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Recuperação de empresas Prof. Alexandre Assumpção Descrição A preservação da empresa por meio da recuperação judicial e extrajudicial como meios preventivos da falência. Propósito O conhecimento dos meios preventivos da falência, como a recuperação judicial e extrajudicial, é fundamental para o futuro advogado e operador do direito, tanto pelos aspectos práticos decorrentes dos processos recuperacionais quanto para o acompanhamento da rica jurisprudência nestes temas. Preparação Antes de iniciar os estudos, tenha em mãos a Lei 11.101/15 e o Código Civil. Objetivos Módulo 1 Recuperação judicial Identificar as principais características do procedimento da recuperação judicial e seus efeitos para os credores e para o devedor. Módulo 2 Recuperação extrajudicial Reconhecer as condições para a homologação do plano de recuperação extrajudicial e seus efeitos para os credores e o devedor. Introdução Estudaremos o instituto da recuperação da empresa e suas modalidades (judicial e extrajudicial), que visam prevenir a decretação da falência. Veremos os requisitos para o pedido, os meios de recuperação e o papel dos credores na sua aprovação, bem como as peculiaridades do plano especial para micro e pequenas empresas. A recuperação de empresas é um instituto de acesso restrito a certos empresários. É preciso o requerente comprovar que tem os requisitos pessoais (subjetivos) e a documentação necessária para o pedido ser analisado e a recuperação processada (requisitos objetivos). Destaca-se que a recuperação de empresas, por beneficiar o empresário, dando-lhe oportunidade de renegociar suas dívidas e propor um plano de recuperação a seus credores, não pode ser, em caso algum, concedida aos empresários sem registro (empresário irregular) ou sociedade empresária sem registro na Junta Comercial, ou seja, sem personalidade jurídica e para entidades não empresariais. A recuperação de empresas é regulada pela Lei nº 11.101/2005, que sofreu algumas alterações pontuais desde o início de sua vigência. A maior e mais importante ocorreu em 2020 com a Lei nº 14.112, que entrou em vigor em janeiro do ano seguinte. Embora essa sei não tenha corrigido várias falhas técnicas e omissões no texto, muitas delas graves, bem como tenha muitas imperfeições e falta de revisão, houve um relativo avanço para beneficiar ainda mais o devedor e facilitar a concessão da recuperação. Tanto a recuperação judicial quanto a extrajudicial têm por base um plano apresentado pelo devedor aos credores. Contudo, na primeira o plano é apresentado no curso do processo judicial e, na outra modalidade, o plano já se encontra aprovado, mas o devedor deve requerer a homologação judicial para produzir efeitos tanto em relação aos dissidentes quanto a terceiros. 1 - Recuperação judicial Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car as principais características do procedimento da recuperação judicial e seus efeitos para os credores e para o devedor. Principais objetivos da recuperação judicial Neste vídeo, vamos explicar qual a finalidade da recuperação judicial, apresentando seus principais objetivos. Toda recuperação tem por principal objetivo evitar a decretação da falência, que pode ser iminente diante da grave situação financeira do devedor no momento do pedido. Historicamente, desde o Código Comercial de 1850 até a última lei de falências anterior à Lei nº 11.101, de 2005 (o Decreto-lei nº 7661, de 1945), o comerciante podia propor a seus credores um prazo maior para pagar suas dívidas, com ou sem abatimento, mas sem um plano de recuperação. Tratava-se de uma simples “moratória” ou “concordata”, que além de ter um limite máximo para o pagamento (dois ou três anos), só atingia os credores quirografários, isto é, aqueles sem preferência no recebimento do crédito. Na Lei nº 11.101, de 2005, o artigo 47, que inaugura as disposições sobre o instituto, dispõe: A recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação da situação de crise econômico- financeira do devedor, a fim de permitir a manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores, promovendo, assim, a preservação da empresa, sua função social e o estímulo à atividade econômica. (Lei nº 11.101/2005 - artigo 47) Percebe-se que o artigo 47 traz seis objetivos a serem observados na condução de todo o processo de recuperação judicial, de forma que possam os órgãos da recuperação e os credores apoiarem a empresa com reais chances de recuperação, harmonizando e tutelando os interesses da coletividade, sem perder de vista que a livre iniciativa é um valor social e, por isso, o devedor não poderá exercer sua empresa de modo nocivo à sociedade. Para isso, é muito importante que o devedor apresente os documentos exigidos pela lei e faculte aos credores uma ampla fiscalização de sua atividade, independentemente das atribuições do administrador judicial. Vamos entender melhor agora os objetivos mencionados no artigo 47. São eles: Superação da situação de crise econômico- �nanceira Manutenção da fonte produtora Emprego dos trabalhadores Interesses dos credores Preservação da empresa Estímulo à atividade econômica O momento em que o devedor requer sua recuperação judicial é de crise, e sua falência é iminente se ele não obtiver o benefício legal. O primeiro objetivo destacado no texto (a superação da situação de crise) revela que é necessária a medida para a reorganização do empresário. É preciso comprovar por documentos contábeis a deterioração da situação patrimonial do devedor a curto ou a médio prazo na petição de recuperação. Embora o artigo 47 não mencione o termo “falência”, deduz-se que a situação de crise do devedor pode levá- lo a ela, pois, se o plano for rejeitado pelos credores e não houver apresentação de plano alternativo, a falência terá que ser decretada (confira o artigo 56, § 8º, e o art. 73, III, da Lei nº 11.101, de 2005). O segundo objetivo diz respeito à manutenção da fonte produtora, que é a empresa em si. Também há uma relação indireta com a falência, pois nesse instituto o estabelecimento é lacrado e o devedor sofre liquidação do seu patrimônio. Com a recuperação se evita esta liquidação, mantendo-se a atividade. O terceiro objetivo é decorrente do segundo, pois, se a empresa é a organização dos fatores de produção pelo empresário (e, dentre eles, estão compreendidos capital e mão de obra), é natural que sua continuidade também mantenha os empregos, porém sem nenhuma garantia ou punição para o empresário que demitir. Atenção! É importantíssima esta ressalva porque a leitura do texto do artigo 47 pode dar a impressão de que a recuperação asseguraria uma estabilidade no emprego, quando, ao contrário, os empregados podem ser atingidos com a medida, tanto com redução de salário ou jornada, quanto com demissão. Por fim, os três últimos objetivos completam o cenário vislumbrado pelo legislador. O interesse dos credores está expresso no poder que eles têm de aprovar ou não o plano ou propor modificações, inclusive com um plano alternativo. A recuperação, embora seja concedida pelo juiz, sempre depende da manifestação dos credores favorável ao plano, seja tácita ou expressa. Em caso de negativa quanto à aprovação, a falência será decretada e, também, se durante o período de supervisão judicial (confira o artigo 61, § 1º, da Lei nº 11.101, de 2005) houver deliberação dos credores nesse sentido. A preservação da empresa se relaciona com: A preservação da empresa se relaciona com: (i) a manutenção da fonte produtora e seus efeitos positivos e imediatos na (ii) promoção da função social (mantendo empregos, contratos, tributos, fornecimento de produtos e/ou serviços etc.) e, por dedução lógica, (iii) o estímulo à atividade econômica. Percebe-se, assim, que falência e recuperação possuem objetivos bem distintos e antagônicos, de modo que o falido não pode requerer sua recuperação, já que o legisladorconsidera a falência a situação em que a empresa é irrecuperável. Por esta razão, os esforços devem ser canalizados para a empresa viável e, sendo inviável, a falência é a única medida a ser aplicada em benefício dos credores e da sociedade. O aprofundamento da crise durante a recuperação é um sinal de que o instituto perdeu sua finalidade, cabendo ao devedor a iniciativa de confessar sua falência para não impor a seus credores um prejuízo ainda maior. Condições para o pedido de recuperação judicial Neste vídeo, vamos apresentar as condições subjetivas e objetivas necessárias para o pedido de recuperação judicial. Condições subjetivas São condições subjetivas para o pedido: 1. Ser o devedor qualificado como empresário ou sociedade empresária. 2. Exercer regularmente sua atividade há mais de 2 (dois) anos na data do pedido. 3. Não ser falido e, se o foi, estejam declaradas extintas, por sentença transitada em julgado, as responsabilidades daí decorrentes. 4. Não ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de recuperação judicial. 