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RESENHA II - “THE GODFATHER” Arthur Bernardes de Oliveira The Godfather (em português, O Poderoso Chefão) é um filme adaptado da obra de mesmo nome do escritor americano Mario Puzo, publicado em 1969. Em 1972, mais de 50 anos atrás, a adaptação cinematográfica foi lançada, tendo como diretor Francis Ford Coppola e sendo estrelada por Marlon Brando e Al Pacino. Puzo trabalhou com Coppola no roteiro da adaptação original, bem como nos dois filmes que se seguiram. O Poderoso Chefão é a história dos Corleones, uma família fictícia da máfia que opera na cidade de Nova Iorque. O romance se concentra no período imediatamente após a Segunda Guerra Mundial, de 1945 a 1955. O enredo gira em torno de Michael Corleone, um recluso familiar que se transforma de um indivíduo cumpridor da lei em um chefe da máfia, cuja administração é basicamente um assunto de família. Há um mandamento, falado por Michael, filho de Don Corleone, que é chave para o resto da trama: “Nunca tome partido contra a família”. É significativo que a primeira tomada da obra seja dentro de uma sala escura e fechada. É o dia do casamento da filha de Corleone. Um homem veio pedir punição para o estuprador de sua filha. Don Corleone pergunta por que ele não o procurou imediatamente. “Fui à polícia, como um bom americano”, diz o homem. A resposta do Poderoso Chefão sustentará todo o filme: “Por que você foi à polícia? Por que você não veio até mim primeiro? O que eu já fiz para você me tratar de forma tão desrespeitosa? [...] E se, por acaso, um homem honesto como você fizer inimigos... então eles se tornariam meus inimigos. E então eles teriam medo de você.” Em "O Poderoso Chefão", a negociação é retratada como um jogo estratégico no qual é essencial controlar as emoções e explorar os interesses e vulnerabilidades do outro lado. Durante a festa de casamento, Johnny Fontane, um cantor famoso e afilhado de Don Corleone, busca a ajuda de seu padrinho para conseguir um papel em um filme, e Don Corleone concorda em ajudá-lo. Para realizar isso, ele designa Tom Hagen, seu consigliere, para convencer o diretor Woltz a conceder o papel ao afilhado. No primeiro encontro, apesar das ameaças de Woltz, Hagen continua a tratar o diretor de forma amigável, influenciando seu comportamento e deixando espaço para um diálogo futuro. De fato, Woltz mais tarde reabre as negociações ao convidar Hagen para sua casa. No segundo encontro, Woltz tenta estabelecer um relacionamento de forma mais sutil, mas comete o erro de focar apenas em seus próprios interesses, ignorando outros interesses não percebidos da outra parte. Por outro lado, Hagen mantém o controle emocional, mantendo a compostura e envolvendo-se educadamente com Woltz, inclusive agradecendo-lhe pelo jantar agradável. Ele reconhece que a solução para a questão reside na estratégia de negociação. Hagen volta sua atenção para os interesses inferidos de Woltz, como segurança pessoal e ganho financeiro. Woltz acreditava erroneamente que não era vulnerável à potencial violência de Corleone. Hagen encontra uma maneira de trazer à tona esses dois interesses na consciência de Woltz ao decapitar o cavalo mais valioso do diretor e colocar sua cabeça na cama de Woltz sem ser detectado. Essa cena demonstra o cumprimento parcial de uma ameaça e revela a capacidade de Hagen de cumprir ameaças ainda maiores. A cena do cavalo na cama de Woltz exemplifica como Hagen consegue influenciar o comportamento de seu oponente, mostrando que ele é capaz de alcançar seus objetivos por meio do uso de táticas impactantes e imprevisíveis. Em outra parte da obra, Don Corleone e Hagen têm um encontro com Virgil Sollozzo, um membro da família Tattaglia, uma família rival. Sollozzo está interessado em obter a cooperação de Don Corleone em uma operação de narcóticos. No entanto, o Don recusa firmemente a oferta de Sollozzo, deixando claro que não quer se envolver nesse tipo de negócio. Durante essa reunião, Sollozzo percebe que Sonny, o filho mais velho de Don Corleone, parece mostrar interesse na proposta, expressando sua discordância com a decisão do pai. Essa