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Falência Prof. Alexandre Assumpção Descrição A falência como meio de cobrança de créditos do devedor empresário, com a instauração de concurso de credores e liquidação judicial dos bens do falido. Propósito É fundamental para o profissional da área compreender o instituto da falência, sua dinâmica, sujeito passivo e pressupostos, bem como o desenvolvimento do processo falimentar e os efeitos da sentença de falência sobre o falido e os credores. Preparação Antes de iniciar os estudos, tenha à mão a Lei nº 11.101/2005 e o Código de Processo Civil. Objetivos Módulo 1 Princípios e pressupostos da falência – procedimento pré-falimentar Identificar os princípios e os pressupostos da falência. Módulo 2 Processo falimentar Reconhecer a sistemática do processo falimentar, os efeitos da sentença quanto aos falidos e credores, as modalidades do ativo e as regras para pagamento do passivo. Introdução Neste conteúdo, você terá noções sobre o conceito de falência, os princípios aplicáveis ao processo falimentar e os pressupostos para sua decretação, em especial a restrição do legislador quanto ao sujeito passivo (devedor), que só pode ser empresário ou sociedade empresária. Por outro lado, mesmo essa limitação não é seguida de modo uniforme, pois existem sociedades empresárias excluídas do referido instituto jurídico. Você também terá contato com os órgãos responsáveis pela administração da falência, com destaque para o administrador judicial. Por ser a falência um concurso de credores, os créditos devem ser habilitados e posteriormente classificados para efeito de pagamento. A falência tem finalidade liquidatória, isto é, a venda judicial dos bens do falido para pagamento de seus credores, observadas as preferências legais no pagamento. Caso a falência seja frustrada pela inexistência ou insuficiência de bens, ainda assim o falido será reabilitado e voltará ao exercício da empresa, pois o legislador não fez distinção entre o pagamento parcial e a ausência de qualquer pagamento. A sentença constitutiva de falência produz efeitos em relação à pessoa do falido, seus bens e contratos e aos atos praticados antes da falência. O falido não pode prosseguir no exercício de qualquer empresa e, caso seja autorizada a continuação excepcional do seu negócio, quem assumirá essa tarefa será o administrador judicial. Além disso, forma-se na falência uma massa falida, resultado da reunião dos credores e dos bens submetidos aos efeitos do instituto. A lei de falências não permite que o falido retome suas atividades durante o processo, ao contrário do que ocorria quando existia a concordata suspensiva. Assim, não há mais cessação dos efeitos da falência durante o processo. Com isso, os bens que forem arrecadados para formar a massa falida serão vendidos, preferencialmente em bloco, para que os credores possam ser pagos na ordem legal com o produto apurado. 1 - Princípios e pressupostos da falência – procedimento pré- falimentar Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car os princípios e os pressupostos da falência. Aspectos iniciais da falência O que é a falência? Neste vídeo, apresentaremos tanto o aspecto estático quanto o dinâmico da falência. Além disso, falaremos sobre os três princípios da falência. A falência pode ser compreendida sob dois aspectos: estático e dinâmico. Aspecto estático Este aspecto tem como foco a caracterização de falido (cf. art. 94 da Lei nº 11.101/2005). Em sentido estático, falência é a situação do devedor empresário ou sociedade empresária (cf. art. 1º da Lei nº 11.101/2005) que, sem relevante razão de direito, se encontra impontual nas condições previstas em lei ou que pratica determinados atos caracterizadores de um estado de falência (cf. art. 94, III, da Lei nº 11.101/2005). Nesse sentido, a lei identifica a pessoa do falido e sua condição, decorrendo efeitos a partir da decretação da falência por sentença. Aspecto dinâmico O segundo aspecto relaciona-se ao processo de falência e suas fases. Em sentido dinâmico, falência é um processo de execução coletiva (concurso de credores), em que os bens do devedor serão arrecadados (ficarão indisponíveis) para efeito de alienação judicial futura e pagamento aos credores, observadas as preferências legais. Nesta acepção, a falência tem função liquidatória (realização do ativo e pagamento do passivo) do patrimônio do falido sujeito a seus efeitos, operando-se um ajuste de contas com os credores que não lhes garante pagamento integral (cf. art. 114-A e art. 158, VI). Após a apresentação dessa breve noção de falência, você estudará seus princípios e pressupostos. Os primeiros são utilizados como orientação ao juiz para decidir nos casos em que a lei não regula expressamente determinadas relações patrimoniais (cf. art. 126) e fundamentam a redação de vários dispositivos. Os pressupostos são as condições subjetiva, objetiva e formalmente indispensáveis para a caracterização da falência. Princípios da falência São três os princípios da falência: (i) igualdade de tratamento entre os credores do falido; (ii) universalidade do concurso; (iii) indivisibilidade do juízo. Cada princípio tem suas exceções, que serão apresentadas sucintamente ao final da exposição. Princípio da igualdade Decorre do concurso universal que a falência instaura. Como o patrimônio do devedor está insolvente, já que a recuperação se revelou inviável ou foi negada, não há bens suficientes para o pagamento da totalidade das dívidas, impondo-se uma intervenção do legislador para regular o pagamento nessa situação. Os credores, mesmo sendo titulares de créditos de diversas origens e natureza (trabalhista, fiscal, com garantia real, sem garantia etc.), são tratados em pé de igualdade pela lei — par conditio creditorum, expressão latina utilizada para identificar o princípio. Um exemplo da igualdade que a lei estabelece é a necessidade de habilitação dos créditos ao processo, tanto por parte de credores por obrigações vencidas quanto vincendas (cf. arts. 9º, 77 e 115 da Lei nº 11.101/2005). Mesmo que o crédito tenha i t ó f lê i d t á vencimento após a falência, o credor estará na mesma condição de outro cujo crédito já é exigível. Ambos deverão participar do concurso em pé de igualdade para efeito de habilitação. Princípio da universalidade do concurso Também está associado ao concurso de credores falimentar, mas sua relação mais próxima é com a figura da massa falida. A falência compreende os bens e as obrigações do devedor, formando duas “massas”: a massa de bens (resultado da arrecadação) e a massa de credores (resultado da habilitação e verificação dos créditos). Há, no processo de falência, dois documentos importantíssimos para exame da composição da massa de bens (objetiva) e da massa de credores (subjetiva). São eles: o auto de arrecadação e o quadro-geral de credores (cf. arts. 110 e 18 da Lei nº 11.101/2005). Cabe ao administrador judicial a administração da massa falida e sua representação judicial (cf. art. 22, inciso III, alíneas “c” e “n”). Princípio da igualdade Tem relação com o juízo competente para sua decretação, ou seja, o juízo do lugar do principal estabelecimento do devedor ou filial situada no Brasil de sociedade estrangeira (art. 3º). Tal princípio denomina-se indivisibilidade (ou “unidade”) do juízo da falência e está previsto no art. 76 da Lei nº 