5. Não ter sido o empresário individual condenado, ou não ter, em caso de sociedade empresária como administrador ou sócio controlador, pessoa condenada por qualquer dos crimes previstos nos artigos 168 a 178 da Lei nº 11.101, de 2005. Veremos agora os detalhes de cada uma dessas condições. Primeira condição Somente poderá requerer recuperação judicial o devedor que for empresário (pessoa física) ou sociedade empresária (pessoa jurídica), em razão do termo “devedor” na Lei nº 11.101, de 2005, ter um alcance restrito (art. 1º da Lei nº 11.101, de 2005). O direito empresarial ainda não admite que todo devedor ou, pelo menos, aquele que exerça uma atividade econômica, possa falir ou pleitear sua recuperação. Excepcionalmente, a recuperação judicial também poderá ser requerida pelo cônjuge sobrevivente, herdeiros do devedor, inventariante ou sócio remanescente, em virtude do artigo 48, § 1º. O cônjuge sobrevivente, herdeiros do devedor ou inventariante são legitimados, concorrentemente, a requerer a recuperação do espólio do ex-empresário. Como o empresário falecido deixou dívidas e há necessidade de recuperar sua empresa, a lei permite que os interessados citados possam pedir o benefício em seu lugar. A legitimidade do sócio remanescente se refere à sociedade anônima temporariamente unipessoal (confira o art. 206, I, d, da Lei nº 6.404/76), podendo o único acionista requerer a recuperação da pessoa jurídica. Comentário Cabe observar que existem empresários excluídos do benefício da recuperação (tanto judicial quanto extrajudicial), listados no art. 2º da Lei nº 11.101/2005, e a legitimidade para a recuperação judicial da cooperativa médica operadora de plano de assistência à saúde conferida pela Lei nº 14.112/2020 (cf. art. 6º, § 13, da Lei nº 11.101/2005). Segunda condição Este requisito se desdobra em duas partes: Parte 1 A primeira parte é a regularidade da empresa exercida pelo empresário. O empresário, exceto o rural, está obrigado à inscrição na Junta Comercial, e a sociedade empresária se submete ao registro. Portanto, nenhum empresário ou sociedade empresária irregular poderá pleitear sua recuperação, mas poderá falir. Parte 2 A segunda parte se refere ao tempo mínimo de exercício regular da empresa – mais de dois anos –, verificado pela data de inscrição do empresário e pela data do pedido de recuperação mediante certidão do Registro de Empresas. Fica claro que se trata de um requisito suplementar, não sendo suficiente que o empresário esteja registrado. Com isso, a lei evita comportamentos oportunistas daqueles que se registrariam apenas no momento de requerer recuperação. Para a sociedade empresária rural que optou por se inscrever na Junta Comercial e, com isso, ficou equiparada às sociedades empresárias (art. 984 do Código Civil), admite-se a comprovação do prazo de dois anos por meio da Escrituração Contábil Fiscal (ECF), ou por meio de obrigação legal de registros contábeis que venha a substituir a ECF, entregue tempestivamente (confira o art. 48, § 2º, da Lei nº 11.101/05). Para o empresário rural pessoa física, também registrado na Junta Comercial, a comprovação do prazo de dois anos é feita mediante cálculo do período de exercício de atividade rural com base no Livro Caixa Digital do Produtor Rural (LCDPR), ou por meio de obrigação legal de registros contábeis que venha a substituir o LCDPR, e pela Declaração do Imposto sobre a Renda da Pessoa Física (DIRPF) e balanço patrimonial, todos entregues tempestivamente (confira o art. 48, § 3º, da Lei nº 11.101/05). Terceira condição Frisou-se que recuperação e falência são institutos antagônicos, e o objetivo do legislador é proteger a empresa antes da falência. Por dedução, o falido (a partir da sentença de falência) não pode requerer o favor legal. Entretanto, aquele que já foi falido (empresário individual) poderá requerer sua recuperação desde que tenha obtido declaração judicial de extinção das suas obrigações e dessa decisão não caiba mais recurso. Essa extinção das obrigações reabilita o empresário. Por conseguinte, poderá retomar sua empresa e usar das prerrogativas que a lei confere aos empresários regulares, dentre elas o pedido de recuperação (cf. art. 158 da Lei nº 11.101/2005). Também é possível o pedido de recuperação no prazo para o oferecimento da contestação ao pedido de falência (art. 95), que impede sua decretação (art. 96, VII). Quarta condição Para evitar pedidos sucessivos de recuperação em prazos curtos, a lei estabelece um prazo mínimo entre uma recuperação e a seguinte – cinco anos. Nota-se que o prazo não é contado da data do pedido, e sim da concessão da recuperação. Se a recuperação não for concedida porque o devedor desistiu do benefício (confira o artigo 52, § 4º, da Lei nº 11.101, de 2005), o prazo não será considerado para um novo pedido, pois não houve concessão. O prazo se aplica tanto para a recuperação pelo plano comum quanto pelo plano especial, apresentado por microempresário ou de pequeno porte (art. 48, II e III). Quinta condição Os benefícios da recuperação para o devedor somente são aplicáveis àqueles que não tiverem sido condenados por crimes relacionados ao próprio instituto ou à falência, conhecidos pela expressão genérica “crimes falimentares”. A condenação estabelece uma presunção de inidoneidade e impede o acesso à recuperação. Os requisitos subjetivos também devem ser observados para o pedido de homologação de plano de recuperação extrajudicial (confira o artigo 161 da Lei nº 11.101, de 2005 e o módulo 2). Condições objetivas O requerente da recuperação, pessoa física ou jurídica, deve instruir seu pedido com os documentos relacionados no artigo 51 da Lei nº 11.101, de 2005. São eles: 1. A exposição das causas concretas da situação patrimonial do devedor e das razões da crise econômico-financeira. 2. As demonstrações contábeis relativas aos três últimos exercícios sociais e as levantadas especialmente para instruir o pedido, confeccionadas com estrita observância da legislação societária aplicável e compostas obrigatoriamente de: i) balanço patrimonial; ii) demonstração de resultados acumulados; iii) demonstração do resultado desde o último exercício social; iv) relatório gerencial de fluxo de caixa e de sua projeção; (v) descrição das sociedades de grupo societário, de fato ou de direito, se houver. 3. A relação nominal completa dos credores, sujeitos ou não à recuperação judicial, inclusive aqueles por obrigação de fazer ou de dar, com a indicação do endereço físico e eletrônico de cada um, a natureza e o valor atualizado do crédito, com a discriminação de sua origem, e o regime dos vencimentos. 4. A relação integral dos empregados, em que constem as respectivas funções, salários, indenizações e outras parcelas a que têm direito, com o correspondente mês de competência, e a discriminação dos valores pendentes depagamento. 5. A certidão de regularidade do devedor no Registro Público de Empresas e, para as sociedades empresárias, o ato constitutivo atualizado e as atas de nomeação dos atuais administradores. 6. Tratando-se de devedor sociedade empresária, a relação dos bens particulares dos sócios controladores e dos administradores. 7. Os extratos atualizados das contas bancárias do devedor e de suas eventuais aplicações financeiras de qualquer modalidade, inclusive em fundos de investimento ou em bolsas de valores, emitidos pelas respectivas instituições financeiras. 8. As certidões dos cartórios de protestos situados na comarca do domicílio ou sede do devedor, e naquelas onde possui filial. 9. A relação, subscrita pelo devedor, de todas as ações judiciais e procedimentos arbitrais em que este figure como parte, inclusive as de natureza trabalhista, com a estimativa dos respectivos valores demandados. 10. O relatório detalhado do passivo fiscal. 11. A relação de bens e direitos integrantes do ativo não circulante, incluídos aqueles não sujeitos à recuperação judicial, acompanhada dos negócios jurídicos celebrados com os credores excluídos da recuperação judicial mencionados no § 3º do art. 49. Nota-se o detalhamento legal em relação aos documentos, pois o objetivo do cumprimento desses requisitos é a ampla informação dos credores quanto à situação do requerente, não só no aspecto contábil, bem como financeiro e trabalhista. O juiz deverá examinar a regularidade dos documentos antes de determinar que a recuperação seja processada. É facultado ao juiz, pelo art. 51-A, quando reputar necessário, nomear profissional de sua confiança, com capacidade técnica e idoneidade, para promover a constatação exclusivamente das reais condições de funcionamento da requerente e da regularidade e completude da documentação apresentada com a petição inicial. Observa-se que o plano de recuperação judicial não precisa ser apresentado de imediato com o requerimento. O objetivo é dar oportunidade de os credores serem informados da recuperação e iniciarem uma negociação com o devedor para facilitar a aprovação do plano no momento oportuno. Restrições ao devedor e credores na recuperação judicial Restrições ao devedor em recuperação judicial Embora a recuperação judicial tenha efeitos bem diversos da falência, pois permite a manutenção da empresa, da fonte produtora, de empregos, entre outros objetivos, o devedor sofrerá algumas restrições em relação à disponibilidade de seus bens e à livre administração de sua empresa. Contudo, tais restrições não acompanham todo o tempo de cumprimento