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PSICOLOGIA HOSPITALAR
O PAPEL DO PSICÓLOGO MEDIANTE O 
VIVER E MORRER NO HOSPITAL
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Olá!
Objetivo desta Aula
Nesta aula, você irá:
1- Entender a história da Medicina e da Psicologia;
2- Entender a importância do apoio psicológico mediante o morrer;
3- Identificar os diferentes sentimentos vividos pelo paciente terminal.
Introdução
O conceito de saúde e doença se modificou ao longo da história, o que também gerou mudanças nas diferentes
formas de olhar o indivíduo. A ideia que se tem hoje é do homem como um ser biopsicossocial, e é sobre esse
olhar que deve se pautar toda intervenção, seja ela médica ou psicológica.
O olhar e a escuta ao paciente favorecem sua inserção no processo de cura. Isto porque se entende que não basta
a disponibilidade da equipe de saúde quando o paciente não mais deseja lutar pela vida.
Lidar com a morte iminente não é tarefa fácil para o paciente, nem para a equipe. É neste sentido que a
Psicologia contribui, facilitando este processo, já tão naturalmente doloroso.
É sobre este assunto que trata esta aula. Bons estudos!
1 O papel do psicólogo mediante o viver e morrer no 
hospital
Para falar sobre a questão relacionada à doença e à morte na atualidade, é interessante entender como esses
conceitos perpassaram a nossa história, até chegarmos ao entendimento atual da saúde como um bem-estar
biopsicossocial, conforme nos aponta a Organização Mundial da Saúde.
O modo de pensar ocidental acerca dessa temática sofreu grande influência da cultura grega. Na Grécia antiga,
existia o pensamento mítico-poético, segundo a qual as forças divinas influenciavam nossas vidas.
Segundo esse pensamento, as questões relativas à saúde e à doença também estavam relacionadas aos desígnios
espirituais. Na Mitologia grega, a deusa Hygeia tinha o poder da cura, sendo representada pela serpente.
Com as mudanças sociopolíticas da Grécia, Hygeia passou a ser filha de Asclépio, o deus da cura, que era
representada por serpentes enroladas numa vara. Os rituais de cura envolviam a presença da serpente, que era
obrigatória porque significava uma divindade subterrânea com o poder de renovação da vida, em função de sua
troca constante de pele.
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Atenção:
Cabe lembrar que até hoje, no mundo todo, a serpente é utilizada como símbolo da Medicina.
2 Histórico da Medicina
Os médicos dessa época eram conhecidos como sendo os filhos de Asclépio. Dentre eles, encontramos
Hipócrates, maior representante da Medicina grega, considerado o “pai” da Medicina.
Hipócrates foi o criador do método científico na Medicina e das normas éticas essenciais para o exercício da
profissão com qualidade, além do juramento que é utilizado hoje nas formaturas de Medicina. Ele dizia que o
lugar do médico era na cabeceira do doente.
Nos princípios da Medicina propostos por Hipócrates, há uma grande ênfase ao bem-estar do indivíduo e aos
fatores ambientais que interferem no aparecimento das doenças.
Atenção:
De acordo com Capra, citado por Junior e Morato, “as doenças não são causadas por demônios ou forças
sobrenaturais. São fenômenos naturais que podem ser cientificamente estudados e influenciados por
procedimentos terapêuticos e pela judiciosa conduta da vida de cada indivíduo” (2009, p. 164).
3 Saúde como um fenômeno biopsicossocial
Com isso, percebe-se que Hipócrates, em sua época, já tinha uma visão da saúde como um fenômeno
biopsicossocial, e atribuía ao médico o papel de ajudar as pessoas, oferecendo todas as condições necessárias
para a sua cura.
Para ele, essa cura envolvia o equilíbrio entre as influências ambientais, o modo de vida e demais componentes
da natureza, tais como humores e paixões.
Outro nome na Medicina é Galeno. Ele foi o médico mais famoso em Roma por seus estudos de anatomia, que
traziam falsas deduções acerca do ser humano, já que as observações eram realizadas em animais.
Apesar das falsas deduções, seus estudos foram considerados como verdades por mais de mil anos quando, no
Renascimento, foi liberada a dissecação dos cadáveres humanos.
