Buscar

Apostila Negociações Internacionais

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 272 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 272 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 272 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

DESCRIÇÃO
A globalização e seus impactos na reorganização das dinâmicas econômicas e sociais no tempo presente.
PROPÓSITO
Compreender o impacto das ações do mercado financeiro globalizado nas novas relações econômico-sociais coidmo ponto fundamental para o entendimento das dinâmicas e das contradições das sociedades contemporâneas, tal qual a formulação de projetos de intervenção e políticas públicas.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Descrever as lógicas na montagem das instituições internacionais do mundo contemporâneo
MÓDULO 2
Identificar o comportamento do capital em escala global e a possibilidade de seu agenciamento
MÓDULO 3
Descrever as estratégias da negociação no contexto das relações internacionais do presente
MÓDULO 4
Reconhecer o significado das recentes transformações na era digital em diálogo com os conflitos do presente
INTRODUÇÃO
Frente às complexas relações financeiras e diplomáticas, é muito comum percebermos momentos de tensões e de diálogos travados por disputas comerciais ou por diferentes formas de entender o mundo. Uma declaração impensada ou um gesto infeliz pode gerar impactos sentidos muito rapidamente no balanço dos mercados, na taxa do dólar, na bolsa de valores etc.
Por que é possível sentir esses impactos de maneira tão instantânea? É porque estamos profundamente conectados. Não falamos simplesmente de estarmos conectados individualmente pelas redes sociais ou por outros sistemas de comunicação. O mundo financeiro também foi globalizado, de forma que o capital está pulverizado por todo o globo de maneira desigual.
Essa “pulverização” não é aleatória, ela se constitui em complexas operações que envolvem empresas, gestores, Estados Nacionais e populações locais. Veremos, a seguir, de que maneira as ideias sobre o funcionamento da economia globalizada reagiram a essa pulverização, ocasionando transformações e conflitos.
MÓDULO 1
 Descrever as lógicas na montagem das instituições internacionais do mundo contemporâneo
A CONSTRUÇÃO DO NEOLIBERALISMO
É de conhecimento geral que a informação circula muito facilmente no mundo contemporâneo pelas redes sociais e por outros canais de comunicação. Sabemos que um tweet infeliz de um político pode causar problemas diplomáticos e perdas econômicas significativas. Como gerimos as demandas locais e internacionais a ponto de ser um problema tão grande. Bem, o caminho não foi curto. O mundo, tal como o conhecemos hoje em sua estruturação econômica e comercial global, ainda sofre significativa influência do período pós-Guerra Fria.
Um marco na construção do neoliberalismo foi o Consenso de Washington, que, na verdade, consiste numa carta de recomendações de instituições financeiras, como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI), sobre como seria possível lidar com a grave crise financeira que marcou os anos 1980 e também sobre como atrair investimentos externos. Embora o consenso de Washington tenha tomado forma nos anos 1980, sua ideologia econômica era bem mais antiga e tinha como alicerce a Escola de Chicago.
Foto: Mx. Granger/Wikimedia commons/Domínio Público. Saieh Hall for Economics, local do Instituto Becker Friedman de Pesquisa em Economia da Universidade de Chicago
ESCOLA DE CHICAGO
Thomas I. Alley trata, por exemplo, da dinâmica de crítica ao modelo liberal Keynesiano e à adoção de um novo mote liderado pelos intelectuais da Universidade de Chicago.
O Brasil é um exemplo de onde parte dessas medidas foi implementada. No momento da redemocratização, vivíamos uma grave crise, enfrentada com planos econômicos que, sistematicamente, falhavam e desvalorizavam nossa moeda, causando fortes aumentos da inflação, que se refletiam na perda do poder de compra da população e no aumento da miséria.
Foto: Paladinum2/Wikimedia commons/CC BY-SA 3.0. Ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em 1999.
Fernando Henrique Cardoso, então herdeiro do Plano Real – iniciativa que finalmente havia controlado a escalada da inflação –, foi eleito em 1994 e buscou implementar a agenda neoliberal no Brasil. No seu discurso de posse, ele declarou: “Eu vim para acabar com a Era Vargas”. Essa frase aponta sua oposição a um plano nacionalista de desenvolvimento que tinha por base a iniciativa do Estado, que deveria financiar o desenvolvimento e promover o bem-estar social.
RESUMINDO
FHC promoveu medidas para atrair o capital externo para o Brasil, fez privatizações de grandes empresas estatais, procurou enxugar o funcionalismo público, aumentou o diálogo internacional e tentou fazer reformas na área trabalhista e previdenciária. O Brasil não abraçou essas pautas sozinho, muitos países da América Latina fizeram o mesmo.
Enquanto isso, a China, como contraponto da URSS no bloco comunista, lançou-se em um ousado projeto de captação tecnológica, promovendo a abertura ao capital externo em condições muito vantajosas para as empresas, considerando os custos de instalação, impostos e mão de obra, mas com a prerrogativa de transferência tecnológica em um projeto chamado “Made in China 2025”. Esse processo tem como marco a política de Deng Xiaoping, que, a partir de 1978 – após a morte de Mao-Tsé-Tung –, deu início à política de portas abertas e reformas econômicas que ficou conhecida como comunismo de mercado.
Em 2004, foi lançada a “Ascensão Pacífica”, que acabou mudando de nome ao ser chamada de “Desenvolvimento Pacífico”, com a finalidade de atenuar o sentido da expressão em inglês. Com isso, a China se posicionou como um parceiro que não oferecia ameaças aos demais países e, ao mesmo tempo, afirmou uma política externa de não interferência e amplo diálogo internacional.
A GLOBALIZAÇÃO E A INTERNACIONALIZAÇÃO DAS NEGOCIAÇÕES
A relação entre China, EUA e União Europeia tem apresentado muitas tensões políticas, refletidas em questões comerciais e financeiras que, ao fim e ao cabo, são definidoras da balança de poder no contexto da internacionalização da economia. Essas questões não são novas, embora apresentem as nuances das disputas de nosso tempo.
Essa internacionalização do capital e a criação do capitalismo financeiro são um marco fundamental do que atualmente entendemos como comércio exterior. No entanto, esse marco inicial passou por muitos outros movimentos que tiveram impacto não só na economia, mas também na política, nas sociedades, nas formas de gerir conflitos e até mesmo de pensar a cultura e a democracia. Esses movimentos são descontínuos e estão, constantemente, em tensão e transformação. Claro que é possível fazer planos a longo prazo, mas sua elaboração dependerá do poder de negociação e estratégia que envolve os Estados Nacionais e as empresas que atuam no mercado internacional.
Foto: Alonso de Mendoza/Wikimedia commons/CC BY-SA 3.0. A queda do muro de Berlim em 1989.
Durante a Guerra Fria, tivemos um movimento dos países do chamado terceiro mundo em prol de seus interesses e atuando coletivamente no mercado internacional. A criação da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), em 1960, foi um marco dessa articulação. O ponto é que a mobilização dos chamados “não alinhados” — ou seja, daqueles países que desejavam promover uma política diferente da ordem bipolar da Guerra Fria e usariam seus mercados e seus produtos de exportação para fazer pressão na ordem vigente —contribuiu para o desequilíbrio da ordem bipolar, situação que se definiu, em 1989, com a queda do Muro de Berlim.
Esse novo mundo pós-Guerra Fria se revelava, ao menos teoricamente, mais aberto e diverso. Países emergentes foram apresentando condições de protagonismo no cenário internacional, tanto que as instituições internacionais tiveram que repensar suas premissas e seus valores. A OMC incorporou discussões ocorridas ainda no GATT e definiu como seus princípios:
· Não discriminação
· Previsibilidade
· Concorrência leal
· Proibição de restrições quantitativas
· Tratamento especial para países em desenvolvimento
Ou seja, com essas premissas, a OMC se colocou como uma instituição reguladora do comércio internacional, ao mesmo tempo em que criou dispositivos para o comércioético e reconheceu as diferenças.
O protagonismo de agentes do chamado Sul Global nas relações internacionais tem feito com que a influência de autores do chamado “pensamento decolonial” transborde das áreas da História e das Ciências Sociais para os campos das relações internacionais e do comércio exterior, em um esforço constante de entender o olhar “do outro”.
Boaventura Santos (2010), Anibal Quijano (2005) e Walter Mignolo (2017) são autores importantes para pensar as chamadas “epistemologias do Sul”. Esses autores trabalham com a noção de que o eurocentrismo desvalorizou saberes e colocou o Sul Global em uma posição subalterna ao desmerecer sua cultura, seus saberes e suas formas de viver. Na América Latina, a questão indígena é valorizada nesse processo, tal como sua relação de mutualidade com a terra, o que encontra diálogo intenso com as importantes questões ambientais discutidas atualmente e pautam as relações entre os países e a economia global.
MAS POR QUE É TÃO IMPORTANTE MENCIONAR ESSAS QUESTÕES AO FALARMOS DA INTERNACIONALIZAÇÃO DA ECONOMIA NO CONTEXTO DA GLOBALIZAÇÃO?
Porque o desrespeito às regras internacionais ou ações locais de desrespeito ao Direito Internacional Humano ou ao meio ambiente podem ter como consequências punições revertidas em graves perdas comerciais, retirada de investimentos e benefícios, o que não exclui também sanções bilaterais e de organismos internacionais.
EXEMPLO
A limitação comercial imposta pela ONU à Coreia do Norte e ao Irã, em 2017, devido à falta de transparência sobre o programa nuclear dos dois países. Isso chegou a envolver a China, que fechou grandes empresas na Coreia do Sul para bloquear o acesso de Pyongyang a capitais estrangeiros. As sanções econômicas geram verdadeiras guerras comerciais que desenham as tensões da geopolítica internacional.
A ESTRUTURA DA NEGOCIAÇÃO
Até agora, vimos como a construção do neoliberalismo e seus desdobramentos formaram um complexo mosaico nas relações internacionais, pautando mediações entre agências internacionais, demandas comerciais, desiquilíbrios na balança de poder e emergência de novos atores com grandes potencialidades. Dessa forma, os desafios para atuar na economia internacionalizada são muitos e envolvem muito mais do que apenas trocas de produtos.
Foto: GeeJo/Wikimedia commons/Domínio Público. Sede do Fundo Monetário Internacional, em Washington, EUA.