do plano, findando com o encerramento do processo judicial. A primeira restrição diz respeito à livre administração de seu negócio. O empresário e a sociedade empresária têm plena liberdade para o exercício de sua empresa, determinando as ações e o planejamento, escolhendo fornecedores, contratando e demitindo empregados etc. Tal prerrogativa decorre da Constituição brasileira de 1988, em seu artigo 170, parágrafo único. Embora o devedor em recuperação não precise de autorização para se manter em atividade, deve aceitar a fiscalização de suas atividades pelo administrador judicial e pelos membros do Comitê de Credores, se houver. Também é obrigatória a prestação de quaisquer informações solicitadas pelo administrador judicial (cf. arts. 22, II, a, 27, II, a, e 52, caput, IV). A partir do processamento da recuperação judicial, o uso do nome empresarial será alterado, uma vez que o artigo 69 impõe que, em todos os atos, contratos e documentos firmados pelo devedor deverá ser acrescida, após o nome empresarial, a expressão "em Recuperação Judicial". Ademais, para aumentar a publicidade de sua situação, o juiz determinará ao Registro Público de Empresas a anotação da recuperação judicial no registro correspondente. Trata-se de mais uma restrição ao devedor, que não poderá deixar de incluir sua condição de “em recuperação judicial” em todos os documentos que assinar. Ainda no tocante à administração de sua empresa, o art. 64 prevê a possibilidade de afastamento do empresário ou dos administradores da sociedade empresária durante o procedimento de recuperação judicial. Trata-se de medida excepcional, haja vista que o devedor ou seus administradores serão mantidos na condução da atividade empresarial, sob fiscalização do Comitê, se houver, e do administrador judicial, como já exposto. São situações graves, muitas delas relativas à prática de crimes ou atos ilícitos, bem como descumprimento de deveres legais. Verificada qualquer das hipóteses que autorizam o afastamento, o juiz deverá (i) destituir o administrador, que será substituído pela pessoa natural eleita pelos sócios na forma prevista no contrato ou estatuto, ou ainda eleita pelos credores se tal faculdade estiver prevista no plano de recuperação judicial (cf. o art. 50, inciso V); ou (ii) afastar o empresário individual. Em caso de afastamento do empresário individual, não caberá ao juiz designar seu substituto, devendo agir na forma do art. 65, ou seja, convocar a assembleia de credores para deliberar sobre o nome do gestor judicial que assumirá a administração. Até que o gestor assuma a empresa, o administrador judicial exercerá temporariamente as funções de gestor. A restrição imposta ao devedor em relação à disponibilidade de seus bens consiste na proibição, desde a data do ingresso do pedido em juízo, de alienar ou onerar bens ou direitos de seu ativo não circulante, salvo autorização do juiz, depois de ouvido o Comitê, se houver, com exceção daqueles previamente relacionados no plano de recuperação (art. 66). A Lei nº 14.112/20 criou mais uma restrição, porém apenas imposta às sociedades em recuperação judicial. De acordo com o art. 6º-A da Lei nº 11.101/05, é vedado ao devedor, até a aprovação do plano de recuperação judicial, distribuir lucros ou dividendos a sócios e acionistas. Credores e excluídos – recuperação judicial Neste vídeo, você verá quais são as principais características dos credores sujeitos e dos excluídos do plano de recuperação judicial. Por mais que o instituto da recuperação de empresas se destine ao favorecimento do devedor, nem todos os seus credores são atingidos pelos meios de recuperação previstos no art. 50 (confira a relação exemplificativa dos meios de recuperação) e outros que podem ser incluídos no plano. Apenas estão sujeitos à recuperação judicial os créditos existentes na data do pedido, ainda que não vencidos. Como o devedor permanece exercendo sua empresa durante a recuperação, é natural que sejam constituídos créditos após o pedido. Com isso, verifica-se um dos três grupos de credores excluídos dos efeitos da recuperação (1º grupo) – credores após o pedido de recuperação. Para este 1º grupo, a lei oferece um grande incentivo no intuito de manter o crédito para a atividade. Os créditos decorrentes de obrigações contraídas pelo devedor durante a recuperação judicial, inclusive aqueles relativos a despesas com fornecedores de bens ou serviços e contratos de mútuo, serão considerados extraconcursais em caso de decretação de falência (cf. arts. 67 e 84, I-E). Além dos credores posteriores à data do pedido, mais dois grupos de credores não se submetem aos efeitos da recuperação judicial: (i) os excluídos por lei e (ii) os excluídos por vontade do devedor, respectivamente, 2º e 3º grupos. Os credores do 2º grupo, por serem excluídos da recuperação, não terão seu crédito incluído no plano, e prevalecerão os direitos de propriedade sobre a coisa e as condições contratuais. A única solução que o devedor pode utilizar para alterar as condições de pagamento perante este credor é tentar um acordo individual, fora do processo de recuperação. Tais “acordos privados” são admitidos e previstos no artigo 167 da Lei nº 11.101, de 2005, e podem ser utilizados, tenha ou não o devedor requerido recuperação. A relação dos credores “extra-recuperação”encontra-se dispersa por vários dispositivos da Lei nº 11.101/2005. Conforme o art. 6º, § 7º-B, art. 6º, § 13, art. 49, §§ 3º, 4º, 7º e 9º e art. 199, § 1º, excluem-se da recuperação judicial: Créditos tributários e previdenciários. Contratos e obrigações decorrentes dos atos cooperativos praticados pelas sociedades cooperativas com seus cooperados. Créditos garantidos por alienação ou cessão fiduciárias bem constituídas e suficientes para fazer frente ao débito. Créditos decorrentes de arrendamento mercantil. Créditos dos proprietários ou promitente vendedores de imóvel em contrato irrevogável. Créditos do proprietário em contrato de compra e venda com reserva de domínio. Créditos decorrentes de adiantamento a contratos de câmbio para exportação. Recursos controlados e abrangidos pelo crédito rural de que trata a Lei nº 4.829/65, exceto aqueles que não tenham sido objeto de renegociação entre o devedor e a instituição financeira antes do pedido de recuperação judicial, na forma de ato do Poder Executivo. Créditos relativos à dívida constituída nos três últimos anos anteriores ao pedido de recuperação judicial, e que tenha sido contraída com a finalidade de aquisição de propriedades rurais, bem como as respectivas garantias. Créditos decorrentes de contratos de locação, arrendamento mercantil ou de qualquer outra modalidade de arrendamento de aeronaves ou de suas partes. Chama-se atenção para o tratamento especial dado ao crédito tributário, que também não se sujeita aos efeitos da recuperação judicial, independentemente da época de sua constituição. Isso porque, de acordo com o artigo 187 do Código Tributário Nacional, a cobrança judicial do crédito tributário não é sujeita à habilitação em recuperação judicial. Dessa forma, a cobrança do crédito tributário é feita por meio de ação própria, que prossegue durante a recuperação e não tem sua propositura suspensa (cf. art. 6º, § 7º-B). Já os credores do 3º grupo ficam à mercê da ação do devedor de alterar ou não seus créditos no plano de recuperação. São créditos anteriores à data do pedido, sendo que o devedor preferiu não alterar as regras de pagamento. Como tais condições foram mantidas, observarão as condições originalmente contratadas ou definidas em lei, inclusive no que diz respeito aos encargos (art. 49, § 2º). Em contrapartida, o credor não terá direito a voto e não será considerado para fins de verificação de quórum de deliberação, eis que o plano de recuperação judicial não alterou o valor ou as condições originais de pagamento de seu crédito (art. 45, § 3º). Vale ressaltar que, se o devedor tem garantidores de sua obrigação perante o credor, como fiadores ou avalistas, a recuperação judicial não atinge estas pessoas, de modo que estarão obrigadas a satisfazer o débito na forma original, ainda que o plano seja aprovado e a recuperação concedida. Em outras palavras: a recuperação judicial não aproveita os devedores solidários com o devedor em recuperação (cf. art. 49, § 1º e Súmula 581 do STJ – "a recuperação judicial do devedor principal não impede o prosseguimento das ações e execuções ajuizadas contra terceiros devedores solidários ou coobrigados em geral, por garantia cambial, real ou fidejussória"). As fases do processo e os órgãos da recuperação judicial As fases do processo de recuperação O processo de recuperação deve ser proposto no lugar do principal estabelecimento do devedor, local onde deve ser requerida a falência e a homologação do plano de recuperação extrajudicial, conforme o artigo 3º da Lei nº 11.101/2005. O principal estabelecimento, em geral, é o lugar da sede, seja porque o devedor não tem filial seja porque a sede é, de fato, o lugar central das atividades. Caso, pontualmente, a sede não seja o lugar central da atividade do devedor, a recuperação será requerida neste lugar denominado “principal estabelecimento”. Para fins didáticos, três