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Página 1 de 7 IBET – INSTITUTO BRASILEIRO DE ESTUDOS TRIBUTÁRIOS Módulo IV: Controle da Incidência Tributária Seminário I: Regra Matriz de Incidência, Obrigação Tributária e Sujeição Passiva Aluno: Gabriel de Sousa Lopes 1. Que é norma jurídica? E regra-matriz de incidência tributária (RMIT)? Qual a função do consequente normativo? E da base de cálculo? Conforme a explicação de Aurora Tomazini de Carvalho (em seu "Curso de Teoria Geral do Direito", página 285), as normas jurídicas constituem elementos do direito positivo, apresentando enunciados prescritivos. São construídas a partir de enunciados que, no que tange às significações, também podem ser considerados proposições jurídicas. Essas normas mantêm entre si relações de coordenação e subordinação, delineando o direito como um conjunto de significados com base na deontologia. Em outras palavras, representam o mínimo deôntico expresso como proposição prescritiva, surgindo da interpretação de enunciados jurídicos por um sujeito, que agrega significado. Vale destacar que a norma jurídica completa resulta da união da norma primária, emergente de um evento que combina com a prescrição de conduta, com a norma secundária, esta última determinando sanções a serem aplicadas caso a conduta prescrita na norma primária não seja realizada após a ocorrência do evento descrito. A conceituação da regra-matriz de incidência tributária pode levar a duas interpretações, suscitando o desafio da ambiguidade, comum em termos jurídicos. De acordo com Aurora Tomazini de Carvalho (em seu "Curso de Teoria Geral do Direito", página 384, 2014), a regra-matriz de incidência tributária pode ser compreendida como (i) uma estrutura lógica, um esquema sintático que guia o intérprete na organização de significados para construir a norma jurídica. Essa estrutura é abstrata, mas a regra-matriz de incidência tributária também pode ser entendida como (ii) a norma jurídica em seu sentido estrito, quando todos os seus campos sintáticos são preenchidos semanticamente, formando uma estrutura completa. Assim, a regra-matriz de incidência tributária emerge como uma ferramenta que expõe a estrutura lógica e estrutural fundamental para a compreensão da norma jurídica. Essa ferramenta se desdobra ao se construir os conceitos conotativos da norma, que abrangem, no antecedente, critérios materiais, temporais e espaciais, e no consequente, critérios pessoais e prestacionais. Página 2 de 7 A funcionalidade prática da regra-matriz de incidência tributária no contexto do direito positivo reside em permitir uma análise mais aprofundada das proposições normativas, expondo os componentes da hipótese e do consequente das normas jurídicas. O consequente normativo tem como principal finalidade estabelecer critérios pessoais e quantitativos, criando um vínculo de obrigações entre o Estado e o contribuinte. A base de cálculo, além de delimitar a magnitude sobre a qual uma alíquota específica será aplicada para determinar o valor a ser recolhido (mensurando as proporções econômicas), também serve para confirmar ou refutar o critério material subjacente à hipótese tributária. 2. É possível admitir a constitucionalidade da base de cálculo arbitrada, considerando que nela não identificamos a necessária correspondência entre a base e a riqueza manifestada pelo fato jurídico tributário? Se sua resposta for positiva, em quais condições? Compreendo que, mesmo considerando que a base de cálculo desempenhe o papel de reafirmar o critério material do tributo e estabelecer as proporções econômicas do tributo a ser recolhido, com destaque para o princípio da capacidade contributiva (que destaca as capacidades financeiras individuais que viabilizam o pagamento do tributo), há situações em que, devido à ausência de critérios conclusivos, se faz necessário o estabelecimento da base de cálculo por meio de arbitragem, sendo essa medida, portanto, em conformidade com a Constituição. A arbitragem nesse contexto deve ser adotada de modo excepcional, sendo viável somente nos casos em que o contribuinte se abstém ou se recusa a fornecer informações cruciais para determinar a base de cálculo, ou quando tais informações, mesmo se fornecidas, não podem ser consideradas confiáveis devido à falta de documentação adequada. Nesses casos, a utilização do arbitramento é admissível, com a observação de que, em situações de contestação, uma avaliação contraditória, seja administrativa ou judicial, é permitida conforme estipulado no artigo 148 do Código Tributário Nacional. 3. Distinguir: obrigação tributária e deveres instrumentais. Multa pelo não pagamento caracteriza-se como obrigação tributária? Justifique analisando criticamente o art. 113 do CTN. Bem, de acordo com o disposto no artigo 113, §1º, do Código Tributário Nacional, a obrigação tributária é caracterizada como a obrigação pecuniária que o sujeito passivo da obrigação tributária deve cumprir, ou seja, o dever de pagamento. Os deveres instrumentais, também conhecidos como deveres de suporte, por cercarem a obrigação principal, são constituídos por ações a serem realizadas ou evitadas, necessárias para que a autoridade fiscal possa determinar e recolher o montante referente à obrigação principal. Essa compreensão Página 3 de 7 decorre do §2º do mesmo artigo mencionado. Esses deveres não constituem um objetivo em si, mas sim meios para garantir a efetivação do pagamento da obrigação principal. Além disso, em relação à segunda indagação levantada, entendo que a multa decorrente do não pagamento também é considerada uma obrigação tributária, porém, não se classifica como um tributo, pois constitui uma penalidade por infração legal. Essa interpretação está embasada no §3º do mencionado artigo. Vale ressaltar uma observação crítica em relação ao artigo 113, §3º do CTN, que iguala o pagamento de tributo e a penalidade pecuniária no que diz respeito à determinação da obrigação principal. Essa equiparação é questionável, uma vez que o "art. 3º do CTN estabelece como um dos requisitos que a prestação pecuniária não seja uma sanção por ato ilícito" ao definir tributo. 