O mercado é diversificado e, ao mesmo tempo, muito concorrido. As relações econômicas entre países são balizadores da diplomacia e das estratégias para atuar no contexto globalizado. Dessa forma, estratégia e negociação são dois conceitos importantes para pensarmos mediações e soluções de conflitos, considerando que um acordo comercial pode funcionar como forma de posicionamento na geopolítica global.
 Clique nas setas para ver o conteúdo. Objeto com interação.
Podemos perceber esses dilemas no contexto da crise do coronavírus, sobretudo na chamada “guerra de vacinas” , na briga por insumos e na doação de materiais hospitalares . Esses assuntos estão na ordem do dia e, por isso, têm destaque nos jornais de grande circulação. Todavia, movimentos semelhantes a esses acontecem a todo instante no comércio internacional e com produtos e serviços muito variados. As negociações comerciais são medidas por fatores diplomáticos, tentativa de posicionamento nos debates da geopolítica e, também, como forma de barganha de outras transações.
Percebemos, assim, que as ações no comércio internacional não são feitas de forma aleatória. Elas envolvem altas transações com o poder de desencadear aumento da produção industrial (ou de serviços) gerando emprego e renda, ou de provocar grandes transtornos, dependendo de como se desenrolam as negociações.
EXEMPLO
Vejamos o conflito ocorrido em torno da venda de alumínio entre Brasil e outros 18 países para os EUA. Trump, então presidente norte-americano, alegou a prática de dumping, que consiste em ações do Estado para diminuir o custo da produção local, aumentando as taxas sobre as chapas de alumínio. As alíquotas subiram de 15% para 145%, para o desespero das empresas de siderurgia. O caso está sendo julgado na OMC, mas uma determinação com base na apuração das partes só deve acontecer no final de 2021. Enquanto isso, fica valendo a alíquota de 145%.
No Brasil, essa situação é vista de forma peculiar, pois mesmo tendo as chapas de alumínio sobretaxadas, a taxa de importação do etanol norte-americano para o Brasil teve a alíquota zerada. Os produtores de etanol brasileiros se pronunciaram reclamando que essa política visava beneficiar os EUA, que estavam com muito estoque de etanol, enquanto prejudicava o produto nacional. Vemos nesse exemplo que, à diferença da China, que tem pleiteado insumos da vacina para a covid-19 com as negociações de venda do huawei (tecnologia para o 5g), o Brasil não respondeu à taxação do alumínio da mesma maneira, o que causou indisposição com os produtores de alumínio e álcool.
Imagem: Shutterstock.com.
Percebemos com esses exemplos que existem situações de negociação, e é preciso atentar para o que elas têm em comum. A negociação envolve duas ou mais partes e nela se expressa um conflito. Esse conflito pode advir de uma situação nova, ou seja, ainda não regulamentada, ou da quebra das regras por uma ou mais partes.
CONFLITO
O conflito pode nascer da disputa de interesses, de opiniões divergentes, ou seja, formas diferentes de entender o mesmo fato ou dado, com a incorporação de pressupostos rígidos e dificuldade de comunicação.
A negociação envolve uma série de táticas, técnicas e um conjunto de fases. Uma negociação bem-sucedida é feita a partir de muitos fatores — não apenas de um arcabouço político e/ou ideológico, ou pelo sentimento de retaliação, ou seja, por emoções. É inegável que essas questões podem até estar presentes, mas elas precisam ser dosadas e intermediadas pelo método científico. As fases de um processo de negociação internacional ideal correspondem a:
1ª ETAPA – PREPARAÇÃO
Primeiramente, temos a preparação, um momento muito importante no qual consideramos a viabilidade da negociação, pois é quando se coletam os dados, adquirem-se conhecimentos prévios sobre as variáveis envolvidas, contextualizam-se as informações, tal como reflete sobre como a contraparte está entendendo o processo. Esse primeiro momento é fundamental para uma negociação eficaz!
2ª ETAPA – CONSTRUÇÃO DO RELACIONAMENTO
O segundo estágio tem a ver com a problematização da disputa, tendo em vista as demandas de cada uma das partes.
3ª ETAPA – INTERCÂMBIO DE INFORMAÇÕES
Em seguida, está a tarefa de tentar entender o que a outra parte deseja, ou seja, quais são seus objetivos na disputa para pensar melhor sobre as possibilidades de acordos.
4ª ETAPA – PERSUASÃO
A quarta etapa consiste em usar as informações adquiridas para pensar um plano de proposta no qual os seus interesses estejam, o máximo possível, contemplados.
5ª ETAPA – CONCESSÕES E ACORDO
Feito isso, vamos para quinta fase, que é apresentar essa proposta e considerar contrapropostas.
6ª ETAPA – CONCLUSÃO DA NEGOCIAÇÃO
Por fim, temos o momento da conclusão, ou seja, da concretização do acordo. Contudo, nem sempre o caminho é tão fácil. É comum surgirem dados novos no processo ou mudanças de conjunturas que fazem a negociação falhar ou levar mais tempo para ser concluída.
Após concluída a negociação, os termos do acordo devem ser executados, proporcionando a ambas as partes os benefícios acordados, assim como exigindo-lhes o cumprimento dos termos assumidos.
VAMOS RELEMBRAR AS PRINCIPAIS IDEIAS DESTE MÓDULO COM A PROFESSORA FLAVIA VERAS.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
Parte superior do formulário
1. A LÓGICA DA GLOBALIZAÇÃO E DAS NEGOCIAÇÕES INTERNACIONAIS PASSA NECESSARIAMENTE PELA COMPREENSÃO:
Do contexto político e social e a barganha dos grupos.
Das estruturas de poder político e as fronteiras dos países.
Do capital transnacional e sua imposição aos sistemas políticos.
Da guerra de preços gerada pelo uso da rede mundial de computadores.
Do legadoda Guerra Fria e as influências das potências mundiais.
Parte inferior do formulário
Parte superior do formulário
2. OS ESTADOS E AS EMPRESAS POSSUEM TERMOS DA LÓGICA DAS NEGOCIAÇÕES INTERNACIONAIS QUE DEVEM SER ENTENDIDOS COMO:
I. AGENTES PÚBLICOS DE PODER
II. SEMPRE INIMIGOS
III. EVENTUALMENTE PARCEIROS
IV. GRUPOS ENVOLVIDOS NAS BARGANHAS E NOS ACORDOS POSSÍVEIS
ESTÃO CORRETAS:
Somente I
Somente II
Somente III
Somente I e II
Somente III e IV
Parte inferior do formulário
GABARITO
1. A lógica da globalização e das negociações internacionais passa necessariamente pela compreensão:
A alternativa "A " está correta.
A grande transformação da globalização nos processos de negociação internacional é a multiplicidade de interesses, com diversos tipos de mediação e atores.
2. Os Estados e as empresas possuem termos da lógica das negociações internacionais que devem ser entendidos como:
I. Agentes públicos de poder
II. Sempre inimigos
III. Eventualmente parceiros
IV. Grupos envolvidos nas barganhas e nos acordos possíveis
Estão corretas:
A alternativa "E " está correta.
Empresas e Estados são dinâmicos e podem ter seus interesses em xeque ou defendidos. Podem resolver discórdias, não são inimigos, mas personas centrais nos processos de acordo e barganha.
MÓDULO 2
 Identificar o comportamento do capital em escala global e a possibilidade de seu agenciamento
BOLSAS DE VALORES E OS CAPITAIS GLOBAIS
Foto: Shutterstock.com.
“O mercado está nervoso”, “o mercado está preocupado”, “o mercado está de olho nas eleições”. Esses são exemplos de algumas frases que encontramos com muita frequência na seção de Economia dos jornais de grande circulação. Mas o que, ou quem, seria esse mercado? E por que seus “sentimentos” importam tanto? Vamos entender melhor o que isso significa.
O capital globalizado tem o que nós podemos chamar de “lugares de encontro”, que são as bolsas de valores. É útil, como metáfora, a ideia de uma feira, mas, em vez de frutas e legumes, o que se compra e vende nas bolsas de valores são produtos financeiros. Com essa analogia, é possível perceber que quanto mais poderosos forem os espaços no circuito financeiro global, mais ricos e diversificados serão seus “produtos”. Desses produtos financeiros, um dos mais conhecidos e negociados na bolsa são as ações, que são frações de uma empresa. Existem também outros papéis emitidos por empresas dos setores públicos, privados ou mistos de muitas naturezas: renda fixa, crédito mobiliário, financiamento de veículos, entre outros.
A função das bolsas de valores é a de estabelecer regras de negociações, objetivando construir um ambiente transparente e seguro para todas as partes envolvidas. Vemos que os países podem ter mais de uma bolsa de valores, o que importa nesse caso são as empresas listadas e o capital circulante. Ouvimos falar com frequência da NASDAQ, da bolsa de Nova York, de Tóquio, de Shangai etc, e, claro, da B3, conhecida anteriormente como Bovespa — a bolsa de São Paulo. Mesmo ela sendo identificada como a bolsa brasileira, tem muito menos caráter nacional do que o senso comum supõe.
Foto: Shutterstock.com. O grande telão informativo da bolsa NASDAQ na Times Square, em Nova York.
SUPÕE
A Euronext, por exemplo, foi fundada em 2000 pela aglutinação de bolsas de países europeus com a NYSE dos EUA, e trabalha com empresas como L’Óréal e Anheuser-Busch InBev. A NASDAQ, outro exemplo, tem valor de mercado altíssimo, em torno de sete trilhões de dólares e, dentre as empresas listadas, estão as gigantes Apple, Netflix, Facebook, Microsoft, entre outras empresas que atuam em diversos países.
As negociações que ocorrem em uma bolsa de valores são muitas e extremamente velozes por conta da tecnologia envolvida. Por meio da inteligência artificial, grandes investidores conseguem fazer previsões através de enormes volumes de dados que são processados e interpretados digitalmente.
O volume financeiro movimentado em um dia é imenso e a rapidez não é apenas para obter informações, mas também para dar o click que concretiza a operação, de forma que quem detém a informação aplicada à tecnologia obtém muitas vantagens. Esse assunto está em voga tanto por causa da questão do sigilo dos dados, quanto por conta das recentes ações de pequenos investidores no mercado financeiro. Durante muito tempo, a bolsa foi entendida como um espaço do grande capital. Isso tem mudado e levantado forte discussão sobre o comportamento e os riscos dessas operações frente à capacidade de tecnologia e influência das grandes corporações.