fases são identificadas no processo recuperacional: Primeira fase Se inicia na data do pedido, marco para a sujeição dos créditos à recuperação (art. 49, caput), e termina quando o juiz aceita o pedido do devedor (defere seu processamento) pela conformidade da documentação (art. 52, caput). Segunda fase Se inicia com a publicação do processamento na imprensa oficial em edital eletrônico (art. 52, § 1º), e termina com a concessão da recuperação (art. 59). Terceira fase S i i i já ã did ó A maior parte dos atos importantes na recuperação ocorre na segunda fase. São eles: Apresentação do plano, que deve ser feita, impreterivelmente, até o 60º dia após a publicação do processamento, por força do artigo 53, sob pena de decretação de falência sem a audiência dos credores. O devedor não deve entregar apenas o plano com suas cláusulas e exposição de motivos. O documento deve estar acompanhado da discriminação pormenorizada dos meios de recuperação a ser empregados e seu resumo; demonstração de sua viabilidade econômica; e laudo econômico-financeiro e de avaliação dos bens e ativos do devedor, subscrito por profissional legalmente habilitado ou “empresa” especializada. Habilitação dos credores e verificação dos créditos pelo administrador judicial para que se elabore e publique a relação geral de credores (cf. arts. 7º a 20). Aviso aos credores da apresentação do plano para eventual objeção à sua aprovação no prazo de 30 dias (art. 55). Convocação pelo juiz da assembleia de credores, se houver objeção de qualquer credor à aprovação do plano (art. 56). Realização da assembleia de credores onde o plano será discutido e votado por classes, inclusive com apreciação das objeções levantadas (art. 35, I, a). Apresentação pelo devedor das certidões negativas de débitos tributários (CND), nos termos do Código Tributário Nacional, facultando-se ao devedor o parcelamento destes créditos ou a celebração de transação fiscal, para suspender a exigibilidade do crédito tributário e receber a CND (cf. arts. 57 e 68 da Lei nº 11.101/2005, arts. 151, 155-A, §§ 3º e 4º, 191-A, 205, 206 do CTN e arts. 10-A, 10-B e 10-C, da Lei nº 10.522/2002). Concessão da recuperação judicial por sentença do juiz, se o plano tiver sido aprovado pela assembleia ou se não sofreu objeção de qualquer credor (cf. o art. 58 da Lei nº 11.101/2005). Se inicia, já com a recuperação concedida, após a concessão da recuperação e termina com o encerramento do processo por sentença judicial (art. 63). A assembleia de credores tem sua competência fixada pelo art. 35, destacando-se a aprovação, rejeição ou modificação do plano de recuperação judicial apresentado pelo devedor. O quórum de instalação é sempre atingido, em 1ª convocação, com a presença de credores titulares de mais da metade dos créditos de cada classe, computados pelo valor, e, em 2ª convocação, com qualquer número de presentes (art. 37, § 2º). Já o quórum de deliberação varia conforme a matéria a ser votada. Em geral, tal quórum é de mais da metade do valor total dos créditos presentes à assembleia-geral (art. 42), exceto nas deliberações sobre o plano de recuperação judicial e na eleição dos membros do Comitê de Credores. O Comitê de Credores será constituído por deliberação de qualquer das classes de credores na assembleia-geral pelo quórum de maioria dos créditos da classe que eleger seu representante (art. 26). Nas deliberações sobre o plano de recuperação judicial, devem ser observadas as regras do art. 45, e todas as classes de credores referidas no art. 41 deverão aprovar a proposta por maioria. O art. 41 divide os credores sujeitos à recuperação em quatro classes: I Titulares de créditos derivados da legislação do trabalho ou decorrentes de acidentes de trabalho. II Titulares de créditos com garantia real. III Titulares de créditos quirografários, com privilégio especial, com privilégio geral ou subordinados. IV Titulares de créditos enquadrados como microempresa ou empresa de pequeno porte. A composição da classe III estádesatualizada, pois a Lei nº 14.112/2020 aboliu as classes de credores com privilégio especial e geral, com a revogação dos incisos IV e V do art. 83, determinando que tais classes passem a integrar os créditos quirografários (art. 83, § 6º). Entretanto, não houve atualização na redação dos arts. 41 e 163, que ainda se referem a elas. Atualmente, a classe III é composta pelos titulares de créditos quirografários ou subordinados. A votação, como informado, é por classe e simultânea. Cada classe presente vota pela aprovação ou rejeição do plano, mas a forma de cômputo dos votos para efeito de verificação do quórum de deliberação é diferente. Nas classes II e III do art. 41, a proposta deverá ser aprovada por credores que representem mais da metade do valor total dos créditos presentes à assembleia e, cumulativamente, pela maioria simples dos credores presentes. Nas classes I e IV, a proposta deverá ser aprovada pela maioria simples dos credores presentes, independentemente do valor de seu crédito. Atenção! Apesar de o art. 45 exigir a aprovação do plano em todas as classes de credores presentes, o art. 58, §§ 1º e 2º, permite ao juiz conceder recuperação judicial se o plano não for aprovado por uma ou duas das classes de credores, sendo duas ou três as classes votantes, no 1º caso, ou quatro classes, no 2º caso. Ademais, é preciso que, na mesma assembleia, o plano tenha obtido, de forma cumulativa: (i) O voto favorável de credores que representem mais da metade do valor de todos os créditos presentes, independentemente de classes. (ii) O voto favorável, na classe que o houver rejeitado, de mais de 1/3 (um terço) dos credores, sempre computados na forma do art. 45, e que o plano não implique tratamento diferenciado entre os credores da classe que o houver rejeitado. A Lei nº 14.112/2020 permitiu a dispensa de assembleia de credores para deliberar sobre o plano se, até cinco dias antes da data de realização, o devedor comprovar a aprovação dos credores por meio de termo de adesão, observado o quórum previsto para aprovação do plano por todas as classes representadas no quadro geral, e requerer sua homologação judicial (cf. o art. 56-A). Outra inovação consiste na possibilidade de se evitar a decretação da falência se o plano de recuperação não obtiver as condições mínimas para sua aprovação. Caberá ao administrador judicial submeter à votação, na mesma assembleia, da concessão de prazo de 30 dias para que seja apresentado plano de recuperação judicial pelos credores. A concessão desse prazo deverá ser aprovada por credores que representem mais da metade dos créditos presentes à assembleia. Rejeitado o plano de recuperação proposto pelos credores, o juiz convolará a recuperação judicial em falência (art. 56, §§ 4º e 8º). Após a aprovação do plano e concessão da recuperação judicial, o processo prossegue e entra na sua terceira e última fase. A concessão da recuperação judicial operará a novação dos créditos anteriores ao pedido, obrigando o devedor e todos os credores a ele sujeitos, ainda que dissidentes, sem prejuízo das garantias (art. 59). Se a recuperação for convolada em falência antes do seu encerramento, a novação perderá seu efeito e os credores terão reconstituídos seus direitos e garantias nas condições originalmente contratadas, deduzidos os valores eventualmente pagos e ressalvados os atos validamente praticados no âmbito da recuperação judicial (art. 61, § 2º). O devedor permanecerá em recuperação judicial até que se cumpram todas as obrigações previstas no plano que vencerem, no máximo, em dois anos depois da concessão, independentemente do eventual período de carência previsto no plano (confira o art. 61). Durante este período, o devedor poderá ou não iniciar o cumprimento ao plano, dependendo de seus termos e prazos, porém persiste a fiscalização do administrador judicial e do Comitê de Credores. O plano de recuperação poderá sofrer modificações até o encerramento da recuperação, aplicando-se a mesma sistemática de votação e quóruns aplicáveis para sua aprovação, mas o juiz não poderá “aprovar” uma alteração pelas condições do art. 58, §§ 1º e 2º. Atenção! Durante o período de dois anos, o descumprimento de qualquer obrigação prevista no plano acarretará a convolação da recuperação em falência (cf. núcleo temático 5), ou seja, a recuperação cessará e o devedor terá sua falência decretada com a liquidação de sua empresa. Com isso, as cláusulas e os compromissos previstos no plano ficam rescindidos, e os credores terão reconstituídos seus direitos e garantias nas condições originalmente contratadas, deduzidos os valores eventualmente pagos e ressalvados os atos validamente praticados no âmbito da recuperação judicial (art. 61, § 2º). Ainda que o plano não tenha sido cumprido no prazo de dois anos, e que não tenha sido consolidado o quadro-geral de credores, o juiz deve encerrar o processo por sentença, na qual determinará (art. 63): (i) O pagamento do saldo de honorários ao administrador judicial, após a prestação de contas e apresentação de relatório, no prazo máximo de 15 dias, sobre a execução do plano de recuperação pelo devedor. (ii) A apuração do saldo das custas judiciais a serem