4. Que é sujeição passiva? Definir os conceitos de: (i) sujeito passivo; (ii) contribuinte; (iii) responsável tributário; e (iv) substituto tributário – distinguindo: substituição tributária para trás, para frente e convencional (concomitante); agente de retenção e substituição para frente. O responsável (art. 121, II, do CTN) é: (i) sujeito passivo da relação jurídica tributária; (ii) de relação de dever instrumental; ou (iii) de relação jurídica sancionatória? A respeito da sujeição passiva, que é abordada no âmbito do critério pessoal do consequente da regra- matriz de incidência tributária (RMIT), é possível conceituá-la como a condição de estar vinculado ao pagamento de tributo ou penalidade pecuniária. 1 - O sujeito passivo é o participante da relação tributária que é encarregado de cumprir a obrigação tributária principal e os deveres instrumentais; 2 - O contribuinte corresponde ao sujeito passivo que possui uma relação pessoal e direta com a situação que originou a concretização da hipótese de incidência tributária do referido tributo; 3 - O responsável tributário é o sujeito passivo indicado pela lei para cumprir a obrigação tributária, mesmo que não seja o contribuinte real. 4 - A partir da explicação anterior, entende-se que o substituto tributário é uma das categorias possíveis de responsáveis tributários. O substituto pode ser enquadrado em uma das seguintes modalidades de substituição: substituição para trás, que ocorre quando o pagamento do tributo é adiado pelo fisco e, consequentemente, recai sobre o próximo participante da cadeia de produção do bem tributado; substituição para frente, que ocorre com a tributação antecipada,antes mesmo da ocorrência da hipótese de incidência tributária; além disso, a substituição pode ser concomitante, ocorrendo no mesmo momento da hipótese de incidência tributária, mas com a obrigação atribuída ao responsável tributário. Página 4 de 7 Além disso, de acordo com as disposições dos artigos 121 e 122 do Código Tributário Nacional, o responsável tributário se apresenta como sujeito passivo da relação jurídica tributária em relação ao pagamento da obrigação principal, e também como sujeito passivo da relação jurídica sancionatória no tocante ao pagamento da penalidade pecuniária. 5. Quanto à Responsabilidade Tributária, pergunta-se: a) Qual a natureza jurídica da norma de responsabilidade: norma jurídica tributária ou não-tributária; dispositiva ou sancionadora? Conforme destacado por Maria Rita Ferragut no livro "Responsabilidade Tributária e o Código Civil de 2002", perspectiva com a qual estou em acordo, a norma que trata da responsabilidade tributária possui uma natureza de cunho tributário. Essa norma pode ser categorizada tanto como uma disposição normativa primária, quanto como uma disposição normativa primária sancionatória. b) Qual a espécie de responsabilidade prevista no artigo 135 do CTN? Poderia o fiscal lavrar auto de infração contra o contribuinte e, posteriormente, executar o sócio de forma solidária à empresa? (Vide anexos IV e V). A modalidade de responsabilidade prevista no artigo 135 do CTN é caracterizada por ter um enfoque sancionatório. O fiscal não tem a prerrogativa de emitir uma autuação contra o contribuinte e, subsequentemente, executar o sócio de maneira solidária à empresa. Isso ocorre porque, para esse tipo específico de imputação de responsabilidade tributária, o artigo 135 do CTN demanda a ocorrência de "ações realizadas com excesso de poderes ou violação de leis, contrato social ou estatutos". Esses elementos, evidentemente, devem ser devidamente comprovados no processo ou procedimento administrativo tributário que precede a inclusão do débito na dívida ativa. c) A dissolução irregular da sociedade caracteriza infração à lei apta a ensejar a responsabilidade do(s) sócio(s) pelas dívidas da pessoa jurídica? Em caso positivo, qual sócio ou administrador pode ser alcançado: o da época do inadimplemento do tributo ou do momento em que ocorre a dissolução irregular? (VI e VII e VIII). A dissolução irregular da sociedade, de fato, constitui uma violação da lei capaz de justificar a imputação de responsabilidade ao(s) sócio(s) em relação às obrigações financeiras da entidade jurídica. Essa situação configura um cenário em que a exigência do cumprimento Página 5 de 7 da obrigação tributária do verdadeiro contribuinte se torna inviável. Considerando que tal dissolução foi executada de maneira irregular, sem seguir os procedimentos de liquidação estabelecidos para a pessoa jurídica, é apropriado que o sócio administrador seja