Foto: Shutterstock.com.
Uma das características mais conhecidas e que serve de orientação na tomada de decisões são os índices das bolsas, que são cálculos compostos pelas ações mais negociadas em cada uma delas. A forma de estruturar esse cálculo e o seu tempo de revisão são variáveis. Os movimentos na bolsa que geram esses índices são extremamente volúveis, podendo ocasionar ganhos ou perdas que têm a capacidade de desencadear grandes crises financeiras globais. Várias crises já atingiram o sistema financeiro contemporâneo.
No módulo anterior, falamos da crise da dívida que atingiu fortemente a América Latina e, mais recentemente, houve a crise de 2008, que teve consequências importantes para a geopolítica global.
Vamos ver como ela aconteceu:
Economistas defendem que essa crise foi a pior desde o crash da bolsa de 1929, e ainda estamos vivendo suas consequências. A eclosão dessa crise está ligada à bolha imobiliária nos EUA, causada pelo aumento nos valores imobiliários que não acompanharam a renda da população. O marco dessa crise foi a falência do Lehman Brothers em 2008, mas ela tem suas raízes nos anos 1990 com a prática de hipotecar as residências em uma operação de alto risco chamada subprime mortgages.
Foto: Flickr upload bot/Wikimedia commons/CC BY-SA 2.0. Pessoas fazendo fila do lado de fora de uma agência bancária do Northern Rock em Birmingham, Reino Unido, em 15 de setembro de 2007, para sacar suas economias por causa da crise do subprime.
Os bancos criaram títulos no mercado financeiro tendo como lastro essas hipotecas e os vendiam em operações da bolsa. O grande problema é que os movimentos da bolsa estão muito conectados com os eventos econômicos fora dela. Nos EUA, assistimos, desde os anos 1990, a um progressivo aumento de créditos para a compra de imóveis, fazendo com que pela lei da oferta e procura os preços subissem. No entanto, fatores como os gastos do governo com as guerras do Iraque (2003) e do Afeganistão (2001) geraram maior inflação; além disso, outros fatores políticos e sociais estavam gerando uma estagnação da renda das famílias, que passaram a ter dificuldades para pagar as hipotecas. O não pagamento dessas hipotecas teve um custo social pesado, o que se pode constatar pelo aumento do número de moradores de rua (homeless) nos EUA, gerando um efeito dominó nas economias mundiais porque descapitalizou os bancos que não puderam mais fazer operações. A falência do Lehman Brothers e a negativa de seu socorro pelo governo Bush levaram a uma enorme queda das ações nas bolsas mundiais.
Como isso aconteceu na prática?
QUEDA DAS AÇÕES NAS BOLSAS MUNDIAIS
O livro do ex-secretário do tesouro americano durante o governo Bush traz as memórias de quem participou do processo que gerou a grande crise mundial. PAULSON, H. M. On the brink: inside the race to stop the collapse of the global financial system. Nova York: Business Plus, 2010
 Clique nas setas para ver o conteúdo. Objeto com interação.
Shutterstock.com.
Vamos pensar que, hipoteticamente, Mariana resolveu comprar uma casa. Ela tinha um emprego, mas não tinha como dar entrada na casa dos seus sonhos. Então, foi ao banco e pegou um empréstimo imobiliário dando o próprio imóvel como garantia, ou seja, ela hipotecou a casa com o intuito de comprá-la em, vamos supor, 30 anos.
Shutterstock.com.
O banco pegou esse documento, transformou em título e negociou na bolsa de valores, mas Mariana começou a ter problemas para pagar a hipoteca, enquanto o valor do solo aumentava.Por que esse aumento de preço? Bem, vamos pensar que a facilidade provocou uma maior busca pelo crédito imobiliário, e com mais gente procurando casas, o preço subiu.
Shutterstock.com.
Vamos imaginar que, em meio aos problemas econômicos, Mariana tenha perdido o emprego e não conseguiu encontrar outro que lhe pagasse o mesmo valor que o anterior. Nesse mesmo período, seu filho ficou doente e ela teve que pagar muito caro pelo serviço de saúde, ao mesmo tempo em que os preços dos produtos e serviços básicos subiam. Mariana, então, parou de pagar a hipoteca, assumiu uma dívida impossível de pagar e perdeu sua casa.
Shutterstock.com.
A história da Mariana aconteceu com muitas pessoas. Detroit, por exemplo, passou a ser chamada de cidade fantasma pela quantidade de pessoas que foram embora por terem perdido seus empregos e também suas casas.
O fato é que quando nossa personagem fictícia e outras pessoas como ela não pagaram a hipoteca, fez com que os bancos não tivessem mais dinheiro, porque o volume de pessoas que apostaram nesse negócio era enorme. Quando isso se tornou público e notório por meio da falência do Lehman Brothers, outros bancos também seguiram o mesmo caminho. Quem tinha esses títulos buscou resgatá-los para não perder ainda mais dinheiro do que já havia perdido, o que descapitalizou ainda mais os bancos, impactando os negócios no mundo inteiro.
ATENÇÃO
Isso nos leva a um conceito importante no mercado financeiro, que é o de capital especulativo, ou seja, um capital que se movimenta por meio das expectativas e apostas daqueles que participam das transações. Quase podemos dizer que ele não existe materialmente e, por isso, estar bem informado é algo tão importante para quem trabalha com mercado financeiro.
Algumas pessoas costumam fazer uma diferenciação muito abreviada entre o capital especulativo e o capital produtivo, que é aquele capital empregado na montagem e manutenção de indústrias, lojas, restaurantes e outros empreendimentos que geram empregos diretos. Contudo, ambos estão profundamente conectados, seja por conta da possibilidade de as ações das empresas serem negociadas na bolsa, ou mesmo por empréstimos, concessões de crédito, financiamentos, entre outras operações.
A COOPERAÇÃO E A SOLUÇÃO DE CONFLITOS
As crises que tinham origem no mercado financeiro fizeram com que fosse necessário pensar novas formas de atuação a nível global. A cooperação não era exatamente novidade, mas estava se tornando um tema fundamental para o segundo milênio, dando origem a muitos estudos que se propunham a pensar soluções para essas crises que, em consequência da circulação do capital globalizado, não obedeciam, e nem obedecem, os limites das fronteiras nacionais. Mas como promover a cooperação dentre ambientes tão diferentes por onde se conecta o capital? Pessoas na Índia, na China, no Brasil, no Paquistão, na Alemanha, nos EUA, no Canadá (...) têm culturas, hábitos e expectativas muito diferentes. Seria possível negociar com perspectivas tão variadas?
Apesar do receio de cientistas sociais e de outros profissionais que olham para o mercado financeiro como uma forma de sequestro do Estado, de forma a impor os interesses corporativos a nível global, outros grupos acreditam que é possível um sistema financeiro democratizado. Então, do ponto de vista de alguns teóricos da negociação, a resposta é sim!
A cooperação já se mostrou possível apesar dos conflitos e interesses divergentes ou até contraditórios. Isso porque o encontro de ideias diferentes teria o poder de criar um ambiente de inovação, aprendizagem e busca por caminhos até então não pensados. Os acordos saídos desses encontros interculturais são chamados interativos, visto que são fruto da mediação de interesses por meio do diálogo.
Um exemplo pontual de projeto bem-sucedido por meio da ideia da cooperação e do diálogo participativo foram os impactos do Fome Zero, programa que nasceu no primeiro governo de Lula no Brasil, mas que tomou proporções globais. Vamos ver como seu desenvolvimento nos leva a pensar sobre o tema da cooperação e solução de conflitos. O combate à fome e à miséria absolutas se tornou uma pauta na política externa brasileira em um projeto global, na reunião do Fórum Econômico Mundial de Davos em 2003, em meio à grande tensão por conta dos movimentos em torno das guerras do Iraque e do Afeganistão.
Foto: Shutterstock.com.
Esse movimento deu um novo sentido aos países do Sul Global em uma articulação que não era exatamente nova, mas, a partir dos primeiros anos do segundo milênio, passou a reclamar protagonismo. A formação do BRICS, o rechaço da criação do Acordo de Livre Comércio das Américas (ALCA) e a opção pelo fortalecimento do Mercosul, assim como o estreitamento das relações África-Brasil, marcaram expressões efetivas de que os espaços do Sul estavam reivindicando participação ativa na implantação de soluções globais para problemas que inevitavelmente os afetavam.
As assimetrias econômicas, sociais e de logística (infraestrutura, mão de obra qualificada etc.) compunham um mosaico de países que negociavam interesses comuns em regime de cooperação com potencial para movimentar grandes somas de capital.
A NEGOCIAÇÃO COMO UM PROCESSO DE COMUNICAÇÃO: LINGUAGEM VERBAL E NÃO VERBAL
Com tudo que vimos até agora, é fácil perceber que a globalização mundial afetou profundamente a constituição dos mercados tal como os conhecemos e aumentou a concorrência mundial. A fluidez de dados, os avanços nas comunicações e nos transportes conectaram o mundo e globalizaram o capital em espaços geográficos e culturais muito diferentes entre si.
Foto: Shutterstock.com.
Mas como manejar essas conexões entre sujeitos tão distintos? Como operar nessa concorrência? Para lidar com essas questões, as habilidades de negociação se mostram indispensáveis, considerando suas técnicas, seu planejamento, as habilidades dos negociadores e as visões de mundo de cada uma das partes.
Um ponto fundamental é que, durante um processo de negociação, devemos sempre pensar na sua viabilidade, tendo em vista a possibilidade de mediação dos interesses e dos objetivos no conflito em questão, ou seja, apostando na interação. Dessa forma, o local, a agenda, tal como a equipe envolvida, são importantes fatores a serem considerados, pois esses são marcadores sobre como o negociador deverá se colocar diante do diálogo.
Existem pontos muito importantes para uma negociação que, às vezes, são desmerecidos e que têm a ver com a linguagem, seja ela verbal (conhecimento da língua, formas de se expressar na oralidade) ou não verbal (respeito a horários e prazos, vestimenta, formas de cumprimentar, tabus culturais), que são fundamentais para uma negociação interativa.
Imagem: Laíza Cabral.