recolhidas. (iii) A dissolução do Comitê de Credores e a exoneração do administrador judicial. Após a sentença de encerramento, cessa a fiscalização do administrador judicial e do Comitê de Credores, se houver, sobre o devedor e sua empresa. Sem embargo, no caso de ainda restarem obrigações pendentes previstas no plano de recuperação judicial, seu descumprimento autoriza qualquer credor a requerer sua execução específica ou a decretação da falência (art. 62). Fases procedimentais do processo de recuperação Neste vídeo, vamos apresentar as principais fases do processo e os órgãos de recuperação judicial. Os órgãos da recuperação judicial São denominados “órgãos” da recuperação judicial as pessoas ou colegiado de pessoas que desempenham papel de destaque do ponto de vista da lei para a administração do processo. São elas: o juiz, o representante do Ministério Público, o administrador judicial, o gestor judicial, a assembleia e o comitê de credores. (iv) A comunicação ao Registro Público de Empresas e à Secretaria Especial da Receita Federal do Brasil do Ministério da Economia para as providências cabíveis. Juiz da recuperação O juiz da recuperação é um juiz de direito integrante da justiça estadual que exerce a jurisdição no lugar (juízo) da recuperação. Cabe ao juiz a superintendência do processo e as decisões das questões incidentais, como julgar as habilitações de crédito e as impugnações. É o juiz quem nomeia e destitui o administrador judicial, que atua sob sua supervisão. Não cabe ao juiz aprovar ou rejeitar o plano de recuperação; eventual concessão ou não da medida está vinculada à prévia manifestação dos credores e ao atingimento das condições para tal (cf. arts. 45 e 58). Representante do Ministério Público O representante do Ministério Público é um promotor de justiça designado para atuar nos processos de falência e recuperação. Ele não é parte no processo nem decide nenhuma questão principal ou incidental. Todavia, sua participação é obrigatória na condição de fiscal da lei e de sua aplicação. Tanto que o juiz, ao determinar o processamento da recuperação, deve ordenar a intimação do representante do Ministério Público (art. 52, V). O representante do Ministério Público tem algumas prerrogativas na recuperação, tais como impugnar créditos, propor ação revisional de crédito admitido, promover a ação penal por crime previsto na Lei nº 11.101/2005, arguir a substituição do administrador judicial, recorrer da concessão da recuperação, entre outras (cf. arts. 8º, 19, 22, §4º, 30, § 2º, 45-A, § 4º, 51, § 6º, 58, § 3º e 59, §2º). Administrador judicial O administrador judicial é nomeado pelo juiz ao determinar o processamentoda recuperação (art. 52, I). É um profissional idôneo, preferencialmente advogado, economista, administrador de empresas ou contador, ou pessoa jurídica especializada (cf. art. 21). Tem direito a uma remuneração pelo seu trabalho, cujo pagamento é obrigação do devedor em recuperação. A remuneração do administrador judicial será de, no máximo, 5% (cinco por cento) do valor devido aos credores submetidos à recuperação judicial (art. 24). Não pode ser nomeado administrador judicial nem para integrar o Comitê de Credores quem, nos últimos 5 (cinco) anos, no exercício do cargo de administrador judicial ou de membro do Comitê em falência ou recuperação judicial anterior, foi destituído, deixou de prestar contas dentro dos prazos legais ou teve a prestação de contas desaprovada. Também está impedido de integrar o Comitê ou exercer a função de administrador judicial quem tiver relação de parentesco ou afinidade até o 3º grau com o devedor, seus administradores, controladores ou representantes legais, ou deles for amigo, inimigo ou dependente (cf. art. 30). Na recuperação judicial, a principal função do administrador é fiscalizar as atividades do devedor e o cumprimento do plano de recuperação judicial. Todavia, existem outras prerrogativas, como exigir dos credores, do devedor ou seus administradores quaisquer informações, bem como requerer a falência no caso de descumprimento de obrigação assumida no plano de recuperação. As atribuições do administrador judicial na recuperação judicial estão arroladas no art. 22, incisos I e II. Com o encerramento do processo, cessa sua atuação, sendo exonerado na sentença de encerramento (art. 63, IV). Gestor judicial O gestor judicial é uma figura subsidiária na recuperação, isto é, somente será necessária sua participação nos casos de afastamento do empresário individual de sua empresa (art. 65). O gestor é nomeado pelo juiz, após escolha pela assembleia de credores, para assumir a administração das atividades do devedor. Sua atuação é fiscalizada pelo juiz e, se houver, pelo Comitê de Credores. Assembleia de credores A assembleia de credores é formada pelos credores do devedor, sujeitos ou não aos efeitos da recuperação. Entretanto, somente podem votar nas deliberações os credores incluídos no plano e que tiverem alterados as condições originais e prazos de pagamento de seus créditos. Ressalta-se que o art. 41 arrola pessoas que poderão participar da assembleia, sem direito a voto, e não serão consideradas para fins de verificação do quórum de instalação e de deliberação, como, por exemplo, os sócios do devedor, seu cônjuge ou parente, consanguíneo ou afim, colateral até o 2º grau, ascendente ou descendente. A assembleia de credores terá por atribuições deliberar sobre qualquer matéria que possa afetar os interesses dos credores, em especial: Aprovação, rejeição ou modificação do plano de recuperação judicial apresentado pelo devedor. Constituição do Comitê de Credores, escolha de seus membros e sua substituição. Pedido de desistência da recuperação, se feito após o processamento da recuperação. Nome do gestor judicial, quando do afastamento do empresário individual de suas atividades (art. 35). A assembleia de credores será convocada de ofício pelo juiz, mas poderá ser convocada a pedido de credores que representem, no mínimo, 25% (vinte e cinco por cento) do valor total dos créditos de uma determinada classe (art. 36, § 2º). Comitê de Credores O Comitê de Credores é um órgão facultativo no processo de recuperação e será constituído por deliberação de qualquer das classes de credores na assembleia, com a seguinte composição: Um representante indicado pela classe de credores trabalhistas. Um representante indicado pela classe de credores com direitos reais de garantia. Um representante indicado pela classe de credores quirografários. É preciso destacar que as classes de credores com privilégio especial e geral ainda aparecem na enumeração do art. 26, porém tais classes foram expressamente abolidas pela Lei nº 14.112/20, tendo sido revogados os incisos IV e V do art. 83 que as contemplavam. O devedor, ao apresentar sua relação de credores com base no art. 51, deverá atentar para a extinção dessas classes, cumprindo observar o art. 83 na sua redação atual. Com isso, todas as menções aos credores com privilégio geral e especial ainda presentes na redação de artigos da Lei nº 11.101/05 ficam prejudicadas. O Comitê pode funcionar com número inferior a quatro membros e, quando nenhuma das classes de credores tiver interesse em indicar ou eleger membro, caberá ao administrador judicial ou, na incompatibilidade deste, ao juiz exercer suas atribuições (art. 28). As atribuições do Comitê de Credores estão dispostas no art. 27. O plano especial de recuperação judicial Neste vídeo, vamos apresentar o conteúdo e a aprovação do plano especial de recuperação. Um representante indicado pela classe de credores enquadrados como microempresa ou empresas de pequeno porte. Para cada titular, a lei prevê a escolha ou eleição de dois suplentes. Conteúdo do plano especial de recuperação e sua aprovação Como já alertado, o plano especial não dá ao devedor liberdade para escolher o meio de recuperação que melhor atenda às suas necessidades. Se, por um lado, a lei simplifica a elaboração do plano, não sendo necessários confecção de laudo ou gastos com serviços de terceiros, pois ele já tem cláusulas preestabelecidas, por outro restringe o devedor à adesão simples a ele, sem praticamente nenhuma flexibilidade. Caso não seja um instrumento viável para a recuperação, as microempresas e as empresas de pequeno porte poderão adotar o plano comum e observar as exigências do artigo 53 da Lei nº 11.101/2005. Ao contrário, sendo melhor o plano especial, o devedor deverá manifestar sua intenção de adotá-lo já no requerimento de recuperação. O prazo para a apresentação do plano especial é idêntico ao do plano comum, ou seja, até 60 dias da publicação do edital de processamento, sob pena de decretação da falência. Seu conteúdo limita-se às seguintes condições (art. 71): I. Abrangerá todos os créditos existentes na data do pedido, ainda que não vencidos, excetuados os excluídos do plano comum e, também, aqueles decorrentes de repasse de recursos oficiais. II. Preverá parcelamento em até 36 (trinta e seis) parcelas mensais, iguais e sucessivas, acrescidas de juros equivalentes à taxa Sistema Especial de Liquidação e de Custódia - SELIC, podendo conter ainda a proposta de abatimento do valor das dívidas. III. Preverá o pagamento da 