11.101/2005, que afirma que o “juízo da falência é indivisível e competente para conhecer todas as ações sobre bens, interesses e negócios do falido”. Com isso, os credores deverão direcionar suas pretensões e recursos para o local onde se processa a falência, que serão apreciados pelo mesmo juiz. O juízo da falência tem, então, uma “força atrativa” sobre os credores (vis attractiva). Logo, as ações anteriores à decretação t f d d d i í i d t Como já mencionado, existem exceções para cada um dos princípios diante de disposições da própria Leinº 11.101 ou de outras leis. No caso do princípio da par conditio creditorum, os créditos tributários não estão sujeitos à habilitação na falência (cf. art. 187 do Código Tributário Nacional). A própria Lei nº 11.101/2005 estabelece uma ordem de pagamento aos credores (cf. arts. 83 e 84) que deve ser atendida pelo administrador judicial. Quanto ao princípio da universalidade, os bens impenhoráveis não são compreendidos na massa falida objetiva, sendo insuscetíveis de arrecadação (cf. art. 108, §4º). Ademais, existem ações que não são atraídas para o juízo da falência, como as causas trabalhistas e fiscais (cf. art. 76) e as ajuizadas por credores que demandarem quantia ilíquida (art. 6º, § 1º). Decretação da falência Pressupostos da falência No vídeo a seguir entenderemos mais sobre os três pressupostos da falência que a legislação exige e suas naturezas. propostas em face do devedor, a princípio, devem ter prosseguimento com o administrador judicial, que será intimado para representar a massa falida, sob pena de nulidade do processo. As novas ações serão propostas no juízo da falência, tanto aquelas reguladas pela Lei nº 11.101/2005, como as ações revocatória, de restituição, de impugnação ou de revisão de crédito admitido ao quadro de credores, e as ações reguladas por lei especial, exceto se a massa for autora ou litisconsorte ativo. Para ser decretada a falência, a legislação brasileira exige a concorrência de três pressupostos: Primeiro É de natureza subjetiva, isto é, refere-se ao sujeito passivo, a pessoa que sofre a falência e seus efeitos. Segundo É de natureza objetiva, diz respeito à causa que motiva o pedido de falência e sua decretação. Terceiro É o pressuposto formal, ou seja, o ato que deve ser praticado pelo juiz para dar início à falência — a sentença. O sujeito passivo da falência não é qualquer devedor, mas apenas o empresário ou a sociedade empresária (cf. art. 1º da Lei nº 11.101/2005). Tal restrição é histórica e remonta ao Código Comercial de 1850, primeira lei nacional a tratar da falência. Com isso, ainda não é possível, formalmente, que pessoas físicas ou jurídicas que não sejam empresários, de fato ou de direito, requeiram sua própria falência ou tenham ela requerida por seus credores. A reforma falimentar de 2020, promovida pela Lei nº 11.101/2005, não alterou esse aspecto. Contudo, o sistema falimentar brasileiro comporta exceções e de ambos os lados, seja para excluir certas sociedades empresárias da falência, seja para submeter pessoas naturais não empresárias. O art. 2º da Lei nº 11.101/2005 exclui várias entidades, a maioria de natureza empresarial, da aplicação dos institutos da falência, da recuperação judicial e da recuperação extrajudicial. São elas: Empresa pública. Sociedade de economia mista. Instituição financeira pública ou privada. Cooperativa de crédito. Consórcio. Entidade de previdência complementar. Sociedade operadora de plano de assistência à saúde. Sociedade seguradora. Sociedade de capitalização. Outras entidades legalmente equiparadas às anteriores. Todas essas entidades listadas, salvo as cooperativas de crédito, estão sujeitas ao regime das sociedades empresárias, mas por previsão legal não se submetem aos institutos de direito falimentar e sim a procedimentos de liquidação administrativa (extrajudicial) previstos em leis próprias. Cabe consignar a legitimidade das cooperativas médicas operadoras de seguro-saúde para os institutos da Lei nº 11.101/2005 em razão da autorização contida no art. 6º, § 13. Por sua vez, a Lei nº 11.101/2005, submete à falência pessoas naturais, sejam ou não empresárias, em todos os seus efeitos. Trata-se do sócio de responsabilidade ilimitada presente em certos tipos de sociedades empresárias, como os sócios da sociedade em nome coletivo (cf. art. 1.039 do Código Civil), os sócios comanditados da sociedade em comandita simples (cf. art. 1.045 do Código Civil) ou os sócios da sociedade em comum (cf. art. 990 do Código Civil). De acordo com os arts. 81 e 190 da Lei nº 11.101/2005, a decretação da falência de sociedade com sócios ilimitadamente responsáveis também acarreta a falência destes, que ficam sujeitos aos mesmos efeitos jurídicos produzidos em relação à falida. A causa da decretação da falência, pressuposto objetivo, está relacionada à impontualidade (falta de pagamento) ou à prática de atos ruinosos ou fraudulentos por parte do devedor, denominados “atos de falência”. A impontualidade na falência tem uma conotação especial e bem limitada. Não se trata apenas de deixar o devedor de pagar qualquer dívida, de qualquer valor ou representada em qualquer documento. De acordo com o caput do art. 94, em duas situações se verifica a impontualidade falimentar. Vejamos as situações a seguir! Primeira situação O devedor, sem relevante razão de direito (imotivadamente), não paga, no vencimento, obrigação líquida (aquela determinada quanto ao objeto e certa quanto à sua existência, que dispensa liquidação para apuração do seu valor ou da prestação) materializada em título ou títulos executivos protestados cuja soma ultrapasse o equivalente a 40 salários mínimos na data do pedido de falência. Com isso, não basta ser credor, é preciso apresentar um documento que, por lei, seja considerado título executivo (cf. arts. 515 e 784 do Código de Processo Civil — Lei nº 13.105/2015, que enumeram os títulos executivos), com o valor mínimo previsto, ou em que a soma dos títulos atinja esse valor, e que os títulos estejam protestados por falta de pagamento, constando dos respectivos instrumentos o fim falimentar a que se destina o protesto, exigência contida no art. 94, § 3º (“em qualquer caso”, o pedido de falência deverá estar acompanhado da certidão do protesto falimentar ou especial). Segunda situação Alternativamente, configura-se a impontualidade falimentar se o credor já propôs uma ação de cobrança de título executivo em face do devedor, mas não obteve o pagamento. É a situação do devedor empresário ou sociedade empresária que, executado por qualquer quantia líquida, não paga, não deposita e não nomeia à penhora bens suficientes dentro do prazo legal (cf. art. 523 ou art. 829 do CPC). Tais fatos evidenciam uma insolvência presumida e permitem ao credor suspender a ação de execução e requerer a falência. A falência, alternativamente, pode ser requerida e decretada, ainda que o crédito não esteja vencido e sem necessidade de valor mínimo ou protesto por falta de pagamento, caso haja prática de atos pelo empresário individual ou pelos administradores da sociedade empresária denominados “atos de falência”, relacionados no art. 94, inciso III. São práticas fraudulentas, ilícitas e muitas delas criminosas, com o intuito de arruinar o patrimônio, lesar credores ou fugir à cobrança. Cabe ao credor descrever tais práticas, juntando-se as provas que houver e