Por conta desse esforço de estabelecer laços e demonstrar respeito no contexto de negociações e acordos globais, alguns chefes de Estado já se tornaram motivo de piada para sua população. Em 2001, o então presidente do Brasil, Fernando Henrique Cardoso, ao receber uma comitiva da Nova Zelândia, usou o cumprimento tradicional da comunidade maori, o hongi, que consiste em encostar nariz com nariz. Na comitiva neozelandesa estavam a então primeira-ministra, 12 empresários e indígenas, que totalizavam 31 pessoas. Nesse encontro, além da saudação que significa a “troca de respiração da vida”, foram servidas comidas típicas do Brasil, saudações foram feitas em língua maori e “FHC ganhou uma aliada na campanha por uma globalização mais solidária e pela reformulação do Conselho de Segurança das Nações Unidas: a primeira-ministra da Nova Zelândia”. Apesar da boa resolução, o então presidente foi alvo de muitas piadas no Brasil. Os programas de comédia e as pessoas do senso comum faziam chacota da analogia entre o toque de narizes e as relações homossexuais.
Concluímos marcando que o processo negocial globalizado carece de profundo estudo sobre o comportamento, as tradições, a carga simbólico-cultural, enfim tudo aquilo que de maneira verbal ou não verbal possa ser dotado de sentidos. Mantendo-nosno exemplo dado, buscar uma comida típica, falar ao menos algumas palavras na língua de seus convidados, mostrar familiaridade com hábitos diferentes e seus significados — como no caso do toque de nariz — é muito importante para mostrar respeito e desejo de selar amizade. Esses são aspectos implícitos na comunicação.
VAMOS RELEMBRAR AS PRINCIPAIS IDEIAS DESTE MÓDULO COM A PROFESSORA FLAVIA VERAS.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
Parte superior do formulário
1. DESDE OS ANOS 1990, A AQUISIÇÃO DE IMÓVEL TORNOU-SE MAIS FÁCIL PARA AS FAMÍLIAS NORTE-AMERICANAS. A TAXA DE AQUISIÇÃO DE IMÓVEIS PASSOU DE 63%, EM 1965, PARA 69%, EM 2004. O CRESCIMENTO DE PROPRIETÁRIOS FOI RESULTADO DO CRÉDITO DE SUBPRIME, CHEGANDO, EM 2007, A 14% DOS HIPOTECÁRIOS TOTAIS. [...] O GRANDE BENEFÍCIO É QUE PESSOAS QUE ANTERIORMENTE NÃO PODIAM NEM PENSAR EM OBTER A CASA PRÓPRIA COMPARTILHARAM DO BENEFÍCIO DA INOVAÇÃO FINANCEIRA. [...] AS HIPOTECAS SUBPRIME FORAM A SOLUÇÃO ENCONTRADA PARA FINANCIAR A CASA PRÓPRIA DE PARCELAS DA POPULAÇÃO QUE ANTERIORMENTE ESTAVAM DISTANTES DESSE TIPO DE AQUISIÇÃO. [...] PORTANTO, FOI NO CONTEXTO DE CRISE IMOBILIÁRIA NOS ESTADOS UNIDOS QUE A CRISE DE 2008 ECLODIU, TENDO COMO ÁPICE A FALÊNCIA DO TRADICIONAL BANCO DE INVESTIMENTO DOS ESTADOS UNIDOS, O LEHMAN BROTHERS, FUNDADO EM 1850. EM EFEITO DOMINÓ, GRANDES INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS AO REDOR DO MUNDO FALIRAM, NO PROCESSO QUE FICOU CONHECIDO COMO "CRISE DOS SUBPRIMES".
(JARDIM, M. C. A CRISE FINANCEIRA DE 2008: OS DISCURSOS E AS ESTRATÉGIAS DO GOVERNO E DOS FUNDOS DE PENSÃO. IN: DADOS, RIO DE JANEIRO, V. 56, N. 4, P. 901-941, DEC. 2013)
O TEXTO FAZ REFERÊNCIA À IDENTIFICAÇÃO DO CAPITALISMO GLOBAL, DEMONSTRANDO COMO SUAS DINÂMICAS SÃO CLASSIFICADAS E GERAM MARCOS NA ORGANIZAÇÃO. AS CARACTERÍSTICAS IDENTIFICADAS FAZEM REFERÊNCIA A:
Crise da dívida.
Consequências da globalização do sistema financeiro.
Perigos de trabalhar com capital especulativo.
Necessidade de fazer do espaço um bem social.
Bolha imobiliária norte-americana que desencadeou a crise de 2008.
Parte inferior do formulário
Parte superior do formulário
2. O QUE É ESTIGMA SOCIAL? O ESTIGMA SOCIAL NO CONTEXTO DA SAÚDE É A ASSOCIAÇÃO NEGATIVA ENTRE UMA PESSOA OU UM GRUPO DE PESSOAS QUE COMPARTILHAM DETERMINADAS CARACTERÍSTICAS E UMA DOENÇA ESPECÍFICA. EM UM SURTO, ISSO PODE SIGNIFICAR QUE AS PESSOAS SÃO ROTULADAS, ESTEREOTIPADAS, DISCRIMINADAS, TRATADAS SEPARADAMENTE E/OU EXPERIMENTAM PERDA DE STATUS POR CAUSA DE UMA LIGAÇÃO PERCEBIDA COM UMA DOENÇA. ESSE TRATAMENTO PODE AFETAR NEGATIVAMENTE AQUELES COM A DOENÇA, BEM COMO SEUS CUIDADORES, FAMILIARES, AMIGOS E COMUNIDADES. PESSOAS QUE NÃO TÊM A DOENÇA, MAS QUE COMPARTILHAM OUTRAS CARACTERÍSTICAS COM ESSE GRUPO, TAMBÉM PODEM SOFRER DE ESTIGMA. O ATUAL SURTO DA COVID-19 PROVOCOU ESTIGMA SOCIAL E COMPORTAMENTOS DISCRIMINATÓRIOS CONTRA PESSOAS DE DETERMINADAS ORIGENS ÉTNICAS, BEM COMO QUALQUER PESSOA PERCEBIDA COMO EM CONTATO COM O VÍRUS.
(CRUZ VERMELHA INTERNACIONAL; UNICEF; OMS. SOCIAL STIGMA ASSOCIATED WITH COVID-19: A GUIDE TO PREVENTING AND ADDRESSING SOCIAL STIGMA. GENEBRA, 24 DE FEVEREIRO DE 2020)
ASSINALE A ALTERNATIVA VERDADEIRA SOBRE O TEXTO:
As instituições como Cruz Vermelha Internacional, UNICEF e OMS têm o respeito, a tolerância e a diversidade como algumas de suas premissas.
Nomear doenças com nomes de países não afeta indivíduos, afinal, é só uma forma de localizá-la geograficamente.
Com a enorme circulação global, definir uma doença pelo nome do país de suposta origem é importante para diferenciá-la de outras doenças circulantes.
O identitarismo faz com que as nomenclaturas se tornem ofensivas, o que prejudica o trabalho dos cientistas.
O estigma tratado no texto não afeta as negociações internacionais, mas é importante para evitar problemas diplomáticos.
Parte inferior do formulário
GABARITO
1. Desde os anos 1990, a aquisição de imóvel tornou-se mais fácil para as famílias norte-americanas. A taxa de aquisição de imóveis passou de 63%, em 1965, para 69%, em 2004. O crescimento de proprietários foi resultado do crédito de subprime, chegando, em 2007, a 14% dos hipotecários totais. [...] O grande benefício é que pessoas que anteriormente não podiam nem pensar em obter a casa própria compartilharam do benefício da inovação financeira. [...] as hipotecas subprime foram a solução encontrada para financiar a casa própria de parcelas da população que anteriormente estavam distantes desse tipo de aquisição. [...] Portanto, foi no contexto de crise imobiliária nos Estados Unidos que a crise de 2008 eclodiu, tendo como ápice a falência do tradicional banco de investimento dos Estados Unidos, o Lehman Brothers, fundado em 1850. Em efeito dominó, grandes instituições financeiras ao redor do mundo faliram, no processo que ficou conhecido como "crise dos subprimes".
(JARDIM, M. C. A crise financeira de 2008: os discursos e as estratégias do governo e dos fundos de pensão. In: Dados, Rio de Janeiro, v. 56, n. 4, p. 901-941, Dec. 2013)
O texto faz referência à identificação do capitalismo global, demonstrando como suas dinâmicas são classificadas e geram marcos na organização. As características identificadas fazem referência a:
A alternativa "E " está correta.
A eclosão da crise de 2008 está ligada à bolha imobiliária nos EUA causada pelo aumento nos valores imobiliários que não acompanharam a renda da população.
2. O QUE É ESTIGMA SOCIAL? O estigma social no contexto da saúde é a associação negativa entre uma pessoa ou um grupo de pessoas que compartilham determinadas características e uma doença específica. Em um surto, isso pode significar que as pessoas são rotuladas, estereotipadas, discriminadas, tratadas separadamente e/ou experimentam perda de status por causa de uma ligação percebida com uma doença. Esse tratamento pode afetar negativamente aqueles com a doença, bem como seus cuidadores, familiares, amigos e comunidades. Pessoas que não têm a doença, mas que compartilham outras características com esse grupo, também podem sofrer de estigma. O atual surto da covid-19 provocou estigma social e comportamentos discriminatórios contra pessoas de determinadas origens étnicas, bem como qualquer pessoa percebida como em contato com o vírus.
(CRUZ VERMELHA INTERNACIONAL; UNICEF; OMS. Social stigma associated with COVID-19: a guide to preventing and addressing social stigma. Genebra, 24 de fevereiro de 2020)
Assinale a alternativa verdadeira sobre o texto:
A alternativa "A " está correta.
O cumprimento da Legislação do Direito Internacional Humano é fundamental para as instituições que assinaram o documento apresentado.
MÓDULO 3
 Descrever as estratégias da negociação no contexto das relações internacionais do presente
OS TIPOS DE NEGOCIAÇÃO E SEUS AMBIENTES
A negociação faz parte de todas as instâncias da vida social. Negociamos com nossa família, com amigos, no espaço de trabalho, no trânsito. Enfim, mesmo nas questões mais banais, sempre que precisamos entrar em um acordo ou resolver um conflito estamos negociando. Contudo, também negociamos em outras condições. Podemos negociar uma dívida, barganhar preços, oferecer benefícios, prazos ou simplesmente derrubar a mesa. Tudo isso envolve a ideia da negociação.