1ª parcela no prazo máximo de 180 (cento e oitenta) dias, contado da distribuição do pedido de recuperação judicial. IV. Estabelecerá a necessidade de autorização do juiz, após ouvido o administrador judicial e o Comitê de Credores, para o devedor aumentar despesas ou contratar empregados. Ao contrário do plano comum, se houver objeção à concessão da recuperação judicial por algum credor, não será convocada assembleia de credores para deliberar sobre o plano (art. 72). O juiz concederá a recuperação judicial se atendidas as demais exigências legais, considerando o plano tacitamente aprovado. Portanto, tal medida facilita a aprovação do plano pela sua celeridade e dispensa o devedor dos custos com a realização da assembleia. Entretanto, se não será convocada assembleia para apreciar a objeção de qualquer credor ao plano, quem a analisará? Caso esse valor seja de até metade do valor total de créditos de uma das classes de credores previstas no art. 83 da Lei nº 11.101/2005, a objeção será indeferida por considerar o legislador que a maioria dos créditos atingidos, tacitamente, não se opôs à concessão da recuperação. Ao contrário, se o credor ou grupo de credores reunir mais da metade de qualquer uma das referidas classes, o juiz julgará improcedente o pedido de recuperação judicial pelo plano especial e decretará a falência do devedor (art.72, parágrafo único). A convolação da recuperação judicial em falência Neste vídeo, vamos explicar as causas de transformação da recuperação judicial em falência. Principais características A recuperação judicial, a partir do processamento e até antes do seu encerramento, pode ser convolada em falência, ou seja, no mesmo processo pode ser decretada a falência do devedor (falência incidental). Antes do processamento não há convolação, pois o devedor pode desistir do pedido sem necessidade de consentimento dos credores em assembleia (art. 52, § 4º). No art. 73, são enumeradas as hipóteses de convolação, mas o rol é incompleto, já que há mais uma no art. 72, parágrafo único. Sintetizando os dois dispositivos, são as seguintes hipóteses: I. Por deliberação da assembleia-geral de credores, se a proposta obtiver votos favoráveis de credores que representem mais da metade do valor total dos créditos presentes. Os credores podem, antes ou após a concessão, decidir pela inviabilidade do prosseguimento da recuperação e pedir ao juiz a decretação da falência. II. Pela não apresentação do plano de recuperação no prazo de 60 dias, que é improrrogável, não se admitindo força maior ou oitiva dos credores sobre a aceitação de plano intempestivo. III. Quando não aprovada a proposta de apresentação de plano alternativo pelos credores diante da rejeição do plano apresentado pelo devedor; se houver impedimento para a votação do plano alternativo por não preencher as condições cumulativas do art. 56, § 6º; ou se o plano alternativo for rejeitado. IV. Por descumprimento de qualquer obrigação assumida no plano de recuperação, durante o período de dois anos após sua concessão (art., 61, § 1º). Neste período é possível, alternativamente, a decretação da falência por iniciativa de credores não sujeitos aos efeitos da recuperação, como autorizado pelo art. 73, § 1º. V. Por descumprimento dos parcelamentos de créditos devidos à Fazenda Pública ou ao INSS, referidos no art. 68, ou da transação fiscal prevista no art. 10-C da Lei nº 10.522, de 19 de julho de 2002. A transação fiscal é uma alternativa ao parcelamento conferida pela mesma lei ao devedor. VI. Quando identificado o esvaziamento patrimonial da devedora que implique liquidação substancial da empresa, em prejuízo de credores não sujeitos à recuperação judicial, inclusive as Fazendas Públicas. O art. 73, § 3º, esclarece que há liquidação substancial quando não forem reservados bens, direitos ou projeção de fluxo de caixa futuro suficientes à manutenção da atividade econômica para fins de cumprimento de suas obrigações, facultada a realização de perícia específica para essa finalidade. Há uma preocupação tanto com o pagamento aos credores não sujeitos à recuperação quanto com a manutenção da empresa, evitando que a sociedade em recuperação fique despida de operação. VII - em caso de objeção ao plano especial de recuperação apresentada por credor(es) titular(es) de mais da metade de qualquer uma das classes de créditos previstos no art. 83. Essa hipótese não é prevista no art. 73, como já comentado. Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Além de ser o devedor empresário, a Lei nº 11.101/2005 estabelece requisitos suplementares para o pedido de recuperação judicial, como A exercício regular de empresa há mais de 6 (seis) meses, comprovado por escritura de propriedade de estabelecimento empresarial, exceto se for micro ou empresário de pequeno porte. B exercício regular de empresa há mais de 1 (um) ano, comprovado por certidão da Receita Federal do Brasil. Parabéns! A alternativa D está correta. Apenas a alternativa D está correta, haja vista que só é possível o pedido de recuperação judicial ao empresário regular, isto é, registrado na Junta Comercial, e que tenha mais de dois anos de inscrição, como estabelece o artigo 48 da Lei nº 11.101, de 2005. Questão 2 A sociedade Piraí Serviços de Mensageria Ltda, em recuperação judicial, teve seu plano submetido à assembleia de credores em razão de objeção apresentada tempestivamente. Na assembleia estiveram representadas duas classes de credores – (i) com garantia real e (ii) quirografários. O valor total dos créditos presentes à assembleia é de R$8 milhões. O plano de recuperação, independente de classes, obteve o voto favorável de credores titulares de créditos no valor de R$5 milhões. Na classe dos credores quirografários, o plano obteve aprovação de seis dos dez credores presentes, correspondendo a 60% (sessenta por cento) dos créditos dessa classe. Na classe dos credores com garantia real, o plano foi aprovado por dois dos três credores presentes, correspondendo a 40% (quarenta por cento) dos créditos dessa classe. O Banco Itaguaí S/A, titular de 60% dos créditos com garantia real, foi contrário à aprovação do plano por discordar do prazo para C exercício regular de empresa há mais de 5 (cinco) anos, comprovado por certidão da Receita Federal do Brasil, exceto se for micro ou empresário de pequeno porte, que tem prazo reduzido para mais de 2 (dois) anos. D exercício regular de empresa há mais de 2 (dois) anos, comprovado por certidão da junta comercial. E exercício regular de empresa há mais de 3(três) anos, comprovado por certidão da Junta Comercial, exceto se for produtor rural. pagamento – 60 meses – oferecido a todos os credores dessa classe. Com base nas disposições da Lei n. 11.101/2005, assinale a única alternativa correta. Parabéns! A alternativa A está correta. A única alternativa correta é a letra A. O juiz poderá conceder a recuperação judicial com base no art. 58, § 1º da Lei n. 11.101/2005 porque (i) o plano obteve o voto favorável de credores que representam mais da metade do valor de todos os créditos presentes à assembleia, independentemente de classes; (ii) houve A É possível a concessão da recuperação judicial em razão da aprovação do plano por 1 (uma) das classes de credores votantes; a obtenção de mais de 1/3 (um terço) de aprovação na classe que o rejeitou e a ausência de tratamento diferenciado aos credores desta classe. B Não é possível a concessão da recuperação judicial em razão da ausência de aprovação do plano por todas as classes de credores votantes. C É possível a concessão da recuperação judicial em razão da aprovação do plano por uma das classes de credores votantes, qualquer que seja o percentual de aprovação na classe que o rejeitou. D Não é possível a concessão da recuperação judicial em razão da ausência do quórum mínimo de 2/5 (dois quintos) para aprovação na classe de credores que rejeitou o plano. E É possível a concessão da recuperação judicial por ter o plano obtido aprovação por mais da metade de todos os créditos na votação, independentemente da quantidade de credores presentes, ou do percentual de créditos, por classe, que o aprovou. somente 2 (duas) classes com credores votantes, e a aprovação de 1 (uma) delas; (iii) na classe dos credores com garantia real, que o rejeitou, houve o voto favorável de dois dos três credores presentes, correspondendo a 40% dos créditos desta classe, portanto mais de 1/3 (um terço) dos créditos presentes computados na forma do § 2o do art. 45 da Lei n. 11.101/2005. Ademais, o plano não implicou tratamento diferenciado entre os credores da classe que o rejeitou, cumprindo a exigência do § 2º do art. 58 da Lei n. 11.101/2005. 