especificando as que serão produzidas (art. 94, § 5º). Veja os atos de falência. Proceder à liquidação precipitada de seus ativos ou lançar mão de meio ruinoso ou fraudulento para realizar pagamentos. Realizar ou, por atos inequívocos, tentar realizar negócio simulado ou alienação de parte ou da totalidade de seu ativo a terceiro, credor ou não, com o objetivo de retardar pagamentos ou fraudar credores. Transferir estabelecimento a terceiro, credor ou não, sem o consentimento de todos os credores e sem ficar com bens suficientes para solver seu passivo. Simular a transferência de seu principal estabelecimento com o objetivo de burlar a legislação ou a fiscalização ou para prejudicar credor. Dar ou reforçar garantia a credor por dívida contraída anteriormente sem ficar com bens livres e desembaraçados suficientes para saldar seu passivo. Liquidação Precipitada Negócio Simulado ou alienação Transferência de estabelecimento Simulação de transferência Reforço de garantia Ausência sem representante Ausentar-se sem deixar representantehabilitado e com recursos suficientes para pagar os credores, abandonar estabelecimento ou tentar ocultar-se de seu domicílio, do local de sua sede ou de seu principal estabelecimento. Deixar de cumprir, no prazo estabelecido, obrigação assumida no plano de recuperação judicial. É importante observar que a Lei nº 11.101 ressalva a possibilidade de não configurar ato de falência se alguma das condutas descritas nas alíneas do inciso III estiver prevista em plano de recuperação judicial e, com base nele, for executada após sua homologação e concessão da recuperação. Ademais, a situação da alínea “g” não configura um ato de falência em sentido técnico, pois não faz sentido conceber que o plano de recuperação preverá o descumprimento de obrigações, além de a conduta estar relacionada necessariamente com a impontualidade. Quanto ao pressuposto formal, somente se instaura o estado de falência a partir da sentença do juiz, que produzirá efeitos a partir da segunda fase ou período de informação (confira o conteúdo dessa decisão e as providências determinadas no art. 99 da Lei nº 11.101/2005). Com isso, percebe-se que o juiz não pode iniciar de ofício (por conta própria) o processo de falência. Sempre será necessário um requerimento feito pelo credor ou por outras pessoas às quais a lei confere legitimidade (art. 97). Têm legitimidade para requerer a falência: Espólio do empresário individual — o cônjuge sobrevivente, qualquer herdeiro do devedor ou o inventariante; devendo ser observado o tempo máximo de 1 (um) ano da morte do devedor (art. 96, § 1º). Sociedade empresária, sócio, na forma da lei ou do ato constitutivo da sociedade. Qualquer credor. O credor empresário para requerer a falência de outro empresário deverá apresentar certidão do Registro Público de Empresas que comprove a regularidade de suas atividades. Já o credor sem domicílio no Brasil Atraso ou omissão no prazo deverá prestar caução relativa às custas e ao pagamento da indenização em caso de eventual denegação do pedido com dolo (cf. art. 97, §§ 1º e 2º). Também é possível que a falência seja decretada a partir de um pedido feito pelo devedor, instituto conhecido como autofalência. Nesse caso, “o devedor em crise econômico-financeira que julgue não atender aos requisitos para pleitear sua recuperação judicial deverá requerer ao juízo sua falência, expondo as razões da impossibilidade de prosseguimento da atividade empresarial” (cf. art. 105, que contém a relação de documentos que deve acompanhar o requerimento). Embora pareça, a priori, ser dever do falido requerer sua falência quando verificar a irreversibilidade de sua crise, não existe nenhuma sanção antes ou após a decretação da falência para o devedor que, deliberadamente, retardar esse pedido. Procedimento pré-falimentar Entenda neste vídeo mais sobre as fases do procedimento pré- falimentar: fase preliminar, fase de informação e fase de liquidação. O procedimento falimentar de liquidação dos bens do empresário individual, que também se aplica à sociedade empresária, pode ser dividido para fins didáticos em três fases, denominadas de acordo com o objetivo de cada uma delas: fase preliminar, com o escopo de aferir a presença dos pressupostos objetivo e subjetivo da falência; fase de informação ou de instrução, visando à formação da massa falida (objetiva e subjetiva) e à apuração de responsabilidade penal do falido; e fase de liquidação, com a finalidade de realizar o ativo e pagar o passivo de acordo com a ordem de preferência legal. A fase preliminar ou pré-falimentar se inicia com o requerimento de falência, seja ele feito pelo credor (art. 97) ou pelo próprio devedor (art. 105) e termina com a decretação da falência (art. 99). Caso a decisão seja pelo indeferimento (sentença denegatória), o processo se encerra com essa decisão, dela cabendo o recurso de apelação (art. 100). O requerimento de falência deverá estar instruído com o título executivo acompanhado da certidão do protesto falimentar, observando-se que, se o credor se utilizar de mais de um título executivo, o valor total deverá superar 40 salários mínimos. O mesmo referencial será utilizado em relação aos títulos protestados (art. 94, § 3º). Resumindo Se o pedido estiver fundado na execução ou cumprimento de sentença frustrado, será instruído com certidão expedida pelo juízo em que se processa a execução (art. 94, § 4º). Caso o credor aponte a prática de atos de falência, deverá descrever os fatos que a caracterizam, juntando- se as provas que houver e especificando-se as que serão produzidas (art. 94, § 5º). É na fase preliminar que o devedor tem a oportunidade de apresentar defesa no prazo de 10 dias, juntando, se quiser, as provas para que o juiz não decrete a falência. No prazo da contestação, o devedor poderá depositar o valor correspondente ao total do crédito, acrescido de correção monetária, juros e honorários advocatícios, impedindo a decretação da falência (“depósito elisivo”), exceto se o pedido tiver fundamento na prática de atos de falência (cf. art. 98 da Lei nº 11.101/2005). Se o devedor houver apresentado contestação e efetuado o depósito elisivo, o juiz deverá apreciar suas alegações e, se as acatar, determinará o levantamento do valor. Caso as alegações sejam rejeitadas ou não tenham sido apresentadas provas para refutar os argumentos e provas apresentadas pelo requerente, esse levantará o depósito. Cabe ressaltar a possibilidade de o devedor requerer sua recuperação judicial no prazo de 10 dias, ou seja, no prazo da contestação. O pedido suspenderá a tramitação do processo de falência até a decisão sobre a recuperação judicial (art. 95). Certas matérias são consideradas relevantes para impedir a decretação da falência quando o fundamento for a impontualidade e, caso as alegações do devedor fiquem comprovadas, o juiz deverá proferir uma decisão de improcedência do pedido. Elas estão arroladas no caput do art. 96. São elas: I. falsidade de título; II. prescrição da pretensão à execução; III. nulidade de obrigação ou de título; IV. pagamento da dívida; V. qualquer outro fato que extinga ou suspenda obrigação ou não legitime a cobrança de título; VI. vício em protesto ou em seu instrumento (cf. Súmula nº 361 do STJ); VII. apresentação de pedido de recuperação judicial no prazo da contestação; VIII. cessação das atividades empresariais do devedor mais de 2 anos antes do pedido de falência, comprovada por documento hábil do Registro Público de Empresas, o qual não prevalecerá contra prova de exercício posterior ao ato registrado. Não havendo realização de depósito elisivo ou se este não for “completo”; se o devedor ficar inerte após ter sido citado; ou se as alegações apresentadas na contestação forem rejeitadas, o juiz decretará a falência sem necessidade de aferição do patrimônio do devedor, já que o sistema falimentar brasileiro não exige tal comprovação. Encerra-se com a decisão judicial a primeira fase do processo. Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Das entidades apresentadas a seguir, assinale a única que se submete às disposições da Lei nº 11.101/2005. A Sociedade empresária Parabéns! A alternativa A está correta. A única alternativa correta é a sociedade empresária, de acordo com o art. 1º da Lei nº 11.101/2005. As demais alternativas apresentam entidades excluídas da aplicação da Lei nº 11.101/2005, de acordo com o art. 2º e seus incisos. Questão 2 Em relação às ações que tramitam fora do juízo da falência, assinale a única alternativa correta. B Sociedade de economia mista C Consórcio D Empresa pública E Entidades de previdência complementar A Ações trabalhistas, revocatória, de impugnação de crédito e aquelas não reguladas na Lei nº 11.101/2005 em que o falido figurar como autor ou litisconsorte ativo. B Ações trabalhistas, revocatória e aquelas não reguladas na Lei nº 11.101/2005 em que o falido figurarcomo parte ou litisconsorte. C Ações de restituição, fiscais e aquelas não reguladas na Lei nº 11.101/2005 em que o falido figurar como parte ou litisconsorte passivo. Parabéns! A alternativa D está correta. De acordo com o art. 76, caput, da Lei nº 11.101/2005, somente esta alternativa está correta. As demais alternativas são falsas por incluírem ações que são processadas perante o juízo da falência. 2 - Processo falimentar Ao �nal deste módulo, você será capaz de reconhecer a sistemática do processo falimentar, os efeitos da sentença quanto aos falidos e credores, as modalidades do ativo e as regras para pagamento do passivo. Fase de informação ou de instrução D Ações revocatórias, fiscais e aquelas não reguladas na Lei nº 11.101/2005 em que o falido figurar como autor ou litisconsorte ativo. E Ações fiscais, de impugnação de crédito e aquelas não reguladas na Lei nº 11.101/2005 em que o falido figurar como autor ou litisconsorte passivo. Informação da falência No vídeo a seguir explicaremos mais sobre a fase de informação ou de instrução e suas características, a primeira na decretação de falência. A fase de informação ou de instrução é a primeira após a decretação da falência e a segunda do processo. Nesse momento serão produzidos os efeitos da falência em relação aos credores e ao devedor, incluindo os sócios de responsabilidade ilimitada da sociedade falida. 1. Exemplos de efeitos da sentença de falência em relação aos credores: 1.1. Suspensão do curso das execuções anteriormente iniciadas contra o devedor (art. 6º). 1.2. Suspensão da fluência dos juros (art. 124). 1.3. Vencimento antecipado das dívidas do falido (art. 77). 1.4. Necessidade de habilitação no processo para os créditos não relacionados pelo devedor (art. 7º, § 1º). 2. Exemplos de efeitos em relação ao falido: 2.1. Desapossamento dos seus bens. 2.2. Perda do direito de administração de seu negócio (art. 103). 2.3. Inabilitação para o exercício de qualquer atividade empresarial até a extinção de suas obrigações (art. 102). Embora a Lei nº 11.101/2005 empregue o termo “sentença” em diversas ocasiões (ex: arts; 10, § 10; 69-D, parágrafo único; 99; 107; e 122), e, em outras ocasiões, “decisão”, como no art. 100, o correto é o emprego da expressão “decisão de falência” e não “sentença de falência”. Ao contrário da sentença a que se refere o art. 156, aqui não há encerramento do processo, apenas da fase preliminar; a decisão encerra uma fase e inaugura outra. Trata-se de decisão interlocutória de mérito de natureza constitutiva, criando novas relações jurídicas e efeitos para o devedor, credores e terceiros. Por essa razão e em consonância com o art. 1.015, II, do CPC, o legislador estabeleceu que o recurso dessa “decisão” é o agravo. A fase processual é denominada de informação ou de instrução, pois nela ocorrem os procedimentos fundamentais para a formação da massa falida, ou seja, a habilitação e a verificação dos créditos pelo administrador judicial (para formar a massa de credores ou massa falida subjetiva) e a arrecadação dos bens, livros e documentos (para formar a massa de bens ou massa falida objetiva). Nessa fase, o administrador judicial examinará a escrituração do falido e de seus atos anteriores e posteriores à decretação da falência para instruir eventuais medidas civis e penais de apuração de crimes falimentares e para investigar atos fraudulentos praticados antes da falência em conluio do devedor com terceiros, passíveis de revogação (cf. art. 82 e art. 22, III, alíneas “b” e “e”). Trata-se de uma das mais importantes atribuições do administrador judicial nessa fase do processo falimentar. Logo, assinar o termo de compromisso é efetuar a arrecadação dos bens e documentos e a avaliação dos bens, separadamente ou em bloco, no local em que se encontrem, requerendo ao juiz, para esses fins, as medidas necessárias (art. 108). Os bens arrecadados ficarão sob a guarda do administrador judicial ou de pessoa por ele escolhida, sob responsabilidade daquele, podendo o falido ou qualquer de seus representantes ser nomeado depositário dos bens. O falido poderá acompanhar a arrecadação e a avaliação, que incluirá o produto dos bens penhorados ou por outra forma apreendidos em outros processos, cumprindo ao juiz deprecar, a requerimento do administrador judicial, às autoridades competentes, determinando sua entrega (art. 108, § 3º). A arrecadação não incluirá os bens impenhoráveis relacionados no art. 833 do CPC nem os bens integrantes de patrimônios de afetação, constituídos para cumprimento de destinação específica (cf. art. 108, § 4º e art. 119, IX). Tais bens, inclusive direitos e obrigações, permanecerão separados dos do falido até o advento do respectivo termo ou até o cumprimento de sua finalidade, ocasião em que o administrador judicial arrecadará o saldo a favor da massa falida ou inscreverá na classe própria o crédito que contra ela remanescer. O documento, assinado pelo administrador judicial, que prova a arrecadação é denominado auto de arrecadação, composto, de acordo com o art. 110, pelo inventário e pelo respectivo laudo de avaliação dos bens. Deverão ser descritos no inventário: I. Os livros obrigatórios e os auxiliares do devedor, designando-se o estado em que se acham, número e denominação de cada um, páginas escrituradas, data do início da escrituração e do último lançamento, e se os livros obrigatórios estão revestidos das formalidades legais (cf. artigos 1.181 e 1.183 do Código Civil). II. Dinheiro, papéis, títulos de crédito, documentos e outros bens da massa falida. III. Os bens da massa falida em poder de terceiro, a título de guarda, depósito, penhor ou retenção. IV. Os bens indicados como propriedade de terceiros ou reclamados por eles, mencionando-se essa circunstância. Embora a massa falida tenha disponibilidade dos bens arrecadados, inclusive de