Foto: Shutterstock.com.
Obviamente as negociações internacionais são muito mais complexas do que as citadas, que ocorrem a nível individual, no campo da vida doméstica e do cotidiano. Nas relações internacionais e nos espaços corporativos globais, o ambiente político e econômico das partes envolvidas importa muito e é difícil controlar essas questões.
As negociações do cotidiano visam lidar com questões imediatas em conjunturas marcadas pela emoção e pelas relações pessoais, enquanto as negociações a nível internacional comprometem instâncias muito maiores. Em todo caso, é possível marcar três dicotomias que, dadas suas proporções, colocam-se nas negociações:
· O individualismo e o coletivismo
· A visão hierárquica e a igualitária
· A abertura ou resistência para ouvir o outro
Quando levamos essas colocações a nível global, nos confrontamoscom diferenças de classe, capacidade de autonomia dos indivíduos e das instituições, e obrigações sociais, legais e tributárias que, inevitavelmente, afetam o andamento das negociações.
EXEMPLO
A China tem papel importante no comércio internacional, mas possui valores diferentes de muitos de seus parceiros comerciais. A mesma coisa ocorre na Arábia Saudita que, mesmo tendo um governo muito diferente dos seus parceiros comerciais — que se colocam como democracias —, é um dos maiores fornecedores de petróleo. Por outro lado, muitas dessas democracias, mesmo reclamando o título de “liberais”, tomam posturas protecionistas no mercado externo, o que gera muitos conflitos. Com tantas complexidades, como negociar no mercado global?
Como geralmente acontece nas ciências humanas, a subjetividade do negociador interferirá na leitura da situação. Exatamente por isso, existem premissas que devem ser seguidas, como o respeito, a formalidade e a cordialidade. Contudo, esses elementos são essenciais em qualquer modalidade de negociação internacional, o diferencial estará nas estratégias e táticas traçadas pelo negociador por meio do seu estudo sobre o problema, os objetivos — seus e da contraparte —, como também da análise ampla sobre as condições da negociação. Esse trabalho não acabará completamente com a subjetividade do negociador, mas fará com que ele empregue métodos científicos, ou seja, densamente pensados e estudados que podem orientar suas ações.
As estratégias têm a ver com a missão na negociação, enquanto as táticas dizem respeito aos caminhos a serem trilhados com vista não só ao alcance do objetivo, como também à forma de o prosseguir.
Podemos apontar pelo menos quatro modos de pensar as negociações que correspondem às estratégias e táticas traçadas, tal como a maneira de lidar com os próprios objetivos e com os da outra parte.
Vamos começar falando da negociação integrativa, que tem como foco a cooperação, a confiança e o compartilhamento de benefícios, sustentada pela teoria de abordagem dos ganhos mútuos. Na negociação interativa, existem, geralmente, vários pontos sendo discutidos ao mesmo tempo e as partes buscam soluções equilibradas para as disputas. Ela pressupõe a construção de uma forte relação entre as partes, na qual o conflito tem o poder de se converter, por meio da criatividade e do respeito, no surgimento de novas estratégias. No âmbito do discurso, essa relação é baseada na ideia do “ganha-ganha”, ou seja, sem prejuízo e com benefícios para ambas as partes.
Para que esse tipo de negociação seja bem-sucedida, é preciso, em primeiro lugar, que haja o desejo pela colaboração e que ele seja construído em uma relação de confiança e honestidade, com objetivos claros e mútuos que considerem questões tangíveis e intangíveis, além do bom trânsito de informações, esforço de escuta, entendimento, respeito e valorização de ambas as partes e capacidade de concessão. O grande interesse aqui é a manutenção do bom relacionamento, que, em sua continuidade, faz com que, para além dos ganhos, sejam compartilhados também os riscos das escolhas tomadas em conjunto. O fundamento está na cooperação.
Foto: Shutterstock.com.
Infelizmente, ela nem sempre funciona, seja porque uma balança perfeitamente equilibrada entre as partes é uma missão quase utópica ou mesmo porque suas exigências cobram uma postura extremamente colaborativa de ambas as partes. Por conta das dificuldades em lidar com essas questões e de manter o equilíbrio dos interesses entre as partes, pode acontecer de, em algum momento, seja por algum benefício preexistente ou não, alguém faça escolhas por meios competitivos.
Por isso, muitas vezes, a intenção de um acordo interativo acaba não se consolidando. Nesse caso, recursos e tempo foram desperdiçados e, ao invés de todos ganharem, todos acabam perdendo, e, por isso, quando esta situação se desenrola, dizemos que ocorreu um processo de “perde-perde”.
Ao contrário da perspectiva cooperativa e interativa, temos a negociação distributiva, que apresenta claramente interesses opostos, na qual o maior desafio é justamente o de conciliá-los da melhor forma possível. Nessa modalidade, existe a missão de dividir algo, e essa divisão não será feita necessariamente pela metade. Ao contrário disso, o que teremos é uma parte com fração maior e outra com fração menor. Ou seja, o objeto de disputa está diante de todos e o que se discute é como dividi-lo. Por isso, tudo que uma parte ganhar é necessariamente fruto do que a outra perdeu, sendo chamada de “ganha-perde”.
PERDE-PERDE
Conceito inaugurado e utilizado a partir de Leigh Thompson (2009), que tem como princípio o desequilíbrio das forças envolvidas em termos de disposição efetiva de negociação e barganha.
(THOMPSON, Leigh L. O negociador. 3 ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2009)
Imagem: Laíza Cabral.
Devemos citar também a negociação competitiva, que se dedica com absoluto afinco ao resultado esperado. As demandas da outra parte, tal como o relacionamento duradouro, não são uma preocupação. Seu fundamento principal é a obtenção de vantagens imediatas, usando de força e autoridade na negociação, e marcando as assimetrias entre as partes. Assim, o que é buscado nessa modalidade são concessões, vantagens e reafirmação do poder. Algumas táticas da negociação competitiva são, inclusive, consideradas antiéticas, como, por exemplo, aquelas envolvendo a formação de truste. Dada essa postura desprendida do interesse no relacionamento futuro e na construção de laços, os esforços são focados apenas no objetivo. A construção do muro na fronteira entre o México e os EUA, durante o governo de Trump, é um exemplo extremo dessa modalidade que suscitou muitas críticas ao propor que o México pagasse pela construção do muro.
ATENÇÃO
Pensar em exemplos no plano internacional não é uma tarefa fácil, pois existem variáveis relacionadas ao poder de barganha de cada parte, o impacto de decisões na opinião pública, possibilidades de constrangimentos, entre outros pontos. Além disso, é difícil encontrar ocasiões nas quais o modelo se aplique integralmente, visto que nenhuma teoria, apesar de ajudar muito em explicar situações-problema e ser importante fator de orientação, consegue captar toda complexidade do real. Nas negociações internacionais, existem rodadas de discussão e não é raro que em situações de impasse as estratégias ou até os negociadores sejam mudados.
Dito isso, vamos observar um exemplo que mostra a complexidade das negociações no plano global, suas intersecções e capilaridades. Em 2005, o Brasil tinha decisões importantes para tomar: a implementação da ALCA estava sendo discutida, existiam acenos para acordo entre Mercosul e União Europeia, negociações com vistas à exportação de gêneros primários e industrializados, e grande parte disso deveria ser resolvido na Rodada de Doha da OMC, no ano seguinte. Além disso, discutia-se sobre uma cadeira para o Brasil no Conselho de Segurança da ONU, assunto que tinha peso no contexto das negociações, mas não deveria ser superdimensionado. Sem dúvida, foi um ano que exigiu muita preparação e muito estudo, porque havia decisões difíceis a serem tomadas. Então, vamos analisar ponto a ponto e tentar, por meio desse fato, trazer exemplos das negociações.
EXEMPLO
Em 2005, o Brasil era o maior produtor de gêneros agrícolas da América do Sul e, por isso, pressionava pela abertura do mercado internacional para esses produtos. Em contrapartida, os países desenvolvidos pressionavam pela abertura para produtos industrializados. Como argumentou Lia Valls, professora da FGV: “se o Brasil quer maior abertura em agricultura, vai ser cobrado na área industrial”. Podemos definir essa negociação como distributiva, mas não é apenas isso que está em jogo. O Brasil é parte do Mercosul, junto com países que, além de produtores agrícolas em 2005, estavam dando sinais de recuperação da crise da dívida. Aceitar a abertura para produtos industrializados teria um forte impacto na indústria local, reduzindo os países do Mercosul a exportadoresde commodities e importadores de bens industrializados. Como sabemos, a proposta da ALCA, tal como a integração entre União Europeia e Mercosul, não aconteceu. O fracasso dessas negociações aponta que, entre os países do Mercosul, ocorreu uma negociação integrativa com vistas a um projeto de desenvolvimento que descartou as opções apresentadas.
ANALISANDO A NEGOCIAÇÃO: OS PODERES ENVOLVIDOS, A RAZÃO E A EMOÇÃO
Parte das dificuldades em negociar no mercado internacional tem raízes na natureza do mundo globalizado, no qual as crises se alastram, mas não de forma homogênea. As crises montam cenários diferentes e, dependendo da estrutura social, das demandas econômicas e infraestrutura local, ela se transforma. A crise de 2008, que vimos no módulo anterior, foi avassaladora, mas cada região, individualmente e/ou em grupos regionais, lidou com a situação de formas diferentes.
Imagem: Shutterstock.com.
Os especialistas explicam que nas negociações existem três variáveis que formam uma tríade de negociação: poder, tempo e informação. Vamos começar tratando do poder, que pode ser definido como pessoal ou circunstancial.
Foto: Shutterstock.com.
O poder pessoal é inato a qualquer pessoa ou instituição, e nele se desdobram questões ligadas às condições morais, à iniciativa, à persistência e à persuasão das partes em negociação. A moralidade não está ligada necessariamente às escolhas da vida pessoal do negociador, mas à sua credibilidade, à sua capacidade ou não de cumprir acordos e de agir conforme bases assentadas na legalidade. Em um mundo onde a informação é globalizada e facilmente checada, esse tem se mostrado como um ponto fundamental. A persuasão, outra palavra que pode nos levar a um entendimento distorcido, não tem a ver com mentir ou iludir a outra parte, mas com a capacidade de inovar buscando soluções, mesmo em situações adversas, o que se conecta com os pontos da iniciativa e da persistência.