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4 Início da Medicina como ciência
4.1 Na idade média
Na Idade Média, muitas epidemias se instalaram, levando a um declínio da Medicina leiga, já que houve um
descrédito por parte da população, em função dessas grandes epidemias que se instalaram. A Medicina passa
então para a Igreja, sendo praticada pelos monges, dentro de seus mosteiros.
O título de “médico” era nesta época dado a quem possuía, além da formação acadêmica, uma posição social de
prestígio. Esses médicos, em vez de cuidar dos doentes, ficavam especulando sobre as doenças.
Esporadicamente, prestavam consultorias a preços elevados, mas não acompanhavam os casos, já que este
trabalho “braçal” era considerado inferior, comparado ao seu papel intelectual.
Este modelo de exercício da Medicina perdurou por mais de 500 anos, até que a Medicina leiga foi restabelecida,
a partir da proibição aos monges de exercê-la, pois estes infligiam as normas e saíam dos mosteiros para atender
aos doentes.
4.2 No Renascimento
A anatomia atingiu grande aceitação devido a explicação da circulação humana e o desenvolvimento do
microscópio.
Ressurgimento da Medicina
A Medicina, que entrara em decadência, só volta a ressurgir a partir do Renascimento (séculos XV e XVI). As
principais contribuições do Renascimento para a Medicina foi a liberação da dissecação de cadáveres, e
consequentemente, inúmeras descobertas sobre a anatomia humana. No início do século XVII, a Medicina foi
marcada pela descoberta de Harvey (1578-1657) sobre a circulação sanguínea e pelo descobrimento do
microscópio por Leeuwenhork. Os avanços não foram muitos neste século.
Os ensinamentos ainda seguiam os modelos clássicos, e os professores, bem como os médicos, eram em sua
maioria arrogantes, guiados pela vaidade e grandiosidade. No século XVIII, em função do conservadorismo,
houve o ápice do charlatanismo na Medicina. Este também foi um século em que não ocorreram grandes
avanços. As principais conquistas deste século foram relacionadas à publicação de Morgagni (1682-1771) sobre
a anatomia patológica, relacionando anormalidades anatômicas às doenças. Foi também neste século que Jenner
(1749-1823) descobriu a vacina da varíola.
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4.3 No século XIX
Rápidos avanços no século XIX
Já o século XIX foi marcado pelos rápidos avanços na Medicina, tais como a identificação de 21 novos tecidos e o
nascimento do estetoscópio, que é um instrumento muito utilizado até hoje nos exames clínicos.
Além disso, houve conflitos vocacionais de vários médicos renomados da época, que questionaram sua escolha.
Muitos abandonaram o exercício da Medicina.
Cabe destacar ainda, sobre o século XIX, a descoberta da anestesia e da necessidade de higienização como forma
de evitar infecções. Este século termina com a publicação de Freud, a interpretação dos sonhos, como tentativa
de dar conta não mais só do corpo, mas também da alma humana.
4.4 No século XX
O século XX tem como destaques:
· O médico de família;
· O investimento do Estado na área de saúde, criando sistemas que garantem acesso gratuito ao médico;
· A criação dos planos de saúde.
5 Início dos estudos científicos de Psicologia
Ainda no início do século XIX, o médico e fisiologista W. Wundt funda o primeiro Instituto de Psicologia
Experimental do mundo, dando início aos estudos científicos da Psicologia.
Após esse movimento, surgem outras escolas de pensamento na Psicologia, como o Funcionalismo representado
por W. James. Em seguida, o Behaviorismo, que tem como marca o comportamento como objeto de estudo, sendo
até hoje uma das grandes escolas da Psicologia.
Na área clínica, os métodos foram se ampliando, e novas correntes foram surgindo, como a Gestalt e o
Humanismo, que se opunham tanto à Psicanálise quanto ao Behaviorismo. Assim, a Psicologia clínica foi se
desenhando até a contemporaneidade.
6 O fazer da Psicologia e demais áreas da saúde
Tanto a Medicina quanto a Psicologia ampliaram seu modode entender a saúde, deixando de lado o olhar
limitado de corpo e doença, e desenvolvendo modos de levar em consideração não só a doença, mas aquele que
está por trás dela.
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A Psicologia passou a ter uma prática dentro da instituição hospitalar, em conjunto com toda uma equipe
multidisciplinar.
Em consequência dessa nova forma de atuação, a prática do psicólogo hospitalar enfatiza o sofrimento humano
em situação de crise e, pode até ter um caráter preventivo quando se dedica ao diagnóstico precoce dos
transtornos emocionais dos pacientes e seus familiares, decodificando as dificuldades encontradas por eles em
função da hospitalização e suas consequências.
