 3. Os arquétipos podem assumir formas disparatadas. 4. Muitas vezes uma determinada entidade pode ser símbolo e arquétipo simultaneamente. Os deuses astrais podem ser coletivamente arquétipos e individualmente símbolos. 5. A divindade em si é o símbolo da totalidade do inconsciente. 6. A divindade é impessoal. 7. Os arquétipos são emanações das personalidades. 8. O inconsciente produz o ego espontaneamente (criativo). 9. O ego esquece ou rejeita o inconsciente. O destino ou heimarmenē assume a ideia de compulsão astral, que Jung denomina de compulsão ou coerção da libido (símbolos da transformação 102, 644). Para Jung, quatro arquétipos são importantes: Persona Sombra Anima/ Animus Si-Mesmo, o Self. Exemplo: Tirésias é um símbolo do Velho Homem Sábio (cego), O Velho Homem Sábio é um caso, símbolo, do arquétipo do Si-Mesmo. A fêmea não simboliza a mãe do macho, mas a Anima da pessoa. O herói simboliza o ego de uma pessoa e seus pais simbolizam seu inconsciente. O Poimandrēs é uma formulação para a forma mais arcaica do pensar , uma atividade autônoma cujo objeto somos nós mesmos, que Carl Gustav Jung bastou designar esse arquétipo como do velho sábio ou do significado ou sentido (os arquétipos e inconsciente coletivo, 66, 79). Corp. Herm. 1: 1 Uma vez quando me veio uma reflexão acerca dos seres e se elevou o meu pensamento impetuosamente, enquanto os meus sentidos corporais eram possuídos, como os que são pesados de saciedade de comida ou de trabalho do corpo, eu pareci alguém enorme em medida ilimitada, passando a chamar o meu nome e me dizendo: o que queres ouvir e ver, e, tendo meditado, aprender e conhecer? 2 – Disse eu: Tu, então, quem és? – Eu, de fato, disse ele, sou o Poimandres, o Nous do Domínio Absoluto; sei o que queres, e coexisto contigo em todo lugar (tradução própria). O ser humano está em constante luta com a sua alma e seus demônios. O confronto com a sombra é obra do aprendiz enquanto que o confronto com a anima é obra-prima (os arquétipos e inconsciente coletivo, 60, 61). A sombra, amiúde, diz algo correto, que faz qualquer pessoa refletir e se indignar, mas ela procede de forma equivocada. O Homem passa por uma catábase do inconsciente para uma emergência consciente até uma meta de individuação no si- mesmo, encontrando- se em união com a divindade e restabelecendo a vida. HALL, Calvin S.; NORDBY, Vernon. Introdução à Psicologia. São Paulo: Cultrix, 2014. 122p. JUNG, C. G. (Carl Gustav). Memories, dreams, reflections. Recorded and edited by Aniela Jaffe. Rev. ed. translated from the German by Richard and Clara Winston. New York: Vintage Books, 1989. 430p. JUNG, C. G. Symbols of Transformation: An Analysis of the Prelude to a Case of Schizophrenia. 2. ed. 3. print. Translated by R. F. C. Hull. Princeton, N. J.: Princeton University Press, 1976. 1273p. (Bollingen Series XX). JUNG, Carl Gustav. Ab-reção, análise dos sonhos e transferência. 9. ed. 6. reimpr. Petrópolis: Vozes, 2017. 262p. (Obras completas de C. G. Jung, v.16/2, Psicoterapia). JUNG, Carl Gustav. Arquétipos e o inconsciente coletivo. 11. ed. 10. reimpr. Petrópolis: Vozes, 2020. 556p. (Obras completas de C. G. Jung, v.9). JUNG, Carl Gustav. Estudos alquímicos. 4. ed. 10. reimpr. Petrópolis: Vozes, 2019A. 455p. (Obras completas de C. G. Jung, v.13). JUNG, Carl Gustav. Psicologia e Alquimia. 6. ed. 10. reimpr. Petrópolis: Vozes, 2019B. 596p. (Obras completas de C. G. Jung, v.12). JUNG, Carl Gustav; KERÉNYI, Károly. Prolegomeni allo studio scientifico della mitologia. Traduzione italiana da A. Brelich. Torino: Boringhieri, 2012. 257p. SEGAL, Robert A. Poimandres as Myth: Schorlarly Theory and Gnostic Meaning. Berlin;New York; Amsterdam: Mouton de Gruyter, 1986. 214p. (Religion and reason; 33).
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