Foto: Shutterstock.com.
O poder circunstancial tem a ver com as condições que estruturam o cenário do processo de negociação. Estabilidade política e financeira, índice de IDH, taxas de juros, enfim, todas as questões que oferecem menor ou maior confiança. O Risco-País é um conceito econômico que ajuda na composição desse cenário, pois avalia a capacidade de um país em lidar com suas dívidas no contexto de investimentos internacionais.
O tempo é uma variável que pode agir contra ou a favor do negociador, pois ele pode ser manejado como uma forma de induzir a concessões com vistas ao prazo limite. Por outro lado, o tempo também é um fator importante para o relacionamento e a construção de confiança entre as partes. Por fim, trataremos do ponto central de qualquer processo de negociação, a informação. Ela vai desde impressões que precisam ser confirmadas até questões mais específicas, como o perfil do negociador oponente. Uma informação errada pode fazer com que o cenário da negociação seja interpretado de maneira equivocada, o que resultará em uma negociação malfeita.
	Poder
	Credibilidade e confiabilidade
	
	Iniciativa e persistência
	
	Persuasão
	
	Circunstâncias da negociação
	Tempo
	Uso do prazo como instrumento
	
	Relacionamento e confiança
	Informação
	Perfil do negociante
	
	Cenário de negociação
Como mostramos anteriormente, a subjetividade do negociador é algo que sempre estará presente, inclusive marcando sua postura mais conciliatória ou agressiva. Contudo, esses perfis não se destacam como uma constante em toda negociação. O estudo e a análise do contexto indicam as possibilidades de barganha e até mesmo de ganhos ao se fazer concessões. Em uma negociação, é preciso agir de forma racional, afastando emoções e ideias preconcebidas que possam inviabilizá-la. Tajra (2014) define negociação como um processo de mudança de posição.
Sem flexibilidade, é muito difícil encontrar caminhos que levem, minimamente, à satisfação de objetivos. Contudo, a mudança de posição não pode acontecer de maneira aleatória, pois envolve compromisso, capacidade de barganhar, de argumentar, de lidar com as emoções e pensar de maneira lógica. Assim, os negociadores conseguiriam entender e trabalhar nos seus próprios limites e nos limites da contraparte, adotando sempre uma postura ética no processo.
O MULTILATERALISMO E SUAS INCERTEZAS
Foto: Shutterstock.com.
Essas negociações atualmente têm tido a missão de se adaptar a um momento que ainda não se sabe se é de crise ou rearranjo do cenário internacional. Muitas das ideias sobre como fazer uma negociação internacional foram pensadas no cenário de desregulamentação. Na maior parte do mundo ocidental, foi assentada a ideia do multiculturalismo, do neoliberalismo, que se apoiam nas premissas do livre comércio e dos mercados regulados por agências internacionais, e pelo livre mercado, que esperava do Estado um papel de facilitador das relações econômicas.
Os blocos econômicos regionais, como o Acordo de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA), Mercado Comum do Sul (MERCOSUL), União Europeia, Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (APEC), discutiam possibilidades e limites para as barreiras econômicas nacionais, em meio a fortes questionamentos sobre soberania e conservação das culturas locais. Era a emergência da multipolaridade, ou seja, da existência de muitos polos de poder.
Obviamente, o neoliberalismo não foi implantado como uma teoria essencialista e sem conflitos. Sequer é possível falarmos de neoliberalismo como uma doutrina econômica e política fechada em si mesma. Autores das ciências políticas e das relações internacionais falam de “estados logísticos”, que constituiriam espaços nacionais, nos quais algumas indicações presentes no consenso de Washington (como ajuste de gastos, privatizações ou defesa da propriedade do capital externo) aparecem combinadas com medidas de proteção social, forte apelo nacionalista e/ou étnico e tentativa de demarcação – ainda que retórico ‒ de um espaço entre aliados e inimigos.
ESTADOS LOGÍSTICOS
Cervo Amado considera esses estados como ‘logísticos’, categoria que ele aplica para pensar o Brasil no período da Nova República.
(CERVO, Amado. Inserção internacional: formação dos conceitos brasileiros. São Paulo: Saraiva, 2008)
Imagem: Barcex/Wikimedia commons/Domínio Público. Néstor Kirchner e Luís Inácio "Lula" da Silva durante encontro em março de 2004.
Esses estados logísticos podem ser vistos, por exemplo, na chamada “ onda rosa”, que marcou as eleições na América Latina, no início do século XXI, e levou ao poder personagens como o ex-operário Luís Inácio Lula da Silva, no Brasil, o peronista Néstor Kirchner, na Argentina, o indígena Evo Morales, na Bolívia, e o militar Hugo Chávez, na Venezuela, entre outros. Todos esses nomes, de alguma forma, mostravam a insatisfação da população frente às consequências das medidas de austeridade que estavam sendo implementadas durante os anos 1980 e 1990: desemprego, miséria, concentração de renda e desigualdade social, que impactavam sobretudo os mais pobres.
ONDA ROSA
Foi interpretado por muitos como uma ascensão de formas anti-capitalistas – vermelhas –, mas que na prática se mostraram ondas marcadas por poderes “carismáticos” vinculados com suas lideranças pessoais. Porém, não representaram um rompimento com o mercado ou os sistemas de capitais, apesar de terem como centro do discurso o apoio à população mais pobre.
Em consonância com a política internacional multilateral em 1999, surgiu o grupo que ampliou o G20, abarcando também os países emergentes: o G20. Esse grupo buscava democratizar as discussões sobre as questões da economia política na tentativa de evitar crises globais. Nas reuniões do G20, aparecem mais claramente as problemáticas dos países em desenvolvimento que precisavam de mais do que políticas de austeridade para resolver seus problemas econômicos, incrementar a renda e melhorar a qualidade de vida de sua população.
Foto: Matias Lynch/ Shutterstock.com. Todos os presidentes dos países membros do G20 em reunião em 2018.
G20
Corresponde ao agrupamento das 19maiores economias globais e a União Europeia.
Em 2001, o economista Jim O'Neill fez um artigo defendendo que Brasil, Rússia, Índia e China estariam entre as economias mais sólidas do mundo. Ele usou o nome bric, que, em inglês, significa tijolo. No final dos anos 2000, o Brasil, a Rússia, a Índia e a China fundaram o BRIC: que uniu esses grandes países em extensão, recursos naturais e população, visando à integração e ao crescimento econômico conjunto. Em 2011, a África do Sul passou a integrar o grupo, que chegou a fazer planos de criar um Fundo Monetário entre países do BRICS com potencial para rivalizar com o FMI e o Banco Mundial. Essa situação colocou desafios para a ordem multilateral, a ponto de, na reunião do Fórum Econômico de Davos de 2020, Xi Jinping defender: "O multilateralismo não deve ser usado como pretexto para atos de unilateralismo. Os princípios devem ser preservados e as regras, uma vez criadas, devem ser seguidas por todos".
Qual a razão dessa afirmação do chefe de Estado chinês? Atualmente o BRICS tem passado por muita instabilidade. Segundo alguns especialistas, isso se deve, justamente, por ameaçar a hegemonia dos países centrais. Dessa forma, o Brasil, a África do Sul e até mesmo a China, no que concerne às manifestações recentes em Hong Kong, estariam passando ou teriam passado por um processo de guerras híbridas, que consistiria em uma desestabilização política por meio da insuflação popular em redes sociais, com vista à troca de regime.
GUERRAS HÍBRIDAS
Conceito de conflitos marcados por mecanismos diversos (econômicos, sociais, políticos), que promovem o fortalecimento de insatisfações internas e a oportunidade de levantes. Se quiser saber mais sobre as guerras híbridas, recomendamos a leitura do livro Guerras híbridas – das revoluções coloridas aos golpes, de Andrew Korybko.
Foto: Gil Corzo/ Shutterstock.com. Presidente da República Popular da China, Xi Jinping, durante reunião do G20 em 2016.
A China aparece com um papel de protagonista no estabelecimento de uma ordem paralela consolidada pelos países centrais, justamente pelos esforços na criação do Banco Asiático de Investimentos em Infraestrutura, da Área de Livre Comércio Ásia-Pacífico, e por estar na Cúpula dos Líderes dos BRICS, fazendo com que os investimentos do Sul Global tenham uma liderança diferente dos EUA e da Europa.
Por isso, a China tem sido alvo de muitas tensões. Inclusive, os EUA têm feito, nos últimos anos, a tentativa de uma política de isolamento da China. Essa parece ser uma das continuidades entre o governo Trump (republicano) e Biden (democrata). Boris Johnson, primeiro-ministro inglês, já havia proposto algo semelhante, que seria formar o D10, no qual o D significaria “democracia” e o 10 o número de países membros. Os jornais noticiaram a intenção de Biden de criar uma frente internacional democrática para se opor ao poder crescente chinês, mas quem destoou da proposta foi Ângela Merkel, chanceler da Alemanha, dizendo no fórum econômico de Davos (2020) que não estava convencida de que dividir o mundo em blocos antagônicos fosse uma boa ideia. Tal atitude não deve ser entendida como um alinhamento pró-China, mas como uma forma de posicionar a União Europeia no jogo político internacional, ao funcionar como uma gangorra na mediação da disputa pela hegemonia.
De uma forma ou de outra, percebemos no exemplo citado profundas fraturas que podem afetar as relações políticas exteriores e ter um profundo impacto no comércio, gerando crises e grandes prejuízos econômicos e financeiros. A crise do multilateralismo anunciada por Ângela Merkel e Xi Jinping tem suas raízes nos ataques terroristas de 2001 nos EUA. A partir desse evento, medidas unilaterais começaram a ser tomadas, inclusive em desacordo com instituições internacionais. Como quando, mesmo sem a permissão da ONU, iniciou-se a Guerra do Iraque. A crise migratória e os problemas econômicos decorrentes da crise de 2008 também fragilizaram a União Europeia, desembocando na recente saída da Inglaterra do bloco em um longo e desgastante processo que recebeu o nome de Brexit.