2 - Recuperação extrajudicial Ao �nal deste módulo, você será capaz de reconhecer as condições para a homologação do plano de recuperação extrajudicial e seus efeitos para os credores e o devedor. Conceito e condições Neste vídeo, você compreenderá o que é a recuperação extrajudicial, assim como as condições para homologação do plano. A recuperação extrajudicial é outra espécie de recuperação possível de ser adotada pelo devedor para evitar a falência. O devedor deverá satisfazer os requisitos subjetivos para a recuperaçãojudicial (art. 48) e ao menos um dos requisitos seguintes (art. 161, § 3º): (i) Não ter pedido de recuperação judicial pendente de julgamento. (ii) Não ter obtido recuperação judicial há menos de 2 anos. (iii) Não ter obtido homologação de outro plano de recuperação extrajudicial há menos de 2 anos. Percebe-se que o prazo entre uma recuperação extrajudicial e outra – dois anos – é menor do que o de uma recuperação judicial e outra – cinco anos. Nota-se que o devedor em recuperação judicial (pendente ou já concedida) não pode se valer concomitantemente da recuperação extrajudicial. Logo, a opção pela recuperação judicial exclui a outra recuperação. A recíproca não ocorre, isto é, o devedor em cumprimento de plano de recuperação extrajudicial pode requerer sua recuperação judicial. Inclusive, o art. 163, § 7º, autoriza a conversão do procedimento em recuperação judicial a pedido do devedor se ele não atingir o mínimo de adesão ao plano exigido por lei. Uma das características mais marcantes da recuperação extrajudicial é o fato de a proposta de pagamento aos credores e sua negociação ocorrer sem que seja instaurado um processo judicial, daí o nome recuperação “extrajudicial”. Até a entrada em vigor da Lei nº 14.112/20, em janeiro de 2021, não era possível o plano de recuperação extrajudicial incluir os créditos trabalhistas e acidentes de trabalho. Contudo, essa situação foi revertida e, atualmente, a sujeição dos créditos de natureza trabalhista e por acidentes de trabalho é possível, mas exige negociação coletiva com o sindicato da respectiva categoria profissional. Também é importante que você atente ao fato de que nem todos os créditos excluídos dos efeitos da recuperação judicial possuem tratamento igual na recuperação extrajudicial. Da relação de créditos apresentada no módulo anterior, apenas os créditos previstos no art. 49, §§ 3º e 4º, os créditos de natureza tributária e aqueles previstos no art. 199, § 2º, são excluídos; os demais podem ser incluídos no plano de recuperação extrajudicial. As fases da recuperação extrajudicial Neste vídeo, serão apresentadas as fases e principais características da recuperação extrajudicial. A recuperação extrajudicial também se desenvolve em três fases, mas apenas a segunda é judicial, ou seja, haverá a abertura de um processo perante o juízo do lugar do principal estabelecimento do devedor (cf. art. 3º). São elas: Primeira fase Consiste na apresentação, negociação e assinatura do plano do devedor pelos credores. O devedor somente não poderá apresentar o plano para os credores excluídos (arts. 161, § 1º, e 199, § 2º). Segunda fase Compreende o pedido de homologação, sua tramitação e a decisão judicial. Veremos agora os detalhes de cada uma dessas fases. Primeira fase A primeira fase consiste na apresentação, negociação e assinatura do plano do devedor pelos credores. O devedor somente não poderá apresentar o plano para os credores excluídos (arts. 161, § 1º, e 199, § 2º). Para os credores trabalhistas e por acidentes de trabalho, também se exige negociação coletiva com o sindicato da respectiva categoria profissional, mas o plano não está limitado às condições de pagamento do art. 54, já que tal dispositivo não é referenciado na recuperação judicial. O plano de recuperação extrajudicial pode adotar os mesmos meios de recuperação judicial e abranger a totalidade de uma ou mais classe de créditos (art. 83, I, II, VI e VIII), sujeito a semelhantes condições de pagamento. Com isso, o devedor não precisa incluir todos os seus credores no plano, deixando certa(s) classe(s) fora dele, ou determinados credores. Para esses credores, o pedido de homologação do plano e seu deferimento não acarretará suspensão de direitos, ações ou execuções, nem a impossibilidade do pedido de falência ou alteração do valor ou condições originais de pagamento (art. 161, § 4º). Por dedução, tais Terceira fase Ocorre após a homologação e se relaciona ao cumprimento do plano. credores e seus créditos não serão considerados para fins de apuração do percentual mínimo para o plano ser homologado (art. 163, § 2º). Embora possa o plano contemplar como meio de recuperação a alienação de bem objeto de garantia real, a supressão da garantia ou sua substituição, tais propostas somente serão admitidas mediante a aprovação expressa do credor titular da respectiva garantia. Ademais, para os créditos em moeda estrangeira, a variação cambial só poderá ser afastada se o credor aprovar expressamente previsão diversa no plano (art. 163, §§ 4º e 5º). À semelhança da recuperação judicial, o plano de recuperação extrajudicial pode prever, após sua homologação, a alienação judicial de filiais ou de unidades produtivas isoladas do devedor, porém não há disposição legal contemplando a liberação de qualquer ônus incidente sobre o bem a ser alienado, bem como da ausência de sucessão do arrematante nas obrigações do devedor de qualquer natureza (art. 166). Para que o devedor possa requerer a homologação do plano, medida imprescindível para que ele possa ser implementado e produzir efeitos, é preciso que ele comprove a ocorrência de uma das seguintes hipóteses: i. estar assinado por todos os credores nele contemplados (art. 162); ou ii. estar assinado, no mínimo, por credores que representem mais da metade dos créditos de cada espécie abrangidos pelo plano de recuperação extrajudicial (art. 163). Para apuração do percentual legal, o art. 163, § 3º, determina que o crédito em moeda estrangeira será convertido para moeda nacional pelo câmbio da véspera da data de assinatura do plano; e não serão computados os créditos detidos pelas pessoas relacionadas no art. 43 da Lei nº 11.101/2005 (ex.: sócios do devedor). Uma inovação trazida pela Lei nº 14.112/2020 foi permitir, em caso de urgência no pedido de homologação, que o devedor apresente o pedido sem ter atingido o quórum de mais de metade dos créditos de cada espécie. Nesse caso, ele deverá comprovar a anuência de credores que representem pelo menos 1/3 (um terço) de todos os créditos de cada espécie por ele abrangidos, e com o compromisso de, no prazo improrrogável de 90 (noventa) dias, contado da data do pedido, atingir o quórum legal por meio de adesão expressa. Caso ele não consiga, é facultada a conversão do procedimento em recuperação judicial a pedido do devedor (confira o art. 163, § 7º, da Lei nº 11.101, de 2005). Segunda fase A segunda fase da recuperação, a única judicial, compreende o pedido de homologação, sua tramitação e a decisão judicial. Tal qual a recuperação judicial, o pedido deve ser feito perante o juiz do lugar do principal estabelecimento (confira o item 4.1). Após a abertura do processo de homologação, os credores não poderão desistir da adesão ao plano, salvo com a anuência expressa dos demais signatários. Desde a data do pedido de homologação, o devedor se beneficia dos efeitos do processamento da recuperação judicial, não sendo caso de análise casuística do juiz como na recuperação judicial (art. 163, § 8º). Assim, ficam suspensos: i. O curso da prescrição das obrigações do devedor incluídas no plano com a adesão dos credores, dependente de homologação para as demais sem adesão. ii. As execuções ajuizadas contra o devedor, inclusive daquelas dos credores particulares do sócio solidário, relativas a créditos ou obrigações abrangidos pela recuperação e incluídos no plano. iii. A proibição de qualquer forma de retenção, arresto, penhora, sequestro, busca e apreensão, e constrição judicial ou extrajudicial sobre os bens do devedor, oriunda de demandas judiciais ou extrajudiciais em relação aos créditos ou obrigações. Por exigência do art. 163, § 6º, para a homologação do plano, o devedor deve apresentar uma justificativa (exposição de motivos) e o documento que contenha seus termos e condições, com as assinaturas dos credores que a ele aderiram. Caso o plano não tenha sido aprovado por todos oscredores, mas tenha atingido o mínimo de assinaturas para sua homologação, o devedor deverá acrescentar ao pedido os seguintes documentos: A exposição de sua situação patrimonial. As demonstrações contábeis relativas ao último exercício social e as levantadas especialmente para instruir o pedido. Os documentos que comprovem os poderes das pessoas que assinaram o plano para novar ou transigir, a relação completa dos credores, com a indicação do endereço de cada um, a natureza, a classificação e o valor atualizado do crédito, discriminando sua origem, o regime dos respectivos vencimentos e a indicação dos registros contábeis de cada transação pendente. Após a distribuição do pedido de homologação, os credores não poderão desistir da adesão ao plano, salvo com a anuência expressa dos demais signatários (art. 161, § 5º). O procedimento cognitivo para homologação segue os trâmites do art. 164. Recebido o pedido de homologação, ele será publicado por edital eletrônico, convocando todos os credores para apresentação de suas impugnações no prazo de 30 dias. Sendo apresentada impugnação, será aberto prazo de cinco dias para que o devedor sobre ela se manifeste. Após manifestação do devedor sobre as impugnações, ou caso não tenha havido, o juiz decidirá acerca do plano de recuperação extrajudicial, homologando-o