O profissional de psicologia passa, então, a adequar sua intervenção, já que não se trata de psicoterapia, mas sim
de uma atenção psicológica. Sua atuação envolve o paciente, a família e os profissionais de saúde, intervindo nas
dimensões biopsicossociais do enfermo.
Atenção:
De acordo com Souza e Morato (2009, p. 165): “hoje ressaltamos que o fazer psicológico clínico envolve o
humano em sua singularidade e complexidade, atentando para a demanda que parte do sofrimento do paciente
que procura a instituição”.
7 O limite entre a vida e morte.
É na doença, no limite entre a vida e a morte, que a condição de finitude humana se revela e que (re)tira, como
profissionais de saúde, do lugar de suposto saber.
O hospital, por outro lado, é um lugar em que se está cuidado, acolhido e favorece nas pessoas adoecidas a
potencialização de todos os seus recursos para lutar e, se possível, recuperar-se. Quem trabalha com pacientes
com doenças graves, terminais, assiste ao extremo do sofrimento humano trazido pela doença aguda, em que a
dor e a morte são ameaças constantes. A doença, assim como o trauma quando ocorre de forma abrupta, pode
afastar e dificultar a capacidade do paciente para lidar com o problema.
É nesse momento que a atenção psicológica pode favorecer, facilitando a reflexão acerca da experiência vivida.
Ela pode ajudá-lo a encontrar algumas respostas, ressignificando sua experiência e tornando-o mais confiante,
participativo e colaborativo com seu tratamento.
8 Angústia como mecanismo de defesa
Freud também afirma que a angústia não só como a transformação da libido, mas também poderia servir como
mecanismo de defesa, em função dos perigos de ameaça à vida, e a considerou um dos problemas mais difíceis da
existência humana.
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Outro pensador, médico e psicoterapeuta existencialista, Viktor Frankl enfatiza a busca do sentido diante do
sofrimento extremo, acreditando ser o sofrimento um modo de crescimento e amadurecimento.
Frankl desenvolve sua perspectiva a partir de sua experiência no campo de concentração de Auschwitz, onde
suportou o sofrimento e encontrou nele um sentido. Frankl acredita que o homem pode encontrar caminhos e
respostas diante das situações, sendo responsável por essas escolhas e por sua vida.
Ele ressalta três possibilidades fundamentais que dão sentido à vida: o trabalho, o amor e o sofrimento. O
conceito de otimismo trágico de Frankl se baseia na ideia que o ser humano é capaz de permanecer otimista
diante das adversidades da existência, modificando de forma criativa as situações de sofrimento em algo positivo
ou construtivo.
Essa ideia de Frankl está diretamente relacionada ao conceito de resiliência, que vem sendo muito discutida na
Psicologia.
O que vem na próxima aula
Na próxima aula, você estudará sobre os assuntos seguintes:
· O apoio psicológico diante de um paciente com câncer;
· Os diferentes aspectos emocionais envolvidos no câncer;
CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
• Entendeu como a Medicina e a Psicologia se movimentaram através de sua existência e sua relação com 
a saúde e doença;
• Entendeu a importância de uma equipe multidisciplinar no atendimento ao paciente em estado grave e 
seus familiares;
• Aprendeu a importância da escuta psicológica como ferramenta de construção de uma existência a 
Saiba mais
KÜBER-ROSS, E. Sobre a morte e o morrer. Rio de Janeiro: Martins Fontes, 2008.
VIANNA A, PICCELLI, H. O estudante, o médico e o professor de medicina perante a morte e o
paciente terminal. Rev. Assoc. Med. Bras. [periódico na Internet], 44(1): 21-27.1998.
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• Aprendeu a importância da escuta psicológica como ferramenta de construção de uma existência a 
partir do sofrimento;
• Entendeu a necessidade do cuidado não só com o paciente, mas também com os cuidadores.
Referências
JUNIOR, W. C. e MORATO, H. T. P. Uma prática psicológica inclusiva em hospital psiquiátrico: do cuidado de ser
ao resgate da cidadania. In: MORATO, H. T. P, BARRETO, C. L. B. T. e NUNES, A. P. (org.s) Aconselhamento
psicológico numa perspectiva fenomenológica existencial: uma introdução. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
2009 (146-162).
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