VAMOS RELEMBRAR AS PRINCIPAIS IDEIAS DESTE MÓDULO COM A PROFESSORA FLAVIA VERAS.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
Parte superior do formulário
1. O TRECHO ABAIXO FOI ESCRITO, NAS REDES SOCIAIS, PELO EX-MINISTRO DA EDUCAÇÃO DO BRASIL, ABRAHAM WEINTRAUB, EM RESPOSTA AO ARTIGO ESCRITO PELO CÔNSUL CHINÊS NO RIO DE JANEIRO LI YANG:
"GEOPOLÍTICAMENTE, QUEM PODELÁ SAIL FOLTALECIDO, EM TELMOS LELATIVOS, DESSA CLISE MUNDIAL? PODELIA SEL O CEBOLINHA? QUEM SÃO OS ALIADOS NO BLASIL DO PLANO INFALÍVEL DO CEBOLINHA PALA DOMINAL O MUNDO? SELIA O CASCÃO OU HÁ MAIS AMIGUINHOS?", PERGUNTOU.
ESCALADA NA CRISE DIPLOMÁTICA COM A CHINA, MAIOR PARCEIRO DO BRASIL. REVISTA CONSULTOR JURÍDICO. PUBLICADO EM: 4 ABR. 2020. CONSULTADO EM MEIO ELETRÔNICO EM: 23 MAR. 2021.
COM BASE NOS SEUS CONHECIMENTOS SOBRE NEGOCIAÇÕES INTERNACIONAIS, ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA:
A resposta foi apenas uma brincadeira e não impacta a relação entre China e Brasil, visto que foi feita por meios não institucionais.
Condiz com uma postura histórica do Itamaraty de valorizar a cultura nacional por meio de personagens populares; postura semelhante foi tomada nos anos 1940, com o Zé Carioca.
Apesar de pouco polido, a resposta não afeta o trabalho dos negociadores, visto que Weintraub era ministro da Educação.
Em um mundo globalizado, as redes sociais são espaços para aquisição de informações entre os negociadores, de forma que tal colocação torna o cenário das negociações mais hostil.
A colocação causou graves prejuízos nas relações entre China-Brasil, de forma que as negociações em andamento se tornaram inviáveis.
Parte inferior do formulário
Parte superior do formulário
2. A FORMULAÇÃO DE NOVOS CONJUNTOS ECONÔMICOS, COMO OS BRICS, É UM CLARO ELEMENTO NOVO NA GLOBALIZAÇÃO. O PAPEL DOS BRICS DEVE SER ENTENDIDO COMO:
A formulação de um novo bloco econômico dos países emergentes contra seus dominadores.
A identificação dos problemas dos grupos dos países emergentes – Brasil, Rússia, China e África do Sul – de que suas demandas são diferentes e precisam ser enfrentadas.
Uma tentativa chinesa de montar um bloco “vermelho-tijolo”, retomando a velha política de oposição, e por isso o Brasil se afastou definitivamente dos BRICS.
Grupos formados nos fóruns mundiais, para impor agendas comuns à ONU, e têm na Rússia e na China seus maiores expoentes.
Novos blocos econômicos com tendência a superar Mercosul e ALCA em sua predominância mundial.
Parte inferior do formulário
GABARITO
1. O trecho abaixo foi escrito, nas redes sociais, pelo ex-ministro da Educação do Brasil, Abraham Weintraub, em resposta ao artigo escrito pelo cônsul chinês no Rio de janeiro Li Yang:
"Geopolíticamente, quem podeLá saiL foLtalecido, em teLmos Lelativos, dessa cLise mundial? PodeLia seL o Cebolinha? Quem são os aliados no BLasil do plano infalível do Cebolinha paLa dominaL o mundo? SeLia o Cascão ou há mais amiguinhos?", perguntou.
ESCALADA na crise diplomática com a China, maior parceiro do Brasil. Revista Consultor Jurídico. Publicado em: 4 abr. 2020. Consultado em meio eletrônico em: 23 mar. 2021.
Com base nos seus conhecimentos sobre negociações internacionais, assinale a alternativa correta:
A alternativa "D " está correta.
Uns dos fatores que influenciam em uma negociação são a credibilidade e a moralidade das partes. Uma posição desrespeitosa, ainda que nas redes sociais, pode causar profundo mal-estar.
2. A formulação de novos conjuntos econômicos, como os BRICS, é um claro elemento novo na globalização. O papel dos Brics deve ser entendido como:
A alternativa "B " está correta.
BRICS é uma organização de economias em ascensão de países marcados por severas contradições sociais, com grande participação na economia mundial, mas que enfrentam graves problemas de interesses. Sua proximidade é representativa na política mundial, apesar dos estremecimentos e das disputas.
MÓDULO 4
 Reconhecer o significado das recentes transformações na era digitalem diálogo com os conflitos do presente
AS TRANSFORMAÇÕES CULTURAIS E ESTRUTURAIS NO MUNDO DIGITAL
Imagem: Shutterstock.com.
Quando a Internet foi criada, por volta de 1958, no interior do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, havia interesses resumidos no campo militar, dada a competição bélica e tecnológica entre EUA e URSS. Sua origem remonta o chamado Projeto Lincoln, que tinha como proposta criar um sistema que pudesse coordenar os radares de vigilância por computadores. Desde esse período, a Internet ampliou seu alcance em nossas vidas, transformou nossa maneira de socializar, de comprar, de interagir com pessoas públicas que admiramos. Enfim, estabeleceu uma nova forma de organizar o mundo globalmente e as relações nele tecidas.
Surpreende-se quem entende essas transformações apenas pela faceta da individualização. Os Estados Nacionais e as instituições transnacionais também passaram por mudanças em sua forma organizativa e deliberativa devido ao avanço da Internet.
A chamada governança digital avança com a proposta de, por meio dos recursos digitais, facilitar a vida dos cidadãos, aumentar a transparência das gestões públicas e incentivar a participação democrática.
No Brasil, por exemplo, foi em 2016, por meio do Decreto 8638, que se instituiu a primeira política de governança digital. Esse documento está em acordo com princípios afirmados por instituições transnacionais e pressupõe uma maior participação popular nas tomadas de decisões, utilizando as ferramentas digitais como meio de viabilizar o amplo diálogo com a população. Nele afirmam-se nove princípios:
DECRETO 8638
· Foco nas necessidades da sociedade.
· Abertura e transparência.
· Compartilhamento das capacidades de serviços.
· Simplicidade.
· Serviços em meio digital.
· Segurança e privacidade.
· Participação e controle social.
· Governo como plataforma.
· Inovação.
Nesses nove princípios vemos a iniciativa de um governo democrático e inovador, buscando tomar decisões a partir da escuta ativa da sociedade e das empresas. Além disso, esse Estado reconhece a necessidade de acompanhar as transformações da sociedade global sem perder de vista a segurança, seja do ponto de vista social ou da privacidade. Em março de 2020, pelo Decreto 10.332/20, foi traçado um plano com metas audaciosas, que expande a transformação digital a outras instâncias do poder.
DECRETO 10.332/20
Somos um país com uma população muito grande e com acesso à Internet, sobretudo por meio de smartphones. O governo digital tem a ideia de desburocratizar e tornar a vida mais ágil. Por exemplo, quanto tempo tínhamos que gastar em uma delegacia para fazer um Boletim de Ocorrência? Hoje ele pode ser feito on-line, assim como o pagamento de Duda e os agendamentos em diversas autarquias. É possível fazer a declaração de renda de forma virtual, entre tantos outros serviços que deixam nossa vida muito mais prática.
A transformação digital que é sentida na reorganização da vida pública nacional é percebida também a nível das instituições e dos encontros transnacionais. Não são recentes as votações eletrônicas e os encontros virtuais envolvendo a ONU, a OMC, a OCDE, Fóruns Econômicos e tantos outros eventos. A pandemia da covid-19 acelerou processos em curso, fazendo a intermediação em escala global das relações humanas, pelo meio digital, se tornar ainda mais latente.
Temos que admitir que, no contexto da pandemia global, a Internet possibilitou que mantivéssemos alguma normalidade e contato exterior para aqueles que realmente viveram o confinamento. O avanço da globalização e as novas tecnologias que envolvem inteligência artificial já transformaram cultural e estruturalmente o mundo em que vivemos. Os especialistas dizem que não há caminho de volta e que o mundo analógico pertence ao passado.
Foto: Shutterstock.com.
Nesse novo mundo que se abre, a Internet adentrou no cotidiano, estando presente em nossas atividades diárias sem que nos déssemos conta. Esse contexto de simbiose entre o ser humano e as máquinas por meio das redes é chamado de Internet das coisas.
Vamos ver alguns exemplos que mostram de que forma passamos a nos relacionar com as coisas que nos cercam, o que mudou substancialmente nos últimos anos da era digital. Já perceberam que, em muitos estabelecimentos que frequentamos, como farmácias, supermercados, lojas de conveniência, restaurantes, entre outros, sempre nos convidam a “baixar seu app”? Por meio do aplicativo, temos acesso a promoções exclusivas nas lojas físicas e virtuais. Ingressos de shows, festas e outros eventos culturais, ainda que gratuitos, exigem cadastro e pedem que o aplicativo seja baixado. As câmeras de segurança estão por todos os lugares e em alguns espaços privados é possível observar o que se passa pelo celular.
Imagem: Shutterstock.com.
O problema é que nem tudo são benesses. Na prática, essas medidas que facilitam nossas vidas podem se tornar uma ferramenta geradora de muitos problemas. O vazamento de dados privados, levando a golpes financeiros e contatos indesejados; o aumento da exploração do trabalho, visto que estamos sempre conectados; a vulnerabilidade frente à exposição de fakenews, que podem ter efeitos alarmantes, tanto no contexto privado quanto público; a exposição à chamada “política do cancelamento”, que tem dado muita dor de cabeça para pessoas públicas e empresas que passam a ser perseguidas às vezes de forma injusta; o mau uso do anonimato na web – algumas pessoas se sentem à vontade para cometer crimes de ódio e fazer ameaças; entre muitos outros problemas. Por conta disso, muito se tem discutido sobre a moralização da globalização e sobre a ética digital.
O TRABALHO NA ERA DIGITAL
Foto: Shutterstock.com.
O trabalho tem sido um tema muito discutido no contexto da era digital. Não é raro vermos comerciais que mostram pessoas felizes trabalhando com seu computador, na praia ou de frente a uma linda paisagem. Conectados, podemos fazer uma viagem incrível para um lugar distante e, mesmo assim, continuar respondendo nossos clientes por e-mail ou mensagem de vídeo, ministrar aulas virtuais ou até mesmo participar de uma reunião de negócios.