terceiros, estes poderão, com base no art. 85, pleitear mediante ação própria sua restituição, ainda que tenham sido alienados pela massa, caso em que terão direito à restituição em dinheiro (art. 86). Créditos no processo falimentar No vídeo a seguir falaremos sobre os tipos de créditos na falência. Como o credito extraconcursais e os concursais. Os credores deverão habilitar seus créditos (cf. arts. 7º, § 1º, e 115) no concurso nessa fase do processo falimentar, exceto se o devedor tiver informado na relação de credores apresentada com o requerimento de falência ou após a decretação (cf. art. 99, III, e 105, II). Tanto na relação de credores quanto na habilitação do credor (cf. art. 9º, II) o crédito deverá estar classificado considerando as classes previstas no art. 83. Como exceção ao princípio da igualdade de tratamento (par conditio creditorum), a Lei nº 11.101/2005 estabelece uma ordem de pagamento entre os credores do falido, denominados concursais. Os credores cujos créditos surgirem após a decretação da falência, em razão de obrigações assumidas pela massa falida ou despesas do processo ou originados de recuperação judicial convolada em falência, por exemplo, são considerados extraconcursais (cf. art. 84), pagos preferencialmente em relação aos créditos concursais. Créditos extraconcursais A classificação dos créditos na falência foi alterada em 2020 com a Lei nº 14.112, que extinguiu as classes dos créditos com privilégio especial e geral (os incisos IV e V do art. 83 foram revogados) e promoveu várias alterações na ordem de pagamento dos créditos extraconcursais. Atualmente, ela obedece à seguinte ordem: As quantias necessárias para o pagamento antecipado de despesas indispensáveis à administração da falência, inclusive na hipótese de continuação provisória das atividades do falido e, tão logo haja disponibilidade em caixa, os créditos trabalhistas de natureza estritamente salarial vencidos nos 3 meses anteriores à decretação da falência, até o limite de 5 salários mínimos por trabalhador (cf. arts.150 e 151). Pagamento antecipado O valor efetivamente entregue ao devedor em recuperação judicial pelo financiador, decorrentes de contratos autorizados pelo juiz para o financiamento da empresa do devedor e as despesas de reestruturação ou de preservação do valor de ativos, garantidos pela oneração ou pela alienação fiduciária de bens e direitos, seus ou de terceiros, pertencentes ao ativo não circulante. Os créditos em dinheiro objeto de restituição em dinheiro (cf. art. 86). As remunerações devidas ao administrador judicial e aos seus auxiliares, aos reembolsos devidos a membros do comitê de credores, e aos créditos derivados da legislação trabalhista ou decorrentes de acidentes de trabalho relativos a serviços prestados após a decretação da falência. As obrigações resultantes de atos jurídicos válidos praticados durante a recuperação judicial ou após a decretação da falência. As quantias fornecidas à massa falida pelos credores. Valor entregue ao devedor Créditos em dinheiro Remunerações devidas Obrigações resultantes Quantias fornecidas Despesas com arrecadação As despesas com arrecadação, administração, realização do ativo, distribuição do seu produto e custas do processo de falência. As custas judiciais relativas às ações e às execuções em que a massa falida tenha sido vencida. Os tributos relativos a fatos geradores ocorridos após a decretação da falência. Créditos concursais Vejamos a ordem que os créditos concursais obedecem: Os créditos trabalhistas, com preferência até o limite de 150 salários mínimos por credor, e os decorrentes de acidentes de trabalho, sem limite. O excedente do crédito trabalhista é incluído na classe dos créditos quirografários (art. 83, VI, c). Créditos que possuem bens do patrimônio do devedor ou de terceiro vinculados a seu pagamento, até o limite do valor do bem gravado. Para efeito de inserção do crédito nessa classe, será considerado como valor do bem objeto de garantia real a importância efetivamente arrecadada com sua venda (valor líquido), ou, no caso de alienação em bloco da empresa ou de estabelecimento, o valor de avaliação do bem individualmente Custas judiciais Tributos relativos Créditos trabalhistas Créditos com garantia real considerado. A parte do crédito excedente a esse limite será incluída na classe dos créditos quirografários (art. 83, VI, b). Créditos tributários, independentemente da sua natureza e tempo de constituição, excetuadas as multas tributárias, desde que o fato gerador seja anterior ao processo de falência. São considerados extraconcursais os créditos tributários decorrentes de fatos geradores ocorridos no curso do processo de falência (cf. art. 188 do Código Tributário Nacional e art. 84, V, da Lei nº 11.101/2005). Créditos sem qualquer garantia real ou preferência quanto ao recebimento, bem como o saldo dos créditos trabalhistas e com garantia real. As multas contratuais e as penas pecuniárias por infração das leis penais ou administrativas, inclusive as multas tributárias. Créditos subordinados previstos em lei ou em contrato e os créditos dos sócios e dos administradores sem vínculo empregatício cuja contratação não tenha observado as condições estritamente comutativas e as práticas de mercado. Créditos tributários Créditos quirografários Multas contratuais Créditos subordinados Os juros vencidos após a decretação da falência, caso a massa falida suporte o pagamento dos créditos subordinados. Em razão da extinção dos créditos com privilégio especial e geral, o art. 83, § 6º, determinou que os créditos integrarão a classe dos créditos quirografários quando o privilégio estiver previsto em lei especial (por exemplo, art. 707 do Código Civil). Fase de liquidação Após o término da arrecadação dos bens, inicia-se a fase de liquidação. No vídeo a seguir explicaremos alguns detalhes sobre essa fase no processo falimentar. Logo após o término da arrecadação dos bens, com a juntada do respectivo auto ao processo de falência, encerra-se a fase de instrução e inicia-se a última, a de liquidação (art. 139). A liquidação compreende a realização do ativo arrecadado por meio de sua alienação judicial para o pagamento aos credores e finda com a sentença de encerramento da falência. É possível a liquidação antecipada de bens nas situações descritas nos artigos 111 e 113, a saber: (i) aquisição ou adjudicação pelos credores, após a arrecadação do bem, pelo valor da avaliação, atendida a regra de classificação e preferência entre eles e (ii) alienação de bens perecíveis, deterioráveis, sujeitos à considerável desvalorização ou que sejam de conservação arriscada ou dispendiosa. Realização do ativo e pagamento do passivo Juros vencidos A venda judicial dos bens arrecadados observa uma ordem legal que privilegia (i) a alienação da empresa, com a venda de seus estabelecimentos em bloco, passando pela (ii) venda isolada ou parcial de filiais ou unidades produtivas do devedor, (iii) alienação em bloco dos bens que integram cada um dos estabelecimentos, até chegar à (iv) alienação dos bens individualmente considerados (cf. art. 140 da Lei nº 11.101/2005). Entretanto, para otimizar o valor dos ativos na alienação judicial, é possível que a ordem seja afastada caso seja melhor para a massa falida, por exemplo, a venda de um bem separado ou a alienação em bloco dos bens. Em qualquer modalidade de alienação dos ativos, conjunta ou separada, inclusive da empresa ou de suas filiais, o bem ou o conjunto de bens objeto da alienação estará livre de qualquer ônus que o grave (hipoteca, penhor, usufruto etc.) e não haverá sucessão do arrematante nas obrigações do devedor, inclusive as de natureza tributária ou trabalhista. Essa regra, prevista no artigo 141 da Lei nº 11101, de 2005, visa facilitar a obtenção de um valor maior que o de avaliação na venda judicial, pois o arrematante não terá que arcar com nenhum pagamento ao credor do falido. Entretanto, haverá sucessão para o arrematante se esse for sócio da sociedade falida ou de sociedade controlada pelo falido; parente, em linha reta ou colateral até o quarto grau, consanguíneo ou afim, do falido ou de sócio da sociedade falida; ou identificado como agente do falido com o objetivo de fraudar a sucessão. O artigo 142 prevê duas modalidades ordinárias de alienação: 1. Leilão, que pode ser presencial, remoto ou eletrônico e híbrido. 