percepção de Sollozzo sobre o interesse de Sonny e de que há discordância dentro do grupo do outro, é um elemento crucial na trama, pois ele vê uma oportunidade de ganhar a cooperação dos Corleone através do envolvimento de Sonny, não precisando mais da aprovação de Don. Então, três meses depois desse encontro, Sollozzo e seus associados sequestram Tom Hagen, forçando-o a entrar em um carro, e na mesma noite Don Corleone é baleado enquanto caminha pela rua. Sollozzo acredita que o Don está morto e quer que Tom leve sua proposta de narcóticos para Sonny, agora considerado o líder da família Corleone. Assim, o interesse percebido de Sollozzo em relação a Sonny é um elemento chave na trama, pois ele vê Sonny como uma possível brecha para obter a cooperação dos Corleone em seus negócios ilícitos. A partir desse ponto, a história se desenrola com a família Corleone enfrentando uma luta intensa para proteger seus interesses e sobrevivência no mundo do crime organizado. Outra cena marcante do filme, Sonny, conhecido por seu temperamento explosivo e instinto protetor, descobre que seu cunhado Carlo Rizzi agrediu sua irmã Connie e vai atrás dele. A cena se desenrola em um ambiente público, na rua, após uma discussão acalorada entre Sonny e Carlo. Sonny, em um momento de completa indignação, não apenas bate em Carlo, mas também o humilha. Ele não se contenta apenas com a punição física, mas também busca ferir o orgulho e a autoestima de Carlo. Em sua fúria desmedida, Sonny dá um chute final em Carlo, mesmo quando este já estava desmaiado, intensificando a humilhação, de forma que ele retroceda em suas ações. Sua reação violenta e a humilhação imposta a Carlo servem como uma demonstração de poder e um aviso para aqueles que ousam ferir ou desrespeitar os membros da família Corleone. No entanto, essa explosão de raiva de Sonny também desencadeia uma série de eventos que afetarão profundamente a família Corleone e moldarão o curso da narrativa. Don Corleone reassume o controle da família após o assassinato de Sonny. Todos esperam que Don Corleone declare guerra, mas em vez disso ele organiza uma reunião com mafiosos de famílias importantes de todo o país para declarar a paz, um sinal de desescalada. Ele jura que, por sua honra, nunca buscará vingança pela morte de Sonny. No entanto, percebe-se no filme que o importante é a lealdade à família. A frase “nada pessoal, são apenas negócios” é muito utilizada no meio. No entanto, seu efeito geral é de ocultar as intenções do falante, sendo um eufemismo para suas atividades. Muito se fala no filme sobre confiar na palavra de um homem, mas a honestidade não é nada comparada à lealdade. Michael decide voltar da Sicília e ingressar nos negócios da família. Após a morte de Don, o famoso “massacre do batismo” se desenrola, em que Michael se torna um padrinho em ambos os sentidos ao mesmo tempo. O plano de Michael entra em vigor, matando de forma surpresa os chefes das outras famílias. Ao mesmo tempo, a família Corleone começa a retomar o controle de áreas que haviam escapado deles. A família Corleone tornou-se, em um dia, mais poderosa do que nunca, e Michael Corleone tornou-se verdadeiramente the godfather (ou, o poderoso chefão em português). A história vê a Máfia por dentro, bem como suas tomadas de decisão e negociações. Esse é o segredo do filme, seu encanto, seu feitiço. O mundo real é substituído por um patriarcado autoritário onde o poder e a justiça fluem do Poderoso Chefão, e os únicos vilões são os traidores. Durante o filme, não vemos uma única vítima civil do crime organizado. Nenhuma mulher presa na prostituição. Nenhuma vida destruída pelo jogo. Nenhuma vítima de roubo ou fraude. E o único policial com um papel expressivo é corrupto. É por isso que simpatizamos na obra com personagens que são essencialmente maus. Don Corleone surge como um personagemsimpático e até admirável. Durante todo o filme, esse criminoso profissional ao longo da vida não faz nada que possamos realmente desaprovar. Porém, no final, a ironia do título é que ele acaba se referindo ao filho Michael, não ao pai.
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