Parece bastante atrativa a ideia de fazer uma viagem para uma praia paradisíaca e resolver os problemas com os pés na areia, mas será que estaríamos aproveitando de verdade a nossa viagem e as nossas companhias? Será que iríamos realmente apreciar a paisagem ou ficaríamos preocupados com as mensagens que poderiam chegar? O trabalho virtual nos oferece a possibilidade de algumas comodidades, como estar em casa com a família, viajar fora dos períodos de férias, mas não nos permite desconectar. A qualquer momento, um sinal sonoro no celular pode soar e o tempo de descanso e contemplação acabou. O maior problema é que quem trabalha não tem o menor controle sobre esse tempo.
No campo da economia, os estudos de Montoro (2014) mostraram que a estruturação do capitalismo financeiro, tal como assistimos hoje, faz com que o valor do trabalho tenda a zero. Dessa maneira, o processo de flexibilização do trabalho não seria exatamente uma transformação, mas a acentuação de um processo concentrador de renda que pode tomar muitas formas.
De fato, há mudança nas relações de trabalho que são sentidas com muita dureza e insegurança pelos trabalhadores. Contudo, essas mudanças, do ponto de vista do movimento do capital, são apenas parte do fluxo de concentração da renda, a partir de formas inovadoras da desvalorização do trabalho. Ou seja, a informatização, através do uso de plataformas digitais, seria um dos principais meios por onde se deram a desvalorização do trabalhador e a consequente diminuição do valor de seu trabalho.
A título de exemplo, vamos pensar o caso das relações contratuais da Uber com seus motoristas, mas relações muito parecidas se estabelecem em outros aplicativos de transporte, entregas e de fornecedores de serviços em geral, como Rappi, JetNinjas, Parafuzo, Habitissimo, entre outros. Esse é um fenômeno tão marcante que a “uberização” se tornou um conceito. Se refere aum novo estágio da exploração do trabalho, que trouxe mudanças significativas ao estatuto do trabalhador, à configuração das empresas, assim como às formas de controle, gerenciamento e expropriação do trabalho. Trata-se de um novo passo nas terceirizações, que ao mesmo tempo que se complementa também pode concorrer com o modelo anterior das redes de subcontratações compostas pelos mais diversos tipos de empresas.
A uberização consolida a passagem do estatuto de trabalhador para o de pequeno empresário de si mesmo. Nessa condição, o indivíduo, responsável pelos seus ganhos, fica permanentemente disponível ao trabalho. Essa condição esconde um autogerenciamento subordinado em que são retiradas as garantias mínimas, ao mesmo tempo em que mantém a subordinação informal de quem presta o serviço. O termo “uberizar” virou significado de alterar a forma como os intermediários gerenciam seus negócios. Empresas inovadoras utilizam a tecnologia para colocar consumidores e fornecedores em contato direto. Neste sistema, os intermediários não atuam diretamente no processo. A única função deles é garantir que aqueles que procuram um serviço possam encontrar pessoas dispostas a oferecer essa demanda.
A empresa se coloca como uma plataforma prestadora de serviços de tecnologia, não se submetendo a nenhuma regulação relacionada a empresas que prestam serviços de transporte. A corporação seria fornecedora de serviços de tecnologia, e, portanto, desenvolveria, licenciaria e atualizaria programas de computador, entre outras atividades. Não prestaria serviços de transporte, nem operaria como agente para o transporte de passageiros.
Foto: Shutterstock.com. Cartaz no prédio da bolsa de valores de Nova York celebrando o sucesso da empresa Uber, em 2019.
Essa condição nos leva a indagar o que é ser motorista da Uber. Que tipo de relação ele mantém com a empresa? Existe relação de dependência? Se sim, como ela se estabelece? Do ponto de vista jurídico, essas relações se estendem? Essa é uma batalha que os setores precarizados da classe trabalhadora enfrentam no mundo contemporâneo. À primeira vista, o motorista da Uber não é empregado, dada a eventualidade do trabalho. É importante notar que a marca é emblemática, e por isso ficou aproximada do conceito, mas o modus é a marca de um novo conjunto de relação de trabalho.
Sobre os provedores de serviço que utilizam: o que se estabelece é um contrato de prestação de serviço, no qual o contratado deve atender a alguns requisitos para garantir a qualidade, fazer testes e então começar a trabalhar. Como a relação é por contrato de prestação de serviço, não há uma relação de trabalho, tampouco vínculo empregatício. O que elencamos é quantos serviços e qual a dinâmica desse mercado, de cada pessoa que leva e traz sua comida, que vai e volta do mercado, quem regula ou se cabe regulação desses mercados. É um momento de descoberta, mas é fundamental pensar como funciona o peso dessas relações de poder e a ausência de velhos instrumentos de proteção.
A GESTÃO DOS RECURSOS NATURAIS NO MUNDO DIGITAL
Os anos 1990 foram marcados pela conscientização de que o meio ambiente precisava de cuidados. A expansão industrial, o uso de combustíveis fósseis, os CFC’s e a criação de gado com seus impactos na camada de ozônio e no efeito estufa, a ampliação do consumo a nível global e a consequente produção de lixo, a capitalização do solo (que colocava em questão a viabilidade dos recursos naturais a longo prazo e levantava a atenção sobre a dizimação dos povos nativos e de sua cultura) eram assuntos presentes nas pautas de encontros como a ECO92, que buscaram pensar em formas sustentáveis para o desenvolvimento econômico.
Apesar disso, os debates em torno da política internacional têm tido a área ambiental como um tema de barganha nas negociações a nível global. O descumprimento de regras ambientais, como o uso excessivo de agrotóxicos ou uma produção que não cumpre as regras internacionais dos direitos humanos, por exemplo, fazendo uso de trabalho escravo ou mão de obra infantil, pode levar a sanções e ao embargo de produtos em certos espaços.
Um ponto fundamental sobre a questão dos recursos naturais diz respeito ao papel das empresas no mundo globalizado. Por exemplo, temos os chamados “selos verdes”, que apresentam recursos como o reconhecimento como orgânico, sem teste em animais. Estes e outras marcas, ao mesmo tempo, tornam os produtos mais competitivos em um mercado consciente da questão ambiental.
Imagem: Tm/Wikimedia commons/CC BY-SA 2.0. Foto aérea dos estragos decorrentes do rompimento de barragem em Brumadinho (MG).
Contudo, a gestão horizontal pode fazer com que os gerentes dessas empresas se desassociem ou até mesmo desconheçam as ações predatórias de seus fornecedores e parceiros. Podemos pensar na mineradora Vale, privatizada em 1997. A empresa colecionou multas e infrações, inclusive com o terrível acidente de Brumadinho (MG), que matou pessoas e contaminou rios e subsolo. Ao mesmo tempo que recebia as infrações, a empresa fazia programas de reflorestamento e de auxílio ao entorno e assim pleiteava uma imagem de empresa sustentável.
Enrique Dussel (2007), um intelectual argentino e erradicado no México, é extremamente descrente do neoliberalismo e da função do Estado nesse contexto. Por isso, uma de suas contribuições para a reflexão do mundo atual se aplica ao questionamento da noção de felicidade e por qual motivo ela estaria, na era digital, mais atrelada ao lucro e ao capital do que à vida comunitária. Nesse sentido, é lançado o questionamento sobre o que é, verdadeiramente, o “bem viver” ou a “vida boa”. Ou seja, simplificando bastante o problema, a questão gira em torno de algo como:
TER UMA VIDA BOA SERIA TER A ÚLTIMA VERSÃO DO IPHONE OU A POSSIBILIDADE DE PESCAR E MERGULHAR EM UM RIO QUANDO QUISER?
Muitas pessoas prefeririam o Iphone, outras escolheriam o rio, mas dificilmente pensariam nele por meio do uso comunitário. A escolha do rio certamente estaria condicionada a transformá-lo em uma propriedade privada. Muitos autores do pensamento decolonial, entre eles o próprio Dussel, apontam que esse é um dos resultados do eurocentrismo, que, ao instalar a modernidade nos espaços subalternos, criou uma forma de viver predatória.
A pós-modernidade apareceria como um contraponto da modernidade, abraçando o diferente e o contraditório, por meio do multiculturalismo e do respeito à diversidade, mas sem romper com as lógicas econômicas que organizaram o mundo eurocêntrico. Essa forma de lidar com o meio ambiente levaria o mundo à devastação, tornando impossível, a longo prazo, o próprio sistema que o criou. Alguns autores apontam que o ser humano fez tantas transformações na crosta terrestre que teríamos entrado em uma nova era geológica, o antropoceno.
Imagem: Shutterstock.com.
VAMOS RECONHECER OS CONCEITOS DAS NOVAS DINÂMICAS DE TRABALHO E RELAÇÃO COM O AMBIENTE, ALÉM DE RELEMBRAR AS PRINCIPAIS IDEIAS DESTE MÓDULO COM A PROFESSORA FLAVIA VERAS.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
Parte superior do formulário
1. O CONCEITO DE “UBERIZAÇÃO” MUITAS VEZES É CONFUNDIDO COMO SE FALÁSSEMOS DA EMPRESA. QUANDO ESTUDAMOS AS RELAÇÕES ENTRE OS SUJEITOS E O PAPEL DA GLOBALIZAÇÃO NA NOVA DINÂMICA DE TRABALHO, ADOTAMOS O CONCEITO POIS:
Ele é um marco de uma mudança da associação entre a tecnologia e as relações de serviço, que tem sido sofisticado e multiplicado.
Ele é adotado porque a empresa Uber conseguiu o monopólio dos sistemas de transporte e se impôs aos governos.
Ele é aplicado por causa das relações humanas envolvidas, em que o trabalhador perdeu suas condições por conta de um subterfúgio jurídico.
Ele é pensado dessa forma por ser um marco de uma nova forma de trabalho, não mais regulada pelo governo, mas exclusiva da relação entre empregado e empresa.
Ele é um golpe das empresas contra os trabalhadores e uma arma sofisticada do globalismo.
Parte inferior do formulário
Parte superior do formulário
2. AS RELAÇÕES DE TRABALHO TÊM SOFRIDO GRANDE IMPACTO, NO SÉCULO XXI, POR CONTA DO MUNDO DIGITAL.

Continue navegando