2. Processo competitivo organizado, a ser autorizado pelos credores, promovido por agente especializado e de reputação ilibada, cujo procedimento deverá ser detalhado em relatório anexo ao plano de realização do ativo apresentado pelo administrador judicial (cf. art. 99, § 3º). Antes da reforma da Lei nº 11.101/2005, em 2020, eram previstos a venda por propostas e o pregão como modalidades de alienação. É admissível outra modalidade (extraordinária) de alienação, mas precisa ser aprovada pelos credores em assembleia pelo quorum de dois terços dos créditos presentes à assembleia (cf. arts. 46, 142, V, 144 e 145). Em qualquer modalidade de alienação devem ser observadas as seguintes regras (cf. arts. 142 e 143): Os bens serão alienados ainda que o preço de mercado seja desfavorável, ou seja, o valor provável a ser apurado será inferior ao de avaliação. O administrador judicial poderá contratar, pela massa falida, a prestação de serviços de terceiros como consultores, corretores e leiloeiros. A alienação deverá ocorrer no prazo máximo de 180 dias, contado da data da juntada do auto de arrecadação (cf. art. 99, § 3º). O lance não estará sujeito à aplicação do conceito de preço vil previsto no artigo 891, parágrafo único do CPC, ou seja, o preço inferior ao mínimo estipulado pelo juiz e constante do edital da alienação; não tendo sido fixado preço mínimo, vil é o preço inferior a 50% do valor da avaliação. Cabe esclarecer que admissão do “preço vil” somente será possível em terceira chamada para o leilão(cf. art. 142, § 3º-A, III). Em qualquer modalidade de alienação, o Ministério Público e as Fazendas Públicas serão intimados por meio eletrônico, sob pena de nulidade. Quaisquer credores, o devedor ou o Ministério Público poderão apresentar impugnações, no prazo de 48 horas da arrematação, hipótese em que os autos serão conclusos ao juiz, que, no prazo de 5 dias, decidirá sobre as impugnações e, julgando-as improcedentes, ordenará a entrega dos bens ao arrematante, respeitadas as condições estabelecidas no edital. Os parágrafos 1º a 4º do art. 143 da Lei nº 11.101/2005 estabelecem outras regras sobre as impugnações. A massa falida está dispensada da apresentação de certidões negativas para a realização das alienações. Como já ressaltado, a solução do passivo deverá observar a ordem de pagamento fixada nos artigos 84 e 83, pois os credores se sub-rogam no produto da realização do ativo consoante a ordem neles estabelecida, respeitadas as decisões judiciais que determinam reserva de importâncias (cf. art. 149). Encerramento da falência Fim da falência e seus efeitos No vídeo a seguir falaremos sobre o encerramento da falência e finalização do processo e seus possíveis efeitos. Reabilitação do falido em razão da extinção de suas obrigações Após o encerramento da liquidação dos bens do falido, com o pagamento aos credores de acordo com a ordem dos arts. 84 e 83 (créditos extraconcursais e, em seguida, créditos concursais), o administrador judicial deve tomar os preparativos para a finalização do processo, eis que a finalidade liquidatória da falência já foi atingida. Isso não significa que todos os credores receberam seus créditos, mas que o ativo apurado do falido foi integralmente realizado. De acordo com os arts. 154 e 155 da Lei nº 11.101/2005, as providências finais e prévias à sentença de encerramento são: (i) julgamento das contas do administrador judicial, em processo paralelo ao da falência, e (ii) apresentação do relatório final pelo mesmo administrador. Atenção! Nesse relatório final, o administrador judicial indicará o valor do ativo e o do produto de sua realização, o valor do passivo e o dos pagamentos feitos aos credores, e especificará justificadamente as responsabilidades com que continuará o falido. Após o cumprimento dessas providências, a falência será encerrada por sentença (cf. art. 156). A ressalva acima no relatório do administrador judicial é importante caso tenham decorridos 3 anos da decretação da falência sem que todo o ativo tenha sido liquidado. Nessa situação, o processo falimentar deverá ser encerrado, mas os bens arrecadados serão destinados ao pagamento dos credores não satisfeitos, não podendo o falido (já reabilitado) deles dispor livremente ou onerá-los (cf. art. 158, V). Percebe-se que o encerramento da falência, por si só, não extingue as obrigações do falido, pois existem bens que não foram liquidados e credores aguardando pagamento. Ao contrário, se todo o ativo foi liquidado, o art. 158, VI, da Lei nº 11.101/2005 prevê que o falido pode requerer a extinção de suas obrigações ao juiz mesmo sem ter pago a todos os seus credores, sendo o encerramento da falência a causa motivadora para sua reabilitação. Outra hipótese que pode ensejar a reabilitação e a de pagamento parcial, que ocorre quando, após realizado todo o ativo, houver pagamento de mais de 25% dos créditos quirografários, facultado ao falido o depósito da quantia necessária para atingir a referida porcentagem se para isso não tiver sido suficiente a integral liquidação do ativo. O produto da realização do ativo foi suficiente para satisfazer integralmente o crédito dos credores extraconcursais e daqueles das três primeiras classes da ordem do art. 83 e, na classe dos quirografários, o pagamento foi de mais de um quarto do valor. Com isso, o falido está desobrigado de pagar o restante aos credores quirografários e de pagar qualquer valor aos credores das demais classes do artigo 83, sendo reabilitado para retomar sua empresa com a sentença de encerramento, que declarará a extinção de suas obrigações (art. 158, II). Saiba mais A extinção das obrigações do falido com efeito de reabilitação — retomada do exercício da empresa — só se aplica ao empresário individual ou ao sócio de responsabilidade ilimitada da sociedade falida, e ambos são pessoas naturais. Essa limitação decorre do fato de a sociedade empresária ser dissolvida com a decretação da falência e extinta com seu encerramento da liquidação (cf. art. 1044 do Código Civil: “A sociedade se dissolve [...] se empresária, também pela declaração da falência” e arts. 206, II, b, e 219, I, ambos da Lei nº 6.404/1976). Caso nem a situação de pagamento parcial seja atingida ao final da liquidação, ainda assim será possível a extinção das obrigações com o encerramento da falência. Isso porque a reforma legislativa de 2020 aboliu a prescrição