responsabilizado solidariamente pelo débito tributário. É minha interpretação que o sócio ou administrador que pode ser afetado pela responsabilidade é aquele vinculado à data em que ocorre a dissolução irregular. Isso se justifica pelo fato de que essa pessoa é responsável pela execução do ato ilícito que fundamenta a imputação de responsabilidade. d) O mero inadimplemento da obrigação de pagar o tributo pode ser justificativa para aplicação do artigo 135 do Código Tributário Nacional? Justifique sua resposta para além da aplicação da Súmula n° 430 do STJ. (Vide anexos IX e X) Não, o simples não cumprimento da obrigação de efetuar o pagamento do tributo não pode, de maneira alguma, ser considerado uma justificativa para aplicar o disposto no artigo 135 do Código Tributário Nacional. O artigo 135 do CTN prevê somente a possibilidade de atribuir responsabilidade pessoal às pessoas mencionadas em casos nos quais tenham praticado ações com excesso de autoridade ou tenham infringido leis, contrato social ou estatutos. No que se refere à primeira circunstância que autoriza a imposição de responsabilidade, a expressão "excesso de autoridade" refere-se à ação individual e arbitrária dos representantes da pessoa jurídica mencionados nos incisos I a III, ultrapassando os poderes conferidos pela legislação em vigor, pelo contrato social ou pelo estatuto. Quanto à segunda maneira de justificar a imputação, "infração de leis, contrato social ou estatutos" se refere a atos cometidos de maneira intencional ou com a finalidade de enganar por parte dos representantes da pessoa jurídica, com o objetivo de evitar o cumprimento da obrigação tributária. Essa situação não se relaciona necessariamente com o simples não pagamento do tributo, pois a existência de débitos e obrigações financeiras de uma empresa para com o fisco, assim como com terceiros, é parte intrínseca das atividades empresariais, sendo o não pagamento uma consequência previsível tanto quanto o pagamento. Nesse contexto, é essencial entender que a falta de pagamento do débito tributário é um evento que se insere na gama das possibilidades, é algo esperado dentro do espectro entre cumprimento e não cumprimento, a ponto de o legislador ter estabelecido procedimentos específicos para o órgão fiscal perseguir a satisfação do seu crédito tributário. Responsabilizar pessoalmente o representante legal da pessoa jurídica sem a ocorrência de qualquer uma das situações delineadas no artigo 135 do Código Tributário Nacional não é uma das formas legais de assegurar o recebimento do crédito fiscal. Página 6 de 7 6. Quanto à caracterização de grupo econômico, pergunta-se? a) Que é grupo econômico? Quais são os requisitos para a aplicação da desconsideração da personalidade jurídica, prevista no art. 50 do CC? Ela pode ser aplicada ao direito tributário para fins de caracterização de grupo econômico? Há dispositivos específicos na legislação tributária que fundamentam a responsabilização do grupo econômico? A caracterização implica reconhecimento de responsabilidade solidária? (Vide anexo XI e XII). Podemos conceituar grupo econômico como a união de duas ou mais pessoas jurídicas, para atuação de forma coordenada, com objetivos em comum e com relação de subordinação entre si, caracterizando controle de uma sobre as demais. Para aplicação da desconsideração da personalidade jurídica prevista no artigo 50 do Código Civil, é necessária a ocorrência de abuso da personalidade jurídica, que se caracteriza pelo desvio de finalidade ou pela confusão patrimonial. E tal dispositivo legal pode ser aplicado sim ao direito tributário para fins de caracterização de grupo econômico, pois o “abuso da personalidade jurídica” carrega o caráter de ação dolosa que possuí a finalidade de lesar credores. Apesar de ser um dispositivo genérico, o artigo 124, I, do Código Tributário Nacional pode ser considerado como um dispositivo da legislação tributária que fundamenta a responsabilização do grupo econômico. Como fundamento nas questões anteriores, pessoalmente, entendo que a caracterização do grupo econômico não implica necessariamente reconhecimento de responsabilidade solidária, pois, a princípio, pode haver um grupo econômico que não atue de forma dolosa para lesar credores, não sendo legítima a responsabilização solidária diante disso. b) Uma vez instaurado o incidente de desconsideração da personalidade jurídica, nos termos dos arts. 133 e seguintes do NCPC (Lei nº 13.105 de 2015), a defesa apresentada pela pessoa jurídica responsabilizada pela obrigação tributária de outra empresa integrante do mesmo grupo econômico pode versar sobre o mérito da cobrança (inexigibilidade do crédito tributário), ou apenas sobre a ilegitimidade de sua inclusão no polo passivo da execução fiscal? Página 7 de 7 Entendo que, no específico caso de instauraçãode incidente de desconsideração da personalidade jurídica, a defesa apresentada pela pessoa jurídica responsabilizada pela obrigação tributária pela obrigação tributária de outra empresa integrante do mesmo grupo econômico deve versar, a princípio, somente sobre a ilegitimidade de sua inclusão no polo passivo da execução fiscal. Todavia, se o juízo optar por desconsiderar a personalidade jurídica e efetivamente incluir o novo devedor, a este deve ser oportunizada a apresentação de defesa sobre o mérito da cobrança.