por sentença se entender que não implica prática de atos fraudulentos e que não há outras irregularidades que recomendem sua rejeição. A sentença homologatória encerra a etapa judicial do procedimento e constitui título executivo judicial (art. 161, § 6º). Na hipótese de não homologação do plano, o devedor poderá, cumpridas as formalidades, apresentar novo pedido de homologação de plano de recuperação extrajudicial (art. 164, § 8º). Não há risco de decretação da falência, ao contrário do que ocorre em caso de rejeição do plano de recuperação judicial. Terceira fase A terceira e última fase da recuperação, também extrajudicial como a primeira, ocorre após sua homologação e se relaciona ao cumprimento do plano. Uma vez homologado, o plano obriga a todos os credores das classes por ele abrangidas, exclusivamente em relação aos créditos constituídos até a data do pedido de homologação. Assim, é necessária a homologação judicial para que o devedor possa obrigar os credores que não assinaram o plano a aceitá-lo (art. 165). Embora, em regra, o plano só produza efeito após sua homologação, é lícito, contudo, que ele estabeleça a produção de efeitos anteriores à homologação desde que exclusivamente em relação à modificação do valor ou da forma de pagamento dos credores signatários (art. 165, § 1º). Tais estipulações ficam desfeitas com a não homologação. Caso o devedor descumpra alguma obrigação do plano, seus credores poderão exigir seu cumprimento forçado em processo judicial de cumprimento de sentença. Ressaltamos que não há previsão de nenhum órgão (administrador judicial ou Comitê de Credores) para fiscalizar o cumprimento do plano, ao contrário da recuperação judicial. Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 A Companhia de Refrigerantes do Brasil, após aprovação de plano de recuperação extrajudicial por parte de seus credores, requereu sua homologação. Na pendência de impugnação à homologação apresentada por um de seus credores, o devedor alienou uma de suas filiais com base em cláusula do plano que previa tal ato. É ilegal a alienação da filial pela companhia porque Parabéns! A alternativa E está correta. A única alternativa correta é a letra E, com fundamento no art. 165, caput, da Lei nº 11.101/2005. O plano e suas estipulações somente produzem efeito após sua homologação. As demais alternativas estão incorretas por divergirem do conteúdo do dispositivo citado. Questão 2 O empresário individual Nilo Porciúncula requereu a homologação de plano de recuperação judicial ao juízo da Comarca de Italva/RJ. A é vedada alienação de filiais ou unidades produtivas durante a recuperação extrajudicial se o devedor for sociedade anônima. B somente pode ser autorizada qualquer alienação de bens do ativo permanente após a manifestação do Comitê de Credores. C a alienação de filiais ou unidades produtivas de devedor em recuperação extrajudicial não pode ser prevista como meio de recuperação. D o devedor deveria aguardar o julgamento da impugnação para cumprir qualquer cláusula prevista no plano de recuperação extrajudicial. E para efeito de alienação de bens do devedor, o plano de recuperação extrajudicial somente produz efeitos após sua homologação judicial. Após o ingresso do pedido em juízo e antes de qualquer pronunciamento judicial, um dos credores com garantia real que havia assinado o plano desistiu da adesão unilateralmente e sem apresentar justificativa. Sobre tal situação e as disposições da Lei nº 11.101/2005, assinale a única alternativa correta. Parabéns! A alternativa C está correta. A única alternativa correta é a letra C, com fundamento no art. 161, § 5º, da Lei nº 11.101/2005. Após a distribuição do pedido de homologação, os credores não poderão desistir da adesão ao plano, salvo com a anuência expressa dos demais signatários. As demais alternativas estão incorretas por divergirem do conteúdo do dispositivo citado. A A desistência da adesão ao plano é possível diante da facultatividade da participação do credor com garantia real nos planos de recuperação extrajudicial. B A desistência da adesão não é possível por ausência de motivação e por ter sido realizada unilateralmente pelo credor com garantia real. C A desistência da adesão ao plano somente terá eficácia se contar com a anuência expressa dos demais signatários. D A desistência da adesão não é possível em razão de ter sido oposta após a assinatura do plano de recuperação extrajudicial. E A eficácia da desistência da adesão ao plano independe da anuência expressa dos demais signatários. Considerações �nais Vimos que a recuperação judicial é um instituto acessível somente aos devedores empresários ou sociedades empresárias que comprovarem os requisitos subjetivos e objetivos. Com a concessão, fica afastada temporariamente a possibilidade de decretação da falência pelos credores sujeitos aos efeitos do instituto. Na recuperação judicial, a apresentação e negociação do plano se dá em juízo, mas o número de credores excluído dos efeitos do instituto é maior do que na recuperação extrajudicial. O processo de recuperação judicial se desenvolve em três fases, sendo a segunda a mais importante, pois é nela que o devedor apresenta o plano. São verificados os créditos e se realiza, se houver objeção, a assembleia de credores, podendo ser dispensada se houver termo de adesão tempestivo. Durante essa fase, o administrador judicial fiscaliza as atividades do devedor e elabora relatórios mensais de acompanhamento da recuperação, podendo ser formado o Comitê de Credores. O processo deverá ser encerrado após dois anos da data de sua concessão, ainda que o plano não esteja integralmente cumprido. Os empresários enquadrados como micro ou pequena empresa podem se valer de um plano especial com conteúdo limitado e que dispensa a realização de assembleia de credores em caso de objeção. Em seguida, vimos que a recuperação extrajudicial também se baseia em plano apresentado e negociado com os credores antes da abertura de um processo judicial, cuja finalidade é apenas sua homologação. Nesta espécie de recuperação, cabe ao juiz verificar a documentação que acompanha o plano assinado pelos credores e a observância dos requisitos legais, sem risco de decretação de falência. Os efeitos da recuperação decorrem da homologação do plano, salvo quanto à modificação do valor ou da forma de pagamento dos credores signatários. Podcast Neste podcast, será apresentado um resumo dos principais pontos do conteúdo. Explore + Você aprendeu que uma das hipóteses de convolação darecuperação em falência é o descumprimento de parcelamento concedido ao devedor em recuperação judicial pela Fazenda Pública ou pelo INSS de seus créditos. Mas quais as condições para o deferimento do parcelamento? Quem tem direito a ele e a partir de quando pode ser requerido? Qual o prazo máximo para o parcelamento e seus efeitos? Essas são questões que você poderá esclarecer consultando a Lei nº 10.522/2002, arts. 10- A e 10-B e seus parágrafos. Você viu que o devedor poderá celebrar transação fiscal em vez de requerer o parcelamento de créditos devidos à Fazenda Pública ou ao INSS. Mas a quem deve ser submetida a proposta de transação e qual o momento limite no processo de recuperação? Qual o prazo máximo para quitação e o limite máximo de redução dos créditos? Quais os parâmetros legais para a análise da proposta e quais os compromissos exigidos do devedor? Quais as hipóteses de rescisão da transação por inadimplemento de parcelas? Essas e outras questões você poderá esclarecer consultando o art. 10-C da Lei nº 10.522/2002 e seus parágrafos. Referências BERTOLDI, M. M.; RIBEIRO, M. C. P. Curso Avançado de Direito Comercial. 12. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2022. BEZERRA FILHO, M. J. Lei de recuperação de empresas e falência: Lei 11.101/2005: comentada artigo por artigo. 13. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2021. COELHO, F. U. Novo Manual de Direito Comercial. 31. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2020. FAZZIO JUNIOR, W. Lei de Falência e Recuperação de Empresas. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2019. MAMEDE, G. Direito Empresarial Brasileiro – Falência e Recuperação de Empresas. 13. ed. São Paulo: Atlas, 2022. NEGRÃO, R. Curso de Direito Comercial e de Empresa. V. 3 – recuperação de empresas, falência e procedimentos concursais administrativos. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2021. SACRAMONE, M B. Comentários à Lei de Recuperação de Empresas e Falência. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2022. SALOMÃO, L. F.; SANTOS, P. P. Recuperação Judicial, Extrajudicial e Falência - Teoria e Prática. 5. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020. TEIXEIRA, T. Direito empresarial sistematizado. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2019. TOMAZETTE, M. Curso de Direito Empresarial. v. 3 – Falência e Recuperação de Empresas. 10. ed. São Paulo: Saraiva, 2022. Material para download Clique no botão abaixo para fazer o download do conteúdo completo em formato PDF. Download material javascript:CriaPDF() O que você achou do conteúdo? Relatar problema
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