extintiva das obrigações após o encerramento da falência, que ocorria em 10 ou 5 anos, caso o falido fosse ou não condenado por crime falimentar. Outra situação de extinção das obrigações criada pela Lei nº 14.112 é o encerramento da falência por ela ter sido frustrada, prevista no art. 114-A da Lei nº 11.101/2005. Denomina-se frustrada a falência (para os credores) se não forem encontrados bens para serem arrecadados, ou se os arrecadados forem insuficientes para as despesas do processo. Nesse caso, o administrador judicial informará imediatamente esse fato ao juiz, que, ouvido o representante do Ministério Público, fixará, por meio de edital, o prazo de 10 dias para os interessados se manifestarem. Um ou mais credores poderão requerer o prosseguimento da falência, se pagarem a quantia necessária às despesas e aos honorários do administrador judicial, que serão consideradas despesas essenciais como créditos extraconcursais (art. 84, I-A). Decorrido o prazo de 10 dias sem manifestação dos interessados, o administrador judicial promoverá a venda dos bens no prazo máximo de 30 dias, para bens móveis, e de 60 dias, para bens imóveis, e apresentará o seu relatório. Apresentado o relatório, a falência será encerrada pelo juiz e o devedor reabilitado com suas obrigações extintas. Resumindo Após a realização de todo o ativo, o falido poderá ter suas obrigações extintas e ser reabilitado com o pagamento integral, com o pagamento parcial, com pagamento inferior ao parcial ou sem qualquer pagamento. Nos dois últimos casos, a reabilitação se dá por força da sentença de encerramento, que terá efeito remissório em relação aos créditos pendentes. Porém, se a liquidação não for encerrada em até 3 anos da decretação da falência, a lei faz uma separação entre a reabilitação e o pagamento aos credores, determinando o encerramento da falência e a “extinção” das obrigações. Sem embargo, impõe-se ao devedor que destine os bens que retornarão ao seu patrimônio para o pagamento dos credores. Nesse ponto, não é acertado afirmar que as obrigações foram “extintas”, já que o falido não poderá dar a destinação que quiser a esses bens. Administração da falência O administrador judicial No vídeo a seguir explicaremos quem é o administrador judicial, mostrando sua importância e seu papel no processo de falência. A administração da falência está centrada na figura do administrador judicial, que assume uma importância capital, muito maior do que uma recuperação judicial. Cabe, contudo, ressaltar que o juiz da falência tem um papel de destaque na primeira fase, pois é dele a decisão sobre eventual decretação da falência, e não aos credores como na recuperação judicial. Também é atribuição do juiz a nomeação, a superintendência da atuação e a destituição do administrador judicial. Como o foco da falência é a liquidação da empresa, a assembleia de credores e o comitê, órgão facultativo tal qual na recuperação judicial, assumem um papel menor em comparação à recuperação judicial. Quanto ao representante do MinistérioPúblico, que também intervém no processo como fiscal da lei, sua participação é obrigatória após a decretação da falência, especialmente durante o período de verificação dos créditos e venda dos bens arrecadados (cf. arts. 8º, 99, XIII, e 143 da Lei nº 11.101/2005). O administrador judicial é nomeado pelo juiz na sentença de falência (art. 99, inciso IX,). O critério para escolha é o mesmo na recuperação judicial, ou seja, profissional idôneo, preferencialmente advogado, economista, administrador de empresas ou contador, ou pessoa jurídica especializada (art. 21). Após sua nomeação, o administrador será intimado para assinar termo de compromisso, que marca a investidura nas suas funções (art. 34). Além da capacidade civil plena para ser administrador judicial, ou seja, ter mais de 18 anos e não sofrer qualquer incapacidade, o nomeado não pode ter impedimento legal. Nesse sentido, não poderá exercer as funções de administrador judicial quem, nos últimos 5 anos, no exercício do cargo de administrador judicial ou de membro do comitê de credores em falência ou recuperação judicial anterior, foi destituído, deixou de prestar contas dentro dos prazos legais ou teve a prestação de contas desaprovada. Também está impedido de exercer a função de administrador judicial quem tiver relação de parentesco ou afinidade até o terceiro grau com o devedor, seus administradores, controladores ou representantes legais ou deles for amigo, inimigo ou dependente (art. 30). Se uma pessoa tiver algum impedimento legal e for nomeada administrador judicial, o devedor, qualquer credor ou o representante do Ministério Público poderá requerer ao juiz a substituição do nomeado. Na falência, diante da inabilitação do empresário para o exercício de qualquer empresa e da arrecadação de seus bens, são bem maiores as atribuições do administrador, que as exerce sob a fiscalização do juiz e do comitê, se houver. Destacam-se as mais importantes, mas, para uma relação completa das atribuições, consulte o artigo 22, incisos I e III da Lei nº 11.101/2005. Elaborar e fazer publicar a relação de credores após a verificação dos créditos. Consolidar o quadro-geral de credores após o julgamento das impugnações de crédito para posterior publicação. Assumir a condução da atividade empresarial do falido, se autorizada a continuação provisória pelo juiz na sentença de falência. Examinar a escrituração do devedor para efeito de apuração de eventuais crimes falimentares. Relacionar os processos pendentes e assumir a representação judicial da massa falida. Apresentar, no prazo de 40 dias, contado da assinatura do termo de compromisso, prorrogável por igual período, relatório sobre as causas e circunstâncias que conduziram à situação de falência, no qual apontará a responsabilidade civil e penal dos envolvidos. Arrecadar os bens e documentos do devedor e elaborar o auto de arrecadação em que constarão o inventário dos bens e o laudo de avaliação. Proceder à venda de todos os bens da massa falida no prazo máximo de 180 dias, contado da data da juntada do auto de arrecadação, sob pena de destituição, salvo por impossibilidade fundamentada, reconhecida por decisão judicial. Praticar os atos necessários à realização do ativo e ao pagamento dos credores. O administrador judicial responde com seus bens pessoais por ato ilícito, intencional (doloso) ou culposo, pelos prejuízos causados à massa falida, ao devedor ou aos credores (art. 32), podendo ser destituído pelo juiz, de ofício ou a requerimento fundamentado de qualquer interessado, quando verificada desobediência aos preceitos da Lei nº 11.101/2005, descumprimento de deveres, omissão, negligência ou prática de ato lesivo às atividades do devedor ou a terceiros (art. 31). Tal qual na recuperação judicial, o administrador judicial faz jus a uma remuneração pelo seu trabalho e serviços prestados, cujo encargo é da massa falida (crédito de natureza extraconcursal, art. 84, I-D). Saiba mais Cabe ao juiz, em decisão no curso do processo, fixar o valor e a forma de pagamento da remuneração do administrador judicial, observados a capacidade de pagamento da massa falida, o grau de complexidade do trabalho e os valores praticados no mercado para o desempenho de atividades semelhantes. Em qualquer hipótese, o total pago não excederá a 5% do valor de venda dos bens na falência, percentual reduzido para 2% no caso de microempresas ou empresas de pequeno porte (art. 24). Do montante total da remuneração fixada, deve ser reservado 40% para pagamento após o julgamento das contas do administrador judicial e apresentação do relatório final da falência (art. 154). Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Matias Cardoso foi contratado pela massa falida da sociedade Butiá Verde Empreendimentos Imobiliários Ltda. como empregado durante 18 meses. O crédito trabalhista de Matias Cardoso no processo falimentar tem natureza Parabéns! A alternativa C está correta. São extraconcursais os créditos derivados da legislação trabalhista relativos a serviços prestados após a decretação da falência, com fundamento no art. 84, I-D, da Lei nº 11.101/2005. Os créditos derivados da legislação trabalhista relativos a serviços prestados após a decretação da falência são pagos antes das obrigações resultantes de atos jurídicos válidos praticados após a decretação da falência (art. 84, I-E, da Lei nº 11.101/2005). As demais alternativas são falsas por estarem em desacordo com o referido dispositivo legal. Questão 2 A concursal, sendo preferencial até o valor de 150 salários mínimos; o saldo que exceder a esse limite é crédito com privilégio geral. B concursal, classificado como quirografário, até o valor de 100 salários mínimos, sendo o saldo que exceder a esse limite considerado crédito subordinado. C extraconcursal pelo seu valor integral, e pago antes das obrigações resultantes de atos jurídicos válidos praticados após a decretação da falência. D concursal, sendo preferencial pelo valor integral, e pago antes dos créditos extraconcursais. E extraconcursal, sendo preferencial até o valor de 150 salários mínimos; o saldo que exceder a esse limite é crédito quirografário. Na sentença que decretar a falência, o juiz deverá nomear para administrar a massa falida o administrador judicial. Assinale a alternativa que indica o critério para escolher esse administrador: Parabéns! A alternativa E está correta. Como determina o artigo 21 da Lei nº 11.101/2005, o administrador judicial será profissional idôneo, preferencialmente advogado, economista, administrador de empresas ou contador, ou pessoa jurídica especializada. A Pessoa natural ou jurídica com domicílio ou sede social no juízo da falência da confiança do juiz, que deve ser referendada pela assembleia de credores nos 10 dias seguintes à decretação da falência. B Preferencialmente, a pessoa natural que tiver relação de parentesco ou afinidade até o terceiro grau com o falido, seus administradores, controladores ou representantes legais. C Preferencialmente, um dos maiores credores do falido, escolhido pelo juiz a partir da relação de credores apresentada no processo. D Serventuário da justiça, preferencialmente liquidante ou avaliador judicial, exceto se não houver nenhum na comarca, quando o juiz nomeará pessoa de sua confiança. E Profissional idôneo, preferencialmente advogado, economista, administrador de empresas ou contador, ou pessoa jurídica especializada. Considerações �nais Neste conteúdo, você estudou que a falência pode ser compreendida a partir de conceitos estáticos (referente à qualificação de falido) e dinâmicos (referente ao processo falimentar). Também conheceu os princípios e pressupostos da falência. Trata-se de um concurso de credores para o empresário ou sociedade empresária, mas, mesmo assim, existem pessoas excluídas. Comentou-se que a falência depende de uma sentençajudicial e não pode ser decretada de ofício, necessitando um requerimento do devedor ou de qualquer credor. O processo de falência tem três fases. Na primeira fase, não há ainda tecnicamente a falência, pois não há sentença. Nessa fase ocorre a discussão do pedido de falência e apresentação das provas e defesas do devedor. Após a sentença, inicia-se o período de informação, no qual tem atuação fundamental o administrador judicial na arrecadação dos bens, verificação dos créditos habilitados, análise dos contratos, documentação, exame de livros, continuação do negócio (se autorizada), entre outras atribuições. O objetivo dessa fase é apurar o ativo e verificar o passivo, para a liquidação do patrimônio falimentar. A última fase, dedicada à liquidação, ocorre logo após o término da arrecadação, mesmo que ainda não tenha sido publicado o quadro-geral de credores. Os credores receberão seus créditos do produto apurado nas vendas judiciais, havendo uma prioridade dos credores extraconcursais sobre os concursais e neste grupo, observada a ordem do artigo 83 da Lei nº 11.101/2005. Caso tenha havido pagamento integral aos credores ou parcial, após o término da liquidação, o falido empresário individual poderá requerer ao juiz a extinção de suas obrigações por sentença, concomitantemente com o encerramento da falência, que o reabilitará ao exercício da empresa. Também poderá o falido ser reabilitado quando a falência tiver sido encerrada por ter sido frustrada, ou decorrido o prazo de 3 anos contado da data de sua decretação. Podcast Ouça a seguir um resumo sobre os processos e etapas de falência além de alguns aspectos polêmicos do contexto. Explore + O devedor que sofre os efeitos da falência precisa ter a caracterização de empresário ou de sociedade empresária. Por outro lado, algumas entidades empresariais estão excluídas da aplicação da Lei nº 11.101/2005 em razão da incidência de leis especiais que disciplinam a liquidação extrajudicial do seu patrimônio. No site da Presidência da República, você poderá acessar as leis especiais sobre a liquidação extrajudicial de (i) instituições financeiras e cooperativas de crédito; (ii) seguradoras; (iii) entidades fechadas de previdência complementar; (iv) administradoras de grupos de consórcio; e (v) sociedades de capitalização. Referências BERTOLDI, M. M.; RIBEIRO, M. C. P. Curso avançado de direito comercial. 12. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2022. BEZERRA FILHO, M. J. Lei de Recuperação de Empresas e Falência: Lei 11.101/2005: comentada artigo por artigo. 13. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2021. COELHO, F. U. Novo manual de direito comercial. 31. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2020. FAZZIO JUNIOR, W. Lei de falência e recuperação de empresas. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2019. MAMEDE, G. Direito empresarial brasileiro: Falência e Recuperação de Empresas. 13. ed. São Paulo: Atlas, 2022. NEGRÃO, R. Curso de Direito Comercial e de Empresa: recuperação de empresas, falência e procedimentos concursais administrativos. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2021. v. 3. SACRAMONE, M. B.Comentários à Lei de Recuperação de Empresas e Falência. 3.ed. São Paulo: Saraiva, 2022. SALOMÃO, L. F.; SANTOS, P. P. Recuperação Judicial, Extrajudicial e Falência - Teoria e Prática. 5. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020. TEIXEIRA, T. Direito empresarial sistematizado. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2019. TOMAZETTE, M. Curso de direito empresarial: falência e recuperação de empresas. 10. ed. São Paulo: Saraiva, 2022. Material para download Clique no botão abaixo para fazer o download do conteúdo completo em formato PDF. Download material O que você achou do conteúdo? Relatar problema javascript:CriaPDF()
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